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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 AS TEORIAS DAS RELAÇÕES OBJETAIS ............................................... 4

3 AS RELAÇÕES OBJETAIS NA PSICANÁLISE TRADICIONAL ................. 6

4 A NOÇÃO DE SUJEITO EM PSICANÁLISE............................................. 10

4.1 Sujeito dividido: sujeito assujeitado pelo outro; sujeito do significante


18

5 POSSÍVEIS ORDENAÇÕES PARA A NOÇÃO DE OBJETO ................... 21

6 O CONTATO FÍSICO NA RELAÇÃO MÃE-BEBÊ .................................... 24

6.1 Início do contato com a realidade: apresentação de objetos .............. 28

7 AS RELAÇÕES OBJETAIS NA TEORIA DE RONALD FAIRBAIRN ........ 29

7.1 As primeiras relações objetais ............................................................ 30

7.2 Fairbairn e a teoria da libido de Freud ................................................ 31

7.3 As relações com objetos parciais ....................................................... 32

7.4 As relações objetais da personalidade ............................................... 33

8 A PSICOLOGIA DO SELF ........................................................................ 36

9 LACAN E A RELAÇÃO DE OBJETO ........................................................ 39

10 KARL ABRAHAM E O OBJETO PARCIAL ............................................ 43

10.1 A TEORIA DO OBJETO COMBINADO DE MELANIE KLEIN ......... 45

10.2 O OBJETO TRANSICIONAL DE DONALD WOODS WINNICOTT . 50

10.3 O ambiente e as relações objetais na teoria de winnicott ............... 56

10.4 A teoria do amadurecimento ........................................................... 57

11 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 58

2
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 AS TEORIAS DAS RELAÇÕES OBJETAIS

Fonte: alexandremattosaulas.com.br

A compreensão da psicologia do self tem sua fundamentação nas teorias das


relações objetais que consistiram em revisões teóricas da teoria de Freud sobre o
“objeto”. “Este aplicava o termo ‘objeto’ em relação a qualquer pessoa, objeto ou
atividade com capacidade para satisfazer ao instinto” (SCHULTZ, 2011, p. 393 apud
FONSÊCA A; et al., 2013).
Na teoria psicanalítica ortodoxa, Freud relaciona o objeto a algo que só tem
sentido enquanto relacionado à pulsão e ao inconsciente e não na esfera da
consciência (GARCIA-ROZA apud FONSÊCA A; et al., 2013). Assim, o objeto torna-
se um meio para o foco da satisfação, podendo esse objeto ser uma pessoa, objeto
ou atividade, real ou imaginário. Greenberg e Mitchell (1994, p. 5 apud FONSÊCA A;
et al., 2013) salientam que “todo conhecimento psicanalítico deve começar com as
relações do indivíduo com os outros”.
Esse entendimento tem base na teoria da pulsão de Freud, onde não existe
uma pulsão sem um objeto implícito ou explícito. Assim, o objeto da pulsão seria a
pessoa, objeto ou atividade, a qual a pulsão tem como objetivo, foco ou alvo. Essa
sistemática segue o modelo estrutural/pulsional. Para Freud o primeiro objeto na vida
do bebê, capaz de satisfazer ao instinto, era o seio materno. Mais tarde, a própria mãe
como pessoa torna-se um objeto de satisfação do instinto. E, à medida que a criança
4
cresce, outras pessoas tornam-se objetos de satisfação do instinto (SCHULTZ apud
FONSÊCA A; et al., 2013).
Greenberg e Mitchell (1994, p. 7 e 8 apud FONSÊCA A; et al., 2013) ainda
afirmam que o termo “teoria das relações objetais”, em seu sentido amplo, refere-se a
tentativas de responder a situação onde as pessoas interagem e reagem com objetos
externos e internos, e em que medida suas relações influenciam o funcionamento
psíquico. Importante relatar que os objetos internos são entendidos como
representações psíquicas de outras pessoas que influenciam as reações, percepções,
os estados afetivos do indivíduo (aspectos internos), bem como suas reações
comportamentais externas, conforme FONSÊCA A; et al., (2013).
Conforme FONSÊCA A; et al., (2013), os teóricos das relações objetais trazem
concepções diferenciadas, o que torna o entendimento dos termos “objeto” e “relações
objetais” bastante complexo. Para a primeira “objeto” refere-se a uma “entidade que
existe no tempo e no espaço”, para a segunda está relacionada à pulsão. Na
psicanálise de Freud, é o objeto libidinal (foco da pulsão sexual), havendo também o
objetivo de autopreservação e, mais tarde surgindo o objetivo da pulsão agressiva.
Freud afirma que,

Os objetos e as relações objetais são importantes primariamente como meios


e veículos de descartes de pulsões libidinais e agressivas. A esse respeito,
os primeiros na verdade têm um status secundário e derivado [...] nós não
desenvolveríamos nenhum interesse por objetos ou relações objetais e
nenhuma das funções de ego de teste de realidade se os objetos não fossem
necessários para gratificação das pulsões e se a gratificação imediata fosse
possível [...] somos forçados a nos relacionar com objetos. Mas [...] o nosso
interesse pelos objetos e o nosso relacionamento com eles continuam direta
ou indiretamente ligados ao seu uso e à relevância na gratificação pulsional.
(EAGLE apud HALL, LINDZEY E CAMPBELL, 2000, p. 158 apud FONSÊCA
A; et al., 2013).

Assim, Freud propôs que a “escolha objetal” ocorre quando as pessoas


“catexizam” ou investem energia instintual em objetos que podem ser usados para
gratificar impulsos instituais (HALL, LINDZEY E CAMPBELL, 2000, pág. 158 apud
FONSÊCA A; et al., 2013). Diferentemente da concepção de Freud que considerou a
relação do objeto principalmente com a pulsão sexual, os teóricos das relações
objetais consideram as relações interpessoais entre esses objetos. Há, portanto,
ênfase no contexto social e ambiental na formação da personalidade, destacando
como principal influência a interação entre mãe e filho. A existência das relações

5
interpessoais indica que a construção da personalidade na infância se estabelece de
forma mais precoce do que Freud idealizava.
As teorias das relações objetais se caracterizam pela sua forma de integrar
questões que dizem respeito à formação da personalidade buscando seus princípios
na infância, desta forma, apresentam seu enfoque crucial na compreensão de que no
desenvolvimento e formação da personalidade pode-se incluir a capacidade e a
necessidade da criança perder o vínculo com a mãe, ou seja, o seu objeto primário,
objetivando desta forma, obter uma compreensão de si própria e articular vínculos
com outros objetos, que são as outras pessoas (SCHULTZ, 2009, p. 390 apud
FONSÊCA A; et al., 2013).

3 AS RELAÇÕES OBJETAIS NA PSICANÁLISE TRADICIONAL

Fonte: percursoempsicanalise.com

Para compreender melhor a concepção freudiana sobre os objetos sexuais,


torna-se necessário fazer um breve retrospecto de sua trajetória até a criação da
psicanálise (termo que criou em 1896 apud BICHUETTI L; 2011). Serão abordadas
algumas formulações iniciais, enfatizando-se o momento em que ele, a partir de suas
primeiras experiências no tratamento das neuroses, chega ao tema da sexualidade,
ao conceito de pulsão e posteriormente às concepções de objeto e objetivo sexual.

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No inverno de 1885, Freud consegue uma bolsa e faz um curso com Charcot,
um psiquiatra que pesquisava as causas da histeria. Freud fica entusiasmado com
esses estudos, o grande desafio que ambos enfrentavam era o de estabelecer uma
sintomatologia regular para a histeria, a fim de que ela pudesse ser incluída no campo
das doenças neurológicas porque, caso contrário, os histéricos seriam diagnosticados
como loucos (Garcia-Roza, 2001 apud BICHUETTI L; 2011).
Nesse momento, Freud elabora sua teoria inicial do trauma psíquico e seu
conteúdo sexual. Ele acreditava que o neurótico teria sido vítima de uma sedução
sexual real na infância, exercida por um adulto e que esse trauma teria sido recalcado
e se transformado em núcleo patogênico. A sua remoção somente poderia se dar pela
ab-reação e elaboração psíquica da experiência traumática (idem), conforme
BICHUETTI L; (2011).
Como o trauma nessas doenças não era de ordem física, surgiu a necessidade
de o paciente narrar sua história pregressa para que o médico pudesse localizar o
momento traumático responsável pelos sintomas histéricos. Foi a partir dessas
experiências que Charcot e Freud puderam perceber que o componente sexual
desempenhava um papel preponderante nas histórias narradas. Surgia uma
correlação sistemática entre a histeria e a sexualidade, que foi desprezada por
Charcot, mas que se tornou o ponto de partida e o núcleo central das investigações
de Freud, conforme BICHUETTI L; (2011).
Nessa época, Freud ainda não havia descoberto a sexualidade infantil e
acreditava que a criança sofria a sedução sem perceber seu caráter sexual e que esse
acontecimento não lhe produzia nenhuma excitação de natureza sexual. Suas
investigações posteriores o levariam a abandonar esses pressupostos e culminariam
na descoberta da sexualidade infantil, no papel da fantasia e posteriormente no
complexo de Édipo, conforme BICHUETTI L; (2011).
Seus trabalhos caminham em direção à constatação de que as causas da
histeria poderiam ter uma origem psicológica. Então ele começa a pensar na
possibilidade de processos inconscientes de memória e na ideia da repressão. Algum
tempo depois, ele abandona a hipnose e desenvolve uma nova técnica, a da
associação livre, que lhe permitirá chegar à noção de defesa, à teoria do recalque e
construir o arcabouço teórico da psicanálise, conforme BICHUETTI L; (2011).

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Os resultados do seu trabalho que foram publicados, desde o “Projeto para uma
psicologia científica” (1895 apud BICHUETTI L; 2011) até o “Esboço de psicanálise”
(1938 apud BICHUETTI L; 2011), expressam uma concepção da vida mental que
Freud “não parou de formalizar num esquema lógico, um certo automatismo do
pensamento, um mesmo esquema básico, expresso segundo diversas variantes”
(Nasio, 1995, p. 15 apud BICHUETTI L; 2011). Os temas fundamentais desse
esquema elementar são o inconsciente, o recalcamento, a sexualidade, o complexo
de Édipo e a transferência no tratamento analítico. Para Freud,

A aceitação de processos psíquicos inconscientes, o reconhecimento da


doutrina da resistência e do recalcamento e a consideração da sexualidade e
do complexo de Édipo são os conteúdos principais da psicanálise e os
fundamentos de sua teoria, e quem não estiver em condições de subscrever
todos eles não devem figurar entre os psicanalistas. (Freud apud Nasio, 1995,
p. 15 apud BICHUETTI L; 2011)

Loparic, em seu texto “Elementos da teoria winnicottiana da sexualidade”,


mostra que, em Freud, “o modelo ontológico do ser humano, explicitado na parte
metapsicológica da teoria, comporta um aparelho psíquico individual, movido por
pulsões libidinais, forças psíquicas determinadas por leis causais” (Loparic, 2006, p.
313 apud BICHUETTI L; 2011).
No sistema teórico freudiano, o funcionamento do aparelho psíquico é regido
por um princípio que visa reabsorver a excitação e reduzir a tensão. Para Freud, esse
princípio de redução da tensão podia ser encarado como uma tendência da vida
psíquica, já que essa tensão nunca se esgota completamente, porque a estimulação
constante mantém o aparelho psíquico carregado de tensão, conforme BICHUETTI L;
(2011).
Esse estado de tensão é vivenciado de forma penosa pelo sujeito pois provoca
um desprazer que o leva a almejar uma descarga permanente. Por outro lado, o
estado hipotético de prazer absoluto (no qual o aparelho conseguisse escoar
imediatamente toda a energia e eliminar a tensão) não tem como ser obtido. Dessa
forma, o desprazer seria a manutenção ou aumento da tensão e o prazer, a supressão
da tensão e a esse princípio Freud chamou de Princípio desprazer- prazer, e ele rege
o sistema inconsciente, conforme BICHUETTI L; (2011).

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O inconsciente para Freud, é composto exclusivamente de representações
pulsionais, as quais ele chamou de representações inconscientes ou representações
de coisa, que seriam imagens acústicas, visuais ou táteis de coisas ou pedaços de
coisas impressas no inconsciente. Essas representações inconscientes de coisa não
respeitam os limites da razão, da realidade ou do tempo o inconsciente não tem idade.
Elas atendem uma única exigência: buscar instantaneamente o prazer absoluto. Para
esse fim, o sistema inconsciente funciona segundo os mecanismos de condensação
e deslocamento, destinados a favorecer uma circulação fluente da energia. A energia
é considerada livre, uma vez que circule com toda a mobilidade e com poucos
entraves na rede inconsciente, conforme BICHUETTI L; (2011).
Já em relação à pulsão, Menezes (2001 apud BICHUETTI L; 2011) salienta que
Freud, mesmo em seus escritos mais tardios, manteve o conceito original da pulsão.
A libido, enquanto apetite sexual encontra satisfação no corpo, nos genitais, em
sensações das mucosas e da pele, na excitação do olhar ou da palavra dita ou ouvida;
sendo esses caracteres sexuais do corpo determinados pela fisiologia hormonal.

Freud criou o seguinte conceito de pulsão (trieb), por pulsão podemos


entender, a princípio, apenas o representante psíquico de uma fonte
endossomática de estimulação que flui continuamente, para diferenciá-la do
“estímulo”, que é produzido por excitações isoladas vindas de fora. Pulsão,
portanto, é um dos conceitos de delimitação entre3 o anímico e o físico. A
hipótese mais simples e mais indicada sobre a natureza da pulsão seria que,
em si mesma, ela não possui qualidade alguma, devendo apenas ser
considerada como uma medida da exigência de trabalho feita à vida anímica.
O que distingue as pulsões entre si e as dota de propriedades específicas é
sua relação com suas fontes somáticas e seus alvos. A fonte da pulsão é um
processo excitatório num órgão, e seu alvo imediato consiste na supressão
desse estímulo orgânico. (Freud, 1996, v. 7, p. 159 apud BICHUETTI L;
2011).

A plasticidade das pulsões, ou seja, a sua possibilidade de transformação, de


voltar-se para objetos e representações substituíveis; a sua possibilidade de sofrer
deslocamento e condensação, é o que torna possível o recalque, a formação e a
resolução do sintoma, assim como também a transferência. Freud, ao tentar abarcar
a complexidade da pulsão, considerou a atividade de sucção da criança como modelo
do seu caráter autoerótico e a sublimação como modelo de seu caráter elevado,
dessexualizado, mas ainda sendo pulsão, podendo ressexualizar- se, já que ainda
permanece ligada ao corpo, conforme BICHUETTI L; (2011).

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4 A NOÇÃO DE SUJEITO EM PSICANÁLISE

Fonte: poiesispsicologia.wordpress.com

O contexto de surgimento da ciência moderna no século XVII produziu uma


ruptura com o mundo antigo, tendo como marca a mudança de paradigma acerca da
queda dos corpos, isto é, o entendimento do conceito da gravidade. Por
consequência, houve a rejeição do pensamento de que os corpos caem devido ao seu
peso, como se esse fosse seu lugar natural, uma vez que, de acordo com a
“formulação apreensível ao sentido da ‘compreensão’ humana”, o lugar daquilo que é
pesado é no chão (Elia, 2010, p. 11, grifo do autor apud FREITAS I; 2018). Assim, a
concepção de gravidade produziu uma ruptura com esta verdade estabelecida a priori,
tendo como reflexo desse abalo a emergência da angústia.
É no ponto de angústia, como indica Elia (2010 apud FREITAS I; 2018), que
Descartes criou o método da dúvida, pois supunha que os sentidos humanos seriam
a razão para nos enganar quanto a tudo o que vemos e sentimos tal como a
compreensão de que os corpos caem devido ao seu peso. O procedimento deste
método consistia em discriminar tais sensações por meio da avaliação de suas fontes
e causas, forma e conteúdo, da falsidade e da veracidade de cada conhecimento do
ser, de modo a se livrar de tudo o que fosse duvidoso. Ao duvidar de tudo, inclusive
de que duvidava, pode-se chegar a uma conclusão como consequência desse
processo: a existência do seu ser, um sujeito pensante; eis a origem da máxima:
10
Cogito, ergo sum – Penso, logo sou. Tal proposição inaugurou o lugar do sujeito
moderno e com ele a tentativa de subtrair a angústia do desconhecido, uma vez que
o procedimento se pautava pela busca de tudo saber, conforme FREITAS I; (2018).
Neste contexto, o discurso do saber pela primeira vez se volta para seu agente,
colocando-o como próprio objeto reflexivo, pois a compreensão humana mostrou-se
passível de falhas. Neste ponto, o sujeito cartesiano se conecta ao sujeito da
psicanálise, pois é no momento que se vê transbordar a angústia, mediante as
incertezas do mundo que outrora era compreensível de algum modo pelo homem, que
se pode falar da emergência do sujeito da psicanálise, conforme FREITAS I; (2018).
Com a dúvida metódica de Descartes, concluiu-se a existência do ser pensante
e da consciência, o sujeito da verdade, no entanto, sobre ele nada se soube. Pois, o
discurso do saber busca tamponar tudo aquilo que não pode ser apreendido em sua
natureza; ou seja, o ósseo deste sujeito da ciência que se apresenta nas falhas do
discurso e que aparece apesar do Cogito (Meyer, 2008 apud FREITAS I; 2018).
O sujeito da psicanálise é, portanto, contemporâneo à ciência moderna, mas é
pensado para dar conta deste sujeito que nasce com ela, mas é excluído da mesma
(Lacan, 1998 [1966] apud FREITAS I; 2018). Isto, pois, nada se opera sobre ele ou
com ele, uma vez que o Cogito é pautado pela razão, enquanto a psicanálise opera
não em uma pessoa humana simplesmente, mas no sujeito que se fundamenta por
aquilo que não se sabe, com a angústia que o faz presente (Elia, 2010 apud FREITAS
I; 2018).

Deste modo, compreender a noção de sujeito tal como proposta por Lacan
(1998 [1966] apud FREITAS I; 2018) é ponto chave, uma vez que a
experiência da escuta analítica se norteia por perseguir os efeitos deste
sujeito. Para compreendê-lo, faz-se necessário situar esse momento em que
Lacan introduz a noção do sujeito em psicanálise, já que este se articula
intimamente à gênese do sujeito cartesiano. Pois, a partir da filosofia de
Descartes, fundamentada na máxima cogito, ergo sum, pode-se refletir sobre
uma nova concepção de sujeito subvertida por Lacan.

Tal concepção de sujeito é radicalmente diferente do que se pode dizer sobre


o eu, este que é a instância da consciência e do saber. Dito isso, é necessário
compreender a distinção entre o ‘eu’ e o ‘sujeito’, bem como o modo pelo qual se
constituem, pois, a psicanálise opera nos efeitos deste último. Este que, como
veremos, não pode se resumir ao indivíduo, a uma pessoa simplesmente ou a
dimensão consciente do ser. Sendo assim, o próximo tópico busca esclarecer por

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quais balizas o eu se constitui para depois diferencia-las daquilo que é constitutivo do
sujeito da psicanálise, conforme FREITAS I; (2018).
No que se refere ao início das experiências do bebê, pode-se dizer que este
momento é marcado pela experiência de um corpo despedaçado, por isso há a
impossibilidade de distinguir cada elemento de sua totalidade. Deste modo, como
indica Safatle (2017 apud FREITAS I; 2018), não há a experimentação da unidade do
eu que confira a ele uma sensação de reconhecimento e totalidade, nem mesmo a
noção de individualidade e alteridade, limitando a ele a condição de extensão da
própria mãe.
Neste momento, como aponta Lacan (1998 apud FREITAS I; 2018), o filho do
homem é superado em inteligência instrumental pelo chipanzé, uma vez que este já
reconhece sua imagem no espelho, enquanto o bebê encontra-se ainda situado no
registro do real e, por isso, tendo uma apreensão de completude (Castro, 2011 apud
FREITAS I; 2018). Isto resulta que “ele tem apenas necessidades simples, que podem
ser satisfeitas de forma imediata. ” (Castro, 2011, p. 1419 apud FREITAS I; 2018).
Mas, esta condição do bebê possui fendas, fissuras próprias do campo da
linguagem que caracterizam essa experiência de completude como mítica. Isso se
deve ao fato de que suas necessidades vitais provenientes dos estímulos endógenos,
tal como a nutrição, “cessam apenas mediante certas condições, que devem ser
realizadas no mundo externo” (Freud, 1996 [1950], p. 357 apud FREITAS I; 2018).
Portanto, devido ao estado prematuro biológico e simbólico da criança, ela dependerá
da ação específica de um adulto próximo, isto é, alguém que lhe garanta sua
sobrevivência – este adulto, o qual Freud identifica, apresenta-se a princípio no papel
da mãe e Lacan irá nomeá-lo como Outro.
Através da manifestação de desconforto da criança, há a correspondência da
mãe para lhe confortar. Como resultado desta correspondência, na qual a mãe
interpreta o comportamento da criança, se estabelece a comunicação. (Freud, 1996
[1950] apud FREITAS I; 2018).

É mediante esta relação com o outro e o apelo a ele que a criança poderá se
inscrever no registro Imaginário e estabelecer uma relação com a realidade,
o que possibilitará a conquista da apreensão global de seu corpo. Lacan
(1998 [1966] apud FREITAS I; 2018) compreende esse momento como o
estágio do espelho, no qual a criança ainda não se reconhece como tal e
relaciona-se imaginariamente com o outro. Mas, assinala que embora os
papéis de eu-outro ainda não estejam estabelecidos, esse tempo se
caracteriza como a prefiguração daquilo que será constituído como seu eu.

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Isto surge como possibilidade quando há a báscula “em que se vê
equivalerem-se, para a criança, sua ação e a do outro.

(Lacan, 1986 [1954], p.196 apud FREITAS I; 2018). Isto é, uma confusão entre
a imagem da criança e a do outro; por exemplo, quando uma criança diz que algum
colega bateu nela, quando foi ela que bateu. É nesta indeterminação de quem é o
agente e quem é o receptor do ato, na báscula expressa pela troca de papel com o
outro, atribuindo a ele suas próprias ações, que o ser poderá se assumir como um
corpo.
Essa báscula é constituinte do eu, uma vez que a princípio ele mesmo não tem
o domínio de suas ações, mas, pela mediação da imagem do outro, é possível que
ele a assuma (Lacan, 1986 [1954] apud FREITAS I; 2018). Por isso podemos dizer,
junto a Safatle (2017 apud FREITAS I; 2018), que o eu é o lugar de alienação, uma
vez que sua gênese é fundamentalmente formada a partir de identificações, sendo
através da imagem do outro que o eu orientará sua relação com o mundo para
aprender a se situar nele.
É a partir desta relação dual, num estado especular, que o sujeito poderá se
reconhecer como um eu além de aprender a reconhecer o seu desejo, que a princípio
só pode ser apreendido no “desejo do desaparecimento do outro como suporte do
desejo do sujeito. ” (Lacan, 1986 [1954], p. 198 apud FREITAS I; 2018). Para tanto, é
imprescindível a inscrição no simbólico, este é o momento em que há a resolução do
estágio do espelho e Lacan assinala como o mais importante, pois nota-se que é neste
tempo que a criança se reconhece na imagem, pois está investida de um novo valor:
o Outro, o valor simbólico. É este Outro como referência que irá introduzir a criança
num sistema sócio simbólico, condição essa necessária para a emersão do sujeito
(Safatle, 2017 apud FREITAS I; 2018).
A saída do estágio do espelho é caracterizada, portanto, pela ordem do
simbólico, pois neste momento há a junção deste com o registro imaginário. Diante
disso, pode-se compreender a alusão que Freud faz à brincadeira do carretel em Além
do Princípio de Prazer (1996 [1920] apud FREITAS I; 2018). A brincadeira
corresponde a um jogo de um menininho de um ano e meio que enquanto
arremessava um carretel de madeira com um pedaço de cordão em volta dele, emitia
um longo o-o-o-ó, sua mãe concluíra que o ato não representava somente uma
expressão de sentimento e emoção, mas, sobretudo, representava a palavra alemã

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‘fort’ (longe). O segundo momento da brincadeira consistia no reaparecimento do
brinquedo, que fora puxado de volta pelo garoto enquanto saudava o reaparecimento
dele, expressando alegremente a palavra ‘da’ (aqui).
A vocalização dos movimentos que a criança faz proporciona que ela se situe
a partir de uma dicotomia própria da linguagem que é seu fundamento, a saber, no
jogo, a oposição entre fort/da (longe/aqui). Essa vocalização é importante, não
simplesmente pelo seu enunciado, mas, sobretudo, pela possibilidade que a criança
cria de simbolizar a ausência e a presença do objeto amado – neste caso a ausência
da mãe (Quinet, 2012 apud FREITAS I; 2018). Ao se tornar mestre deste movimento
através do fort/da o ser assume sua privação em relação a ela, de modo a se
reconhecer como um corpo distinto do outro. Assim, inaugura a possibilidade também
de se fazer sujeito, uma vez que através da imagem do outro e da orientação que este
possibilita, pode apreender um lugar para si no mundo do símbolo, além de aprender
a desejar (Safatle, 2017 apud FREITAS I; 2018).

Vemos, então, como a imagem do outro é substancial na constituição do eu,


já que inaugura um lugar para o ser se assumir como um corpo consciente.
Porém, este lugar é também fonte de alienação, uma vez que este se inscreve
a partir de imagens do outro e por isso nada tem de singular na sua
composição (Safatle, 2017 apud FREITAS I; 2018). Através da inserção na
linguagem há garantia da existência e da possibilidade de falar deste ser
alienado, na medida em que, não sendo por ela, o ser seria um corpo
entregue ao vazio. Só há ser, pois, estamos imersos em significantes que
reconfigura algo de nossa experiência.

Diante disso, não há como restringir essa experiência ao mundo da


necessidade, nos considerando somente como um corpo biológico. Pois, por sermos
seres da linguagem, sendo esta condição para a vida humana, nunca a
experienciamos como tal. Pois mesmo o bebê já está imerso no campo da linguagem,
o que caracteriza essa vivência como algo de outra ordem. Isso, pois, o apelo das
necessidades vitais do bebê passará pelo campo do Outro, lugar que a mãe ocupa
num primeiro momento, caracterizando-o como o tesouro dos significantes (Lacan,
1973 [1964] apud FREITAS I; 2018) diante disso, não há como restringir essa
experiência ao mundo da necessidade, nos considerando somente como um corpo
biológico. Pois, por sermos seres da linguagem, sendo esta condição para a vida
humana, nunca a experienciamos como tal. Pois mesmo o bebê já está imerso no
campo da linguagem, o que caracteriza essa vivência como algo de outra ordem. Isso,
pois, o apelo das necessidades vitais do bebê passará pelo campo do Outro, lugar
14
que a mãe ocupa num primeiro momento, caracterizando-o como o tesouro dos
significantes (Lacan, 1973 [1964] apud FREITAS I; 2018).
Deste modo, fala-se da criança previamente dando um lugar a ela: seu nome,
o sexo, a religião, sua classe social, o time para o qual torcerá, os preconceitos que
ela sofrerá, dentre outros (Quinet, 2012] apud FREITAS I; 2018). A ‘mãe’, portanto,
vai se oferecer a partir de um lugar não só de atender as necessidades biológicas da
criança, mas também de dizê-la, dizer o mundo, o corpo e a cultura na qual estão
mergulhadas. Esse tempo de ‘enxame’ de significantes sustentará o Outro para ela, a
constituindo ao mesmo tempo como sujeito. Este, portanto, nascerá sendo falado pelo
Outro, o qual, por sua vez, encarnará para o sujeito a ordem num mundo já constituído
social e culturalmente (Elia, 2010] apud FREITAS I; 2018).

Podemos pensar, então, que o ser só se constitui na relação com o Outro do


simbólico, através de alguém que se ofereça a partir deste lugar. Assim, as
necessidades vitais do bebê ao serem atendidas pelo ser da linguagem irá
separar a criança da condição de mamífero, uma vez que ela não recebe
simplesmente o leite, mas, sobretudo, é apresentada ao significante da mãe
(Elia, 2010 apud FREITAS I; 2018). Essa experiência reconfigura a existência
do ser, uma vez que ao considerar o Outro, campo da linguagem, não há
como reduzir o sujeito a uma pessoa simplesmente, ao indivíduo com suas
necessidades, tampouco a uma relação dual estabelecida entre o eu-outro.
Pois, há o terceiro que é constitutivo da posição do sujeito, o Outro (Lacan,
1999 [1958] apud FREITAS I; 2018).

Nesse contexto, é necessário entender a diferenciação entre o sujeito do


inconsciente, sustentado por uma divisão que o torna desejante, para um ser da
articulação da demanda, consciente e que desconhece o desejo. Pois a psicanálise
persegue os efeitos deste primeiro que emerge do campo simbólico e que se
apresenta a partir da falta do Outro; enquanto o eu, consciente, trata-se de uma função
do imaginário. Esta busca no Outro uma apreensão de completude ao supor que ele
é onipotente e pode atender a todas suas demandas, conforme FREITAS I; (2018)
No entanto, nossa experiência como seres da linguagem nos atesta que a
demanda se encerra nela mesma, uma vez que nunca nos satisfazemos por completo,
pois não há quem possa corresponder a ela, já que o outro também falta. Deste modo,
“a mentira estrutural da demanda consiste em fazer crer que ela é formulada para ser
satisfeita. ” (Elia, 2010 apud FREITAS I; 2018). Ou, como diria Lacan (1985 [1973],
p.152) ao propor uma fórmula para a demanda: “eu lhe peço que você recuse o que
lhe ofereço porque não é isso".

15
Neste sentido, podemos dizer que o eu, o ser da articulação da demanda, é
alienado, pois, ao se constituir a partir da imagem do outro, desconhece o seu próprio
desejo e se restringe ao nível da demanda, supondo a possibilidade de sua satisfação.
Como aponta Pequeno (2000, p.79 apud FREITAS I; 2018), o eu “desconhece que
nada é produzido no seu próprio nível”, de modo a ter a ilusão de autonomia, da
certeza do ser e de sua consciência. Por isso, o ser consciente se limita a dimensão
do que é enunciado, isto é, do dito, do significado (Schãffer, 1999 apud FREITAS I;
2018).
No entanto, é noutro campo que podemos situar a verdade do sujeito e aquilo
que é próprio dele, que não se inscreve pela imagem do outro. Trata-se do
inconsciente, sendo através dos significantes que o compõe que o sujeito pode se
fazer representar. Neste contexto, podemos afirmar junto a Pequeno (2000 apud
FREITAS I; 2018), que o inconsciente é o discurso do Outro, este por quem nascemos
sendo falados e que se constitui como possibilidade de nos fazermos sujeito do
inconsciente, pois é através dos significantes dele que o sujeito pode advir, conforme
FREITAS I; (2018).

Dito isso, Pequeno (2000 apud FREITAS I; 2018) o compreende como o


sujeito do significante, pois ao estar submetido a eles, só pode emergir como
efeito de sua articulação, se situando nas entrelinhas do discurso. Neste
sentido, podemos pensar que se o eu é o lugar do enunciado, o sujeito está
para além dele, sendo a partir da enunciação que ele pode surgir. Como
aponta Schãffer (1999, p. 21 apud FREITAS I; 2018) “é no processo de
enunciação que um sujeito se produz e é produzido”, ou seja, através do ato
de criação do enunciado, o sujeito poderá se inscrever entre as linhas dos
significantes. Com isso, se o eu tem a ilusão de sua autonomia, logo esta é
abalada, agitada e bagunçada por produções inconscientes que se fazem
presentes à revelia do consciente.

Vemos, então, que se através da filosofia de Descartes, a partir da dúvida


metódica, o indivíduo pode chegar à máxima do Cogito, ergo $um, isto é, da certeza
de sua consciência, “infelizmente, mesmo que ele saiba que é, não sabe
absolutamente nada daquilo que é.” (Lacan, 1985 [1955], p. 281 apud FREITAS I;
2018). Pois, como diria Lacan (1998 [1966], p. 521 apud FREITAS I; 2018), “sou onde
não penso! ”. Sua precisão diante do Cogito é tomada a partir da subversão freudiana
de considerar algo que está para além da consciência, que é marcada pela estrutura
do desejo e que se chama inconsciente. Neste sentido, a psicanálise opera num
sujeito clivado, e destitui da consciência seu papel central, colocando como centro de
gravidade o inconsciente, o qual independe dos processos do pensamento. É por essa
16
dicotomia que subverte o Cogito que Lacan (1998 [1966] apud FREITAS I; 2018)
formula a divisão própria deste sujeito: o saber e a verdade.

Pautada por essa divisão do ser, a psicanálise vai à contramão do que se


pode chamar de alienação, esta que está circunscrita à instância do eu
(Safatle, 2017 apud FREITAS I; 2018). Ao supor essa alienação, coloca-se o
problema de que haveria a perda de uma essência que seria interior a si
mesmo. Logo, neste sujeito do pensamento engendrado pela filosofia de
Descartes, marcado pela consciência e por processos de identificação,
encontra-se um ‘si mesmo’ chamado por Lacan de sujeito, sendo nele onde
se inscreve o desejo. “É por isso que o sujeito em Lacan é irremediavelmente
‘descentrado’, ou seja, ele nunca se confunde com o Eu. ” (Safatle, 2017, p.
37, grifo do autor apud FREITAS I; 2018). Pois, trata-se de um sujeito que se
articula à consciência, mas que se identifica ao desejo, este que nada tem de
racional.

Deste modo, se o sujeito é escamoteado pelo eu, o homem nada sabe sobre
seu desejo. Conforme aponta Lacan (1986 [1954], p. 193 apud FREITAS I; 2018), o
adulto, com efeito, tem de procurar seus desejos. Sem o que não teria necessidade
de análise. O que nos indica suficientemente que está separado do que se relaciona
ao seu eu, a saber, do que se pode reconhecer de si mesmo.
Assim, parafraseando Lacan (1986 [1954] apud FREITAS I; 2018), a ignorância
implica uma noção dialética na medida em que ela só se faz presente se houver como
contraponto a perspectiva de verdade. Deste modo, a ignorância está para a verdade,
assim como o verdadeiro está para o falso ou, ainda, como a realidade está para a
aparência. Se o eu nada sabe sobre o desejo; logo, o processo de análise o implicará
numa busca por este, através de uma noção de que haveria, em algum lugar, a
perspectiva da verdade. Para tanto, é o analista que engendra essa dialética ao
constituir sua ignorância, na medida em que ele a contrapõe ao conhecimento da
verdade ao favorecer o sujeito barrado.
Neste sentido, este processo se encaminha para um desconhecimento. Como
indica Lacan (1986 [1954], p. 194 apud FREITAS I; 2018), “o desconhecimento
representa uma certa organização de afirmações e de negações, a que o sujeito está
ligado. Não se conceberia, pois, sem um conhecimento correlativo. ” Logo, a
possibilidade do desconhecer implica, necessariamente, determinado conhecimento
sobre aquilo o que se desconhece, assim como o verdadeiro está para o falso, o
desconhecimento também está para o conhecimento. Pode-se dizer, de acordo com
Quinet (2012, p.15 apud FREITAS I; 2018), que “a consciência é a instância do
desconhecer”, de modo que o eu, fonte de desconhecimento, sucumbe o lugar do

17
sujeito, sendo este inconsciente e que se chama desejo (Safatle, 2017 apud FREITAS
I; 2018).
Este é o ponto em que se situa a verdade do sujeito, a qual a ciência tampona
pela busca de tudo saber; aqui “separam-se os encaminhamentos da psicanálise e da
ciência”, uma vez que “a psicanálise fica do lado da verdade e a ciência, do saber. ”
(Pequeno, 2000, p.14 apud FREITAS I; 2018). Pode-se dizer, então, que a psicanálise
busca a verdade do sujeito, e não o sujeito da verdade, este que se resguarda na
razão.
Para tanto, a psicanálise se serve do dispositivo da associação livre para
apreender os efeitos deste sujeito. Ao submeter o analisando a experiência analítica,
desqualifica-se sua fala acompanhada de valores e significações compartilhadas para
que o inconsciente possa se fazer presente através do discurso concreto do sujeito
(Elia, 2010 apud FREITAS I; 2018).
Portanto, a partir da fala endereçada ao outro, enquanto seu semelhante, a
escuta analítica possibilita identificar os efeitos desse sujeito barrado e cerne do
desejo; é no tropeço das falas e nas falhas de seu discurso que se dá luz a ele. Isto
é, o sujeito escamoteado pelo eu, marcado pela estrutura da linguagem, aparece na
articulação da cadeia significante fazendo-se escutar em seus efeitos, conforme
FREITAS I; (2018).

4.1 Sujeito dividido: sujeito assujeitado pelo outro; sujeito do significante

Vemos, então, como é necessária a relação com o ser falante para que o sujeito
advenha. Pois, este, além de garantir a sobrevivência da criança amparando suas
necessidades biológicas, apresenta o mundo do significante para a mesma. No
entanto, para, além disso, é necessária uma terceira figura na relação simbiótica entre
a mãe e a criança para que esta se inscreva como sujeito, colocando-se não mais
como um corpo entregue ao gozo da mãe e à sua lei arbitrária (Lacan, 1999 [1958]
apud FREITAS I; 2018). Esta terceira figura é responsável por inscrever no Outro,
também chamado de tesouro dos significantes, essa barra da qual falamos
anteriormente, que marca a posição do sujeito e tem como função produzir uma
diferenciação entre o Outro e o sujeito.

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Podemos nomear este terceiro como a figura paterna que ao se inscrever no
Outro, garante que a criança não esteja submetida à lei deste Outro não castrado – a
‘mãe’. Se no primeiro momento a lei está sob o arbítrio da mãe, submetendo o sujeito
a ela, o segundo momento é marcado, portanto, pela presença da intervenção
paterna, esta que se situa para além da mãe (Lacan, 1999 [1958] apud FREITAS I;
2018).

É necessário, neste momento, frisar que esta intervenção não se trata de


aspectos biográficos, pois a mesma não está simplesmente dada a partir de
um ponto de vista social, a julgar pelas características do pai. Ou seja, a
questão desta intervenção, tal como sua carência, não deve se delimitar por
questionamentos tais quais: “O pai estava ou não estava presente? Será que
viajava, que se ausentava, será que voltava com frequência? ” (Lacan, 1999
[1958], p. 172 apud FREITAS I; 2018). Pois, ao contrário disso, Lacan insiste
que a problemática se trata, sobretudo, de uma função simbólica e por isso
não está circunscrita à relação mamãe e papai. Ou seja, o pai é simbólico e
qualquer outra interpretação que o situe de algum modo num registro
biográfico serão de outro nível, que não o da psicanálise.

Tendo isso em vista, podemos afirmar junto a Lacan (1999 [1958] apud
FREITAS I; 2018), que a intervenção paterna é consequência da operação da
linguagem e consiste na substituição do significante do pai por outro significante.
Trata-se de uma metáfora na qual um significante é substituído por outro; neste caso,
o Nome-do-Pai (NDP) vem no lugar do significante da mãe/significante fálico, de modo
a operar produzindo um corte na relação com o Outro invasivo. Por consequência, o
Outro, como o tesouro dos significantes, torna-se barrado mediante a inscrição do
NDP, configurando-o como o lugar da Lei.
É com a possibilidade de simbolização mediante a inclusão do NDP no Outro
que a criança poderá situar a mãe alhures de forma suportável, por meio da
simbolização da sua alternância entre ausência-presença. Neste contexto podemos
retomar o jogo fort/da, pois este indica o tempo em que a criança “consegue doravante
controlar fundamentalmente o fato de não ser mais o único e exclusivo objeto de
desejo da mãe, isto é, o objeto que preenche a falta do Outro, ou seja, o falo. ” (Dor,
1989, p. 89 apud FREITAS I; 2018).

Por consequência dessa passagem exclusivamente imaginária para


simbólica, a criança pode apreender que a mãe deseja em outros lugares.
Como aponta Lacan, para a criança, a pergunta é: qual é o significado? O
que quer essa mulher aí? Eu bem que gostaria que fosse a mim que ela quer,
mas está muito claro que não é só a mim que ela quer. Há outra coisa que
mexe com ela – é o x, o significado. E o significado das idas e vindas da mãe
é o falo (1999 [1958], p.181, grifo do autor apud FREITAS I; 2018).

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Deste modo, ao simbolizar, a criança poderá abrir mão do lugar que ocupa de
ser o falo, para representa-lo em outra dimensão, a de ter o falo. Para tanto, é
necessário que ela se coloque como sujeito na relação para deixar de ser o objeto de
gozo do Outro e distinga sua vivência dos objetos simbólicos substitutivos (Dor, 1989
apud FREITAS I; 2018).
Dada essa intervenção do NDP, a criança experimenta o evento traumático de
separar-se da mãe. Ou seja, de acordo com Guimarães (2007, p. 34 apud FREITAS
I; 2018), este é o momento em que há o “corte na suposta unidade que haveria entre
o sujeito e o Outro”. Por meio desta operação se inaugura a falta no Outro, tal como
Freud nomeou de castração, e, simultaneamente, abre-se espaço para que o sujeito
se constitua como um ser faltante. “Esta falta é falta de ser, propriamente falando. Não
é falta disto ou aquilo, porém falta de ser através do que o ser existe. ” (Lacan, 1985
[1955], p. 280 apud FREITAS I; 2018).
Vemos, então, que é necessário abdicar da relação com o Outro marcado por
sua suposta completude para a conquista da posição do sujeito como falta-a-ser, o
que implicará na inscrição do sujeito na ordem significante. Pois, ao se situar no furo
do Outro, o sujeito pode se apropriar dos significantes que ele dispõe para se fazer
representar, já que o Outro barrado não se constitui como um “universo completo”
responsável por dar um sentido a história de determinado sujeito encerrando-a por
isso mesmo (Quinet, 2012, p. 30 apud FREITAS I; 2018). Este furo implica que falta
ao Outro um significante por excelência, já que o lugar de ‘tesouro’ se torna incompleto
dada à intervenção paterna.
Deste modo, não há uma sentença que diga o que o sujeito ‘é’, pelo contrário,
o sujeito é marcado por sua indefinição, pois sendo sua morada o furo do Outro, ele
desliza nas cadeias significantes se fazendo representar pelos significantes que
compõem o campo do Outro (Quinet, 2012 apud FREITAS I; 2018). Assim, “na
neurose, o sujeito é o que um significante representa para um outro significante”
(Pequeno, 2000, p. 66 apud FREITAS I; 2018), situando-se no intervalo entre S1 e S2
(Quinet, 2012 apud FREITAS I; 2018). Isto implica que ele não é isso ou aquilo,
podendo ser apreendido somente em seu efeito, e não em sua natureza – tal como
vimos na seção anterior.

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Trata-se, neste caso, do sujeito da enunciação (Schãffer, 1999 apud FREITAS
I; 2018), que encontra as vias necessárias para se fazer presente através do que os
campos do Outro dispõem. Podemos pensar, então, que o sujeito do significante
(Pequeno 2000 apud FREITAS I; 2018), marcado como falta-a-ser, estabelece uma
relação dialética com o Outro ao inscrever nele a dimensão da falta, de modo a operar
na cadeia significante para ‘concretizar’ seu discurso.

5 POSSÍVEIS ORDENAÇÕES PARA A NOÇÃO DE OBJETO

Fonte: exame.com

Na psicanálise Freudiana é possível estabelecer diferentes ordenações da


noção de objeto na obra freudiana a partir do que já foi exposto. Nenhuma delas é
definitiva, mas escolhas precisam ser feitas se quisermos avançar na compreensão
de um pensamento tanto no que diz respeito a seus acertos quanto a seus erros,
conforme JR N; (2001).
É inevitável, nas tentativas didáticas de ordenação de um conceito em uma
obra tão complexa como a de Freud, algum grau de esquematismo e simplificação. A
partir da ordenação proposta, para além dela em direção a uma re-complexificação
mais sistemática do conceito de objeto e da relação sujeito/objeto na obra freudiana,
conforme JR N; (2001).

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Assim, de acordo com JR N; (2001), uma ordenação possível seria a seguinte:
O objeto é objeto da pulsão - considerando a teoria pulsional, Freud afirma
que se constitui como objeto da pulsão todo objeto no qual ou através do qual a pulsão
consegue atingir seu alvo. O objeto não é fixo, nem previamente determinado, é o que
há de mais contingente no conjunto de elementos e processos presentes nos atos
pulsionais. O objeto é variável e indeterminado, mas é o que permite satisfação às
pulsões. Os objetos pulsionais tendem a ser objetos parciais, como por exemplo
partes do corpo. Não precisam ser objetos reais presentes, podem ser objetos
fantasiados, o importante é que sejam objetos que garantam a satisfação. Nesse
sentido, o objeto estará sempre a serviço dos movimentos das pulsões sexuais, tal
como Freud as define em sua primeira teoria das pulsões, conforme JR N; (2001).
O objeto é objeto de atração e de amor - os objetos de atração e objetos de
amor são em geral indivíduos que se articulam não apenas a relações pulsionais, mas
sobretudo a relações do ego total com os objetos. É através dos objetos de amor que
Freud (1910/1972 apud JR N; 2001) elabora as passagens de fantasias infantis
inconscientes para as experiências na assim chamada “vida real”.
Parte-se, na infância, de objetos visados pelas pulsões parciais para se atingir,
posteriormente, objetos totais, visados pelo ego adulto. É possível apreender, a partir
dessa noção de objeto, uma certa concepção de desenvolvimento psicossexual
sugerida por Freud, na passagem de objetos da pulsão parciais e pré-genitais, para
objetos totais objetos de amor e genitais. No entanto, as próprias investigações
posteriores de Freud (1917/1972 apud JR N; 2001), e principalmente os trabalhos de
Abraham (1924/1980 apud JR N; 2001) e Klein (1932 apud JR N; 2001), tornarão
essas relações muito mais complexas, envolvendo a experiência do fetichismo e os
processos de incorporação, introjeção e projeção, fazendo com que a relação com
objetos parciais assuma um papel central.
Objeto e narcisismo: o ego torna-se objeto da pulsão – a introdução do ego
como objeto da pulsão abre espaço para uma grande transformação na obra
freudiana, que culminará com uma nova teoria das pulsões. A complexidade das
relações entre as pulsões e seus objetos recoloca a questão sobre as formas de
vinculação entre os objetos das pulsões sexuais e os objetos de necessidade,
vinculados às pulsões de autoconservação. A própria noção de prazer e objetos de
prazer precisará ser questionada, ao lado da noção de identificação. E ainda mais, o

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ego, nos processos narcísicos é definido como um objeto de amor. Será o ego um
objeto de amor como qualquer outro? Conforme JR N; (2001).
Objeto e identificação: principalmente a partir de Luto e melancolia, Freud
passa a dar mais ênfase à importância dos objetos de identificação na constituição do
sujeito. Na experiência melancólica há a introjeção de uma relação ambivalente entre
o ego e o objeto, objeto que nesse caso é inconsciente. A identificação parcial entre o
ego e o objeto “perdido” resulta em um processo de grande destrutividade para o ego,
na medida em que o ego não consegue igualar o objeto introjetado e assim partir em
busca de novos objetos, conforme JR N; (2001).
Freud estabelece também, com clareza, que o objeto pode ter sua existência
no psiquismo mesmo depois de não estar mais presente como objeto da percepção.
As múltiplas dimensões psíquicas e empíricas que se desdobram a partir da
concepção freudiana das identificações têm papel preponderante nas formulações da
noção de objeto de autores pós-freudianos. Pode-se dizer que o objeto jamais será o
mesmo para a psicanálise a partir da ênfase nas identificações como elemento central
na constituição da subjetividade, conforme JR N; (2001).
Percepção e objeto. O objeto da percepção é objeto real? A formulação
sobre o vínculo entre percepção e objeto, presente sobretudo nos textos iniciais de
Freud, apresenta o objeto como sendo por um lado um objeto externo e real,
oferecendo ao sujeito — ou à consciência — o critério de realidade, e de outro lado
como sendo um objeto psíquico e então trata-se fundamentalmente de
representações (Vorstellungen), conforme JR N; (2001).
Nesse plano, Freud não se distingue de boa parte da tradição psicológica, em
que objeto é objeto empírico e a representação seria uma representação do objeto
real externo. A percepção seria uma função da consciência, ou do ego, que por sua
vez deveria ser definido como sede das funções psicológicas (atenção, cognição,
etc.). Mas Freud (1915/1972 e 1923/1972 apud JR N; 2001) introduz uma novidade,
em termos de teorias clássicas da percepção, ao deixar aberta a possibilidade de
percepções inconscientes. E nesta medida permite que se postule o reconhecimento
de que nenhuma percepção garante um acesso objetivo à realidade, não cabendo,
assim, reconhecimentos definitivos sobre a objetividade das percepções.

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Apesar destas diferentes acepções, podemos considerar que na teoria
freudiana, de uma forma geral, o objeto está sempre ligado ao processo da história de
vida do sujeito, ou seja, se o objeto é determinado por algo, não o é simplesmente por
elementos constitucionais de cada sujeito, mas sim pela história de vida
(fundamentalmente a história de vida infantil). Neste sentido, mesmo a assim
chamada “escolha de objeto” presente na adolescência e na vida adulta, se não ocorre
por acaso, também não pode ser concebida como completamente determinada, seja
constitucionalmente, seja por uma decisão soberana da consciência ou do ego,
conforme JR N; (2001).

6 O CONTATO FÍSICO NA RELAÇÃO MÃE-BEBÊ

Fonte: uol.com.br

A relação que se instala entre mãe-bebê vem sendo estudada há muitos anos,
com todas as divergências de teorias e teóricos. Há a unanimidade em reconhecer
que é a primeira relação humana da criança, a pedra fundamental onde será edificada
sua personalidade, porém não existe uma natureza ou origem dessa relação, não há
um momento exato para se dizer onde ela começa, com que rapidez se estabelece,
por que é mantida, por quanto tempo é mantida e qual a função exata dessa relação.

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Existe um bebê com necessidades fisiológicas a serem satisfeitas e essa relação com
a mãe se dá dessa satisfação de necessidades, onde a mãe é a fonte de satisfação
(BOWLBY, 2002; SPITZ, 2004; WINNICOTT, 2012b apud KONRATZ R; 2017).
É essencial para a saúde mental do bebê que se viva uma relação calorosa,
íntima e contínua com a mãe, onde consiga atingir satisfação e prazer, por ambas as
partes. É através dessa relação com a mãe que muitos julgam estar a base do
desenvolvimento da personalidade e saúde mental do bebê (BOWLBY, 2006;
WINNICOTT, 2012b apud KONRATZ R; 2017).
Em concordância, pode-se afirmar dentro da teoria de Winnicott que essa é a
primeira relação do bebê com o mundo, a mãe é para ele o seu mundo, parte integral
dele, responsável pela satisfação, porém não há uma separação do bebê e da mãe,
na visão dele são um só. Não há nada de místico nisso, mãe e bebê são um só, pois
ela está voltada inteiramente para ele. Isso dá ao bebê a possibilidade de ser, de
caminhar na linha do amadurecimento de maneira saudável e se desenvolver
(LOPARIC, 2001; WINNICOTT, 2012a apud KONRATZ R; 2017).
O período que é considerado neste trabalho é chamado de dependência
absoluta (da parte da criança) e preocupação materna primária (da parte da mãe), que
vai do nascimento aos seis primeiros meses de vida do bebê, onde como já foi dito, a
mãe está inteiramente voltada a ele para satisfazer suas necessidades (LOPARIC,
2001; DIAS, 2002; GOELLNER, 2009 apud KONRATZ R; 2017).
Cabe a essa mãe proporcionar o ambiente para o bebê se desenvolver e ao
mesmo tempo ser esse ambiente de desenvolvimento. Sendo assim, a mãe
suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê a ilusão de que o mundo é criado
por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da onipotência primária, que exerce na
sua relação com o filho qualidades essenciais de apoio, proteção e aceitação. Como
dito anteriormente, são três as funções que devem estar presentes na figura materna
para classificá-la como “suficientemente boa” de acordo com Winnicott, sendo elas
conceituadas como holding, handling, e a apresentação dos objetos (DIAS, 2002;
WINNICOTT, 2007; GOELLNER, 2009 apud KONRATZ R; 2017).

Vários acontecimentos ocorrem nos primeiros seis meses de vida da criança


e o desenvolvimento emocional tem parte desde o princípio num esboço da
evolução da personalidade e do estilo e é imprescindível os eventos dos
primeiros dias e horas de vida e até o nascimento pode ser significativo
(WINNICOTT, 2011a apud KONRATZ R; 2017).

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Verificamos, na mãe grávida, cada vez mais uma identificação com o seu filho,
somente a mãe consegue saber como o bebê pode estar se sentindo. Ocorrendo essa
identificação, a mãe é capaz e tem anseio de dar ajuda no momento em que for
necessário (WINNICOTT, 2011a apud KONRATZ R; 2017).
Vale ressaltar a importância de se examinar o relacionamento entre mãe eu
bebê, pois é preciso haver distinção do que pertence a um e ao outro, nesse jogo há
a identificação da mãe com seu bebê e do mesmo para com sua mãe, sendo, nesse
caso, importantíssimo que a mãe se posicione de maneira madura (WINNICOTT,
2011a apud KONRATZ R; 2017).
Conforme Winnicott propõe, é importante observar as transformações que
acontecem na mulher que está em vésperas de ter um bebê ou que recentemente
teve um. São mudanças fisiológicas começando com o sustento físico do bebê no
útero - essas mudanças devem ser acompanhadas, pois podem ser distorcidas por
não haver saúde mental na mulher (WINNICOTT, 2007 apud KONRATZ R; 2017).
De diversas maneiras ela é encorajada pelo seu próprio corpo a ficar
interessada em si. A mãe transmite algo de sua importância para o bebê que está se
desenvolvendo dentro dela. De um modo ou de outro, há a identificação com o bebê
que está se formando, o que acarreta em uma percepção muito afetuosa do que
precisa o bebê, sendo isso uma identificação projetiva, onde permanece por algum
tempo após o parto, depois gradativamente perde importância (WINNICOTT, 2007
apud KONRATZ R; 2017).

Segundo Winnicott, a proteção suficientemente boa do ego, pela mãe (na


relação à ansiedade inimaginável) permite ao novo ser humano estabelecer
uma personalidade no modelo da sequência existencial. As falhas que de
certa forma podem causar a ansiedade inimaginável acabam acarretando
uma reação que corta a continuidade existencial, findando em um padrão de
fragmentação do ser, o que gera na criança uma tarefa de desenvolvimento
sobrecarregada que vem a favorecer no surgimento da inquietação, falta de
atenção e hipercinesia, que mais tarde acarretam em incapacidade de se
concentrar (WINNICOTT, 2007 apud KONRATZ R; 2017).

Torna-se relevante entender os períodos iniciais para a constituição do vínculo


mãe-bebê, levando em conta o período da gestação ao puerpério como momento
favorável para este entrosamento. Após o nascimento a mãe depara-se com as
inúmeras mudanças em sua rotina, abre mão de muitos momentos e cuidados
próprios, passa a ter mais preocupações, volta toda a atenção ao bebê e são esses

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fatos que garantem, de certa forma, a qualidade do vínculo. (BORSA, 2007 apud
KONRATZ R; 2017).
A ação de amamentar concede o contato físico entre mãe e bebê, estimulando
pele e sentidos, beneficiando ao bebê, não só o consolo de ter suas necessidades
atendidas, mas o prazer de ser segurado pelos braços de sua mãe. Tornando-as cada
vez mais tranquilas e facilitando a socialização durante a infância. (GOELLNER, 2009;
COSTA e QUEIROZ, 2013 apud KONRATZ R; 2017).
Para Winnicott (2012a apud KONRATZ R; 2017) juntamente com Rosario,
Pitombo e Nogueira (2006) esse ato de segurar o bebê, manipulá-lo e prestar cuidados
durante a amamentação é mais importante em termos vitais do que a experiência
concreta da amamentação, pois o bebê se sente seguro, protegido e de certa forma
saciado.
Norman (2004 apud KONRATZ R; 2017) e Anzieu-Premmereur (2017 apud
KONRATZ R; 2017) corroboram com Winnicott quando se trata da importância da
relação inicial mãe-bebê, explanando sobre o respeito que a mãe tem que ter com o
espaço do filho para não se tornar invasiva ou acabar superprotegendo o bebê de
coisas necessárias para o seu desenvolvimento. A mãe deve ter consciência das
consequências dos seus atos, sejam eles bons ou ruins, mas isso não deve ser feito
de maneira a fazer se sentirem culpadas, e sim esclarecer onde devem mudar, o que
devem realmente suprir e como suprir isso no bebê sem fazê-lo de forma invasiva ou
deixando muitas falhas.
Rappaport, Herzberg e Fiori (2014 apud KONRATZ R; 2017) salientam que
para que haja um desenvolvimento psicológico sadio, é necessário um seio real. A
maternagem é um procedimento inteiro que envolve mãe-bebê. Mesmo a mãe não
possuindo leite, ou no caso de filho adotivo, é a relação amorosa e corporal que nutrirá
os processos da criança. Pois é tomando o filho no colo que se dá o contato pele a
pele prazeroso e configurador, o ato de prestar-lhe atenção, embalá-lo, acariciá-lo o
ajudará a se organizar e passar a amar o objeto primordial de toda sua evolução
afetiva, que é a mãe.
Isso são as “solicitações paralelas” do bebê sendo atendidas, onde ele não
está incorporando apenas o leite materno, mas sua voz, embalos e carícias. É fato
que os bebês reconhecem suas mães pelo cheiro e voz, já que o rosto humano só é
reconhecido por ele do quarto mês de vida em diante, conforme KONRATZ R; (2017).

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Segurar o bebê no colo favorece a experiência sensorial e tátil do corpo,
possibilitando uma delimitação corporal e a noção de existência. Tal atitude da mãe
propicia ao bebê o sentimento de confiança, fator fundamental para a base do ego e
o sentimento de continuidade do ser (a partir do sentimento de confiança, surge o
sentimento de amor), além de fortalecer a relação da mãe com o seu bebê
(WINNICOTT, 1990; DIAS, 2002 apud KONRATZ R; 2017).

6.1 Início do contato com a realidade: apresentação de objetos

De acordo com ROCHA M; (2006), o bebê ao conquistar a integração por


períodos mais longos e ter sua psique inserida no corpo, atinge um momento delicado,
pois um novo fenômeno se coloca a sua frente a realidade externa.

Como explica Dias, assim que nasce, o bebê não tem nem o sentido da
externalidade nem qualquer outro sentido da realidade. Para que algum
sentido de realidade se inicie, é necessário que lhe seja propiciado o único
que lhe é possível nesse ponto do amadurecimento: a realidade do mundo
subjetivo. Sem o estabelecimento da realidade subjetiva não há como
prosseguir nas conquistas graduais do amadurecimento (Dias 2003:213 apud
ROCHA M; 2006).

E também acrescenta que a conquista do sentido de externalidade será


possível por meio do estabelecimento das relações objetais. Nesse momento, o meio
ambiente se apresenta ao bebê. A mãe traz um pedacinho do mundo até ele, de forma
compreensiva e de um modo limitado, proporcionando lhe uma experiência de
onipotência ao lhe permitir que tenha a ilusão de que o que foi encontrado seja algo
por ele criado, conforme ROCHA M; (2006).
Para Winnicott, o início das relações objetais é complexo. Somente ocorre se o
meio ambiente propiciar a apresentação de um objeto, de maneira que o bebê acredite
que quem cria objeto é ele. Isto ocorre da seguinte forma, nas palavras do autor, O
bebê desenvolve a expectativa vaga que se origina em uma necessidade não-
formulada. A mãe, em se adaptando, apresenta um objeto ou uma manipulação que
satisfaz as necessidades do bebê, de modo que o bebê começa a necessitar
exatamente o que a mãe apresenta. Deste modo o bebê começa a se sentir confiante
em ser capaz de criar objetos e criar o mundo real. A mãe proporciona ao bebê um
breve período em que a onipotência é um fato da experiência (Winnicott 1965n [1962],
p.56 apud ROCHA M; 2006).

28
O pensamento de Winnicott sobre a questão da apresentação de objetos pode
também ser verificado no momento da amamentação que é por ele usado para ilustrar
o processo que pode resultar na primeira experiência de afetividade feita pelo bebê
com um objeto externo e que acontece em algum momento do início do
desenvolvimento infantil. Diante dessa questão, em seu artigo “Alimentação do Bebê”,
ainda escreve mais: “[...] a alimentação da criança é uma questão de relações mãe-
filho, o ato de pôr em prática a relação de amor entre dois seres humanos” (Winnicott
1945c [1944], p.31 apud ROCHA M; 2006).
Com base nos autores citados, conforme dito anteriormente, a relação de
objeto está intimamente vinculada à apresentação que a mãe faz de cada pedacinho
do mundo ao bebê. Gradativamente, a mãe vai aumentando a porção de realidade
compartilhada que apresenta ao bebê, aumentando a capacidade de ele usufruir o
mundo, tendo o cuidado de preservar certa porção de ilusão. Winnicott parte da
concepção de que o bebê possui a ilusão que aquilo que ele encontra no mundo, no
período inicial de vida, foi por ele criado, conforme ROCHA M; (2006).
Para o autor, no entanto, esse estado de coisas só ocorre quando a mãe age
de maneira suficientemente boa. Na perspectiva desse pensamento, infere-se que, se
a mãe for bem-sucedida em capacitar o bebê a usar a ilusão, ele estará preparado
para aceitar, com facilidade, os momentos de desadaptação gradual o desmame. À
medida que o bebê consegue lidar com a separação, inicia-se seu caminho em direção
à dependência relativa e à conquista da independência, conforme ROCHA M; (2006).

7 AS RELAÇÕES OBJETAIS NA TEORIA DE RONALD FAIRBAIRN

Na apresentação que Ernest Jones faz do livro de Fairbairn (1970 apud


BICHUETTI L; 2011), “Estudos psicanalíticos da personalidade” ele declara que, se
pudesse condensar as ideias de Fairbairn em uma frase, ele diria:

Em vez de partir, como fez Freud, da estimulação do sistema nervoso


originada pela excitação das zonas erógenas e da tensão interna provocada
pela atividade gonádica, ele parte do centro da personalidade, o Eu, e
descreve as suas tensões e dificuldades na sua tentativa para alcançar um
objeto onde possa encontrar apoio. (1970, p. 9 apud BICHUETTI L; 2011).

29
Ronald Fairbairn foi um psicanalista que partiu das formulações freudianas,
empregando-as no tratamento de seus pacientes. Durante algum tempo, ele manteve-
se fiel aos postulados de Freud. No entanto, quando se deparou com alguns quadros
psicopatológicos, especialmente com pacientes esquizoides, ele afirmou que não
conseguia avançar no tratamento destes pacientes utilizando a teoria da libido. Então,
ele considerou que, a teoria clássica freudiana era insuficiente, não só para explicar o
funcionamento psíquico de alguns pacientes, como também para tratá-los, conforme
BICHUETTI L; (2011).
Foi a partir da análise de pacientes que manifestavam características
esquizoides que Fairbairn constatou a importância das relações objetais. Isso porque,
nesses pacientes, as dificuldades relativas ao relacionamento com os objetos se
apresentavam mais claramente, conforme BICHUETTI L; (2011).
Fairbairn explica que o significado do termo esquizoide está ligado à concepção
da clivagem do Eu (1970, p. 22 apud BICHUETTI L; 2011). Para ele, “todos sem
exceção devem ser considerados esquizoides [...] O fenômeno esquizoide
fundamental é a presença de clivagens do Eu [...] alguma medida de clivagam do Eu
está invariavelmente presente ao nível mental mais profundo” (idem, p. 21).
Desse modo, segundo Fairbairn, qualquer indivíduo pode manifestar alguma
característica esquizoide sob condições extremas, outros podem manifestar provas
de uma clivagem do Eu apenas em situações que envolvem reajustamentos, enquanto
alguns indivíduos podem manifestar essa clivagem em situações comuns da vida,
conforme BICHUETTI L; (2011).
A análise terapêutica dos casos esquizoides, atendidos por Fairbairn, deram-
lhe uma oportunidade de estudar e compreender uma grande variedade de processos
psicopatológicos. Na verdade, ele começou a se interessar pelos processos mentais
de natureza esquizoide, justamente pela compreensão psicopatológica que esses
casos lhe proporcionavam, conforme BICHUETTI L; (2011).

7.1 As primeiras relações objetais

Fairbairn aponta que a qualidade de dependência do objeto é o fator mais


importante nas primeiras relações. Os objetos podem ser parciais ou totais e no
desenvolvimento da primeira infância existe apenas um objeto natural parcial: o seio

30
da mãe; sendo que o objeto total mais significativo é a mãe, estando o pai em plano
secundário, conforme BICHUETTI L; (2011).
Para o autor, na primeira infância, o caminho de menor resistência ao objeto
reside quase exclusivamente através da boca, devido às necessidades do organismo
humano nessa época, de ser amamentado pela mãe. É por isso que a boca se torna
o órgão libidinal dominante nessa fase da vida, conforme BICHUETTI L; (2011).
Nesse estágio inicial “o Eu da criança pode ser descrito, sobretudo, como um
Eu oral” (1970, p. 24 apud BICHUETTI L; 2011). Isso porque a boca da criança é seu
principal órgão de desejo, o principal instrumento de atividade, o principal meio de
satisfação e frustração, o principal canal de amor e de ódio e mais importante do que
tudo, o primeiro meio de contato social íntimo.
Fairbairn ressalta que:

A primeira relação social estabelecida pelo indivíduo, é entre ele mesmo e a


mãe; e o foco da sua relação é a situação de aleitamento, na qual o seio da
mãe fornece o ponto focal de seu objeto libidinal, e a sua boca, o ponto focal
da sua própria atitude libidinal. Consequentemente, a natureza da relação
assim estabelecida exerce uma profunda influência sobre as relações
subsequentes do indivíduo, e sobre sua atitude social em geral. (Fairbairn,
1970, p. 24 apud BICHUETTI L; 2011)

Percebe-se então que, para Fairbairn, o primeiro objeto libidinal da criança é o


seio da mãe, mas a forma da mãe como pessoa, gradualmente começa a tomar forma
em redor do núcleo original desse órgão materno (o seio), conforme BICHUETTI L;
(2011).
Essa relação oral da criança com a mãe na situação de aleitamento representa
a sua primeira experiência de relação de amor, e é por isso, a fundação sobre a qual
se baseiam todas as suas futuras relações com os objetos de amor. Representa
também, a sua primeira experiência de uma relação social; e por isso, forma a base
da sua atitude subsequente para com a sociedade, conforme BICHUETTI L; (2011).

7.2 Fairbairn e a teoria da libido de Freud

De acordo com BICHUETTI L; (2011), apesar de Fairbairn reconhecer o valor


histórico da teoria da libido, ele considera que, com o avanço do conhecimento
psicanalítico, a teoria da libido tornou-se limitada para o entendimento de algumas

31
definições psicopatológicas. Depois de analisar profundamente a teoria da libido ele
chega às seguintes conclusões:

em primeiro lugar, a libido é essencialmente a procura de objeto; as zonas


erógenas não são elas mesmas determinantes fundamentais de finalidades
libidinais, mas canais mediadores dos objetivos principais da procura de
objeto do Eu; qualquer teoria do desenvolvimento do Eu, para ser satisfatória,
deve ser concebida em termos de relações com objetos, e em particular
relações com objetos que foram interiorizados durante os primeiros tempos
de vida sob pressão de privação e frustração [...] (Fairbairn, 1970, pp. 207-
208 apud BICHUETTI L; 2011).

A partir dessa constatação, Fairbairn passou a ter como objetivo a construção


de uma teoria mais abrangente, capaz de abordar e explicar os processos mais
básicos da constituição do psiquismo. Assim, ele começou a se questionar sobre os
momentos iniciais da constituição psíquica e do desenvolvimento da personalidade,
procurando localizar as causas da dimensão psicopatológica da vida mental, conforme
BICHUETTI L; (2011).

7.3 As relações com objetos parciais

Fairbairn constatou que os indivíduos com características esquizoides, nas


suas relações objetais, possuem uma tendência para tratar os objetos libidinais como
mero meio de satisfações das suas exigências e não como pessoas possuidoras de
valor próprio. Esta tendência se origina na orientação oral primitiva do bebê para o
seio como um objeto parcial, conforme BICHUETTI L; (2011).
Essa orientação do indivíduo para objetos parciais é vista pelo autor como “um
fenômeno amplamente regressivo, determinado por relações emocionais
insatisfatórias com os pais e mais especificamente com as mães, numa fase da
infância subsequente à primitiva fase oral na qual é originada esta orientação”
(Fairbairn, 1970, p. 27 apud BICHUETTI L; 2011).
Fairbairn observou que as mães mais propensas a provocar esta regressão são
as mães que falham em convencer o filho, através das suas expressões espontâneas
de afeto, de que elas o amam como uma pessoa. Quando a mãe fracassa em manter
uma relação emocional com a criança numa base pessoal, a criança tende
regressivamente a restaurar a relação com a mãe na sua forma mais pura e simples,

32
revivendo sua relação com o seio da mãe como um objeto parcial (idem), conforme
BICHUETTI L; (2011).
Esse movimento de regressão visa buscar uma simplificação das relações e
toma uma forma de substituição de contatos físicos por emocionais e a esse
movimento Fairbairn denominou de "desemocionalização da relação de objeto" e nele
observa-se uma predominância do "receber" sobre o "dar", conforme BICHUETTI L;
(2011).

7.4 As relações objetais da personalidade

Diante da ineficácia da teoria clássica da libido para o tratamento dos pacientes


com características esquizoides, Fairbairn passou a considerar então que, em prol do
progresso e evolução do campo psicanalítico, a teoria freudiana deveria ser
substituída por uma teoria de desenvolvimento baseada nas relações de objeto. Ele
salienta que, somente tendo como base “uma psicologia das relações objetais, na qual
as relações entre o Eu e os objetos interiorizados assim como os objetos externos
eram tomados em conta, se poderia conseguir qualquer integração entre os conceitos
de impulsos e de estrutura do Eu” (Fairbairn, 1970, p. 209 apud BICHUETTI L; 2011).

Fonte: amenteemaravilhosa.com.br

33
De acordo com BICHUETTI L; (2011), para defender essa tese, ele explica que
a teoria da libido confere o estatuto de atitudes libidinais a várias manifestações que
surgem meramente como técnicas para a regulação das relações objetais do Eu. Isso
significa que as relações objetais iniciais são independentes do investimento libidinal,
pois elas são determinadas pela dependência inicial do bebê em relação aos objetos
que satisfazem suas necessidades. Desse modo, uma dependência infantil caminha
para uma capacidade para a mutualidade adulta. Fairbairn afirma que:

[...] as zonas erógenas são simplesmente canais através dos quais passa a
libido, e que uma zona erógena só se torna erógena quando a libido passa
através dela. O fim último da libido é o objeto; e na sua procura do objeto a
libido é determinada por leis semelhantes ás que determinam a corrente de
energia elétrica, isto é, procura o caminho de menor resistência. A zona
erógena deveria, por isso, ser simplesmente considerada como um caminho
de menor resistência; e a sua real erotogeneidade pode ser comparada ao
campo magnético estabelecida pela passagem de uma corrente elétrica.
(Fairbairn, 1970, p. 49 apud BICHUETTI L; 2011)

A partir de seus estudos, Fairbairn chega à conclusão de que “o


desenvolvimento das relações de objeto é essencialmente um processo por meio do
qual a dependência infantil do objeto dá gradualmente lugar à dependência madura
em relação ao objeto” (idem, p. 53). Para ele, o desenvolvimento emocional se
caracteriza por uma sequência natural de diferentes modos de se relacionar com os
outros que vai se modificando durante os estágios psicossociais, conforme
BICHUETTI L; (2011).
Fairbairn então, elabora sua teoria das relações objetais e divide-a em três
estágios que se caracterizam por uma mudança gradual na natureza da relação de
objeto. O primeiro estágio, denominado de dependência infantil, se baseia numa
identificação primária6 e é caracterizado predominantemente por uma atitude de
receber, isto é, esse estágio envolve duas fases orais, em que o objetivo oral original
é o sugar, que incorpora e predominantemente tira, conforme BICHUETTI L; (2011)
O segundo estágio, denominado de dependência adulta ou madura,
caracteriza-se por uma relação objetal baseada numa diferenciação do objeto do self,
ou seja, uma distinção entre objeto e o eu. Aqui existe uma predominância da atitude
de dar, mais compatível com a sexualidade genital desenvolvida. Entre esses dois
estágios de dependência infantil e dependência adulta, existe um estágio de transição,
que se caracteriza por uma tendência para abandonar a atitude de dependência
infantil e adotar a atitude de dependência madura. Esse estágio transicional começa
34
a despontar quando a ambivalência começa a ceder perante uma atitude baseada na
dicotomia do objeto, conforme BICHUETTI L; (2011)
Fairbairn entende que essa dicotomia do objeto se refere ao “processo por meio
do qual o objeto original para o qual tanto o amor como o ódio foram dirigidos, é
substituído por dois objetos: um objeto aceite, para o qual é dirigido o amor e um
objeto rejeitado, para o qual é dirigido o ódio”. Fairbairn chegou a essa teoria do
desenvolvimento das relações objetais, baseada na qualidade da dependência do
objeto, por meio da análise de indivíduos em que se pode observar, um grande conflito
entre uma extrema relutância para abandonar a dependência infantil e uma enorme
ânsia de renunciar a ela, conforme BICHUETTI L; (2011)
De acordo com BICHUETTI L; (2011), Fairbairn pôde observar que a maior
necessidade de uma criança é conseguir a segurança de que é amada como pessoa
pelos pais, e a de que os pais aceitam genuinamente o seu amor. Ele diz que:

É apenas na medida em que esta segurança está prestes a aparecer numa


forma suficientemente convincente para lhe permitir depender sem perigo dos
seus objetos reais que é capaz de gradualmente renunciar à dependência
infantil sem receios. Na ausência desta segurança, a sua relação com os
objetos está cheia de demasiada ansiedade de separação para lhe permitir
renunciar à atitude de dependência infantil; porque esta renúncia seria
equivalente a seu ver a perder toda a esperança de alguma vez obter
satisfação para as suas necessidades emocionais insatisfeitas. A frustração
do seu desejo de ser amada como pessoa e de que o seu amor seja aceito é
o maior traumatismo que uma criança pode experimentar [...] (Fairbairn, 1970,
p. 59 apud BICHUETTI L; 2011).

35
8 A PSICOLOGIA DO SELF

Fonte: psicologiaunifafibe.com

A base dos estudos de Freud sobre o “objeto” foram as neuroses. Já Kohut


partiu dos distúrbios narcisistas, visto que suas primeiras investigações e percepções
em torno dos fenômenos conhecido como self-objeto, ocorreram após análises
clínicas desenvolvidas com um grupo específico de pacientes com transtornos
narcisistas. Kohut trata o narcisismo como a própria energia vital, aquilo que lhe
impulsiona, nutre a vida psíquica, conforme FONSÊCA A; et al., (2013).
Voltando sua atenção a estes pacientes, Kohut obteve a oportunidade de
reformular ideias iniciais, conceitos e apurar técnicas, como também, concluir que o
narcisismo não é uma condição incompatível com as relações objetais, visto que para
a psicanálise ortodoxa o narcisismo consistia na escolha do próprio eu como objeto
de satisfação sexual, excluindo as relações objetais, conforme FONSÊCA A; et al.,
(2013).
Quando se busca entender o processo da constituição e formação do self,
Kohut trouxe uma reflexão acerca do posicionamento das famílias na época de Freud,
e como a mesma se demonstra no contexto atual. As famílias na época de Freud eram
ameaçadoras por serem excessivamente próximas e íntimas. Hoje em dia, ao
contrário, as famílias são ameaçadoras por serem excessivamente distantes e não-
envolvidas (HALL, LINDZEY e CAMPBELL, 2000 apud FONSÊCA A; et al., 2013).
36
Ao analisar este contexto das famílias, identificando que as mesmas hoje
diferentemente da época de Freud são elementos cada vez mais distantes, desta
forma, os pais voltam-se sua preocupação para suas próprias necessidades
narcísicas. Esta posição da família traz uma consequência empática, pois, eles
tornam-se padrões com menor satisfação, e não demonstram uma condição sadia de
“ser si mesmo”, não estabelecendo relacionamentos interpessoais gratificantes. Na
análise de Kohut, os nossos medos mais profundos refletem não a ansiedade de
castração ou os impulsos conflituais do id, mas o potencial de perda dos objetos de
amor, conforme FONSÊCA A; et al., (2013).
No livro intitulado a “Restauração do Self”, de autoria de Heinz Kohut, este
descreve o self da seguinte forma:

O self é como a realidade, não conhecido em sua essência. Nós só podemos


descrever as várias formas coesas nas quais ele se apresenta, podemos
demonstrar os vários constituintes que compõem o self... e explicar suas
gêneses e funções. “Podemos fazer tudo isso, mas, ainda assim nós não
conheceremos a essência do self enquanto diferenciado de suas
manifestações”. Se nos indagarmos empaticamente o que vem a ser o self
temos algumas suposições: “sentimentos de sermos um centro independente
de iniciativa e percepção, sentimentos de estarmos integrados com nossas
ambições e ideais mais centrais e com a experiência de que nosso corpo e
mente formam uma unidade no espaço e um continuum no tempo”. (KOHUT
apud GANG, 2008, p. 7 apud FONSÊCA A; et al., 2013).

Importante ressaltar que na teoria das relações objetais as primeiras relações


vivenciadas pela criança são internalizadas em seu inconsciente, e acumulam-se no
plano psicológico, sendo transformadas em imagens que no futuro entrarão em
conflito. Perturbações as quais darão estrutura aos relacionamentos interpessoais no
futuro adulto, visto que, estas relações interpessoais vivenciadas pela criança neste
processo objetal, são pontos determinantes na constituição do self do indivíduo
maduro (HALL; LINDZEY E CAMPBELL; 2000 apud FONSÊCA A; et al., 2013).
Sarkis (ANO) comenta que, o self nascente de um bebê necessita de um
ambiente que contenha self-objetos respondendo empaticamente às suas
necessidades psicológicas. Em função da imaturidade do self nascente, faz-se
necessário a participação dos pais, de iguais e parceiros, na fomentação das
estruturas psíquicas na criança. Em seguimento aos aspectos do self-objeto, Sarkis
expôs outras modalidades do self-objeto. Uma consiste na necessidade da criança de
espelhamento, nomeada por Kohut como self-objeto especular, do qual garante a
criança o estado de valor e autonomia, conforme FONSÊCA A; et al., (2013).
37
De acordo com Hall, Lindzey e Campbell (2000 apud FONSÊCA A; et al., 2013),
a mãe nos dois primeiros anos de vida é atribuída pelo self como um objeto
espelhante. Tomando, também, como modalidade, o self-objeto gemelar, que
responde a necessidade de semelhança, dando sentido a estrutura do self-objeto de
pertencer a um contexto humano. Tais modelos de self-objeto são provenientes de
um self nascente sem condições estruturais duradouras ou constância no tempo.
De acordo com Heinz Kohut, o papel da mãe é o de satisfazer não apenas às
necessidades físicas da criança como também às psicológicas. E, para tanto, a mãe
deve atuar como um espelho para criança, refletindo o sentimento de peculiaridade,
de importância e de grandeza (SCHULTZ, 2009 apud FONSÊCA A; et al., 2013).
Desse modo, a mãe confirma o senso de orgulho da criança, o qual acaba se tornando
parte do self nuclear. Desta forma este autor afirma que, todas as características do
self adulto, são construídas de acordo com as relações iniciais da criança com o objeto
do self primário.
O self nuclear é a base para o indivíduo tornar-se independente. Desenvolve-
se a partir das experiências primárias entre a criança e todas as outras pessoas que
exercem papéis fundamentais na vida infantil que se passa a acreditar que são partes
de nosso self. Nas relações entre o terapeuta e paciente, Kohut ressalta que a cura
do self ocorre a partir das vivências emocionais do paciente na reativação e análise
das transferências. Isso significa dizer que a situação de análise é o ambiente no qual
os conflitos não solucionados na infância são reativados na transferência, tornados
conscientes e elaborados por meio do processo analítico, conforme FONSÊCA A; et
al., (2013).
Segundo La Cal (2008 apud FONSÊCA A; et al., 2013) as experiências com
self-objetos vivenciadas em um ambiente proporcionalmente empático oferecem
estruturas necessárias para construção de um self saudável e coeso. Esse é o
chamado self autônomo que corresponde a todas as pessoas que se caracterizam por
níveis sadios de autoestima e por relacionamentos interpessoais mutuamente
gratificantes.
Como afirma Hall, Lindzey e Campbell (2000, p. 159 apud FONSÊCA A; et al.,
2013) “um espelhamento e uma idealização sadios produzem o tipo ideal de
personalidade, a pessoa com um self autônomo”. Por outro lado, as experiências self-
objetais desenvolvidas num ambiente danificado implicam na constituição do self com

38
patologias em sua estrutura e funcionamento, implicando num self não-coeso, vazio
ou danificado.
Nessa situação, Kohut descreveu quatro instâncias prototípicas, que são
apresentadas por Hall, Lindzey e Campbell: self sub estimulado, self fragmentado, self
super estimulado e o self sobrecarregado. O self sub estimulado caracteriza uma
pessoa entorpecida e vazia que pode buscar sensações e abusar de substâncias. O
self fragmentado é inseguro, frágil e com autoestima baixa, conforme FONSÊCA A; et
al., (2013).
O self super estimulado desenvolve fantasias irrealistas de grandeza em
consequência de objetos do self que foram excessivamente indulgentes em seu
espelhamento. E por último temos o self sobrecarregado que consiste nas pessoas
que percebem o mundo como um lugar hostil e perigoso. Daí a importância de o
indivíduo vivenciar situações empáticas com os self-objetos, para construção de um
self coeso, vigoroso e equilibrado, conforme FONSÊCA A; et al., (2013).

9 LACAN E A RELAÇÃO DE OBJETO

Quando se propõe a discutir a relação de objeto, Lacan (1957-58/1999 apud


LUCERO A; 2015) identificava no pensamento analítico uma ênfase cada vez maior
nas “gratificações ou satisfações primordiais, bem como nas frustrações que se
produzem nos primórdios da vida do sujeito, isto é, nas relações do sujeito com sua
mãe” (p. 223).
Miller (1995 apud LUCERO A; 2015) explica que a ideia clássica que estava
sendo desenvolvida pela teoria analítica pós-freudiana consistia em conceber a
frustração no nível da demanda e da sua satisfação. Assim, o sujeito “pede porque
tem fome, pede o objeto que o alimenta, porque tem sede, pede líquidos, pede objetos
da necessidade” (Miller, 1995, p. 53 apud LUCERO A; 2015).
O fato de a demanda não poder ser plenamente satisfeita causaria as
frustrações, de fundamental importância para o desenvolvimento do sujeito. Nas
palavras de Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015): “a psicanálise ingressou
cada vez mais numa dialética da necessidade e de sua satisfação, à medida que se
interessou mais e mais pelos estágios primitivos do desenvolvimento do sujeito” (p.
223).

39
Desse modo, um dos grandes problemas identificados nessa concepção de
relação de objeto seria o de tratar a relação mãe-criança a partir daquilo que se
desenrola na realidade cotidiana: “toda a ambiguidade da questão levantada em torno
do objeto se resume na seguinte: o objeto é ou não o real? ” (p. 29), conforme
LUCERO A; (2015).
Para Bento Prado Jr. (2003 apud LUCERO A; 2015), a concepção de relação
de objeto tende a descaracterizar a descoberta freudiana do inconsciente e da
fantasia, ao “permanecer prisioneira da oposição clássica entre imaginação e
percepção, fantasia e realidade” (p. 252-253 apud LUCERO A; 2015), dado que essa
perspectiva tende a privilegiar a delimitação de uma suposta realidade factual, no meio
da visão fantasística ou neurótica que o sujeito (a criança, por exemplo) constrói do
mundo externo.
Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015), por sua vez, nota que o fato de
termos dois princípios de funcionamento psíquico em Freud – o de prazer e o de
realidade – indica que o desenvolvimento infantil não se dá unicamente em torno da
relação do sujeito ao objeto: “Se cada um desses dois termos encontra seu lugar em
pontos diferentes da dialética freudiana, é pela simples razão de que em nenhum caso
a relação sujeito-objeto é central” (p. 15).
O psicanalista transpõe o problema da relação de objeto para a questão acerca
da oposição entre o princípio de prazer e o princípio de realidade. Afinal, o que
caracteriza o princípio de prazer? Ele existiria apenas para ser “controlado” pela
realidade? A psicanálise estaria enveredando para uma primazia do princípio de
realidade sobre o princípio de prazer e, por conseguinte, para uma possível
dominação das pulsões? Conforme LUCERO A; (2015).

A tese de Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015) parte do fato de que


“o que é inicialmente natural ou biológico não cessa de referir-se ao plano
simbólico, onde se trata de assunção subjetiva, já que o próprio sujeito é
tomado na cadeia simbólica” (p. 96). Vejamos como ele esclarece sua
retomada do problema da relação de objeto, a concepção analítica da relação
de objeto já conhece uma certa realização histórica. O que tento lhes mostrar
vai retomá-la num sentido que difere dela em parte, em parte permanece o
mesmo – mas o simples fato de ela se inserir aqui num conjunto diferente lhe
dá, sob todos os aspectos, uma significação diferente (LACAN, 1956-
57/1995, p. 76 apud LUCERO A; 2015).

Este conjunto diferente de Lacan menciona na citação acima que alude


precisamente à ordem simbólica, ao âmbito da cultura. Neste ponto, o psicanalista

40
tenta explicar como devemos compreender o uso do termo realidade em psicanálise.
A realidade não deve ser reportada a nenhuma existência material ou orgânica que
subsista a despeito do sujeito, conforme LUCERO A; (2015).

Faz-se na análise um outro uso da noção de realidade [...] A realidade é, com


efeito, posta em jogo igualmente no duplo princípio, princípio de prazer e
princípio de realidade. Trata-se aí, de algo inteiramente diferente, pois o
princípio de prazer não se exerce de maneira menos real que o princípio de
realidade, penso mesmo que a análise é feita para demonstrá-lo. O uso do
termo realidade, aqui, é inteiramente outro (LACAN, 1956-57/1995, p. 33
apud LUCERO A; 2015).

Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015) tenta definir a realidade pela


“Wirklichkeit, pela eficácia do sistema, no caso, o sistema psíquico” (p. 43). No alemão,
tanto Realität vocábulo de origem latina quanto Wirklichkeit, propriamente germânic
designam, no uso corriqueiro da língua, “realidade”, no sentido comum de um mundo
externo perceptível por todo sujeito cognoscente.
Contudo, há uma nuance de significação considerável presente na distinção
conceitual entre esses dois termos. Além do significado referido, Wirklichkeit derivada
do verbo wirken (fazer efeito; produzir, operar) comporta igualmente o sentido de
“efetividade”, de algo que, ainda que não goze de materialidade empírica, produz
efeitos tangíveis (sobre o sujeito). Pode-se falar, assim, da Wirklichkeit dos sonhos,
ou, de modo mais abrangente como o fez Lacan na esteira de Lévi-Strauss, de uma
Wirklichkeit simbólica, quer dizer, de uma efetividade, de uma eficácia da linguagem,
conforme LUCERO A; (2015).
Com o uso do termo realidade enquanto Wirklichkeit, Lacan quer enfatizar a
importância de valorizarmos a realidade tal como ela aparece para o sujeito, sem
precisarmos remeter a uma realidade última que estaria por trás dele. Vejamos se o
exemplo da hidrelétrica nos ajuda a esclarecer essa diferenciação, conforme LUCERO
A; (2015).

Para Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015), a energia produzida por


uma hidrelétrica só nos interessa a partir do momento em que construímos
uma máquina capaz de captá-la. Dizer que a energia já estava na corrente
do rio antes da instalação da hidrelétrica é querer reencontrar em algo, que
estaria ali desde a eternidade, a permanência daquilo que só possui valor
dentro de determinadas circunstâncias: “a energia só começa a ser levada
em conta a partir do momento em que vocês a medem. E vocês só pensam
em medi-la a partir do momento em que as usinas funcionam” (p. 43).

41
Ou seja, não existe energia absoluta no reservatório natural, mas um cálculo
que permite encontrar na natureza certo potencial: “Só se instala uma usina ali onde
certas coisas privilegiadas se apresentam na natureza como utilizáveis, como
significantes e, no caso, como mensuráveis. É preciso que já se esteja no caminho de
um sistema tomado como significante” (p. 44), conforme LUCERO A; (2015).
Pois bem, no princípio da experiência psicanalítica já há significante instalado
e estruturado: “Já existe uma usina feita e que funciona. Não foram vocês que a
fizeram. Esta usina é a linguagem, que ali funciona há tão longo tempo quanto vocês
podem lembrar” (p. 49). O Outro já está presente desde antes da emergência do
sujeito, e é unicamente a partir da entrada deste sujeito numa ordem que preexiste a
tudo que lhe ocorre, que suas experiências se ordenam, assumem seu sentido e
podem ser analisadas (cf. p. 102), conforme LUCERO A; (2015).
Lacan (1955-56/2008, p. 177 apud LUCERO A; 2015) estabelece, pois, a
“necessidade estrutural” de se conceber uma “etapa primitiva” em que aparecem no
mundo os significantes:

Antes que a criança aprenda a articular a linguagem, cumpre-nos supor que


aparecem significantes que já são da ordem simbólica. Quando falo de uma
aparição primitiva do significante, é alguma coisa que implica a linguagem.
Isso não faz senão juntar-se com essa aparição de um ser que não está em
parte alguma, o dia. O dia enquanto dia não é um fenômeno, o dia enquanto
dia implica a conotação simbólica, a alternância fundamental do vocal
conotando presença e ausência, sobre a qual Freud faz girar toda a sua
noção do além do princípio do prazer (LACAN, 1955-56/2008, p. 177 apud
LUCERO A; 2015).

Para o psicanalista, dia e noite são códigos significantes (e não experiências),


na medida em que o dia empírico só existe como o correlato imaginário do significante
dia. O homem só conhece as coisas porque ele dispõe das palavras, de modo que o
número de coisas que ele conhece corresponde ao número de coisas que ele pode
nomear (cf. Lacan, 1955-56/2008, p. 208 apud LUCERO A; 2015).
Enfim, opondo-se à tendência analítica que enxergava a relação mãe-criança
como correspondente à realidade externa, Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A;
2015) enfatiza que “trata-se sempre de apreender aquilo que, intervindo do exterior
em cada etapa, remaneja retroativamente o que foi iniciado na etapa anterior [...]; são
as particularidades da ordem simbólica que dão sua prevalência a este elemento
imaginário que se chama o falo” (p. 204). Ainda nas palavras de Lacan (1956-57/1995

42
apud LUCERO A; 2015): “a noção da relação de objeto só é compreensível se
pusermos nela o falo como um elemento terceiro” (p. 28).

10 KARL ABRAHAM E O OBJETO PARCIAL

Segundo Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015), Karl Abraham foi um


dos primeiros psicanalistas a colocar em primeiro plano a relação sujeito-objeto (p.
16). Em determinado momento de seu seminário sobre a relação de objeto, o
psicanalista francês chega a incitar ouvintes: “leiam os bons autores analíticos, dentre
os quais situo o Sr. Abraham” (p. 196).
Abraham foi uma das referências para a escrita da tese de doutorado de Lacan.
Já no Seminário 4, o psicanalista francês retoma seu quadro do desenvolvimento da
libido25 para criticar a correspondência de cada estágio da libido a um determinado
tipo de relação objetal, que caracterizaria o comportamento do indivíduo em
determinada fase de sua evolução. Roudinesco e Plon (1998, p. 553 apud LUCERO
A; 2015) veem nessa abordagem uma inversão radical da perspectiva freudiana, pois,
ao invés de conceber a evolução do sujeito de acordo com os sucessivos rearranjos
da relação pulsional e sexual com o objeto, procura-se mostrar como se organiza
estruturalmente a atividade fantasística precoce conforme os tipos de relações
objetais.
Diana Rabinovich (2009, p. 45 apud LUCERO A; 2015), por sua vez, destaca
que o caráter perverso polimorfo intrínseco às pulsões fica reduzido a uma maturação
biológica. Apesar de ter fundamentado seu esquema nas teorizações dos Três
Ensaios, Abraham vai além de Freud e até mesmo remete os distintos quadros
psicopatológicos a fixação em diferentes fases do desenvolvimento libidinal.
Para Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015), a formulação
abrahaminiana de um “amor parcial pelo objeto” levou, não por acaso, ao chamado
“objeto parcial”, que constitui “o valor dessa relação de objeto, e que é seu pivô, o que
introduziu na dialética analítica a noção de objeto” (p. 400).
Ao notar que algumas de suas pacientes representavam as pessoas
significativas imaginariamente apenas por uma parte do seu corpo, Abraham
(1924/1970, p. 146 apud LUCERO A; 2015) identifica, também nas crianças, um
impulso de incorporação parcial do objeto, relacionado ao princípio de prazer. Neste

43
nível de desenvolvimento: “o indivíduo se acha longe de reconhecer a existência de
outro indivíduo como tal e de amá-lo em sua totalidade, seja de forma física, seja
mental.
Seu desejo acha-se ainda dirigido para a remoção de uma parte do corpo de
seu objeto e a incorporação dela” (Abraham, 1924/1970, p. 147 apud LUCERO A;
2015). Apenas quando o sujeito demonstra ter algum cuidado com o objeto, temos os
primórdios do objeto de amor e o início do controle do narcisismo.
Laplanche & Pontalis (2004 apud LUCERO A; 2015) ressaltam que, na
verdade, partindo dos trabalhos de Abraham, “foram os psicanalistas kleinianos que
introduziram o termo objeto parcial e lhe atribuíram um papel de primeiro plano na
teoria psicanalítica da relação de objeto” (p. 325). Veremos, a seguir, como a própria
Melanie Klein faz uso desta concepção dos objetos parciais (seio bom e seio mau) e
da mãe como objeto total na posição depressiva.
Interessante ressaltar por ora que, independentemente de quem cunhou a
expressão, o conceito de objeto parcial será importante para Lacan, sobretudo quando
ele se refere ao falo como objeto. Ele conceberá o falo como pivô da constituição do
sujeito, sem que isso necessite de qualquer unificação pulsional ou garanta qualquer
“normalidade” no “desenvolvimento”, conforme LUCERO A; (2015).

Para concluir, Abraham (1924/1970 apud LUCERO A; 2015), não podemos


deixar de mencionar que a evolução do amor objetal deveria ter seu fim na
fase genital, com a síntese das pulsões parciais, doravante capazes de
investir um único objeto como todo. Neste nível mais alto da organização da
libido, que coincide com a “fase do amor objetal verdadeiro, encontramos
sentimentos sociais de um tipo elevado, que regulam a vida instintiva do
indivíduo” (Abraham, 1924/1970, p. 155). Assim, o ideal da análise e, de
modo geral, da vida de qualquer pessoa, seria atingir esse nível de maturação
genital.

Bento Prado Jr. (2003 apud LUCERO A; 2015) observa que, em Abraham, as
relações de objeto são organizadas teleologicamente a partir de uma origem
essencialmente egocêntrica, em direção a uma etapa final de relação madura e genital
com o objeto: “cumplicidade entre gênese e teleologia que terminaria, da perspectiva
de Lacan, por se consagrar na ‘psicologia do ego’, em que se transforma boa parte da
psicanálise e que converte a contrapelo do espírito freudiano – o processo terapêutico
num processo de adaptação ao real” (p. 240). É, com efeito, o próprio Lacan (1956-
57/1995 apud LUCERO A; 2015) quem assevera que pensar o fim de análise a partir
de um objeto ideal, perfeito, adequado, que atestaria a normalização do sujeito, “já
44
introduz, por si só, um mundo de categorias bem estranho ao ponto de partida da
análise” (p. 16).
Sob a ótica lacaniana, “não basta falar do objeto em geral, nem de um objeto
que teria [...] a propriedade de regularizar as relações com todos os outros objetos,
como se o fato de ter chegado a ser um genital bastasse para resolver todas as
questões” (Lacan, 1956-57/1995, p. 22-23 apud LUCERO A; 2015). O objeto não é
um puro e simples complemento do sujeito. Não há objeto que responda plena e
adequadamente à demanda subjetiva: “O objeto é instrumento para mascarar, enfeitar
o fundo fundamental de angústia que caracteriza, nas diferentes etapas do
desenvolvimento do sujeito, sua relação com o mundo. É assim que, em cada etapa,
o sujeito deve ser caracterizado” (p. 21). Nesse sentido, Lacan (1956-57/1995, p. 23
apud LUCERO A; 2015) se propõe a restituir o valor verdadeiro do termo relação de
objeto.

10.1 A TEORIA DO OBJETO COMBINADO DE MELANIE KLEIN

As referências a Melanie Klein aparecem em quase todos os seminários iniciais


de Lacan e mesmo em etapas posteriores de seu ensino. Nas palavras de Diana
Rabinovich (2009 apud LUCERO A; 2015), “os erros de Klein, suas confusões, seus
esquecimentos, suas parcializações de Freud foram um guia fundamental para a
elaboração por parte de Lacan de seu próprio conceito de objeto” (p. 81).
Verificaremos a pertinência desta afirmação, no intuito de identificar até que ponto
Lacan se serve e acompanha os desenvolvimentos da teoria kleiniana, bem como em
que momento surge uma concepção inteiramente nova e original do problema da
relação de objeto nos primórdios da constituição psíquica.
Melanie Klein foi discípula de Karl Abraham, e, não por acaso, “a noção do
objeto parcial está no centro da reconstrução que ela apresenta do universo
fantasístico da criança” (Laplanche & Pontalis, 2004, p. 326 apud LUCERO A; 2015).
Segundo a psicanalista, “todos os aspectos da vida mental estão intimamente ligados
a relações de objeto” (Klein, 1955/1991, p. 167 apud LUCERO A; 2015). Estas teriam
início com a primeira experiência de alimentação, de tal forma que, no psiquismo do
bebê, a mãe aparece primariamente como um seio bom e um seio mau cindidos, uma
vez que a sua relação com ela implica a internalização de um seio devorado – e,

45
portanto, devorador e de um seio que satisfaz. Esta situação decorre da ação dos
mecanismos de introjeção e projeção, que operariam lado a lado desde o início da
vida, fazendo com que situações externas e internas sejam sempre interdependentes.
Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015) sustenta que essa simetria
perfeita entre introjeção e projeção, o fato de que o “objeto está perpetuamente numa
espécie de movimento que o faz passar de fora para dentro, para ser, em seguida,
ejetado de dentro para fora” (p. 177), é um abuso contra o qual erguer-se-á sua própria
teoria. Para ele, se a criança morde a mãe ou fantasia com a mordida, isso não é
suficiente para deduzir que ela tenha medo da mordida da mãe, mas “é o eixo
essencial daquilo que se trata de demonstrar” (cf. Lacan, 1957-58/1999, p. 262 apud
LUCERO A; 2015). Verificaremos, pois, se Lacan fornece uma explicação mais
consistente para essas observações de Klein.
Para Melanie Klein (1946/1991 apud LUCERO A; 2015), o simples ato de sugar
o seio já envolve um sadismo e um dano ao objeto que será introjetado, fazendo deste
objeto um perseguidor interno e temido. Soma-se a isso o fato de ela supor um impulso
destrutivo inato a pulsão de morte que é projetado como agressão e, por conseguinte,
retorna como agressividade. Quanto ao seio que alimenta e satisfaz, ele também será
introjetado e recebido como um objeto bom. Vejamos como a psicanalista sintetiza o
que apresentamos até aqui:

Tenho expressado com frequência minha concepção de que as relações de


objeto existem desde o início da vida, sendo o primeiro objeto o seio da mãe,
o qual, para a criança, fica cindido em um seio bom (gratificador) e um seio
mau (frustrador); essa cisão resulta numa separação entre o amor e o ódio.
Sugeri ainda que a relação com o primeiro objeto implica sua introjeção e
projeção e, por isso, desde o início as relações de objeto são moldadas por
uma interação entre introjeção e projeção, e entre objetos e situações
internas e externas (KLEIN, 1946/1991, p. 21 apud LUCERO A; 2015).

Este primeiro momento da vida psíquica é descrito por Klein no escopo daquilo
que ela denominou posição esquizo-paranoide, na qual este processo de cisão do
objeto origina uma ansiedade persecutória por parte do objeto mau que deve ser
compensada pelo objeto bom. Ademais, à cisão do objeto corresponde uma cisão do
próprio ego “o ego é incapaz de cindir o objeto, interno e externo, sem que ocorra uma
cisão correspondente dentro dele” (Klein, 1946/1991, p. 25 apud LUCERO A; 2015),
donde a necessidade de conter essa fragmentação. Para solucionar esse problema,
Klein (1946/1991 apud LUCERO A; 2015) coloca como principal objetivo da cisão a

46
dispersão do impulso destrutivo, de modo que apenas o seio frustrador é sentido como
fragmentado; o seio gratificador permanece inteiro e se torna responsável pela coesão
e integração do ego. Lacan (1957-58/1999 apud LUCERO A; 2015) assinala que, na
perspectiva kleiniana, toda a apreensão da realidade é sustentada pela constituição
essencialmente alucinatória e fantasística desses primeiros objetos bons e maus:
“chegamos, assim, à ideia de que o mundo do sujeito é construído por uma relação
fundamentalmente irreal entre ele e os objetos que não passam do reflexo de suas
pulsões fundamentais” (p. 224).
Com efeito, Melanie Klein (1946/1991 apud LUCERO A; 2015) afirma que “a
integração e a adaptação à realidade dependem essencialmente da experiência que
o bebê tem do amor e do carinho da mãe” (p. 25). Ela remete a Winnicott como
partilhando dessa concepção. No entendimento de Lacan (1957-58/1999 apud
LUCERO A; 2015), mesmo que a experiência permita uma demarcação razoável
daquilo que nesses objetos pode ser definido como correspondente a certa realidade,
mantém-se absolutamente fundamental na teoria kleiniana a trama de irrealidade e o
referido problema da imposição do princípio de realidade sobre o princípio de
prazer/desprazer.
De fato, sob a ótica kleiniana, a progressiva integração do ego e a consequente
síntese dos aspectos contrastantes do objeto (bom e mau) não elimina os
mecanismos fantasísticos anteriores como os de projeção, introjeção e cisão.
Descobrir que os objetos amado e odiado são, na verdade, um único e mesmo objeto
(objeto total) não impede que o sujeito tema a internalização do objeto bom e sua
destruição, mas acrescenta a isso o sentimento de culpa resultante dos impulsos
agressivos que foram projetados contra o objeto amado, conforme LUCERO A;
(2015).
Temos aí a intensificação do medo da perda do objeto em todos os sentidos, o
que caracteriza a posição depressiva. Klein (1946/1991 apud LUCERO A; 2015)
assevera que “não se pode traçar uma divisão clara entre dois estágios do
desenvolvimento; além disso, a modificação é um processo gradual e os fenômenos
das duas posições [esquizo-paranoide e depressiva] permanecem por algum tempo
entrelaçados e interagindo em alguma medida” (p. 35).

47
As posições coexistem e, em alguns casos, verifica-se a recorrência do
processo de cisão e de manutenção das figuras boas e más separadas. Contudo,
apenas a posição depressiva prepara o caminho para relações de objeto mais
satisfatórias, aquelas que se dão com um objeto total, e não apenas parcial, conforme
LUCERO A; (2015).
Podemos dizer que amar um objeto como um todo é um grande passo no
desenvolvimento e serve de base para a situação de “perda do objeto amado” (cf.
Klein, 1934/1996, p. 306 apud LUCERO A; 2015). Klein (1934/1996 apud LUCERO A;
2015) explica, efetivamente, que este processo é influenciado pelo “fracasso sentido
pelo sujeito (durante o desmame, assim como nos períodos que o antecedem e o
seguem imediatamente) em manter seu objeto bom internalizado, i. e., apossar-se
dele. Um dos motivos para esse fracasso é a incapacidade de vencer o medo
paranoide dos perseguidores internalizados” (p. 309 itálicos da autora apud LUCERO
A; 2015).
Assim, novamente surge a ideia de que, “sem dúvida, quanto mais a criança
conseguir desenvolver uma boa relação com sua mãe real nesse estágio, maior será
a facilidade com que superará a posição depressiva” (Klein, 1934/1996, p. 328 apud
LUCERO A; 2015) e, por conseguinte, a ameaça de “perda do objeto amado”. Dito de
outra forma, o sentimento de ter um seio bom e inteiro depende da quantidade de
frustrações que a criança sofre, de modo que cabe à mãe tentar minimizá-las.
Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015) enfatiza a nítida distinção entre
o seio real e a mãe como objeto total que é feita por Klein: “ela distingue realmente os
objetos parciais, por um lado, e, por outro, a mãe na medida em que se institui como
objeto total, e pode criar na criança a famosa posição depressiva” (p. 127). Na sua
interpretação, apesar de Klein não evidenciar que estes dois objetos são de natureza
diferentes – um é real e serve para a satisfação da necessidade, enquanto o outro é
aquele que pode ou não dar o seio – fica claro que a frustração está menos ligada ao
seio do que à mãe. Quando a mãe não dá o seio, a criança se frustra. A frustração,
para além do objeto, reporta-se à demanda de amor (não atendida).
Nesse ponto, Lacan (1956- 57/1995 apud LUCERO A; 2015) assimila à teoria
kleiniana sua tese a respeito do dom, mostrando que “existe uma diferença radical
entre, por um lado, o dom como signo de amor, que visa radicalmente a alguma coisa
outra, um mais-além, o amor da mãe e, por outro lado, o objeto, seja qual for, que

48
venha para a satisfação das necessidades da criança” (p. 127). Antes de passarmos
a uma análise dessa formulação de Lacan, atentemos para outro ponto de sua
interlocução com Melanie Klein.
Verifica-se a existência de outro objeto perseguidor internalizado no corpo da
mãe: o pênis do pai. Na leitura lacaniana de Klein, o falo se introduz como o primeiro
substituto do seio na vivência infantil, controlando os impulsos de incorporação e
destruição dirigidos aos conteúdos do corpo da mãe (cf. Lacan, 1958- 59/2013 apud
LUCERO A; 2015). Para o autor, Melanie Klein faz do falo, desde o início, o objeto
primordial em torno do qual vão girar todos os eventos dos períodos paranoide e
depressivo, o que é visível em suas análises.
Ele destaca “o fato kleiniano de que a criança apreende desde a origem que a
mãe ‘contém’ o falo” (Lacan, 1958b/1998, p. 700 apud LUCERO A; 2015), isto é, ela
apreende os objetos primordiais como contidos no corpo da mãe. Acontece que este
“império do corpo materno”, ao contrário do que sustenta Klein, não pode ser dado a
priori, mas deve ser construído a partir da projeção retroativa de todos os objetos
imaginários no corpo da mãe.

As fantasias não são inatas Elas devem, antes, ser interpretadas


retroativamente: “é na construção do sujeito que vamos vê-las se reprojetar
no passado, a partir de pontos que podem ser muito precoces” (Lacan, 1956-
57/1995, p. 66 apud LUCERO A; 2015). Se uma criança de dois anos pode
ter a impressão de encontrar no corpo da mãe os “objetos reprojetados
retroativamente”, isso não quer dizer que as fantasias sejam primárias. Para
o psicanalista francês, é o fato de haver uma ordem simbólica que permite a
formação dessas fantasias.

É também devido a ela que Melanie Klein consegue antever a estrutura


edipiana em crianças tão novas: “Tudo se passa como se, quanto mais nos
aproximássemos da origem, mais o complexo de Édipo estivesse ali, articulado e
pronto para entrar em ação” (Lacan, 1956-57/1995, p. 114 apud LUCERO A; 2015).
O mundo externo não é uma projeção do mundo interno. A passagem de dentro
para fora e de fora para dentro não se dá apenas de forma especular. No próprio
estágio do espelho intervém um terceiro elemento. Destarte: “É preciso introduzir a
ideia de que o exterior, para o sujeito, é inicialmente dado não como alguma coisa que
se projeta a partir de seu interior, de suas pulsões, mas como a sede, o lugar onde se
situa o desejo do Outro, e onde o sujeito tem que ir encontrá-lo” (Lacan, 1957-58/1999,
p. 283 apud LUCERO A; 2015).

49
Nesse momento do ensino lacaniano, a intervenção do significante sob a forma
do desejo do Outro na constituição subjetiva se sobrepõe definitivamente às suas
considerações sobre o imaginário. A relação imaginária do sujeito com o mundo,
fundada sobre as projeções dos conteúdos internos, tal como define Melanie Klein,
também não pode ser garantia de nenhuma relação com a realidade externa. A
imbricada relação entre sujeito e realidade permanecerá, pois, no horizonte
investigativo de Lacan, conforme LUCERO A; (2015).

10.2 O OBJETO TRANSICIONAL DE DONALD WOODS WINNICOTT

Lacan estava atento a tudo o que estava sendo produzido sobre psicanálise em
sua época e, obviamente, os trabalhos de Winnicott não passaram despercebidos, o
que é atestado, dentre outras coisas, pelo fato de ele ter traduzido para o francês o
artigo “Objetos transicionais e fenômenos transicionais” (1951 apud LUCERO A;
2015). Cabe, assim, fazermos um breve resumo das principais teses winnicottianas
relativas à questão do objeto, para, em seguida, abordarmos especificamente o
conceito de objeto transicional.
Donald W. Winnicott (1963/1983, p. 164 apud LUCERO A; 2015) considera as
relações com os objetos um fenômeno complexo, que depende de um processo de
maturação. Este, por sua vez, depende da qualidade do ambiente no qual se encontra
o bebê. Um ambiente favorável caracteriza-se pela presença de um adulto maduro e
fisicamente capaz, que tenha tolerância e compreensão com a criança, uma vez que
Winnicott (1945/1978, p. 279 apud LUCERO A; 2015), tal como Melanie Klein, supõe
que o bebê tem ímpetos pulsionais e ideias predatórias relativas ao seio da mãe.
Ele apenas acrescenta que a possibilidade de ser atacada por um bebê faminto
agrada a mãe, de modo que ela se adapta à fantasia do bebê, oferecendo o seio
sempre que este é demandado: “Neste momento, o mamilo real aparece e ele [bebê]
é capaz de sentir que se trata do mamilo que ele alucinou” (Winnicott, 1945/1978, p.
279 apud LUCERO A; 2015). Assim como o Freud do Projeto, Winnicott considera a
possibilidade de uma alucinação primordial.

Para o psicanalista inglês, a mãe deve proporcionar a vivência de satisfação


à criança de maneira uniforme. A princípio, o bebê deve acreditar que é ele
quem controla o ritmo dessa experiência: “neste estágio inicial, o ambiente
favorável está dando ao lactente a experiência da onipotência; com isso
quero dizer mais do que controle mágico, e quero incluir no termo o aspecto
50
criativo da experiência” (Winnicott, 1963/1983, p. 164 apud LUCERO A;
2015).

A “criatividade primária”, proposta por Winnicott (1963/1983 apud LUCERO A;


2015 apud LUCERO A; 2015), parte da constatação de que “o lactente cria o que de
fato está ao seu redor esperando para ser encontrado. E também aí o objeto é criado,
e não encontrado [...] Um objeto bom não é bom para o lactente a menos que seja
criado por este” (p. 165). Acreditamos que tal “criatividade primária”, na verdade, está
relacionada à observação de que a criança busca a satisfação em qualquer objeto,
independentemente de ele preencher uma necessidade ou apresentar alguma
similaridade com o seio real. Assim, pode-se supor que a criança fantasie o objeto da
satisfação, ou mesmo que ela o alucine, prescindindo da realidade.
A hipótese da fantasia aponta para uma capacidade de simbolização ou de
imaginarização bastante primária, tal como concebia Melanie Klein. Tratar-se-á de
investigar, por conseguinte, se a alucinação também compreende esses registros do
simbólico e do imaginário ou se ela implica outra dimensão do funcionamento
psíquico, conforme LUCERO A; (2015).
De acordo com a teoria winnicottiana, portanto, no começo do desenvolvimento
o bebê é capaz de conceber a ideia de que existiria algo que atenderia à crescente
necessidade que se origina da tensão pulsional. A mãe dá o seio, e sua adaptação às
necessidades do bebê permite a ilusão de que existe uma realidade externa
correspondente à sua própria capacidade de criar: “A mãe coloca o seio real
exatamente onde o bebê está pronto para criá-lo, e no momento exato” (Winnicott,
1951/1975, p. 26 apud LUCERO A; 2015). Ocorre uma sobreposição entre o que a
mãe supre e o que a criança poderia conceber. O bebê percebe o seio apenas na
medida em que um seio poderia ser criado ali e naquele momento.
Na medida em que esta experiência se repete, as ideias do bebê são
enriquecidas por detalhes reais da visão e do odor, de forma que estes elementos
serão acrescidos à próxima alucinação.
E maneira gradual, o bebê começa a construir uma capacidade de evocar o
que está realmente disponível. Conforme Winnicott (1945/1978 apud LUCERO A;
2015), “a fantasia é mais primária que a realidade e o enriquecimento da fantasia com
as riquezas do mundo dependem da experiência da ilusão” (p. 280). Importa enfatizar
que o ambiente facilitador deve propiciar ao bebê a capacidade de criar e recriar o

51
objeto, segundo o princípio de prazer, até que ele esteja pronto para aceitar o princípio
de realidade (cf. Winnicott, 1963/1983, p. 164 apud LUCERO A; 2015).
Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015) sublinha que, em Winnicott, “o
princípio de prazer identifica-se com uma certa relação de objeto, isto é, a relação com
o seio materno, enquanto o princípio de realidade foi identificado por nós ao fato de
que a criança deve aprender a dele se abster” (p. 33). Ele lamenta que “a oposição
dialética e impessoal dos dois princípios” tenha sido substituída por atores e que a
mãe seja a personagem decisiva na apreensão da realidade pela criança (p. 33).

Eis como Winnicott (1951/1975 apud LUCERO A; 2015) descreve esse


cenário criticado por Lacan, não há possibilidade alguma de um bebê
progredir do princípio de prazer para o princípio de realidade [...] A menos
que exista uma mãe suficientemente boa. A ‘mãe’ suficientemente boa (não
necessariamente a própria mãe do bebê) é aquela que efetua uma adaptação
ativa às necessidades do bebê, uma adaptação que diminui gradativamente,
segundo a crescente capacidade deste em lidar com o fracasso da adaptação
e em tolerar os resultados da frustração (p. 25).

Ora, mesmo que Winnicott (1951/1975 apud LUCERO A; 2015) destaque que
qualquer pessoa pode exercer o papel da mãe, “naturalmente, a própria mãe do bebê
tem mais possibilidade de ser suficientemente boa do que alguma outra pessoa” (p.
25). Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015) observa que tudo corre bem
(expressão de Winnicott) se a mãe está sempre presente no momento necessário,
“isto é, precisamente vindo colocar, no momento da alucinação delirante da criança,
o objeto real que a satisfaz” (p. 34).
Nesta relação, torna-se impossível distinguir entre a alucinação do seio
materno e o encontro com o objeto real. Além disso, o psicanalista francês demarca o
paradoxo presente na hipótese de que a realidade deve ser satisfatória, ao mesmo
tempo em que “quanto mais satisfatória é a realidade, menos ela constitui uma
experiência de realidade” (p. 225-226), conforme LUCERO A; (2015).

Contudo, é o próprio Winnicott quem percebe que não é na ausência de


satisfação, entendida por Lacan (1956-57 apud LUCERO A; 2015) como a
frustração do gozo (ver citação abaixo), que deve-se articular a realidade, não
podemos fundar a mínima gênese da realidade no fato de que a criança tenha
ou não o seio. Se ela não tiver o seio, tem fome e continua a chorar. Em
outras palavras, o que é produzido pela frustração do gozo? Ela produz, no
máximo, o relançamento do desejo, mas nenhuma espécie de constituição
de objeto, qualquer que seja este. É mesmo por essa razão que o Sr.
Winnicott é levado a nos fazer observar qual é a coisa verdadeiramente
apreensível no comportamento da criança (p. 127).

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O que se torna verdadeiramente apreensível na observação da relação mãe-
bebê é que é a falta da mãe que pode fornecer um signo de realidade. Lacan (1956-
57/1995 apud LUCERO A; 2015) enxerga na afirmação winnicottiana de que a tarefa
final da mãe consistiria em desiludir gradativamente o bebê, após ter propiciado
oportunidades suficientes para a ilusão, uma frustração de amor (e não de gozo).
É por um ato deliberado, influenciado por regras sociais, de não oferecer mais
o seio que a mãe decepciona o bebê, e não porque ele não pode se satisfazer com
os demais objetos, como aqueles de sua “criatividade primária”, por exemplo. Este é
um ponto importante da argumentação de Winnicott (1951/1975 apud LUCERO A;
2015), pois implica que, em determinado momento, a mãe não pode mais se adaptar
completamente à necessidade do bebê, se tudo corre bem, o bebê pode ser
perturbado por uma adaptação estrita à necessidade que é continuada durante muito
tempo, sem que lhe seja permitida sua diminuição natural, de uma vez que a
adaptação exata se assemelha à magia, e o objeto que se comporta perfeitamente
não se torna melhor do que uma alucinação.
Não obstante, de saída, a adaptação precisa ser quase exata e, a menos que
assim seja, não é possível ao bebê começar a desenvolver a capacidade de
experimentar uma relação com a realidade externa ou mesmo formar uma concepção
dessa realidade (p. 25-26 – itálicos do autor), conforme LUCERO A; (2015).
Winnicott (1963/1983 apud LUCERO A; 2015) ressalta que são as frustrações,
mais do que as satisfações, que permitem a passagem de um objeto que era
totalmente “subjetivo” para um objeto “percebido objetivamente” (p. 165). Por um lado,
a satisfação completa pode ter como resultado a aniquilação do objeto, posto que,
nesse caso, ele não precisa ser desejado, nem criado, para satisfazer uma
necessidade (cf. Winnicott, 1945/1978, p. 281 apud LUCERO A; 2015).
Por outro lado, a frustração, desde que se dê no momento adequado e por um
período de tempo suportável para a criança, abre espaço para a imaginação. A esse
respeito, Lacan (1958a/1998 apud LUCERO A; 2015) diz que a noção de objeto
transicional, introduzida por Winnicott, “se nutre da mais precisa reformulação da
função dos cuidados maternos na gênese do objeto” (p. 618).

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Para o psicanalista inglês, desde o nascimento o ser humano está envolvido
com o problema da relação entre aquilo que é objetivamente percebido e aquilo que
é subjetivamente concebido, de tal forma que é preciso supor uma área intermediária
entre a percepção objetiva e a imaginação (“criatividade primária”), em que teríamos
os objetos ou fenômenos transicionais. O objeto transicional representa a passagem
do bebê de um estado em que está fundido com a mãe para um estado em que está
em relação com ela como algo externo e separado, conforme LUCERO A; (2015).
Winnicott (1951/1975, p. 15 apud LUCERO A; 2015) afirma que não se trata
especificamente do primeiro objeto das relações de objeto, mas da “primeira
possessão não-eu” e da área intermediária entre o subjetivo e aquilo que é
objetivamente percebido. Mesmo que o objeto transicional represente o seio ou o
objeto da primeira relação (a mãe), o que importa é que ele é uma possessão que
permite ao bebê passar do controle onipotente (mágico) sobre os objetos que cria e
que o satisfazem para o controle pela manipulação (envolvendo o erotismo muscular
e o prazer de coordenação, por exemplo). Os objetos ou fenômenos transicionais
caracterizam este estado intermediário entre a inabilidade de um bebê e sua crescente
habilidade em reconhecer e aceitar a realidade, ou seja, eles descrevem a jornada do
bebê desde o puramente subjetivo até a objetividade.
O objeto transicional não deve ser confundido com o objeto interno kleiniano,
pois não é um conceito mental. Tampouco ele é uma alucinação ou um objeto externo
para o bebê, ainda que os adultos o reconheçam como vindo do exterior. Trata-se,
enfim, de “designar a área intermediária de experiência, entre o polegar e o ursinho,
entre o erotismo oral e a verdadeira relação de objeto, entre a atividade criativa
primária e a projeção do que já foi introjetado, entre o desconhecimento primário de
dívida e o reconhecimento desta” (Winnicott, 1951/1975, p. 14 apud LUCERO A;
2015).
Lacan irá interrogar a hipótese do objeto transicional sob várias perspectivas,
visto que, para ele, Winnicott deixa de esclarecer determinados aspectos de seu
conceito. Afinal, dizer que o objeto transicional não é real nem irreal, externo ou
interno, imaginário ou simbólico, faz as obras de Winnicott aparecerem, aos olhos de
Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015), “certamente muito hesitantes, cheias
de rodeios e de confusões” (p. 35). No entanto, longe de simplesmente descartar o

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que ali se encontra, Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015) aquiesce à ideia
de que:

A tarefa de aceitação da realidade nunca é completada, que nenhum ser


humano está livre da tensão de relacionar a realidade interna e externa, e que
o alívio dessa tensão é proporcionado por uma área intermediária de
experiência que não é contestada (artes, religião, etc.). Essa área
intermediária está em continuidade direta com a área do brincar da criança
pequena que se “perde” no brincar (WINNICOTT, 1951/ 1975, p. 29 apud
LUCERO A; 2015).

De acordo com Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015), o “período que,


por ser chamado aqui transicional, nem por isso constitui um período intermediário, e
sim um período permanente do desenvolvimento da criança” (p. 35). O psicanalista
francês parece partilhar da dificuldade de delimitar o que faz parte da fantasia e o que
se impõe como realidade, tanto que o veremos às voltas com esse problema ao longo
de todo o seu ensino. Não podemos deixar de destacar, ademais, que tal questão não
deixa de evocar o problema da oposição entre princípio de prazer e princípio de
realidade.

Por fim, Lacan (1956-57/1995 apud LUCERO A; 2015) conclui que todos os
objetos dos jogos da criança são objetos transicionais. Os brinquedos,
falando propriamente, a criança não precisa que lhe sejam dados, já que os
cria a partir de tudo o que lhe cai nas mãos. São objetos transicionais. A
propósito destes, não é preciso perguntar se são mais subjetivos ou mais
objetivos – eles são de outra natureza. Mesmo que o Sr. Winnicott não
ultrapasse os limites chamando-os assim, nós vamos chamá-los,
simplesmente, de imaginários (p. 34).

Se os objetos transicionais são imaginários, a sua conformação depende da


articulação do imaginário com o simbólico e o real. Cabe verificar, assim, se os três
registros propostos por Lacan conseguirão oferecer uma boa solução para a questão
da constituição do mundo objetal e, por conseguinte, da realidade, a questão do
objeto, para nós, analistas, é fundamental. Temos constantemente a experiência dela,
é só com isso que lidamos, com que nos ocupamos. Essa questão é, essencialmente,
a seguinte: qual é a fonte e a gênese do objeto ilusório? Trata-se de saber se podemos
ter uma concepção suficiente desse objeto como ilusório, referindo-nos simplesmente
às categorias do imaginário. Eu lhes respondo: não, isso é impossível (LACAN, 1957-
58/1999, p. 237 apud LUCERO A; 2015).

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10.3 O ambiente e as relações objetais na teoria de winnicott

A teoria do amadurecimento consiste na descrição e conceituação das


conquistas e experiências que são inerentes ao desenvolvimento do indivíduo nos
diversos estágios de sua vida. Apesar desse processo não ser linear, algumas
conquistas só podem ser alcançadas depois que o indivíduo passa por experiências
anteriores que são fundamentais para a resolução das tarefas subsequentes de cada
estágio, conforme BICHUETTI L; (2011).
Nessa teoria, Winnicott procura enfatizar os estágios iniciais da vida do ser
humano, por considerar que é nesse período que são constituídos os alicerces da
personalidade. Ele descreve a jornada de um indivíduo do estágio de dependência
absoluta até a independência relativa, pois afirma que o ser humano é um ser
relacional, e por isso, não consegue viver totalmente isolado dos outros, conforme
BICHUETTI L; (2011).
Ao fazer uma apresentação sequencial dos estágios, ele chama atenção para
o fato de que o desenvolvimento emocional não é um processo linear, uma vez que
esses estágios se superpõem. Em cada um desses estágios, competem ao indivíduo
tarefas de natureza distintas, que são decorrentes da própria tendência à integração.
À medida em que essas tarefas vão sendo conquistadas, elas vão se integrando à
personalidade, conforme BICHUETTI L; (2011).
Além disso, ele mesmo afirma que “qualquer estágio no desenvolvimento é
alcançado e perdido, alcançado e perdido de novo, e mais uma vez: a superação dos
estágios no desenvolvimento só se transforma em fato muito gradualmente, e mesmo
assim apenas sob determinadas condições” (Winnicott, 1988, p. 55 apud BICHUETTI
L; 2011). Sendo assim, esses estágios, especialmente os iniciais, de uma certa forma,
jamais serão de todo abandonados, e sempre que estudarmos um indivíduo de
qualquer idade, encontraremos necessidades ambientais das mais primitivas às mais
tardias.
Um outro fator importante a ser considerado, é a possibilidade de o indivíduo
retomar um desenvolvimento interrompido em qualquer época de sua vida, desde que
encontre um ambiente confiável, que possa sustentar a sua regressão à fase em que
se deu a interrupção de seu amadurecimento devido a falhas ambientais, conforme
BICHUETTI L; (2011).

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10.4 A teoria do amadurecimento

Em que consiste a teoria do amadurecimento? Na descrição e conceituação


das diferentes tarefas, conquistas e dificuldades que são inerentes ao crescimento em
cada um dos estágios da vida, desde o momento em que um estado de ser tem início,
ainda na vida intrauterina, estendendo-se pela infância, adolescência, juventude,
idade adulta e velhice até a morte. A ênfase da teoria recai sobre os estágios iniciais,
pois é nesse período que estão sendo constituídos os alicerces da personalidade e
da saúde psíquica, conforme DIAS E; (2008).
As tarefas que caracterizam os estágios iniciais a integração no tempo e no
espaço, a habitação da psique no corpo, o início das relações objetais e a quarta
tarefa, constituição do si mesmo, jamais se completam e continuam a ser as tarefas
fundamentais de toda a vida. Elas não são de natureza instintual como serão algumas
delas, um pouco mais tarde, mas pertencem à linha identitária do amadurecimento;
referem-se à necessidade de existir, de sentir-se real e de chegar a estabelecer-se
como uma identidade unitária, conforme DIAS E; (2008).
Apesar de o processo de amadurecimento não ser linear, algumas conquistas
têm pré-requisitos e só podem ser alcançadas depois de outras, que são a sua
condição de possibilidade. Ou seja, a resolução satisfatória das tarefas de cada
estágio depende de ter havido sucesso na resolução das tarefas dos estágios
anteriores, conforme DIAS E; (2008).
Se ocorre fracasso na resolução da tarefa de uma certa etapa, novas tarefas
vão surgindo, mas o indivíduo, não tendo feito a aquisição anterior, carece da
maturidade necessária para fazer-lhes frente; ele pode até resolvê-las, mobilizando a
mente e/ou uma integração defensiva do tipo falso si mesmo, mas, apoiadas em bases
falsas elas não farão parte intrínseca do seu si mesmo como aquisições pessoais.
Nesse caso, o processo de amadurecimento pessoal é paralisado e um distúrbio
emocional se estabelece, conforme DIAS E; (2008).

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