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, 1986;
Carraher et al., 1985), contrariando os objetivos que são propostos para
Roseli Pacheco Schnetzler * aquele ensino (Di Martino et al., 1988).
Dentre as várias razões que podem explicar tal antagonismo, uma merece
O Modelo Transmissão — Recepção e o Ensino de Ciências especial destaque, qual seja, a adoção, por grande parte dos professores,
de uma concepção de ensino como transmissão e as correspondentes
Nas ações praticadas pelo professor em sala de aula e nas interações que visões de aluno como tábula rasa e de Ciência como um corpo de
mantém com seus alunos, há padrões consistentes que constituem o seu conhecimentos prontos, verdadeiros, inquestionáveis e imutáveis.
estilo de ensino (Harley e Osborne, 1985). Desta forma, o estilo de ensino
de um professor manifesta a sua concepção de educação, de aprendiza- Neste modelo psicopedagógico centrado na transmissão-recepção, os
gem e dos conhecimentos e atividades que propicia aos seus alunos. Por conteúdos científicos a serem ensinados são vistos como segmentos de
isso, ao se propor um novo modelo de ensino, deve-se explicitar efetiva- informações que devem ser depositados pelo professor na "cabeça vazia"
mente as concepções de aluno, de aprendizagem e de conhecimento que do aluno. Por isso, é o professor o agente ativo no processo, já que fala 90%
estão subjacentes ao modelo Além disso, as atividades propostas aos do tempo em sala de aula tentando "passar" ou "cobrir" o conteúdo para
alunos, a organização do conteúdo, as interações em sala de aula e os alunos silenciosos, os quais devem passivamente internalizá-lo e reprodu-
procedimentos de avaliação adotados devem ser examinados em termos zi-lo em termos verbatim nas avaliações.
de coerência com aquelas concepções. Caso contrário, corre-se o risco de
colocar em prática procedimentos de ensino cujos efeitos serão diferentes Acontece, porém, que o aluno não aprende pela simples internalização de
dos inicialmente pretendidos ou, ainda, de serem inadequados para propi- algum significado recebido de fora, isto é, dito pelo professor; mas, sim, por
ciar a ocorrência de aprendizagem significativa. Esta, segundo Ausubel um processo seu, idiossincrático, próprio, de atribuição de significado que
(1976), ocorre quando novos significados são adquiridos e atribuídos pelo resulta da interação de novas idéias com as já existentes na sua estrutura
aprendiz, através de um processo de interação (implicando subsunção ou cognitiva. Por isso, o professor tem que levarem conta o que o seu aluno
ancoragem subseqüente) de novas idéias com conceitos ou proposições já sabe. A importância desse princípio é expressa no que diz Ausubel
relevantes já existentes na sua estrutura cognitiva (construto hipotético que (1976), "se tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a um só
reflete a organização de idéias na mente de um individuo). Tal aprendiza- princípio, diria que o fator isolado mais importante, influenciando a apren-
gem é qualitativamente distinta da aprendizagem mecânica que se carac- dizagem é aquilo que o aprendiz já sabe. Determine isso, e ensine-o de
teriza por uma organização de informações com pouca ou nenhuma acordo".
interação com conceitos ou proposições relevantes existentes na estrutura
cognitiva do aprendiz, implicando uma armazenagem arbitrária de novo Em outras palavras, a literatura aponta que o professor quando não tem na
conhecimento. O produto desta aprendizagem se caracteriza, portanto, em sua cabeça a cabeça do aluno, "fala para as paredes", evidencia que o
memorização com um subseqüente esquecimento rápido do conhecimen- processo de ensino-aprendizagem que deflagra está centrado na transmis-
to aprendido. Infelizmente, esta aprendizagem mecânica é a que, de forma são-recepção. Esta, por sua vez, apresenta como característica precípua
usualmente, a passagem de informações dos apontamentos ou do livro do
* Professora Assistente-Doutora do Departamento de Metodologia, subárea de Ensino de professor para o caderno do aluno, sem passar pela cabeça de nenhum dos
Química, da Faculdade de Educação da UNICAMP dois. Para ambos, o processo é simplesmente mecânico, na medida em
GIL, D. et al. La ensenanza de Ias ciências en Ia educación secundaria. OSBORNE, R., WITTROCK, C. Learning science: a generative process.
Barcelona: Horsori, 1991. Science Education, v.67, n.4, p.489-508, 1983.
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