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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL

UNIDADE HORTÊNSIAS
MESTRADO PROFISSIONAL EM AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

Ricardo Eugenio Dill

BIOINSUMOS NA AGRICULTURA BRASILEIRA:


Alternativa biológica para uma agricultura ambientalmente sustentável

SÃO FRANCISCO DE PAULA


2022
RICARDO EUGENIO DILL

BIOINSUMOS NA AGRICULTURA BRASILEIRA:


Alternativa biológica para uma agricultura ambientalmente sustentável

Dissertação apresentada ao Curso de


Mestrado Profissional em Ambiente e
Sustentabilidade da Universidade
Estadual do Rio Grande do Sul, Unidade
Hortênsias, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em
Ambiente e Sustentabilidade.

Orientador: Prof. Dr. Alexandro Cagliari

SÃO FRANCISCO DE PAULA


2022
RICARDO EUGENIO DILL

BIOINSUMOS NA AGRICULTURA BRASILEIRA:


Alternativa biológica para uma agricultura ambientalmente sustentável

Dissertação apresentada ao Curso de


Mestrado Profissional em Ambiente e
Sustentabilidade da Universidade
Estadual do Rio Grande do Sul, Unidade
Hortênsias, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em
Ambiente e Sustentabilidade.

Orientador: Prof. Dr. Alexandro Cagliari

Aprovado em: 25/03/2022

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________
Orientador: Prof. Dr. Alexandro Cagliari
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

_____________________________________
Prof. Dr. Benjamin Dias Osorio Filho
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

_____________________________________
Prof. Dr. Alexandre Rieger
Universidade de Santa Cruz do Sul

_____________________________________
Prof. Dr. Lauro Bücker Neto
Instituto Federal Goiano
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que de uma maneira ou outra contribuíram e estiveram ao meu

lado ajudando a chegar até esse momento. Esta é uma grande conquista e tem um

significado especial, pois é a conclusão de um ciclo muito importante de

aprendizagem e convivência no programa de pós-graduação em Ambiente e

Sustentabilidade da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Não foram fáceis

os inúmeros deslocamentos entre os municípios de Cruz Alta e São Francisco de

Paula ou os dias frios e úmidos de inverno da serra gaúcha. Mas, existiram dias de

sol e calor, assim como noites de conversas na lareira e uma boa garrafa de vinho,

que compensaram todos os esforços para estar junto dos que compartilhavam do

mesmo sonho. Esse período foi marcado por significativas amizades e encontros

que proporcionaram diálogos de descoberta a cada dia de estudo. O que mais

houve durante esse caminho, foi a constante transformação, desde aprendizados

e novas experiências, com o acréscimo e a construção de parcerias, mas também

rupturas e quebras dos paradigmas e certezas que existiam. Ninguém que iniciou

na nossa turma estava preparado para a pior pandemia do nosso século, tudo o

que era certo teve que mudar, se transformar. O projeto que era um, virou outro.

As interações próximas cessaram e foram trocadas por telas. As incertezas

chegaram. A espera perdurou para com segurança retornarmos às atividades. E o

momento veio, possibilitando concluir o trabalho apresentado nessa dissertação,

superação conjunta minha e do Alexandro, que me conduziu sabiamente ao longo

desses anos. O atual ciclo de trabalho e dedicação termina e se abre para novas

oportunidades. Essa é uma pequena parcela dos inúmeros aprendizados desse


mestrado e que possibilita não somente que eu desbrave novos rumos acadêmicos

e profissionais, mas que auxilie a comunidade para um ambiente responsável pela

utilização dos seus recursos.

Assim, vou citar os nomes e sem ordem de importância, pois cada um tem seu

significado único e especial para mim.

Muito obrigado!

Joselina de Fátima Netto, Maria Edite Netto, Prof. Alexandro


Cagliari, Luana Silva da Rosa, Fabrícia Barbieri, Hardi Germano
Weirich, Paulo Roberto Bastos, Mariana Carvalho, Roana F.
Goularte, João Guilherme H. Correa, Cocada, Paçoca, Simone Leal,
Cinthia Carvalho Jorge, Prof. Alexandre Rieger, demais professores e
colegas do programa de pós-graduação em Ambiente e Sustentabilidade
da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul.
“Terrorista será
Aquele que não bota veneno na sua mesa ou na plantação
Heróis laureados serão
Os que contaminam, adoecem, matam mais rápido a população”
Elza Soares (Blá Blá Blá, 2019)
RESUMO

A agricultura é responsável por grande parte da riqueza gerada no Brasil. Porém,


o atual modelo agrícola ainda está ligado ao uso excessivo de agrotóxicos e
fertilizantes químicos que são agentes poluidores do ambiente e dos seres que nele
habitam. Os bioinsumos são atualmente uma das principais alternativas para
substituir agroquímicos convencionais. O objetivo desta dissertação é apresentar
uma reflexão sobre o uso, produção, legislação, mercado e a importância dos
bioinsumos na agricultura brasileira. Além disso, apresentamos um estudo de caso
sobre o impacto da utilização de um biofertilizante na modulação de parâmetros
físicos, químicos e biológicos ao longo do desenvolvimento fenológico de trigo
(Triticum aestivum). Os bioinsumos tem potencial para revolucionar a agricultura
brasileira. No entanto, faz-se necessário que estes produtos sejam testados de
forma a assegurar sua segurança, padronização e eficácia.

Palavras-chave: Bioinsumo. Agricultura. Sustentabilidade. Solo. Enzimas do solo.


ABSTRACT

Agriculture is responsible for much of the wealth generated in Brazil. However, the
current agricultural model is still linked to the excessive use of pesticides and
chemical fertilizers that are polluting agents for the environment and the beings that
inhabit it. Bioinputs are currently one of the main alternatives to replace conventional
agrochemicals. The objective of this dissertation is to present a reflection on the
use, production, legislation, market and the importance of bioinputs in Brazilian
agriculture. In addition, we present a case study on the impact of the use of a
biofertilizer on the modulation of physical, chemical and biological parameters
during the phenological development of wheat (Triticum aestivum). Bioinputs have
the potential to revolutionize Brazilian agriculture. However, it is necessary that
these products are tested in order to ensure their safety, standardization and
efficacy.

Keywords: Bioinput. Agriculture. Sustainability. Ground. Soil enzymes.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Dinâmica de contaminação por agrotóxico em solos e águas .......... 20


Figura 2 - Crescimento de registro de agrotóxicos no Brasil ............................. 22
Figura 3 - Categorias de bioinsumos para uso agrícola .................................... 33
Figura 4 - Diferenças entre agroquímicos e bioinsumos ................................... 35
Figura 5 - Processo de desenvolvimento de produtos biotecnológicos ............ 38
Figura 6 - Crescimento de registros aprovados de bioinsumos no Brasil ......... 51
Figura 7 - Produtos biológicos de controle disponíveis por ativo biológico no
mercado brasileiro ............................................................................................. 52
Figura 8 - Distribuição dos defensivos biológicos disponíveis no mercado
brasileiro ……………………………………………………………………………… 55
Figura 9 - Esquema espacial da interação planta-solo ...................................... 65
Figura 10 - Origem da atividade enzimática de um solo.................................... 67
Figura 11 - Escala de Feeks-Large de desenvolvimento da cultura de trigo..... 71
Figura 12 - Atividade enzimática ao longo do desenvolvimento de trigo com e
sem aplicação de bioinsumo ............................................................................. 74
Figura 13 - Matriz de correlações (Pearson) dos parâmetros físico-químicos e
biológicos do solo para o grupo controle …….................………………............. 79
Figura 14 Matriz de correlações (Pearson) dos parâmetros físico-químicos e
biológicos do solo para o grupo com aplicação de bioinsumo ......…………….. 82
Figura 15 - Análise de Componentes Principais (PCA) dos parâmetros físico-
químicos e biológicos ……………………………………..….............................… 76
Figura 16 - Dendrograma de Análise Hierárquica de Cluster (HCA)………...... 84
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12
2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 14
2.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................... 14
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 14
3 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................ 15
3.1 AGRICULTURA COMO NEGÓCIO ................................................................. 15
3.1.1 O Brasil e a produção de trigo ................................................................. 16
3.2 A IMPORTÂNCIA DO SOLO PARA A AGRICULTURA .................................. 17
3.3 A CULTURA DOS AGROTÓXICOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS ................. 19
3.4 A BUSCA DE OPÇÕES SUSTENTÁVEIS PARA O SISTEMA AGRÍCOLA
BRASILEIRO ......................................................................................................... 23
3.4.1 Os bioinsumos como alternativa para a sustentabilidade agrícola ...... 25
4 BIOINSUMOS: DESAFIOS E OPORTUNIDADES EM BUSCA DE UMA
AGRICULTURA MAIS SUSTENTÁVEL .............................................................. 28
4.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 29
4.2 O TRADICIONAL USO DE AGROTÓXICOS NA AGRICULTURA .................. 30
4.3 A DIVERSIDADE DE BIOINSUMOS COMO ALTERNATIVA AO USO DE
AGROTÓXICOS E AGROQUÍMICOS NA AGRICULTURA .................................. 32
4.4 BIOPROSPECÇÃO E PRODUÇÃO DE BIOINSUMOS .................................. 36
4.5 LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS PARA O MERCADO DE BIOINSUMOS ... 40
4.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 42
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 44
5 O POTENCIAL E O DESAFIO DO MERCADO BRASILEIRO DE BIOINSUMOS
............................................................................................................................. 47
5.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 48
5.2 MERCADO BRASILEIRO DE BIOINSUMOS .................................................. 49
5.3 LEGISLAÇÃO SOBRE BIOINSUMOS NO BRASIL E O PROGRAMA
NACIONAL DE BIOINSUMOS .............................................................................. 52
5.4 PERSPECTIVAS FUTURAS E DESAFIOS AO MERCADO DE
BIOINSUMOS ....................................................................................................... 56
5.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 59
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 60
6 ESTUDO EXPLORATÓRIO DO EFEITO DE UM BIOINSUMO ATRAVÉS DE
ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS (PCA) .......................................... 63
6.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 64
6.2 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 69
6.2.1 Área experimental ..................................................................................... 69
6.2.2 Delineamento experimental ...................................................................... 70
6.2.3 Coleta de amostras de solo ...................................................................... 70
6.2.4 Análises físico-químicas do solo ............................................................. 71
6.2.5 Determinação da atividade enzimática do solo ...................................... 71
6.2.6 Análise de Componentes Principais (PCA) ............................................. 72
6.2.7 Análise hierárquica de cluster (HCA) ...................................................... 72
6.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 73
6.3.1 A atividade enzimática do solo sob cultivo de trigo .............................. 74
6.3.2 Análises de Componentes Principais (PCA) na cultura de trigo com e
sem aplicação de bioinsumo............................................................................. 75
6.3.3 Matrizes de correlação e Análise Hierárquica de Clusters (HCA) de
diferentes parâmetros físicos, químicos e biológicos na cultura de trigo com
e sem aplicação de bioinsumo.......................................................................... 79
6.4 CONCLUSÃO.................................................................................................. 85
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 85
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 91
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 92
Apêndice A - Matriz dos coeficientes de correlação ....................................... 96
Apêndice B - Avaliação de parâmetros físicos e químicos do solo ao longo do
desenvolvimento fenológico de trigo ............................................................... 97
12

1 INTRODUÇÃO

No Brasil, a agricultura sempre teve papel de destaque como agente


econômico de desenvolvimento. Pode-se dizer que o sistema agrícola sempre
influenciou na constituição e manutenção da sociedade. A agricultura é responsável
por grande parte da renda nacional, com grande desempenho para produzir
cereais, carnes, fibras, celulose, madeiras e biocombustíveis. Nesse contexto, o
uso mais intensivo das terras e de outros recursos naturais aumenta o desafio de
como produzir de modo sustentável (FERREIRA, 2008).
Com o decorrer do tempo, a agricultura sofreu várias mudanças, visto que
suas distintas configurações resultaram em complexas transformações que
envolveram a produção de alimentos, paisagem, geração de emprego e renda,
além de particularidades sociais nas mais variadas realidades agrárias existentes.
Tais transformações foram influenciadas por questões políticas, culturais e
socioeconômicas, passando de um modelo primitivo de agricultura para um
tecnológico, com o uso abusivo de insumos e aplicação intensiva de tecnologias
(CASTRO et al., 2019).
O uso excessivo e inadequado de agrotóxicos tem efeitos significativos sobre
os casos de intoxicação nos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Ressalta-
se que o modelo agrícola adotado no país tem contribuído para o uso intensivo de
agroquímicos. Portanto, torna-se necessário repensar esse modelo para que o
Brasil alcance o desenvolvimento sustentável. Devem ser formulados programas
que incentivem a adoção de práticas ecologicamente corretas, em conjunto com a
orientação técnica. Assim como, políticas públicas que visem à conscientização do
agricultor sobre os benefícios associados à redução do uso de agrotóxicos
(RODRIGUES; FÉRES, 2022).
Os produtos naturais, obtidos a partir de microrganismos, plantas e animais
encontram seu uso potencial como bioinsumos, sustentando e aumentando a
produção e a proteção das culturas. Bioinsumos derivados de microrganismos e de
seus metabólitos apresentam propriedades promotoras de crescimento de plantas
e biocontrole, e suas moléculas bioativas são alvos específicos, ecologicamente
13

corretos e biodegradáveis, desempenhando um papel importante na preservação


do ecossistema. Esses produtos naturais e ecologicamente corretos podem
complementar ou mesmo substituir os agroquímicos perigosos, minimizando ou
anulando seu uso. No entanto, desafios precisam ser enfrentados para preservar
sua eficácia em condições de armazenamento e de campo, de modo a tornar a
formulação um sucesso comercial (PATHMA et al., 2021).
Esta dissertação apresenta uma reflexão sobre a importância e o uso de
bioinsumos na agricultura e seu potencial papel na substituição ao uso de
agroquímicos convencionais. Os desafios para o desenvolvimento de novos
bioinsumos e as possibilidades do mercado e legislação brasileira para permitir o
uso dos bioinsumos pelos produtores rurais. Além disso, este trabalho apresenta
um estudo de caso sobre o impacto da utilização de um biofertilizante na modulação
de parâmetros físicos, químicos e biológicos do solo, buscando inferir os efeitos à
saúde do solo e à produtividade agrícola decorrentes da utilização deste bioinsumo.
14

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Apresentar uma reflexão sobre o mercado de bioinsumos no Brasil e um


estudo de caso sobre o impacto de um bioinsumo nos parâmetros físicos, químicos
e biológicos do solo ao longo do desenvolvimento da cultura de trigo (Triticum
aestivum).

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Realizar uma revisão de literatura contemplando o desenvolvimento,


produção, classificação, modo de ação, limitações e oportunidades dos
principais bioinsumos;
● Realizar uma revisão de literatura sobre o atual mercado brasileiro de
bioinsumos e as perspectivas e desafios futuros para estes bioprodutos;
● Realizar um estudo de caso sobre o efeito do bioinsumo BiomaPhos® na
modulação da atividade biológica e de parâmetros químico-físicos do solo
ao longo do desenvolvimento fenológico de trigo (Triticum aestivum).

.
15

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 AGRICULTURA COMO NEGÓCIO

As atividades agrícolas, até o final do século XIX, eram baseadas em


conhecimentos locais e tradicionais compartilhados pelos antepassados. As
técnicas utilizadas dependiam apenas dos recursos naturais e da mão-de-obra. As
tecnologias aplicadas e as relações de oferta e procura dos produtos tinham uma
forte relação com o ambiente físico e com o padrão sociocultural da região
(FERREIRA, 2008). Após a expansão industrial e também o pós-guerra, essas
tecnologias foram determinantes para o novo modelo de desenvolvimento da
agricultura moderna, criando uma indústria voltada para produção de agrotóxicos e
fertilizantes (CASTRO, et al. 2019).
Além dos insumos voltados para o controle de pragas, a mecanização e o
melhoramento genético de variedades favoreceram a mudança da agricultura
tradicional para a agricultura moderna. O resultado foi o aumento significativo das
monoculturas em todo o mundo durante os primeiros anos do século XXI. Dos 1,5
bilhão de hectares de terras agrícolas do mundo, 91% são destinados às
plantações extensivas de milho, soja, arroz, trigo e outras monoculturas. Com a
expansão da agricultura industrial, a diversidade de culturas em terra cultivável
reduziu e o uso de terras agrícolas se concentrou nas mãos de alguns grandes
produtores e de grandes empresas (CASTRO et al., 2019).
Toda a estrutura para manter esse modelo de produção tem submetido o
campo à visão mercadológica e tratado a agricultura familiar como não competitiva,
atrasada e empírica. Dessa forma, grande parte da produção das grandes
propriedades está voltada para commodities tais como: milho, soja e cana-de-
açúcar. Estes produtos são usados principalmente para alimentação animal,
combustível ou exportação. Infelizmente, não é prioridade a produção de alimentos
que atendam aos hábitos alimentares da população, os quais são abastecidos
majoritariamente por produtores familiares (WARMLING; MORETTI-PIRES, 2017).
Além disso, as políticas governamentais das últimas décadas promoveram a
aceitação e o uso dessas tecnologias. O agronegócio é beneficiado pela lentidão e
16

omissão do Estado, por meio da justificativa de que o bem do agronegócio é de


interesse nacional (LEAHY; SCHIPANI, 2018). Quando se alega que a agricultura
é a grande responsável pela elevação do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil,
ignora-se que o PIB não considera qualidade de vida ou mesmo o desgaste da
natureza, mas somente o capital. Uma vez que o agronegócio é responsável pelo
avanço da balança comercial, em paralelo age como vilão, pois também é um dos
responsáveis pela miséria humana e ecológica (SERRA et al., 2016). O modelo de
negócio do agronegócio busca o constante aumento da produção, fazendo uso de
meios controversos e que, muitas vezes, incluem o desmatamento de áreas verdes,
a contaminação do solo e da água e a exploração do trabalhador rural (OLIVEIRA
et al., 2016).

3.1.1 O Brasil e a produção de trigo

O Brasil é o décimo sexto produtor mundial de trigo, com importações muito


superiores às exportações, tanto para o trigo em grão como para a farinha de trigo.
A produção brasileira é de 6,2 milhões de toneladas, representando 54% do
consumo nacional (CONAB, 2022). A região Sul é a maior produtora com 2,3
milhões de toneladas, representando 86% da produção nacional. Paraná e Rio
Grande do Sul são os Estados líderes em produção de trigo no Brasil (COÊLHO,
2021).
Os fatores que influenciam o cotação do trigo no Brasil são: i) o dólar, já que
se trata de um produto com maior importação que produção; ii) a produção de
outros países tradicionalmente vendedores de trigo para o Brasil, como Argentina
86% (US$ 71 milhões; 216,3 mil toneladas), seguida pelo Uruguai 5% (US$ 4,12
milhões; 12,3 mil toneladas), dentre outros; iii) os fatores relacionados à produção,
como condições climáticas e políticas de comércio exterior e iv) nível de
abastecimento dos moinhos brasileiros (COÊLHO, 2021).
Apesar dos esforços das pesquisas em todas as áreas e dos reais avanços
conquistados, o Brasil ainda não conseguiu produzir trigo de forma competitiva o
suficiente para impedir o predomínio do produto argentino, sobretudo após a
consolidação do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Além disso, por questões
17

de solo, clima e custos de produção elevados, a produção brasileira encontra


dificuldades para avançar em termos de produção e produtividade. A elevação dos
custos da produção interna, diante de uma produção argentina bem mais barata,
praticamente tem eliminado a possibilidade de produção de trigo com tecnologia
mais avançada junto ao grande número de produtores, em especial àqueles com
menor área semeada (CAMPONOGARA et al., 2015).

3.2 A IMPORTÂNCIA DO SOLO PARA A AGRICULTURA

O solo é o recurso natural que o homem utiliza como alicerce para a


construção de suas casas, cidades, indústrias, hospitais e estradas (MENDES et
al., 2018). Porém, antes disso, o solo é a base de sustentação de todo habitat
vegetal e animal, decorrente da interação dos fatores de sua formação: clima,
relevo, tempo, material de origem e organismos (SILVA et al., 2020). O solo é
considerado um sistema natural vivo e dinâmico, responsável pela regulação da
produção de alimentos e pelo balanço global do ecossistema (ARAÚJO;
MONTEIRO, 2007).
O solo propicia um meio para o crescimento vegetal, através do suporte
físico, disponibilidade de água, nutrientes e oxigênio para as raízes. O solo também
pode atuar na regulação hídrica do ambiente e na transformação e degradação de
compostos poluentes. Ele garante a sustentação dos ecossistemas terrestres e
representa um balanço entre os fatores físicos, químicos e biológicos. Os principais
componentes do solo incluem: i) minerais inorgânicos (partículas de areia, silte e
argila); ii) formas estáveis e instáveis da matéria orgânica derivadas da
decomposição pela biota do solo; iii) a própria biota, composta de minhocas,
insetos, bactérias, fungos, algas e nematoides e iv) gases como O2, CO2, N2, NOx
(ARAÚJO; MONTEIRO, 2007).
A disponibilidade de nutrientes depende da capacidade do solo em filtrar e
armazenar água e minerais, ser fonte de matérias-primas, participar dos ciclos
naturais, além de possuir um papel de destaque nas questões ecológicas
(FERREIRA, 2008), uma vez que o solo abriga a maior biodiversidade microbiana
do planeta (MENDES et al., 2018). A maioria desses microrganismos,
18

particularmente aqueles que habitam a rizosfera, realizam interações com


benefícios para a planta e o ecossistema como um todo (ARORA; MISHRA, 2016).
Os processos fisiológicos da planta, microrganismos e solo, bem como suas
interações, afetam questões como mudanças climáticas e ciclo do carbono,
impactando diretamente a agricultura (ROOSE; SCHNEPF, 2008).
O solo apresenta seis principais funções, três ecológicas e três ligadas à
atividade humana. Entre as funções ecológicas estão: i) produção de biomassa
(alimentos, fibras e energia); ii) filtração, tamponamento e transformação da matéria
para proteger o ambiente da poluição das águas subterrâneas e dos alimentos; iii)
habitat biológico e reserva genética de plantas, animais e organismos. As funções
relacionadas às atividades humanas incluem: i) meio físico que serve de base para
estruturas industriais e atividades socioeconômicas, habitação, sistema de
transportes e disposição de resíduos; ii) fonte de material particulado (areia, argila
e minerais); iii) parte da herança cultural, paleontológica e arqueológica, importante
para preservação da história da humanidade (ARAÚJO; MONTEIRO, 2007).
No Brasil, os solos são bastante diversificados e de vários tipos e origens
geológicas. Cada um deles necessita de um tratamento distinto e os agricultores
devem conhecer as melhores práticas que devem utilizar para cada solo. Afinal, a
maneira como cada produtor conduz a sua propriedade resulta em impactos
decisivos no meio ambiente. De acordo com as Nações Unidas, quase um terço
das terras cultiváveis do mundo desapareceu nas últimas quatro décadas. O mau
uso do solo resulta na poluição agrícola, industrial e comercial, perda de terras
aráveis, práticas agrícolas insustentáveis e mudanças climáticas de longo prazo
(CROPLIFE, 2020).
O solo contém cerca de três vezes mais carbono do que a atmosfera. Solos
que poderiam estar sequestrando o carbono da atmosfera acabam por liberá-lo,
acrescentando mais dióxido de carbono na atmosfera e favorecendo as mudanças
climáticas. Além disso, solos bem manejados têm sua estrutura preservada,
favorecendo a infiltração de água, aumentando a recarga dos lençóis freáticos e
evitando o escorrimento superficial e enxurradas, levando à diminuição das
enchentes e da erosão (EMBRAPA, 2020).
19

3.3 A CULTURA DOS AGROTÓXICOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Os agrotóxicos, também conhecidos como agroquímicos e defensivos


químicos são, segundo o art. 1º do Decreto nº 4.074/2002:
Art. 1o Para os efeitos deste Decreto, entende-se por:
(...)
IV - agrotóxicos e afins - produtos e agentes de processos físicos,
químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no
armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens,
na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas
e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar
a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa
de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e
produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e
inibidores de crescimento (...) (BRASIL, 2002).

Costumeiramente, são conhecidos pela sua função de combate e prevenção


a pragas agrícolas. Os agrotóxicos estão no mercado sob a forma de inseticidas,
fungicidas, herbicidas, nematicidas, acaricidas, rodenticidas, moluscicidas,
formicidas, reguladores e inibidores de crescimento (BELCHIOR et al., 2014). Eles
são capazes de evitar a ação danosa dos seres vivos nocivos às plantações e flora
nativa, propiciando sua preservação, uma colheita mais rápida e maior
produtividade. A forma de atuação dos agrotóxicos é complexa (Figura 1), pois não
é possível dimensionar as consequências de sua utilização. Independentemente do
tipo e da forma que é aplicado, é bastante provável que se disperse, causando
graves consequências em um espaço indeterminado (SERRA et al., 2016).
Ao observar a função dos agrotóxicos, até mesmo no contexto da Revolução
Verde, percebem-se grandes avanços e o obscuro desenvolvimento trazido por
esta novidade no setor agropecuário. Os agrotóxicos possuem suas vantagens,
principalmente o aumento da produtividade e redução da insegurança alimentar.
Porém, desvantagens manifestas quanto à saúde humana, da natureza e graves
violações aos direitos humanos não podem ser desconsideradas (SERRA et al.,
2016).
20

Figura 1 – Dinâmica de contaminação por agrotóxicos em solos e águas

Fonte: Adaptado de Belchior (et al., 2014).

Estudos realizados nas últimas décadas revelam que os agroquímicos


afetam negativamente a saúde de quem consome e de quem cultiva (PERES et al,
2005; SIQUEIRA et al., 2013). A exposição aos agrotóxicos pode causar a
intoxicação no indivíduo por meio de absorção dérmica, inalação ou por intermédio
de alimentos contaminados (LOPES; ALBUQUERQUE, 2021) e, até mesmo, a
lactentes pelo consumo de leite materno (SANDES, 2022). As consequências vão
desde intoxicações agudas até efeitos tardios, como alguns tipos de câncer
(LOPES; ALBUQUERQUE, 2021).
Esses agravos representam um aumento na demanda dos serviços públicos
de saúde como consequência de intoxicações agudas e doenças crônicas
relacionadas aos efeitos deletérios dos agrotóxicos. Dados do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN) indicam que o uso de agrotóxicos
e as intoxicações deles derivadas aumentaram de 2007 a 2016, ocupando o
segundo lugar entre as intoxicações exógenas e a primeira posição em letalidade
(FROTA; SIQUEIRA, 2021). Os impactos na saúde humana em relação à
21

exposição aos agrotóxicos incluem danos em mecanismos de defesa celular,


suicídio, dores no corpo, depressão, ansiedade, distúrbios respiratórios, linfoma
não Hodgkin, óbitos fetais, alterações hepáticas e hormonais, alterações em
sistemas reprodutores masculinos e femininos e perdas auditivas (LOPES;
ALBUQUERQUE, 2018).
São muitos os efeitos negativos causados pelo uso de agrotóxicos no meio
ambiente como a contaminação do solo, da água, do ar, causando a morte de
plantas e animais que neles vivem e deixando seu uso impróprio (BELCHIOR et al.,
2014). Os danos mais comuns e frequentes são causados à natureza devido à
lavagem de folhas tratadas com agrotóxicos, lixiviação, erosão, perda de fertilidade
e contaminação do solo, dos mananciais e das águas (SERRA et al., 2016). O
desequilíbrio ambiental ocasionado pelo uso de agrotóxicos pode resultar no
desenvolvimento de resistência nas pragas agrícolas e estes produtos, levando à
necessidade de aumentar as doses aplicadas ou recorrer a novos produtos. O
intenso uso de agrotóxicos também tem proporcionado o surgimento de novas
pragas e impactado comunidades de insetos controladores de vetores de doenças
(ALMEIDA et al., 2017).
Na contramão dessas evidências, o governo brasileiro vem cedendo à
pressão da indústria agroquímica multinacional por meio de ações como isenções
de impostos, paralisação dos processos de fiscalização das indústrias e
flexibilização das regras para o uso de agrotóxicos no país (ABRASCO, 2015;
FROTA; SIQUEIRA, 2021). O Brasil recebeu o título de maior consumidor de
agrotóxicos no ano de 2008 (SERRA et al., 2016) e continua no topo do ranking até
o presente (FROTA; SIQUEIRA, 2021). Exemplo disso, foi a liberação de 474
produtos no ano de 2019, 493 produtos em 2020 e de 500 novos agrotóxicos em
2021 (Figura 2), um novo recorde da série histórica iniciada em 2000 pelo Ministério
da Agricultura (SALATI, 2021).
Ainda existem outras preocupações de extrema relevância quando se trata
dos uso de agrotóxicos, tais como: o combate ao contrabando de agrotóxicos e a
importação de produtos não permitidos no país; o recorrente descumprimento pelas
empresas das normas de regulação da pulverização aérea; intoxicação aguda e
crônica da população; irregularidades na presença de resíduos de agrotóxicos em
água para o consumo humano e alimentos; da presença de agrotóxicos nos
22

alimentos; o condicionamento dos trabalhadores agrícolas para a adoção do


modelo de produção convencional (obtenção de crédito rural favorecendo o uso de
agrotóxicos) sem assistência técnica adequada e suficiente; redução da população
de insetos, como abelhas, essenciais para a polinização de várias plantas e
aumento de pragas resistentes aos agrotóxicos. Essas pautas demonstram as
fragilidades e as arbitrariedades da utilização de agrotóxicos no país, evidenciando
a necessidade de investimento nos órgãos de controle e fiscalização (ALMEIDA et
al., 2017).

Figura 2 – Crescimento de registro de agrotóxicos no Brasil

Fonte: Salati (2021).


23

3.4 A BUSCA DE OPÇÕES SUSTENTÁVEIS PARA O SISTEMA AGRÍCOLA


BRASILEIRO

A crise do paradigma tecnológico marcado pela Revolução Verde, em


relação aos seus impactos ambientais e redução da produtividade, impôs limites
cada vez maiores à expansão das empresas de sementes e de agrotóxicos. Ao
mesmo tempo, a diminuição da atividade de pesquisa e desenvolvimento de novas
substâncias químicas têm afetado os níveis de rentabilidade dessas empresas.
Essas condições ainda são agravadas pelo esgotamento da validade das patentes
de agrotóxicos, cujas vendas tendem a ser cada vez mais ameaçadas pela
concorrência com os produtos genéricos (ALBERGONI; PELAEZ, 2007).
Na perspectiva schumpeteriana, o processo concorrencial acontece não
apenas em função da maximização dos lucros, mas da própria sobrevivência e
permanência da empresa no mercado. Para tanto, a empresa deve procurar
adquirir vantagens competitivas por meio de novas mercadorias, novas tecnologias,
novas fontes de oferta e novos tipos de organização. Esse processo concorrencial
traduz-se em mudanças estruturais que são verificadas no surgimento de novas
demandas, novos hábitos dos consumidores e novas formas de se organizar a
produção (ALBERGONI; PELAEZ, 2007).
Os problemas ambientais decorrentes do uso de agrotóxicos mostram que é
necessário mudar o modo de produzir, o comportamento e o relacionamento das
sociedades com o ambiente (FERREIRA, 2008). A sociedade busca por uma
solução em que se tenha aumento da produtividade agrícola sem colocar em risco
a capacidade de carga do planeta. Ou seja, necessita-se de um novo modelo de
produção no campo. É admissível que essa expectativa seja alcançada, mas
depende da utilização das tecnologias corretas e para que estas sejam
estabelecidas são necessários estudos e análises profundas (SERRA et al., 2016).
A sustentabilidade de um sistema agrícola de produção está relacionada
com a possibilidade de acesso de todos os grupos sociais ao solo, água, outros
recursos e produtos (FERREIRA, 2008). Ou seja, traduz-se como a manutenção da
produtividade ao longo do tempo, envolvendo fatores físicos, bióticos e aspectos
relativos à viabilidade econômica e sociocultural (GOMES et al., 2009).
24

Em termos de ação e aplicabilidade, o setor agrícola é um dos segmentos


que tem sido considerado como objeto de análise, inclusive no que se refere a
propostas de métodos e ferramentas de avaliação de sustentabilidade. O resultado
dessas análises podem ser um apoio importante na tomada de decisão de
produtores rurais, assim como na implantação de formas de produção sustentáveis
e de tal modo contribuir para o desenvolvimento de propriedades rurais (SEIDLER
et al., 2018).
Várias correntes de modos alternativos buscam uma produção agrícola
sustentável: a agricultura biodinâmica, orgânica, biológica, natural, permacultura e
a organo-mineral. Tais modelos alternativos de produção, possuem práticas e
princípios orientadores diferentes, mas compartilham a busca por um ideal de
sustentabilidade dos agroecossistemas (LOPES; LOPES, 2011). Porém, estes
modelos ainda não conseguiram se estabelecer como paradigmas de produção,
uma vez que o nível de adesão não foi suficiente para alterar o modo de produção
vigente (FERREIRA, 2008).
É importante ressaltar que os defensivos agrícolas utilizados hoje nas
lavouras são diferentes de quando se iniciou a primeira Revolução Verde. Podemos
considerar que a área tecnológica é o pilar para trazer a sustentabilidade que tanto
se quer, necessitando mais apoio e investimento neste setor (SERRA et al., 2016).
Para tanto, acredita-se que a prática agrícola pode ser orientada a partir do uso de
tecnologia de precisão, buscando o equilíbrio ecológico de lavouras agrícolas
(CASTRO et al., 2019).
As empresas e produtores rurais devem estar comprometidos com a
reposição dos recursos utilizados. Se por alguma circunstância os atores não
conseguirem recuperar o ambiente, deve haver uma compensação por meio da
equivalência entre os valores ambientais e os valores perdidos (SILVEIRA et al.,
2021). Nesse contexto, ficam implícitas as ideias de passivo ambiental, da
necessidade de se ter instrumentos de avaliação, de gestão, dos princípios da
precaução, do poluidor-pagador e dos mecanismos de reciclagem e conservação,
bem como da realização de investimentos em tecnologia de processos de
contenção ou eliminação de poluição (FERREIRA, 2008; BRASIL, 2010).
Paralelamente às alterações nos modos de elaboração de processos e
novas técnicas de produção ocorreram também mudanças nos valores sociais da
25

população. Ou seja, as transformações ambientais vêm refletindo no


comportamento dos consumidores, uma vez que os efeitos colaterais gerados pela
insustentabilidade do padrão de consumo refletem diretamente na vida cotidiana
das pessoas (NASCIMENTO et al., 2019). Os consumidores estão deixando de ser
agentes passivos para serem coparticipantes ativos no processo de transformação
da agricultura (FERREIRA, 2008). Consumidores e agricultores demonstram
interesse no estreitamento de relações. Há consciência, por parte de muitos
consumidores, do consumo responsável e preocupação com os agricultores em
torno da cadeia produtiva e o fomento à agricultura de base agroecológica
(LOVATTO et al., 2021).

3.4.1 Os bioinsumos como alternativa para a sustentabilidade agrícola

Os bioinsumos constituem hoje uma nova promessa tecnológica que abre a


possibilidade de reconciliar interesses dentro do âmbito agrícola, oferecendo
soluções inovadoras para responder a um crescimento cada vez maior por parte
dos consumidores e setor produtivo que exigem mudanças ao uso expressivo de
agrotóxicos (VIDAL et al., 2020). Os bioinsumos são uma alternativa que está cada
vez mais presente no manejo da cultura, complementando o manejo convencional,
por representarem opções economicamente atrativas e ecologicamente aceitáveis
(MARCHESE; FILIPPONE, 2018).
O termo bioinsumo, pela etimologia da palavra, pode ser “insumo de origem
biológica”. No entanto, não existe um conceito amplamente utilizado na literatura
que compreenda a complexidade e todo o escopo que envolve a demanda de usos
destes insumos para o sistema produtivo. No Brasil, o termo bioinsumo é usado
como sinônimo de produto biológico, bioproduto, produto de base biológica ou
ainda como exemplos de produtos, tais como: bioinseticidas, biofertilizantes,
bioinoculantes e outros. Ainda, em sua grande maioria das vezes, é referido como
um termo de uso para os sistemas agrícolas, ocultando seu grande potencial de
aplicação na produção animal e no processamento de produtos de origem animal
e vegetal. É natural que essa relação aconteça já que, no Brasil, os maiores
avanços do setor de bioinsumos têm sido realizados especialmente no setor
26

agrícola para controle de pragas e doenças e para a nutrição de plantas e fertilidade


dos solos (VIDAL et al., 2020).
Um bioinsumo é um produto de origem biológica formulado com
microrganismos (por exemplo, bactérias, fungos, nematóides e vírus) ou com
compostos bioativos microbianos ou plantas, que limitam ou reduzem as
populações de pragas, ou são utilizados para melhorar a produtividade, a qualidade
e a saúde das plantas ou as características biológicas do solo (ALTIER et al., 2012;
MARCHESE; FILIPPONE, 2018; SAMADA; TAMBUNAN, 2020). Vários fatores
indicam que os bioinsumos são excelentes alternativas aos agroquímicos. Em
especial porque eles são altamente eficazes, têm um alvo específico e apresentam
menos riscos ambientais. Os bioinsumos podem vir de uma grande diversidade de
organismos e muitos produtos já foram lançados e registrados no mercado agrícola
(SAMADA; TAMBUNAN, 2020).
Os bioinsumos exercem um papel fundamental na proteção da cultura,
especialmente em áreas onde a resistência a pesticidas, nichos de mercado e
preocupações ambientais limitam o uso de agrotóxicos. Os bioinsumos mais
comumente usados são organismos vivos, patogênicos para a praga de interesse.
O crescente interesse no uso de bioinsumos pode estar relacionado aos benefícios
associados: i) benefício ecológico; eles são menos tóxicos e prejudiciais do que os
pesticidas convencionais, reduzindo assim a exposição dos consumidores aos
pesticidas regulamentados; ii) especificidade de alvo; projetado para afetar apenas
a praga alvo e organismos intimamente relacionados, em contraste com os
pesticidas convencionais que podem afetar outros organismos diferentes, como
pássaros, insetos e mamíferos; iii) ambientalmente benéfico; muitas vezes são
eficazes em pequenas quantidades, decompõem-se rapidamente, resultando em
menor exposição e efeitos adversos limitados no meio ambiente, flora e fauna e
evitando problemas de poluição e; iv) adequação; reduz muito o uso de pesticidas
convencionais quando usados como um componente de programas de manejo e
controle de pragas, enquanto os rendimentos das colheitas permanecem altos
(ABBEY et al., 2019).
Alguns países têm alterado suas políticas para desencorajar o uso de
produtos químicos e promover bioinsumos (AJMAL et al., 2018). Há um esforço
internacional no sentido de organizar as ações de incentivo a bioinsumos, dentre
27

elas: harmonizar conceitos, propor testes necessários para registro, estimular


novos processos de registros que considerem as multifuncionalidades dos
bioinsumos, adequar marcos regulatórios e normativos, instituir linhas de fomento
ao desenvolvimento dos bioinsumos (VIDAL et al., 2020).
No desenvolvimento de um bioinsumo, são utilizadas estratégias que
surgem do estudo e caracterização do que acontece nas diferentes interações das
plantas com seu ambiente. A ideia é buscar na própria natureza, onde existe um
grande número de produtos, estratégias que podem ser utilizadas para o manejo
sustentável de pragas e doenças de plantas (MARCHESE; FILIPPONE, 2018). Mas
o custo de fabricação e as barreiras de mercado devido à popularidade atual dos
fertilizantes químicos estão se tornando um problema para a indústria. Outro grande
problema que vem como um empecilho para a promoção de bioinsumos é que seu
modo de ação, efeitos e questões regulatórias ainda são desconhecidos pelo
público e formuladores de políticas. Portanto, sua importância ainda não é
amplamente compreendida. Há uma necessidade de conscientizar os agricultores,
legisladores, governo e fabricantes para entender a importância dos bioinsumos
(AJMAL et al., 2018).
28

4 BIOINSUMOS: DESAFIOS E OPORTUNIDADES EM BUSCA DE UMA


AGRICULTURA MAIS SUSTENTÁVEL

Ricardo Eugenio Dill


Programa de Pós-graduação em Ambiente e Sustentabilidade. Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul (UERGS). E-mail: ricardo-dill@uergs.edu.br,
http://lattes.cnpq.br/5141988284904928

Alexandro Cagliari
Programa de Pós-graduação em Ambiente e Sustentabilidade. Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul (UERGS). E-mail: alexandro-cagliari@uergs.edu.br,
http://lattes.cnpq.br/9135929393903478

Resumo:
A agricultura em larga escala tradicionalmente faz uso contínuo de agrotóxico, os
quais podem trazer consequências negativas para o solo, para o ambiente e para
a saúde humana. Uma alternativa para reduzir os impactos gerados por esse
modelo de monocultura é o desenvolvimento de produtos de origem biológica como
alternativa aos tradicionais produtos químicos. Os bioinsumos são elaborados a
partir de um ativo biológico que apresenta baixa toxicidade de dano ao ambiente.
Sua elaboração industrial envolve uma cadeia de processos, protocolos, testes e
registros para permitir a comercialização e procedimentos para garantir a
qualidade, a eficácia e a segurança dos usuários e do ambiente. Além da
competição com o consolidado mercado de agroquímicos, os bioinsumos têm os
desafios de comprovar sua eficácia, segurança, e sua importância para uma
agricultura mais sustentável.
Palavras-chave: Bioprodutos. Sustentabilidade. Defensivos biológicos.

Abstract
Bioinputs: challenges and opportunities in search of a more sustainable
agriculture
Large-scale agriculture traditionally makes continuous use of pesticides, which can
have negative consequences for the soil, the environment and human health. An
alternative to reduce the impacts generated by this monoculture model is the
development of products of biological origin as an alternative to traditional chemical
products. Bioinputs are made from a biological asset that has low toxicity and
damages the environment. Its industrial elaboration involves a chain of processes,
protocols, tests and records to allow the commercialization and procedures to
guarantee the quality, effectiveness and safety of users and the environment. In
addition to competition with the consolidated agrochemical market, bioinputs face
the challenges of proving their effectiveness, safety, and their importance for a more
sustainable agriculture.
Keywords: Bioproducts. Sustainability. Biological defensive.
29

4.1 INTRODUÇÃO

O manejo ecológico é necessário para a produção agrícola sustentável. Os


bioinsumos são uma alternativa ao uso de insumos químicos, pois têm se mostrado
eficazes no manejo de pragas e na geração de produtos agrícolas sustentáveis
(SAMADA; TAMBUNAN, 2020). Os bioinsumos são insumos agrícolas
desenvolvidos a partir de um ingrediente ativo que seja natural, considerado ativo
biológico (ABBEY et al., 2019). Esses ativos geralmente têm baixa toxicidade e
agem com o intuito de eliminar a praga alvo sem agredir o meio ambiente,
promovendo a manutenção de insetos benéficos na lavoura e reduzindo a
dependência de aplicações constantes de outros produtos de origem química
(BRASIL, 2020).
De acordo com o Programa Nacional de Bioinsumos, conforme Decreto nº
10.375, de 26 de maio de 2020:
“Bioinsumo é todo produto, processo ou tecnologia de origem vegetal,
animal ou microbiana, destinado ao uso na produção, no armazenamento
e no beneficiamento de produtos agropecuários, nos sistemas de
produção aquáticos ou de florestas plantadas, que interfiram
positivamente no crescimento, no desenvolvimento e no mecanismo de
resposta de animais, de plantas, de microrganismos e de substâncias
derivadas e que interajam com os produtos e os processos físico-químicos
e biológicos” (BRASIL, 2020).

O interesse no uso de bioinsumos está relacionado aos benefícios


associados que incluem: baixa toxicidade e menos danos do que os agroquímicos
convencionais; os ativos biológicos podem ser bastante específicos aos patógenos,
resultando em segurança ambiental; os produtos biológicos são úteis para o
gerenciamento da resistência; reduzem muito o uso de pesticidas convencionais
quando usados como um componente de programas de manejo integrado; muitos
ativos biológicos não têm intervalo de reentrada na lavoura, possibilitando que os
produtores possam escolher quando é melhor para a safra; e dependendo da
formulação, os bioinsumos são adequados para uso na produção orgânica
certificada. Além disso, os bioinsumos são eficazes em pequenas quantidades e se
decompõem rapidamente, sem deixar resíduos na lavoura (CROPLIFE, 2020).
Os insumos para a agricultura desenvolvidos a partir de microrganismos
benéficos surgem em resposta à demanda dos mercados mundiais por alimentos
de alta qualidade, produzidos de forma ecologicamente correta, rastreável e inócua
30

(ALTIER et al., 2012). O seu uso oferece aos agricultores e produtores a


oportunidade de satisfazer as necessidades dos consumidores de hoje, que agora
estão bem informados e esclarecidos sobre sua saúde e os alimentos que
consomem (ABBEY et al., 2019).
Este artigo de revisão tem como objetivo discutir o desenvolvimento, a
produção, a regulamentação, os benefícios e as dificuldades na utilização dos
bioinsumos na agricultura e seu potencial papel transformador na direção de uma
atividade agrícola menos agressiva e ambientalmente sustentável.

4.2 O TRADICIONAL USO DE AGROTÓXICOS NA AGRICULTURA

O consumo de agrotóxicos está diretamente ligado com o modelo de


agricultura comercial/industrial intitulado “agronegócio”, onde um produto químico
é sintetizado para combater pragas agrícolas (SERRA, et al. 2016). O aumento da
utilização desses agrotóxicos está relacionado à evolução da produção agrícola e
da expansão da monocultura, sistema que altera o equilíbrio do ecossistema e afeta
a biodiversidade, favorecendo o surgimento de pragas e doenças
(VASCONCELOS, 2018).
O Brasil se destaca por ser um dos maiores consumidores de agrotóxicos,
substâncias químicas ou biológicas que conferem proteção às lavouras contra o
ataque e a proliferação de insetos, fungos, bactérias, vírus, ácaros, nematoides e
ervas daninhas. A utilização em grandes quantidades desses produtos, também
conhecidos como pesticidas, agroquímicos e defensivos fitossanitários ou
agrícolas, é resultante de diversos fatores. O clima tropical é um dos principais
fatores, uma vez que a agricultura brasileira não conta com o período definido de
inverno para interromper o ciclo das pragas, como ocorre em locais de clima
temperado (VASCONCELOS, 2018; PEDRAZZOLI; HERRMANN, 2016).
Os pesticidas químicos, principalmente os de amplo espectro, são
largamente utilizados na agricultura brasileira com o objetivo principal de
erradicação de pragas de diversas culturas (VALICENTE et al., 2018). Contudo, o
emprego dos agrotóxicos no manejo da lavoura é um dos pontos mais polêmicos,
em termos de impactos ao ambiente. A controvérsia sobre os agrotóxicos está no
31

fato de que os reflexos da sua utilização não são percebidos em um curto prazo
(FERREIRA, 2008). Além disso, sua atuação além da lavoura é complexa, pois não
é possível dimensionar todas as consequências que sua utilização pode acarretar
(SERRA et al., 2016).
À medida que a produção agrícola se intensificou nas últimas décadas, os
produtores se tornaram cada vez mais dependentes de agroquímicos. Os
agricultores ao verem suas colheitas agrícolas declinando em rendimento e
produção, por muitas vezes, esperam um tratamento efetivo para torná-las
exuberantes, verdes e saudáveis. Como resultado, muitos produtores fazem o uso
indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes sem ter preocupação com seus efeitos
futuros (MISHRA et al., 2015). Em alguns casos, produtos e suas dosagens são
escolhidos pelo próprio agricultor de forma empírica, sem qualquer relação com as
normas mais simples dos receituários agronômicos. A consequência dessa conduta
causa sérios problemas ao ambiente, pois a utilização não é efetiva, o que acaba
levando o agricultor a aumentar as dosagens, a frequência de aplicações e o
número de componentes no coquetel, em inúteis tentativas de otimizá-lo
(ROMEIRO; GARCIA, 2009).
O uso de agrotóxicos persiste em virtude da facilidade de serem encontrados
no mercado e pela eficiência no controle do patógeno-alvo, mesmo não possuindo
rápida degradabilidade e acumularem-se em níveis que podem causar danos ao
ambiente (VALICENTE et al., 2018). Historicamente, os agroquímicos auxiliaram
no aumento de rendimento na produção agrícola, mas em contrapartida, estão
continuamente se acumulando no ambiente, prejudicando o ecossistema,
causando poluição e doenças em níveis alarmantes em regiões com enfoque na
produção agrícola (MISHRA et al., 2015). Os efeitos negativos dos agrotóxicos nos
ecossistemas naturais e cultivados incluem a alteração da microbiologia do solo, a
morte de polinizadores e de organismos que controlam as populações de pragas.
Além disso, o uso excessivo de agrotóxicos na agricultura pode levar à eutrofização
de cursos d’água, lagos e mananciais, acidificação dos solos, contaminação de
aquíferos, geração de gases associados ao efeito estufa e destruição da camada
de ozônio (GOMES, 2019).
O uso indiscriminado de fertilizantes químicos também representa grande
risco de contaminação humana e ambiental. A utilização de fertilizantes tem o
32

intuito de melhorar a quantidade de nutrientes disponíveis no solo, aumentando


assim a produtividade e a quantidade de culturas. Porém, o uso indiscriminado
destes pode causar danos ao meio ambiente. Conforme a quantidade de
fertilizantes utilizados na agricultura, e o tipo do solo da região, este fica mais
propenso à erosão, por exemplo (SILVA et al., 2021).
A aplicação de fertilizantes no solo envolve a adição de elementos-traços
contidos nestes insumos, como impurezas providas de rochas, da corrosão de
equipamentos e de reagentes usados na sua manufatura. Embora as aplicações
tenham por objetivo adicionar ao solo elementos essenciais para a nutrição das
plantas, problemas como contaminação podem surgir quando metais pesados
(arsênio (As), cádmio (Cd), chumbo (Pb), mercúrio (Hg) e cromo (Cr), por exemplo)
potencialmente danosos ao ambiente são adicionados (MENDES et al., 2010).
Esses metais pesados possuem propriedades de bioacumulação no meio
ambiente e no tecido dos seres vivos, que não podem degradá-los, permanecendo
em caráter cumulativo ao longo da cadeia alimentar e proporcionando riscos
inerentes à saúde através da ingestão de alimentos. Os fertilizantes que
apresentam em sua composição nitratos e fosfatos, ao serem lançados nas
plantações, são posteriormente arrastados pela água pluvial para o leito dos rios
ou infiltram o solo, chegando aos lençóis freáticos e mananciais. Estes compostos
aumentam a população de algas e plantas, ocasionando distúrbios nas populações
aquáticas (PAULO; SERRA, 2015).

4.3 A DIVERSIDADE DE BIOINSUMOS COMO ALTERNATIVA AO USO DE


AGROTÓXICOS E AGROQUÍMICOS NA AGRICULTURA

Os bioinsumos compreendem três grandes categorias: (i) biofertilizantes, (ii)


bioestimulantes e (iii) biodefensivos (defensivos biológicos), que se diferenciam na
sua função predominante durante o desenvolvimento vegetal (Figura 3). Os
biofertilizantes são produzidos a partir de uma ou mais linhagens de
microrganismos benéficos que, quando aplicados no solo ou nas sementes,
promovem o crescimento da planta ou favorecem o uso de nutrientes em
associação com a planta ou sua rizosfera (ALTIER et al., 2012, SARITHA,
33

TOLLAMADUGU, 2019). Os biofertilizantes são capazes de atuar direta ou


indiretamente sobre o todo ou parte das plantas cultivadas, promovendo o aumento
de sua produtividade ou a melhoria de sua qualidade, incluídos os processos e
tecnologias derivados desta definição (BRASIL, 2020). Nesta classe de bioinsumo
estão incluídos os inoculantes à base de rizóbios, micorrizas e rizobactérias, que
promovem o crescimento das plantas (ALTIER et al., 2012).

Figura 3 – Categorias de bioinsumos para uso agrícola

Fonte: Adaptado de Brasil (2020) e DunhamTrimmer (2018).

Para os bioestimulantes (Figura 3) não existe uma definição universal, mas


a maioria dos autores se refere a estes como produtos que aumentam o
crescimento e a produtividade da lavoura e gerenciam o estresse abiótico da safra
(MARRONE, 2019). Os bioestimulantes contém substâncias naturais com
diferentes composições, concentrações e proporções, podendo ser aplicados
diretamente nas plantas, nas sementes e no solo, com a finalidade de incrementar
34

a produção, melhorar a qualidade de sementes, estimular o desenvolvimento


radicular, favorecer o equilíbrio hormonal da planta e a germinação mais rápida e
uniforme, interferir no desenvolvimento vegetal, estimular a divisão, a diferenciação
e o alongamento celular (BRASIL, 2020).
Entre os defensivos biológicos (Figura 3), encontram-se os agentes de
controle biológico, que são organismos (micro e macro) benéficos para a lavoura e
que fazem parte de um grande número de produtos fitossanitários. Os
microrganismos são estudados e incorporados a formulações – bioinseticida,
biofungicida, bioherbicida, bionematicida, bioacaricida –, permitindo
recomendações de uso de acordo com cada cultura, em função das pragas e
doenças que as afetam (DUNHAMTRIMMER, 2018; CROPLIFE, 2020; BRASIL,
2020). O modo de ação dos defensivos biológicos varia de acordo com os agentes
biológicos utilizados como ingredientes ativos e pode ser agrupado em relação ao
comportamento do organismo: predador, parasitoide, entomopatogênico,
competição por espaço e nutrientes, etc (ABBEY et al., 2019).
Nos defensivos biológicos também estão inclusas as substâncias químicas
naturais, divididas em: semioquímicos e bioquímicos (Figura 3) (CROPLIFE, 2020).
Ambas são produzidas a partir da manipulação de compostos químicos derivados
de organismos vivos e que podem ser utilizados como biodefensivos. Dentre as
substâncias extraídas para formulação destes produtos encontramos hormônios,
enzimas, feromônios e outros metabólitos naturais. Esses produtos são utilizados
como repelentes, indutores de esterilidade, modificadores de comportamento e
reguladores de crescimento (DUNHAMTRIMMER, 2018; ABBEY et al., 2019).
Muitos dos biodefensivos bem-sucedidos são baseados em compostos
produzidos pelos microrganismos que agem diretamente no patógeno. Por
exemplo, Bacillus thuringiensis produz proteína tóxica que se cristaliza no aparelho
digestório do inseto, causando sua morte (BODE, 2009). Outro produto, baseado
em B. subtilis, contém uma combinação de lipopeptídeos (agrastatinas)
(MARRONE, 2002), que são produzidos e otimizados na fermentação,
proporcionando maior e mais consistente eficácia de campo contra doenças
fúngicas do que esporos bacterianos vivos.
Algumas fitotoxinas são produzidas por microrganismos e apresentam
potencial herbicida (DUKE, DAYAN, 2011). O fungo Phoma macrostomina, por
35

exemplo, produz metabólitos fitotóxicos (novos ácidos tetrâmicos cíclicos) que


causam branqueamento e clorose quando aplicados como extratos em várias
espécies de folhas largas (BAILEY; FALK, 2011; GRAUPNER et al., 2006).
Dessa maneira, os defensivos biológicos têm modos de ação exclusivos,
complexos e, geralmente, múltiplos (MARRONE, 2019), o que significa que pragas
e patógenos causadores de doenças em plantas têm risco baixo de desenvolver
resistência a eles (GLARE et al., 2012). A maioria dos pesticidas químicos atuais
tem um único local de ação, atacando uma via metabólica vulnerável da praga.
Portanto, após o uso repetido de um pesticida químico, as pragas desenvolvem
resistência ao produto (Figura 4). Quando ocorre resistência, os pesticidas não
apresentam o desempenho esperado na lavoura (MARRONE, 2019).

Figura 4 – Diferenças entre agroquímicos e biodefensivos

Fonte: adaptado de Marrone (2019) e Abbey (et al., 2019).

Os biodefensivos também oferecem a vantagem de maior seletividade e


menor ou nenhuma toxicidade em comparação aos pesticidas químicos
convencionais (MISHRA et al., 2015). Muitos microrganismos usados em
biodefensivos oferecem uma série de benefícios adicionais além da virulência a um
alvo primário. As espécies de Trichoderma são conhecidas por aumentar a
absorção de macro e micronutrientes do solo pelas plantas (KÖHL et al., 2011) e
36

isolados específicos podem proporcionar benefícios substanciais ao crescimento


das plantas na ausência de uma doença (HARMAN, 2011). Fungos
entomopatogênicos também podem ter atividade antagônica contra patógenos de
plantas que atacam a mesma cultura (CLOUSTON et al., 2010). Benefícios
adicionais às atividades de controle de pragas podem ser um importante critério de
seleção em programas de triagem para escolher isolados comercialmente
atraentes, o que possibilita a oportunidade significativa para a comercialização de
biodefensivos como produtos com valor agregado (OWNLEY, 2010).

4.4 BIOPROSPECÇÃO E PRODUÇÃO DE BIOINSUMOS

O desenvolvimento de novos produtos de origem biológica envolve uma


cadeia de processos, protocolos, testes e registros para permitir a comercialização
no mercado (BAILEY; FALK, 2011; ABBEY et al., 2019; MARRONE, 2019). Os
processos estão apresentados em quatro etapas de estratégia de desenvolvimento
(Figura 5). A pesquisa e o desenvolvimento iniciam com a escolha de habitats e
nichos com alta biodiversidade para a disponibilidade de candidatos, onde são
coletados solo, insetos, flores ou outros materiais biológicos com o objetivo de isolar
microrganismos com potencial ação, seja defensiva, estimulante ou fertilizante
(MARRONE, 2019; CROPLIFE, 2020).
A seleção de microrganismos para bioinsumos é mais direcionada do que a
de compostos sintéticos para insumos químicos. Da extensa quantidade de
isolados coletada das amostras ambientais, menos de 1% dos isolados candidatos
eventualmente originam produtos de sucesso. Ou seja, o isolamento de
microrganismos de ambientes selecionados proporciona uma pré-triagem,
selecionando candidatos para uma avaliação mais específica (GLARE et al., 2012).
O tipo de amostra, as condições de armazenamento e o tempo desde a
coleta até o isolamento, o tratamento da amostra em laboratório, os métodos de
isolamento e a escolha dos meios de cultura, demonstram ter efeito sobre os tipos
de microrganismos e compostos naturais que serão prospectados (MARRONE,
2019). É essencial a organização e exploração de coleções de culturas
microbiológicas, com potencial de antagonismo ao patógeno, simbiose com as
37

espécies de interesse, mecanismos bioquímicos e adaptação às condições de


multiplicação em escala industrial de microrganismos para que se chegue a
produtos que resultem em maior segurança à produção agrícola (JUNIOR, 2016).
O conhecimento sobre os mecanismos dos sítios de ação dos bioinsumos
(Figura 5), o local onde efetivamente age a biomolécula, resulta no
desenvolvimento de produtos mais específicos, seletivos e eficazes (RAJPUT et al.,
2020). Isso faz com que organismos não alvo, não sejam afetados (SAMADA;
TAMBUNAN, 2020). Os inóculos selecionados são comparados com informações
conhecidas sobre isolados mantidos em coleções de microrganismos e avaliadas
as melhores correspondências (GLARE et al., 2012).
Os candidatos potenciais para elaboração de bioinsumos seguem para
produção e formulação em escala industrial (Figura 5). Um determinante para o
sucesso do bioinsumo é o meio de fermentação utilizado para favorecer a
diversidade de compostos produzidos pelos microrganismos em suas células ou
secretados no meio de cultivo. Posteriormente é realizada a otimização de
processos que aumentem o rendimento do microrganismo e dos compostos
produzidos durante a fermentação. O processo de fermentação microbiana
normalmente inicia em pequenos frascos de agitação, seguido do aumento de
escala em tanques de fermentação progressivamente maiores. A atenção durante
essa etapa de desenvolvimento do processo, focado na bioquímica metabólica,
possibilita produzir produtos com desempenho superior (MARRONE, 2019).
38

Figura 5 – Processo de desenvolvimento de produtos biotecnológicos

Legenda: O desenvolvimento de novos produtos de origem biológica envolve uma cadeia de


processos, protocolos, avaliações e registros para permitir a comercialização no mercado. (a) O
primeiro corresponde à pesquisa e desenvolvimento, realizado por meio da coleta de
microrganismos potenciais e a identificação desses organismos, permitindo estabelecer o melhor
processo/técnica para a multiplicação, preservação e a avaliação in vitro do comportamento do
microrganismo em condições controladas, assim como, a identificação dos metabólitos que são
produzidos pelo organismo em potencial. (b) Na sequência, inicia-se a produção e formulação em
escala industrial. A definição do composto ativo determina a forma e protocolos que serão adotados
para produzir e melhorar o rendimento do ativo biológico. Em todo o processo são adotados
procedimentos de controle de produção para garantir a qualidade do bioinsumo. Também é avaliado
o desempenho na planta e no patógeno e também o tempo de duração da sua viabilidade. (c) Testes
de campo avaliam o comportamento do produto em estações experimentais e casas de vegetação,
seguido de avaliação em lavouras de culturas agrícolas para determinar a eficácia da utilização em
larga escala do bioinsumo. (d) O último grupo de atividades envolvem a análise de segurança e
desempenho dos bioinsumos, que serão encaminhados para os órgãos reguladores. No Brasil, o
MAPA, a Anvisa e o IBAMA são os responsáveis por emitir o registro de utilização e comercialização.
Fonte: Adaptado de Marrone (2019) e CropLife (2020).

A formulação é crítica no desenvolvimento dos bioprodutos. Ela deve


assegurar a sobrevivência dos agentes microbiológicos que, por serem vivos, são
mais sensíveis à radiação solar, substâncias químicas, altas temperaturas, pH e
umidade. Para superar essas adversidades são utilizadas substâncias conhecidas
39

como adjuvantes que, se compatíveis com os ativos biológicos, permitem a


viabilidade, o crescimento e a reprodução desses organismos (CROPLIFE, 2020).
A formulação deverá atender as seguintes funções: a estabilidade do produto,
eficácia de aplicação, facilidade de uso e segurança, e maior persistência após a
aplicação (GLARE et al., 2012). Os produtos que apresentam as características
supracitadas possibilitam a criação de uma grande variedade de formulações, tais
como: concentrado emulsionável, pó molhável, paletes, gel emulsionável, spray,
suspensão concentrada e grânulos solúveis (BAILEY; FALK, 2011, CROPLIFE,
2020).
O projeto de elaboração de um bioproduto deve apresentar um conjunto de
especificações técnicas para a qualidade do bioinsumos desejado, sendo esse
desenvolvido com base no conhecimento do ciclo de vida do patógeno alvo, nicho
ambiental, modos de ação ótimos e estratégia de formulação/aplicação provável.
O modelo é então comparado com informações conhecidas sobre isolados
mantidos em coleções de microrganismos e avaliadas as melhores
correspondências (GLARE et al., 2012). Depois da estabilidade da formulação, são
realizados bioensaios miniaturizados. O bioproduto é testado contra insetos,
fungos, bactérias, ervas daninhas, nematoides, parasitas de vegetais e algas.
Esses alvos de ação são escolhidos de acordo com seu tamanho de mercado,
necessidade e potencial, além da facilidade de teste em laboratório (MARRONE,
2019).
O sucesso nos bioensaios permite que o bioinsumo siga para avaliar o
comportamento do produto em estações experimentais e casas de vegetação
(Figura 5), ou seja, a realização dos testes de campo. São necessários repetidos
testes de campo para cada produto candidato antes da liberação comercial. Esses
testes são conduzidos em casas de vegetação, estações de pesquisa ou pequenas
parcelas de fazendas comerciais, com o acompanhamento de especialistas em
desenvolvimento de campo e pesquisadores para determinar a eficácia em grande
escala, taxas de uso, tempo de pulverização e segurança do cultivo (MARRONE,
2019). À medida que se aprimora o conhecimento sobre plantas, pragas, doenças
e impactos do que é aplicado no campo, se aprimora o desenvolvimento de novos
produtos (CROPLIFE, 2020).
40

Para finalizar essa cadeia de desenvolvimento de bioinsumos é preciso a


avaliação de segurança, aprovação e registro. A validação dos bioinsumos envolve
a análise de segurança e desempenho dos insumos biológicos, que serão
encaminhados para os órgãos reguladores (Figura 5). No Brasil, o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) são os órgãos responsáveis por emitir o registro de utilização
e comercialização de bioinsumos. Enquanto o MAPA analisa a eficiência
agronômica do produto, a Anvisa avalia a toxicidade do produto e os riscos à saúde
humana e o IBAMA faz uma avaliação da periculosidade ambiental. O veto de
alguma das três instituições é suficiente para barrar a aprovação de um novo
bioinsumo (VASCONCELOS, 2018).
Entre os dados solicitados e avaliados no processo de liberação de
bioinsumos estão: autorizações para coleta e pesquisa do material biológico;
aquisição do Registro Especial Temporário (RET); identidade e pureza do ativo
biológico; protocolos padronizados para avaliação do material biológico; os
métodos analíticos usados para identificar o ativo; dados de eficácia; propriedades
físicas, químicas e biológicas; informações sobre o uso, processos de produção e
atividade em campo; possíveis efeitos na saúde humana; informações sobre
presença ou ausência de resíduos; efeitos em não-alvos e enquadramento em
especificações de referência (ERs), quando for o caso. Distinto dos defensivos
químicos, os produtos biológicos são registrados para um ou mais alvos biológicos,
ou seja, por pragas e doenças. Sendo assim, podem ser utilizados em qualquer
cultura na qual a praga ou doença esteja presente (CROPLIFE, 2020).

4.5 LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS PARA O MERCADO DE BIOINSUMOS

O principal desafio para a indústria de bioinsumos é cumprir as promessas


e expectativas dos usuários finais, do mercado e do público em geral (MISHRA et
al., 2015). Apesar das pressões sociais, preocupações com o ambiente,
necessidade de sustentabilidade e fertilidade de nossos campos agrícolas e apoio
de vários setores, incluindo governo e setor privado, os resultados quanto à adoção
41

de bioinsumos não são os esperados. É importante esclarecer que existem


limitadores e problemas associados às formulações baseadas em células. É devido
a esses inconvenientes que a utilização de bioinsumos ainda é muito inferior em
comparação aos produtos químicos. Neste sentido, esforços vêm sendo
empenhados no estudo do papel dos metabólitos e aditivos adicionados às
formulações que, juntamente com as células, podem tornar o produto mais
confiável e eficaz (ARORA; MISHRA, 2016).
Para o agricultor, devem ser claras as vantagens do uso dos produtos
biológicos em sua propriedade. Para isso, o benefício que se espera do tratamento
biológico deve ser compatível com o custo ou investimento no método. Entende-se
por benefício não somente a ação direta do produto sobre o alvo, mas o fato dos
bioinsumos serem biodegradáveis, seguros ao homem, seletivos a outros
organismos e não causarem desequilíbrios quando comparados aos insumos
químicos (LOPES, 2009).
Apesar da eficiência momentânea, não se credita aos agrotóxicos seu “custo
ecológico”, ou seja, sua ação indesejada sobre o equilíbrio de um sistema agrícola,
sobre o ambiente ou sobre o homem. Sem dúvida, para se obter uma relação
positiva de custo-benefício, o produto microbiano deve ser compatível
economicamente com a condição do agricultor, desde as grandes empresas rurais
até o pequeno produtor rural. Contudo, o preço reduzido do produto comercial nem
sempre significa boa relação custo-benefício, pois muitos produtos são de
procedência duvidosa, péssima qualidade e comercializados sem critérios técnicos
(JUNIOR, 2015; LOPES, 2009).
O mercado agrícola está testemunhando um aumento na demanda por
produtos orgânicos ecológicos e livres de resíduos químicos. No entanto, o
crescimento em algumas regiões é prejudicado devido aos mercados bem
estabelecidos de pesticidas químicos, falta de conscientização sobre os benefícios
dos bioinsumos e eficiência desigual dos bioprodutos, resultando no atraso dessas
alternativas ecológicas de controle de pragas. Além disso, existem inconsistências
que os agricultores observam ao utilizarem bioinsumos. Os resultados, às vezes,
não são homogêneos ou consistentes e, portanto, os usuários se sentem confusos
e receosos ao adotar essas alternativas mais ecológicas. Os bioinsumos irão
requerer mais atenção dos agricultores do que produtos químicos. A condição é
42

pior nos países em desenvolvimento, onde a maioria dos agricultores ainda não
conhece quaisquer dos termos ligados aos bioinsumos e, muitas vezes, não possui
habilidades e formação suficientes para utilizá-los corretamente (MISHRA et al.,
2015).
É absolutamente necessário conscientizar os agricultores sobre o uso, a
eficácia, os benefícios e a importância dos bioinsumos (MISHRA et al., 2020). Os
bioinsumos diferem dos pesticidas sintéticos de maneiras fundamentais e muitas
vezes requerem manuseio e aplicação específicos, que não são bem
compreendidos pelos produtores, representantes de vendas e consumidores
(GLARE et al., 2012). A capacidade de resposta pode ser alcançada com a
introdução de certas atividades de extensão, como a organização de programas de
ensino e oficinas buscando promover uma agricultura sustentável usando produtos
biológicos. Orientação, explicação e monitoramento devem ser feitos regularmente,
procedendo a sessões interativas de questionário que incluirão conhecimento e
aprendizado dos agricultores sobre o uso, aplicação e manuseio (MISHRA et al.,
2015). As demonstrações na fazenda são o método mais eficaz para demonstrar a
eficácia dos bioinsumos, e é imperativo que mais dados de campo sejam coletados
porque a prova do efeito é a chave para a adoção (GLARE et al., 2012).
Os esforços de várias agências governamentais para popularizar o uso de
bioinsumos podem causar um impacto na elevação do status atual e na aplicação
em todo o mundo (MISHRA et al., 2015; 2020). É importante que o agricultor
entenda essa modalidade de controle biológico de pragas não como uma simples
substituição do produto químico convencional pelo biológico. Trata-se de uma
mudança mais profunda e que deve ser encarada com uma visão mais ampla,
dentro de um contexto de manejo integrado. Desse modo, é importante que o
insumo biológico não seja comercializado e utilizado como um simples produto,
mas sim como um pacote tecnológico ou processo de controle (LOPES, 2009).

4.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por décadas, os agroquímicos desempenharam o controle de pragas no


campo para auxiliar no desempenho da produção de alimentos. Porém, o seu uso
43

contínuo e indiscriminado resulta na poluição e degradação do ambiente, pragas


resistentes aos venenos utilizados, redução de que espécies benéficas e doenças
aos trabalhadores do campo e consumidores finais dos alimentos. Os bioinsumos
apresentam-se como a melhor alternativa para estimular uma agricultura que
respeite a sustentabilidade dos recursos naturais para o melhor desempenho do
próprio setor agrícola.
Em um sistema agrícola existe uma gama de organismos que se relacionam
de diversas maneiras, podendo trazer benefícios ou prejuízos para uma cultura.
Quando a atividade da relação desses organismos é avaliada, acaba por se
desenvolver em uma diversidade de produtos biológicos que tem o intuito de
auxiliar no desenvolvimento vegetal e combater pragas e patógenos que colocam
o rendimento da produção em risco. A diversidade de bioinsumos e as formas como
agem são as mais diversas e cada uma possui complexidade própria, uma vez que,
cada ativo biológico é específico ao patógeno alvo.
A elaboração de um bioinsumo envolve uma cadeia de processos,
protocolos, avaliações e registros para permitir a comercialização no mercado.
Envolve muita pesquisa de organismos potenciais, ciclos de desenvolvimento de
processos fermentativos, identificação dos ativos biológicos, otimização da
formulação e utilização dos bioprodutos no campo. Todos esses processos devem
ser rigorosamente registrados para garantirem a segurança e qualidade do produto
desenvolvido para serem avaliados por instituições (MAPA, Anvisa e IBAMA),
responsáveis por emitir o registro de utilização e comercialização de bioinsumos.
A aceitabilidade dos agricultores é que irá garantir a perpetuação dos
bioinsumos como novo recurso para o controle de pragas na agricultura. Eles
devem orientar de forma adequada o modo de utilização do produto que está
comprando e os benefícios que os bioinsumos apresentam em comparação com
os agrotóxicos. Por fim, os bioinsumos oferecem soluções para preocupações
como a resistência das pragas aos pesticidas químicos tradicionais e a
preocupação pública sobre os efeitos colaterais dos pesticidas no ambiente
circundante e na saúde humana.
44

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18-27. 2018.
47

5 O POTENCIAL E O DESAFIO DO MERCADO BRASILEIRO DE BIOINSUMOS

Ricardo Eugenio Dill


Programa de Pós-graduação em Ambiente e Sustentabilidade. Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul (UERGS). E-mail: ricardo-dill@uergs.edu.br,
http://lattes.cnpq.br/5141988284904928

Alexandro Cagliari
Programa de Pós-graduação em Ambiente e Sustentabilidade. Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul (UERGS). E-mail: alexandro-cagliari@uergs.edu.br,
http://lattes.cnpq.br/9135929393903478

Resumo:
O Brasil ocupa posição de destaque no mundo como produtor de alimentos, fibras
e biocombustíveis. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO), cerca de 40% da produção agrícola mundial pode ser perdida
todos os anos devido ao ataque de pragas. Os bioinsumos são ambientalmente
mais seguros do que os agroquímicos convencionais e novos produtos estão
surgindo no comércio de insumos agrícolas. Aqui discutimos o cenário atual do
mercado brasileiro de bioinsumos, enfatizando os desafios e oportunidades para
uma agricultura mais limpa e sustentável. O Brasil tem potencial para ser líder
mundial no setor de bioinsumos, especialmente por conter um potencial inestimável
para a biodiversidade e geodiversidade. No entanto, existem limitações que
precisam ser avaliadas no desenvolvimento da produção de bioinsumos. O
potencial do bioinsumo brasileiro e o atual regime regulatório brasileiro para
agentes de controle biológico também são discutidos. Também discutimos como os
investimentos em pesquisa e a integração do setor público-privado têm potencial
para impulsionar o mercado de bioinsumos no Brasil.
Palavras-chave: Agronegócio. Bioprodutos. Sustentabilidade.

Abstract:
Brazil occupies a prominent position in the world as a producer of food, fiber and
biofuels. According to the Food and Agriculture Organization of the United Nations
(FAO), about 40% of the world's agricultural production can be lost every year due
to pest attacks. Bioinputs are environmentally safer than conventional
agrochemicals and new products are appearing in the agricultural input trade. Here
we discuss the actual scenario of the Brazilian bioinput market, emphasizing the
challenges and opportunities towards a more clean and sustainable agriculture.
Brazil has the potential to be the world's leader in the bioinput sector, especially as
it contains an invaluable potential for biodiversity and geodiversity. However, there
are limitations that need to be evaluated in the development of bioinput production.
The Brazilian bioinput potential and the current Brazilian regulatory regime for
biological control agents are also discussed. We also discuss how research
investments and the integration of the public-private sector has the potential to boost
the bioinput market in Brazil.
Keywords: Agribusiness. Bioproducts. Sustainability.
48

5.1 INTRODUÇÃO

O Brasil ocupa uma posição de destaque no mundo como produtor de


alimentos, fibras e biocombustíveis (IBGE, 2017). Nas últimas três décadas, o Brasil
teve crescimento de 360% na produção agrícola de grãos, enquanto o uso de suas
terras para esse fim cresceu 56%. Em 1980, eram produzidas 52,21 milhões de
toneladas de grãos em 40,38 milhões de hectares. No ano de 2018, a safra atingiu
242,12 milhões de toneladas em 63,22 milhões de hectares (CROPLIFE, 2020a).
De acordo com o levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento
(CONAB), a safra 2021/22 aponta para crescimento na produção de grãos frente à
temporada 2020/21, com indicativo de um volume total de 291,1 milhões de
toneladas (CONAB, 2021).
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO), cerca de 40% da produção agrícola do mundo pode ser perdida todos os
anos pelo ataque de pragas. Em especial no Brasil, o clima favorece que a
diversidade e a população das pragas (que inclui invertebrados, patógenos e ervas
daninhas), sejam bem maiores do que em países com o inverno intenso.
Analisando a produção das culturas da soja, milho e algodão, os prejuízos por não
haver o controle das pragas podem variar de 9,5% até 40%. Essas culturas
respondem por cerca de 86% da área plantada com grãos e cereais e 35% das
exportações do agronegócio brasileiro (CROPLIFE, 2020a).
Os principais desafios do agronegócio são estabelecer alternativas cada vez
mais diversificadas, buscando na ciência novas estratégias de manejo e que
agreguem sustentabilidade na agricultura (CROPLIFE, 2020b). Bioinsumos
despontam como alternativa ao uso de agrotóxicos, pois se apresentam eficazes
no manejo de pragas e na geração de produtos agrícolas sustentáveis (SAMADA;
TAMBUNAN, 2020). A introdução dos insumos de origem biológica tem sido
incorporada como estratégia bastante eficiente no agronegócio (CROPLIFE,
2020b). Diversas empresas com interesse nesse mercado acompanham essa
tendência, criando novas oportunidades de emprego, gerando renda e protegendo
o meio ambiente, por se tratar de tecnologia com baixo risco ambiental (ALMEIDA;
FILHO; LEITE, 2016).
49

Esse artigo de revisão tem como objetivo discutir a evolução do mercado


brasileiro de bioinsumos e suas potencialidades para uma produção agrícola mais
segura e sustentável a longo prazo.

5.2 MERCADO BRASILEIRO DE BIOINSUMOS

O investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas técnicas de


produção e formulação de novos produtos no setor de defensivos agrícolas é
bastante elevado (PEDRAZZOLI; HERRMANN, 2016; ALMEIDA; FILHO; LEITE,
2016). A valorização de produtos biológicos tem sido em torno de 20% ao ano, o
que torna o investimento nesses produtos muito atrativo, inclusive com muitas
possibilidades de inovação para as empresas (ALMEIDA, 2020). As novas
tecnologias, como os produtos biológicos de controle e os bioinsumos em geral,
são importantes na otimização de recursos naturais (CROPLIFE, 2020c).
Os bioinsumos permitem uma abordagem sustentável para a melhoria da
produção agrícola, o que deve aumentar seu uso e popularidade ao longo dos anos
(MISHRA et al., 2015). Em razão da demanda da sociedade, da implantação de
sistemas de rastreamento e certificados de origem, do apoio da academia com um
considerável número de pesquisas em controle biológico e a profissionalização das
empresas (PEDRAZZOLI; HERRMANN, 2016), o governo brasileiro tem provido
incentivos para o desenvolvimento e certificação de bioinsumos (BRASIL, 2020). O
futuro do controle biológico por biodefensivos no Brasil é promissor, não somente
nos indicadores, mas principalmente na qualidade, uma vez que a sua utilização
em cultivos extensivos deverá crescer, exigindo que sua eficiência seja maior
(PEDRAZZOLI; HERRMANN, 2016).
O controle biológico no século XXI consiste na potencialização do uso de
organismos ou de substâncias de ocorrência natural para prevenir, reduzir ou
erradicar a infestação de pragas e doenças nas culturas agrícolas. O sucesso do
controle biológico tem acontecido em virtude dos investimentos em pesquisa e
desenvolvimento de produtos cada vez mais modernos e tecnológicos. O reflexo
disso é observado no número e na variedade de produtos para proteção de culturas
que aumentaram significativamente ao longo do tempo (CROPLIFE, 2020b).
50

No Brasil, a crise decorrente da infestação com a lagarta Helicoverpa


armigera em 2013 foi um componente efetivo para impulsionar o crescimento do
setor. Em 2017, por exemplo, o número de patentes registradas para biodefensivos
foi maior do que para defensivos químicos (CROPLIFE, 2020b). Neste sentido, a
aprovação de novos produtos biológicos de controle é importante, pois aumentam
a oferta de novas tecnologias e também a concorrência de mercado, resultando em
um comércio mais justo e com menores custos de produção para a agricultura
brasileira (CROPLIFE, 2020d).
A adoção dos bioinsumos tem aumentado ao decorrer dos anos como
consequência da aceitação dos produtos junto aos agricultores. A principal
característica associada à adoção desses produtos é que os produtos biológicos
não deixam resíduos, atendendo às exigências do mercado em relação aos
resíduos nos alimentos. Entre outros fatores que favorecem a adoção, os
produtores destacam a grande abrangência, eficiência e qualidade dos defensivos
biológicos comercializados. Os produtos biológicos de controle são os principais
responsáveis por proporcionar o crescimento do setor. O número de bioinsumos
disponíveis no mercado brasileiro mais do que dobrou nos últimos três anos e
movimentou mais de R$675 milhões em 2019, um crescimento de 15% em relação
a 2018 (CROPLIFE, 2020c).
Os bioinsumos acarretam uma economia ao País de aproximadamente U$33
milhões com o emprego de produtos para controle biológico, e da ordem de U$13
bilhões com a utilização da fixação biológica de nitrogênio, somente com a cultura
da soja. Esse incremento econômico tende a aumentar nos próximos anos,
especialmente em função da expansão do mercado de biológicos no Brasil e no
mundo, pelo potencial de produtividade da agricultura tropical sustentável e pela
demanda dos setores produtivos e da sociedade (BRASIL, 2020).
Nos sistemas agrícolas brasileiros, cerca de 10 milhões de hectares usam
bioprodutos para o controle biológico de pragas e, pelo menos, 40 milhões de
hectares são cultivados com bactérias promotoras de crescimento de plantas
(BRASIL, 2020). O setor de bioinsumos no Brasil movimenta cerca de R$1 bilhão
por ano e vem crescendo a uma taxa anual superior a 10%. Entre 2015 e 2019, 40
novas empresas produtoras de bioinsumos surgiram no setor no país, que somadas
51

às que estavam operando antes de 2015, totalizam 80 biofábricas (DALL’AGNOL;


NOGUEIRA, 2020).
O registro de novos bioinsumos, apresentou um aumento expressivo nos
quatro últimos anos, sendo registrados 52 novos produtos em 2018, 43 produtos
em 2019; 95 em 2020 e 92 novos produtos em 2021 (Figura 6). Atualmente, existem
411 produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) (BRASIL, 2021). Esses produtos (Figura 7), podem apresentar como
ingrediente ativo agentes macrobiológicos (ácaros, insetos e nematoides) e
microbiológicos (vírus, bactérias e fungos); semioquímicos (feromônios) e
bioquímicos (hormônios), destinados ao uso na produção, armazenamento e
beneficiamento de produtos agrícolas (CROPLIFE, 2020d).

Figura 6 - Crescimento de registros aprovados de bioinsumos no Brasil

Fonte: Brasil (2021).


52

Figura 7 - Produtos biológicos de controle disponíveis por ativo biológico no


mercado brasileiro

Fonte: Brasil (2022).

5.3 LEGISLAÇÃO SOBRE BIOINSUMOS NO BRASIL E O PROGRAMA


NACIONAL DE BIOINSUMOS

O atual regime regulatório de agentes biológicos de controle pertence à


mesma legislação dos agrotóxicos convencionais: a Lei 7.802 (BRASIL, 1989) e
Decreto 4.074 (BRASIL, 2002). A diferenciação dos dois grupos de produtos,
produtos biológicos e pesticidas, se dá através de Instruções Normativas do MAPA,
que dispensam os agentes biológicos de controle de algumas exigências
específicas de químicos. Há o consenso entre empresas, pesquisadores e
membros do governo de que para o crescimento do setor será necessário regras e
leis específicas para o setor de biológicos (PEDRAZZOLI, HERRMANN, 2016).
No Brasil, o MAPA, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA), são os órgãos responsáveis por emitir o registro de utilização e
comercialização de bioinsumos. Enquanto o MAPA analisa a eficiência agronômica
do produto, a Anvisa avalia a toxicidade do produto e os riscos à saúde humana e
o IBAMA faz uma avaliação da periculosidade ambiental. O veto de alguma das
53

três instituições é suficiente para barrar a aprovação de um novo defensivo agrícola


(VASCONCELOS, 2018).
Frente à necessidade de impulsionar a criação de novos bioprodutos foi
elaborado o Programa Nacional de Bioinsumos (PNB) e seu Conselho Estratégico,
instituído por Decreto Nº 10.375 (BRASIL, 2020). O decreto apresenta 15 artigos
que tratam da sua instituição e a estrutura de sua governança, o estabelecimento
de conceitos técnicos para a aplicação da norma, bem como a instituição de um
Colegiado multi setorial para formular o planejamento estratégico do Programa,
coordenado pelo MAPA (VIDAL et al., 2020). O programa foi desenvolvido alinhado
às necessidades de inovação nos segmentos agrícola, aquícola, florestal e
pecuário, a partir de uma ampla e longa discussão com diversos atores de
diferentes cadeias produtivas do agronegócio brasileiro (BRASIL, 2020).
O PNB tende a ampliar e fortalecer a utilização de bioinsumos na agricultura
e pecuária brasileira. Para tanto, algumas ações foram previamente identificadas e
descritas como essenciais, dentre elas: i) estabelecer base conceitual dos
bioinsumos e os assuntos relacionados, uma vez que não há na literatura um amplo
conceito aceito para o termo e que considere todo o escopo proposto no programa;
ii) realizar levantamento e análise da legislação correlata ao tema, com indicação
dos principais entraves normativos e respectivos impactos na execução de uma
política e na elaboração de marco regulatório que contemple as especificidades dos
bioinsumos e iii) organizar informações sobre produção, uso e consumo de
bioinsumos e sua dinâmica de mercado, disponibilizando informações qualificadas
ao setor de bioinsumos no país (VIDAL et al., 2021).
O PNB contém três grandes eixos temáticos de atuação: produção vegetal,
produção animal e pós-colheita e processamento de produtos de origem animal e
vegetal. Estes eixos compõem o programa e permitem que outros temas sejam
incorporados ao longo da implementação e sempre que necessário e acordado no
conselho estratégico (BRASIL, 2020). No primeiro eixo temático, o da produção
vegetal estão os temas: sanidade vegetal; fertilidade do solo, nutrição de plantas e
estresses abióticos; manejo de espécies. O tema Sanidade trata do manejo e
controle de pragas e doenças e envolve os bioacaricidas, biofungicidas,
feromônios, bioinseticidas, entre outros. Na Fertilidade do solo, nutrição de plantas
e estresses abióticos estão os inoculantes, biofertilizantes, bioestimulantes,
54

condicionadores de solo e outros. Ao considerar o tema Manejo de espécies


vegetais em sistemas diversificados, traz o uso e promoção de espécies
tradicionais e crioulas, com base no orgânica e agroecológica (BRASIL, 2020;
VIDAL et al., 2020).
No eixo de produção animal estão os seguintes temas: saúde animal;
alimentação animal; manejo animal e produção aquícola. O tema Saúde animal
compreende as biovacinas, fitoterápicos, biovermífugos e outros. Na Alimentação
animal estão contemplados os probióticos, suplementos, rações e outros. O Manejo
de raças animais em sistemas diversificados compreende as práticas de manejo de
espécies animais que apresentem equilíbrio entre rusticidade e produtividade com
base orgânica e agroecológica. Na Produção aquícola, busca-se promover a
alimentação, sanidade, tratamento de efluentes entre outros (BRASIL, 2020; VIDAL
et al., 2020).
Por fim, no eixo de pós-colheita e processamento de produtos de origem
animal e vegetal, estão os temas relativos à higienização, conservação,
embalagens. No tema Pós-colheita de produtos de origem vegetal estão
contemplados os higienizantes, bioconservantes, embalagens e outros. Para o
Processamento de produtos de origem animal e vegetal estão contemplados os
sanitizantes, bioestabilizantes, biofilmes entre outros (BRASIL, 2020; VIDAL et al.,
2020).
O programa foi formulado para promover um conjunto de práticas de
produção tendo como base o uso da biodiversidade produtiva e funcional brasileira,
com foco nos sistemas produtivos. Dessa forma, manteve em suas diretrizes as
normas de produção orgânica brasileira vigentes e, dessa forma, a partir do
atendimento destas exigências poderá beneficiar a produção orgânica e,
finalmente, toda a agricultura convencional (VIDAL et al., 2021).
O PNB foi construído em diálogo com o setor produtivo e representações
das diferentes esferas de produção, comercialização e consumo. Na sua criação
buscou integrar pesquisa, ensino, extensão e setor produtivo como indissociáveis
para causar resultados e se constituir como programa estruturante (VIDAL et al.,
2020). Como resultado desse diálogo, o MAPA, em conjunto com a EMBRAPA,
disponibilizou um aplicativo aos produtores rurais, onde pode-se consultar uma lista
55

de produtos de origem biológica indicados para nutrição, controle de pragas e


doenças de diversas culturas agrícolas (BRASIL, 2020).
O aplicativo Bioinsumos conta com 580 produtos biológicos disponíveis
destinados a combater mais de 100 pragas e plantas invasoras e ampliar a
absorção de nutrientes, favorecendo o crescimento de espécies vegetais. Desse
total, 265 são defensivos biológicos, entre eles encontram-se: 59% bioinseticidas
(495), 11% biofungicidas (89), 10% agentes biológicos de controle (87), 9%
bioacaricidas (72), 7% nematicidas (61), 4% biobactericida (29) e 0,24 bioformicidas
(02) (Figura 8). Os outros 315 itens são inoculantes insumos biológicos que contém
microrganismos com ação benéfica para o desenvolvimento das plantas
(bioestimulantes e biofertilizantes) (RODRIGUES, 2020).

Figura 8 - Distribuição dos defensivos biológicos disponíveis no mercado


brasileiro

Fonte: Adaptado de Bioinsumos (2020).

A oferta do aplicativo tem o objetivo de favorecer a conexão entre a oferta


dos produtos registrados e a demanda do setor produtivo, apoiando fornecedores
e compradores. Cada praga alvo possui uma ficha com uma breve descrição, além
de imagens, para facilitar a identificação pelo produtor. O aplicativo contempla a
56

ficha de cada produto indicado para o controle, especificando sua a marca, a


empresa que produz, o número de registro junto ao MAPA e para quais pragas é
recomendado. Também é possível consultar a especificação dos produtos, número
de registro no MAPA, entre outras informações relacionadas ao controle de pragas
e inoculantes (RODRIGUES, 2020).

5.4 PERSPECTIVAS FUTURAS E DESAFIOS AO MERCADO DE BIOINSUMOS

O Brasil tem o potencial para ser a maior referência mundial no setor de


bioinsumos, especialmente por conter uma inestimável e potencial biodiversidade
e geodiversidade. Há tecnologia, conhecimento, redes e muitos desafios produtivos
que podem estimular o desenvolvimento de alternativas a partir dos bioinsumos,
desde que haja iniciativas públicas que apoiem esses processos (VIDAL et al.,
2020). Produtos de qualidade, formulações fáceis de armazenar e usar, sistemas
eficientes de distribuição de produtos e regulamentações rígidas em relação à
fabricação e comercialização de bioinsumos são fatores-chave que formam a base
da pirâmide de desenvolvimento de bioinsumos (PATHMA et al., 2021).
Porém, existem limitadores que precisam ser avaliados em todo
desenvolvimento da produção de bioinsumos. Os principais limitadores para a
promoção de bioinsumos são: (i) a restrição de recursos como: indisponibilidade de
cepas adequadas, métodos de controle de qualidade, infraestrutura com
disponibilidade de espaço para estabelecimento de laboratório pesquisa e
desenvolvimento, área de produção industrial e esquema de armazenamento e
logistica; (ii) restrições de mercado com a falta de conscientização e garantia de
qualidade aos agricultores, restrições na comercialização em competição com os
insumos químicos e investimento financeiro relacionadas a bancos para
estabelecer as empresas produtoras; (iii) restrições de produção pela falta de
pesquisa e desenvolvimento para garantia de qualidade e, portanto, produção
limitada e a incapacidade de atender à demanda sazonal devido à falta de pessoal
qualificado; (iv) restrições de campo: fatores ambientais desfavoráveis, como solo
e clima que dificulta o desenvolvimento do microrganismo; (v) restrições técnicas
como: inóculo não autenticado, técnicas de manuseio incorreto e mutações dos
57

organismos, a falta de conscientização sobre os benefícios da tecnologia e


problemas na adoção de tecnologia devido a diferentes métodos de inoculação
(SARITHA; TOLLAMADUGU, 2019).
Para as empresas produtoras de bioinsumos superarem essas restrições
será necessário contínuo investimento em pesquisa e desenvolvimento de novos
produtos, realização de estudos moleculares com foco na expressão gênica e no
perfil proteico da planta hospedeira ou do organismo alvo (praga/fitopatógeno)
submetido à bioformulação microbiana, a fim de fornecer dados sobre os
mecanismos de promoção do crescimento vegetal ou no controle de pragas ou
doenças (PATHMA et al., 2021). A variabilidade do produto tem sido uma questão
importante no desenvolvimento de bioinsumos, mas o controle de qualidade para
lotes padronizados é reconhecido e incorporado aos sistemas de produção. A
formulação, onde vários compostos são adicionados com o agente ativo, é uma
tecnologia importante que tem sido usada para melhorar a entrega, a vida útil e a
eficácia de campo dos bioinsumos (GLARE et al., 2012).
A qualidade do produto entregue está relacionada com a produção em
massa dos microrganismos e seus bioativos, formulação do bioinsumos, entrega e
aplicação no alvo (GLARE et al., 2012). Serão necessárias pesquisas sobre os
materiais transportadores, adesivos, agentes emulsificantes e osmoprotetores
usados, requisitos ideais de umidade e temperatura influenciam o produto
(PATHMA et al. 2021). O tipo de embalagem deve garantir e manter a qualidade do
produto de forma a atender as expectativas dos usuários finais. A embalagem deve
garantir a vida útil dos ingredientes ativos e evitar a contaminação cruzada durante
o armazenamento, que é um fator importante para decidir o sucesso de
comercialização e uso pelo agricultor (MISHRA et al., 2020).
Outro fator decisivo para a comercialização dos bioinsumos é que devem ser
competitivos em preço, além de eficácia e consistência. No passado, a economia
da produção em massa, formulação e/ou aplicação limitou muito a chegada dos
bioinsumos ao mercado porque o preço de venda necessário para recuperar os
custos era proibitivo. Muitas vezes, o custo de fermentação de determinado
microrganismo é maior do que o custo de fabricação de um produto químico
sintético. Portanto, para serem competitivos no mercado, os isolados microbianos
devem ter alta potência contra a praga ou alta capacidade de rendimento durante
58

a produção. Ao considerar abertamente o custo de produção no início do processo


de desenvolvimento, as empresas evitam desenvolver produtos não lucrativos
(GLARE et al., 2012). É óbvio que o agricultor quer ter lucros e o bioinsumos tem
que ser economicamente viáveis, apresentando um custo benefício de utilização
favorável (PARRA; PINTO, 2016).
Quanto às restrições do campo existem muitos desafios que precisam ser
enfrentados para preservar a eficácia dos bioinsumos em condições de
armazenamento e de campo, de modo a tornar a formulação um sucesso comercial.
Fatores ambientais, incluindo temperatura, umidade e umidade do solo,
desempenham um papel importante no estabelecimento bem-sucedido da
bioformulação microbiana, seja um inseticida, acaricida, nematicida, fungicida,
herbicida ou promotor de crescimento de plantas. Além disso, o tempo de aplicação
da bioformulação em relação ao bioestágio dos organismos alvos é um fator crucial
para o sucesso do bioagente no aumento da produção e proteção das culturas
(PATHMA et al., 2021). Deve haver uma indicação clara no produto sobre a gama
de hospedeiros e as condições sob as quais a formulação será eficaz (MISHRA et
al., 2020).
Microrganismos diferentes terão diferentes temperaturas e condições ótimas
que aumentarão sua eficácia e desempenho. Considerações fisiológicas e
ecológicas são essenciais para o sucesso do programa de biocontrole. Assim, além
de experimentos em laboratório e em estufa, repetidos testes de campo nos
permitirão rastrear as condições ótimas de crescimento e seu efeito interativo em
condições naturais. Este conhecimento ajudará a melhorar a eficácia e o sucesso
da formulação comercial (PATHMA et al., 2021). Atualmente, os bioinsumos têm
sido desenvolvidos e fornecidos por diversas organizações, desde instituições
públicas até pequenas e médias empresas. Porém, há um crescente interesse em
bioinsumos por grandes empresas de agrotecnologia (GLARE et al., 2012).
A desinformação sobre o controle biológico por meio de bioinsumos
prejudica a adoção dessa tecnologia por alguns produtores. Muitas vezes, não há
assessoria e o fazendeiro recebe informações erradas ou incompletas sobre a
forma de como e quando realizar a aplicação do produto (SAMADA; TAMBUNAN,
2020). Muitos agricultores nem sequer estão familiarizados com o termo
bioinsumos e alguns estão em dúvida de usar ou continuar com produtos químicos.
59

Em alguns casos, os agricultores pararam de usar bioinsumos devido a resultados


não confiáveis e errôneos (MISHRA et al., 2020).
A transferência de conhecimento para os agricultores e seu desenvolvimento
de habilidades por meio de treinamento adequado, demonstrações e sistemas de
apoio para conscientizar os produtores rurais sobre os efeitos sustentáveis do uso
de bioinsumos os ajudarão a obter bons rendimentos de maneira sustentável
(PATHMA et al., 2021). Outra questão relevante relaciona-se à formação de
competência profissional para o setor. Se há intenção de impactar fortemente no
tema dos bioinsumos é fundamental investir em formação, capacitação, extensão
rural e boas práticas. Só em ações coordenadas com os diferentes agentes da rede
de produção será possível obter resultados robustos e estruturais que garantam a
continuidade das ações (VIDAL et al., 2020).

5.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, é de consenso amplo que, no que relacionado à perspectiva


ambiental, os bioinsumos são muito mais promissores que os sintéticos químicos.
Porém, paralelamente, é inegável que essa abordagem por tecnologias mais
verdes ainda tem dificuldade de perpetuar seu lugar no mercado estabelecido de
pesticidas convencionais. Os agricultores precisam de produtos mais seguros para
proteger suas plantações, tornando os bioinsumos uma excelente opção aos
agrotóxicos. Existem muitos limitadores que são responsáveis pela menor adesão
de bioinsumos entre os agricultores. Os principais desafios que continuam a
requerer a atenção são a implementação, fabricação e desenvolvimento desses
defensivos. Neste contexto, a integração do setor público-privado tem o potencial
de melhorar a fabricação, o desenvolvimento e a venda de alternativas ecológicas
aos agroquímicos e alavancar o mercado de bioinsumos no Brasil. Uma questão
importante é o desenvolvimento de mecanismos regulatórios que garantam que os
bioinsumos estejam disponíveis com a qualidade desejada e com preços acessíveis
a todos os produtores rurais. Estabelecer essa tecnologia na produção agrícola tem
potencial para garantir alimentos mais saudáveis, permitindo o uso sustentável dos
60

recursos naturais e diminuindo o impacto causado pelos problemas ambientais em


virtude do uso dos agrotóxicos.

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produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a
comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a
exportação, destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o
controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e
dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
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63

6 ESTUDO EXPLORATÓRIO DO EFEITO DE UM BIOINSUMO ATRAVÉS DE


ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS (PCA)

Ricardo Eugenio Dill


Programa de Pós-graduação em Ambiente e Sustentabilidade. Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul (UERGS). E-mail: ricardo-dill@uergs.edu.br,
http://lattes.cnpq.br/5141988284904928

Nikolas Mateus Pereira de Souza


Departamento de Ciências da Vida. Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). E-mail:
nikolas1@mx2.unisc.br

Alexandro Cagliari
Programa de Pós-graduação em Ambiente e Sustentabilidade. Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul (UERGS). E-mail: alexandro-cagliari@uergs.edu.br,
http://lattes.cnpq.br/9135929393903478

Resumo:
Para garantir a saúde e qualidade do solo é indispensável o seu uso sustentável e
seu monitoramento, analisando sua situação pela sua capacidade de resiliência e
reestruturação. Esse monitoramento acontece por meio de indicadores físicos,
químicos e biológicos. Atualmente, diferentes modalidades de bioinsumos vêm
sendo utilizados com o objetivo de proteger e favorecer o desenvolvimento de
diferentes culturas agronômicas brasileiras. Para garantir a qualidade, segurança e
eficácia dos bioinsumos fazem-se necessárias novas intervenções científicas e
tecnológicas relacionadas ao desenvolvimento dos bioprodutos, bem como sobre a
compreensão dos mecanismos de ação dos bioinsumos no ambiente solo-planta.
Neste trabalho foi realizada uma análise exploratória com o objetivo de avaliar o
efeito de um bioinsumo bacteriano na modulação de parâmetros físicos, químicos
e biológicos na cultura de trigo (Triticum aestivum). De maneira geral, observou-se
que a presença do bioinsumo alterou significativamente algumas dessas
correlações com parâmetros físicos, químicos e biológicos, em comparação com a
situação controle, favorecendo o agrupamento de três das quatro enzimas
analisadas com argila e micronutrientes importantes para atividade enzimática.
Além disso, observou-se um potencial papel do bioinsumo em potencializar a
atividade da enzima arilsulfatase na fase de enchimento de grãos. Estudos
adicionais são necessários a fim de gerar maiores informações acerca do papel do
bioinsumo na modulação da atividade enzimática e das correlações estabelecidas
entre enzimas e componentes físicos e químicos do solo.
Palavras-Chave: Bioindicadores. Enzimas do solo. Bioinsumo. PCA.

Abstract:
To ensure the health and quality of the soil, its sustainable use and monitoring is
essential, analyzing its situation for its resilience and restructuring capacity. This
monitoring takes place through physical, chemical and biological indicators.
Currently, different types of bioinputs have been used with the objective of protecting
and favoring the development of different Brazilian agronomic cultures. To
guarantee the quality, safety and efficacy of bioinputs, new scientific and
technological interventions related to the development of bioproducts are
64

necessary, as well as to the understanding of the mechanisms of action of bioinputs


in the soil-plant environment. In this work an exploratory analysis was carried out in
order to evaluate the effect of a bacterial bioinput on the modulation of physical,
chemical and biological parameters in wheat (Triticum aestivum). In general, it was
observed that the presence of the bioinput significantly altered some of these
correlations with physical, chemical and biological parameters, compared to the
control situation, favoring the grouping of three of the four enzymes analyzed with
clay and important micronutrients for enzymatic activity. In addition, a potential role
of the bioinput was observed in potentiating the activity of the arylsulfatase enzyme
in the grain filling phase. Additional studies are needed in order to generate more
information about the role of bioinput in the modulation of enzymatic activity and the
correlations established between enzymes and physical and chemical components
of the soil.
Keywords: Bioindicators. Soil enzymes. Bioinput. PCA.

6.1 INTRODUÇÃO

O solo é um recurso natural essencial para as dinâmicas dos ecossistemas,


nos quais diversos organismos interagem e contribuem para a manutenção da vida
(Figura 9). O manejo impróprio e intensivo do solo tem provocado gradativamente
sua degradação, processo que em alguns casos pode ser irreversível (SILVA et al.,
2021). O uso errado do solo promove a perda dos seus atributos, em especial os
biológicos (SÁ et al., 2009). A mudança de áreas antes naturais nativas para
sistemas de uso agrícola acarreta, por exemplo, em alterações na matéria orgânica
e no estoque de carbono do solo (COSTA et al., 2020).
A qualidade do solo é um atributo essencial para o desenvolvimento das
espécies que o habitam (SILVA et al., 2021). A qualidade do solo consiste na
competência de funcionar dentro do ecossistema visando sustentar a produtividade
biológica, assegurar a qualidade ambiental e promover a saúde da fauna e da biota
(DE ARAÚJO; MONTEIRO, 2007). Características como ser biologicamente ativo,
produtivo, capaz de armazenar água, sequestrar carbono e promover a degradação
de pesticidas, fazem um solo ser considerado saudável (MENDES et al., 2020) e
assim, realizando a manutenção sustentável das culturas e garantindo alimentos
para gerações atuais e futuras (SILVA et al., 2021).
Para garantir a saúde e qualidade do solo é indispensável o seu uso
sustentável e seu monitoramento, analisando sua situação pela sua capacidade de
resiliência e reestruturação (SILVA et al., 2021). Esse monitoramento acontece por
65

meio de indicadores físicos, químicos e biológicos (MELO, 2017; SOBUCKI et al.,


2019; MENDES, et al. 2020), que permitem avaliar as condições do solo e promover
a manutenção da sustentabilidade produtiva dos ambientes naturais (SILVA et al.,
2021).
Os indicadores do solo representam propriedades associadas a diferentes
processos, tais como: ciclagem de nutrientes, atividade biológica, retenção hídrica,
potencial de erosão, potencial de lixiviação, entre outros. Textura, porosidade,
densidade e estabilidade de agregados apresentam-se como as propriedades
físicas mais usadas como indicadores de solo. A acidez (pH), salinidade, teor de
carbono total ou orgânico, fósforo disponível, capacidade de troca iônica, entre
outros, são exemplos de atributos químicos muito utilizados (OLIVEIRA-SILVA et
al., 2020).

Figura 9 - Esquema espacial da interação planta-solo

Legenda: (a) A planta na dinâmica solo-planta-atmosfera como recurso natural; (b) Representação
do espaço onde ocorrem processos complexos e dinâmicos de interrelacionamento entre atributos
físicos, químicos e biológicos do solo, determinando o crescimento das raízes e sua forma de
distribuição. (c) Representação em escala de poros/partículas dos grânulos de solo e sua relação
66

com microrganismos, nutrientes e matéria orgânica disponíveis, contribuindo para a manutenção da


qualidade do solo. Fonte: Adaptado de Roose, Schnepf (2008).

Os indicadores biológicos são constituintes vivos presentes na parte superior


do solo. São constituídos por uma grande diversidade de espécies, que
desempenham inúmeras e complexas funções no solo (SILVA et al., 2021). Devido
a sua ampla funcionalidade e sensibilidade é possível detectar alterações de acordo
com o manejo do solo (MENDES et al., 2018b). Indicadores biológicos são
constituídos por microrganismos, raízes e fauna (minhocas, nematoides, térmitas,
formigas, actinomicetos, etc.) (MAIA, 2013), que demonstram uma estreita inter-
relação com os componentes físico-químicos, influenciando não só a produtividade
e a sustentabilidade dos sistemas agrícolas, mas também suas funções ecológicas
e serviços ambientais (MENDES et al., 2018b). As comunidades microbianas do
solo são as principais responsáveis por processos e funções, tais como: a
decomposição de resíduos, ciclagem de nutrientes, síntese de substâncias
húmicas, agregação e degradação de compostos xenobióticos, etc (SILVA et al.,
2021).
Dentre a classe de indicadores biológicos, as enzimas se destacam como
formidáveis ferramentas de avaliação da atividade microbiológica do solo. As
enzimas são biomoléculas da classe das proteínas que atuam de forma específica
para cada composto a ser degradado (MANISHA, 2017). No solo, as enzimas são
essenciais para a transformação e ciclos geoquímicos, pois participam da formação
da matéria orgânica, estando diretamente ligadas à fertilidade e diversidade de
organismos (FERREIRA, 2017; OLIVEIRA-SILVA et al., 2020). Elas operam
diretamente na quebra de compostos de cadeia longa, fornecendo a base primária
para a absorção das plantas (KANDELER, 2015). Além disso, as enzimas
extracelulares agem em reações que resultam na decomposição de resíduos
orgânicos (ligninases, celulases, proteases, glucosidases, galactosidases), na
ciclagem de nutrientes (fosfatases, amidases, ureases, sulfatases), na formação da
matéria orgânica do solo (MOS) e da estrutura do solo (MENDES et al., 2018 a,b).
A atividade enzimática presente no solo indica o potencial metabólico
pertinente ao substrato e fornece informações de alterações qualitativas na matéria
orgânica do solo e disponibilidade de nutrientes, em virtude das práticas de manejo
67

ou do ambiente (EVANGELISTA et al., 2012; MATSUOKA; MENDES; LOUREIRO,


2003). A atividade enzimática de um solo pode ser considerada como o somatório
da atividade de enzimas dos organismos vivos – microrganismos, plantas e animais
– e de gerações passadas de organismos que estiveram presentes no solo –
componente abiôntico (Figura 10). As enzimas abiônticas estão associadas à
fração não-viva e se acumulam no solo protegidas da ação de proteases por meio
de sua adsorção em partículas de argila e na matéria orgânica (WALLENSTEIN;
BURNS, 2011).

Figura 10 – Origem da atividade enzimática de um solo.

Legenda: (i) enzimas em atividade dentro do citoplasma de células microbianas, animais e vegetais
em proliferação; (ii) enzimas restritas ao espaço periplasmático de bactérias Gram-negativas em
proliferação; (iii) enzimas ligadas à superfície externa de células viáveis cujos sítios ativos se
estendem até o ambiente do solo; (iv) enzimas dentro de células não proliferativas, tais como:
esporos de fungos, cistos de protozoários, sementes de plantas e endósporos de bactérias; (v)
enzimas ligadas a uma célula morta inteira e detritos celulares; (vi) enzimas sendo excretadas de
células intactas ou liberadas de células lisadas, originalmente localizadas na membrana celular ou
dentro da célula, que podem sobreviver por um curto período na solução do solo; (vii) enzimas
extracelulares livres na água dos poros do solo; (viii) enzimas associadas temporariamente em
complexos enzima-substrato solúveis ou insolúveis; (ix) enzimas complexadas com colóides
húmicos por absorção, aprisionamento ou copolimerização durante a humificação; (x) enzimas
absorvidas para as superfícies externas ou internas de minerais de argila; (xi) enzimas ligadas à
68

taninos condensados lixiviados de folhas ou raízes de plantas. As enzimas extracelulares podem


ser convertidas abioticamente ou através da atividade de enzimas proteolíticas em (xii) peptídeos e
depois degradadas por peptidases em seus aminoácidos constituintes (xiii) que são assimilados por
microrganismos e plantas. Fonte: Adaptado de Wallenstein, Burns, (2011).

A competência do solo de estabilizar e proteger enzimas está ligada à sua


capacidade de armazenar e estabilizar a matéria orgânica e outras propriedades
estruturais como agregação e porosidade. Porém, alterações na matéria orgânica
ou nas propriedades estruturais podem levar anos para serem detectadas, o que
não acontece na atividade enzimática presente no solo. Portanto, o aumento da
atividade enzimática, reflete o aumento na atividade biológica ao longo do tempo,
representa um prognóstico de que o sistema está beneficiando o acúmulo de MOS,
apesar de nem sempre esse aumento de atividade está vinculado a aumentos
efetivos nos teores de MOS (MENDES et al., 2020).
Atualmente, diferentes modalidades de bioinsumos vêm sendo utilizados
com o objetivo de proteger e favorecer o desenvolvimento de diferentes culturas
agronômicas brasileiras. O leque é amplo e abrange desde inoculantes –
promotores de crescimento de plantas – biofertilizantes, produtos para nutrição
vegetal e animal, extratos vegetais, defensivos produzidos a partir de
microrganismos benéficos para controle de pragas, parasitas e doenças, etc
(BRASIL, 2020).
Para garantir a qualidade, segurança e eficácia dos bioinsumos fazem-se
necessárias novas intervenções científicas e tecnológicas relacionadas ao
desenvolvimento dos bioprodutos, bem como sobre a compreensão dos
mecanismos de ação dos bioinsumos no ambiente solo-planta (MISHRA et al.,
2020).
A PCA é uma técnica multivariada não-supervisionada (sem definição inicial
de classes) de redução de dimensionalidade dos dados (baseada em coeficientes
de correlação) que visa conservar a maior informação (variância) em novos eixos
(Componentes Principais, PC) (SHLENS, 2005). Desse modo, é possível verificar
padrões de agrupamento das amostras com base nas variáveis de entrada no
modelo e inferir as variáveis com maior peso (loadings) e verificar a associação
entre variáveis com base nos coeficientes de correlação (ESGOTO et al., 2014).
Logo, é uma técnica vantajosa a modelos convencionais univariados, pois integra
69

e relaciona múltiplas variáveis, tornando o padrão de agrupamento mais similar às


condições dinâmicas do ambiente (DA SILVA et al., 2012).
Múltiplos estudos de interesse agronômico tem utilizado a PCA na análise
exploratória dos seus dados, como na avaliação de resultados analíticos da
fertilidade do solo (MELÉM JÚNIOR et al., 2008), para pesquisa de agrupamento
de amostras de solo com base em granulometria, características químicas e
mineralógicas (KUMMER et al., 2010), avaliação de compostos orgânicos voláteis
do solo no status nutricional das plantas (MARTÍN-SÁNCHEZ et al., 2020), no
estudo da variabilidade espacial de atributos físico-químicos do solo (ALVES et al.,
2014), na análise da saúde do solo supervisionado pelas enzimas arilsulfatase e β-
glicosidade e parâmetros físico-químicos (PASSINATO et al., 2021).
Diante disso, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito do bioinsumo
bacteriano na modulação de parâmetros físicos, químicos e biológicos na cultura
de trigo (Triticum aestivum). Para tanto, foram avaliadas as atividades das enzimas
indicadoras biológicas arilsulfatase, β-glicosidase, fosfatase ácida e N-acetil-β-D-
glicosaminidase (NAG). Os resultados biológicos das análises enzimáticas foram
relacionados com dados físico-químicos do solo e com a produtividade de trigo em
área com e sem a aplicação do bioinsumo. A nosso saber, esta é a primeira vez
que dados físico-químicos e enzimáticos do solo são analisados temporalmente,
desde a semeadura até a colheita do trigo, utilizando a técnica multivariada PCA.

6.2 MATERIAL E MÉTODOS

6.2.1 Área experimental

O cultivo de trigo (Triticum aestivum), cultivar TBIO Audaz®, foi conduzido


em uma propriedade particular sob supervisão da empresa Simbiose no município
de Cruz Alta-RS, de julho a outubro de 2021. A cultivar comercial TBIO Audaz® é
de ciclo, espigamento e maturação precoces. O cultivo do trigo foi realizado em um
espaçamento entre as linhas de 0,17cm, 70 sementes por metro linear e uma
densidade de 41.176,50 sementes por hectare cultivado.
70

6.2.2 Delineamento experimental

A área da propriedade foi dividida em duas parcelas. Cada parcela era


composta por 10 hectares. Na primeira, o cultivo de trigo foi realizado com a adição
do insumo biológico BiomaPhos®. Na segunda, foi realizado o cultivo de trigo sem
o insumo biológico (testemunha). O bioinsumo utilizado age disponibilizando
fósforo para as plantas. É produzido a partir de duas bactérias, uma encontrada no
milho e outra no solo. A presença dessas bactérias ajuda a melhorar a absorção de
fósforo pelas plantas, reduzindo a necessidade de fertilização ao longo do ciclo
produtivo. A aplicação do BiomaPhos® foi realizada através do tratamento das
sementes no momento de semeadura na lavoura. A concentração utilizada do
produto foi de 4x109 por mL. A dosagem aplicada foi de 100 mL por hectare.

6.2.3 Coleta de amostras de solo

Todas as coletas de solo para as análises químicas, físicas e biológicas


foram realizadas segundo a metodologia estabelecida pela Embrapa (JÚNIOR;
BATISTA, 2012), que consistem em coletar com o auxílio de pá 0,5 kg de solo na
profundidade de 0 a 20 cm, acondicionadas em saco plástico e identificadas. Os
parâmetros físico-químicos e biológicos foram avaliados em quatro diferentes
momentos ao longo do desenvolvimento do trigo: antes do cultivo (1) e nos estádios
fenológicos de afilhamento (30 dias; 2), alongamento (60 dias; 3) e início do
enchimento de grãos (até 90 dias; 4), de acordo com essa escala de Feeks-Large
(Figura 11).
71

Figura 11 - Escala de Feeks-Large de desenvolvimento da cultura de trigo

Fonte: adaptado de Bona (et al., 2016).

6.2.4 Análises físico-químicas do solo

As amostras de solo foram encaminhadas para o laboratório de análise de


solos da CCGL no município de Cruz Alta-RS para a realização das análises
químico-físicas.

6.2.5 Determinação da atividade enzimática do solo

As análises biológicas de atividade enzimática do solo foram realizadas no


Laboratório de Genética e Biotecnologia da Universidade de Santa Cruz do Sul
(UNISC) no município de Santa Cruz do Sul, utilizando o método de bioanálise
descrito por Tabatabai (1994). As enzimas avaliadas como indicadoras biológicas
da qualidade do solo foram: arilsulfatase, β-glicosidase, fosfatase ácida e N-acetil-
72

β-D-glicosaminidase (NAG). Para cada estágio fenológico do trigo foram realizadas


análises em triplicatas biológicas e triplicatas experimentais, tanto para situação
controle quanto com adição de bioinsumo. As leituras das amostras foram
realizadas em leitora de microplacas por espectrofotometria de absorbância a 410
nm, interpolados em uma curva padrão com concentrações de p-nitrofenol padrão.

6.2.6 Análise de Componentes Principais (PCA)

Para a análise da PCA, os dados foram padronizados (autoescalamento,


tornando a média por coluna igual a zero e desvio-padrão igual a 1). Esta operação
matemática é necessária para tornar os dados adimensionais e padronizados,
retirando o viés (evitando que dados com maiores valores tenham maior peso no
modelo). Foram considerados todos os atributos físico-químicos e enzimáticos
pesquisados nesse estudo como variáveis. A estratégia para a análise de
agrupamento foi considerar cada momento de coleta do controle e do bioinsumo
como sendo uma classe (apenas para atribuição visual de cor, pois as classes não
modificam o modelo). Desse modo, é possível analisar as variáveis determinantes
em cada momento de coleta para o controle e para o bioinsumo. A matriz dos
coeficientes de correlação é mostrada na Tabela 1 (Apêndice A) e os loadings na
Tabela 2. Os scores (coordenadas das amostras no plano das PCs) são mostrados
na Figura 15.

6.2.7 Análise hierárquica de cluster (HCA)

As variáveis de entrada na modelagem da HCA foram as mesmas da PCA e


com o mesmo tratamento dos dados (autoescalamento). Porém, a fim de verificar
similaridades entre as variáveis somente do controle e somente do bioinsumo, a
HCA foi performada em 2 etapas: 1) com as amostras do controle de entrada no
modelo e todas as variáveis do estudo e 2) com as amostras do bioinsumo de
entrada e todas as variáveis do estudo. As configurações da HCA foram: cluster =
variáveis; método de cluster = cluster médio; tipo de distância = correlação; número
de clusters = 5. Para apoiar os resultados da HCA, foram geradas 2 matrizes de
correlação do tipo heatmap (uma para as variáveis do controle e outra para as
73

variáveis do bioinsumo) (Figura 13 e 14). Como os dados não apresentaram


distribuição normal no teste de Shapiro-Wilk, foi utilizado a correlação de
Spearman.

6.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das análises físico-químicas do solo para as condições de


controle e com adição do bioinsumo nos diferentes momentos de desenvolvimento
do trigo estão apresentados no quadro 1.

Quadro 1 - Resultados das análises físico-químicas do solo durante o


desenvolvimento do trigo nas condições de controle e com adição do bioinsumo

Tempos
Tratamento Argila % pH Índice SMP P K MO % Ca troc. Mg troc.
de Coleta
Controle 1 42,00 5,50 6,00 56,60 148,00 4,50 6,90 2,30
Controle 2 52,00 6,00 6,50 11,10 152,00 3,00 6,00 2,20
Controle 3 36,00 6,30 6,90 34,50 244,00 4,60 8,60 3,20
Controle 4 49,00 5,50 6,00 23,40 168,00 3,90 6,30 2,00
Bioinsumo 1 42,00 5,50 6,00 56,60 148,00 4,50 6,90 2,30
Bioinsumo 2 53,00 5,60 6,00 14,80 132,00 3,50 5,60 1,70
Bioinsumo 3 52,00 6,20 6,50 8,60 170,00 2,90 5,20 2,00
Bioinsumo 4 58,00 5,90 6,30 12,80 92,00 3,50 5,80 2,00

Tempos
Tratamento H + Al CTC BASES Al S Zn Cu B Mn
de Coleta
Controle 1 4,40 14,00 68,40 0,00 12,70 2,60 1,70 0,40 25,00
Controle 2 2,50 11,10 77,40 0,00 27,50 2,20 7,00 0,30 39,00
Controle 3 1,60 14,00 88,70 0,00 20,90 4,80 5,50 0,60 6,00
Controle 4 4,40 13,10 66,60 0,00 13,60 6,00 9,40 0,60 58,00
Bioinsumo 1 4,40 14,00 68,40 0,00 12,70 2,60 1,70 0,40 25,00
Bioinsumo 2 4,40 12,00 63,60 0,00 10,10 2,60 7,30 0,30 56,00
Bioinsumo 3 2,50 10,10 75,60 0,00 6,20 2,40 7,70 0,60 11,00
Bioinsumo 4 3,10 11,10 72,40 0,00 10,60 2,20 8,80 0,60 30,00
Fonte: Autores (2022).
74

6.3.1 A atividade enzimática do solo sob cultivo de trigo

A figura 12 apresenta a modulação da atividade enzimática do solo ao longo


do cultivo de trigo com e sem a aplicação de bioinsumo.

Figura 12 - Atividade enzimática ao longo do desenvolvimento de trigo com e sem


aplicação de bioinsumo

Legenda: (a) arilsulfatase, (b) β-glicosidade (c), N-acetil-β-D-glicosaminidase (NAG) e (d) fosfatase ácida.
Tempos de coleta (T1 a T4) de acordo com material e métodos. Correlação de Spearman (rho; ρ). Anova
seguida do pós-teste de Holm-Sidak para múltiplas comparações ***único momento que apresentou uma
diferença estática significativa entre os tratamentos p= 0,721. Fonte: Autores (2022).

Observa-se que a atividade da enzima arilsulfatase e β-glicosidase


apresenta uma tendência de aumento ao longo do desenvolvimento do trigo, tanto
75

na situação controle como na presença de bioinsumo (Figuras 12A e B). A enzima


NAG apresentou perfil de atividade enzimática muito similar ao longo dos diferentes
momentos avaliados (Figura 12C). A enzima fosfatase ácida, por sua vez,
apresentou tendência de aumento de atividade até a fase e alongamento do trigo
(T3), seguida de queda na fase de enchimento de grãos (T4), tanto na presença
quanto na ausência de bioinsumo (Figura 12D).
Além disso, observou-se diferença estatisticamente significativa do
bioinsumo em potencialmente aumentar a atividade da enzima arilsulfatase na fase
de enchimento de grãos (T4). Entretanto, esse possível papel (direto ou indireto)
do bioinsumo na ativação de enzima arilsulfatase necessita de maior investigação
experimental.

6.3.2 Análises de Componentes Principais (PCA) na cultura de trigo com e


sem aplicação de bioinsumo

A PC1 (38,3%), PC2 (25,2%) e PC3 (13,9%) conservam juntas 77,4% da


variância total no modelo. Com base na Tabela 2 de loadings, verifica-se as
variáveis de maior peso em cada momento de coleta para o controle e o bioinsumo.
A interpretação do momento de coleta 1 e 2 foram feitas exclusivamente com a
figura 15A devido sua maior conservação da variância e melhor distribuição
espacial das amostras. Já a figura 15B foi usada complementarmente para a
análise enzimática dos momentos restantes.

Tabela 2 - Loadings das variáveis em PC1, PC2 e PC3

PC1 PC2 PC3


Arils. -0.11843 0.09439 0.49459
B-glic. -0.06314 0.09517 0.38756
NAG -0.08946 0.17451 -0.0083
FA 0.1459 0.16371 -0.1054
Argila -0.32296 0.18463 8.77E-04
pH 0.19197 0.37095 -0.05376
SMP 0.25647 0.30919 -0.02924
P 0.18112 -0.35487 -0.03372
K 0.31197 0.02388 0.0641
MO 0.22717 -0.30196 0.16053
Catroc. 0.32776 -0.12467 0.10765
76

Mgtroc. 0.35521 0.01696 0.04685


H + Al -0.22051 -0.34618 0.04683
CTC 0.20766 -0.34244 0.12618
Bases 0.29822 0.24159 -0.00985
S 0.16704 0.04254 -0.14859
Zn 0.13011 -0.11636 0.43708
Cu -0.17528 0.25993 0.30826
B 0.09574 0.1392 0.46039
Mn -0.255 -0.16193 0.08445
Os valores em negritos representam as variáveis com
maiores pesos no modelo em cada PC: 3 < loadings < -
3. Fonte: Autores (2022).

Figura 15 - Análise de Componentes Principais (PCA) dos parâmetros físico-


químicos e biológicos

Legenda: Biplot (scores + loadings) da Análise de Componentes Principais (PCA) dos parâmetros
físico-químicos e biológicos considerando o grupo controle e o grupo com utilização de bioinsumo
(em 4 momentos de coleta do solo) como classes de rótulo. As elipses representam o intervalo de
confiança de 95% e suas cores são correspondentes às classes de rótulo. As setas azuis
representam os loadings (pesos das variáveis que determinam a disposição dos scores). (a) PC1
(38,3%) x PC2 (25,2%) e (b) PC1 (38,3%) x PC3 (13,9%). Arils: Arilsulfatase, B-glic: β-glicosidase,
NAG: N-acetil-β-D-glicosaminidase; FA: Fosfatase Ácida; SMP: Índice SMP para correção de acidez
do solo; MO: Matéria Orgânica; CTC: Capacidade de Troca Catiônica; H+Al: Acidez total; P: Fósforo;
K: Potássio; Ca troc.: Cálcio trocável; Mg troc.: Magnésio trocável; S: Enxofre; Zn: Zinco; Cu: Cobre;
B: Boro; Mn: Manganês. Fonte: Autores (2022).

No momento anterior ao cultivo de trigo (T1), as amostras controle e


bioinsumo são coincidentes (Figura 15A). Logo, o perfil vetorial dos loadings e a
77

disposição dos scores são os mesmos. Os determinantes desse momento são o P,


CTC, MO e H+Al. Naturalmente, o solo apresenta maiores teores de MO no início
do desenvolvimento vegetal (no qual vai sendo consumido ao longo do crescimento
com consequente liberação/mobilização de nutrientes) (WIETHÖLTER, 2011).
Ademais, o P é altamente demandado no início do crescimento vegetal devido sua
ação no armazenamento e transferência energética (MACHADO; DE SOUZA,
2012), constituindo-se no fator limitante mais frequente do crescimento das plantas
(FOROUZANI et al., 2012). Ainda, obteve-se correlação positiva forte entre MO e
P (r = 0.879, Tabela 1). Como a MO possui carga negativa resultante, o CTC possui
crescimento proporcional com a MO (r = 0.964, Tabela 1) (CIOTTA et al., 2003). No
momento 1 de coleta, foi obtido pH = 5,5 (controle e bioinsumo). Nessa faixa de pH,
é comum níveis aumentados de alumínio (AKUTAGAWA; MOREIRA; SILVA, 2017),
o que poderia justificar a importância do H+Al no momento de coleta 1. Além disso,
no eixo da PC2, o pH é o que possui o maior valor de loading positivo, indicando
que os valores mais baixos de pH estão no momento 1 da coleta (Figura 15A).
No estágio de afilhamento do trigo (T2) para o controle, a disposição dos
scores das amostras no tempo 2 estão espacialmente próximas das coordenadas
(0,0) do plano das PCs (PC1 x PC2, Figura 15A). Desse modo, não é possível fazer
interpretações vetoriais determinísticas, pois há uma contribuição vetorial
relativamente homogênea da maioria das variáveis. Entretanto, o trigo cultivado na
presença do bioinsumo apresentou clara separação dos outros agrupamentos pela
PC1 (Figura 15A). Nesta PC, a argila e o Mn foram os principais determinantes na
posição do bioinsumo. O Mn é importante para fotossíntese (envolvido na estrutura,
funcionamento, multiplicação e transporte eletrônico nos cloroplastos) e requerido
para atividade de algumas enzimas, tais como desidrogenases, descarboxilases,
quinases, oxidases e peroxidases (BENETT et al., 2011). A ação do Mn poderia
estar relacionada com o aumento da concentração enzimática neste momento de
coleta para todas as 4 enzimas analisadas (Apêndice B).
No estágio de início de alongamento do trigo (T3), o controle ficou
distintivamente separado no eixo positivo da PC1 (Figura 15A e B). As variáveis
determinantes foram: K, Catroc. e Mgtroc. Estas 3 variáveis apresentam
correlações fortes entre si (Mgtroc. – K = 0,8, Mgtroc. – Catroc. = 0.93 e K – Catroc.
= 0.73, Tabela 1). Na figura 15B, a densidade vetorial positiva facilita a
78

interpretação, pois há mesma direção de variáveis altamente relacionadas, como


os cátions, CTC, bases, SMP, pH, MO, etc. Já o bioinsumo, embora no eixo
negativo da PC1, apresenta-se muito próximo da origem das coordenadas,
indicando contribuição relativamente homogênea das variáveis (padrão visto na
Figura 15A e B).
No estágio de início de enchimento de grãos (T4) na última etapa de coleta,
o agrupamento do bioinsumo desta etapa e do bioinsumo da etapa 2 estão muito
próximos (distância euclidiana). Sendo a argila, Mn e H+Al os determinantes com
maiores pesos para esse padrão de agrupamento. O controle parece ter a mesma
tendência de agrupamento por essas variáveis, porém com menores
concentrações. A figura 14B evidencia com clareza os vetores positivos e negativos
pela PC1. A argila (variável com maior peso é determinante principal do bioinsumo
no momento de coleta 2 e 4) possui correlação negativa forte com o P (r = - 0,77),
K (r = - 0,82), MO (r = - 0,82), Catroc. (r = - 0,9), Mgtroc. (r = - 0,84) e CTC (r = -
0,83) (MACHADO; DE SOUZA, 2012). Adicionalmente, a PC3 salienta as 2
principais enzimas da bioanálise do solo (arilsulfatase e β-glicosidase, com
correlação positiva intermediária de r = 0,68). Estas, juntamente com o Zn, B e Cu
são as variáveis de maiores pesos nessa PC.
Em geral, conclui-se que a presença do bioinsumo pode estar diretamente
relacionada à alterações nos parâmetros físicos, químicos e biológicos do solo
cultivado com trigo ao longo do tempo, visto que no momento anterior ao cultivo de
trigo (T1, sem presença de bioinsumo em ambos tratamentos), as amostras
controle e bioinsumo são coincidentes, apresentando os mesmos perfis vetoriais
dos loadings e a disposição dos scores.
Desse modo, constata-se o potencial da PCA para identificar a variação de
importância de cada parâmetro físico-químico e biológico ao longo do
desenvolvimento do trigo. Ou seja, é possível verificar como as flutuações desses
parâmetros interagem entre si nas etapas principais do cultivo do trigo. Isso traz
complementação à análise univariada, com a qual apenas seria possível analisar
as flutuações de cada parâmetro individualmente, mas sem comprovar suas
intercomunicações.
79

6.3.3 Matrizes de correlação e Análise Hierárquica de Clusters (HCA) de


diferentes parâmetros físicos, químicos e biológicos na cultura de trigo com
e sem aplicação de bioinsumo

As figuras 13 e 14 apresentam as matrizes de correlação (Pearson) dos


parâmetros físico-químicos e biológicos do solo cultivado com e sem a presença de
bioinsumo. Estas matrizes também foram utilizadas para a elaboração de HCA.

Figura 13 - Matriz de correlações (Pearson) dos parâmetros físico-químicos e


biológicos do solo para o grupo controle

Legenda: * p < 0.05, ** p < 0.01, *** p < 0.001. NAG: N-acetil-β-D-glicosaminidase; FA: Fosfatase
Ácida; SMP: Índice SMP para correção de acidez do solo; MO: Matéria Orgânica; CTC: Capacidade
80

de Troca Catiônica; H+Al: Acidez total; P: Fósforo; K: Potássio; Ca troc.: Cálcio trocável; Mg troc.:
Magnésio trocável; S: Enxofre; Zn: Zinco; Cu: Cobre; B: Boro; Mn: Manganês. Fonte: Autores (2022).

Para a situação controle (Figura 13), observa-se alta correlação entre a


enzima arilsulfatase com a enzima β-glicose, K e com os micronutrientes Zn, B e
Cu. Para a situação com aplicação de bioinsumo (Figura 14), além das correlações
comuns à situação controle foi observada alta correlação entre arilsulfatase com
teor de argila (Figura 14).
As arilsulfatases são enzimas constitutivas, sendo sua síntese controlada
pelo conteúdo de carbono e enxofre no solo. Estas enzimas hidrolisam ésteres de
sulfato com um radical aromático (ésteres fenólicos de ácido sulfúrico) e foram
originalmente descritas como fenolsulfatases. Sua atividade depende do conteúdo
de sulfato e nutrientes no solo, os quais podem ser tanto requisitados para
complementar a nutrição do enxofre, ou competir com este elemento por cargas ou
outros interferentes químicos presentes no solo (BALOTA et al., 2010).
A enzima β-glucosidase apresentou, para a situação controle, alta correlação
com arilsulfatase, K e micronutrientes (B,Cu e Zn). Para a situação com bioinsumo
não foi observada correlação com K e B (Figura 14). No solo a β-glucosidase
desempenha um papel importante na degradação da matéria orgânica do solo e
dos resíduos vegetais, pois catalisa a hidrólise de β-d-glucopiranosídos no passo
final da decomposição da celulose, fornecendo açúcares simples para a população
de microrganismos do solo (STOTT et al., 2010). É considerada um dos indicadores
de qualidade do solo mais utilizada, está associada ao ciclo do carbono e tem a
capacidade de indicar mudanças no manejo do solo com maior eficiência/rapidez
devido a sua alta sensibilidade a alterações no sistema solo (MARTINEZ;
TABATABAI, 1997).
As enzimas arilsulfatase e β-glicosidase, em conjunto ou separadamente,
apresentaram maior sensibilidade para detectar alterações no solo, em função do
sistema de manejo utilizado (MENDES, et al. 2018b). Essas duas enzimas
apresentam uma estreita relação com a MOS – parâmetro base da qualidade de
um solo – e com o rendimento de grãos – parâmetro que reflete o aspecto
econômico das lavouras (LOPES et al., 2018; MENDES et al., 2019).
Quanto às enzimas NAG e fosfatase ácida observou-se correlação com
parâmetros físico-químicos somente na situação controle (Figuras 13 e 14). As
81

fosfatases são um grupo de enzimas que também devem ser consideradas na


análise da atividade enzimática do solo. Elas atuam catalisando a hidrólise de
ésteres de fosfatos, liberando fosfato solúvel a partir do fósforo orgânico. Sua
atividade é influenciada pelos valores de fósforo no solo, no qual solos com baixo
teor de fósforo inorgânico possuem maior atividade enzimática da fosfatase ácida,
quando comparado a solos com alto teor de fósforo inorgânico (SPEIR; COWLING,
1991; DINKELAKER; MARSCHNER, 1992).
Já a enzima NAG é uma enzima lisossomal hidrolítica responsável por
quebrar as ligações químicas de glicosídeos e açúcares amino que formam
componentes estruturais como a membrana celular (PANNU et al., 2012). Em
fungos atuam no sistema quitinolítico catalisando a liberação de monômeros de N-
acetilglicosamina (GlcNAc) durante a hidrólise de quitina (CHEN et al., 2015).
Algumas pesquisas demonstram a participação de NAGases no biocontrole de
fitopatógenos, através da liberação de indutores dos genes do micoparasitismo
(HARTL; ZACH; SEIDL-SEIBOTH, 2012), e reciclagem da parede celular fúngica
durante a inanição. Além disso, NAGases são essenciais para o metabolismo de
quitina e outras fontes de carbono como nutrientes (RYDER et al., 2012; LÓPEZ-
MONDÉJAR et al., 2009).
82

Figura 14 - Matriz de correlações (Pearson) dos parâmetros físico-químicos e


biológicos do solo para o grupo com aplicação de bioinsumo

Legenda: * p < 0.05, ** p < 0.01, *** p < 0.001. NAG: N-acetil-β-D-glicosaminidase; FA: Fosfatase
Ácida; SMP: Índice SMP para correção de acidez do solo; MO: Matéria Orgânica; CTC: Capacidade
de Troca Catiônica; H+Al: Acidez total; P: Fósforo; K: Potássio; Ca troc.: Cálcio trocável; Mg troc.:
Magnésio trocável; S: Enxofre; Zn: Zinco; Cu: Cobre; B: Boro; Mn: Manganês. Fonte: Autores (2022).

De forma geral, as enzimas em estudo (principalmente arilsulfatase e beta-


glicosidase) apresentaram correlações mais fortes com micronutrientes
sabidamente conhecidos por participar da constituição de enzimas ou atuarem
como fatores enzimáticos, importantes para a atividade enzimática e acesso a seus
respectivos substratos.
83

Além disso, a presença do bioinsumo alterou significativamente algumas


dessas correlações observadas na situação controle. Esse efeito deve ser melhor
explorado a fim de gerar maiores informações acerca do papel do bioinsumo na
modulação da atividade enzimática e das correlações estabelecidas entre enzimas
e componentes físicos e químicos do solo.
A HCA, nesse estudo, foi utilizada como complementação da PCA para
verificar como se relacionam as variáveis somente no controle e somente no
bioinsumo. Essa abordagem difere da aplicação usual da técnica, na qual é
utilizada para agrupar amostras por similaridade. Entretanto, essa abordagem não
seria útil em amostras que são analisadas temporalmente, pois o agrupamento
seria de todas as amostras de uma única vez, perdendo a interpretação temporal.
No controle (Figura 16A), o primeiro cluster (da esquerda para direita) é
formado pela arilsulfatase + β-glicosidase (r = 0.835) e Zn + B (r = 0.928). Já no
bioinsumo (Figura 16B), o primeiro cluster integra melhor as enzimas (arilsulfatase,
β-glicosidase e NAG, o que indica maiores correlações entre elas e ainda evidencia
alta correlação positiva entre argila e cobre (r = 0.724). Tanto no controle como no
bioinsumo, há o P, MO e CTC em agrupamento como cluster, embora forme um
cluster exclusivo no controle e um cluster com associação do Ca troc. e enxofre no
bioinsumo. Esta integração P, MO e CTC, também é um padrão visualizado na PCA
(Figura 15). Globalmente, verifica-se que a aplicação do bioinsumo alterou os
padrões de correlação entre os parâmetros analisados, favorecendo o
agrupamento de três das quatro enzimas analisadas com argila e micronutrientes
importantes para atividade enzimática.
84

Figura 16 - Dendrograma de Análise Hierárquica de Cluster (HCA)

Legenda: a Análise Hierárquica de Cluster (HCA) com as distâncias sendo do tipo correlação,
número de clusters igual a 5 e os clusters sendo os parâmetros físico-químicos e biológicos do solo.
(a) clusters com base nas correlações entre as variáveis do grupo controle e (b) clusters com base
nas correlações entre as variáveis do grupo com aplicação de bioinsumo. Aril: Arilsulfatase, B-glic:
β-glicosidase, NAG: N-acetil-β-D-glicosaminidase; FA: Fosfatase Ácida; SMP: Índice SMP para
correção de acidez do solo; Arg.: Argila; MO: Matéria Orgânica; CTC: Capacidade de Troca
Catiônica; H+Al: Acidez total; P: Fósforo; K: Potássio; Ca troc.: Cálcio trocável; Mg troc.: Magnésio
trocável; S: Enxofre; Zn: Zinco; Cu: Cobre; B: Boro; Mn: Manganês. Fonte: Autores (2022).

As técnicas empregadas no manejo e conservação do solo são


determinantes na sua constituição e transformação ao longo do tempo, podendo
toda a biota do solo sofrer desequilíbrio, de maneira favorável ou não. As práticas
de manejo do solo devem considerar sua complexidade e limitações, favorecendo
o seu restabelecimento e promovendo condições de sua utilização por outras
gerações, uma vez que o solo é um recurso findável quando não manejado de
forma adequada (SILVA et al., 2021). A prática agrícola pode ser orientada a fazer
uso de recursos e tecnologias para a manutenção do equilíbrio ecológico de
lavouras agrícolas. O conhecimento desse recurso pode gerar substâncias, os
bioinsumos, que aumentariam a produtividade de qualquer cultura, em qualquer
ambiente, de maneira economicamente viável e ecologicamente responsável
(CASTRO et al. 2019).
85

6.4 CONCLUSÃO

Compreender os efeitos de um bioinsumo no sistema solo-planta é


fundamental para comprovar efetivamente que este bioinsumo não só tem o efeito
desejado como também contribui para a manutenção da homeostase do solo. O
presente estudo buscou apresentar um estudo de caso do impacto da utilização de
um bioinsumo na modulação de parâmetros físico-químicos e biológicos na cultura
de trigo ao longo de seu desenvolvimento fenológico. Concluímos que muitos
parâmetros avaliados foram influenciados pelo tempo e pela presença do
bioinsumo no sistema planta-solo.
Além disso, a influência do bioinsumo e sua relação com os parâmetros
analisados podem ajudar a explicar as diferenças de produtividade observadas na
situação controle (57,8 sacas/ha) e com uso de bioinsumo (60,8 sacas/ha).
Entretanto, trata-se de uma análise exploratória inicial e que carece de maior
número de informações e dados para permitir comparações mais precisas e
assertivas acerca do real impacto deste bioinsumo nos parâmetros do solo e na
produtividade de trigo.
Para tanto, a ampliação do número de replicatas biológicas e experimentais
associada à utilização de ferramentas robustas para análise de dados torna-se
fundamental para permitir a correta interpretação de modelos multivariados que
consideram uma gama complexa de dados físicos, químicos e biológicos que
compõem o solo.

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91

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os bioinsumos são uma tecnologia em ascensão que permite produtos com


especificidades de ação para melhorar o desempenho agrícola, evitar a resistência
de pragas e reduzir o impacto na degradação de ecossistemas e contaminação de
trabalhadores e do ambiente. No entanto, o seu estabelecimento comercial
depende de fatores como o investimento em pesquisa e desenvolvimento de
formulações seguras e eficazes – que garantam modos de ação que combatam
exclusivamente a praga alvo –, facilidade de uso e vida útil longa. Infelizmente,
encontrar um bioinsumo que apresente todas essas propriedades é raro. Para
tanto, são necessários processos de formulação de alta qualidade, avaliação e
comparação do ativo biológico utilizado, testes da ação dos bioprodutos desde a
casa de vegetação até o campo, avaliando a performance do produto em relação à
planta, ao solo e à comunidade microbiana local.
Novas indústrias de bioinsumos estão surgindo no Brasil nos últimos anos.
Porém, sua produção e portfólio ainda são muito tímidos em comparação ao
estabelecido no mercado de agroquímicos. Medidas como a capacitação de novos
empreendedores, facilitação de crédito, subsídios, seguros e isenção de impostos
podem auxiliar os produtores de bioinsumos a aumentar sua participação no
mercado. Por fim, é fundamental que esforços sejam direcionados ao fomento de
pesquisas científicas a fim de possibilitar o desenvolvimento e validação de novos
produtos, permitindo que as empresas tenham uma variedade de microrganismos
eficazes disponíveis para atender ao mercado agrícola nacional.
92

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93

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96

Apêndice A - Matriz dos coeficientes de correlação

Tabela 1 - Matriz dos coeficientes de correlação gerados pela PCA. Em negrito, 0.7
< r < - 0.7. Arils: Arilsulfatase, B-glic: β-glicosidase, NAG: N-acetil-β-D-
glicosaminidase; FA: Fosfatase Ácida; SMP: Índice SMP para correção de acidez
do solo; Arg.: Argila; MO: Matéria Orgânica; CTC: Capacidade de Troca Catiônica;
H+Al: Acidez total; P: Fósforo; K: Potássio; Ca troc.: Cálcio trocável; Mg
troc.:Magnésio trocável; S: Enxofre; Zn: Zinco; Cu: Cobre; B: Boro; Mn: Manganês.
Fonte: Autores (2022).
97

Apêndice B - Avaliação de parâmetros físicos e químicos do solo ao longo


do desenvolvimento fenológico de trigo

Legenda: (a) argila, (b) pH (c), índice SMP, (d) acidez potencial (H+Al), (e) bases e (f) matéria orgânica (MO).
Tempos de coleta (T1 a T4) de acordo com material e métodos. Correlação de Spearman (rho; ρ). Anova
seguida do pós-teste de Holm-Sidak para múltiplas comparações. Fonte: Autores (2022).
98

Legenda: (a) capacidade de troca de cátions (CTC), (b) Cálcio trocável (Ca), (c) Fosforo (P), (d) Magnésio
trocável (Mg), (e) Potássio (K) e (f) Enxofre (S). Tempos de coleta (T1 a T4) de acordo com material e métodos.
Correlação de Spearman (rho; ρ). Anova seguida do pós-teste de Holm-Sidak para múltiplas comparações.
Fonte: Autores (2022).
99

Legenda: (a) Zinco (Zn), (b) Cobre (cu), (c) Boro (B) e (d) Manganês (Mn). Tempos de coleta (T1 a T4) de
acordo com material e métodos. Correlação de Spearman (rho; ρ). Anova seguida do pós-teste de Holm-Sidak
para múltiplas comparações. Fonte: Autores (2022).

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