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O QUE MARIANA E BRUMADINHO TÊM A NOS ENSINAR
SOBRE CRIMES AMBIENTAIS?

O ano de 2019 iniciou de forma trágica para os

moradores de Brumadinho, município do estado No começo pensei que estivesse lutando para salvar
de Minas Gerais. O rompimento de uma barragem seringueiras, depois pensei que estava lutando para
de rejeitos, em janeiro, não só tirou várias vidas, salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou
como também causou um incalculável dano ao lutando pela humanidade.
meio ambiente, sua fauna e flora. O episódio,
porém, não é uma exceção na história do Brasil, Chico Mendes
configurando-se como mais um crime ambiental.
Três anos antes, em 2015, o estado de Minas já
havia sofrido com uma tragédia semelhante, no
município de Mariana. O rompimento da Barragem
do Fundão, considerado o maior crime ambiental
da história do país, também teve um impacto
irreparável. Nesse sentido, falar sobre essas
tragédias se faz importante, a fim de refletir sobre
a relação do homem com o meio em que vive, bem
como as consequências dos crimes ambientais
para a sociedade.
Foto: André Penner / AP
A relação do homem com o meio
ambiente, desde as civilizações
mais antigas, constitui-se por meio
da EXPLORAÇÃO dos recursos da
natureza, o que possibilitou o
desenvolvimento da espécie
humana. Todavia, nem sempre se
falou nos LIMITES dessa relação e
nos danos que isso poderia
acarretar. Somente a partir da
segunda metade do Século XX,
após as consequências da
Revolução Industrial começarem a
despontar (contaminações de rios,
poluição do ar, perda de milhares
de vida, entre outras), percebeu-se
a necessidade de falar sobre a
preservação e o uso responsável do
meio ambiente. Alguns
acontecimentos foram importantes
para mudar a mentalidade das
pessoas sobre a temática
ambiental, fato que desencadeou o
surgimento de políticas públicas e
decisões mundialmente
kkkkkkkkkkkk
reconhecidas a respeito das
questões ambientais. Entre eles,
pode-se citar a conferência das
Nações Unidas em Estocolmo
(1972), na qual se falou sobre a
importância de conciliar o
desenvolvimento econômico com a
prudência ecológica. No Brasil, a
CONSTITUIÇÃO FEDERAL de 1988,
que rege o ordenamento jurídico
até os dias atuais, declama em seu
Artigo 225 que: “Todos têm direito
ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações”. Um
outro grande avanço no cenário
brasileiro aconteceu com o
estabelecimento da Lei 9.605, de
1998. Essa lei define como CRIME
condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente, destacando sobre
kkkk
as devidas sanções penais e
administrativas para aqueles que
fugirem do que está expresso em
seu texto. No entanto, os princípios
de proteção ambiental ainda são
vistos, por parte da sociedade,
como um embargo ao
desenvolvimento econômico. Tal
fato faz com que muitas empresas
atuem de forma irresponsável com
a questão ambiental. As tragédias
de MARIANA e BRUMADINHO
evidenciam tal questão. A falta de
fiscalização regular e precisa nessas
barragens possibilitou o
surgimento de condições adversas
que contribuíram para o
acontecimento das tragédias. No
caso de Brumadinho, talvez seja
ainda mais seguro falar sobre isso,
já que aconteceu apenas 3 anos
depois, o que mostra que medidas
preventivas para novos desastres
não foram tomadas como
deveriam. De acordo com Antônio
kkk
Nobre, cientista do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais, a
repetição do mesmo tipo de
calamidade, em tão pouco tempo,
coloca o Brasil em posição de
destaque na impunidade de crimes
ambientais. “Em 2015 tivemos no
Brasil o maior acidente da história
da mineração, que destruiu um rio
inteiro, matou pessoas, afetou o
oceano. Nenhuma multa ambiental
foi paga. Ninguém foi preso”, disse
Nobre. Ele se refere à falta de
punições para a mineradora
Samarco, que ainda não pagou a
multa ambiental de R$ 350,7
milhões imposta pelo Ibama. Além
disso, até janeiro de 2019, o
processo envolvendo executivos da
Samarco, Vale e BHP Billiton ainda
não tinha data para julgamento. Ou
seja, ninguém ainda foi punido.
Vale destacar que a empresa VALE
S.A. é a mesma que está envolvida
na tragédia de Brumadinho.
Sendo assim, o sentimento de impactos devem ser monitorados ao
impunidade abre espaço para que longo dos próximos meses e anos,
novas situações como essas voltem visando detectar alterações no perfil de
a ocorrer. Isso porque a falta de saúde da população de toda a região
sanções coloca empresas em uma afetada", registra o primeiro item de uma
zona de conforto, sem que tomem lista de recomendações divulgada em
as devidas precauções para evitar fevereiro de 2019 pelos pesquisadores da
crimes ambientais. É preciso Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A lista
pontuar, ainda, os IMPACTOS que se refere aos cuidados que devem ser
o rompimento de uma barragem tomados com as vítimas do rompimento
pode ocasionar. Fala-se da da barragem em Brumadinho.
destruição de rios e diversos
hectares de vegetação, famílias
desabrigadas, morte de pessoas e
animais terrestres, morte de
milhares de peixes, impacto no
ecossistema marinho e
desemprego. Além disso, estudos
realizados com populações
atingidas por tragédias ambientais
revelam um aumento de
problemas relacionados com a
SAÚDE MENTAL, tais como
estresse, ansiedade e
depressão. "Atenção especial deve
ser voltada aos efeitos psíquicos
Foto: Mauro Pimentel \ AFP
gerados pelo desastre, como
depressão e ansiedade. Esses
impactos devem kkkk
Embora as tragédias de Mariana e
Brumadinho tenham sido usadas
como pontapé nesse tema para
discutir crimes ambientais no país,
é preciso deixar claro que qualquer
atividade ou conduta que lesione o
meio ambiente pode ser
enquadrada como crime ambiental.
Segundo o Índice de Desempenho
Ambiental 2018 (EPI, na sigla em
inglês), o Brasil ocupa a posição 69ª
entre os 180 países analisados. O
EPI é realizado por pesquisadores
das Universidades de Yale e
Columbia, nos Estados Unidos, em
colaboração com o Fórum
Econômico Mundial. Ele analisa
indicadores em 24 áreas diferentes.
Na categoria “florestas”, o Brasil
aparece com uma das notas mais
baixas, o que coloca o país na
posição 96ª do ranking
kkkkkkkkkkkk
“proteção de florestas”. Ainda de Falar sobre o meio ambiente é falar
acordo com o estudo, os países que sobre o próprio ser humano, tendo
mais protegem o meio ambiente em vista a relação de dependência
são Suíça, França e Dinamarca. Na que existe entre o indivíduo e a
América Latina, os primeiros Natureza. A visão que predomina
colocados são Costa Rica, Colômbia ainda é aquela que percebe o meio
e Uruguai. Nota-se, portanto, que ambiente apenas como fonte de
as pautas relacionadas ao meio recursos e intermédio para atingir
ambiente ainda não são vistas o crescimento. Entretanto, isso só
como prioridade no país. pode acontecer se houver um
Historicamente, não só no Brasil, equilíbrio, pois a vida na terra se
mas no Mundo, o desenrolar das torna insustentável com um
políticas públicas ambientais ambiente degradado.
sempre acontece após grandes
desastres. O enfoque se dá sobre a
REMEDIAÇÃO do problema, ao
invés da PREVENÇÃO. Até mesmo
mobilizações sociais sobre o tema
ficam adormecidas na maior parte
do tempo, quando na verdade esse
assunto deveria estar sempre em
evidência.
 Foto: Douglas Magno / AFP

VOCÊ SABIA que o colapso da

barragem da mineradora
VALE S.A. em Brumadinho
destruiu o equivalente a 125
campos de futebol, segundo
levantamento divulgado pela
ONG WWF?
 ANOTA AÍ
 Um estudo realizado pela FAO (Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura) mostra que o Brasil é campeão em
perda florestal, segundo dados coletados
entre 2010 e 2015. Um novo estudo deve ser
publicado em 2020;
 De aproximadamente R$ 3 bilhões em multas
anuais aplicadas pelo Ibama por crimes
ambientais, apenas cerca de 5% do valor é
pago. Segundo levantamento do Observatório
do Clima, o órgão tem cerca de 100 mil
processos de autos de infração acumulados;
 Três anos após o rompimento da barragem em
Mariana, até a população de outras cidades
afetadas pela lama da barragem está sentindo
efeitos da contaminação por metais pesados,
como doenças respiratórias e de pele.
 Abaixo segue uma lista com os principais
desastres ambientais ocorridos no Brasil:
1984: Incêndio na Vila Socó
1987: Césio 137 em Goiânia
2000: Vazamento de óleo na Baía de
Guanabara
2000: Vazamento de óleo em Araucária
2003: Vazamento de barragem em
Cataguases
2007: Rompimento de barragem em Miraí
2011: Vazamento de óleo na Bacia de
Campos
2015: Incêndio na Ultracargo
2015: Rompimento da barragem de
Mariana
2019: Rompimento da barragem de
Brumadinho
 DIALOGANDO
O dialogando traz um trecho de uma entrevista com o Padre
Dario Bossi, Provincial dos Missionários Combonianos no Brasil,
membro da Rede de Igrejas e Mineração e Assessor da Rede
Eclesial Pan-Amazônica. A entrevista foi concedida ao Instituto
Humanas Unisinos (Ihu).
IHU On-Line – A tragédia humana e ambiental de Brumadinho,
em Minas Gerais, não chega a ser uma surpresa, afinal não
faltaram alertas dos riscos. Entretanto, o que significa o episódio
em termos sociais e ambientais?
Dário Bossi – Há evidências que tanto a empresa Vale S.A. como
o Estado tinham informações sobre o perigo da barragem da
mina Córrego do Feijão desmoronar. Por isso, chamamos esse
evento de crime, para o qual exigimos rápida responsabilização
dos atores envolvidos, sendo processados
criminalmente. Mariana nos ensinou que a impunidade consolida
o crime. A Articulação Internacional das Atingidas e Atingidos
pela Vale também fez duas denúncias à Comissão de Valores
Mobiliários, solicitando a destituição da diretoria inteira da
empresa. Os mitos da mineração sustentável, da tecnologia de
ponta capaz de prevenir qualquer tipo de incidente, da
responsabilidade socioambiental das grandes mineradoras
derreteram-se, em poucos minutos, em Brumadinho. A Vale e
muitas empresas investem muito para alimentar esses mitos.
Bastante dinheiro foi destinado à propaganda e também (até
quando foi legalmente possível) ao financiamento de partidos e
candidatos. [...]
Confira a entrevista completa: https://bit.ly/2WmyfU0
MOMENTO FILOSÓFICO
“Os homens são miseráveis, porque não sabem ver nem entender os
bens que estão a seu alcance”. A máxima de Pitágoras nos faz
refletir sobre a relação do homem com o meio à sua volta. De fato,
muitos são incapazes de entender os bens que a Natureza oferece e,
mais ainda, a necessidade de preservá-la. Vivemos presos em uma
sociedade consumista e capitalista, onde não existem limites para
“desenvolver-se”. Pouco entendemos que estamos aqui de
passagem e que não somos proprietários do Planeta Terra a ponto
de usá-lo como bem entendemos. Crimes ambientais acontecem,
porque o egoísmo humano faz o indivíduo não se enxergar como
parte do meio ambiente, mas como algo além dele. Poucos se
importam com as gerações futuras, mesmo que essas gerações
sejam seus descendentes. A Natureza nos oferece tanto! É dela a
matéria-prima de quase tudo. Viver em um ambiente degradado
seria impossível para a saúde humana. Ter esse entendimento é
fundamental para construir gerações conscientes, onde crimes
ambientais sejam raros. Mais que isso, que sejam tratados com
seriedade, tal como um homicídio, por exemplo. E sabe por quê?
Porque o crime ambiental mata milhares de vidas. Esse processo
pode ser imediato, como em Mariana e Brumadinho, mas também
pode acontecer lentamente, como o desmatamento desenfreado na
Amazônia. Dessa forma, uma política forte de educação ambiental
com medidas programadas se faz urgente e necessária.
"Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para
a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade." Política
Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9.795/1999, Artigo 1º.
 BIBLIOGRAFIA
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<https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47206026>. Acesso em: 14/03/2019.

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RODRIGUES, Léo. Estudos sobre saúde mental após desastres ambientais revelam desafios. Disponível em:
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POTT, Crisla Maciel. Histórico ambiental: desastres ambientais e o despertar de um novo pensamento. Disponível em:
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BBC NEWS. Tragédia de Mariana: Vítimas da lama sofrem com doenças de pele e respiratórias por contaminação por metais pesados e temem nunca ser
indenizadas pela Samarco. Disponível em: <https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/02/10/tragedia-de-mariana-vitimas-da-lama-sofrem-com-
doencas-de-pele-e-respiratorias-por-contaminacao-por-metais-pesados-e-temem-nunca-ser-indenizadas-pela-samarco.ghtml>. Acesso em: 14/03/2019.

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