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AULA #2 AMAR

A ars celebrandi não pode ser reduzida a apenas um


mecanismo rubrical, muito menos deve ser pensada como
imaginativa — às vezes selvagem — criatividade sem regras.
O rito é em si uma norma, e a norma nunca é um fim em si
mesma, mas está sempre a serviço de uma realidade superior
que pretende proteger.

Desiderio Desideravi
PAPA FRANCISCO
ATLAS E O MENINO JESUS DE PRAGA

No início desta aula, vamos resgatar o exemplo de duas figuras que Se, no entanto, entendermos a Sagrada Liturgia não como Opus
levam o mundo em suas mãos. A primeira delas é Atlas, da Dei (Obra de Deus), mas como Opus Homini (Obra do Homem),
mitologia grega. Um titã que quis tomar o céu e foi punido por assemelhar-nos-emos a Atlas. Carregaremos o que na verdade é
Zeus. Sua pena foi carregar o mundo nas costas. Do outro lado, um dom, como um peso, uma punição, e mudaremos e
nós temos a figura do Menino Jesus de Praga. Uma criança que moldaremos este dom aos nosso próprio gosto. Inventaremos na
usa uma coroa e porta em suas mãos um cetro e o globo terrestre. Santa Missa todo a sorte de entretenimentos e espectáculos, para
Porque iniciamos esta aula com esta comparação? "atrair as pessoas".

Porque ambas as figuras carregam consigo o mundo. Mas uma O grande problema disso é que por de trás desta atitude, existe
delas o faz como punição e outra como um dom. Nosso Senhor um orgulho velado, onde você simplesmente não consegue
Jesus Cristo, na figura do menino Jesus de Praga, nos lembra conceber o dom da Liturgia que Deus te deu como algo bom.
aquilo que o Papa Francisco nos pede no seu último documento Perceba a gravidade disso!
litúrgico, "Desiderio Desideravi", que recebamos a Sagrada Liturgia
como um verdadeiro dom. Um dom incomensurável. Um dom que "Em alguns lugares, os abusos litúrgicos se têm convertido em um
não é propriamente meu, nem seu, mas de Deus. costume, no qual não se pode admitir e se deve terminar." (RS 4)
POR QUE SER FIEL ÀS NORMAS?

Para que o culto a Deus prestado pela Igreja na Santa Missa seja Quem estabelece as normas litúrgicas a serem observadas é a
dignamente celebrando, é necessário que haja um regulamento. Igreja. Em sua imensa sabedoria bi-milenar, o Sagrado Magistério
Por isso a Igreja estabelece uma série de normas e rubricas — que sabe como ninguém discernir os símbolos que melhor refletem as
são aquelas partes escritas em vermelho nos livros litúrgicos, que realidades celebradas na sagrada liturgia.
indicam o que os ministros devem fazer.
Quando se ordena o uso da casula, por exemplo, é para simbolizar
Entre os motivos que se podem elencar para que todos obedeçam a Cruz de Cristo. Assim, seu uso torna-se bastante catequético
as rubricas e as outras normas litúrgicas, estão: 1. para melhor para lembrar os fiéis da realidade do sacrifício de Nosso Senhor,
simbolizar o que se celebra, evidenciando a identidade entre o oferecido na Cruz do Calvário, que se celebra na Santa Missa; Se se
sinal e o que ele realiza ou significa; 2. para favorecer ambiente de prescreve determinada oração ou gesto isso se dá por entender (a
sacralidade que incentiva a piedade dos participantes; 3. para Igreja) que estes nos auxiliam a aprofundar no centro do mistério
irradiar a riqueza doutrinária da Igreja por meio de seus ritos; celebrado.
e 4. para preservar a unidade substancial do rito, no nosso caso, do
rito romano. Longe de nos afastar da interioridade e engessar a celebração —
como muitos dizem — as normas e rubricas previstas pela Santa
Desconhecer as rubricas é, sem dúvida, um problema grave, mas Madre Igreja para a liturgia nos fazem louvar e adorar a Deus com
ainda mais grave é conhecê-las e ignorá-las. toda a totalidade do nosso ser: o corpo e a alma.
O PROBLEMA DO ABUSO

Abusos litúrgicos são todos os atos que, dentro da liturgia, Mas o problema dos abusos está longe de ser recente. Antes
excedem ou omitem as normas e rubricas previstas nos livros mesmo do Concílio Vaticano II era conhecida a prática de certos
ordinários para a sua celebração. A Igreja olha com cuidado para padres de celebrarem a Santa Missa em menos de 15 minutos — o
estas situações e já se pronunciou formalmente contra os abusos que é um tremendo absurdo.
em diversas ocasiões.
E o que dizer da famosa "Missa iê iê iê", ocorrida no Rio de Janeiro,
O documento mais recente a falar diretamente sobre isso é a em 1966 — três anos antes da promulgação do novo missal — onde
Redemptionis Sacramentum — Instrução sobre algumas coisas que se celebrava com muito barulho, música alta — bateria e guitarra
se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia: — e danças, ao som de Beatles (ou algo muito próximo disso)?

“Não se pode calar ante aos abusos, inclusive gravíssimos, contra a


natureza da Liturgia e dos sacramentos, também contra a tradição
e autoridade da Igreja, abusos que em nossos tempos, não
raramente, prejudicam as Celebrações litúrgicas em diversos CLIQUE AQUI E ASSISTA, SE TIVER CORAGEM
âmbitos eclesiais. Em alguns lugares, os abusos litúrgicos se têm
convertido em um costume, no qual não se pode admitir e se deve
terminar” (RS 4)
A ORIGEM DO ABUSO LITÚRGICO

Não é estranho que os abusos tenham sua origem em um falso conceito de


liberdade. Posto que Deus nos tem concedido, em Cristo, não uma falsa liberdade
para fazer o que queremos, mas sim a liberdade para que possamos realizar o que
é digno e justo. Isto é válido não só para os preceitos que provém diretamente de
Deus, mas sim também, de acordo com a valorização conveniente de cada norma,
para as leis promulgadas pela Igreja. Por isso, todos devem se ajustar às
disposições estabelecidas pela legítima autoridade.

Redemptionis Sacramentum, 7
A ORIGEM DO ABUSO LITÚRGICO

Eis uma possível lista de abordagens que, embora opostas entre si, caracterizam
um modo de presidir certamente inadequado: austeridade rígida ou uma
criatividade exasperante, um misticismo espiritualizante ou um funcionalismo
prático, uma vivacidade apressada ou uma lentidão exagerada, uma um descuido
desleixado ou um capricho excessivo, uma amizade superabundante ou uma
impassibilidade sacerdotal. Dada a grande variedade desses exemplos, acho que a
inadequação desses modelos de presidência tem uma raiz comum: um
personalismo acentuado do estilo celebrativo que às vezes expressa uma mania
mal disfarçada de ser o centro das atenções.

Desiderio Desideravi, 54
PASTORALIDADE

A VERDADEIRA PASTORALIDADE: A FALSA PASTORALIDADE:

Confissão Adaptações das normas e rubricas litúrgicas sem a autorização


Adoração Eucarística da Igreja para agradar um movimento ou grupo específico de
Distribuição da Comunhão aos Doentes fiéis que frequentam a comunidade.
Santo Rosário
Formação
Vida de Oração “Os abusos, sem dúvida, «contribuem para obscurecer a reta fé e a
Vida Sacramental doutrina católica sobre este admirável Sacramento». De esta forma,
Obras de Misericórdia também se impede que possam «os fiéis reviver de algum modo a
experiência dos discípulos de Emaús: Então se lhes abriram os olhos
A IGREJA NOS DIZ NO e o reconheceram». Convém que todos os fiéis tenham e revivam
aqueles sentimentos que receberam pela paixão salvadora do Filho
QUE CRER E COMO Unigênito, que manifesta a majestade de Deus, já que estão ante à

DEVEMOS CELEBRAR força, à divindade e ao esplendor da bondade de Deus, especialmente


presente no sacramento da Eucaristia” (RS 6)
O ABUSO LEVA À PERDA DA FÉ

“Finalmente, os abusos se fundamentam com freqüência na


A Igreja é clara quando diz que a lei da oração e a lei da fé; se nós
não oramos aquilo que cremos, a consequência é que pouco à ignorância, já que quase sempre se rejeita aquilo que não se
pouco o obscurecimento da fé se torne tão grande que a fé compreende seu sentido mais profundo e sua Antigüidade. Por isso,
desapareça completamente, levando os fiéis a uma completa enraizadas na Sagrada Escritura, «as preces, orações e hinos
desesperança em Cristo Jesus, nosso Salvador. litúrgicos estão penetrados em seu espírito e dela recebem seu
significado nas ações e sinais». No que se refere aos sinais visíveis,
Se a Igreja prescreve ritos, símbolos, normas e rubricas para «usados na sagrada Liturgia e que foram eleitos por Cristo ou pela
evidenciar e resplender o mistério que se celebra, e nós decidimos Igreja para significar as realidades divinas invisíveis».
livremente desobedecer o que pede a Igreja, obscurecendo-o, por
consequência corremos o risco de conduzir os fiéis de nossas Justamente, a estrutura e a forma das Celebrações sagradas de
paróquias, nossos irmãos e irmãs em cristo, à completa perda da fé acordo com cada um dos Ritos, seja da tradição do Oriente seja da
católica. Ocidente, concordam com a Igreja Universal e com os costumes
universalmente aceitos pela constante tradição apostólica, que a
Bispos, padres, diáconos, leigos, coordenadores e servos da Igreja entrega, com solicitude e fidelidade, às gerações futuras.
liturgia, não têm autoridade para desobedecer deliberadamente
aquilo que a Igreja estabeleceu para a celebração do seu culto Tudo isto é sabiamente guardado e protegido pelas normas
público através da Santa Liturgia. A nós cabe a fidelidade. litúrgicas” (RS 8)
O ABUSO LEVA À PERDA DA FÉ

As rubricas são a salvaguarda da doutrina,


a salvaguarda da verdade.

prof. Michel Pagiossi


QUEM VOCÊ QUER SER?

Neste momento, deparamo-nos com a seguinte questão: quem


queremos ser? Atlas, que quis conquistar o Céu? Ou o Cristo que
“A maravilha é parte essencial do ato
governa o mundo em nós? litúrgico porque é a maneira como
Nosso amor pelo sagrado é tão grande que nos leva a sermos aqueles que sabem que estão engajados
pequenos como o menino Jesus? Ou nosso amor é tão pequeno
que nos leva a querermos ser grandes como Atlas? na particularidade dos gestos simbólicos
Quem é o centro da Sagrada Liturgia? Deus, nosso Senhor? ou eu?
olham as coisas. É a maravilha de quem
Deus, nosso Senhor ou "a comunidade"? experimenta o poder do símbolo, que
não consiste em referir-se a algum
conceito abstrato, mas em conter e
expressar em sua própria concretude o
que ele significa.” (DD 26).
ABUSOS LITÚRGICOS MAIS COMUNS

AUTO-COMUNHÃO: Quando o leigo toma MÚSICAS INADEQUADAS: Seja pelo estilo MODIFICAR TEXTOS LITÚRGICOS: “Cesse
por si mesmo a hóstia consagrada, sem musical escolhido — com baterias, a prática reprovável de que sacerdotes, ou
recebê-la do sacerdote. Um ato guitarras, instrumentos percussivos, etc. — diáconos, ou mesmo os fiéis leigos,
explicitamente proibido pela Igreja que seja por não corresponderem aos textos modificam e variam, a seu próprio arbítrio,
continua a se perpetuar pelas Igrejas do litúrgicos adequados, como por exemplo: aqui ou ali, os textos da sagrada Liturgia
Brasil: "Não está permitido que os fiéis Gloria (Hino do Glória), Kyrie (Ato que eles pronunciam. Quando fazem isto,
tomem a hóstia consagrada nem o cálice Penitencial), Agnus Dei (Cordeiro de Deus) trazem instabilidade à celebração da
sagrado «por si mesmos, nem muito menos e Sanctus (Santo) — que não devem de sagrada Liturgia e não raramente
que se passem entre si de mão em mão». modo algum ter o texto do missal alterado. adulteram o sentido autêntico da Liturgia”
Nesta matéria, Além disso, deve-se suprimir (RS 59)
o abuso de que os esposos, na Missa nupcial, TEATROS E DANÇAS: Em dois mil anos de
administrem-se de modo recíproco a história este tipo de manifestação cultural FIÉIS REPETIREM A ORAÇÃO
sagrada Comunhão." (RS 94) nunca foi incorporado à Santa Liturgia. O EUCARÍSTICA: A proclamação da Oração
Papa Bento XVI, por exemplo, escreve Eucarística, que por sua natureza, é pois o
PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO POR claramente que "a dança não é uma forma cume de toda a celebração, é própria e
LEIGOS: Somente o sacerdote e o diácono de expressão da liturgia cristã". exclusiva do sacerdote, em virtude de sua
podem fazê-lo, conforme IGMR 94 e 99. mesma ordenação. (RS 52)
ABUSOS LITÚRGICOS MAIS COMUNS

“Os graviora delicta (atos graves) contra a santidade do sacratíssimo Sacramento e Sacrifício da
Eucaristia e os sacramentos, são tratados de acordo com as «Normas sobre os graviora delicta,
reservados à Congregação para a Doutrina da Fé», isto é:

a) roubar o reter com fins sacrílegos, ou jogar fora as espécies consagradas;


b) atentar à realização da liturgia do Sacrifício eucarístico ou sua simulação;
c) concelebração proibida do Sacrifício eucarístico juntamente com ministros de Comunidades eclesiais
que não tenham sucessão apostólica, nem reconhecida dignidade sacramental da ordenação sacerdotal;
d) consagração com fim sacrílego de uma matéria sem a outra, na celebração eucarística, ou também de
ambas, fora da celebração eucarística. ”

Redemptionis Sacramentum, 172


SEJAMOS FIÉIS

A fidelidade às normas litúrgicas faz com que a luz de Cristo brilhe Ensina o Magistério: “Por outra parte, todos os fiéis cristãos gozam
durante as celebrações litúrgicas. Precisamos ter a consciência da do direito de celebrar uma liturgia verdadeira, especialmente a
máxima Lex Orandi, Lex Credendi (a lei da oração é a lei da fé). celebração da santa Missa, que seja tal como a Igreja tem querido e
estabelecido, como está prescrito nos livros litúrgicos e nas outras
Não somos senhores, mas servos da liturgia. As normas litúrgicas leis e normas. Além disso, o povo católico tem direito a que se celebre
são prescritivas, como tudo o que a Igreja nos dá como regra da fé: por ele, de forma íntegra, o santo Sacrifício da Missa, conforme toda
Se não podemos modificar a Sagrada Escritura, se não podemos a essência do Magistério da Igreja. Finalmente, a comunidade
modificar o Credo Apostólico, se não podemos modificar a Fé da católica tem direito a que de tal modo se realize para ela a
Igreja ou escolher no que devemos crer — pois recebemos a Fé celebração da Santíssima Eucaristia, que apareça verdadeiramente
Apostólica da Igreja — por que nos achamos no direito de querer como sacramento de unidade, excluindo absolutamente todos os
modificar a liturgia? defeitos e gestos que possam manifestar divisões e facções na Igreja”
(RS 12).
Jamais conseguiremos conhecer, amar e servir a Deus sem
fidelidade ao que pede a Igreja. Deturpando a oração da Igreja e Meu irmão, minha irmã(!), lutemos por uma Santa Liturgia. Se você
obscurecendo os mistérios da fé que a Igreja crê há dois mil anos. está lendo este material, é porque há uma chama que arde em seu
Precisamos estar atentos à seriedade que é servir a Liturgia. coração — que é a chama do amor a Deus e do serviço à Ele na
Santa Liturgia. Eu conto com você!
A VERDADE CELEBRADA

“Sejamos claros aqui: todos os aspectos da celebração devem ser cuidadosamente cuidados (espaço,
tempo, gestos, palavras, objetos, vestimentas, canto, música...) e todas as rubricas devem ser observadas.
Tal atenção bastaria para evitar que se roube da assembléia o que lhe é devido; ou seja, o mistério pascal
celebrado de acordo com o ritual que a Igreja estabelece. Mas mesmo que se garantisse a qualidade e o
bom andamento da celebração, isso não seria suficiente para tornar plena nossa participação.”

Desiderio Desideravi, 23
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