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RESUMO
Rua Ministro Viveiros de Castro, nº 47 apto. 201 – Rio de Janeiro – CEP 22021-010
allancascaes@terra.com.br ou allancscaes@ons.org.br
Ainda, como parte do presente trabalho, é enfocado o sistema de comunicação, examinando-se a
topologia da rede, dependendo das características e requisitos de disponibilidade e confiabilidade
adotados em cada caso particular. É analisado o intercâmbio de informações entre os diferentes níveis
hierárquicos da subestação, como por exemplo, entre os IEDs e o controlador da estação ou entre IEDs
pertencentes a vãos diferentes. A estrutura das mensagens entre os diversos IEDs é também
comentada, considerando o modo cliente-servidor e 3 níveis de prioridade, de acordo com o tipo e os
requisitos de velocidade de cada função. São ainda analisadas aplicações das mensagens binárias de
maior prioridade e, conseqüentemente, alta velocidade, denominadas GOOSE (Generic Object
Oriented Substation Events) e como é feito o mapeamento destas mensagens.
No nível do processo, é comentada, à luz da norma IEC 61850, a amostragem dos valores de tensão e
corrente dos TCs e TPs e sua transmissão através de trens de pulsos, utilizando o conceito de
amostragem sincronizada e transmissão do tipo multicast, isto é, os dados transmitidos são recebidos
por múltiplos IEDs.
PALAVRAS-CHAVE
Automação de subestações e usinas, Integração de sistemas digitais, norma IEC 61850, rede de IEDs
de proteção.
1.0 INTRODUÇÃO
Atualmente, a maioria das empresas de energia elétrica e indústrias de grande porte tem como objetivo
modernizar os sistemas de supervisão e controle de suas instalações elétricas, em vista das muitas
vantagens oferecidas pelos sistemas digitalizados modernos. Adicionalmente, estas empresas
pretendem dotar suas instalações elétricas de um conjunto de funções de automação e controle que
facilitem as tarefas de operação e manutenção.
Um primeiro passo para alcançar este objetivo foi a instalação, nas subestações e usinas, de sistemas
SCADA, constituídos por unidades terminais remotas (UTRs), base de dados e interface homem-
máquina local (IHM) e/ou remoto. Este sistema, porém, mostrou possuir limitações e dificuldades,
principalmente, durante as expansões, além de ainda necessitar de um grande número de relés
auxiliares e cabos para a obtenção dos sinais do processo e bem como dos cabos entre painéis, o que
tem aumentado o custo destas instalações.
Hoje, uma nova evolução tecnológica encontra-se disponível, definida pela norma IEC 61850, a qual
permite, através do uso de redes LAN Ethernet de alta velocidade e elevada confiabilidade, uma completa
integração entre os diversos equipamentos digitais, possibilitando o compartilhamento das informações e
facilitando a implantação de funções de automação e de auxílio à operação e manutenção.
Por outro lado, os relés de proteção experimentaram notável evolução desde que a tecnologia digital
foi adotada em sua fabricação, tendo-se transformado em dispositivos inteligentes, chamados de IEDs
de proteção. Além de agregarem maiores recursos às tarefas de proteção de equipamentos, barras e
linhas de transmissão, são também capazes de participar das diversas funções de supervisão, controle e
automação normalmente utilizadas em uma subestação ou usina.
O advento da norma IEC 61850 veio uniformizar o uso de redes LAN para proteção e automação,
permitindo o compartilhamento de informações entre os diversos IEDs, bem como a disponibilização
dessas informações aos diferentes usuários de uma empresa de energia elétrica (operador local,
operador do centro de controle, pessoal de pré e pós-despacho, pessoal do SCADA, medição,
tecnologia da informação, manutenção, engenharia da proteção, análise de faltas etc.).
Adicionalmente, a norma IEC 61850 solucionou o problema das expansões dos sistemas digitalizados,
oferecendo a garantia de expansibilidade e interoperabilidade entre IEDs de fabricantes diferentes,
reduzindo drasticamente o custo do sistema expandido.
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Os IEDs existentes, geralmente utilizando protocolos seriais, precisam do Módulo de Interface de Rede
(NIM) para conversão do protocolo e interface física para serem conectados à LAN da subestação. Os
novos IEDs de LAN (baseados no protocolo IEC 61850) podem ser conectados diretamente a esta LAN,
sem Módulo de Interface.
O computador da estação (PC) fornece a Interface de Usuário (IU) gráfica e o sistema de informação
histórica para os arquivos de dados operacionais e não-operacionais. Para subestações de transmissão de
grande porte, o computador da subestação pode ser redundante, para oferecer tolerância à falha. Para
subestações de transmissão de pequeno ou médio porte e para subestações de distribuição, este
computador é, geralmente, não redundante. Para subestações secundárias menores, pode nem mesmo ser
necessário o computador da subestação, bastando utilizar um concentrador de dados para executar a
integração de IEDs, sem funções de Interface de Usuário nem armazenamento de dados históricos.
A Interface com o Usuário (IU) na subestação deve ser de projeto amigável, com hierarquia de telas
eficiente e minimização ou eliminação da necessidade de escrita via teclado.
O Repositório de Dados permitirá aos usuários acessar os dados arquivados sem interferir nas atividades
de controle e operação da subestação, as quais são protegidas por um firewall. A concessionária deve
determinar quem usará cada dado fornecido pelo SAS, a natureza de sua aplicação, o tipo de dado
necessário e a freqüência de atualização requerida para cada usuário. O relógio atualizado pelo satélite
GPS (Sistema de Posicionamento Global) fornece uma referência de tempo muito precisa para
sincronismo dos vários IEDs da subestação.
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subestações, além de ser à prova de futuro, isto é, admitir evoluções na tecnologia de comunicações sem
necessidade de modificações importantes no sistema já adquirido. Como interoperabilidade entende-se a
capacidade de IEDs, fornecidos por um ou vários fabricantes, de se comunicarem entre si, compartilhando
informações de forma rápida e segura, sem o uso de gateways, utilizando estas informações para executar
as funções de proteção, monitoração, medição, controle e automação do sistema.
Para alcançar os objetivos acima, o novo padrão utiliza a abordagem orientada a objeto e subdivide as
funções em objetos denominados nós lógicos que se comunicam entre si. Nó lógico é um grupamento
funcional de dados. É também a menor parte de uma função ou subfunção que pode intercambiar
dados com outros objetos. Cada nó lógico possui seu próprio conjunto de dados. Os dados são
compartilhados entre os nós lógicos segundo regras que são chamadas serviços. Os nós lógicos são
agrupados em dispositivos lógicos (funções), os quais estão contidos em dispositivos físicos (IEDs).
Outro objetivo da norma IEC61850 é possibilitar a comunicação entre IEDs com alta velocidade e
confiabilidade elevada. Isto possibilita substituição dos cabos de controle por redes de comunicação,
reduzindo o custo global. A norma deve, ainda, suportar desenvolvimentos tecnológicos futuros sem
requerer alterações significativas no software e hardware do SAS.
A Norma IEC 61850 fornece modelos de objetos, serviços, testes e protocolos padronizados para garantir
níveis mais altos de interoperabilidade entre IEDs, incluindo as aplicações. Representa mais do que um
novo protocolo de comunicações. É, na verdade, um novo estágio tecnológico na área de proteção e
automação. Possui as seguintes características: aplicação de modelos de objetos ; serviços abstratos
(ACSI): relatórios, controles etc. ; mapeamento das informações para TCP/IP e Ethernet ; uso da
Linguagem de Configuração de Subestação (SCL) ; testes de conformidade.
Estas características permitem que o SAS seja considerado uma plataforma aberta de Proteção e
Automação de Subestações, independentemente dos fornecedores. Por outro lado, o emprego de
ferramentas de engenharia e configuração em Linguagem SCL permite que as mesmas possam ser
reutilizadas. Os sinais do processo e de outros IEDs (por exemplo, proteção, disjuntores, transformadores
de corrente e tensão) estão definidos e os modelos de funções e objetos são padronizados, otimizando a
reutilização, copia e consistência do software aplicativo.
A Figura 2 a seguir mostra uma arquitetura simplificada de um SAS que utiliza a norma IEC 61850,
incluindo os equipamentos elétricos, além dos IEDs, controlador de estação e console de engenharia,
mostrando também o barramento do processo.
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utilizado em outros protocolos. Este modo de transmissão utiliza todas as camadas do modelo OSI,
tem a vantagem de ter desempenho determinístico, mas é relativamente lento, com tempos de resposta
da ordem de 1s. O servidor corresponde ao nível vão ou processo, que fornece dados aos clientes no
nível estação ou em qualquer nível remoto. Os dados são fornecidos pelo servidor, por solicitação do
cliente, ou automaticamente (a partir de eventos pre-definidos). O cliente é, em geral, o computador
da estação ou um gateway. Pode ser também um centro de controle remoto. É possível, portanto, haver
múltiplos clientes. Neste tipo de comunicação, o cliente é quem controla a troca de dados.
As comunicações horizontais, por sua vez, utilizam o modo editor-assinante (publisher-subscriber), ou
produtor-consumidor, em que o editor distribui as informações na rede, no modo unicast ou multicast,
o que significa que um único ou múltiplos IEDs podem receber a mensagem e utilizá-la ou não,
conforme sua necessidade. O IED assinante, que pode ser qualquer dos IEDs, recebe da rede aquelas
informações que lhe forem necessárias. A comunicação não depende de um sinal de confirmação, sendo,
porém, repetida várias vezes para aumentar sua confiabilidade. O tempo de comunicação não é
determinístico, porém, na maior parte dos casos, fica em torno de 4 ms.
A Tabela 1 da norma IEC 61850-1 define 7 tipos de mensagem. As mensagens tipo 1A (trip) e 1B
(controles) são de alta velocidade. As mensagens tipo 2 (informações de medidas e estados) e tipo 7
(comandos) são de média velocidade. As do tipo 6A (barramento da estação) e 6B (barramento do
processo) são usadas como sinais de sincronismo. Aquelas do tipo 4 correspondem aos valores
amostrados de TCs e TPs. As demais mensagens são de baixa velocidade (parâmetros, eventos,
transferência de arquivos etc.). As mensagens tipo 1 e 1A são denominadas GSE (Generic Substation
Events) e podem ser classificadas em GOOSE (Generic Object Oriented Substation Event), e GSSE
(Generic Susbtation Status Event). A diferença entre ambos é que, nas mensagens GOOSE, a
informação é configuravel e utiliza um data set (grupo de dados). As mensagens GSSE somente
suportam uma estrutura fixa de informação de estado, a qual é publicada e disponibilizada na rede. As
mensagens GSE podem ser enviadas simultaneamente a mais de um dispositivo físico através do uso
de serviços multicast/broadcast. As mensagens tipo 2, 3 e 5 requerem serviços orientados, como o
TCP/IP e ISO CO).
Uma grande vantagem das mensagens GOOSE ou GSSE é permitirem a interligação entre dois ou mais
IEDs através da rede, intercambiando mensagens com alta velocidade e confiabilidade, substituindo as
ligações físicas por meio de cabos ou fios.
O conjunto de dados e serviços, incluindo as mensagens, é mapeado utilizando protocolos e serviços
disponíveis no mercado e amplamente difundidos, como o MMS (Manufacturing Message
Specification), o TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol), que é orientado à conexão,
o UDP/IP (User Datagram Protocol/Internet Protocol), que é não orientado à conexão, além da rede
Ethernet, conforme mostrado na Figura 3.
As mensagens GOOSE utilizam o serviço SCSM (Specific Communication Service Mapping). Este
serviço usa um esquema de retransmissão especial para alcançar um nível de confiabilidade adequado,
que consiste em repetir a mensagem por diversas vezes até que seja recebida uma confirmação de que
foi recebida. A cada nova tentativa, o tempo de espera é dobrado, de modo a minimizar colisões. Cada
mensagem, na seqüência de retransmissão, transporta um parâmetro denominado
“timeAllowedToLive”, que informa ao receptor o tempo máximo de espera para a próxima
retransmissão. Se uma nova mensagem não é recebida dentro deste intervalo de tempo, o receptor
assume que a conexão foi perdida.
A especificação de um SAS utilizando o padrão IEC 61850 é, até certo ponto, semelhante à
especificação de um sistema convencional. Devem ser fornecidas informações sobre o diagrama
unifilar da subestação, a lista de pontos, as funcionalidades requeridas com os requisitos de
desempenho sob fluxo máximo, assim como as interfaces com o processo e com outros IEDs,
incluindo informações sobre seus protocolos, as condições ambientais etc. Também devem ser
fornecidos dados sobre índices de confiabilidade admitidos ou critérios de tolerância a falhas
aceitáveis.
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Sampled GOOSE Time M M S Protocol Suite GSSE
Values Sync
(Multicast) (SN TP)
(Type 2, 3 y 5) (Type 1, 1A)
(Type 1, 1A) (Type 6)
(Type 4)
ISO/IEC 8802-3Ethertype
ISO/IEC 8802-3
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Figura 4 – Geração do Arquivo SCD
O padrão também define os testes de conformidade dos produtos, de modo que a interoperabilidade
possa ser verificada, garantindo, assim, o sucesso na integração de dispositivos de diversos
fabricantes.
Muitos dos benefícios deste novo padrão somente poderão ser avaliados após algum tempo de sua
utilização e depois que mais subestações com integração completa entre seus IEDs tenham sido
implantadas.
A possibilidade de transmissão de mensagens ponto a ponto e com alta confiabilidade e velocidade
elimina a necessidade de fiação para funções distribuídas, como os intertravamentos, proteções de
barras e falha de disjuntor etc. Isto torna muito mais fáceis futuras alterações de projeto, uma vez que
estas irão requerer apenas modificação em trechos do software.
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10.0 INTEGRAÇÃO COM OS REGULADORES DE TENSÃO E VELOCIDADE DE
GERADORES
Os reguladores digitais de tensão e velocidade de geradores são também IEDs que necessitam interface
com o processo para aquisição de grandezas como corrente e tensão no gerador, estado do disjuntor ou
disjuntores associados e disjuntor de campo, assim como para executar as ações de controle sobre a
tensão e velocidade do gerador. Operam em ambientes rigorosos, devendo apresentar baixa taxa de
falhas. Podem possuir capacidade de autodiagnóstico para que qualquer alteração no seu desempenho
possa ser identificada rapidamente.
Os controladores mais modernos podem apresentar uma ou mais interfaces de comunicação e serem
capazes de operar em rede com protocolos abertos. Assim como os demais IEDs existentes na usina ou
subestação associada, estes equipamentos podem ser integrados ao sistema de automação da instalação,
tendo-se como uma das vantagens, a redução dos cabos e do hardware de entrada/saída.
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Em qualquer caso, porém, recomenda-se a participação das equipes de engenharia, operação e
manutenção do cliente em todas as fases de desenvolvimento do sistema digital, de modo a adquirir
experiência e confiança e evitar a necessidade de alterações de última hora, que apresentam custos
elevados e são, muitas vezes, responsáveis por problemas e inconsistências causadores de atrasos por
ocasião do comissionamento e testes de campo.
12.0 CONCLUSÕES
Embora a supervisão e o controle digital de subestações tenha sido um conceito bastante difundido nas
últimas duas décadas, somente umas poucas empresas de energia elétrica tinham desenvolvido, até
meados dos anos 90, abordagens “verdadeiramente” integradas de proteção, controle e automação,
para facilitar a troca de informações no nível corporativo e viabilizar a própria automação. A partir
desta época, a situação começou a mudar devido, principalmente, à evolução tecnológica. Além disto,
a desregulamentação dos mercados elétricos tem forçado as companhias no mundo todo a se focar em
aspectos de qualidade da energia e satisfação do consumidor. O controle e as comunicações de dados
por via digital permitem a estas entidades trocar informações relativas à compra e venda de energia e
atualização do estado da rede elétrica. A desverticalização das empresas de energia elétrica, o acesso
aberto à transmissão e a comercialização a varejo estão agora requerendo muito maior
compartilhamento de informações em tempo real no nível de transmissão.
O grande poder de compra coletiva das principais companhias elétricas nos EEUU e Europa tem
levado os fornecedores a reprojetar seus produtos. Este alto nível de suporte e harmonização está,
certamente, contribuindo, de maneira importante, para a rápida implementação e aceitação deste novo
padrão internacional de comunicação para a integração dos dispositivos de campo que suportarão as
necessidades de integração e automação da industria, denominado protocolo IEC 61850.
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