Você está na página 1de 5

Curso de Tubulações Industriais – Módulo II - Aula 2

– Tensões Admissíveis e Coeficientes de Segurança

Denominam-se tensões admissíveis aos valores limites de tensões que se adotam para
o cálculo da tubulação quando considerada como um elemento estrutural. Como já vimos, as
tensões admissíveis são valores estabelecidos pelas normas de projeto para cada material e
cada classe de tubulações. É evidente que as tensões admissíveis devem ser menores do que
os limites de resistência e de escoamento do material na temperatura considerada, e assim,
para todas as normas de projeto, essas tensões são o limite de resistência, ou limite de
escoamento, divididos por um certo número, que é o chamado coeficiente de segurança.
Como a resistência de qualquer material diminui com o aumento de temperatura, a sua tensão
admissível também diminuirá, até a temperatura limite de uso prático de cada material. Para
temperaturas dentro da faixa de fluência, as normas de projeto consideram ainda a
deformação permanente final residual, e por isso as tensões admissíveis terão também como
limite a tensão que causa uma certa deformação – considerada aceitável – ao fim de um certo
tempo.

São os seguintes os principais fatores que influenciam o coeficiente de segurança a


adotar, e portanto as tensões admissíveis:

1) Tipo de material: Os materiais dúcteis podem ter menores coeficientes de


segurança do que os materiais frágeis, porque os dúcteis escoam (deformam-
se plasticamente) nos pontos de altas tensões, não havendo a ruptura súbita,
sem deformação prévia, que é característica dos materiais frágeis.
2) Critério de cálculo: Quanto mais simplificados forem os cálculos, isto é,
quanto mais importantes e numerosos forem as abstrações e simplificações
feitas, maior terá de ser o coeficiente de segurança, para compensar essas
abstrações e simplificações. Por essa razão, as normas que fixam tensões
admissíveis estabelecem também, paralelamente, os critérios de cálculo que
devem ser adotados.
3) Tipo de carregamento: Para a maioria dos materiais, as normas estabelecem
tensões admissíveis diferentes para o efeito de tração, e para os efeitos de
compressão e de cisalhamento.Da mesma forma, devem-se ter limites
diferentes para as tensões provenientes de carregamentos estáticos e para
carregamentos dinâmicos, porque os carregamentos repetidos ou alternados,
assim como os choques, vibrações e outras cargas dinâmicas, podem fazer o
material romper-se por fadiga mecânica com tensões menores do que os
carregamentos estáticos permanentes, exigindo portanto maiores coeficientes
de segurança. As tensões admissíveis das normas referem-se sempre a cargas
estáticas e permanentes; as normas fornecem, entretanto coeficientes de
redução para alguns tipos de cargas transitórias ou variáveis.
4) Variações nas condições de operação: Tanto a pressão como a temperatura
de operação podem apresentar variações anormais imprevistas por várias
causas: falhas em sistemas de proteção ou controle ou em sistemas de
resfriamento, fluidos fora de especificação, reações exotérmicas anormais etc.
As subidas anormais de pressão podem ser eficientemente controladas pelas
válvulas de segurança e de alívio, mas, para os picos de temperatura, não
existe nenhum dispositivo de segurança que impeça totalmente essas
variações. Um aumento de pressão resulta em um aumento de solicitação
sobre o material, assim como um aumento de temperatura resulta também em
aumento de solicitação, devido à redução de resistência mecânica dos
materiais com a temperatura. Todas essas variações tem de ser cobertas pelo
coeficiente de segurança.
5) Incerteza nas qualidades do material: A determinação das características
mecânicas dos materiais (limites de resistência e de escoamento, resistência à
fluência etc.) em função das quais é fixada a tensão admissível, é sempre
baseada em ensaios feitos em corpos de prova, que estatisticamente
representam certa quantidade de material. É, portanto, provável que algumas
parcelas do material tenham, de fato, características inferiores às supostas.
Essa dispersão de valores é maior no que se refere às características para
temperaturas elevadas.
6) Desvio de forma devido a defeitos de matéria-prima e de montagem: Existem
sempre alguns desvios de forma geométrica nos tubos e em outras matérias-
primas (ovalização de tubos, por exemplo), mesmo dentro das tolerâncias de
fabricação. Do mesmo modo, por mais cuidadosas que sejam a fabricação e a
montagem, sempre ocorrerão desvios entre as dimensões e formas de projeto
e as finais da tubulação acabada. Tais são, por exemplo: desalinhamentos,
raios de curvatura diferentes ou irregulares, defeitos e empenos de soldagem
etc. Todos esses defeitos terão como consequência uma distribuição real de
tensões diferentes da teórica. Por esse motivo, as normas de projeto e as
especificações de material fixam limites de tolerâncias para matéria-prima e
para desvios de fabricação e de montagem, bem como critérios de inspeção e
aceitação.
7) Grau de segurança necessário: Os coeficientes de segurança dependem
também do maior ou menor risco potencial da tubulação; nos casos em que
uma falha ou acidente envolva grande risco, com prejuízos pessoais ou
materiais, devem ser maiores os coeficientes de segurança.

Podemos ter, portanto, para um mesmo material, diversas tensões admissíveis,


dependendo das circunstâncias para as quais essas tensões foram estabelecidas. Isto é, a
tensão admissível não é uma característica do material; características do material são, por
exemplo, os limites de resistência e de escoamento, a resistência à fluência, a ductilidade, a
tenacidade, a resistência ao impacto ou à fadiga etc. Cada tensão admissível estará assim
vinculada a determinado critério de cálculo, natureza dos carregamentos, classe de tubulação,
exigências de fabricação, de montagem e de inspeção etc., e só deverá ser empregada dentro
de todas essas condições.

– Tensões Admissíveis da Norma ASME B 31


As diversas seções da norma ASME B 31 contêm tabelas que dão, para todos os
materiais de tubulação que são aceitos pela norma, as tensões admissíveis em função da
temperatura, até a temperatura limite de utilização de cada material. Os valores das tabelas
são as “tensões admissíveis básicas”, que devem ser adotadas para as tensões de tração, de
compressão e de flexão provenientes de cargas estáticas e permanentes (tensões primárias).
Para outros tipos de cargas, a norma estabelece as seguintes variações em relação às tensões
admissíveis básicas.
 Tensões estáticas e permanentes de cisalhamento puro e de torção: 80% das
tenções admissíveis básicas.
 Tensões secundárias, devidas às dilatações térmicas e a movimentos de
pontos extremos: valores mais elevados, como veremos adiante.
 Tensões provenientes de cargas transitórias ou eventuais de curta duração,
inclusive da ação do vento, do teste hidrostático e de condições anormais de
operação.
Permitem-se os seguintes acréscimos sobre a tensão admissível básica
(fatores K):
1. Secção B31.1: 15% para esforços que atuem durante até 10% do
tempo, em 24 horas.
20% para esforços que atuem durante até 1% do tempo, em 24 horas.
2. Seçao B31.3: 33% para esforços que atuem durante até 10 horas
seguidas, com máximo de 100 horas em um ano.
20% para esforços que atuem durante até 50 horas seguidas, com o
máximo de 500 horas em um ano.
 Esforços cíclicos: A norma fornece alguns coeficientes de redução, como
veremos mais adiante.

De uma forma resumida são os seguintes os critérios de estabelecimento das tensões


admissíveis básicas, para tubulação de aço, nas diversas seções da norma ASME B 31:

Na tabela 3.1 temos para todos os casos:

LR Valor mínimo do limite de resistência (ruptura) do material na temperatura considerada


ou na temperatura ambiente, o que for menor.
LE Valor mínimo do limite de escoamento do material na temperatura considerada ou na
temperatura ambiente, ou que for menor. Para os aços inoxidáveis e as ligas de níquel,
deve-se utilizar 90% da tensão limite de escoamento à temperatura considerada.
Trfm Tensão média para ruptura por fluência ao fim de 100.000 horas, na temperatura
considerada.
Trt Tensão mínima para ruptura por fluência de 0,01% ao fim de 1.000 horas, na
temperatura considerada.
Na próxima aula continuaremos com os

Critérios de Cálculo da Norma ASME B 31

Você também pode gostar