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NAZISMO
LAROUSSE
Titulo do original: Storia illustrata del Nazismo
Copyright O 2002 by Giunti Editore S.p.A,, Firenze = Milano
www. giuntiit
Copyright O 2009 by Larousse do Brasil
Todos os direitos reservados.
Edição brasileira
Edição italiana
Minerbi, Alessandra
A história ilustrada do nazismo / Alessandra Minerbi ; tradução de Ciro
Mioranza. - São Paulo : Larousse do Brasil, 2009.
09-00771 CDD-320.533
8-000
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Sumário
api BE agia g
A pa 112 A Shoah 169
O von Ribbentrop
Joachim 126
DO Um paíserra
Cida 185
O fascismo na Europa 134 m À Alemanha no pós-guerra 186
m (Os processos 187
E À ocupação aliada e o aumento das divergências 188
A guerra 137 m As duas Alemanhas 189
CER m À República Federal Alemã 191
a O ataque a Polônia 157 E À Republica Democrática Alemã 192
m Oataqueà França 140 E À reunificação 192
E À guerra no norte da Africa 143
m Operação Barba-Roxa 144 Nuremberg 187
m À nova ordem europeia 145 Repensar o nazismo. 192,
Ae interna 147 Os locais da memória 194
= O sistema de poder nazista nos anos da guerra 152
m Economia e armamentos 155
= O sistema financeiro do Grande Reich 151
= O segundo front e a mudança do destino da guerra 160 TAbelasterenoLópicas 195
m As conferências aliadas 162 Índice dos nomes 199
m A derrota 164
Apresentação
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A fundação e NE
da República
de Weimar
o decorrer do primeiro decênio de 1900, os
equilíbrios internacionais se tornaram sem-
pre mais precários por causa das crescentes
rivalidades que opuseram especialmente a
Alemanha à França e à Grã-Bretanha. A região dos Bál-
cãs constituía um dos mais perigosos focos de tensões, e
o assassinato do herdeiro ao trono da Áustria — ocorrido
no dia 28 de junho de 1914 pelas mãos dos nacionalistas
sérvios — fez eclodir um conflito que viu contrapor-se
duas forças: Áustria e Alemanha de um lado e, de outro,
Grã-Bretanha, França e Rússia.
A classe dirigente alemã estava decidida a entrar em
guerra para fortalecer o próprio poder e assumir um papel
central no continente. Em 1914, o estado-maior do exército
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|4 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
ELMOS DE AÇO
Desfile da associação dos com-
batentes contra o tratado de
Versalhes (na abertura).
MUTILADO DE GUERRA
E PRISIONEIROS ALEMÃES
(embaixo).
alemão estava convencido de que o conflito seria breve. No decorrer do ano de 1917, a situação bélica do Reich
Depois dos primeiros embates bem-sucedidos, ficou claro se apresentava sempre mais comprometida. A isso se aliava
que se iniciava uma guerra de trincheira, baseada no des- uma crescente carência de gêneros alimentícios, o cansaço
gaste recíproco e na força econômica dos beligerantes. A dos soldados no front e da população civil, elementos que
longa batalha travada em Verdun contra os franceses (feve- contribuíram para exacerbar as tensões de classe. A exemplo
reiro a setembro de 1916) não resultou na esperada guinada do que havia acontecido na Rússia — a conquista da paz e de
militar, mas provocou significativas mudanças políticas. uma nova ordem revolucionária —, encontrava eco sempre
O imperador Guilherme II tinha consciência de que seu maior numa população já prostrada.
papel era sempre menos determinante e confiou o comando O estado-maior esperava ainda poder chegar a uma paz
supremo do exército ao marechal Paul von Hindenburg e de compromisso. A rendição incondicional havia sido, no
a seu chefe do estado-maior Erich Ludendorff, criando as entanto, necessária por causa do crescente poder dos Estados
condições para uma verdadeira e característica ditadura Unidos e do declínio da Áustria, e principalmente em razão
militar. A política dos novos vértices visava, de um lado, a do esfacelamento da frente interna. Para evitar a desagre-
acentuar a mobilização para explorar ao máximo os recur- gação do país e salvar a monarquia, o governo, presidido
sos disponíveis e, de outro lado, a agir com os meios mais pelo chanceler Max von Baden, procurou convencer o kai-
persuasivos no plano militar, estimulando particularmente ser a abdicar e promoveu uma reforma do poder político,
a guerra submarina. cujos pontos fundamentais eram o sufrágio universal e a
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A FUNDAÇÃO DA REPÚBLICA DE WEIMAR EE I5
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uma casa se preparam para abrir
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fogo (janeiro de 1919).
lados no front franco-belga. Com isso, o kaiser foi obrigado ao apoio do estado-maior monárquico e reacionário e aos
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ERNST mon militou nas corporações era importante que aquilo que
VON SALOMON livres” (Freikorps) e foi ativo fazíamos fosse correto; impor-
contra os espartaquistas em tava que nesses dias sufocantes
Nascido em 1902, filho de Berlim. Em 1920 participou se agisse. À sorte da Alemanha
um oficial prussiano poste- do putsch de Wolfgang Kapp estava nas mãos de cada um,
riormente chefe da polícia e, em 1922, do assassinato do e cada indivíduo naqueles
criminal de Frankfurt, foi um ministro do Exterior Rathenau. momentos incomparáveis
dos expoentes da geração que Preso, foi condenado a cinco de graça estava em re-
saiu da experiência da guerra anos de reclusão e, depois da lação com o destino
e se caracterizou pelo estado libertação, dedicou-se à ativi- alemão”. Preso em
de revolta tanto contra a velha dade editorial e de publicidade. 1945 pelos ameri-
ordem imperial como contra Em 1930, publicou sua auto- canos, ficou encar-
a nova ordem democrática, biografia — Os proscritos — que cerado até o ano
considerado incapaz de guiar O mais que qualquer outro texto seguinte e depois
renascimento do povo alemão da época testemunha o misto se dedicou à pu-
e de restituir ao país o papel de rebelião e de ativismo que blicidade. Morreu
de grande potência. Von Salo- caracterizou sua geração: Não em 1972.
16 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
KARL LIEBKNECHT
Pacifista, fundador da Liga de
Espártaco e do Partido Comunista
Alemão, foi assassinado em Berlim,
em janeiro de |919.
“ESTRELA VERMELHA”
Orgão oficial dos comunistas
alemães. Abandonando a via dos
movimentos revolucionários, nos
anos 1920 o partido conquistará
amplo consenso entre as classes
trabalhadoras, flageladas pela crise
econômica.
ROSA do movimento espartaquista. somente com uma ruptura e contra toda tentativa de in-
LUXEMBURGO Embora elogiasse a revolução radical com o passado teria surreição. Durante as subleva-
bolchevique, soube apontar sido possível criar as bases ções de Berlim de 1919 — ver-
Nascida na Polônia em 1871, os perigos que pesavam sobre para uma igualmente radical dadeiros episódios de guerra |
estudou em Zurique, onde a gestão do poder político renovação democrática da civil — Rosa Luxemburgo foi ;
entrou em contato com os soviético. Depois Alemanha. Participou da morta junto com Karl Liebk- ã
líderes da social-democracia da fundação fundação do Parti- necht. Sua morte foi seguida,
polonesa. Transferindo-se para da República do Comunista depois de pouco tempo, pela
Berlim em 1898, nos anos su- de Weimar, Alemão e se repressão contra o movimen- |
cessivos foi uma das teóricas foi bastante posicionou to dos conselhos na Baviera:
mais lúcidas e empenhadas crítica com a favor da dois episódios que constituí-
do movimento socialista. Ao relação à participa- ram uma ulterior reabilitação
eclodir a guerra, denunciou a política mo- ção nas das velhas forças militares e
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ELEJAM ESPÁRTACO
O punho dos comunistas se abate
sobre a frágil democracia parla-
mentar de VYeimar.
ESPARTAQUISTAS COMBATEM
NAS RUAS DA CAPITAL
(no centro da página).
ea Austrália. As reparações que a Alemanha deveria pagar permanecia fora dela. A dureza das condições impostas alimen-
num prazo de trinta anos chegavam a 132 bilhões tou o descontentamento em amplas camadas da
de marcos de ouro. população. O novo governo democrático era
Graças especialmente ao empenho do considerado responsável pelasituação, causa
presidente americano Woodrow Wilson, de todos os males decorrentes da derrota. O
foi fundada a Sociedade das Nações, efeito inevitável foi a humilhação
com sede em Genebra, organismo de uma nação que tinha con-
que deveria ser local de media- fiado a própria identidade,
ção permanente e de resolução antes e durante a guerra, à
arbitral e pacífica dos conflitos força militar, e difundiu-se a
internacionais. À Alemanha foi, lenda da “punhalada nas cos-
no entanto, excluída, confirmando tas”, desferida pelos próprios
a vontade punitiva para com ela e novos governantes, acusados
evidenciando as frágeis bases sobre de uma política renunciatária e
as quais nascia a Sociedade, de não terem sabido defender a
visto que um dos prin- honra da Alemanha na mesa das
negociações.
cipais países europeus
ELMOS DE AÇO
Hindenburg era presidente hono-
rário da organização paramilitar
nos anos 1920.
CARTAZ DO NSDAP
para as consultas de 1930 (abaixo).
1920. Hitler sempre defendeu nuo crescimento. poderiam fazer de um acentuado estatismo
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a necessidade de não vincular- Amplo espaço era parte somente ea luta contra a denominada
conferido à polêmi- os cidadãos “escravidão de interesses”, a
-se a nenhum projeto rígido
e este foi concebido essen- ca contra o pluralis- de sangue ale- isto é, a eliminação dos ã
cialmente como instrumento mo dos partidos e o mão; todos os fenômenos especulativos,
parlamentarismo, aos outros, e em próprios do sistema capita-
de propaganda, mas continha
quais se contrapunha primeiro lugar lista.À aliança sempre mais
muitos elementos que te-
a existência de uma os judeus, po- estreita com amplos setores
riam permanecido pontos de
comunidade nacional diam viver na da indústria e das finanças in-
referência da ação política,
que teria tornado Alemanha na duziu o NSDAR no final dos
mesmo nos anos seguintes.
inúteis e danosos os qualidade de anos 1920, a abandonar essa
O programa requeria a su-
partidos políticos. hóspedes. posição.
peração da paz de Versalhes
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22 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
ESPERANDO NA FRENTE
DE UM BANCO (na abertura).
WALTER RATHENAU
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Cédula de 100 bilhões de marcos.
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DISTRIBUIÇÃO DE REFEIÇÕES
(abaixo).
Esse resultado marcou uma etapa fundamental no processo procos, recusaram-se a uma aliança contra as forças da direita,
de desgaste no qual, desde seus primeiros anos, se debateu a que foram as primeiras a beneficiar-se com a crescente insta-
república. Com efeito, esta reduziu a interpretação da demo- bilidade política da Alemanha.
cracia unicamente a nível parlamentar, excluindo o apoio da
participação popular também em outros setores, e não pôde REPARAÇÕES E INFLAÇÃO
contar com um aparato do Estado renovado e inteiramente As reparações impostas pelas potências vitoriosas à Ale-
fiel aos pressupostos da democracia. Em 1928 foram realizadas manha derrotada eram pesadíssimas, impossíveis de serem
as eleições parlamentares que trouxeram à tona evidentes pagas em vista da desastrada economia de um país exaurido
sinais de crise. Saíram vitoriosos os social-democratas e os pela guerra. A questão do cumprimento se tornou um dos nós
comunistas, enquanto os partidos democratas foram derrota- centrais da vida política alemã, uma das principais causas de
dos. Os votos perdidos pelas forças que até aquele momento instabilidade dos governos e de agitação ideológica das forças
tinham formado os governos republicanos se dispersaram extremistas de direita e de esquerda. Walter Rathenau, minis-
entre diversos grupos locais, sintoma da incapacidade dos tro da Reconstrução e das Relações Exteriores (1921-22),
partidos burgueses de conquistar o centro do conglomerado foi um daqueles que mais se empenharam em resolver essa
político. Comunistas e socialistas, além disso, estavam em complexa situação, convencido da necessidade de atender
posições inconciliáveis e, dilacerados pelos contrastes recí- aos pedidos das potências vitoriosas, mas consciente de que
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24 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
LiTvIiNOV E RATHENAU
Os ministros das Relações
Exteriores (à esquerda, o soviéti-
co Litvinov; no centro, o alemão
Rathenau) assinaram, em abril de
1922, o tratado de Rapallo, com o
qual os dois países iniciaram uma
cooperação econômica.
SABOTAGEM NA REGIÃO
DO RUHR
Locomotiva francesa inutilizada
pela ação dos ferroviários alemães
(embaixo).
Charles Dawes elaborou um plano que reduziu as repara- crise profunda, cujas raízes eram antigas: seus interesses
ções, subdividindo-as em parcelas anuais para favorecer a divergiam cada vez mais daqueles da indústria e já não sub-
retomada alemã. Um grupo de bancos americanos, além sístia mais o bloco de poder com a grande indústria que
disso, concedeu ao país um empréstimo de 800 milhões de tinha sido a base da Alemanha da época de Bismarck. No
marcos. Com o plano, Dawes retomou o fluxo de créditos pós-guerra, muitas pequenas empresas agrícolas faliram e
estadunidenses e a economia alemã entrou numa fase de as grandes propriedades, especialmente a leste do rio Elba,
reestruturação e de racionalização. Em 1927, a Alemanha mantiveram seu caráter latifundiário e escassamente produ-
atingiu o nível de produção de antes da guerra e retornou a tivo, impermeável a qualquer tipo de mudança. À prome-
um sistema de importações e exportações. Acentuaram-se tida e jamais realizada reforma agrária foi, por outro lado,
as tendências já presentes no início do século: crescimento uma das mais graves concessões do governo de Weimar à
das grandes empresas e criação de cartéis, introdução de for- continuidade dos poderes do segundo Reich. O mundo agrí-
mas modernas de gestão empresarial, racionalização produ- cola em seu conjunto foi, de fato, adversário da república
tiva, presença sempre mais forte do Estado na economia. Os e constituiu um dos núcleos de força da reação que, espe-
setores produtivos mais importantes (químico, siderúrgico, cialmente a partir de 1925, depois da eleição do presidente
elétrico, de mineração) aperfeiçoaram no decorrer dos anos Hindenburg, encontrou um espaço sempre mais amplo e,
1920 seus acordos de cartel. com a crise econômica de 1929, constituiu uma força fun-
Em contrapartida, o setor agrícola se encontrava numa damental para a tomada do poder nazista.
A OCUPAÇÃO região, a população foi concla- transformou-se, nos meses desse modo,a prova de força
DA REGIÃO DO mada a não colaborar com os seguintes, num sucesso alemão, da Primeira Guerra Mundial,
RUHR ocupantes. O governo central, em razão do esgotamento dos favorecendo em ambas as par
tes a disponibilidade para uma 1
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uma vez proclamada a greve contendores. O novo curso
No final de 1922,a França geral, assumiu o ônus de pa- econômico e a aceitação do estabilização da situação. RE
aproveitou o atraso de forne- gar salários e estipêndios. No plano Dawes garantiram a
cimentos alemães por conta verão de 1923, desenhou-se o solvência dos pagamentos.
das reparações para invadir O fracasso dessa estratégia, por- Nesse momento, a política
distrito do Ruhr: oficialmente, que a inflação crescia vertigi- de Paris passou a ser atingida.
para garantir “penhores produ- nosamente e o Ruhr já estava Pressionada por seus aliados,
tivos”, na realidade, para apolar prostrado. A grande coalizão foi obrigadaa anunciar
a separação da Renânia e do formada e dirigida por Gustay sua retirada do
Ruhr do Reich. A resposta foi Stresemann tentou, no outono, território ZE | RR ga
uma onda de movimentos na- uma mudança de rota: não ae RU BE aa E
cionalistas instrumentalizados restava outra escolha a não
pelo governo e a proclamação ser a capitulação ante a França. 1925. Che- a
da “resistência passiva”. Na No entanto, a vitória da França gou ao fim,
DA ESTABILIDADE À CRISE E 25
O PUTSCH DE na Baviera e de lá marchar que gozava o NSDAP para de apenas um ano de prisão,
MUNIQUE sobre Berlim para con- derrubar o sistema demo- Hitler já estava convencido
quistar o Reich, a exemplo crático. O próprio processo da necessidade de mudar de
Para o NSDAPR 1923 foi um da marcha sobre Roma de foi uma importante ocasião tática: não uma derrubada
ano de reviravolta.A que- Mussolini. O golpe de Estado para mostrar a fragilidade da violenta do poder, mas uma
da do marco e a explosão fracassou porque os ambien- república, visto que Hitler, conquista gradual e por vias
do nacionalismo depois da tes conservadores bávaros mesmo condenado a cinco legais.
ocupação do Ruhr foram desconfiavam de Hitler, mas anos de reclusão, conse-
determinantes para des- as circunstâncias que torna- guiu emergir com notável
ferir um ataque ao regime ram possível essa tentativa, superioridade em relação
democrático. Na noite de 8 como teria mostrado o pro- aos próprios aliados e seu
de novembro, Adolf Hitler, cesso contra os revoltosos, ataque à democracia foi ex-
presidente do partido na- colocaram em evidência o plicado como amor à pátria. No PRINCÍPIO ERA O VERBO
zista, tentou tomar o poder potencial de cumplicidade de Posto em liberdade depois Hitler retratado como o Messias.
26 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
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PÃO E TRABALHO
A promessa dos nazistas aos eleitores.
SLOGANS ELEITORAIS
Da esquerda para a direita: pro-
paganda dos social-democratas
que mostram o perigo nazista, dos
comunistas (conclamando para O
fim do sistema) e dos populares que
durch den se batem contra a inflação e
a guerra civil (embaixo).
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28 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
GUSTAV STRESEMANN
Entre os fundadores do partido Ê ; .
popular, foi por breve tempo E
chanceler à frente de uma grande
coalizão. Em seguida, assumiu O
Ministério das Relações Exteriores
e, até 1929, procurou atenuar as
tensões com a França. Em 1928
recebeu o Prêmio Nobel da Paz.
MANIFESTAÇÃO CONTRA
O TRATADO DE VERSALHES
(embaixo)
dos na defesa dos próprios privilégios, e a massa crescente comercial, a Alemanha começou a desempenhar um papel
dos desempregados. de maior peso em nível internacional. Stresemann estava
convencido de que uma situação de equilíbrio na Europa
O “ESPÍRITO DE LOCARNO” podia ser garantida somente se o próprio país tivesse saído
As potências vitoriosas, especialmente por vontade da do isolamento, e essa posição era compartilhada, em mea-
França, não somente tinham imposto à Alemanha derro- dos da década de 1920, tanto pela Grã-Bretanha como pela
tada altíssimos custos, como também tentado anular seu França, em particular por Aristide Briand, ministro francês
peso político internacional, excluindo-a da Sociedade das das Relações Exteriores de 1925 a 1932. Ponto de chegada
Nações e procurando isolá-la. Gustav Stresemann, ministro desse novo curso foi a conferência de Locarno, de outu-
das Relações Exteriores de 1923 a 1929, foi o maior artífice da bro de 1925. Os participantes garantiram uns aos outros as
superação dessa situação. Em 1922, um primeiro passo impor- fronteiras nacionais, repelindo o uso da força para resolver
tante foi a assinatura em Rapallo de um tratado de amizade eventuais contenciosos. No ano seguinte, a Alemanha foi
com a União Soviética, que deu à Alemanha importantes admitida na Sociedade das Nações. Em 1926, Stresemann
vantagens econômicas em decorrência das possibilidades de assinou um novo pacto de neutralidade e recíproca amizade
intercâmbio que dele derivaram. com a União Soviética, para mostrar que a política externa
Nos anos seguintes, eliminada a emergência da inflação e alemã já tinha reconquistado plena autonomia. Muitos
conquistada, desde 1º de janeiro de 1925, a plena liberdade conservadores alemães criticaram as excessivas concessões
império
antes de 1914
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BE Novos Estados
+ Territórios contestados
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DA ESTABILIDADE À CRISE E 929
VVALTER GROPIUS
Arquiteto, desenhista e urbanista,
foi um dos protagonistas do movi-
mento da nova arquitetura fun-
cional e da escola do Bauhaus de
Weimar, do qual realizou o edifício
de Dessau (embaixo).
aquelas mesmas potências que tinham assinado as rígidas haviam surgido nos anos precedentes, puderam se exprimir
cláusulas da derrota e julgaram sua política exterior incapaz com maior liberdade. O desenvolvimento dos meios de
de restituir ao país seu papel hegemônico na Europa central. comunicação de massa encontrou seu interlocutor natural
Em 1927, Stresemann e Briand receberam o Nobel da Paz: num público sempre mais amplo e variado. A literatura e O
na Europa, muitos estavam convencidos de que a paz já esti- teatro procuraram desse modo novas formas: da difusão da
vesse garantida para os anos futuros. reportagem como gênero literário, à grande experiência do
teatro político de Erwin Piscator, ao cabaré.
A VIDA CULTURAL A produção em série de objetos domésticos levou ao
desenvolvimento das artes aplicadas, de escala artesanal a
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A maioria do corpo docente nunca aderiu com convicção à Weimar e depois em Dessau, arquitetos (Walter Gropius),
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causa republicana; pelo contrário, manteve-se muitas vezes pintores (Oskar Schlemmer, Wassily Kandinsky, Johannes
Itten), fotógrafos (Lazló Moholy-Nagy, John Heartield). Em
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VARIEDADE BERLINENSE Bailarinas no camarim antes de entrar em
32 MH HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
VENDA DE HORTALIÇAS
NUMA CIDADE ALEMÃ
POLÍCIA CONTRA
OS GREVISTAS
Causados por uma excessiva emis-
são de moeda, os impressionantes
indices de inflação, que marcaram
os anos de VVeimar, enfraqueceram
o poder de compra do marco, atin-
gindo especialmente todos aqueles
que garantiam sua subsistência
com uma renda fixa (embaixo).
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expressionista, que se apresentavam como verdadeiros intér- período foram profundamente críticos com relação à nova
pretes da vida cotidiana, próximos das pessoas. Contra as ordem, a seu ver incapaz de se tornar portadora de uma ino-
decorações e o catálogo dos estilos em arquitetura, passou-se vação realmente radical.
a defender uma construção liberada do ornamento ou ime- Os últimos anos da república foram caracterizados por uma
diata e direta. guinada para a exaltação da guerra, que preparou e difundiu a
As novas técnicas fotográficas e cinematográficas permi- mentalidade e a ideologia fascista. Diante dessa polarização
tiram o desenvolvimento de linguagens autônomas, ligadas e radicalização, no início da década de 1930, muitos intelec-
à imagem e à cultura da metrópole, não mais tomadas da tuais se retiraram da vida pública, afirmando a primazia da
literatura e do teatro, com o trabalho de maestros como Fritz interiorização.
Lang, Max Ophiils e Friedrich W. Murnau.
Elemento característico de grande parte das expressões CRISE ECONÔMICA E DESEMPREGO
culturais foi a falta de identificação com os novos valores À crise econômica de 1929 teve suas raízes essencial-
republicanos e democráticos por causa dos limites do refor- mente no desenvolvimento capitalista e financeiro dos
mismo da política social-democrática, que assinalaram tam- Estados Unidos. Os estreitos laços que a Alemanha tinha,
bém sua incidência na vida cultural e sua elaboração ideo- desde o início da década de 1920, com a economia ameri-
lógica. Muitos dos intelectuais mais ativos e atuantes do
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cana fez com que se tornasse um dos países mais atingidos dos preços e pela redução de seu poder de compra. Tanto o
pela crise. À recessão produtiva assumiu níveis dramáticos, seguro contra o desemprego, garantido por lei desde 1921,
em particular no setor dos bens de consumo. Os salários como o subsídio de crise eram suficientes para um período
sofreram uma maciça contração, em parte por causa do corte relativamente breve. À pobreza crescente se juntavam um
dos salários mínimos decretado pelo governo, como também difundido senso de frustração e a falta de perspectivas. Com
pela falta de cumprimento dos contratos coletivos de traba- a crise econômica, a república de Weimar perdia ulterior-
lho pelos empresários; os preços, ao contrário, continuaram mente sua legitimidade, em vista de sua conclamada falên-
a aumentar. Os índices mais alarmantes se referiram, con- cia no setor social. Os grupos militarizados de direita e de
tudo, ao desemprego que passou de 8,5% de 1929 a 29,9% esquerda ofereciam coesão e oportunidades para preencher
em 1932, isto é, cerca de 5,5 milhões de desempregados o dia que os desempregados não encontravam em outro
registrados, aos quais devem ser acrescentados cerca de um lugar: a disciplina da organização substituiu a do trabalho. A
milhão de não oficiais. crise econômica mundial foi uma das causas fundamentais
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Os mais atingidos foram os operários, em particular do colapso definitivo da república: de um lado, promoveu
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empregados. Muitos funcionários públicos não perderam o angustiante presente; de outro, concedeu aos conservadores
emprego, mas sofreram uma nítida redução do estipêndio; ocasião de desferir o golpe definitivo ao sistema que se havia
pequenos lojistas e comerciantes foram atingidos pela queda firmado em 1918.
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CAMINHÃO DE PROPAGANDA
NAZISTA ATRAVESSA O PORTÃO
DE BRANDEMBURGO (BERLIM)
No início, o partido nazista agiu
sobretudo como força de pressão
nas praças e como organização
que reunia ideologicamente os
conservadores e os segmentos
populares atingidos pela crise.
O CRESCIMENTO DO NSDAP obteve sucesso decisivo nas áreas rurais e nas cidades pegue-
Os efeitos da grande crise mundial coincidiram com o nas e médias, enquanto nos grandes centros urbanos os par-
crescimento eleitoral do partido nazista, cuja força provinha tidos operários mantiveram certa força. Os dados eleitorais
principalmente do esfacelamento progressivo das institui- demonstram que, entre 1930 e 1933, os nazistas conseguiram
ções republicanas e do redimensionamento em ato no setor a maioria de seus votos no tradicional eleitorado das forças
de direita do alinhamento político. O NSDA?P foi favorecido burguesas. O aumento do número dos deputados permitiu
pelo desmantelamento da ideia de democracia na consciên- aos nazistas utilizar o parlamento como caixa de ressonância
cia popular: a maioria da população, profundamente abatida de suas palavras de ordem. O aumento de inscritos e sim-
com o desemprego e a incerteza, reclamava uma ordem qual- patizantes se traduziu num ativismo de praça pública, capaz
quer, capaz de garantir estabilidade para o futuro. A tradição de canalizar a insatisfação e a rebeldia. A grande habilidade
autoritária da Alemanha imperial tinha raízes profundas e do NSDAP foi utilizar todas as técnicas de manipulação dos
era fácil induzir a maioria a pensar que a única solução seria comportamentos coletivos. Uma contribuição essencial para
o retorno àqueles princípios que a república tinha se pro- sua vitória foi dada também pelos setores de ponta da eco-
posto eliminar, mas revelando-se incapaz de substituí-los nomia alemã que, especialmente depois de 1930, estavam
por novos conteúdos. A partir de 1930, o partido nazista convencidos da necessidade do restabelecimento de uma
continuou a crescer, favorecido também pela impotência das ordem autoritária e antissocialista, e financiaram generosa-
forças democráticas diante da expansão da crise. O NSDAP mente o partido.
ALFRED do partido nacional alemão, nhava também o apoio dos levou a superar as rivalidades
HUGENBERG sua afirmação marcou uma setores fortes da economia, existentes entre os partidos
etapa fundamental para a mas também de como os da direita nacionalista a que
Nascido em Hannover em concentração em torno do representantes dos partidos todos visavam, com poucas di-
[865,a partir de 1890 fez INSDAP das forças nacionalis- conservadores pensavam em ferenças de perspectiva, a uma
parte de numerosos círculos tas e pangermanistas. Finan- explorar a força de pressão restauração autoritária. Com
e organizações nacionalistas. ciou o partido nazista, decidi- nazista para romper definiti- relação a estes,o NSDAP ti-
Grande industrial, durante a do a utilizá-lo, precisamente vamente a frente democrática nha, porém, a vantagem de ter
guerra construiu um imenso por sua grande capacidade e, depois, centralizar nas pró- introduzido na política o mê-
império econômico, graças de atração nas praças, como prias mãos o poder político todo das esquadras de choque
especialmente ao controle de cabeça de ponte para destruir e repropor um alinhamento em praça pública. O destino
grande parte da imprensa e o sistema weimariano. O peso conservador de tipo imperial, do partido de Hugenberg, que
de outros meios de comuni- econômico de Hugenberg mais que um novo sistema se dissolveu pouco depois de
cação, que soube utilizar para e seu papel político foram a de alianças. A decisão de janeiro de 1933, teria mostra-
combater violentamente a prova mais concreta de co- Hungenberg de resolver a do nos anos seguintes a falta
recém-constituída república, mo, por detrás do crescente crise alemã por meio de um de fundamento desses proje- |
Eleito em 1928 à presidência sucesso do NSDAR se dese- golpe de força antiparlamentar tos de restauração. 1%
DA ESTABILIDADE À CRISE E 35
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ENTE
36 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
PROIBIDO FALAR
Hitler amordaçado num cartaz de
propaganda nazista de 1926.
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O LIVRO MEIN crevia — que, numa época de Em contrapartida, o espaço de- tar-se às circunstâncias contin-
KAMPF decadência das raças, dedica-se dicado às questões econômicas gentes, prometendo aquilo que
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aos cuidados de seus melhores era bastante escasso e havia so- se sabia que era do agrado dos
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Minha luta foi redigido por elementos raciais deverá um mente afirmações muito vagas. presentes, sem preocupar-se
Hitler em 1924, durante a de- dia tornar-se dono do mundo”, Mein Kampf foi traduzido em com as reais possibilidades de
tenção, depois do fracassado 6 línguas e, até 1940, foram atuação. Seria errôneo, con-
putsch de Munique. O pri- e + publicados |O milhões tudo, pensar que, já em 1924,
meiro volume saiu em 1925 ap E — de exemplares.É difícil Hitler visse claramente todo
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e o segundo, no ano seguin- pao sor MEIN KAMPI estabelecer quantas pes- o sucessivo desenvolvimento E
te. Nele eram expressos al- Es.
soas realmente o leram político: Mein Kampf é mais um q
guns pontos fundamentais e quantas, entre aquelas testemunho das linhas mestras|
de sua concepção política que o leram, entenderam de seu pensamento, que foi q
e ideológica, em particular sua mensagem. Além dis- possível em boa parte realizar |RE
no tocante ao espaço vital so, nas manifestações e por meio de um concurso: de É
e à questão judaica, dois | nos discursos de propa- circunstâncias que certamente
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aspectos profundamente | é.
Ô ganda prevaleceu sem- não era previsível em meados
pre a tendência a adap- da década de 1920.
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A CIDADE E A POLÍTICA
HABITACIONAL
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O cHANCELER HITLER
E O PRESIDENTE HINDENBURG
EM 1933 (p. 38)
O INCÊNDIO DO PARLAMENTO
(na abertura).
PROPAGANDA
O cartaz nazista, que acusa os
comunistas de ter ateado fogo ao
Reichstag, convida a votar na lista
liderada por Hitler.
Um MONTE DE RUÍNAS E =,
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O que restava do plenário do
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CARTAZES ELEITORAIS
REVOLUÇÃO NACIONAL
Cartaz nazista (embaixo).
foi assim institucionalizado o estado de emergência que vezes e somente para aplau-
caracterizou toda a duração do regime nazista. As eleições dir e ratificar as decisões
convocadas para 5 de março de 1933 se desenvolveram do Fiihrer. Todo resíduo de
num clima de violência terrorista. Com 43,9% dos votos, colegialidade política havia
o NSDAP não obteve a maioria absoluta como esperava. desaparecido.
No dia 23 de março, reuniu-se o novo parlamento, do
qual ficavam praticamente excluídos os comunistas; foi DEPURAÇÃO DO
votada uma lei que atribuía plenos poderes ao Fiihrer: eram ESTADO E DA SOCIEDADE
colocadas, desse modo, as bases para o fortalecimento do O plano das forças conser-
executivo e o definitivo desmantelamento do sistema de vadoras de “cercar? o partido
Weimar. A lei foi aprovada com 444 votos favoráveis e 94 nazista e dobrá-lo a suas exi-
contrários. À oposição ficou a cargo dos social-democra- gências revelou-se muito cedo
tas e seu presidente Otto Wels denunciou com coragem o uma ilusão. No dia 9 de março,
sepultamento da democracia. Os representantes de todos tinham sido anulados os manda-
os outros partidos votaram a favor, convencidos de que era tos parlamentares dos comunis-
necessário ter um executivo forte para garantir um retorno tas: muitos deputados e funcio-
ordem. Daí em diante, os parlamentares se reuniram raras nários foram presos ou obrigados
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42 HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
SOCIAL-DEMOCRATAS = JUDEUS
A frase “Eu, bisneto de Mardoqueu
Marx, lhes dei meu simbolo” alude
com sarcasmo ao fato de que os
cabelos crespos dos judeus se
tornam flechas, simbolo da social-
democracia alema.
DESFILE DAS SA
Os cartazes intimam:“Não com-
prem dos judeus!” (embaixo).
a deixar o país. A social-democracia, decidida a manter-se origem “não-ariana”: antes mesmo que fosse criada uma
no âmbito da legalidade, tinha, no entanto, enviado ao legislação racial, o princípio racista era sancionado num
exterior alguns de seus funcionários mais importantes e, setor essencial da vida do Estado. Ao mesmo tempo as vio-
quando no dia 22 junho, o partido foi declarado ilegal, o Iências de rua, revoltas num primeiro momento especial-
grupo dirigente decidiu continuar no exterior sua batalha mente contra os partidos operários, começaram a atingir
antinazista. Os outros partidos se dissolveram e, no fim de também os judeus. No dia 1º de abril foi organizada uma
junho, o NSDAP era a única força política legal. A situação ação para boicotar lojas de judeus, que inaugurou a série de
ficava sempre mais difícil para todos aqueles que se haviam ações coordenadas pelo governo e, embora essa iniciativa
empenhado contra o regime; para fugir do perigo iminente e não fosse realmente coroada de êxito, começou a difundir-se
poder continuar a se exprimir livremente a fim de denunciar em setores sempre mais amplos a convicção da culpa e da
o que ocorria em seu país, muitos intelectuais escolheram inferioridade dos judeus.
o caminho do exílio.
No dia 7 de abril foi criada a lei “para o restabelecimento AS IGREJAS E O NAZISMO
da burocracia profissional”, destinada a subordinar o apa- As igrejas católica e evangélica tiveram, nos primeiros
relho administrativo aos ditames do novo regime. Foram anos do governo de Hitler, um importante papel no fortale-
despedidos os funcionários que haviam entrado em serviço cimento da autoridade do Estado nazista e na eliminação de
depois de 9 de novembro de 1918 e aqueles que eram de possíveis núcleos de oposição.
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44 [E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
A QUEIMA
DOS LIVROS
No dia 10 de maio de 1933
foram queimados nas praças
de muitas cidades universi-
tárias milhares de livros de
autores como Sigmund Freud,
Karl Marx, Erich Marie Re-
marque, Carl von Ossietzky,
Kurt Tucholsky. As queimas
tinham sido organizadas pelas
ligas estudantis e a maioria
dos professores participou,
demonstrando que nenhuma
oposição ao novo regime
proviria das universidades.
Não se tratou, porém, como
se pretendia fazer crer, de
um gesto improvisado que
deveria deixar transparecer
os mais autênticos sentimen-
tos dos alemães, mas de uma jurioso contra os autores que pretendia ser a concreta
ação planejada e coordena- condenados.A queima não foi demonstração de que o es-
da por Goebbels que, em somente um ato de barbárie, pírito alemão mais autêntico
Berlim, pronunciou inclusive mas mostrou a pretensão do não havia sido queimado, mas
um discurso violento e in- governo nazista de conquistar somente obrigado a calar-se
a hegemonia cultural. As ima- em seu próprio país.
gens das chamas que incine-
ravam os livros repercutiram
por toda a Europa, suscitando
enorme indignação. Muitos
intelectuais alemães no exí-
lio consideraram esse ato
uma ulterior confirmação CORTEJO MACABRO
de sua dolorosa escolha. No Universitários desfilam em torno
primeiro aniversário desse de uma fogueira de livros. Essas
ações foram um sinal preciso do
episódio, 10 de maio de 1934, terror que seria instalado pelos
um grupo de intelectuais, sob nazistas (no alto).
a coordenação de Heinrich
Erich Marie Remarque
Mann, inaugurou em Paris a
Um dos escritores cujos livros
biblioteca alemã da liberdade foram queimados nas praças ale-
(Deutsche Freiheitsbibliothek) mãs em maio de 1933.
A "REVOLUÇÃO NACIONAL" E 45
CRIANÇAS AGITAM
BANDEIRINHAS COM A CRUZ
GAMADA NA PASSAGEM
DO FÚUHRER
ARCEBISPO ITALIANO
Eugenio Pacelli — futuro papa
Pio XII — foi núncio apostólico
primeiro em Munique e depois
em Berlim, na década de 1920
(embaixo).
Em poucos meses foram definidas as relações com as confessante se empenhou particularmente em defender
duas confissões, que representavam respectivamente um seu espaço de ação, chegando às vezes a formas de oposição
terço e dois terços dos fiéis cristãos. Uma lei de 14 de mais radical.
julho de 1933 punha fim à organização em 28 circunscri- À igreja católica sofreu, nos primeiros meses de 1933, um
ções da igreja evangélica e criava uma estrutura unitária duro golpe do regime: propaganda contra as escolas católicas,
guiada por um bispo do Reich, segundo um modelo que se ataques na imprensa, crescente limitação da liberdade de ação
reportava claramente ao Fiihrerprinzip. Tinha-se chegado a das associações. No dia 20 de julho foi firmado um acordo
isso por iniciativa da corrente majoritária dentro da igreja entre o governo de Hitler e a Santa Sé que deveria regular as
evangélica (os Deutsche Christen), favorável a um Estado relações recíprocas nos anos seguintes e que contribuiu para
autoritário e que apoiou a política nazista inclusive nos aumentar o prestígio internacional do nazismo. O Estado
anos seguintes, chegando até a defender a discriminação reconhecia a liberdade de culto e de atividade às escolas e
dos judeus. Os evangélicos contrários a essas posições se às associações, na medida em que se limitassem a objetivos
refugiaram na “igreja confessante” que, reunida em sínodo culturais e caritativos. De seu lado, a Santa Sé proibiu toda
em maio de 1934, divulgou sua posição, segundo a qual atividade política ao clero. Nos anos subsequentes, o regime
mesmo um Estado totalitário devia reconhecer um limite desrespeitou essas cláusulas e a oposição cresceu também no
nos mandamentos divinos. Nos anos seguintes, a igreja interior do mundo católico.
46 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
ADOLF HITLER nome para NSDAP Seu pres- de 1934. Nos anos seguintes, guiar seus destinos por doze
tígio dentro do partido conti- seu poder e prestígio conti- anos se deve a três fatores:
Adolf Hitler nasceu em 1889 nuou crescendo e, depois da nuaram crescendo, mesmo a tenaz oposição de consi-
na localidade austríaca de prisão por causa do putsch porque sempre permaneceu derável parte dos ambientes
Brunau am Inn. Filho de um de Munique, tornou-se seu lí- distante de todo conflito conservadores à república
funcionário aduaneiro e de que pudesse dividir as elites de VVeimar; à crescente insa-
der indiscutível. Nas eleições
sua terceira mulher, depois de 1930, o NSDAP assumiu do poder nazista ou que se tisfação em amplas camadas
da morte do pai interrompeu características de partido de referisse a questões políticas da população, vinculada so-
os estudos e requereu, sem massa com [07 deputados e mais genéricas. O mito cria- bretudo à crise econômica:
sucesso, sua admissão para a Hitler passou a fazer parte do em torno de sua figura sua capacidade oratória,
Academia de Belas Artes de da frente das direitas (frente foi um dos mais formidáveis que fez dele uma espécie de
Viena; manteve-se trabalhan- de Harzburg) nos mesmos instrumentos de consenso messias aos olhos de muitos
do como pintor de paredes e termos dos outros compo- no Terceiro Reich e começou alemães desejosos em mu-
ilustrador de cartões-postais. nentes. Em 1932 obteve a a vacilar somente durante a dar a própria situação. Não
Em 1913, transferiu-se para nacionalidade alemã e, desse guerra, quando não era mais há, portanto, em sua incrível
Munique. No ano seguinte, modo, pôde aspirar ao car- possível fazer crer que a si- ascensão, aspectos diabólicos
com a eclosão da guerra, alis- go de chanceler, que lhe foi tuação poderia melhorar. ou inexplicáveis, mas somen-
tou-se como voluntário. No confiado no ano seguinte Quando, em 1913, Hitler se te um complexo e articulado
fim do conflito, voltou para pelo presidente Hindenburg. transferiu de Viena para Mu- concurso de circunstâncias.
Munique, onde entrou para As etapas de sua ascensão nique, sua bagagem ideológica
um batalhão de reserva e se política coincidiram com o era bastante confusa, baseada
aproximou dos ambientes desmantelamento do sistema no antissemitismo e num im- PROVAS DE RECITAÇÃO
de extrema direita. Em I919, democrático e a centraliza- perialismo racista. O fato de “Apocalíptico, visionário, con-
que tenha conseguido tornar- vincente”: estas são as legendas
inscreveu-se no partido dos ção de todo o poder estatal
(da esquerda para a direita) das
trabalhadores alemães que, em suas mãos, processo que se o dirigente do mais pode- fotografias tiradas por Heinrich
no ano seguinte, alterou seu foi concluído no decorrer roso partido na Alemanha e Hoffman em 1925 (no alto).
A "REVOLUÇÃO NACIONAL" E 47
ma
| HITLER EM NUREMBERG
48 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
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PROPAGANDA DE UMA LOTERIA ET
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GREGOR STRASSER
Lider de ponta do partido nazista ui,
À NOITE DAS FACAS LONGAS Góoring e Heinrich Himmler, cada um interessado em aumen-
O partido nazista se caracterizava pela presença simulttá- tar sua esfera de influência, queriam marginalizar as SA e os
nea de diversas “almas” no núcleo da orientação política. Em projetos de Róhm relativos à “segunda revolução”. O próprio
julho de 1933, depois do desaparecimento do partido católico Hitler se convenceu de que era necessário pôr fim por meio
do Zentrum (Centro) como último potencial concorrente, da violência ao potencial subversivo que colocava em perigoa
Hitler declarou concluída a fase da “revolução” e o início da aliança sempre mais estreita com os grupos conservadores.
“evolução”. Essa perspectiva não era compartilhada por Ernst Destinada a fazer crer que as SA estivessem organizando
Rôóhm, chefe das SA e líder da ala movimentista do partido um golpe de Estado, na noite de 30 junho de 1934 foi prepa-
que, com a organização paramilitar por ele comandada, estava rada uma encenação que passou para a história como a “noite
decidido a manter os impulsos ativistas e revolucionários. das facas longas” — Róhm e mais de cem membros das SA
Róhm considerava as SA como o núcleo de uma futura milí- foram mortos. Desse modo foram eliminados muitos adversá-
cia do povo, que deveria contrapor-se ao exército. A inserção rios considerados perigosos e foi derrotada a corrente rebelde
do partido no tradicional aparato de poder não correspondia que tinha constituído a força de pressão do NSDA?P nos anos
a seus ideais e muito menos o proclamado fim da fase revo- de Weimar e que agora se perfilava contra as exigências de
lucionária. Entretanto, graças à mediação do presidente Hin- normalização do partido. Hindenburg agradeceu a Hitler por
denburg, a ligação de Hitler com a Reichswehr se solidificava, ter salvo o país; o estado-maior do exército, apesar de terem
enquanto personalidades como Joseph Goebbels, Hermann sido mortos também dois generais, não interveio; as igrejas
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50 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
À ALEMANHA É LIVRE!
A fotografia do Fuhrer se sobressai
num cartaz de 1934,
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Desfile de regimentos do exército
seguidos por aqueles das SA.A
união entre as forças armadas e os
grupos paramilitares garantiu uma
imponente força de pressão para o
nazismo em ascensão (embaixo).
se calaram: a violência e a ilegalidade já eram aceitas como Após a morte do presidente Hindenburg, Hitler assu-
instrumento de governo. miu, além do cargo de chanceler, também o de presidente
do Reich e de comandante supremo das forças armadas.
O ESTADO TOTALITÁRIO Completava-se assim a construção do papel do Fihrer, não
A lei emanada no dia 14 de julho de 1933 sancionou a exis- somente dentro do partido, como também do ponto de vista
tência de um só partido. Foram anuladas as autonomias locais, institucional. O princípio do chefe (Fiihrerprinzip) se tornou
regionais e municipais: outro passo para a liquidação de toda o fundamento do poder nazista: a estrutura piramidal culmi-
forma de independência e diversidade e um fortalecimento do nava no Fiúhrer, chefe carismático e vértice supremo, fonte
poder de controle do governo central. Foi criado o Gauleiter, de direito e base de legitimação da ditadura. O modelo que
dirigente de partido e chefe de uma circunscrição administra- governava o vértice do Reich foi reproduzido em todos os
tiva, confirmando a cada vez mais completa integração entre níveis da estrutura política e administrativa, estabelecendo
Estado e partido. A autonomia legislativa das Ltinder (regiões) a obrigação de obediência de baixo para o alto. Hitler, além
foi progressivamente perdendo peso até a completa abolição, da condução indiscutível do partido, detinha em si um tal
com a lei relativa à organização do Reich de 30 de janeiro de poder que podia controlar, ele próprio, o inteiro aparato
1934. A concentração de toda autoridade nas mãos de Adolf estatal. Depois de um ano e meio somente, desde sua posse
Hitler foi atingida no decorrer desse ano. A eliminação de Rôhm no governo, o regime nazista concluiu a construção da nova
e de seus partidários constituiu uma etapa fundamental. estrutura institucional.
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MEDALHAS E DISTINTIVOS
NAZISTAS
À IDEOLOGIA NAZISTA
proclamação da república. Combater os judeus significava,
Um dos elementos centrais da ideologia nazista
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dentro do partido nazista.
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Os principais líderes do partido
desfilam pelas ruas da cidade
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era para Hitler a quinta-essência do mal e os dardos conti- SIMBOLOGIA E RITOS NO NSDAP
nuamente desferidos contra ela confirmam como o racismo A harmonização de Estado e partido procedia também
era a essência de sua política expansionista. Racistas eram do ponto de vista simbólico. No dia 12 de março de 1933,
também suas posições no que dizia respeito aos outros aspec- o presidente Hindenburg dispôs que, ao lado da bandeira
tos da vida do Estado germânico: em particular, a política preta, branca e vermelha do Reich, fosse içada aquela com
para com os jovens devia ser direcionada para a manutenção a cruz gamada. No dia 21 de maio, o novo Reichstag reu-
de sua pureza racial e seus corpos, especialmente com o niu-se pela primeira vez em Potsdam, na igreja onde estava
esporte, deviam ser educados para a força e a agressividade. o túmulo de Frederico II, e a assim chamada “jornada de
O papel das mulheres era reduzido à função biológica de Potsdam” tinha o objetivo de, com sua evocação simbólica
procriar filhos para a pátria. da tradição prussiana, pôr as paixões nacionalistas a serviço
O elemento de força dessas argumentações residia sobre- do novo regime.
tudo na capacidade de agir como fatores de catalisação da Elemento central da simbologia foram os congressos
opinião pública, na capacidade de inserir-se num sistema de do partido, não pensados como ocasião de debate político,
valores em crise, apresentando-se como verdade alternativa mas de autoexaltação, de expressão de potência e concreta
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e suprema: uma nova ideologia antidemocrática que substi- demonstração da existência da “comunidade do povo”.
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54 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
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Depois da dissolução dos sindica- pn 20 N o
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cimentos mais importantes: em 1933, “Vitória da fé” para programático de Hitler. Para aumentar ainda mais os efeitos
honrar a tomada do poder; em 1934, “Triunfo da vontade”, teatrais dessa encenação, a hábil direção de Goebbels fez
referência à conclusão do processo de conquista do aparato com que os congressos fossem anunciados e preparados com
estatal, e assim por diante. O arquiteto Albert Speer montou uma maciça campanha de imprensa que garantia numeroso
em 1935, em Nuremberg, um enorme espaço com estádio, público. O regime introduziu também novas festividades para
sala para congressos e grandes campos onde marchavam as exaltar o regime e reafirmar a guinada ideológica. O dia 1º de
colunas dos fiéis servidores do Estado. Todos os anos, em maio tornou-se o “dia do trabalho nacional”; no entanto, os
setembro, num mar de bandei- trabalhadores nem sequer eram citados para que se esquecesse
ras, desfilavam diante do a tradicional ocorrência da solidariedade operária internacio-
Fiuhrer as SS, as SA, as ho nal. No segundo domingo de maio, celebrava-se a festa das
organizações juvenis e ndo mães e discursos e manifestações reafirmavam o papel central
unidades da Wehrmacht. da mulher como mãe de numerosa prole para a nação alemã,
Manifestações esportivas, O aniversário de Hitler (20 de abril) foi outra data que o
discursos e cortejos cul- regime destinou para fortalecer o mito do Fiihrer, celebrado
minavam com o discurso em toda a Alemanha com desfiles militares e bailes.
A "REVOLUÇÃO NACIONAL" E 55
JOSEPH
GOEBBELS gularmente desde 1923 para
transmitir aos pósteros uma
imagem de si como grande
Nascido em 1897 numa fa-
líder político, constituem uma
mília católica, Goebbels teve
das fontes mais interessantes
indeferido seu pedido como
sobre o aparato de poder do
voluntário de guerra, porque
regime nazista.
claudicava. Estudou germanísti-
ca, filosofia e história da arte e,
depois de formado, procurou MINISTRO DA PROPAGANDA
sem sucesso tornar-se jorna- E HÁBIL ORADOR
lista e dramaturgo. Em 1924 Em 1933,0 escritor Thomas Mann
declarou:“Basta com esse indecoro-
ingressou no INSDAP e logo so chefe da propaganda do inferno,
se destacou como um de seus com esse estropiado no corpo e na |
mais produtivos jornalistas, alma que visa, com desumana baixe- |
za,a elevar a mentira à divindade, à
trabalhando para numerosos
soberana do mundo!”
periódicos nazistas. Inicialmen-
te apoiou as posições da ala SLOGAN DE GOEBBELS
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capacidade de organização e
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de propaganda transpareceu
quando soube explorar a mor- formas de autorrepresentação rer do segundo conflito mun-
te do jovem SA Horst VVessel, do regime e dedicou-se in- dial, exasperou a propaganda
para fazer dele um mártir do cansavelmente à propaganda do regime com tons paroxís-
movimento: este foi o primei- antissemita, com tons de ticos em favor de uma luta
ro de uma série de mitos que extrema agressividade e vul- sem trégua contra o inimigo
Goebbels criou durante sua garidade. Foi o organizador bolchevique, especialmente
carreira. Em 1928 foi eleito de- da “noite dos cristais”, bem nas colunas do jornal semanal
putado pelo INSDAP. No ano como das exposições sobre a Das Reich, fundado em 1940.
seguinte, foi nomeado chefe “arte degenerada”. INo decor- Após a derrota de Stalingrado,
do setor de propaganda e, lançou a palavra de ordem
desde então, seu ativismo não da “guerra total” e, em
teve descanso; particularmente setembro de 1943,
conhecido nesse período foi tentou em vão
convencer Hitler
o boicote por ele organizado
a estipular uma
da projeção do filme pacifista
paz separada.
Nada de novo na frente ocidental,
Nos últimos dias
baseado no romance de Erich
do regime, mos-
Marie Remarque. Depois da
trou-se um dos
tomada do poder, assumiu o
homens mais
Ministério da Propaganda e a
fiéis a Hitler, per-
direção da câmara da cultura,
manecendo com
tornando-se a figura principal
ele no bunker até
da vida cultural sob o nazismo.
o fim. Seus diá-
* Mestre insuperável da suges- rios, escritos re-
* tão das massas, inventou novas
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DESFILE MILITAR
O rearmamento e o consequente
impulso conferido à indústria béli-
ca contribuíram para fortalecer o
consenso dos vértices militares em
torno de Hitler.
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MILHARES DE JOVENS
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FAZEM A SAUDAÇÃO COM
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O BRAÇO ESTENDIDO
Hitler em seu automóvel num
encontro da Hitlerjugend.A disci-
plina coletiva da juventude foi um
dos fundamentos da atividade do
regime nazista. Os jovens eram
doutrinados com a propaganda e
treinados para uma vida espartana,
que os preparava para sua inserção
nas fileiras das forças armadas.
O ENQUADRAMENTO DA SOCIEDADE E 59
BALDUR
VON SCHIRACH
FESTA DA JUVENTUDE nt
Rapazes e moças alemães, repre- TEA 1
sentados em torno de uma foguei- ed pis nd
ra, num cartaz de 1934. Cinco anos da
mais tarde, o número de moças E
inscritas na Bund Deutscher Mádel
(cerca de um milhão e meio) era
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Jogos E EXERCÍCIOS
Rituais e treinamento eram um
compêndio de romantismo de
traços pagãos, de militarismo e de
patriotismo exasperado (embaixo).
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CHE JUG EN D
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enquadrados por idade e vestidos com uniformes que deviam disciplinar, uma verdadeira jurisdição interna separada da
ressaltar que pertenciam à comunidade do povo. Os rapa- administração da justiça. A propaganda sempre sublinhou o
zes deviam participar, pelo menos duas vezes por semana, de aspecto juvenil da organização, mas a palavra de ordem de
todas as iniciativas: marchas, exercícios esportivos e vários uma “juventude dirigida pela juventude” foi inteiramente
rituais como a chamada com o hasteamento da bandeira. mistificadora, porque todos os chefes foram nomeados do
A. militarização da juventude era acentuada pelo fato de alto e a estrutura era rigidamente verticista. A Hitlerjugend
que a Hitlerjugend tinha um rígido sistema chegou a ter 8 milhões de jovens inscritos.
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O ENQUADRAMENTO DA SOCIEDADE E 6|
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BRASÃO DA LIGA
DAS MULHERES NAZISTAS
Mais controversos e contraditórios foram os conteú- motivou a introdução no calendário da festa do dia das mães
dos transmitidos pela BDM, porquanto os aspectos tipica- e, a partir de 1938, a atribuição de uma cruz ao mérito às mães
mente masculinos e belicistas difundidos na Hitlerjugend
Po
promovido pelo regime. As jovens inscritas nas organiza- A propaganda foi, também nesse caso, impregnada de
ções nazistas permaneceram uma minoria e constituíram espírito belicista, como testemunham as palavras de Hitler
uma elite. no congresso de Nuremberg de 1938: “Envergonhar-me-ia
de ser um homem alemão se, em caso de guerra, também
AS MULHERES uma mulher-soldado tivesse de ir ao front. A mulher já
A função da mulher no Reich nazista é compreensível tem seu campo de batalha. Ela combate sua batalha para
somente no contexto dos fundamentos racistas e eugenéticos a nação com cada filho que põe no mundo para a nação.
do regime. A mulher foi considerada e exaltada exclusiva- O homem se empenha para o povo exatamente como a
mente como mãe, educadora dos filhos, mulher submissa e mulher para a família. A paridade de direitos da mulher
respeitosa ao predomínio masculino. Procriar para a pátria reside no fato de que ela recebe, nos campos vitais a ela
foi o ideal mais elevado ao qual as mulheres podiam e deviam destinados pela natureza, o apreço que lhe é devido”. Desse
aspirar, naturalmente sob a condição de que fossem represen- modo, as mulheres perderam sua autonomia, e todas as
tantes da pureza racial ariana. A idealização da maternidade lutas para a emancipação feminina, que nos anos da repú-
DISTRIBUIÇÃO DA CRUZ
DE FERRO À MÃE ALEMÃ
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62 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
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organização das associações foi-lhe possível fazer uma bri-
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TELEFUNKEN T. 121
Em pose, jovens ao lado de um
aparelho radiofônico (embaixo).
blica de Weimar tinham levado a significativas conquistas difusão foi favorecida com a venda de um modelo bas-
sociais e políticas, foram reduzidas a nada. As mulheres tante econômico e o percentual daqueles que possuíam um
foram privadas do direito de voto, além de afastadas do aparelho passou de 25% em 1933 a 70% em 1939. Ouvir
mundo do trabalho com uma série de medidas que iam rádio se tornou uma obrigação e foi promovida também a
da obrigação de deixar o emprego ao marido, a reduções audição coletiva, particularmente no decorrer das mani-
salariais e à proibição de aceder a determinadas profis- festações ou nas pausas de trabalho nas fábricas.
sões. Essa situação mudou sensivelmente no decorrer da O percurso que levou ao controle da imprensa foi, ao
guerra, quando se tornou necessário substituir os homens contrário, mais longo e complexo. Em 1933 havia 3.400
que combatiam no front; as mulheres e as mães foram então periódicos diários, dentre os quais os de cunho nazista
chamadas, especialmente depois da proclamação da guerra constituíam uma clara minoria. Poucos meses depois foram
total em 1943, a dar sua contribuição para a pátria, inclu- proibidos aqueles dos partidos de esquerda. Os judeus e
sive com a mão-de-obra. todos os indesejáveis que trabalhavam nesse meio foram
afastados.
Amann, presidente da câmara da
RÁDIO E IMPRENSA Em 1935 Max
imprensa, deu início a uma sistemática concentração dos
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nicação de massa do nazismo e se transformou no instru- jornais nas mãos do aparato estatal. Dos quase Z0 milhões
de cópias que eram impressas diariamente, o NSDAP con-
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64 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
ENQUADRAMENTO EXTRAÍDO DE
O TRIUNFO DA VONTADE
Em 1934, 100 mil membros das SA
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e das SS enfileirados no estádio de - dl
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Nuremberg.
LENI RIEFENSTAHL
À diretora de espetáculos (da
esquerda para a direita) passeando RA RAVE: Mir d |
com Goebbels e Hitler e receben- ARO PSP TR dh VALE AN Tg
do as congratulações do Fiihrer | 2 RRERPBENS
em dezembro de 1945 (embaixo).
BERTOLT BRECHT
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Poeta e dramaturgo comunista,
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cujas obras representam a con-
dição humana na sociedade capi-
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talista dividida em classes, deixou
a Alemanha após o incêndio do
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Reichstag. Exilou-se primeiramente
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na Dinamarca e depois se transfe-
riu para os Estados Unidos, onde
viveu em Hollywood em situação
de isolamento durante seis anos.
Depois de ser investigado pelo
comitê de atividades antiameri-
canas, deixou o país e viveu até a
morte em Berlim oriental.
vam com esses princípios e apontados pela crítica pública EscoLA E UNIVERSIDADE
em exposições — nas quais eram exibidas as obras-primas de A escola foi um campo fundamental de dilatação do apa-
pintores como Klee e Kandinsky e muitos outros — montadas rato cultural e de propaganda do regime. Antes mesmo de
em todas as cidades alemãs e sempre mais frequentadas. No local para a educação e a socialização, ela se tornou, como as
campo da arquitetura, o Estado incrementou a construção organizações juvenis, local de militarização. À nazificação do
de edifícios de representação e de rodovias especialmente corpo docente foi rápida, porque poucos foram os professores
para favorecer a economia de guerra. A arquitetura teve um que haviam aderido com convicção à causa republicana. A
papel de primeira grandeza na autorrepresentação e exalta- crise econômica, que havia gerado um clima de contínua
ção do poder, porque veiculava direta ou indiretamente a incerteza, contribuiu para aumentar o Ódio contra o governo
ideologia do regime. Isso ficou evidente nos projetos de re- republicano; assim, se até 1930 a refutação de Weimar se
estruturação das cidades alemãs elaborados por Albert Speer, havia concretizado na falta de adesão aos ideais da república,
que exprimiram as características retóricas e monumentais da em seguida se traduziu em ativa colaboração com o nazismo.
arquitetura nazista: os imensos espaços para as manifestações No final de 1933, todo o corpo docente era “racialmente
de Nuremberg e os projetos incompletos para a construção puro” e fiel ao regime.
da grande Berlim — destinada a tornar-se, segundo os planos Os novos programas foram redigidos somente no final
de Hitler, a capital do mundo — foram suas testemunhas mais da década de 1930; a verdadeira mudança, mais que do
significativas. ponto de vista organizacional, foi percebida na crescente
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68 IH HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
CARTEIRA DO PARTIDO
Documento de identificação dos Mationalio;. Deutidye Arbeiterpartei DPerjonal=Ausieis
membros do NSDAP que trazia o
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nome, a ocupação, o endereço e a amitalicosbud Sr. 24
refundado dois anos mais tarde, Mebnort (frbe aus E, 12= mdbiaid
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optando pelo abandono da luta
SEE Estabibejirt
clandestina. Adotou como progra- anita f, Butde E ss ie
ideologização de todas as matérias de ensino. O racismo conservadora e saudou com alegria o novo regime que pro-
foi o elemento característico de cada momento da didá- metia instaurar a ordem depois de anos de caos, mas foi
tica: todas as matérias, inclusive a matemática e o dese- muito mais difícil mudar as matérias de ensino e introduzir
nho, foram ensinadas nessa perspectiva. Poucos foram os novos textos de estudo. As organizações estudantis tiveram
livros de texto novos, na maioria das vezes substituídos por uma influência fundamental na aceleração do processo de
opúsculos e breves panfletos, considerados mais incisivos e “nivelamento”, porque muitos jovens foram convencidos
de fácil compreensão. Além dos conteúdos das lições, foi de que o Terceiro Reich representaria realmente uma nova
a própria liturgia de cada dia que caracterizou a cotidiani- época em que eles deveriam assumir um papel central.
dade e veiculou os novos valores: as numerosas ocasiões
em que se festejava uma data significativa, as excursões, O PARTIDO E O ESTADO
as projeções de filmes contribuíram para reafirmar uma A partir de junho de 1933, o NSDAP ficou sendo o
diversidade existente entre quem era “ariano” e quem não único partido legal na Alemanha. Hitler, chefe indiscu-
o era; foi objeto de debate também se os judeus eram ou tível, conseguiu com habilidade agregar em torno de si
não dignos de fazer a saudação nazista, com a qual se abria as elites divididas não tanto por divergências ideológicas
e se fechava cada dia. (como foi o caso do fascismo italiano), mas por rivalidades
As universidades, ao contrário, foram mais difíceis de e batalhas pelo poder que favoreceram o fortalecimento de
“expugnar”; a maioria dos professores tinha orientação sua liderança.
FRENTE DO TRABALHO
EM NUREMBERG
Substituiu os sindicatos dissolvi-
dos e constituiu a mais numerosa
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obedecer às ordens do chefe da
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O ENQUADRAMENTO DA SOCIEDADE E 69
ALBERT SPEER
em 1944 alcançou seu nível
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AS lheiro do estado inspetor-geral da viabilidade
e dos recursos hídricos e de Londres em 1981.
prussiano, além
“Ti de ser agraciado energia. Speer se empenhou
para transformar a indústria ACADEMIA DE GINÁSTICA E
Ei por uma alta honorifi- NOVA CHANCELARIA EM BERLIM
cência do partido. Ainda dos armamentos no contexto (no centro da página).
em 1938, assumiu a direção de uma economia inteiramente Marcada pelos parâmetros do mais
direcionada para a produção desprovido classicismo, a nova chan-
do departamento “beleza do celaria do Reich, projetada por Speer,
trabalho”, que dependia da bélica, alcançando resultados se configurava como um exemplo de
frente alemã do trabalho. produtivos bastante elevados, arquitetura que, embora pretendida
apesar dos danos causados para criar efeitos, era de grandiosida-
Em 1942, com a morte de de comedida. O edifício foi erguido
Fritz Todt, sua carreira deu pelos bombardeios aliados nas em menos de um ano, numa verda-
uma guinada: foi nomeado infraestruturas e no armaze- deira corrida contra o tempo que
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ministro do Armamen- namento de matérias-primas
Má El rios divididos em dois turnos.
to e das Provisões (a paraa economia alema. A ele-
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partir de vada produção industrial, que SPEER COM HITLER (à esquerda).
70 HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
ILUMINAÇÃO
PARA AS OLIMPÍADAS
Vista de uma praça de Berlim
durante a realização dos jogos
olimpicos.
Em janeiro de 1933, o NSDAP contava com 850 mil ins- A tendência à identificação de Estado e partido permitiu
critos, cuja maioria provinha da pequena burguesia e cerca a este último gozar de maior ou menor autoridade, de acordo
de um terço era constituído de operários, a metade deles com as necessidades táticas. Essa compenetração institucio-
desempregada no momento da tomada do poder. A presença nal ficou evidente no caso dos Gauleiter, responsáveis pelas
feminina foi bastante escassa, enquanto os jovens foram bem circunscrições regionais, que unificaram as funções de mem-
mais numerosos do que o eram nos partidos burgueses ou bros do partido e de funcionários estatais: alguns deles foram
na social-democracia. Depois de 30 de janeiro, houve um até ministros (como Goebbels), muitos ocuparam outros car-
sensível aumento dos inscritos — em particular professores gos na administração pública. Ao lado dos chefes regionais
e empregados — de tal modo que, já em maio, seu número do partido nazista, subsistiram também todas as organizações:
havia triplicado. Sempre mais indefinidos se tornaram os SS, Hitlerjugend, associações estudantis e femininas, pormeio
limites entre Estado e partido, e a lei de 1º de dezembro de das quais foram exercidas duas das funções fundamentais do
1933 sancionou sua unidade: o NSDAP se transformou numa NSDAP: a educação da nação e a escolha daqueles que deve-
associação de direito público, o substituto do Fiihrer e o chefe riam desempenhar papéis de responsabilidade no Estado.
do estado-maior das SA se tornaram membros do governo e
o partido teve a possibilidade de julgar os próprios membros,
subtraindo-se do direito usual.
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O ENQUADRAMENTO DA SOCIEDADE E 7|
ESPORTE
E OLIMPÍADAS rários, cujos bens foram uma ocasião impar para exibir
confiscados por “legatá- um grandioso show de pro-
O esporte — entendido rios da polícia. No dia 10 paganda numa fase bastante
especialmente como exer- de maio de |933, foi criada delicada da política externa
cício físico, disputa de a organização do Reich pa- nazista. Os jogos de Berlim
competitividade, fortaleci- ra O esporte, que submeteu ofereceram a oportunidade
mento do espírito agres- à UM rigido controle por de montar uma fachada que
sivo — foi considerado parte do poder central as desse a atletas e jornalistas
elemento constitutivo do outras associações do setor. estrangeiros a imagem de um
novo homem alemão. O Todos os membros tiveram país “normal”. Durante a rea-
associacionismo esportivo de declarar fidelidade ao lização das competições ces-
— operário, confessional, Organismo central e confor- saram os tons mais violentos
de partido — tinha co- mar-se com suas diretivas. Os e antissemitas da propaganda
exercicios esportivos, cujo e foi conferida uma aparência
nhecido um notável de-
caráter belicista era evidente, de ordem e eficiência que não
senvolvimento na década
assumiram um peso sempre deixou de enganar a imprensa
de 1920, particularmente
mais importante também estrangeira, concorde ao refe-
entre os jovens.A partir de também nesse setor: Foram
nas escolas: os jovens foram rir o desenvolvimento regular
1933,o “nivelamento” acon- dissolvidas as associações obrigados a desafiar-se em das Olimpiadas.
teceu por etapas forçadas esportivas dos partidos ope- competições de resistência e
Pr,
as atividades físicas,
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o empenho bélico,
revestiam-se de um
peso cada vez maior.
As Olimpíadas de 1936,
como foi estabelecido em
1931, deveriam ser realizadas
em Berlim, embora a orienta-
ção racista fosse inconciliável
com o caráter cosmopolita
desses jogos. Em 1935,0 co-
mitê olímpico internacional
declarou-se perplexo particu-
larmente por causa das reser-
vas nazistas a respeito da par-
ticipação de atletas judeus, ao
qual Goebbels deu respostas CARTAZ PARA AS OLIMPÍADAS
tão vagas como tranquiliza- INVERNAIS DE 1936
(no alto)
doras que, no entanto, foram
consideradas satisfatórias. O MEDALHA CONFERIDA AOS
NSDAP inicialmente contrário ORGANIZADORES DOS JOGOS
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S graves consequências da crise de 1929 constituí-
ram um dos elementos que favoreceram a tomada
do poder do NSDAP, cujas promessas de eliminar
o desemprego tinham exercido grande atração
no eleitorado alemão. O “socialismo”, que o partido usava em
seu próprio nome, revelou-se uma fórmula demagógica que
ocultava o propósito de atuar no enquadramento hierárquico
do mundo do trabalho. O apoio às camadas médias, que era vei-
culado no programa do NSDA? foi esquecido. Gottfried Feder,
que havia difundido a palavra de ordem do “fim da escravidão
do débito”, foi afastado em 1934 do Ministério da Economia,
fazendo calar aquele componente anticapitalista que tinha tido
um papel significativo nos primeiros anos de vida do partido.
Também a política agrária do regime, além da exaltação dos
camponeses como “fonte de vida”? da nova raça ariana, não
implementou mudanças estruturais, deixando inalterado o
poder dos grandes proprietários e não melhorando em nada a
condição dos agricultores.
74 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
Trabalhos em rodovias
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Início da construção da rede rodo-
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viária alemã (p. 72).
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Aperto de mão
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Hitler com alguns operários (na A
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Poupadores alemães
O engenheiro aeronáutico
Willy Messerschmitt
e os estabelecimentos Krupp
em Essen (embaixo).
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A POLÍTICA ECONÓMICA E 75
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Carros MERCEDES-BENZ
Cartaz publicitário da indústria de
veículos.
RETRATO DE FAMÍLIA
O magnata da indústria de arma-
mentos Gustav Krupp (em pé, à
direita) retratado com a mulher
(sentada à sua direita) e seus
familiares numa pintura de 193]
(embaixo).
MERCEDES-BENZ
mais papel-moeda de quanto o governo podia garantir, e deveria ser igual a 5% de todos os salários pagos nas empre-
o financiamento dos armamentos e a conquista da plena sas alemãs em 1932.
ocupação foram geridos com uma política inflacionária, O primeiro modelo de intervenção estatal sem estatização
enquanto o Estado contava poder saldar seus débitos com da economia ocorreu no final de 1933 com a criação do cartel
os futuros ganhos de uma vitória na guerra. O desenvolvi- da IG Farben relativo a novas instalações para a produção
mento econômico provém claramente das despesas mili- sintética de gasolina. O percurso da produção artificial que
tares que certamente não foi possível financiar somente deveria garantir a autossuficiência econômica alemã tinha
por meio da cobrança de impostos: em 1933 chegavam a sido, portanto, empreendido e, no ano seguinte, no dia 1º de
49%, em 1934 alcançaram 18%, e em 1938 cobriam 50% da dezembro de 1934, foi promulgada a lei que previa facilita-
despesa pública. ções econômicas para a construção de novas instalações para
Comumente, a grande indústria apoiou com maior empe- a produção de gasolina, borracha sintética e lã de celulose.
nho o novo regime, como demonstram, entre outras coisas, Quanto ao comércio exterior, Schacht promoveu um
as “doações Adolf Hitler da economia alemã”, por meio das novo plano — definido por ele de “New Deal alemão” — que
quais foi financiada a campanha eleitoral de 1933 e que, incrementou as trocas especialmente com a Europa centro-
sucessivamente, depois de um apelo de Gustav Krupp, foram oriental, para remediar a falta de
transformadas em uma doação anual que matérias-primas na Alemanha.
76 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
TRABALHADORES INTELECTUAIS ER
E MANUAIS: ELEJAM
O SOLDADO HITLER!
Cartaz eleitoral nazista.
À INTERNACIONAL DE
OTTO GRIEBEL (1930)
(embaixo).
Diante dos maciços investimentos para o rearmamento, série de medidas bastante eficazes. Schacht promoveu uma
os destinados para as políticas sociais foram bastante modes- política até então não usual de deficit spending que, para esti-
tos. A política habitacional, por exemplo, foi muito infe- mular o crescimento econômico, determinou um maciço
rior ao padrão da república de Weimar e medidas como as endividamento do Estado. As leis para a diminuição do
subvenções para a política matrimonial foram pagas com a desemprego puseram em prática este princípio, concedendo
diminuição de outros fundos sociais. O endividamento do créditos às regiões e aos municípios, graças aos quais foram
Reich saltou de 12,9 bilhões de marcos em 1933 para 31 promovidas algumas obras públicas, como a construção de
bilhões em 1938. A estabilidade da moeda e a paz social rodovias, em que se renunciou, dentro de certos limites, a
estavam em perigo, mas a escolha inadiável da corrida aos todo maquinário para empregar o maior número possível de
armamentos era prioritária em relação a qualquer outra pessoas. Esse processo foi favorecido também pelo fato de
consideração. que os créditos haviam sido concedidos sob a condição de
que as mulheres não trabalhassem ou deixassem seu lugar
À LUTA CONTRA O DESEMPREGO ao marido.
Restabelecer na Alemanha a plena ocupação foi uma Isso não somente diminuiu o desemprego masculino,
promessa continuamente desfraldada qual bandeira pela como também favoreceu inclusive a política demográfica,
propaganda nazista. Esse projeto se tornou possível tanto deixando às esposas tempo para dedicar-se ao exclusivo
pela modificação da conjuntura econômica como por uma papel de mães. A partir de 1935, a reintrodução do alista-
A POLÍTICA ECONÔMICA E 77
CHARLES LINDBERGH
O aviador norte-americano foto-
grafado durante uma visita a um
campo de aviação na Alemanha em
meados da década de 1930.
mento obrigatório e de seis meses de trabalho obrigatório a autonomia da classe operária; mas depois dos difíceis
para os homens entre 18 e 25 anos aliviou ulteriormente a anos da crise econômica, a certeza de um emprego foi,
pressão sobre o mercado de trabalho. Aqueles que prestaram para muitos alemães, realmente mais importante que essas
o “serviço do trabalho” e os jovens que foram empregados considerações.
em atividades agrícolas temporárias não foram, contudo,
incluídos nas estatísticas dos desempregados. A dissolução A POLÍTICA AGRÍCOLA
dos sindicatos e a nova organização hierárquica dentro das A propaganda nazista tinha insistido muito na impor-
fábricas favoreceram o controlee > o comando do mercado tância da defesa do mundo agrícola e camponês, ver-
de trabalho. dadeiro representante da pureza racial alemã. Walter
Apesar disso, o sucesso da luta contra o desemprego Darré, ministro da Agricultura e chefe da organização
foi real: no momento da tomada do poder de Hitler, os corporativa dos agricultores, foi o principal artífice das
desempregados eram cerca de 5 milhões; em 1935 houve reformas do mundo agrícola. Ele deu vida ao Reichsnáhrs-
uma redução para pouco mais de dois milhões; e, no ano tand (corporação da alimentação do Reich) do qual eram
seguinte, alguns setores, como a indústria de edificações e membros todos os agricultores e quem comercializava ou
a metalúrgica, lamentavam a falta de mão-de-obra. Esses trabalhava industrialmente produtos agrícolas; todas as
sucessos foram atrelados a uma economia destinada à pro- ligas agrícolas e as organizações preexistentes foram dis-
dução bélica e obtidos à custa do desaparecimento de toda solvidas. Os novos funcionários nem sempre conseguiram
DISTINTIVOS DO SERVICO
DO TRABALHO DO REICH
de 1934
CAMPONESAS EM
TRAJES TRADICIONAIS
A política agrícola do Reich não
conseguiu refrear a fuga dos cam-
pos (embaixo, à direita).
obter o controle completo da situação, como no caso das mente que sobre essas terras não podiam pesar hipotecas,
estreitas ligações entre agricultores e comerciantes judeus protegendo os endividados, mas não foi possível, por falta
que, muitas vezes, lhes ofereciam os créditos necessários; de capitais, proceder aos necessários investimentos. Além
mas além disso, não houve para os camponeses nenhuma da retórica propagandista, a política agrícola implementada
autonomia. pelo regime não trouxe mudanças significativas; pelo con-
A intervenção pública limitou-se de fato a aspectos trário, a fuga das áreas rurais se acentuou no decorrer dos
técnicos, deixando aos cartéis da indústria química e aos anos. No setor agrícola, porém, a autonomia produtiva da
latifundiários a liberdade de impor condições de trabalho Alemanha chegou a 80%.
proibitivas e de determinar os preços dos produtos agrícolas.
Não foi encaminhada nenhuma reforma para mudar a estru- A CLASSE OPERÁRIA
tura do latifúndio, porque o apoio dos grandes proprietários Os operários e suas organizações políticas, sindicais e
de terras tinha sido e deveria continuar sendo um pilar do associativas foram o primeiro alvo de ataque nazista e já em
sistema de poder nazista. A lei de setembro de 1933, que junho de 1933 não existia mais nada do amplo e variado
vinculava o primogênito a uma propriedade de até 125 hec- espectro de grupos e estruturas que haviam caracterizado
tares, tornando-a indivisível e inalienável, reafirmou o vín- os anos da época da república de Weimar. Os operários
culo dos camponeses com a terra, privando-os de qualquer foram rigidamente enquadrados para acelerar os ritmos
possibilidade de mudar seu próprio status. A lei previa real- produtivos sem direito a nenhuma reivindicação ou mani-
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A POLÍTICA ECONÔMICA E 79
CRUZEIROS PARA OS
TRABALHADORES
O cartaz anuncia; "Agora também
tu podes viajar!” As viagens orga-
nizadas para famílias de operários
e de empregados deram a ilusão
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de que também as camadas menos
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favorecidas podiam desfrutar das
mesmas benesses da burguesia.
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festação de descontentamento. Em maio foi fundada a social de seus membros e estendendo sua presença parti-
Frente Alemã do Irabalho, tendo como presidente Robert cularmente fora do horário de trabalho, por meio da regu-
Ley, que, com mais de 25 milhões de inscritos, passou a lamentação do tempo livre. Essa tarefa foi desenvolvida
ser a maior associação de massa nazista. Ley a concebeu pela organização Kraft durch Freude (força por meio da
como instrumento para penetrar em todos os setores da alegria) que administrou numerosas iniciativas: de espe-
vida econômica alemã. Caixa de ressonância da política táculos teatrais a concertos, de curtas viagens a atividades
social do regime e tentacular mecanismo de pressão con- culturais. Apesar dos preços relativamente baixos, foram
formista, foi um dos meios mais eficazes para a penetração os empregados e não os funcionários que mais usufruíram
popular do regime e para o condicionamento psicológico delas e muitos aproveitaram a possibilidade de evadir-se
das massas trabalhadoras. A grande disponibilidade eco- da rotina diária.
ln! | nômica da Frente, que derivava das contribuições de seus O objetivo dessas iniciativas foi a exaltação naciona-
eia membros, serviu para financiar uma elefantíaca estrutura lista do espírito coletivo para dar, ao menos momenta-
a de funcionários. neamente, a ilusão de que acima dos conflitos de classe
104 A interpenetração típica de partido e Estado, que carac- era realmente possível pertencer a uma Volksgemeinschaft
gm | terizouo Terceiro Reich, transpareceu também nesse setor: (comunidade do povo) que, na realidade, se caracterizou
ie | oNSDAP administrou a frente trabalhista realizando, por como estrutura nada igualitária, pois era articulada de
conta do Estado, o controle da confiabilidade política e modo hierárquico e corporativo.
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80 EE HISTORIA ILUSTRADA DO NAZISMO
FrITZ ToDT
Artífice da construção da rede
rodoviária alemã e das fortificações
do Atlântico, foi ministro para os
armamentos de 1940 a 1942,ano
em que morreu num acidente aéreo.
|º DE MAIO NAZISTA
Cartaz para a primeira celebração
da “Festa do trabalho nacional”.
assim rebatizada para eliminar toda
conotação de classe.
ENCONTRO DA FRENTE
DO TRABALHO (embaixo).
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a do naz ism o, a infla ção e o dese mpre go deix aram de exist ir. Mas a classe operária
OPERÁRIOS NA FÁBRICA Com a chegad fábricas e da disciplina interna
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alemã se beneficiou salár ios e condições de trabalho.
su pr e ssão da libe rdad e de asso ciaç ão e da poss ibil idad e de nego ciar
nos estabelecimentos, além da
82 E HISTORIA ILUSTRADA DO NAZISMO
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priu apenas um. Na década de
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Deixou o cargo em 1930 1950, começou uma brilhante
em decorrência de conflitos carreira como conselheiro
com a política financeira do econômico e financeiro dos
governo e se aproximou dos países em via de desenvolvi-
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ambientes conservadores. Em ! o Er
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novamente presidente do ban-
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BORRACHA SINTÉTICA
PRODUZIDA NOS
ESTABELECIMENTOS
DA IG FARBEN
O PLANO QUADRIENAL
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nitivo para uma organização de todo o sistema econômico econômicos. Os melhores resultados no tocante à produção
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em vista do esforço bélico. Hitler declarou nessa ocasião: autárquica foram alcançados pela indústria química.
“Dentro de quatro anos a Alemanha deverá ser completa- Do ponto de vista da organização das estruturas econô-
mente independente do exterior no que diz respeito a todas micas, o plano não introduziu mudanças significativas, o
aquelas matérias-primas que podem, de qualquer modo, ser Estado não interveio diretamente na gestão da economia,
produzidas pela habilidade dos alemães, por nossa química mas garantiu para si uma série de tarefas de coordenação. As
e por nossa indústria mecânica, como
também por nossas minas”.
Já não havia praticamente
nenhuma relação entre des-
pesas e lucros: a autarquia
devia ser garantida como
premissa da nova guerra.
À frente dessa organi-
84 E HISTORIA ILUSTRADA DO NAZISMO
GRANDE LOJA
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únicas intervenções diretas ocorreram na criação de algumas as responsabilidades e o controle administrativo sobre o fun-
empresas públicas, entre as quais as mais importantes foram as cionamento da economia passaram para as mãos da indústria
| Oficinas Hermann Góring, grande sociedade para a explora- privada que exerceu ampla influência nas decisões políticas e
ção dos minérios de ferro e para o desenvolvimento da meta- militares inerentes à economia. Os limites entre a adminis-
lurgia. Depois da promulgação do plano quadrienal, não ocor- tração econômica do Estado e a esfera da economia privada
reram, porém, mudanças substanciais no setor econômico: se tornaram sempre menos distintos. A aliança entre o com-
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as modificações se resumiram em transformações internas plexo militar-industrial e o grupo dirigente nazista, baseada
no âmbito do sistema monopolista, embora não tenha sido no rearmamento e no programa expansionista, durou até a
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certamente por acaso que a maior concentração se verificasse última fase do Terceiro Reich, porquanto os dois parceiros
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nos setores-chave da indústria química e extrativa. estavam estreitamente ligados à lógica dos acontecimentos
que tinham posto em movimento. É verdade, porém, que
POLÍTICA E ECONOMIA o equilíbrio das relações de força no interior dessa aliança
O entrelaçamento dos objetivos da liderança nazista se deslocou progressivamente em favor da liderança nazista
e daqueles do capitalismo alemão se tornou sempre mais e, nos momentos cruciais da história do Terceiro Reich, as
estreito com o passar dos anos. O Estado e os setores de ponta exigências políticas e ideológicas dos chefes nazistas desem-
da indústria se fundiram ainda mais que no passado, de modo penharam um papel cada vez mais relevante na determinação
que, especialmente depois da eclosão da guerra, a iniciativa, das decisões políticas.
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CONSTRUÇÃO DE AVIÕES
DE GUERRA
No âmbito dos programas de rear- 4
mamento, o Estado ofereceu consi- UERR) ? É (2)
derável apoio financeiro à indústria
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pesada (embaixo).
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A partir de 1936, teve início a redistribuição interna mente entrelaçadas com fatores ideológicos e estratégico-
dos poderes: a promulgação do “plano quadrienal” mar- militares ao forjarem o caráter e o andamento da agressão
cou um claro declínio da influência direta da indústria alemã. A permanência de problemas de disponibilidade
nas decisões políticas. Daquele momento em diante, as e de entrega das matérias-primas e da mão-de-obra fe:
considerações ideológicas estiveram em primeiro plano com que os dirigentes das principais indústrias bélicas
na determinação das escolhas e das prioridades políticas. continuassem tendo um considerável peso nas decisões
As empresas alemãs obtiveram enormes vantagens tanto políticas. A guerra de saque imperialista se tornou a única
com o processo da “arianização” como com a expansão escolha possível, e a indústria alemã foi envolvida nas
territorial do regime. Mas o ímpeto ia progressivamente decisões que culminaram numa destruição e crueldade até
se deslocando para uma política de alto risco, em que era então desconhecidas na história europeia.
a intrínseca e urgente dinâmica da corrida ao armamento Até o fim do conflito, todos os setores das finanças e da
que delimitava as margens dentro das quais os grandes indústria ligados à produção de armamentos conseguiram do
interesses econômicos podiam agir. A indústria privada Reich enormes benefícios. Em 1939 os lucros não distribuí-
era indispensável para o rearmamento e isso permitiu a dos das sociedades de responsabilidade limitada eram quatro
seus expoentes manter um considerável poder contratual vezes superiores aos níveis de 1928. Os lucros mais ingentes
durante o Terceiro Reich. Mesmo no decorrer da guerra, foram conseguidos pelos grupos monopolistas, com destaque
as determinantes econômicas continuaram inextricavel- para o gigante químico IG Farben.
A POLÍTICA ECONÔMICA E 87
o FUSCA
estabelecimento próprio em
YVolfsburg. Ali foi planejada,
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APRESENTAÇÃO
apresentado pela pri- nem às 66 mil que já tinham
DO FUSCA
meira vez em setembro completado o pagamento, Os únicos exemplares produzidos
de 1938, mas não foi porque a nova empresa, du- foram entregues a oficiais das SS e
rante a guerra, teve de redire- a membros da elite nazista.
entregue a nenhuma
das 336 mil pessoas cionar a própria produção em FERDINAND PORSCHE
que o haviam pedido, função das exigências bélicas. (à esquerda).
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perseguição,
OPOSIÇÃO
polícia foi o instrumento que o nazismo utilizou
para executar a vontade do Fiihrer e garantir a
ordem e, embora fosse a única instituição auto-
rizada a exercer o poder de coerção, nela preva-
leceu claramente a instância do partido em vez da estatal. A
estrutura da polícia foi um dos setores que confirmou a com-
penetração entre Estado e partido. Logo depois da tomada do
poder, Hermann Góring, ministro do Interior na Prússia, pro-
cedeu a uma radical reorganização dos serviços de segurança,
a
E
DISTINTIVO DE IDENTIFICAÇÃO
DA POLÍCIA SECRETA
DO ESTADO (GESTAPO)
poder de Himmler cresceu notavelmente: foi unificada sob próprio Ministério da Justiça: a maioria dos funcionários era
seu comando toda a polícia política, exceto a prussiana. da ala conservadora e pronta a conformar-se com a vontade
Em junho de 1936, um decreto de Hitler, destinado a do novo governo. Foram afastados os judeus e, a partir de
regulamentar esse complexo aparato, centralizou a estrutura 1935, as mulheres não puderam mais ser juízes. No setor
da polícia e a pôs sob o controle de Himmler, que era for- administrativo, o fim das autonomias locais fez com que
malmente subordinado ao Ministério do Interior, mas de fato o ministério tivesse o controle sobre um sistema bastante
autônomo. Na união entre polícia do Estado e polícia política amplo, porquanto, até aquele momento, havia prevalecido
prevaleceram claramente as SS, de tal modo que Himmler a descentralização.
não teve sequer um escritório no Ministério do Interior. No As mudanças ocorreram fora das estruturas administra-
mesmo ano, ele reorganizou a polícia, dividindo-a em polícia tivas: foram criados amplos espaços de autonomia jurídica
da ordem e polícia de segurança, confiando a Heydrich o para as SA e depois para as SS e muitos aspectos do direito
controle desta última. passaram por significativas mudanças. Isso afetou particular-
mente o direito privado: depois do incêndio do Reichstag,
A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA foi restabelecida a pena de morte para alguns delitos. Seto-
O direito no regime nazista se tornou instrumento para res sempre mais amplos foram subtraídos da administração
a perseguição dos inimigos e dos indesejáveis. Não houve, comum da justiça e foram instituídos tribunais especiais.
após a tomada do poder por Hitler, mudanças de relevo no Enquanto aquele especial para os delitos políticos e a corte
REINHARD HEYDRICH
Membro das SS desde 1931, teve
um papel de primeiro plano na
“noite das facas longas”, nas vio-
lências antijudaicas que culminaram
“na noite dos cristais” e no plane-
jamento do extermínio dos judeus
da Europa (à esquerda).
a
WILHELM FRICK
e
Reichsprotektor da Boêmia-
“Morávia, foi condenado à forca
em Nuremberg.
do povo e o dever de servi-la. Muitas novas penas foram em primeiro lugar os sucessos na política
aplicadas retroativamente. Houve, além disso, uma inten- externa: o fato de que
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É | sificação geral das medidas punitivas, como demonstra O a
crescimento exponencial das condenações à morte, em o
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particular após a eclosão da guerra.
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E a pis FOTIidA
92 HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
SOMENTE HITLER
Esta declaração de Baldur von
Schirach confirmava o culto de que
era objeto o Fiihrer:“Adolf Hitler,
nós cremos em ti. Sem ti seríamos
apenas indivíduos, por meio de ti
somos um povo. És tu que dás um
sentido à nossa juventude”.
Hitler tivesse conseguido, num breve espaço de tempo, anu- pôr “ordem”, embora incluísse a perseguição dos opositores é
lar as cláusulas discriminatórias do tratado de Versalhes e rea- a supressão violenta de toda dissensão, por menor que fosse.
lizar antigas reivindicações territoriais (como a unificação de O fato de que se pudesse deixar a bicicleta sem cadeado na
todos os alemães numa grande Alemanha) foi acolhido com frente de casa, sem que ninguém a roubasse, ou que não cir-
grande entusiasmo pela imensa maioria da população. O que culassem pelas ruas tantos “transviados”, foi atribuído como
contava para muitos alemães não foi somente o sucesso no mérito exclusivo do regime. Todos esses aspectos contribuí-
plano dos resultados, mas também dos métodos: depois de um ram para fazer crescer o mito da imensa superioridade do
decênio de política exterior titubeante e contraditória, sob a Fiihrer, ao qual eram atribuídos todos os sucessos, e constituiu
insígnia do compromisso, Hitler deu aos alemães a impressão um poderoso elemento de agregação e de consenso.
de que sua estratégia, arriscada mas ao mesmo tempo eficaz,
tinha obtido grandes resultados. Muitos alemães fizeram ava- ÓRDEM E TERROR
liações análogas com relação às medidas econômicas e sociais O apoio de amplas camadas da população para alguns
do regime. Parecia que o novo governo tinha efetuado uma aspectos da política nazista incluiu também a concordância
reviravolta radical: após a incerteza e o desemprego, a partir com a política do terror, que não é possível etiquetar como
is
de 1936-1937 foi pelo menos garantida a todos a satisfação das simples envolvimento passivo por parte dos alemães. Depois
necessidades fundamentais de alimentação e trabalho. Teve de 1933, Hitler se declarou contrário às formas espontâneas
Fizssd
grande apoio até mesmo a política do terror quando prometia de terrorismo dos camisas-marrom e, com a morte de Róhm
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TERROR, PERSEGUIÇÃO, OPOSIÇÃO | 93
A VORAN
Mi cargo que ocupou ate seu o Estado nazista. Os projetos
LA
assassinato em 1934. As tro- de normalização de Hitler não
pas com o uniforme marrom tinham mais nada em comum
conduziram sua luta política com aqueles de uma “segunda
especialmente nas ruas, procu- revolução” que as SA exigiam
gy
rando criar locais de agregação e por isso se chegou à decisão
vi precisamente nas cidades e da matança da “noite das facas
nos bairros operá- longas”. Nos anos seguintes, a
rios e angariando atividade das SA concentrou- da “noite dos cristais” (9 de
Cartaz em que se destaca um
informantes entre se na preparação pré-militar novembro de 1938), quando
inquietante camisa-marrom.
os mais jovens. Sua dos jovens e nas manifestações foram mortos dezenas de
públicas. Sua vocação terroris- judeus e foi ateado fogo as si-
tática baseou-se na ENCONTRO DE DIVISÕES DE
=)
a criar, dessa forma,
94 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
AS SS
As 55 (Schutzstaffeln, esqua-
dras de proteção) foram cria-
das em 1925 como guarda-
-costas de Hitler. Nos primei-
ros anos eram subordinadas
ao chefe das SA e formalmen-
te essa situação não mudou
quando, em 1929, Himmler
se tornou seu comandante.
Este procurou, no entanto,
conferir a essas esquadras
uma marca correspondente à
sua concepção de um corpo
de guardas que fosse a elite
do movimento nacional-so-
cialista, criando uma ligação
muito estreita com o Fiihrer
(segundo a palavra de ordem:
“Homem das SS, tua honra
se chama fidelidade”). Com
a constituição de um serviço
de informações sob a direção
de Reinhard Heydrich, as SS
adquiriram cada vez mais a
função de polícia do partido. com agrado esse crescimento polícia e em parte a desen- acentuou esse papel, porquan-
Depois da tomada do poder, do poder de Himmler numa volver-se como exército vo- to sua tarefa principal foi a g
o papel de Himmler conti- fase em que luntário de soldados políticos germanização dos territórios
nuou inalterado, mas tinha todo do INSDAE se tornaram os ocupados.
no ano seguinte o interesse gestores do aparato terrorista
sua situação em enfra- do regime. As 55 assumiram
mudou quecer as o controle direto dos campos
considera- SA. Depois de extermínio e de concen-
velmente da “noite das tração, confiado a divisões
quando, apoia- facas longas”, especiais (ditas “cabeças de
HIMMLER COM ALTOS OFICIAIS
do pelo ministro o poder das morto”). Casta privilegiada DAS SS EM UNIFORME PRETO
do Interior Wilhelm SS aumentou ligada a Himmler e a Hitler (no alto).
Frick que queria superar O expressivamente. por um juramento que acen-
QUEPE, ANEL E PUNHAL DAS SS
particularismo regional tam- Os homens das SS que, das tuava características de seita,
Na lâmina do punhal está escrito
bém na organização do apara- poucas centenas do final da as SS foram consideradas por
“Minha honra se chama fidelidade”,
a
to policial, ele se tornou chefe década de 1920, formavam em Himmler como fonte da pure- que ecoava o juramento dos cava-
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[933 um exército de mais de za ariana. À eclosão da guerra
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leiros das lendas teutônicas.
da polícia política de toda a
Alemanha. Gôring, presidente 50 mil homens, destinado em
dos ministros da Prússia, viu parte a cobrir os postos de
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ir.
TERROR, PERSEGUIÇÃO, OPOSIÇÃO E 95
RAPAZES DA JUVENTUDE
COMUNISTA EM BERLIM
Os adversários políticos do
nazismo, entre os quais havia na
dianteira os militantes comunistas,
foram objeto de vasta operação
de aniquilamento físico, visando a
eliminar qualquer vestígio de dis-
sensão (embaixo).
e das SÁ, pôs fim ao componente movimentista do partido, denúncias foram atos espontâneos, não impostas do alto, e
mas organizou depois, de modo burocrático e sistemático, o seu elevado número é a prova de como a população utilizou
aparato repressivo para manter a ordem contra todos aqueles a possibilidade de exercer uma forma, mesmo que mínima,
que eram considerados “desviadores” ou inimigos da “comu- de poder social ou de resolver conflitos pessoais. Cada um,
nidade do povo”. Essas mudanças certamente não ocorreram portanto, se transformou em inimigo potencial, um possível
em segredo, pelo contrário, falava-se delas publicamente nos delator. É precisamente nessa profunda subversão do tecido
jornais, no rádio e em toda ocasião em que se desejava subli- social que se deve detectar um dos maiores efeitos da política
nhar a guinada histórica do nazismo. terrorista do nazismo.
À brutal repressão de 1933 contra a esquerda foi acolhida
pela maioria dos alemães como uma promessa que, a partir À. OPOSIÇÃO INTERNA
daquele momento, a ordem ameaçada teria sido restabelecida A sociedade do Terceiro Reich era muito mais fragmen-
até mesmo com a força. Nos anos seguintes, as instituições da tada e contraditória do que apregoava a propaganda. Muitas
emergência não foram dissolvidas, mas modificadas e refor- foram as áreas de aberto desacordo, em primeiro lugar, a opo-
ee
o
cadas para fins de controle totalitário sobre a sociedade. Um sição organizada pelos partidos políticos. O partido comu-
grande número de cidadãos privados denunciou vizinhos de nista estava pronto, desde o final de 1932, a passar para a
casa, amigos e colegas, mas também pais ou filhos, quando ilegalidade e, embora fosse a primeira vítima das violências
estes se manchavam com comportamentos “desviados”. Essas terroristas do novo regime, não entrou inteiramente despre-
96 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
As SA PUXAM NUMA
CARROÇA UM OPOSITOR
OBRIGADO A VARRER
AS RUAS DA CIDADE DE
CHEMNITZ, EM MARÇO DE 1933.
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parado para a nova fase de luta; seus militantes tomaram dos militantes social-democratas abandonou, contudo, a ati-
iniciativas tão espetaculares como perigosas que causaram vidade política, continuando fiel aos próprios ideais em nível
numerosas prisões sem obter efeitos concretos. Em 1935, pessoal ou permanecendo dentro de um restrito círculo de
para enfrentar a gravidade da situação, foi abandonada essa contatos. Os contatos entre aqueles que continuaram ativos
estratégia de choque frontal para passar a iniciativas menos na ilegalidade e o grupo dirigente no exterior se tornaram
espetaculares, mas bem mais centradas, voltadas a organizar o sempre mais esporádicos e, de fato, se resumiram especial-
potencial de desacordo que serpenteava nas fábricas: os mili- mente no intercâmbio de material informativo. À repres-
tantes tiveram de realizar um trabalho capilar e certamente são sempre mais capilar do aparato policial conseguiu, no
mais fragmentado, mas menos arriscado. entanto, eliminar, nos anos 1938-39, a oposição dos partidos
A social-democracia, em contrapartida, foi colhida de operários. Ao lado dos comunistas e dos socialistas, houve
improviso pelas mudanças de janeiro de 1933 e, durante outros pequenos grupos que, graças à sua maior agilidade
alguns meses, tratou de encontrar um modus vivendi com o organizativa e ao fato de serem menos conhecidos da polícia,
novo regime. Quando ficou evidente que não era possível foram muito ativos.
nenhum tipo de compromisso, o grupo dirigente se estabele-
ceu no exterior, primeiramente em Praga e depois em Paris, O DESCONTENTAMENTO POPULAR
com o propósito de organizar e dirigir a atividade daqueles Ao lado das formas de oposição política, declaradamente
que haviam permanecido ativos na ilegalidade. A maioria destinadas a pôr fim à ditadura, houve uma insatisfação mais
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latente e difusa, que se manifestou com atos e comporta- o espaço separado, reservado à política. Espalharam-se boatos
mentos que podem ser interpretados como manifestação do e queixumes relativos especialmente à má qualidade ou à
esforço ininterrupto de adaptar-se a um regime que interfe- insuficiente quantidade dos produtos alimentícios e à lenti-
ria em cada aspecto particular da existência cotidiana, rei- dão com a qual procediam as reformas no campo social. Hitler
vindicando um poder total sobre a sociedade. Múltiplos são nunca foi, porém,
os exemplos: a não-inscrição de um filho na Hitlerjugend, a alvo dos críticos,
recusa da saudação “Heil Hitler”, a compra de mercadorias não foi con-
nas lojas de judeus e a confraternização com os trabalhadores siderado A E Lan
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responsável por aquilo que não funcionava. porque prevale- enquanto os membros dos partidos burgueses que emigraram
cia a convicção de que não estava a par disso. Esses atos, assim foram menos numerosos e viveram, na maioria das vezes,
como as diversas manifestações de insatisfação, conviveram isolados. Fugiram para o exterior entre 30 mil e 40 mil pes-
com o parcial reconhecimento do regime ou pelo menos com soas, estabelecendo-se, pelo menos até a eclosão da guerra,
um comportamento passivo perante o poder público. Precisa- especialmente na França e na Tchecoslováquia. A escolha
mente essa contraditória convivência de aspectos, inclusive de uma terra de asilo próxima da Alemanha era ditada pela
muito diversos, constituiu um dos elementos de força do sis- esperança de um breve retorno, mas também e talvez sobre-
tema nazista: no comportamento cotidiano de cada um não tudo pela vontade de manter contato com os companheiros
foi possível separar claramente os momentos de desacordo que ainda continuavam ativos na ilegalidade. Comunistas
daqueles de passiva adesão ou de consentimento ativo. e socialistas conseguiram, pelo menos até 1938, criar uma
boa rede de contatos dentro do Reich, graças à mediação de
À EMIGRAÇÃO POLÍTICA pessoas de confiança que viviam nas áreas de fronteira. Sua
Em 1933, muitos dirigentes, em particular dos partidos atividade política se limitou, contudo, quase exclusivamente
operários e dos sindicatos, decidiram, por motivos de segu- à troca de material informativo: na Alemanha eram coletadas
rança, deixar a Alemanha. Somente os partidos de esquerda e enviadas ao exterior as notícias sobre o estado de espírito da
— social-democratas, comunistas e alguns grupos menores população, notícias que tinham, no entanto, uma clara cono-
— constituíram núcleos ativos e organizados fora do Reich, tação política e, do exterior, chegavam jornais e livros.
TERROR, PERSEGUIÇÃO, OPOSIÇÃO E 99
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interpretado, em 19 30 P o con fli to int retou canções para as tropas norte-americanas deslocadas nas diversas frentes de guerra,
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| 100 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
dores de Munique. Às prisões e controle da violência e de Buchenwald e Lichtenburg. emigrar foram, com efeito,
efetuadas pelas SA e pelas SS, arbítrios. Além disso, com o Foram detidos especialmen- liberados e foi-lhes permitido
E
seguiu-se a abertura de ou- processo de concentração te homens ainda capazes deixar a Alemanha.
tros campos. No ano seguin- de trabalhar, demonstrando
E
te, foi iniciada a normalização mãos de Himmler, criou-se como estava adquirindo
e foram fechados muitos um modelo de Lager— o de sempre mais importância a
“Lager selvagens”, procurando Dachau — especialmente no exploração da mão-de-obra.
inclusive regular a situação que dizia respeito ao tra- Muitas indústrias, para as
das prisões e das relações tamento dos prisioneiros e quais trabalhavam os prisio- PRISIONEIROS NO
entre polícia e SS. Depois da das regras internas. Ali, com neiros, dependiam das SS e, TRABALHO NUM
“noite das facas longas”, que efeito, foram organizadas desse modo, foram abertos CAMPO DE CONCENTRAÇÃO
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TERROR, PERSEGUIÇÃO, OPOSIÇÃO EE 10]
ERNEST LUBITSCH
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Emigrado nos Estados Unidos, o
diretor alemão, no centro da foto-
grafia abaixo, dirigiu Greta Garbo
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na brilhante comédia intitulada
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Ninotchka (1939) e, em 1942, rea-
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pelas tropas nazistas.
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Não houve, em contrapartida, uma direta influência polí- Com a eclosão da guerra, foi necessária, para muitos, nova
tica: quem estava no exílio, ainda que se declarasse porta-voz da fuga: a maioria se refugiou na Inglaterra ou deixou a Europa
maioria do próprio partido, obrigada ao silêncio no Reich, agiu para dirigir-se aos Estados Unidos e à América do Sul. Não foi
independentemente dela, e quem estava no país não foi con- mais possível contato algum com a Alemanha, e a atividade
cretamente influenciado pelas decisões dos grupos emigrados. A dos núcleos ainda ativos se redirecionou para estabelecer,
emigração política se caracterizou por contrastes e rupturas que com pouco êxito, contatos com os Aliados, na tentativa de
haviam dividido os partidos operários até 1933. A única tenta- ter um papel concreto na estratégia bélica e elaborar proje-
tiva concreta de criar uma plataforma comum foi promovida em tos e programas para a Alemanha do pós-guerra. A maioria
Paris em 1936. Heinrich Mann, a exemplo da experiência de dos emigrados políticos retornou para a pátria após o fim da
governo das frentes populares na Espanha e na França, procurou guerra e retomou suas atividades.
promover um Volksfront entre os emigrados. Mas não se con-
seguiu ir além de uma comum declaração de intenções, à qual A EMIGRAÇÃO INTELECTUAL
os socialistas aderiram, por outra, a título pessoal e não como A emigração intelectual foi o núcleo mais característico
partido. A emigração política deixou-nos, contudo, numero- do exílio alemão: deixaram o próprio país os maiores escrito-
sos informes de grande interesse para a denúncia do nazismo e res (de Thomas Mann a Bertolt Brecht), diretores de cinema,
atentas análises sobre a situação internacional, além de umarica músicos, compositores, atores. Para cada um deles, inclusive
produção de livros, particularmente por parte dos comunistas. para os poucos já muito conhecidos no exterior, foi bastante
102 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
OTTO KLEMPERER
E THOMAS MANN
Ambos se exilaram nos Estados
Unidos: o primeiro (de perfil) foi
diretor da Filarmônica de Los
Angeles de 1933 a 1947.
difícil continuar a própria atividade: o primeiro obstáculo possibilidades de trabalho para alguns diretores de cinema
foi a língua, e a necessidade de detectar um público a quem (entre outros, Fritz Lang e Ernst Lubitsch) que trabalharam
dirigir-se constituiu muitas vezes um problema insuperável. em Hollywood.
Muitas das grandes obras-primas da literatura alemã foram Graves foram as perdas no mundo científico da Alemanha
publicadas no exterior e alguns intelectuais, entre eles Hein- nazista: cerca de um terço dos acadêmicos e pesquisadores
rich Mann, foram incansáveis promotores de iniciativas vol- de diversas categorias foram despedidos por razões políticas
tadas para denunciar o regime; a imprensa do exílio teve sua ou raciais e dois terços destes abandonaram o país, deixando
marca mais incisiva conferida precisamente por escritores e vazios consistentes nesses setores, da politologia (ciência
jornalistas ativos nos anos da república de Weimar. Amsterdã política) à sociologia, da bioquímica à física atômica, que se
e Suíça foram os maiores centros editoriais, Paris foi até 1939 haviam desenvolvido com intensidade na década de 1920.
o maior centro de agregação: nessa cidade foram redigidos Emigraram com frequência os mais jovens que, graças par-
numerosos periódicos que reproduziram o multifacetado arco ticularmente às organizações de auxílio, conseguiram, exce-
ideológico e cultural weimariano, nela se desenvolveram ini- tuando os médicos, encontrar novo emprego. À maioria foi |
ciativas, encontros e debates, embora tenha sido o isolamento para os Estados Unidos sem deter-se na Europa, e o abandono
que caracterizou a vida dos intelectuais exilados. Para aqueles do próprio país foi quase sempre definitivo.
que se transferiram para os Estados Unidos foi ainda mais Ma Re:
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TERROR, PERSEGUIÇÃO, OPOSIÇÃO E |03
BUCÓLICA REPRESENTAÇÃO
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PROPAGANDA ANTISSEMITA
NO “DER STÚRMER” E
SUSS, O JUDEU
O filme, realizado por vontade de
Goebbels em 1940, tinha a precisa
intenção de instilar nos alemães o mim
Solon ta cs judeus. Die Juden sind unser Ungliick!
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A operação de mistificação ideológica realizada pelo meira Guerra Mundial. Profundas especificidades nacionais,
regime foi de grande importância: o apelo ao privilégio de mas também condições e motivações gerais, estiveram na
todos pertencerem à comunidade única foi um incentivo bas- base da difusão do fenômeno: em primeiro lugar, um obscuro
tante forte para a consolidação da disciplina coletiva. O sen- senso de catástrofe da civilização, acompanhado da consta-
tido de que os membros da comunidade eram todos partícipes tação do declínio da Europa e de sua hegemonia, e a resso-
dos destinos dela, embora ilusório, representou um elemento nância com a qual se difundiu o mito da revolução bolche-
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de homogeneização dos comportamentos que pareceu conva- vique associada ao papel central que nela desempenharam os
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lidar a tese do regime sobre a existência de uma sociedade sem judeus. O estereótipo do “judeu-bolchevismo” constituiu um
conflitos. Além das delimitações jurídicas, foram projetados slogan de fácil efeito e foi um poderoso fator multiplicador.
mecanismos de exclusão, injetados na psicologia de grandes Um texto fundamental do antissemitismo, Os protocolos dos
massas que, perante as vítimas, assumiram uma violência per- antigos sábios de Sião — dedicado a uma pretensa conjuração
secutória muito mais incisiva e interiorizada, e identificada tramada pelos judeus para a conquista do mundo — começou
com um imperativo não político, mas ético. a circular em toda a Europa entre as duas guerras; a primeira
edição alemã apareceu em 1919. Esse texto contribuiu para
O ANTISSEMITISMO difundir a ideia de um complô, obra de um poder oculto e
O antissemitismo foi uma das características culturais e invencível, que exatamente por isso devia ser combatido com
políticas comuns a boa parte da Europa, depois do fim da Pri- a máxima violência e eficácia.
Ranff NirhÊ De
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A COMUNIDADE DO POVO E 107
AS ORGANIZAÇÕES
JUDAICAS
THB:
ACOLHIDA FESTIVA
A JULIUS STREICHER
A ilustração estava inserida num
livro de texto para escolas pri-
márias distribuído às centenas de
milhares de exemplares e publicado
pelo próprio Streicher em 1936.
“EvITEM OS MÉDICOS
E OS ADVOGADOS JUDEUS!
Cartaz antissemita nas ruas de uma
cidade alema.
PAI DE TODAS
AS CRIANÇAS ALEMÃS
O fato de Hitler não ter
filhos e não estar sequer
casado foi um dos ele-
mentos utilizados pela
propaganda do regime para
fortalecer o halo mítico
em torno de seu papel
de “chefe de família”. Seu
poder carismático provinha
também de suas aparições
em público, nas quais pare-
cia dotado, aos olhos dos
alemães, de um magne-
tismo que muitas vezes O
levou a ser comparado ao
flautista mágico.
A COMUNIDADE DO POVO E 109
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ILUSTRAÇÃO DE CAPA DE UM
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ciativas antijudaicas: um aparente compromisso entre os dos e estudar (a lei de 25 de abril contra o excessivo número
pedidos dos radicais do partido e as mais pragmáticas reser- de alunos das escolas e das universidades estabeleceu que a
vas dos conservadores, dando à opinião pública a impressão matrícula de novos estudantes judeus em todas as escolas
de que não era ele que se ocupava dos detalhes operacionais. fosse de 1,5% do total dos inscritos e, de qualquer forma, em
No dia 7 de abril foi registrada a primeira lei antijudaica cada instituto não podiam superar 5% do total). No dia 14 de
sobre a reclassificação dos funcionários públicos de carreira. julho foi votada a lei sobre a revogação da cidadania alemã,
O parágrafo 3 — definido “parágrafo ariano” — estabeleceu que que aboliu as naturalizações ocorridas entre o fim da guerra
os empregados de origem não-ariana deviam ser aposentados. e 30 de janeiro de 1933, e instituiu a proibição de imigração
Até esse momento os nazistas tinham humilhado e boicotado para os judeus orientais.
os judeus com base em simples suspeita, que podiam de algum
modo ser identificados como tais, mas não tinha havido ainda DOENÇAS HEREDITÁRIAS E ESTERILIZAÇÃO
nenhum ato formal de privação dos direitos legais, baseado Durante a década de 1930, o regime baixou várias medi-
numa definição discriminatória. das que excluíram da comunidade nacional todos aque-
Nos meses seguintes, com a lei sobre os funcionários públi- les que podiam minar sua pureza. A lei de 14 de julho
cos, os judeus foram afastados de todos os setores-chave do de 1933, sobre a esterilização dos indivíduos portadores
Estado, foi-lhes proibido exercer a profissão de médico em de deficiências físicas e mentais, constituiu um momento
favor da saúde biológica da comunidade nacional, ser advoga- fundamental nesse processo e uma pedra angular para a
E É | ET JUDEUS EM UM CARRO DA
POLÍCIA OBSERVAM OS AGENTES
“LE QUE CONTROLAM SEUS
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ps DOCUMENTOS DE IDENTIDADE
Os cidadãos de religião israelita
eram julgados como o maior
perigo para a Alemanha, porque
encarnavam a ameaça da contami-
nação da raça ariana. No livro Mein
Kampf, Hitler tinha escrito: “Há
uma porcaria qualquer, uma infâmia
qualquer, em particular na vida da
sociedade, em que não tenha parti-
cipado pelo menos um judeu?”.
HO E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
A EMIGRAÇÃO de ingresso muito baixas; a prioritária a Alemanha. À ne- tório processo de integração
JUDAICA maioria daqueles que perma- cessidade primária, para uma tinha começado nas décadas
precedentes e a tomada de
neceram na Europa foi para emigração que, contrartamen-
Durante o nazismo, cerca de a Inglaterra e, fora da Europa, te aquela política e intelectual, consciência de que ele já havia
350 mil judeus deixaram a para os Estados Unidos. A caracterizava-se essencial- sido irremediavelmente rom-
Alemanha. Os períodos de própria Palestina não foi uma mente de núcleos familiares, pido foi muitas vezes longa e
sua partida estiveram ligados meta fácil, porque a liderança foi reconstruir as premissas sofrida. De fato, muito poucos
às etapas da política antisse- palestina não permitiu um para poder viver em outro retornaram depois de |945.,
mita; o fluxo foi constante no maciço fluxo proveniente lugar. A maioria dos judeus Shoah tinha aberto uma ferida
decorrer dos anos e atingiu da Alemanha. Poucos entre que deixou a Alemanha o fez demasiado profunda.
seu ápice em 1938, depois da os que deixaram o país por quando se deu conta de que
“noite dos cristais”. Foi sem- motivos raciais se empenha- não existiam mais condições
MuraL DE BEN SHAHN
pre mais difícil encontrar uma ram ativamente no exílio na econômicas, sociais e de inco-
REPRESENTANDO JUDEUS
meta, porque as políticas de denúncia do regime nazista umidade pessoal para conti- IMIGRADOS NOS ESTADOS
imigração das possíveis terras ou, então, em atividades que nuar a residir nesse país. Para UNIDOS, GUIADOS POR
de exílio impuseram cotas tivessem como referência muitos, o longo e contradi- ALBERT EINSTEIN.
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SÃO BEM-VINDOS
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A escrita na figura caricatural esta-
va no ingresso de uma taverna na
Prússia.
legislação eugenética e racial. Essa lei introduziu o princí- do povo, requeria o registro das raças estrangeiras ou dos
pio da coerção, porquanto não somente os inábeis ou seus grupos “racialmente inferiores” e impunha a obrigação de
familiares puderam requerer a esterilização, mas também uma licença matrimonial que certificava que os dois eram
os próprios médicos, sempre que julgassem oportuno. Nos “racialmente idôneos” para casar-se. Um decreto suplemen-
casos controversos deveriam intervir os “tribunais para a tar proibiu os alemães de contrair matrimônio ou manter rela-
saúde hereditária”, criados especialmente para isso. Além ções com pessoas de sangue estrangeiro, diverso dos judeus;
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doze dias depois foi especificado que se tratava de ciganos,
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da intervenção cirúrgica, que tornava homens e mulheres
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incapazes de gerar, iniciou-se também a redução do nível de negros e “seus bastardos”.
assistência daqueles que eram hospitalizados para causar- No verão de 1939, pouco antes da eclosão da guerra, teve
“lhes indiretamente a morte. início a chacina dos adultos inábeis, que foi mascarada como
Entre 1933 e 1945, 400 mil pessoas foram submetidas à projeto de eutanásia. Tudo ocorria em segredo, e os parentes
esterilização forçada: alcoólatras, “antissociais”, portadores não eram informados sobre as transferências de seus familia-
de deficiências e muitos outros. Em outubro de 1935, um res para os centros de matança, que foram implantados em
mês após a promulgação da lei que proibia o casamento entre diversas áreas da Alemanha. Antes mesmo que o conflito
judeus e alemães, foi baixada a “lei para a proteção da saúde mundial desse início à realização da nova ordem europeia e
hereditária da nação alemã”, que proibia a união entre ale- ao extermínio dos judeus, o assassínio de Estado, portanto,
mães e aqueles que não eram desejáveis para a comunidade tinha sido legalizado e atuado em larga escala.
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[12 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
CASAMENTO ARIANO
À Alemanha deparou com um
aumento dos casamentos que
foram estimulados também por
incentivos materiais do regime.
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centros nasceram cerca de 8
Associação das SS, funda- mil crianças. Além de uma po-
da por Himmler em 1935 lítica racista e antissemita vol-
e financiada por doações tada para a expulsão de todos
obrigatórias das próprias SS, os elementos “indignos” de
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ot DER STÚRMER ANUNCIA
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O “PLANO HOMICIDA JUDAICO”
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pum Sairapfe tum bia 4a 1
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mulheres arianas.
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A VIAGEM DE NÚPCIAS
O Recém-casados numa motocicleta
au com a bandeira nazista (embaixo).
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beleceu que os judeus, não implicações sexuais. Os judeus, por exemplo, foram afastados
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mais cidadãos como os das piscinas públicas; a partir da primavera de 1936, a
fd. outros, fossem priva- l maioria dos departamentos de medicina proibiu aos
dos dos direitos polí- 7 estudantes judeus de proceder a exames nos órgãos
ticos. A “lei para a genitais de mulheres arianas. Mesmo depois da pro-
defesa do sangue e mulgação das leis de Nuremberg, a maioria da popu-
da honra alemã” lação continuou contrária a atos de violência, mas
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[14 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
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Publicado em 1938, O cogumelo Na realidade, é a pior e a mais
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cara. Não deves confiar nele!
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venenoso é um dos livros de
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texto para as escolas em que [...] O mesmo ocorre com
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transparecia com mais clareza os judeus que criam animais,
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a virulência antissemita difundi- com os judeus dos mercados,
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da na sociedade alemã: com os açougueiros, com os
O pequeno Franz foi com sua médicos judeus, com os judeus
mãe procurar cogumelos no bos- batizados etc. Mesmo que fin-
que. [...] Pelo caminho,a mãe diz: jam, mesmo que se mostrem
— Olha, Franz, como acontece gentis e, se mil vezes dizem
com os cogumelos no bosque, em pessoas más, pode ocorrer Nosso professor o diz com que querem apenas nosso bem,
o mesmo ocorre também com uma desgraça, assim como se frequência na escola. [...] não podemos acreditar neles.
as pessoas na terra. Há cogu- comermos um cogumelo vene- — Exatamente! — aplaude a São judeus e continuam sendo
melos bons e pessoas boas. noso, podemos morrer! mãe. E depois continua falando, judeus. São venenosos para
Existem cogumelos venenosos, — E sabes também quem são muito séria. nosso povo! [...| Do mesmo
cogumelos maus, e pessoas más. essas pessoas más, esses cogu- — Os judeus são pessoas más. modo que com um cogumelo
E dessas pessoas é preciso ter melos venenosos da humani- São como os cogumelos veneno- venenoso se pode matar uma
cuidado como com os cogume- dade? — pressiona a mãe. Franz sos. E assim como é difícil muitas família inteira, um único judeu
los venenosos. Entende? demonstra segurança, vezes distinguir os cogumelos pode aniquilar uma aldeia in-
— Sim, mãe, compreendo — Certamente, mamãe! Sei venenosos dos bons, é igualmen- teira, uma cidade, até mesmo
— diz Franz —, se confiarmos muito bem. São... os judeus. te difícil reconhecer os judeus todo um povo.
como pilantras e delinquentes. Franz compreendeu a mãe.
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le Como os cogumelos veneno- — [Mãe, todos os não judeus
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sos se apresentam com as mais sabem que o judeu é perigoso
variadas cores, assim também como um cogumelo venenoso?
os judeus conseguem tornar-se — Infelizmente, não, meu filho.
irreconhecíveis, assumindo os Há muitos milhões de não
mais estranhos aspectos. judeus que ainda não conhe-
— Em que aspectos estranhos ceram o judeu. E por isso de-
pensas? — pergunta o pequeno vemos informá-los e deixá-los
Franz. de sobreaviso com relação
A mãe compreende que o aos judeus. Devemos, porém,
menino não captou ainda total- advertir também nossa juyen-
mente o sentido. E, impertur- tude sobre os judeus. Nossos
bável, continua explicando. meninos e meninas devem
— Então, escuta! Há, por exem- saber imediatamente quem são
plo, o judeu ambulante. Com Os judeus. Devem saber queo
tecidos e todo tipo de merca-
judeu é o cogumelo venenoso:
mais perigoso que pode existir.
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UM LIVRO ANTI-SEMITA
Os países do mundo. Como os |
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A COMUNIDADE DO POVO E [I5
VITRINES DE COMERCIANTES
JUDEUS EM ESTILHAÇOS
NUMA CIDADE ALEMÃ
À partir da “noite dos cristais”, a
gestão da política antissemita foi
de exclusiva competência das 55
(embaixo).
não à marginalização dos judeus e à abolição de seus direitos miram um tom sempre mais ameaçador. Teve início a acele-
civis. Visto que a segregação já tinha sido estabelecida por lei, a rada arianização dos bens pertencentes aos judeus, vinculada
maioria se sentiu livre de qualquer responsabilidade com relação pelo menos em parte à nova situação econômica e à sempre
às medidas tomadas perante a minoria judaica, de cujo destino maior confiança nos setores comerciais e industriais de que
se teria encarregado, a partir de agora, o próprio Estado. eventuais represálias dos judeus não teriam constituído um
risco. Em setembro de 1936, pela primeira vez, o regime falou
“A NOITE DOS CRISTAIS” da emigração como prioridade absoluta.
O ano de 1936 marcou o início de uma nova fase na per- Uma das maiores dificuldades para eliminar os judeus da
seguição antijudaica. A plena ocupação havia sido concluída sociedade alemã residia no fato de que eles eram parte inte-
e a fraqueza da frente antialemã parecia evidente: era de se orante em todos os setores; assim, o sistema teve de inven-
esperar, portanto, uma radicalização por parte desta. Nessa tar continuamente novas medidas para romper todos esses
atmosfera de acelerada mobilização, a questão judaica assu- vínculos. A partir do início de 1938, todos os judeus foram
miu aos olhos dos alemães uma nova dimensão e desenvolveu obrigados a entregar o passaporte, que foi restituído somente
se
uma nova função. Com uma virulência ainda desconhecida, para aqueles que emigravam, e todos foram fichados e contro-
os judeus foram definidos como uma ameaça mundial e as lados; escapar da rede repressiva, cujas malhas se tornavam
O
sempre mais apertadas, foi quase impossível. Uma nova série
iniciativas antijudaicas foram utilizadas como justificativa
de leis no decorrer de 1938 despedaçou completamente o
para o choque que teria eclodido; os discursos de Hitler assu-
| [6 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
RESERVAS: JUDEUS
| TRANSPORTADOS COMO GADO
, Fotomontagem realizada em 1939
| por John Heartfield, artista comu-
| nista alemão exilado na Inglaterra.
No centro da imagem impera
| Himmler, que brande um chicote.
Suas obras permanecem um dos
exemplos mais eficazes da arte a
serviço da política.
racial e a consciência de
Nos meses seguintes, novos decretos sancionaram a que sobre essa questão
| exclusão definitiva dos judeus da sociedade alemã: seu os nazistas estavam
| confinamento no início da guerra era completo. decididos a ir em
CASAMENTOS DE RITO
HEBRAICO NA ALEMANHA
A COMUNIDADE DO POVO E 117
asso ciaç ão femi nina para o aum ent o dos nas cim ent os. Dur ant e o nazismo, as
ida ao apoio da
MÃE E FILHO Cartaz qu
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servou (com uma estudo da questão tecas, as galerias de arte e nova religião anticristã e antis-
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CAMPONÊS ARIANO
E CARICATURA DO JUDEU
EM UM TEXTO ESCOLAR
frente, aumentaram provavelmente a inércia ou talvez até ou levantaram a voz contra os responsáveis. Prevaleceu
mesmo a passiva cumplicidade das massas. um misto de passividade e de aceitação que, no entanto,
Houve, dessa forma, uma difundida aquiescência com implicou também o apoio, pelo menos implícito, às for-
relação à política de segregação e à exclusão do serviço mas mais extremas de violência. Mas a passividade e o
público e civil, além de iniciativas individuais voltadas costume crescem em si, e a eclosão da guerra e a realização
a tirar proveito das expropriações, mas sem demonstra- da “solução final” teriam levado esse comportamento a
ções de contentamento ao assistir à degradação. Depois da consequências extremas: esse foi um dos maiores sucessos
“noite dos cristais”, muitos criticaram o excesso de violên- do regime nazista que, mesmo onde não obteve aberto e
cia, o desperdício, o dano a tantos bens de consumo, mas incondicional apoio, teve pelo menos, a seu favor, um
poucos intervieram ativamente em defesa dos perseguidos silêncio passivo.
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122 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
MussoLinti E HiTLER
(na abertura).
O ZEPPELIN EM VOO
SOBRE Nova IORQUE (embaixo).
e mundial. Depois da tomada do poder, o governo nazista o risco de isolamento em nível europeu, fosse para obter con-
escolheu uma linha de ação moderada, especialmente para dições mais favoráveis no Ambito de negociações internacio-
não alarmar os demais países europeus: o tratado de Berlim nais. Em janeiro de 1934, celebrou um pacto decenal de não
com a União Soviética, estipulado em 1926, foi confirmado agressão com a Polônia, cujas cláusulas tiveram para Hitler
em maio; a Concordata com o Vaticano em julho seguinte foi a única função de garantir a neutralidade polonesa no caso
vista com bons olhos, particularmente pelos países católicos, de ataque à Áustria e que nunca foram concebidas como um
como a Espanha e a Itália. Mas os verdadeiros projetos de vínculo real para o expansionismo alemão.
Hitler eram bem claros. Em outubro, a Alemanha abandonou O território da região de Saar foi posto, depois do fim da
tanto a Sociedade das Nações como a conferência sobre o guerra, sob o controle da Sociedade das Nações com o acordo
desarmamento, refutando a estratégia da segurança coletiva e de que um referendo popular teria estabelecido, em 1935, se
reivindicando a liberdade de estipular tratados, desvinculada deveria ser o caso de confirmar o status quo ou se deveria ser
de toda coação externa: desse modo foram postas as bases para anexada à Alemanha ou à França. O Reich nazista montou
as etapas sucessivas da expansão nazista. um enorme aparato propagandista para apoiar a união com
BEnNITO MUSSOLINI
Os vínculos entre a Itália e a
Alemanha se estreitaram depois
que, no decorrer da guerra da
Etiópia, Hitler ofereceu a Mussolini
o carvão alemão em substituição
ao inglês (embaixo, à direita).
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124 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
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ESTANDARTE DOS COMUNISTAS
ALEMÃES QUE PARTICIPARAM
DA GUERRA DA ESPANHA
(embaixo, à direita).
solini atacou a Etiópia para garantir à Itália “um lugar ao em que a França e a Espanha eram governadas por frentes
sol”; a Sociedade das Nações condenou a agressão e decre- populares formadas por socialistas e democratas com apoio
tou sanções contra a Itália que foram, aliás, inteiramente comunista. Hilter explorou essa ocasião para pôr à prova,
descumpridas. A ajuda econômica oferecida pela Alemanha com um maciço envio de homens e armas, a eficiência mili-
à Itália nessa ocasião constituiu o primeiro passo para uma tar da nova Wehrmacht e das técnicas ofensivas que seriam
aproximação entre os dois países que, no ano seguinte, foi depois utilizadas no decorrer do segundo conflito mundial e
fortalecida em terras espanholas. para constituir uma base de apoio territorial e logístico no
No verão de 1936, havia eclodido na Espanha uma guerra Mediterrâneo. Foi durante a guerra da Espanha, concluída
civil que logo se transformou em um conflito internacional em março de 1939 com a vitória dos nacionalistas comanda-
entre fascismo e antifascismo. A Alemanha decidiu inter- dos pelo general Francisco Franco, que a aliança entre Itália
vir para mostrar a força da frente antibolchevique e abalar e Alemanha se solidificou definitivamente numa posição
a resistência do antifascismo internacional num momento antibolchevique.
A POLÍTICA EXTERNA E 125
SUBMARINO ALEMÃO
As despesas com o rearmamento,
que nos anos 1936-37 atingiam
mais de um terço do orçamento do
Terceiro Reich, garantiram a plena
ocupação da classe operária alemã.
MUDANÇAS NOS VÉRTICES MILITARES em novembro seguinte, Hitler colocou prazos precisos que
Depois da promulgação do plano quadrienal, da remilita- coincidiam com os ritmos do rearmamento estabelecido
rização da Renânia, da aproximação com a Itália fascista e da pelo plano quadrienal, declarando, além disso, ter como
participação no conflito espanhol, o caminho para um novo objetivos imediatos a destruição da autonomia da Áustria
conflito estava traçado. Em junho de 1937, Werner von e da Tchecoslováquia para poder, em seguida, seguir em
Blomberg, comandante supremo da Wehrmacht e ministro direção leste. Blomberg e Werner Fritsch, comandante
da Defesa, baixou algumas diretivas para as forças armadas, a supremo do exército, embora de acordo no mérito da ques-
fim de predispor uma “preparação conjunta de uma possível tão, expressaram algumas reservas técnicas. Os tempos do
guerra”, levando em consideração duas hipóteses: guerra em rearmamento e particularmente o estado de aberta crise no
duas frentes com centro de gravidade no sudeste da Europa sistema das relações internacionais fizeram com que Hitler
ou com centro de gravidade no ocidente. A disposição alemã já se sentisse seguro, a ponto de impor mudanças nos vérti-
ces militares, que foram justificadas
para o conflito era explícita e, enquanto se tinha certeza
oficialmente por reservas morais
de uma frente franco-russa, esperava-se ainda poder aliar-se
sobre o comportamento dos dois
com a Grã-Bretanha.
chefes militares. Blomberg foi
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O CADÁVER DE DOLLFUSS
Artífice de um regime corporativo
e autoritário que pôs na ilegalidade
todos os partidos, o chanceler foi
assassinado em 1934 pelos nazistas
austríacos favoráveis à anexação
do pais ao Reich.
ACOLHIDA FESTIVA
Tropas alemãs entram na Austria
em março de 1938 (embaixo).
Eritsch por ser homossexual. Foram substituídos, em feve- Grã-Bretanha tinham mostrado sua fraqueza e substancial
reiro de 1938, por homens fidelíssimos ao Fiihrer: Wilhelm desinteresse por uma política de oposição ao expansio-
Keitel foi nomeado chefe do comando supremo da Wehr- nismo nazista que, desse modo, pôde proceder sem obstá-
macht e o próprio Hitler se pôs no vértice do Ministério culos, favorecido inclusive pela progressiva aproximação
da Guerra. Nesse mesmo período, o ministro do Exterior da Itália fascista.
Kostantin von Neurath, um conservador da velha escola A Áustria, entretanto, tinha permanecido sempre mais
diplomática, foi substituído pelo mais dinâmico e petulante isolada em nível internacional. No dia 12 de fevereiro de
Joachim von Ribbentrop, confirmando como essas mudan- 1938, Hitler convocou o chanceler austríaco Kurt von
cas eram o prelúdio de uma fase ainda mais agressiva da Schuschnigg para incluir em seu governo, como ministro
política nazista. do Interior, o chefe dos nazistas austríacos Arthur Seyss-
Inquart e conceder plena liberdade de ação aos nazistas.
O ANSCHLUSS De retorno a Viena, Schuschnigg fez uma derradeira tenta-
Em 1936 Hitler proclamou o início do plano quadrie- tiva para defender a autonomia de seu país e anunciou um
referendo popular sobre a independência austríaca, o que
nal, a fim de preparar todas as estruturas necessárias para a ofensi va nazista . Na
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o desencadeamento do conflito. No decurso de 1951,
da- noite de 10 de março, Hitler deu ao 8º Exército a ordem
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128 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NA
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PACTO ANTIKOMINTERN
Os ministros do Exterior da Itália
(Galeazzo Ciano é o primeiro à
esquerda), da Alemanha e do Japão
na cerimônia de assinatura da
aliança em 1937 (embaixo).
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A POLÍTICA EXTERNA EE 129
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130 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
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CONFERÊNCIA DE MUNIQUE
Da esquerda para a direita: Neville
Chamberlain, Edouard Daladier,
Hitler, Mussolini e Ciano (embaixo).
minoria alemã formada de cerca de 3 milhões de pessoas. são militar e da subversão interna. À Eslováquia foi for-
Berlim financiou generosamente Konrad Henlein, chefe dos cada a declarar-se estado independente e a colocar-se sob
alemães dos Sudetos, para que encaminhasse ao governo de a proteção nazista. Os territórios tchecos, cujo potencial
Praga pedidos de autonomia sempre mais prementes, até a industrial e cujas matérias-primas eram essenciais para levar
pretensão de ceder os Sudetos (28 mil km? que constituíam adiante os projetos expansionistas alemães, foram postos
20% do território tchecoslovaco) à Alemanha, afirmando sob o direto controle de Berlim como “protetorado da Boê-
que esse seria o último pedido de parte da Alemanha. mia e Morávia”.
No dia 30 de setembro, reuniram-se em Munique, com a O caminho para o ataque à Polônia já estava pronto.
mediação de Mussolini, os chefes de governo inglês, francês
e alemão e foi assinado o “pacto de Munique”, com base O PACTO NAZI-SOVIÉTICO
no qual foram aceitos os pedidos nazistas e reconhecida a Em abril de 1939, Hitler decidiu atacar a Polônia no iní-
anexação dos Sudetos ao Reich. A França ea Grã-Bretanha cio do ano seguinte. Os equilíbrios internacionais estavam
julgaram então que tinham satisfeito todas as pretensões sempre mais comprometidos, mas nem a França nem a Gra-
nazistas, mas logo ficou claro o engano. Hitler pretendia, “Bretanha tomaram iniciativas radicais contra a Alemanha,
com efeito, proceder à expansão do Terceiro Reich para limitando-se a declarar-se fiadores das fronteiras da Pol6-
o leste: em março foi completado o desmembramento da nia (31 de março). Em abril, Hitler denunciou o pacto de
Tchecoslováquia, continuando a agir na dupla via da pres- não agressão com a Polônia, estipulado em 1934, e o pacto
A POLÍTICA EXTERNA E 133
PACTO NAZI-SOVIÉTICO
Oficiais alemães e soviéticos tra-
çam as novas fronteiras da Polônia,
CONGRESSO DA PAZ
Cartaz do congresso do NSDAP,
que não foi realizado por causa da
guerra.
RETORNANDO DE MUNIQUE
O primeiro-ministro inglês procu-
rou refrear a corrida para a guerra,
mas sua linha de conciliação reve-
lou-se um fracasso ante a agressivi-
dade do nazi-fascismo (embaixo).
naval com a Grã-Bretanha do ano seguinte. Nem mesmo a neutralizar um eventual bloco franco-inglês em caso de ata-
Grã-Bretanha e a França se decidiram por uma aliança em que à Polônia; Stalin foi movido pelo propósito de manter
perspectiva antialemã com a União Soviética, porque suas neutro seu país, caso eclodisse um conflito entre os países
desconfianças estavam profundamente enraizadas e os con- capitalistas, de se expandir para os países bálticos e espe-
trastes e as tratativas seguiam morosamente. cialmente de refrear as aspirações de expansão de Hitler em
Hitler soube, portanto, aproveitar habilmente a situação direção dos territórios soviéticos.
e inserir-se no jogo diplomático, oferecendo à União Sovié- A assinatura desse pacto lançou o movimento comunista
tica a normalização das relações, buscando também garantir internacional numa profunda crise, porque anulava de impro-
reciprocamente as fronteiras. Em 25 de agosto, foi assinado o viso uma luta decenal contra o
“macto de não agressão” entre a Alemanha nazista e a União inimigo fascista. Na reali- / a
dade, Hitler não tinha / 6
Soviética, que pôs fim repentinamente a anos de violenta
propaganda e de radical oposição ao mundo comunista. Nele mudado seus projetos,
foi estabelecido que os dois contratantes se teriam abdicado o pacto lhe deu a pos-
sibilidade de garantir
de recíprocas agressões (art. 1), que em caso de guerra de um
para si a frente orien-
dos dois países contra um terceiro, este último não receberia
tal no momento da
nenhum apoio (art. 2) e que se procuraria resolver qualquer
agressão à Polônia.
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Anexação da Austria
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[134 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
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forma de pluralismo, o papel não foram impostos do exte- bre d e l 8 , Wi
o ita de elreia Mariani A Áustria constituiu um claro
rior, mas constituíram o ponto e
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exemplo de desenvolvimento
do ditador, a arregimentação
das massas, uma organização de chegada de acontecimentos () autônomo em sentido autori-
econômica e social corpora-
tiva. A categoria de fascismo
nacionais que, se não estavam
necessariamente destinados
/ tário. Principal característica
desse regime de nítida marca
pode servir para definir esses a desembocar em um fascis- clérico-fascista foi a solidifi-
regimes que exerceram, além mo completo, apresentavam cistização” em muitos países, cação do partido de governo,
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disso, uma notável influência muitas características que se caracterizado por um sistema os socialistas cristãos, com as
em nível internacional, pro- aproximavam dele. Verificou-se, institucional e constitucional Heimwehren, a milícia filofas-
pondo um modelo de solu- portanto, durante a década sempre mais antidemocrático, cista financiada por Mussolini
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ção aos problemas de uma de 1930, um processo de “fas- que assumiu tanto a forma de (1930).
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de um sistema corporativo
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138 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
ESQUADRILHA DE STUKAS
EM VOO (p. 136)
A SUÁSTICA NO CÍRCULO
POLAR ÁRTICO (na abertura).
ESQUADRÃO DE LANCEIROS
POLONESES
e econômica. O conflito, muito mais que a Primeira Guerra que se opuseram alinhamentos e regimes colaboracionistas e
Mundial, foi também uma guerra total, fosse pela exploração movimentos de resistência aos próprios ocupantes.
sempre mais intensa de toda reserva de cada uma das socieda- Os objetivos de guerra das grandes potências foram deter-
des nacionais, fosse porque a contraposição de projetos totali- minados em primeiro lugar pela necessidade de combater
zantes de reestruturação da sociedade europeia investiu como a expansão da Alemanha nazista. Este foi o elemento que
nunca, não somente contra vastas áreas, mas também contra uniu em fases e em períodos diferentes Grã-Bretanha, Esta-
sistemas estataise sociais e componentes nacionais. dos Unidos e União Soviética e outras potências menores,
A conduta bélica alemã assumiu, em algumas partes da mesmo que, além disso, cada país cultivasse objetivos parti-
Europa, a característica de verdadeira e própria guerra de culares. A Grã-Bretanha tentou defender sua hegemonia no
extermínio: isso transpareceu no ataque à Polônia e foi pro- Mediterrâneo e no subcontinente indiano. De arsenal mili- hi
gramado desde o início da agressão à União Soviética. Com tar, os Estados Unidos tornaram-se uma potência mundial. O 8!
efeito, não se pretendia somente derrotar o inimigo, como no entrelaçamento entre uma guerra defensiva e a conquista de
oeste, mas aniquilá-lo para ter um território submetido às exi- novos espaços ficou particularmente claro no caso da União
gências do Reich. A guerra de extermínio gerou por sua vez Soviética. A Itália, como aliada, foi realmente um satélite da
fenômenos característicos desse conflito, como a Resistência Alemanha e tentou tecer para si um espaço de autonomia;
e os movimentos clandestinos, que se desenvolveram nos mas, em vez de reforçar sua posição, foi sufocada por essa
países ocupados pelas potências do pacto tripartite, sempre escolha estratégica.
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A GUERRA E 139
O ATAQUE À POLÔNIA centrais formaram o Governo Geral dirigido por Hans Frank
Na aurora de 1º de setembro de 1939, sem declaração de e os orientais, segundo as cláusulas do pacto nazi-soviético,
guerra, à Alemanha invadiu a Polônia. Havia meses que o foram ocupados pela União Soviética. No decorrer da cam-
regime nazista tinha optado pela solução de força e o pacto panha polonesa, o regime nazista pôs em prática o método de
de aço com a Itália, os crescentes contrastes com a França e guerra que teria depois, sem grandes variações, utilizado nos
a Gra-Bretanha e o pacto nazi-soviético constituíram outras meses seguintes: a surpresa e a brutalidade do ataque esma-
tantas etapas do crescente isolamento internacional da Polô- garam as forças armadas inimigas em pouco tempo, o terror
pia. A guerra foi conduzida segundo os princípios da Blietzkrieg paralisou a população civil e a “quinta coluna” desintegrou
(guerra-relâmpago), empregando um elevado número de for- a partir de dentro o adversário.
ças blindadas, que atacaram o país a partir de diversas partes Enquanto na frente ocidental a situação se conservava
convergindo para o centro. No dia 3 de setembro, a França e estacionária, o conflito se estendeu para outras direções: no
a Gra-Bretanha declararam guerra à Alemanha. O exército dia 30 de novembro, a União Soviética atacou a Finlândia,
polonês logo esteve em dificuldades e, em poucos dias, os acelerando também os planos alemães de controle da penín-
destinos do conflito foram definidos. Varsóvia, quase comple- sula escandinava, ligados especialmente à presença de jazidas
tamente destruída pelos bombardeios alemães, capitulou no de ferro. No dia 9 de abril, a Alemanha invadiu a Dinamarca
final de setembro e, poucos dias depois, foi assinado o armis- e a Noruega: a primeira foi derrotada em pouquíssimo tempo;
tício. Os territórios ocidentais foram anexados ao Reich, os a segunda, mesmo com a intervenção das forças aeronavais
140 E HISTORIA ILUSTRADA DO NAZISMO
ço E
carros armados alemães Dijon
Ataques dos corpos blindados
Q Desembarques aéreos RETA
alemães (IO de maio)
Clermont
Território ocupado Ferrand O E/On:
inglesas, capitulou no dia 10 de junho. O Reich, que se pro- A queda da França constituiu o ápice do triunfo nazista
punha a isolar a Grã-Bretanha, começou a ofensiva na frente no Ocidente, revelando as fraquezas da preparação e da
ocidental. estratégia militar francesa. Também a frente interna, poli-
ticamente dividida e moralmente abatida, cedeu. O país foi
O ATAQUE À FRANÇA ocupado parcialmente: a zona alemã se estendeu à França
Em 10 de maio 1940, a Alemanha invadiu a Holanda, a centro-setentrional e a uma faixa ao longo do Atlântico até
Bélgica e Luxemburgo sem declaração de guerra, derrotando- a fronteira espanhola, que englobava a maior parte dos dis-
“Os rapidamente, graças inclusive aos maciços bombardeios tritos industriais e todos os portos sobre o Atlântico. Grande
aéreos. Em 24 de maio, tropas alemãs chegaram ao Canal parte da França centro-meridional, ao contrário, permaneceu
da Mancha, diante de Dunquerque, onde se detiveram, per- sob o controle do novo governo conservador dirigido pelo
mitindo o reembarque das forças inglesas e de numerosos marechal Pétain, com sede em Vichy. Hitler julgou então
destacamentos franceses, provavelmente na esperança de que necessário que um governo francês continuasse a funcionar
a Grã-Bretanha encerrasse as hostilidades. As tropas nazistas numa parte do território nacional, a fim de impedir que este
avançaram em direção das regiões do Meuse e das Ardennes, se transferisse para a Inglaterra, de onde teria podido conti-
rompendo depois a linha da retaguarda francesa entre os rios nuar combatendo com liberdade de ação bem diversa. Além
Somme e Aisne; em 14 de junho, entraram em Paris e, no dia disso, não reclamou a entrega da frota, nem fez exigências
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22, foi assinado o armistício. sobre os domínios coloniais; seu objetivo principal nesse |
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ar com um vasto arsenal pro-
tado para uma guerra-relâm-
o. AWehrmacht, depois da
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rei ntrodução do recrutamento
obrigatório em 1935, foi refor-
cado: em 1939 era composto
de quase 3 milhões de homens
e tinha mais de 3 mil carros
"| armados. No rearmamento
BASES DE LANÇAMENTO DE
alemão, a marinha tinha sido mirante Raeder não conseguiu dotada de uma organização e MÍSSEIS V2
deliberadamente sacrificada. confiar a guerra no mar a um de um conjunto de meios con- As Vergeltunsgswaffen (armas de
Depois do tratado naval de único chefe que comandasse ao cebidos e montados segundo represália) foram fabricadas no
[935 com a Grã-Bretanha, que mesmo tempo as forças navais a tecnologia mais moderna. final da guerra. O V2 era um fogue-
te de 12,9 kg, dotado de cerca
atribuía à frota do Reich 35% e as forças aéreas e,em 1939, Contudo, os estabelecimentos de uma tonelada de explosivos e
da tonelagem daquela britânica, dispunha somente de algumas haviam sido edificados e capaz de desenvolver uma veloci-
o almirante Erich Raeder tinha esquadrilhas de vigilância das equipados apressadamen- dade de 5,6 mil km/h.
montado um ambicioso plano costas. A marinha alemã arris- te e a fabricação em sé-
de construções navais, mas cava ser privada, no momento E A rie tinha começado so- nenhuma mudança da guerra
em 1939 mal havia começado. decisivo, do concurso da Luf- mente em 1938. Ape- na frente oriental. Houve de-
Além disso, uma controvérsia twarfe, ainda mais que Góring sar disso, em setembro senvolvimentos significativos
havia colocado em choque a estava convencido de poder de 1939,a Luftwaffe sobretudo para os submergi-
marinha de guerra com a Luf- obter o domínio do mar possuía mais de 4 mil veis e para os aviões à reação,
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142 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
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A GUERRA E 143
GUERRILHEIROS GREGOS
A Resistência grega foi um espinho
nos flancos para as tropas de ocu-
pação do Eixo.
A “RAPOSA DO DESERTO”
Erwin Rommel, com o braço ergui-
do, foi o mais brilhante estrategista
da guerra com meios blindados
no deserto africano. Próximo dos
circulos militares que organizaram
o atentado contra Hitler de 20 de
julho de 1944, foi preso e forçado
a suicidar-se (embaixo).
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momento era enfraquecer a Grã-Bretanha, impedindo que mel, tomou o nome de “Afrikakorps”. Incansável e fulmíneo
se unisse ao que restava das forças francesas. O projeto de na concepção e nas decisões, Rommel logo ganhou o apelido
Hitler previa, portanto, a máxima exploração econômica da de “raposa do deserto” e, mal chegou, deu início por inicia-
França em proveito da Alemanha e a presença de um governo tiva própria a uma guerra-relâmpago. Favorecido com o vazio
que mantivesse as aparências da soberania. criado pelo envio de tropas britânicas para a Grécia, Rommel
A derrota da França marcou o primeiro verdadeiro triunfo começou a avançar sem tomar conhecimento da opinião dos
político-militar nazista, porquanto foi batido um adversário comandantes italianos, a quem deveria ficar subordinado.
histórico e foi eliminada do continente toda a força inimiga Em abril reconquistou a Cirenaica, chegando quase até a
restante. A operação “leão-marinho” (o ataque à Gra-Breta- fronteira egípcia, onde foi retido numa longa batalha para a
nha), no entanto, foi adiada, e o Reich foi obrigado a intervir conquista de Tobruk, conseguindo expugná-la em junho do
na Grécia e na lugoslávia ao lado da Itália, para evitar a ano seguinte, sabendo aproveitar-se, com a habitual habili-
derrota (abril de 1941). dade, de uma série de acontecimentos adversos que atingiram
a esquadra inglesa no Mediterrâneo.
A GUERRA NO NORTE DA ÁFRICA O “Afrikakorps” continuou a avançar, chegando, no final
Em janeiro 1941, Hitler decidiu socorrer as tropas italia- de agosto, a cerca de 100 km de Alexandria. A situação
nas que estavam em dificuldade na Líbia. Foram enviadas se tornou sempre mais séria para os ingleses, uma vez que
duas divisões blindadas que, sob o comando de Erwin Rom- seus suprimentos estavam destinados ao controle do Canal
144 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
HEINZ GUDERIAN
O maior teórico da guerra com
meios blindados. No decorrer da
invasão da União Soviética, obteve
fulminantes sucessos e, com seu
exército Panzer, chegou até as por-
tas de Moscou.
DESFILE DO
ExéÉRCITO VERMELHO
O fulgurante avanço alemão em
território russo foi favorecido pelo
fator surpresa e pelo despreparo
militar de Moscou.
METRALHADORES ALEMÃES
NA NEVE
Os exércitos do Reich viram-se
combatendo em condições proibi-
tivas no decorrer do longo inverno
russo (embaixo).
ves perdas, mas não tinha sido aniquilado. Em dezemb A NOVA ORDEM EUROPEIA
no coração do inverno russo, ao qual as tropas pp A partir da agressão à União Soviética, ocorreu uma
estavam preparadas, o Exército Vermelho começou a contra- profunda reviravolta na condução da guerra, porquanto se
ofensiva. Com a campanha russa, teve fim o glorioso período desdobrou a lógica da guerra nacional-socialista que, ao
da guerra-relâmpago paga pelo vencedor com perdas de pouca choque entre as potências, acrescentou o choque frontal
monta, amplamente compensadas pelas riquezas depredadas, de ideologias e raças. O objetivo era a conquista de um
pelos territórios ocupados e pelos adversários subjugados. As interminável “espaço vital”, de modo a garantir ao Reich
dificuldades e as derrotas criaram discórdia entre os gene- imensos recursos e a criação de uma “nova ordem europeia”,
rais e profunda desmoralização se apoderou dos soldados. Foi ou seja, de um sistema de estados-satélites sujeitos à Ale-
necessário substituir os combalidos, aumentar e renovar os manha. Esse objetivo implicou uma ocupação que deveria
armamentos e o conflito se transformou numa guerra de des- ser definitiva, em vista da futura dominação nazista. Com
gaste, de êxito incerto e de duração imprevisível. Para tentar efeito, foi nas áreas destinadas ao assentamento dos alemães
vencê-la, a Alemanha teve de mobilizar todos os seus recursos que se realizou esse processo de germanização indissociável
eutilizar todos os homens válidos, mesmo que isso significasse do objetivo racista: introdução de alemães, portadores de
afastá-los das fábricas e dos postos-chave na frente interna. valores raciais superiores, e expulsão de grandes massas de
Toda a Europa conquistada deveria ser explorada, para que o população local para deixar trabalho e bens aos ocupantes.
Reich milenar pudesse coroar seus sonhos de glória. Essas maciças transferências de população constituíram, na
146 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
A BARBARIZAÇÃO
DO CONFLITO
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A GUERRA E |47
CRIANÇAS REFUGIADAS
Além da destruição de muitas cida-
des, o conflito provocou o êxodo
forçado de milhões de pessoas.
PROPAGANDA ALEMÃ
NOS PAÍSES OCUPADOS
Cartaz em língua flamenga que
exorta o alistamento nas 55
(embaixo, à esquerda).
SOLDADOS DE INFANTARIA EM
CIMA DE UM CARRO ARMADO
NO FRONT DE DON
(embaixo, à direita).
GOEBBELS NUMA
CARICATURA RUSSA
O ministro da Propaganda procurou
em vão transformar a derrota de
Stalingrado na heroica resistência
do Reich milenar às “hordas bolche-
viques” (embaixo,à esquerda).
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NA FRANÇA E Fade
Até novembro de 1942 o país, Ee DE an
ocupado em três quintos, conti- e E
nuou formalmente livre na area
centro-meridional dirigida pelo
governo colaboracionista com sede
em Vichy.
OFICIAIS ALEMÃES
EM UM CABARE PARISIENSE
(embaixo).
O SISTEMA DE PODER NAZISTA Hitler se isolou cada vez mais com relação ao exterior
NOS ANOS DA GUERRA e Bormann se empenhou para que ele tivesse poucos con-
O sistema burocrático e administrativo do Terceiro Reich tatos com ministros, Gauleiters e chefes de partido, mesmo
se caracterizou, no decorrer da guerra, por um caos crescente. quando se tratava de antigos combatentes. Desde a eclosão
A última sessão do gabinete teve lugar em fevereiro de 1938. da guerra, o Fúhrer permaneceu quase exclusivamente em
Acrescente-se a isso que, para os vários ministros e responsá- seu quartel-general, de onde dirigia inclusive as operações
veis políticos, passou a ser sempre mais difícil durante a guerra militares. Em janeiro de 1945, transferiu-se para o bunker
| ter contatos diretos com Hitler. O poder se concentrou, de construído debaixo da chancelaria do Reich, em Berlim, e
| fato, sempre mais nas mãos de três homens: Hans Heinrich dele não saiu mais até sua morte.
Lammer, chefe da chancelaria do Reich, cujo papel foi equi- Enquanto Góring, após o fracassado ataque aéreo con-
| parado ao de um ministro; Martin Bormann, onipresente e tra a Inglaterra em 1940, perdeu sempre mais autoridade,
| superativo secretário particular de Hitler; e Wilhelm Keitel, Goebbels, Himmler e Speer, fiéis até o fim a seu chefe e em
chefe do comando superior da Wehrmacht de 1938 a 1945. perene rivalidade entre si, disputaram o poder continuando
Toda diretiva, medida e circular emitidas pelo Fiihrer eram a administrar, cada um em seu próprio âmbito, a louca con-
| redigidas e divulgadas somente por esses respectivos membros dução da guerra nazista.
do partido.
O império nazista
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A GUERRA E 153
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154 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
A OCUPAÇÃO 1
DA ITÁLIA
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Em 5 de setembro de 1943,
a Itália assinou o armistício,
pondo fim desse modo a três
anos de condução bélica desas-
trosa. A coroa foi salva, mas o
país permaneceu nas mãos das
tropas alemãs que, já depois
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A GUERRA BE 155
FORTE ATLÂNTICO
Por detrás das fortificações de
concreto, os comandos alemães
haviam disposto as divisões blinda-
das para repelir o previsto desem-
barque aliado.
MESssERSCHMIDT ME-262
O primeiro avião à reação produ-
zido pela indústria alemã em 1942.
Foi utilizado, porém, em operações
bélicas somente a partir de julho
de 1944 (embaixo).
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156 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
O COLABORACIONISMO PES UA )
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caráter bem mais global, ou administrativos e em am-
seja, destinado a envolver a bientes sociais dos quais não
organização política e institu- podia prescindir, para obter
cional do país. No âmbito da suprimentos e estimular a
“nova ordem europeia”, o uso produção industrial e agrícola
do colaboracionismo deveria dos países ocupados para
ter sido um dos instrumentos seus territórios, para recrutar
de agregação do consenso a mão-de-obra necessária a
e das forças em torno do seu esforço bélico e também
desígnio de expansão da Ale- para transmitir, através de me-
Jal
manha nazista. À colaboração diadores locais, uma imagem
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de elementos integrados no e uma mensagem tranquili- do fenômeno do colaboracio- -se nas estruturas tradicionais
tecido social e administrati- zadoras. Muitos movimentos nismo — com a esperança de de poder — como na Bélgica
vo dos territórios ocupados pró-fascistas e pró-nazistas realizar suas aspirações polí- — em detrimento das forças
era para a Wehrmacht uma ofereceram sua colaboração à ticas. Por vezes, porém, num fascistas, mas caracterizadas
exigência primária. Não so- potência ocupante — uma das paradoxo só aparente, a Ale- igualmente de um forte com-
mente do ponto de vista da características fundamentais manha nazista preferiu apoiar- ponente nacionalista. A repú-
blica social italiana constituiu
um significativo exemplo de
como muitas vezes os alemães
consideravam as forças locais
mais como um obstáculo do
que uma ajuda para a atuação
de sua política.
FRANCESA DE CABEÇA
RASPADA A ZERO
Punida por ter tido um filho de um
soldado alemão (O Robert Capa/
Magnum Photos (no alto).
JACQUES DorioT
O líder colaboracionista francês
(de uniforme escuro) combateu
como voluntário na Rússia.
Tu ESTÁS NO FRONT
ASSIM COMO NOS COMBATEMOS,
TU TRABALHA PARA A VITÓRIA!
Trabalhadores alemães são incita-
dos a empenhar-se para vencer a
guerra.
Navio ALEMÃO
EM COMBATE
(embaixo, à esquerda).
SOLDADOS DA WVEHRMACHT
ADQUIREM CARTÕES-POSTAIS
(embaixo, à direita).
O BOMBARDEIO
DE DRESDEN
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entre as cadeiras, de alguns ar. Eu tinha perdido a noção
cendo a capacidade defensiva aquele momento, enquanto grupos erguiam-se lamentos do tempo. Fora estava claro
do inimigo. Uma frota aérea agora que se sobrepõe a ele e prantos; avizinhavam-se como o dia. Na Pirnaischer
norte-americana fixou a base a sucessiva catástrofe, já se novamente, novo aperto pelo Platz, na Marschallestrasse e
no sul da Grã-Bretanha. En- confunde no perfil geral. Logo perigo mortal, nova explosão. às margens ou do outro lado
quanto estes continuaram as começamos a ouvir o zumbi- Não sei quantas vezes tudo do rio Elba, a cidade estava
incursões noturnas nos cen- do sempre mais agudo e sem- isso se repetiu. De improviso, em chamas. [...] Diante de
tros urbanos, aqueles atuaram pre mais ensurdecedor dos a janela da adega em frente mim abria-se um grande es-
de dia procurando atingir os voos que se aproximavam, da entrada saltou, sobre a
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paço vazio, irreconhecível, e
objetivos militares. O auge faltou luz, foi ouvida uma ex- parte posterior, e fora havia
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no meio dele uma gigantesca
dos bombardeios foi alcança- plosão nas proximidades. [...] luz como em pleno dia. [...] cratera. Estampidos, ilumina-
do no dia 13 de fevereiro de ção como se fosse dia, explo-
1945 com a ação sobre Dres- sões. Não pensava em nada,
den que durou |4 horas e não tinha medo, havia em
durante a qual morreram |35 mim somente uma espantosa
mil pessoas.Viktor Klemperer, tensão, creio que estivesse
filólogo de origem hebraica e esperando o fim. [...] Tinha
professor na Universidade de perdido a noção do tempo,
Dresden, da qual foi afastado foi uma eternidade, enquanto,
em 1935, mantinha havia anos no fundo, não durou muito,
um diário que constitui um porque em certo ponto co-
dos documentos mais inte- meçou a clarear o dia. À ci-
ressantes sobre a vida coti- dade continuava queimando”.
diana durante o nazismo. No
momento do bombardeio, ele
não havia sido ainda deporta-
do porque, tendo casado com
uma mulher ariana, tinha sido
poupado da “solução final” BOMBARDEIO DE COLÔNIA
Na fotografia tirada de um avião
que já havia feito a maioria
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A GUERRA E 159
SOLDADOS DA WVEHRMACHT
DIANTE DO TEMPLO DE DELFOS
NA GRÉCIA CENTRAL
PosTO DE FRONTEIRA
entre a França ocupada e o ter-
ritório da República de Vichy
(embaixo).
Tiveram início relações econômicas caracterizadas por estabelecido com base no número de soldados, mas na suposta
aparente regularidade. Transações comerciais transferiram riqueza de cada país; as ingentes somas excedentes eram utili-
para à Alemanha enormes quantidades de produtos. Todas zadas pelo Reich para pagar a mão-de-obra estrangeira empre-
as trocas econômicas da Europa ocupada foram dirigidas para gada no próprio território e para intervir nos diversos sistemas
o Reich e para seus satélites. Na Europa central o domínio econômicos nacionais, adquirindo cotas de participação. A
efetivo que a Alemanha tinha conquistado antes da guerra Alemanha, que entrara em guerra sem reservas de divisas
transformou-se num monopólio. O projeto da “nova ordem estrangeiras para o financiamento das próprias aquisições,
europeia” previa, entre outras coisas, que depois da guerra tinha adiado para o final do conflito o pagamento de seus
à Alemanha teria reservado uma espécie de monopólio da crescentes débitos. Para sufocar a inflação, consequência ine-
indústria europeia, em particular no setor da metalurgia e vitável dessa estratégia,
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da química. Berlim se transformaria no centro das artes, das o Reich se arrogou, além
letras, da moda, do espetáculo. disso, o direito de vigilân-
As despesas de manutenção das tropas de ocupação eram cia sobre as instituições
de responsabilidade dos países vencidos e o montante não foi de emissão de cada país.
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160 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
ROBERT CAPA
O “maior fotógrafo de guerra”, aqui
retratado antes do desembarque na
Normandia, trabalhou na Espanha
durante a guerra civil e depois na
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SOLDADOS NORTE-AMERICANOS
COM UMA BANDEIRA NAZISTA
(embaixo).
O SEGUNDO FRONTE A MUDANÇA bastante velocidade. No dia 25 de agosto Paris foi libertada,
DOS DESTINOS DA GUERRA em 3 de setembro os Aliados entraram em Bruxelas e em 21 de
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Depois de longas negociações entre as forças aliadas, foi outubro chegaram à primeira grande cidade alemã, Aachen.
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decidido abrir uma segunda frente na Europa para infligir à Também nas outras frentes a sorte da Alemanha mudou
Alemanha a derrota definitiva. O ataque à “fortaleza Europa” rapidamente. Em setembro de 1943, após o desembarque dos
teve início no dia 6 de junho de 1944 com o desembarque Aliados na Sicília e o golpe de Estado contra Mussolini, a Itá-
na Normandia de mais de 600 mil homens sob o comando lia assinou o armistício. Na frente oriental também fracassou
do general norte-americano Dwight Eisenhower. Os Aliados a última ofensiva alemã, e o Exército Vermelho continuou
puderam contar com uma superioridade numérica e com maior seu avanço para oeste, chegando em outubro à Prússia orien-
eficiência, visto que muitas das tropas alemãs estavam dura- tal. Depois da saída da Itália do conflito, na segunda metade
mente provadas por longos períodos de guerra em outras frentes. de 1944, acentuou-se a progressiva erosão das alianças em
O sucesso aliado foi reforçado pelo fator surpresa e pelas incerte- torno da Alemanha: Finlândia, Bulgária e Romênia capitu-
zas táticas do comando alemão. O avanço aliado procedeu com laram uma após outra.
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A GUERRA E 16l
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VI NA RAMPA DE LANÇAMENTO
Dita “bomba voadora”, foi utilizada
pelos alemães para o bombardeio
das cidades inglesas no final do
conflito.
A RESISTÊNCIA
Ao NAZISMO
Na Alemanha nunca foi organi-
ado um movimento de resis-
rência armada como, em con-
trapartida, foi ativo em todos os
países ocupados pelos nazistas e
que, embora com profundas di-
ferenças nacionais, sempre deu
uma importante contribuição
militar, política e ideológica para
4 condução da guerra aliada. A te nas grandes cidades, onde nal-conservadora, portanto, foi toritário, uma redução da in-
frente interna se caracterizou conseguiram unir-se a uma formada, embora com matizes fluência política do NSDAP e do
por crescentes rupturas, ainda preexistente rede de contatos e e pressupostos muito diversos, nacional-socialismo, sem anular,
que a maioria dos alemães — im- Os mais ativos conseguiram ter por homens que não haviam se por outro lado, alguns aspectos
pelida pela política terrorista ou uma rede de ligações bastante oposto ao novo regime desde introduzidos pelo regime, como
seduzida pela propaganda — per- ramificada.A maioria deles caiu 1933. Ao contrário, foi neces- a destruição do movimento
manecesse passiva até o fim do vitima do opressivo controle da sária uma longa aprendizagem operário organizado, a forma-
conflito. Quanto mais durava a Gestapo. Difundiram-se tam- para compreender que os ção da “comunidade do povo”,
guerra e quanto mais se distan- bém formas de oposição entre traços criminosos do governo o rearmamento, os primeiros
ciava a perspectiva de um fim Os jovens que não toleravam nazista constituíam sua essência passos da política expansionista.
rápido e vitorioso, tanto mais esse estrito controle ao qual íntima. Na resistência nacional-
começou a desenvolver-se em eram submetidos na Hitlerjugend -conservadora e, em particular,
diferentes meios uma oposição e estavam desiludidos pelas pro- nos grupos cuja atividade con- “TRIBUNAL POPULAR”
ativa. Os opositores de Hitler, messas de renovação. Muitos fluiu depois na organização do QUE JULGA OS CONSPIRADORES
DE 20 DE JULHO DE 1944
de formação política bastante deles se refugiaram em grupos atentado contra Hitler de 20 de (no alto, à esquerda).
diversa, não estavam de acordo desprovidos de uma conotação julho de 1944, foi muito raro o
nem em relação aos fins nem política, mas que precisamente debate sobre as futuras linhas HANS ScHOLL (no alto,à direita).
em relação aos métodos de por isso mostravam o fracasso políticas; todas as hipóteses
MUSSOLINI EM VISITA AO
ação. Além disso, eles tiveram, do projeto totalitário nazista. concordavam num programa QUARTEL-GENERAL DE
na maioria das vezes, um raio de Entre os estudantes universitá- mínimo de uma “revolução pro- RASTENBURG NA SALA
ação limitado a um nível local e rios,o grupo da “Rosa Branca”, posta do alto”. O objetivo era SEMIDESTRUÍDA PELO ATENTADO
muitas vezes não chegaram se- ativo em Munique desde junho uma reestruturação do regime
quer ao conhecimento da exis- de 1942 a fevereiro de 1943, num sentido conservador-au-
tência de outros grupos. Aque- foi o mais conhecido e atuante.
les que pertenciam aos velhos Os irmãos Scholl, principais
quadros políticos e sindicais op- animadores, transformaram-se O ia,
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164 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
CHURCHILL, ROOSEVELT
E STALIN EM YALTA
A conferência realizada na cidade
russa garantiu a colaboração aliada
até o fim do conflito. Stalin pediu
para dividir a Alemanha, depois de
concluída a guerra, e reafirmou
que a URSS estava determinada a
desempenhar um papel hegemôni-
co na Europa central.
CAPTURA DE SOLDADOS
ALEMÃES EM LEIPZIG, EM 1945
O Robert Capa/Magnum Photos
(embaixo).
Em fevereiro de 1945, os três grandes subscreveram acor- tado: as diferenças políticas entre os Aliados foram postas
dos em Yalta sobre a divisão do Reich em zonas de ocupação, em segundo plano enquanto durou o esforço comum para
a distribuição do território de Berlim e o reconhecimento da derrotar o Reich. Mas, com o fim da guerra, a necessidade
França como quarta potência de ocupação. Stalin se mostrou do acordo a qualquer custo fracassou e prevaleceram os inte-
o mais intransigente a respeito das reparações a impor ao resses nacionais e as divergências ideológicas.
Reich, visto que seu país havia sofrido mais que qualquer
outro a agressividade nazista. Churchill e Roosevelt, em con- À DERROTA
trapartida, temiam que lhes tocasse o ônus da sustentação e Enquanto os Aliados prosseguiam seu avanço para o
da retomada da Alemanha, num provável empobrecimento coração da Alemanha, do leste para o oeste, os bombardeios
desta. Pouco depois do encontro de Yalta, Stalin, porém, foi destrufam as cidades alemãs. Colônia, Dresden e Berlim con-
contrário à divisão da Alemanha; de fato, ele atribuía mais taram dezenas de milhares de mortos, a maioria das casas foi
peso que os outros aliados à questão das reparações admi- destruída, a vida cotidiana dos alemães era orientada pelos
nistrável somente num contexto unitário e estava interes- alarmes aéreos. Quanto mais a situação se apresentava deses-
sado no controle comum sobre o Ruhr e, desde que pudesse peradora, mais Goebbels prosseguia em sua batalha ideoló-
explorar seus recursos, estava pronto a muitas concessões. gica, reafirmando a confiança no triunfo final do Reich.
À França era contrária a essa perspectiva e logo aflorou a Embora insistindo sempre no perigo judaico-bolchevique,
impossibilidade de gerir de modo coordenado o país derro- difundiu novos argumentos de propaganda. Hitler não foi
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A GUERRA EE 165
A “ORDEM e que lhe impeçam continuar inimigo nos deixará somente JOVENS SOLDADOS ALEMÃES
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existência de nosso povo im- instalações dos transportes, que podem resultar imediata- (milícia popular alemã), constituída
põe explorar, também no inte- das comunicações, da indústria mente ou em tempo menos de rapazes nascidos em 1928.
rior do território do Reich, to- e dos suprimentos não destru- próximo úteis ao inimigo para
dos os meios que enfraqueçam idas, apenas por breve tempo a continuação da luta, devem
a eficiência bélica do inimigo paralisadas. Em sua retirada,o ser destruídos”.
A GUERRA E 167
ENCONTRO SOBRE
A PONTE ENTRE RUSSOS
E NORTE-AMERICANOS
Soldados das duas principais
potências vitoriosas apertam as
mãos sobre o rio Elba.
A RENDIÇÃO DO
TERCEIRO REICH
9 de maio de 1945: 0 marechal-de-
-campo Wilhelm Keitel, no centro,
antes da assinatura da rendição
incondicional no quartel-general do
marechal soviético Georgij Zukoy,
em Berlim (embaixo).
mais apresentado como o maior gênio militar da humani- dades. A maioria da população, já extenuada, esperava o
dade — depois de Stalingrado, não era mais possível — mas fim da guerra. Nos primeiros meses de 1945, os Aliados, de
como o gigante “Atlas que carregava sobre os ombros o peso leste para o oeste, chegaram até o coração da Alemanha,
do mundo”, e o soldado alemão se tornou o “defensor da descobrindo em seu avanço os campos de extermínio e os
civilização”. Inclusive a existência de armas secretas foi um horrores da Shoah.
dos motivos recorrentes de suas declarações. Pouco depois Em abril, praticamente nenhum dos mais fiéis paladinos do
do desembarque na Normandia, foram lançadas da costa do Fihrer julgava que os destinos do conflito mundial pudessem
Canal da Mancha as primeiras bombas voadoras VI contra ser revertidos. Em 30 de abril, Hitler se suicidou, nomeando
a Inglaterra, que produziram ingentes destruições, especial como seu sucessor, no testamento, o almirante Karl Dônitz.
mente na área urbana de Londres, mas que se desintegraram Em 7 de maio foi assinada a capitulação da Alemanha. Desse
contra as defesas antiaéreas e não tiveram nenhum peso sobre modo, tiveram fim as hostilidades na Europa.
os destinos do conflito. O balanço da Segunda Guerra Mundial foi trágico: mor-
O atentado contra Hitler de 20 de julho de 1944, por reram 13 milhões de homens, dos quais 6 milhões de judeus,
obra do coronel Claus von Stauffenberg, mostrou que no 3 milhões de prisioneiros de guerra soviéticos, 2,5 milhões
interior das estruturas de poder nazista se havia aberto uma de poloneses. Perderam a vida mais de 4 milhões de soldados
luta entre os fautores da guerra até o fim e os partidários alemães e cerca de 17 milhões da parte dos aliados. No con-
de um golpe de Estado, prelúdio da cessação das hostili- junto, perderam a vida cerca de 50 milhões de pessoas.
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extermínio dos judeus, conhecido também como
“solução final”, não constituiu um projeto ela-
borado em detalhes por Hitler desde a década de
1920, mas foi consequência de um complexo, e
por vezes contraditório, processo decisório que se delineou no
decorrer dos anos e que, somente depois da eclosão da guerra
e da agressão à URSS, foi possível realizar e no qual Hitler
teve, de qualquer modo, um papel fundamental ao estabelecer
modalidades e tempos de execução. Em setembro de 1939, no
ímpeto da vitória sobre a Polônia, Hitler aprovou um plano ini-
cial para a reorganização demográfica da Europa oriental, que
se baseava em princípios de seleção racial e que previa, entre
outras coisas, a transferência forçada dos judeus para o leste.
Em maio de 1940, no decorrer da Blietzkrieg em território fran-
cês, aprovou o memorando de Himmler sobre o tratamento das
populações orientais e o “plano Madagascar”, que previa uma
deportação em massa dos judeus para a ilha africana. Para esse
fim, contudo, era necessário derrotar não somente a França,
en
170 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
cs j ú d i s c h e K o m p l o
SAPATOS DE DEPORTADOS
NO CAMPO DE EXTERMÍNIO
DE AUSCHWITZ (p. 168).
CoMPLÔ JUDAICO
Cartaz alemão que estabelece
uma conexão entre EUA, URSS
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e Grã-Bretanha.
CARTAZES ANTISSEMITAS
NAS LOJAS DE COMERCIANTES
JUDEUS (embaixo).
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e CAMPO DE CONFINAMENTO
DE DRANCY
Aqui foram encerrados judeus
franceses e estrangeiros de religião
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JUDAICO DE VARSÓVIA
A guerra racial da Wehrmacht logo
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se tornou uma gigantesca e brutal
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confiscada a carteira de motorista aos judeus; no ano seguinte Pouco depois do ataque nazista à Polônia, em 21 de setem-
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foi-lhes proibido ficar fora de casa depois das oito horas da bro de 1939, foi decidido instituir os guetos e formar em
noite. Em 1941 foi decretada a proibição de sair do município cada comunidade um Judenrat (conselho judaico), respon-
de residência, de utilizar os meios públicos nas horas de pico, sável pela atuação das ordens do Reich. O primeiro grande
de ter um telefone. A partir de 1942, não lhes foi permitido gueto foi constituído em Lodz, em abril de 1940; em outubro,
servir-se de qualquer meio de transporte público. seguiu-se o de Varsóvia e numerosos outros nos meses seguin-
Além disso, foram introduzidas medidas específicas de tes. Embora não houvesse uma diretiva uniforme, análogas
identificação. Em 1938 foram emitidos passaportes marca- foram em toda parte as questões a resolver. Os preparati-
dos com a letra ), inicial de Jude (judeu). A partir de 1941, vos foram feitos em segredo e a transferência da população
tornou-se obrigatório exibir uma estrela amarela sobre as judaica ocorria de surpresa, de modo a impedir eventuais
roupas, de modo que fossem imediatamente identificáveis fugas. Algumas comunidades judaicas foram encerradas em
inclusive pelas forças de polícia. A emigração, incentivada pequenas cidades que se transformaram em cidades-gueto.
até 1939, foi proibida no outono de 1941. Desse modo, foi No final de 1941, todos os judeus dos territórios incorporados
sancionado o absoluto isolamento dos judeus em relação e do Governo Geral da Polônia estavam segregados.
à população alemã. O passo seguinte, a deportação, era Isolado completamente do restante do mundo, o gueto
somente questão de tempo. teve de resolver com suas próprias forças muitos problemas
172 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
EXECUÇÃO A SANGUE-FRIO
Um habitante dos territórios ocu-
pados da Bielo-Rússia antes de ser
morto por um soldado alemão.
REVOLTA DO GUETO
DE VARSÓVIA
À insurreição na capital polonesa
teve início no dia 19 de abril de
1943 e terminou, depois da deses-
perada resistência das milícias
armadas judaicas, no dia 16 de
maio. Pereceram mais de 56 mil
judeus. O que restava do gueto
foi pouco depois arrasado pela
VYehrmacht (embaixo).
MULHER IDOSA
COM A ESTRELA AMARELA
(embaixo, à esquerda)
MONTE DE RUÍNAS
O que restava do antigo gueto
de Varsóvia, depois que os alemães
decretaram sua destruição
(embaixo, à direita).
Wehrmacht e puderam assim capturar suas vítimas antes que o interior deles, sistema menos brutal para os executores do
tivessem tempo de fugir do destino que as aguardava. De que as chacinas em massa, nas quais atiravam de uma distância
início, foram mortos apenas os homens adultos: logo, porém, bem próxima. No decorrer do avanço alemão para o leste,
foi a vez de mulheres, velhos e crianças. foram exterminadas cerca de 500 mil pessoas.
A Wehrmacht deu muito mais que um simples apoio logís-
tico a essas operações: com efeito, empenhou-se em entregar AS DEPORTAÇÕES
osjudeus aos Einsatzgruppen, pedindo para intervir em algumas Em novembro de 1941, com a deportação sistemática dos
operações, participar em execuções coletivas e fuzilar reféns judeus da Alemanha, teve início a última fase do extermínio.
como represália por ataques contra as tropas de ocupação. A Em outubro de 1941, os judeus foram informados sobre os pon-
partir da segunda metade de 1941, começou-se o extermínio tos de “coleta” preestabelecidos, as regras de comportamento,
empregando os caminhões com o gás de descarga dirigido para a bagagem indispensável para aquilo que foi apresentado como
[74 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
TS PROTOCOLES
com arte pela polícia czarista no
início do século XX.
Nº 4
re É FLANCS
“uma transferência para os territórios orientais”. Foi-lhes orde- nenhuma autoridade para administrar esse complexo meca-
nado deixar suas casas com as taxas pagas e comunicado que nismo; nenhum poder central que não fosse alemão estava
todos os bens haviam sido requisitados pela polícia com efeito autorizado a funcionar. Os europeus do norte, do oeste e do
retroativo. As comunidades judaicas forneceram à Gestapo sul eram, em contrapartida, aliados em potencial, e nesse “arco
listas, com base nas quais era feita uma seleção e, visto que semicircular” os alemães deram instruções a escritórios centrais
o número de vítimas era muito superior ao dos trens em par- fantoches e apresentaram seus pedidos aos governos-satélites.
tida, foi possível pedir adiamentos e trocas por aquilo que se Enquanto os guetos poloneses eram esvaziados e prosseguiam
pensava que fosse uma transferência para campos de trabalho os massacres no leste, a solução final foi estendida à Europa
num indefinido território do leste. Numa segunda fase, quando ocidental com a sincronização das deportações da França, da
entraram em funcionamento os campos de extermínio, foram Bélgica, da Holanda e dos estados nórdicos. Em março de 1943,
utilizadas as listas das comunidades e dos comissariados, irrom- foram deportados os judeus da Salônica e depois de toda a
pendo nas casas sem qualquer aviso. As deportações começa- Grécia; em outubro seguinte, os estabelecidos na Itália.
ram pelo território do Reich; depois foi a vez da Polônia, onde
os guetos foram esvaziados progressivamente. Os CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO
À expansão geográfica da “solução final” constituiu a ope- A eclosão da guerra marcou uma ruptura significativa no
ração administrativa mais complexa do extermínio dos judeus complexo sistema de concentração. Houve uma grande onda
da Europa. Aos poloneses e aos russos não foi reconhecida “de prisões e um decreto de 20 de setembro 1939 permitiu matar
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ESTRELA AMARELA
Em muitas cidades da Europa
oriental, a deportação dos judeus
para os campos de extermínio,
ordenada pelas forças de ocupação
do Reich, foi precedida por ver-
dadeiros pogrons de nacionalistas
locais em detrimento das comuni-
dades judaicas.
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Ácido cianídrico fixado em pas-
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RESTOS DE UM FORNO
CREMATÓRIO DE BIRKENAU
SOLDADO NORTE-AMERICANO
OBSERVA OS CADÁVERES DE
JUDEUS NO CAMPO DE DACHAU
(embaixo).
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prática marcada pela ferocidade selvagem das repartições encenação era escrupulosamente organizada: as roupas
especiais, mas o resultado da premeditação científica deviam ser deixadas fora das câmaras de gás, os objetos de
da chacina programada e industrializada. Os campos de valor, depositados num local específico. Todas as medidas
extermínio não constituíram somente a exasperação das foram criadas, na realidade, para facilitar a reciclagem dos
práticas de segregação de uma grande parte da sociedade, bens daqueles que eram encaminhados para a morte. Foram
já posta em prática com os campos de concentração e os temporariamente poupados somente aqueles utilizados na
guetos: exigiram, direta ou indiretamente, no extermínio transferência dos corpos das câmaras de gás aos fornos cre-
em massa planejado, a participação e a cumplicidade de matórios ou às valas comuns, a fim de ocultar as provas.
A SHOAH E 177
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critos por pessoas ali detidas. nowitz, foi construído para a
O primeiro núcleo do campo indústria química IG Farben no ticos e pequenos grupos de os quais todas as crianças e Os
(Auschwitz |) foi instalado em final de 194], com o objetivo judeus.A câmara permaneceu idosos — eram imediatamen-
1940, utilizando as estruturas de explorar o trabalho forçado em funcionamento até 1942. te enviados para os fornos
de um quartel polonês de ar- para a produção de matérias No início de 1942,a “solução crematórios; os outros eram
tilharia. Os prisioneiros foram sintéticas. Deste dependiam to- final” assumiu dimensões tais poupados para serem depois
empregados em trabalhos dos os Lager, cerca de 40, que que, no campo de Birkenau, fo- mortos por meio de ritmos de
forçados, tanto agrícolas como se encontravam na alta Silésia. ram construídas novas e mais trabalho e de condições higiê-
industriais em fábricas de pro- Em setembro de 1941, come- amplas câmaras de gás. Nelas nicas desumanos. Por ordem
priedade das SS. Em 1943, havia çaram no campo de Auschwitz foram exterminados os judeus de Himmler, as câmaras de gás
nele 20 mil pessoas detidas, e | as chacinas por meio do gás que provinham de todos os começaram a ser destruídas
foram executados membros da com o Zyklon B numa cela lo- territórios anexados e ocu- no final de 1944; a última foi
resistência, reféns poloneses calizada no bloco Il do campo. pados pelo Reich. Na chegada demolida em janeiro de 1945,
e membros da intelligentzia Esta, porém, se revelou muito a Auschwitz, os deportados poucos dias antes da chegada
de diversas nacionalidades. O pequena e por isso foi construí- eram selecionados enquanto das tropas soviéticas. Em Aus-
campo Auschwitz Il, conheci- da, no crematório, uma câmara estavam ainda na plataforma chwitz foram mortos mais de 2
do como Birkenau, foi aberto de gás, utilizada sobretudo para do trem: os que eram julgados milhões de homens, mulheres
entre o final de 1942 e o início prisioneiros de guerra sovié- incapazes de trabalhar — entre e crianças.
178 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
EUTANÁSIA E EXTERMÍNIO DOS CIGANOS loga àquela dos campos de extermínio. Nesses centros foram
Em abril de 1940, Hitler decidiu dar início à operação T4,
mortas mais de 100 mil pessoas.
Isto é, a eutanásia dos doentes mentais e dos portadores
de O sucesso da operação eutanásia convenceu o regime de
deficiências: este foi o primeiro capítulo do genocídio nazista. que era possível praticar o homicídio em massa, quer porque
A ideologia, o processo decisório e a técnica vinculam euta- havia funcionários dispostos a fazê-lo, quer porque a maioria
násia e “solução final”: todas as vítimas foram sacrif
icadas dos alemães escolheu o silêncio e não constituiu um real
em nome do racismo biológico nazista. A esterilização e a
impedimento ao desenvolvimento das operações.
eutanásia foram destinadas a preservar a pureza da comuni-
O extermínio dos ciganos se caracterizou por etapas aná-
dade do povo, enquanto o extermínio dos judeus — embora
logas àquelas da “solução final”: a guerra marcou também
igualmente entendido como um processo de purificação neste caso uma guinada na prática persecutória. No dia 2
racial — foi essencialmente uma luta contra um inimigo que de setembro de 1939, foi proibido no Reich o nomadismo
se julgava estar ameaçando a sobrevivência da Alemanha dos ciganos; no mês seguinte foi-lhes impedido de deixar o
e do mundo ariano. Os centros de morte da eutanásia, dis- domicílio. Em maio de 1940, começaram as deportações para
postos em locais isolados, funcionaram com procedimentos os campos de concentração e, em 1941, foram vítimas da fúria
destinados a esconder das vítimas seu trágico destino: eram homicida dos Einsatzgruppen na frente oriental. Uma ordem
registradas, submetidas a uma “consulta” médica e depois de Himmler, de 12 de dezembro de 1942, marcou a etapa final
encaminhadas a uma câmara de gás com uma prática aná- do extermínio. Embora seja difícil estimar com precisão o
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A SHOAH E 179
T H E R ESA À solicit ação de desenh ar uma casa, Theres a, uma menina polonesa que havia vivido dois anos num
A CASA DE vivida. Os sinais que traçou no
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l i m i t a m ao in extricável emaranhado de linhas, representado pelo arame farpado.O David Seymour/Magnum Photos.
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180 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
PRISIONEIROS RUSSOS
Entre 5 e 6 milhões de soldados
do Exército Vermelho cairam nas
mãos dos alemães durante o con-
flito. Destes, mais de 3 milhões
morreram de privações, doenças,
trabalhos forçados e por causa do
tratamento desumano dispensado
a eles.
número de vítimas, calcula-se que quase meio milhão de ciga- nhóis. Na massa caracterizada pelo adensamento máximo,
nos tenha sido sacrificado nos centros de morte nazistas. um tirava o lugar do outro, ninguém estava jamais só, mas
nem junto com os outros; a convivência forçada tornou quase
Os PRISIONEIROS DO REICH impossíveis formas de autonomia social. A confraterniza-
Os prisioneiros foram classificados de acordo com a raça e ção foi bastante rara e muitas vezes ditada por exigências
a proveniência geográfica, isto é, de acordo com o lugar que de sobrevivência, como trocas de comida ou de gêneros de
ocupavam na hierarquia racial nazista: um triângulo colorido primeira necessidade.
sobre o uniforme tornava visível o status de cada um. Essa sub- Na chegada, as vítimas eram logo introduzidas com
divisão teve, além disso, o objetivo de acentuar os contrastes violência nesse novo sistema, raspadas, obrigadas a vestir
entre as vítimas, de modo a tornar quase impossível qualquer um uniforme, privadas de sua individualidade e reduzidas
forma de solidariedade. Esse sistema classificatório, que res- a número, gravado a fogo no braço, para sublinhar o can-
pondia a reais diferenças ou a estereótipos preexistentes, foi celamento total de seu passado e o início do processo de
assumido pelos próprios prisioneiros, acentuando assim os aniquilamento.
contrastes recíprocos. A babel de línguas tornou ainda mais A divisão entre detentos e o pessoal do campo, entre víti-
difíceis os contatos, favorecendo aqueles entre concidadãos. mas e carrascos, foi cautelosamente administrada, de modo a
A coesão de alguns grupos foi, portanto, uma exceção, como não se mostrar muito rígida e clara. Foi criada uma complexa
no caso das testemunhas de Jeová ou dos republicanos espa- escala hierárquica, baseada nas diferentes tarefas confiadas a
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de transferir os judeus para O central para a segurança nacio- por seus superiores no com-
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182 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
O EXTERMÍNIO: por aqueles que conseguiram dezembro de 1942, os Aliados A Igreja não regateou ajuda
QUEM SABIA? escapar ou por outras mil condenaram a política do ex- aos perseguidos, mas faltou
modalidades de vazamento de termínio dos judeus e prome- uma explícita condenação
O silêncio de todos aqueles notícias, como o testemunho teram sanções por esses cri- dos crimes. Os dirigentes da
que tinham conhecimento das dos próprios alemães, eram, mes, mas então a derrota da Cruz Vermelha Internacional
chacinas e que não reagiram no entanto, suficientes para Alemanha e o fim da guerra também foram informados,
constituiu uma das condições dar uma ideia do destino que eram prioritários em relação ainda que sua capacidade de
que tornaram possível o pro- recaía sobre os judeus. À gra- a qualquer outra considera- intervenção fosse limitada e a
longado funcionamento da in- vidade do que acontecia no ção, embora se tratasse da vi- deportação dos judeus punha
dústria nazista do extermínio. coração da Europa foi conhe- da de milhões de seres huma- a instituição diante de tarefas
O automatismo da máquina cida bastante cedo: emissários nos. O Vaticano também es- que excediam seu tradicional
da destruição e a normaliza- do governo polonês no exílio tava informado: por meio dos campo de ação.
ção burocrática do pessoal divulgaram notícias sobre os canais eclesiásticos chegavam,
que constituiu seu núcleo campos de extermínio des- com efeito, notícias de todos
operacional foram elementos de o inverno de 1942. Num os países.A tradição antisse-
fundamentais, mas também a opúsculo da propaganda ingle- mita de amplo setor da Igreja
tradição do antissemitismo, sa, difundido provavelmente Católica esteve certamente
particularmente na Alemanha, no início de 1943, lia-se: “A na origem de reticências, in- À SALA DO TRIBUNAL
favoreceu a queda de qualquer Polônia tornou-se, graças aos sensibilidade e cumplicidade. DE NUREMBERG
inibição e a indiferença de alemães, o açougue em que
muitos diante do extermínio. se recolhem e se massacram
Embora cercada pelo segredo os judeus, não somente
e por cautelas infinitas, a des- poloneses, mas de toda a
truição dos judeus era um fato Europa. Os governos alia-
demasiado complexo e exten- dos e colaboracionistas
so para que não transpareces- eram informados do « Nai Er |
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Os principaiscampos de extermínio
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CADÁVERES DE RECLUSOS
NUM LAGER, ABANDONADOS
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186 E HISTORIA ILUSTRADA DO NAZISMO
FOTO RECORDAÇÃO DE
SOLDADOS NORTE-AMERICANOS
NO ESTÁDIO DE NUREMBERG
O Roberto Capa/Magnum Photos
(p. 184);
Os viTORIOSOS NA
CONFERÊNCIA DE POTSDAM
(embaixo).
e sociais para a administração das zonas de ocupação conti- tudo na zona de ocupação soviética, permaneceu em boa
nha em si as premissas da divisão que se tornou perspectiva parte incólume.
concreta quanto mais o país se transformou num terreno de A fome constituiu o problema mais grave: no decorrer do
choque entre os dois blocos. inverno de 1946-47, insolitamente longo e frio, as colheitas
A. mais evidente contradição que emergiu em Potsdam foram arruinadas pelas geadas, ficaram esgotados os estoques
estava relacionada às reparações: foi estabelecido que, apesar e começaram a faltar fontes de energia. Em 1936, o consumo
da divisão da Alemanha em zonas, a gestão deveria ser a de médio dos alemães era de 3 mil calorias por dia; dez anos depois
um Estado único; cada potência deveria obter, contudo, as tinha caído para pouco mais de 1.000. O mercado negro se
reparações de guerra da própria zona de ocupação, com um tornou uma realidade difundida, contra a qual as medidas
acréscimo em favor da União Soviética, que havia sofrido no dos Aliados nada puderam fazer. A situação foi agravada
decorrer do conflito os danos materiais mais ingentes. pelo maciço afluxo de prófugos da Europa do leste, impelidos
tanto pelo avanço das tropas soviéticas quanto pela política
A ALEMANHA NO PÓS-GUERRA de expulsão dos alemães, por parte dos governos polonês e
Os maciços bombardeios aéreos aliados tinham destruído tchecoslovaco. Em cada uma das zonas de ocupação inglesa,
especialmente os centros urbanos, e cerca de 7 milhões de americana e soviética, a população aumentou em cerca de 3
pessoas tinham ficado sem teto. O sistema de transportes foi milhões, com os consequentes problemas de abastecimento,
duramente atingido, enquanto o aparato industrial, sobre- alojamento e trabalho. Difundiram-se a criminalidade e as
UM PAÍS DIVIDIDO E |87
ÂNGULO DO BANCO
DOS RÉUS NA SALA
DO TRIBUNAL DE INUREMBERG
(embaixo).
NUREMBERG execução dos culpados. As guerra. Franceses e soviéti- insistência americana sobre
posições dos Aliados em re- cos que, ao contrário, tinham a guerra de agressão — en-
No decorrer do processo lação aos nazistas derrotados sofrido mais diretamente em quanto a grande indústria não
que se desenvolveu em Nu- foram consequência do modo seu próprio território os efei- era representada. Os Aliados
remberg, de outubro de 1945 diverso pelo qual os respec- tos do conflito, pediram que atribuíram ao processo de
a outubro de 1946, pela pri- tivos países tinham sofrido fossem destacados os crimes Nuremberg um grande signi-
meira vez na história os mais os danos da guerra. Uma vez de guerra. Em Potsdam foi ficado ético-político, mas a |
altos dignitários de um Estado estabelecida a realização de estabelecido que as peças de maioria da opinião pública
foram levados perante um um processo, os problemas acusação deveriam ser: crimes alemã considerou-o uma
tribunal e julgados. Durante surgiram no tocante à indi- contra a paz e complô, crimes vingança dos
viduação dos réus e de seus de guerra e crimes contra a vitoriosos.
a guerra muitas vezes tinha
delitos. Os anglo-americanos humanidade. A presença dos
sido reafirmada a necessidade
privilegiaram os crimes con- réus foi ligada alea-
de punir os crimes nazistas,
tra a paz e, portanto, todas toriamente à sua
mas em 1944 americanos e captura: havia qua-
as organizações nazistas que
| ingleses refutaram a ideia de
esso, declarando-se,
tinham concorrido paraà a tro membros do
- nduc ãoO da exército — pela
to, favoráveis a uma
E contrário preparação e a co CU RS
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188 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
CHECKPOINT CHARLIE
Soldados norte-americanos obser-
vam com binóculos a área do local
de guarda que presidia a passagem
entre os dois setores de Berlim
O René Burri/Magnum Photos.
BRINCADEIRAS DE CRIANÇAS
À imagem espectral de uma praça
de Friburgo no final de 1945
O Werner Bischof/Magnum Photos
unificação das zonas ocidentais e, no dia 1º de janeiro de com o objetivo de forçar os Aliados a abandonar a cidade.
1941, nasceu a “Bizona”, economicamente unificada, que Estes responderam com a criação da maior ponte aérea da
uniu a zona americana e a britânica; no dia 8 de abril, foi a história: em pouco menos de um ano, aviões americanos
vez também da francesa e nasceu a “Trizona”. O programa efetuaram mais de 200 mil voos, transportando cerca de 2
de ajuda baseado em créditos, fornecimento de gêneros ali- milhões de toneladas de mercadorias. A guerra fria tinha
mentícios e de matérias-primas, promovido pelo ministro praticamente iniciado e Berlim se tornou o símbolo da luta
do Exterior norte-americano George Marshall, teve uma entre os dois blocos.
função bastante importante inclusive para a reconstrução
das zonas alemãs ocidentais, enquanto a URSS recusou-se a AS DUAS ALEMANHAS
aderir a esse programa, considerado premissa para um con- O bloqueio de Berlim levou os Aliados a acelerar os
trole político total da parte americana. À reforma monetária projetos de unificação política da “Trizona”, atribuindo
introduzida na “Trizona” em junho de 1948 (lançamento do a um governo alemão os poderes civis e criando assim a
deutsche mark) para poder usufruir da ajuda do plano Mar- república federal. Em setembro de 1949, as eleições foram
shall, a zona oriental respondeu com sua própria reforma vencidas pelos conservadores e Konrad Adenauer foi
monetária que deveria se estender a toda Berlim. No dia nomeado chanceler. Prefeito de Colônia durante a repú-
18 de junho de 1949, a tensão se transformou em choque blica de Weimar, depois da tomada do poder pelos nazistas,
aberto: a URSS bloqueou todas as vias de acesso a Berlim, tinha sido afastado de seu cargo; não se havia, portanto,
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190 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
TORRE DE CONTROLE AO
LONGO DO MURO DE BERLIM
Para deter o fluxo de alemães
do leste para a república federal,
autoridades militares fecharam as
passagens ainda abertas entre os
dois setores de Berlim. Depois
seguiu-se a construção da muralha
de blocos de cimento que um
comunicado do governo da RDA
definiu como o “muro da defesa
antifascista.
TURISTAS NA DIVISA DA
ZONA FRANCESA DA CIDADE
(embaixo).
comprometido com o regime. O governo formado por ele soviéticas e sua economia foi por anos atormentada pelos
estava ainda sob a tutela dos Aliados, que se reservaram não pagamentos das reparações.
somente o controle sobre a região de Ruhr, mas também No plano político, as autoridades de Moscou mantiveram
sobre a política e o comércio exteriores, além de todas as sob um rígido controle a situação, e as posições-chave da
questões militares. administração, deixadas aos alemães, foram assumidas por
Os soviéticos mantiveram sua sólida influência sobre expoentes comunistas. Os partidos foram unificados num
a parte oriental e nacionalizaram os bancos e a indústria “bloco antifascista” ao qual se seguiu, em 1946, a fusão dos
pesada. As grandes propriedades de terras foram confisca- partidos comunista e social-democrata que formaram o SED
das sem indenização. Algumas indústrias foram transferi- (Partido Socialista Unificado Alemão) e que assumiu
das para a URSS por conta das reparações; outras foram a condução do país num processo de rápida e pn
sil
geridas diretamente pelos soviéticos e levadas a trabalhar progressiva marginalização das outras a
sempre para o próprio país; outras, finalmente, constituíram forças políticas e, no interior
a base da refundação econômica da Alemanha oriental. do qual, os próprios social-
Em outubro de 1949, um mês após a fundação da república “democratas perderam sempre
federal, nasceu a república democrática. Mantida sob estrito mais prestígio.
controle militar por um exército de ocupação soviética, a
Alemanha oriental se desenvolveu seguindo as diretivas
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UM PAÍS DIVIDIDO E |9|
KONRAD ADENAUER
Artifice da reconstrução alemã,
no curso de seu longo período
como chanceler, Adenauer esteve
também entre os protagonistas da
unidade europeia,
A REPÚBLICA FEDERAL ALEMÃ refutado toda reflexão sobre o passado e conferido uma marca
Adenauer permaneceu no poder até 1963: seu governo, que profundamente conservadora à sua política interna.
contava com ampla maioria parlamentar do Partido Demo- No início dos anos 1960, terminou a fase mais aguda da
crata-Cristão (CDU), se caracterizou por uma estreita aliança guerra fria; nas eleições de 1961, o CDU perdeu a maioria
com os Estados Unidos e por uma moderação político-social absoluta, e Adenauer, representante de uma época que che-
em profunda sintonia com os interesses do grande capital. O gava ao fim, deixou a chancelaria em 1963. O desenvolvi-
crescimento econômico da Alemanha federal nesses anos foi mento econômico dos anos precedentes começou a diminuir,
espetacular: ritmos intensos de trabalho, considerável ajuda os fermentos de oposição se acentuaram e, a partir de 1964,
norte-americana, reparações pouco onerosas fizeram com que registrou-se um constante aumento dos preços. À insatis-
a retomada fosse muito rápida (entre 1950 e 1963, o índice fação pela falta de renovação política cresceu particular-
da produção industrial saltou de 100 para 293). A estabili- mente no universo juvenil, e 1968 viu surgir, aqui como em
dade interna nesse período foi consequência do “milagre outros países europeus, um forte movimento estudantil. O
econômico”, mas esse boom tornou sempre mais pesado, para peso do Partido Social-Democrata (SPD) tinha entrementes
amplas camadas da população, o acentuado autoritarismo de crescido e, em 1969, Willy Brandt foi eleito chanceler. Sua
Adenauer. Ele, se havia conduzido a Alemanha federal a um política se caracterizou pela busca de melhores relações com
papel de prestígio no contexto europeu e se havia feito dela o a Alemanha do leste (Ostpolitik) e com o propósito de “ousar
principal baluarte contra o mundo comunista, tinha também mais democracia”.
Sa co E DE JOELHOS DIANTE DO
Po Be ?
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MONUMENTO ÀS VÍTIMAS
| DO EXTERMÍNIO NAZISTA
A tragédia da Shoah constituiu um
dos problemas mais espinhosos
nas relações entre a Polônia e a
Alemanha. Na foto, Willy Brandt
que, com um gesto de enorme
alcance político e moral, em 1970
prestou homenagem às vítimas do
gueto de Varsóvia.
192 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
ERiCH HoNECKER
Sucedendo a Valter Ulbricht no
vértice do SED em [971], deu ini-
cio a uma política de abertura em
relação a Bonn. Sob sua liderança,
a RDA confirmou sua posição de
país mais industrializado do “bloco
socialista”.
REPENSAR O também a história de uma de reconquistar uma credibili- assinalar a nítida ruptura com
NAZISMO lembrança dividida do passa- dade internacional, os dois es- o passado nazista. Afirmou-se
do nazista e da oposição ao tados se tornaram concorren- que somente o partido comu-
As duas Alemanhas tiveram regime hitlerista. Durante a tes até no reelaborar o passa- nista tinha levado adiante uma
de enfrentar problemas aná- guerra fria, ambos os estados do. Na República democrática, coerente luta contra o regime
logos depois do fim da guerra: procuraram apresentar-se co- o processo de desnazificação e, portanto, agora era o úni-
a necessidade de superar as mo a única Alemanha legítima foi mais radical que no oeste, co legitimado para governar
consequências materiais e depois de Hitler: a República mas o antifascismo foi impos- o país, sem indagar as reais
morais do conflito e da der- democrática, porque tinha to do alto e se transformou relações de força, as conivên-
rota, de julgar os responsáveis apagado as raízes econômicas em propaganda de estado. cias e os silêncios da maior
pelo regime nazista, de dar do nazismo; a República fede- Considerou-se ainda válida a parte da população, sem
respostas às expectativas das ral, como alternativa antito- definição dada pelo Komin- refletir sobre a continuidade
vítimas e da comunidade in- talitária. Houve, portanto, um tern, em 1935, do fascismo de longo período e sobre a
ternacional e de integrar mui- duplo limite na elaboração da como forma extrema do necessidade de que a reno-
tos ex-nazistas na sociedade própria história: em relação capitalismo, e tê-lo desman- vação ocorresse
em outros
do pós-guerra. As vicissitudes ao nazismo e em relação à telado foi considerado passo níveis. Na República federal,o
da divisão da Alemanha são outra Alemanha. Na tentativa necessário e suficiente para antifascismo foi repelido por-
UM PAÍS DIVIDIDO E 193
TRABANT
Dotado de um motor de dois
cilindros em dois tempos, orgulho
da indústria automobilística alemã-
-oriental, permitiu a muitos cida-
dãos da RDA aceder aos benefícios
da motorização em massa.
guerra fria. As causas da queda do Muro foram ligadas às ria velozmente a todo o país. Iniciaram-se diversos pactos
complexas mudanças que se verificaram em todo o bloco entre os Estados Unidos e a União Soviética e, no dia 3
comunista, a começar pela União Soviética, no decorrer de outubro de 1989, o presidente da República federal
dos anos 1980, graças especialmente à política de reformas Richard von Weizsãcker anunciou a unificação. Embora
promovida pelo líder do Kremlin Mikhail Gorbatchov. Na não houvesse provavelmente alternativas para esse curso,
Alemanha oriental, a partir do início de 1989, aumentou o ele ocorreu depressa demais, porquanto se tratou de
dissenso popular; muitos cidadãos não voltaram das férias uma “anexação” da parte oriental à ocidental, sem que
e pediram asilo nas embaixadas da Alemanha ocidental de se mantivesse qualquer vestígio da experiência da RDA.
Praga e Budapeste; as passagens através do Muro favore- Mas décadas de vida em sistemas políticos diferentes não
| ceram um fluxo contínuo de pessoas. Foram constituídos foram anuladas num dia e logo emergiram as dificuldades e
| grupos de oposição, como “Neues Forum”, favoráveis à os ressentimentos recíprocos. Os suces-
| extensão das reformas soviéticas também na Alemanha sos eleitorais dos partidos de extrema
| oriental. direita na ex-Alemanha oriental, no
Depois da derrubada do Muro, a perspectiva da início dos anos 1990, eo crescimento
unificação entre os dois Estados se tornou sempre exponencial de atos de racismo e
| mais concreta. Os alemães orientais se iludiram xenofobia foram expressão de um
À
| ao pensar que o modelo ocidental se estende- profundo mal-estar.
que era visto como ideologia mal totalitário, e seguintes à guerra foram
soviética, e substituído em sua o novo Estado dominadas por um senso de
legitimidade histórica com à alemão, aliado do inocência coletiva. O silêncio
adesão a um ostensivo antico- Ocidente, encon- foi rompido no decorrer dos
trava agora sua legi- anos 1970:0 processo Eich-
munismo capilar e difundido.
timidade e saldava sua mann, em 1961,e os novos
O passado estava presente de
conta com o nazismo, agentes no mundo dos jovens
modo particular nas nume-
combatendo a ameaça puseram os alemães diante
rosas iniciativas para acelerar
comunista. A guerra fria daquele passado que tinham
o processo de desnazificação
era reabilitava implicitamente procurado remover.
iniciado pelos Aliados. A
pe- o passado nazista. Os
Adenauer se caracterizou ex-nazistas tornavam-
uec ime nto ; à teo ria do
| lo esq
idamente se alemães que tinham CABEÇAS RASPADAS
É* totalitarismo foi rap cumprido seu dever Os “naziskin” alemães tornaram-se
a d a a i d e o l o g i a de Estado:
- * elev como soldados ou
protagonistas de atos de xenofobia
e c o m u n i s m o foram e de racismo em detrimento das
É * nazism o
funcionários do Esta- comunidades de estrangeiros resi-
n s i d e r a d o s e n c a r nação,
*: co do. As duas décadas dentes na Alemanha.
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UMA IMAGEM-SÍMBOLO DO SÉCULO XX No dia 9 de novembro de 1989, depois que o governo da RDA tinha concedido a liberdade I
expatriar seus próprios cidadãos, os berlinenses dos dois setores da cidade se uniram num clima de festa popular que constituiu o primeiro passo fl
a reunificação das duas Alemanhas. Essa data marcou o vértice do terremoto político que naquele ano havia subvertido as bases da Europa oriental
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OS LOCAIS DA MEMÓRIA metade dos anos 1980, co- geral, seja sobre os conteúdos h
meçou-se a preservação dos da memória a transmitir (isto
A RDA dedicou notável foi reservada uma posição antigos campos de concen- é, modernização à luz da pes- |
atenção à readaptação e ao privilegiada, se não até mesmo tração (muitas vezes graças quisa histórica mais avançada),
cuidado dos campos de con- exclusiva, aos mártires dos a longos trabalhos de recu- seja sobre as técnicas da
centração: nos primeiros anos comunistas e do antifascis- peração de uma parte deles), comunicação hoje adotadas.
da década de 1950, o Estado mo alemão, colocando em não somente como museus, Além das muitas expressões
se encarregou de todas as segundo plano tanto mas como centros de possíveis para evocar a me-
despesas de restauração, o componente in- pesquisa. Um impulso mória de locais, de fatos, de
impedindo que as próprias ternacional das Fm ==" muito grande para pessoas — dos monumentos
estruturas ruíssem, mesmo vítimas como a | a discussão sobre as lápides à simples topo-
que isso tenha sido feito com perseguição dos o a, A
as modalidades da nomástica — desenvolveu-se
recentemente uma verdadeira
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um preciso projeto político. judeus. Na Ale- rh of = DE
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memória seguiu-se
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A memória dos Lager foi, manha federal, depois da reunifi-
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estratégia de exposições e de |
com efeito, administrada de ao contrário, os cação que, além dos mostras históricas. A exigên- |
maneira unilateral, com o locais da memória problemas mais gerais cia para preservar essa me-
objetivo de legitimar — por se tornaram patrimônio derivados da relação do mória é aguçada pela crescen-
meio da afirmação da conti- do Estado e sua preservação novo estado nacional com o te consciência da ruptura em |
nuidade do antifascismo — a e manutenção foram ligadas passado da Alemanha, pôs em ato entre gerações, pela rup-
dominação do partido comu- à iniciativa de privados, co- termos imediatos a aquisição tura dos canais tradicionais de
nista como partido único. Na mitês de vítimas etc., como pela Alemanha unificada dos transmissão, pela morte das |
apresentação dos Lager, nas demonstra, em particular, o campos de concentração testemunhas e, com elas, da |
manifestações ligadas às datas ocorrido com o campo de administrados pela RDA. Isso continuidade das memórias |
comemorativas nos museus, Dachau. Somente a partir da deu lugar a uma reflexão mais familiares.
RAN TENS NETO
sa tea da Ao
1918 representativo, com 37,4% dos sufrágios. I7 de junho Baldur von Schirach é
9 de novembro Abdicação do K alser: nomeado líder da juventude alemã.
nasce a República de Weimar. 1933 I4 de julho A lei contra a reconstrução
30 de janeiro Hitler é nomeado dos partidos legaliza o monopólio político
1919 chanceler por Hindenburg. do NSDAPR. Lei para a prevenção das
5 de janeiro Fundação do Deutsche 4 de fevereiro Decreto “para a defesa doenças hereditárias.
Arbeiterpartei. do povo alemão” que autoriza medidas 20 de julho Concordata com o Vaticano.
limitativas da liberdade de imprensa. setembro “Congresso da vitória” em
me EPT 27 de fevereiro Incêndio do Reichstag. Nuremberg.
24 de fevereiro O Deutsche 28 de fevereiro Decreto “para a defesa 22 de setembro Lei constitutiva da
Arbeiterpartei se transforma no NSDAP do povo e do Estado” que procede à abolição câmara da cultura.
e é redigido o programa dos 25 pontos. dos direitos fundamentais, autoriza prisões 29 de setembro Lei sobre a transmissão
preventivas e bane o partido comunista. hereditária dos fundos campestres.
1923 > de março Eleições para o Reichstag 14 de outubro Retirada da Alemanha
janeiro Ocupação das tropas francesas na em que o NSDAP obtém 43,9% dos votos. da Sociedade das Nações.
região do Ruhr. 13 de março Goebbels nomeado I2 de novembro Eleições em lista
8-9 de novembro Puisch de Hitler em ministro da Propaganda. única para o Reichstag: o NSDAP obtém
Munique. 22 de março Abertura do campo de 92,2% dos votos.
concentração de Dachau. |º de dezembro Lei sobre a unidade
1924. amo | | 23 de março Aprovada a lei que dá entre Estado e partido.
abril Condenação Ee ER a 5 anos de plenos poderes ao governo.
Iº de abril Boicote contra as lojas dos TASSO g
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prisão.
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20 de abril Heinrich Himmler é
fevereiro Reconstituição do NSDAR. politicamente não confiáveis e os judeus. nomeado chefe da Gestapo.
abril Paul von Hindenburg é eleito II de abril Hermann Góring nomeado 30 de junho “Noite das facas longas”.
presidente da República. vice-lugar-tenente do Reich e presidente do 3 de julho Hjalmar Schacht é nomeado
governo prussiano. ministro da Economia.
21 de abril Rudolf Hess nomeado 1º de agosto Unificados por decreto os
Raia o» primeiro substituto do Fiihrer. cargos de presidente e chanceler do Reich.
janeiro O NSDAP
2 de maio Supressos os sindicatos. 2 de agosto Paul von Hindenburg
governo regional na Turíngia.
IO de maio Queima dos livros. Fundada morre e Hitler torna-se “Fiúhrere chanceler”.
a Frente Alemã do Trabalho. setembro “Congresso do triunfo da
Nas Eleições nara O I9 de maio A “lei sobre os fiduciários do vontade” em Nuremberg. Schacht elabora o
31 de julho
g, o N S D A P to rn a- se O pa rt id o mais trabalho” suprime a autonomia contratual, “novo plano”,
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1935 23 de outubro Proclamação do Eixo
I3 de janeiro Referendo da região de Roma-Berlim. 15 de março Ocupação da
Saar. 25 de novembro Estipulação do pacto Tchecoslováquiae instituição do
26 de fevereiro Lei constitutiva antikomintern com o Japão. protetorado da Boêmiae Morávia.
da carteira de trabalho para controle da 1º de dezembro A Hiilerjugend torna-se
23 de março Os nazistas invadem a
mão-de-obra. Juventude de Estado.
região de Memel.
I6 de março Reintroduzido o
22 de maio Assinatura do Pacto de aço
recrutamento obrigatório. — Ed
mi
mi
política hitlerista: 99% dos votos Reich. Países Baixos, a Bélgica e a França.
favoráveis. abril Início da arianização das empresas 14 de junho Chegada dos alemães em
17 de junho Himmler é nomeado de propriedade judaica. Paris.
E
“Reichsfihrer das SS” e chefe da polícia 29 e 30 de setembro Conferência
O
22 de junho A França assina o
O
alemã no Ministério do Interior. de Munique: cessão dos Sudetos à armistício com a Alemanha.
AE dg
julho Intervenção militar alemã na guerra Alemanha. IO de julho Início da batalha da Inglaterra.
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civil espanhola.
E
Iº de outubro Tropas alemãs invadem
27 de setembro Alemanha, Japão e
mo
agosto (Criação do campo de a Tchecoslováquia.
e,
concentração de Sachsenhausen. Itália assinam o pacto tripartite.
9 de novembro “Noite dos cristais”
A
Realização das Olimpíadas em Berlim. pogrom contra os judeus. outubro Instituídos numerosos guetos
setembro “Congresso da honra” em 8 de dezembro Decreto de Himmler judaicos na Europa do leste.
Nuremberg e anúncio do lançamento do sobre o recenseamento e os procedimentos 18 de dezembro Diretiva n. 21 de
plano quadrienal. de identificação dos ciganos. Hitler: preparação do ataque à União Soviética.
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14 a 24 de janeiro Conferência
de judeus. cidade alemã a ser ocupada pelas tropas
aliada de Casablanca.
I4 de outubro Deportação dos judeus norte-americanas.
2 de fevereiro Capitulação alemã em
alemães para os guetos da Europa oriental. |Iº de novembro Himmler ordena
Stalingrado.
6 de dezembro Início da contra- a suspensão do extermínio dos judeus em
I8 de fevereiro Goebbels proclama a
Auschwitz-Birkenau.
ofensiva do Exército Vermelho. “ouerra total”.
7 de dezembro Ataque japonês a I3 de maio Capitulação do Eixo no
Pearl Harbor. norte da África.
| I de dezembro A Alemanha declara 26 de junho Speer assume o pleno 14 de janeiro O Exército Vermelho
guerra aos Estados Unidos. controle sobre toda a produção bélica. invade a Prússia oriental.
8 de setembro A Itália torna 27 de janeiro As tropas soviéticas
conhecida a rendição aos Aliados. libertam Auschwitz-Birkenau.
% 20 de janeiro Conferência de Wannsee: 9 de setembro (Os alemães ocupam 19 de março Proclamada a “Ordem de
q coordenação das medidas voltadas à “solução Roma e grande parte da Itália. Nero”.
. final do problema judaico”. I2 de setembro (Os alemães libertam 30 de abril Suicídio de Hitler.
Mussolini. 7 de maio Alfred Jodl assina em Reims
| 8 de fevereiro Albert Speer é nomeado
s. 13 de outubro A Itália declara guerra a rendição incondicional da Alemanha aos
ministro para os armamentos e as mun içõe
à Alemanha. Aliados.
21 de março Fritz Sauckel é nomeado
28 de novembro a Iº de 17 de julho a 2 de agosto
responsável geral para a utilização da
dezembro Conferência aliada em Teerã. Conferência aliada de Potsdam.
mão-de-obra.
Indice dos nomes
A Furtwângler, Wilhelm 85
Adenauer, Konrad 189, 191, 193
L Rivera, Diego 90
Alfieri, Dino 126
Lammer, Hans Heinrich 103, 152 Rôóhm, Ernst 48, 50, 90, 93,95
6 Lang, Fritz 32, 102
Amann, Max 63 Rommel, Erwin 143, 144
Garanin, Anatoly 149 Legien, Carl 37
Antonescu, lon 135 Roosevelt, Franklin Delano 158, 162,
Gauguin, Paul 66 Ley, Robert 79 164
Joebbels, Joseph 43, 48, 54, 55, 58, Liebknecht, Karl 16
B Rosenberg, Alfred 18, 118
64, 65, 70, 71, 79, 106, 108, 148, 150, Lindbergh, Charles 77
Baden, Max von 14, 15 152, 164 Litvinov, M. Maksimovié 24 S
Bayer (indústria) 79 Gorbatchov, Michail 193
Benjamin, Walter 37
Losch, Maria Magdalena von 99 Salomon, Ernst von 15
Góring, Hermann 40, 48, 49, 82. 83, Lubitsch, Emest 101, 102
Bischof, Wemer 158, 188 Sauckel, Fritz 69, 153
84,85, 89, 93,94, 126, 127, 141, 152, Ludendorff, Erich 14, 49, 103 Schacht, Hjalmar 74, 75, 76,82
Blomberg, Werner von 39, 125 155, 157 Luther, Hans 23 Schirach, Baldur von 59, 92
Bormann, Martin 152 Gropius, Walter 29 Luxemburgo, Rosa 16 Schlemmer, Oskar 29
Brandt, Willy 191 Grosz, George 14, 19
Brecht, Bertolt 65, 101 Scholl, Hans 163
Guderian, Heinz 144 M Scholtz-Klink, Gertrud 62
Briand, Aristide 28, 29 Guglielmo II, (imperador) 14
Brúning, Heinrich 36, 49
Mann, Heinrich 43, 98, 101, 102 Schônberg, Arnold 66
Mann, Thomas 55, 65, 101, 102 Schumacher, Fritz 37
Burri, René 188 H Mardocheo, 42 Schuschnigg, Kurt von 127
Heartfield, John 32, 116 Marshall, George 189 Schiútte-Likowsky, Grete 37
C Heckel, Erich 66 Martin, Wagner 37 Seghers, Anna 65
Capa, Robert 151, 156, 160, 161, 164 Henlein, Konrad 130 Marx, Karl 42, 43 Seldte, Franz 39
165, 186 Hess, Rudolf 18, 52 Matsuoka, Josuke 126 Seymour, David 160, 179
Cartier-Bresson, Henri 160 Heydrich, Reinhard 89, 90, 91,94, 170 May, Ernst 37 Seyss-Inquart, Arthur 127
Chamberlain, Neville 130, 132 Hilberseimer, Ludwig 37 Mercedes-Benz, (indústria) 75 Shahmn, Ben 110
Churchill, Winston 158, 162, 164 Himmler, Heinrich 48, 77,89,90,91, Messerschmitt, Willy 74 Siemens, (indústria) 37, 74
Ciano, Galeazzo 128, 132 94, 100, 112, 116, 152, 169, 177, 178 Moholy-Nagy, Lazló 31 Speer, Albert 54, 66, 67, 69, 79, 131,
Cramm, Gottfried von 71 Hindenburg, Paul von 14, 18, 21, 24, Moltke, Helmuth James Graf von 97 152, 155
36, 39,40, 44, 48, 49,50, 52,103 Montgomery, Bernard 143 Stalin, losif Vissarionovié 162, 165
D Hitler, Adolf 18, 26, 27,36, 39,40, Murnau, Friedrich W. 32, 101 Stauffenberg, Claus von 167
Daladier, Edouard 132 41,42, 46, 48,49,50,51,52,54,55, Mussolini, Benito 25, 103, 122, 123, Strasser, Gregor 48, 55, 90
Darré, Walter 77 58,59, 61, 64,66, 68, 69, 74, 75, 76, 128, 129, 132, 134, 135, 160, 163 Streicher, Julius, 108, 113
Dawes, Charles 24 17,19,682,83,84,90, 92,93, 94,97, Stresemann, Gustav 24, 28, 29, 49
Dietrich, Marlene 99 100, 103, 115, 116, 118, 121, 122, N Stúhler, (Sra.) 158
Dix, Otto 15 123, 124, 125, 126, 127, 129. 130, Neurath, Konstantin von 128, 129
Doóblin, Alfred 37 132, 133, 135, 138, 139, 140, 141, T
Dollfuss, Engelbert 123, 127 143, 144, 146, 150, 152, 153, 163, O Taut, Bruno 37
Dônitz, Karl 167 165, 167, 169, 170 Ophiils, Max 32 Todt, Fritz 69,79, 154, 155
Doriot, Jacques 156 Hoffman, Heinrich 46 Ossietzky, Carl von 44 Toller, Emst 17
Honecker, Erich 192 Tucholsky, Kurt 44
E Hugenberg, Alfred 34, 39 Pp
Ebert, Friedrich 15 Pacelli, Eugenio (papa Pio XII) 47 V
Eichmann, Adolf 181, 188, 195 I Papen, Franz von 39, 41,82, 125 Van der Lubbe, Martin 40
Eicke, Theodor 100 Ilchenko 149 Paulus, Friedrich von 84 Van Gogh, Vincent 66
Einstein, Albert 98, 110 [tten, Johannes 29 Pétain, Henri-Philippe 140
Eisenhower, Dwight 160 Picasso, Pablo 66 W
Eisner, Kurt 15, 17 K Piscator, Erwin 29 Warburg, Aby 79
Kandinsky, Wassily 29, 66 Pohl, Oswald 69 Weber, Max 107
Kapp, Wolfang 15 Porsche, Ferdinand 87 Weizsicker, Richard von 193
F
Keitel, Wilhelm von 125, 127, 152, Preuss, Hugo 19 Wels, Otto 41
Farben, (indústria) 1717
167 Wertheim, (empório) 37
Feder, Gottfried 74
Kirchner, Emst Ludwig 66 R Wessel, Horst 55
Federico II, (imperador) 52 Klee, Paul 66 Rath, Ernst von 116 Willrich, Wolfang 106
Franco, Francisco 124 Klement, Ricardo 181 Rathenau, Walter 15, 22, 24 Wilson, Woodrow 17
Frank, Anne 175 Klemperer, Otto 102 Reader, Erich 141 Wissel, Adolf 119
Frank, Hans E ; e Klemperer, Viktor 158 Remarque, Erich Maria 44, 55
Freud, Sigmun Knirr, Heinrich 103 Ribbentrop, Joachim von 126, 127 Z
E Frick, Wilhelm 40,91,94 Koller, Peter 87 Riefensthal, Leni 64, 65 Zukov, Georgij 167
= Fritsch, Wemer 125, 127 Krupp, Gustav 74, 75, 153, 187 Ritter, Robert 112 Zweig, Stephan 65
Funk, Walter 157
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Tr pe
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Mais de 200 imagens dos arquivos fotográficos
Roger-Viollet e Magnum/Contrasto
Notas
| Sigla em alemão para Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei — Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores, mais conhecido como Partido
Nazista. (N. do E.)
2 Emalemão, Defesa do Império ou Defesa da Nação; era o conjunto das forças armadas alemãs entre as duas guerras mundiais, de 1919 a 1935, quando foi criada a
Wehrmacht. (N. do E.)
3 Palavra alemã para designar golpe ou tentativa de golpe de Estado. (N. do E.)
4 “Força de defesa”, em alemão, foi o nome do conjunto das forças armadas do Terceiro Reich, de 1935 a 1945. (N. do E.)
Referências fotográficas
O Roger-Viollet/Contrasto 13, 14a/b, 15a,16as/ad/b, 17c/b, 18a, 19b, 20, 21, 22as/b, 23, 24a, 25b, 28a/b, 29as, 32a/b, 33, 34, 35, 36as/b, 38, 39, 40b, 4la, 43b, |
44b, 45b, 48bd, 49b, 50b, 51b, 52as, 53, 54, 55a/bd, 56, 57, 58a, 59a/b, 60b, 6la/b, 62a/bs/bd, 68b, 69a/e/b, 710a/b, 71bs, 74a/bs, 5a, Ta; 79b, 80as/b, 82a/b,83b, |
84a, 85b, 86b, 87b, 90b, 91as/ad/b, 94a, 95b, 98as/AC/b, 99, 101a/b, 102as/ad/bs, 103a, 108ad/b, 111b, 113b, 118a/b, 121, 122b, 123a/bs/bd, 124a/bs/bd,125a/b, -
126a/b, 127a, 128a/b, 129, 131, 133as/b, 134b, 135, 136, 137, 139a/b, 140, 141, 142, 143b, 144a, 145b, 146a/b, 147a/bd, 150b; 152b, 153e/bs, 154b,155a/b, *
156bs/bd, 157bs/bd, 158a/b, 159a, 162a/b, 163b, 166, 170b, 171a,180a, 181b, 183a, 186a, 187a/b, 191a. )
O Magnum/Contrasto 41bs, 44a, 45a, 49a, 52b, 58b, 92b, 115b, 127b, 130a/b, 132b, 138a, 143a; 144b, 146a, 148bd, 149, 1504; 151, 152a, 154a, 156a, 158b, â
160a, 161, 164b, 165, 167a/b, 168, 169, 171b, 172b, 173a/bs/bd, 175b, 176ad/b, 177b, 178, 179, 180b, 181a, 183b;, 184,185, 186b, 188a/b,"189b, 190a; 192, ã
193a/b, 194.
O Corbis/Contrasto 80
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à
nejéis a (no alto), ac (no alto, ao centro), ad (no alto, à direita), as (alto a sinistra = no alto, à esquerda), b (basso = embaixo), bd (basso a destra = embaixo;
1a
direita), bs (basso a sinistra = embaixo, à esquerda), c (centro da página)
As consequências da derrota da Alemanha guilhermina na
Grande Guerra, os devastadores efeitos da hiperinflação e a
consequente crise econômica, a desagregação dos tradicionais
segmentos da sociedade e do frágil sistema político da República
de Weimar, o desgaste dos equilíbrios decorrentes da Paz de
Versalhes entre os anos 1920 e 1930: estes são os elementos
nos quais se deve situar a ascensão do Partido Nacional-Socia-
lista e a chegada de Hitler ao poder, em janeiro de 1933.
À partir daí, teve início a construção do novo Estado nazista, com
o sistemático uso do terror e o enquadramento das massas sob a
égide de uma disciplina coletiva baseada na discriminação racial.
Em política externa, o Estado totalitário lança o projeto da
“nova ordem europeia” sob a égide da Alemanha nazista.A su-
premacia do Grande Reich e o desígnio de dominação continen-
tal, por meio da aliança com os regimes fascistas, culminaram na
subversão do sistema das relações internacionais e na eclosão
de um conflito que, em poucos anos, se estendeu da Europa para
todos os cantos do mundo.
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9'788576 5 4 9 fá !