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A comunicação estratégica
das organizações inteligentes
O resultado desse esforço encontra-se expresso nas quatro partes e nos dois casos prá-
ticos apresentados no livro. Na primeira parte, intitulada Economia da informação, da
comunicação e do conhecimento, é realizada uma aproximação inicial sobre a relação en-
tre comunicação e inteligência na sociedade da informação, que se caracteriza pela
convergência de novos referenciais sociais, econômicos, tecnológicos e culturais; na
segunda parte, denominada Proteção da informação e do conhecimento, o autor alerta pa-
ra a ameaça da informação desprotegida e apresenta um painel sobre iniciativas de in-
teligência, tanto legais quanto ilegais, ocorridas em diversos países, inclusive no Brasil;
na terceira parte, Gestão e análise da informação, o autor procura fornecer os principais
conceitos e técnicas de inteligência organizacional, ilustrados com um caso prático de
análise estratégica das competências de uma organização; na última parte, Penteado
Filho realiza a interface entre os referenciais teórico-metodológicos de Comunicação
A primeira idéia a ser considerada é que se trata de uma obra de caráter prescritivo,
ou seja, que oferece indicações de procedimentos sobre o exercício de inteligência no
âmbito da Comunicação Organizacional. No contexto dos modelos teóricos dessa área
do conhecimento, Organizações inteligentes tem mais afinidade com a perspectiva tra-
dicional, também denominada de perspectiva normativa ou funcionalista, por sua maior
preocupação com a eficácia organizacional. Sob esse enfoque, Penteado Filho realiza
algumas observações bastante pertinentes, tais como a denúncia da crença generali-
zada de que a capacidade de análise de informação encontra-se subjacente na compra
de hardwares ou softwares quando, na realidade, esse trabalho é cada vez mais espe-
cializado, exigindo treinamentos e competências específicas. Outra questão interes-
sante refere-se à prática de responsabilidade social que, segundo o autor, “não é mais
uma questão moral ou de cunho ético”, mas “de uma imposição real” (p. 29), pois o
distanciamento das organizações de seu papel social pode levar a seu fechamento ou
a um comportamento mais caro e menos lucrativo. Ou seja, na visão de Penteado Filho,
até mesmo o comportamento ético das organizações é motivado por questões de efi-
cácia. Além do mais, a nova sociedade da informação e do conhecimento, pelas suas
características, torna mandatário às organizações a adoção do paradigma da comuni-
cação simétrica de mão dupla, sem o qual não conseguirão sobreviver. São enfoques
como esses, expostos anteriormente, que distanciam a proposta do autor das demais
abordagens teóricas encontradas na Comunicação Organizacional, tais como a pers-
pectiva crítica, de influência marxista, em que preponderam as preocupações de or-
dem ética, ou a perspectiva interpretativa, mais dedicada ao entendimento das orga-
nizações como culturas.
tra que, por mais esforços que se façam na dimensão prescritiva, outros aspectos tam-
bém precisam ser considerados (culturais, políticos, cognitivos, entre outros) na im-
plementação de procedimentos e práticas organizacionais. Por isso, por mais que a
proposta de Penteado sobre a criação e implementação de sistemas de inteligência or-
ganizacional seja apresentada de forma lógica, eficiente e racional, faz-se necessário
adequar esse trabalho às peculiaridades de cada organização. Outra questão impor-
tante, embora polêmica, é a utilização, pelo autor, do termo Relações Públicas como
sinônimo de Comunicação Organizacional. Nesse caso, Roberto Penteado assume a
mesma postura adotada por James Grunig há mais de uma década. No entanto, não
existe consenso sobre essa correlação no âmbito da comunidade acadêmica interna-
cional por, pelo menos, dois motivos: o primeiro deles é que os núcleos de Relações
Públicas e Comunicação Organizacional são tratados de forma independente pelas prin-
cipais associações de comunicação norte-americanas, tais como a ICA (Internacional
Communication Association) e a NCA (National Communication Association). O segundo
motivo é que a vinculação proposta por Penteado e Grunig implica na institucionali-
zação da Comunicação Organizacional sob a perspectiva estritamente instrumental,
ficando de fora orientações epistêmicas importantes para a melhor compreensão de
fenômenos comunicacionais que se manifestam na esfera organizacional.