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1.

Uma empresa da Capital, fabricante de hardwares e softwares para micros, em


que emprega cerca de 200 empregados, é uma grande consumidora de energia
elétrica, gastando milhares de reais mensais com ela. Certo dia, fruto da
necessidade, a empresa adquiriu um aparelho sofisticadíssimo que se mostrou
capaz de reproduzir os softwares com grande economia de escala (supondo-se
para este exercício que isso seja possível), o que permitiu que a empresa,
inclusive, demitisse cerca de 30 empregados. A partir da utilização desse novo
equipamento, passou a existir uma sobrecarga de energia, o que obrigou a
empresa a solicitar que a Distribuidora de Energia Elétrica trocasse a fiação, o
que foi feito. Alguns dias após essa operação (troca de fiação), no entanto, uma
sobrecarga de energia acabou por queimar o equipamento, causando grave
prejuízo à empresa.

A) Existe relação de consumo no caso apresentado?

Segundo o que dispõe o Código de Defesa do Consumidor, “Consumidor é toda pessoa


física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. A
doutrina faz uma distinção a respeito da expressão “destinatário final”, em que, de um
lado existe o destinatário fático, isto é, aquele que realiza o ato de consumo (adquirir ou
utilizar) retirando o produto ou serviço do mercado e usufruindo sua finalidade de modo
definitivo. E em outro seguimento, tem-se o destinatário fático e econômico do produto
ou serviço, que é destinatário em relação à prática de ato de consumo. contudo emprega
o serviço ou produto em uma atividade de mercado, transformando-o ou aproveitando-o
no oferecimento de algum outro serviço. Entende-se que a empresa de Hardware e
software será destinatária fática, pois utiliza a finalidade do ato de consumo de modo
definitivo e por isso terá a qualidade de consumidor, estando amparada pelo CDC.

B) Pode a empresa, alegando ser consumidora, pleitear direitos diante da


Distribuidora, com base no CDC? Explique. Fonte: NUNES, Rizzatto. Curso de
Direito do Consumidor. São Paulo, Saraiva, p. 171.

Por se tratar de uma relação jurídica de consumo, isto é, pautada na relação firmada
entre fornecedor (Distribuidora de energia) e consumidor (Empresa de Software e
Hardware), tendo por objeto a prestação de um serviço, a empresa poderá pleitear
direitos frente a distribuidora.
Ainda que seja empresa de grande porte, a relação jurídica que se busca analisar é
sobre a destinação final da prestação firmada entre fornecedor e empresa, nesta
perspectiva, e na situação narrada, a energia (objeto da prestação) utilizada pela
empresa não será transportada, distribuída ou comercializada, mas utilizada como
destinação final.

A empresa será fornecedora em relação a atividade que desempenha, isto é, fabricação


de hardwares e softwares. Enquanto isso, será consumidora em relação a relação
jurídica com a distribuidora de energia, estando amparado pelo Princípio da
vulnerabilidade. Para tanto, poderá requerer a reparação dos danos causados pela
prática defeituosa da prestação do serviço.

Ainda, o artigo 14, do CDC dispõe que “O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.” Ou seja,
independentemente de culpa do fornecedor, ele responderá pelos danos causados ao
consumidor.

2. João comprou um carro usado, modelo 2012, em uma loja especializada.


Segundo anúncio e de acordo com o vendedor, o veículo estaria em perfeito
estado. Ocorre, todavia, que dois meses após a compra, o carro começou a
apresentar sério defeito no câmbio. Inconformado, o comprador procurou a loja
exigindo que o defeito fosse reparado. A loja, em resposta, alegou que nada teria
a fazer, vez que se tratava de um veículo usado e com alta quilometragem. De
acordo com o enunciado, analise as seguintes questões:

a) Considerando se tratar de uma revenda de usados, haveria relação de


consumo no caso em exame? Justifique a resposta.

O código de Defesa do Consumidor – CDC, dispõe que relação de consumo consiste


na relação firmada entre fornecedor e consumidor, a qual possui como objeto a
aquisição de um produto ou a contratação de um serviço como destinatário final.
Questiona-se acerca da existência de relação de consumo entre a loja revendedora de
carros usados e o comprador, vejamos o que dispõe a respectiva lei.
O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 3º prevê que: “Fornecedor é toda
pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os
entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços”.

Assim, da definição, entende-se que o conceito de fornecedor inclui todos os membros


da cadeia de fornecimento, circunstância que será de fundamental importância para
definir a extensão de seus deveres jurídicos, sobretudo em matéria de responsabilidade
civil. Conclui-se, para tanto, que a referida situação fática configura como uma
relação de consumo existente entre a loja de carros usados e o comprador, estando a
relação jurídica amparada pelo CDC.

b) O comprador estaria protegido diante de eventual defeito no veículo?


Justifique a resposta.

Tal como exposto, por se tratar de uma relação de consumo, aplica-se o que dispõe o
Código de Defesa do Consumidor. Desse modo, o comprador do veículo, ainda que
usado, tem direito a reclamar pelos vícios do produto.
Em se tratando de negócio jurídico de compra e venda de bem durável, o artigo 26 do
Código de Defesa do Consumidor prevê prazo de garantia de 90 dias, contados a partir
da entrega do veículo. Assim, verificado o vício ou defeito do produto, dentro desses
90 dias, o comprador deve se dirigir a loja e solicitar a troca da peça ou produto que
apresentou defeito. 

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