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NAZISMO

LAROUSSE
Titulo do original: Storia illustrata del Nazismo
Copyright O 2002 by Giunti Editore S.p.A,, Firenze = Milano
www. giuntiit
Copyright O 2009 by Larousse do Brasil
Todos os direitos reservados.

Foto capa: O CORBIS, 1934 (Adolf Hitler ascends stairs


during a Nazi rally in Buckeberg, Germany, in 1934)

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida sob quaisquer


meios existentes sem autorização por escrito dos editores.

Edição brasileira

Diretor editorial Alexandre Faccioli


Gerente editorial Solange Monaco
Editor IsneySavoy
Assistente editorial Soraya Leme
Tradução Ciro Mioranza
Preparação detexto Fátima de Carvalho M. de Souza
Revisão Maria Aiko Nishijima
Coordenação de Arte Thaís Omeito
Capae diagramação Maria Rosa Juliani
Produção gráfica Maykow Rafaini

Edição italiana

Projeto gráfico Enrico Albisetti


Autora dos textos | Alessandra Minerbi
Cartografia Sergio Biagi Comunicazione Grafica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Minerbi, Alessandra
A história ilustrada do nazismo / Alessandra Minerbi ; tradução de Ciro
Mioranza. - São Paulo : Larousse do Brasil, 2009.

Título original: Storia illustrata del Nazismo


ISBN 978-85-7635-457-4

1. Alemanha — História - 1918-1933 — Obras ilustradas 2. Alemanha =


História — 1933-1945 = Obras ilustradas 3. Nazista - Obras ilustradas
|. Título.

09-00771 CDD-320.533

Índices para catálogo sistemático;


1. Nazistas : Obras ilustradas : Ciência política
320.533

1º edição brasileira: 2009,


por
Direitos de edição em língua portuguesa, para O Brasil, adquiridos
Larousse do Brasil Participações Ltda.

8-000
Av. Profa. Ida Kolb, 551 - 3º andar - 5ão Paulo - SP - CEP 0251
Tel; 55 11 3855-2290/Fax:55 11 3855-2280
E-mail: infoglarousse.com.br
www.larousse.com.br
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Sumário

Apresentação O enquadramento da sociedade BY


= Os jovens 38
A fundação da República de Weimar 13 = As mulheres 61
Rádio e imprensa 63
O nascimento da república 15 = Literatura e teatro
O tratado de paz e a “punhalada nas costas” 64
16 = Artes figurativas e arquitetura 65
= O nascimento do NSDAP 18 a Escola e universidade 66
Emest von Salomon 15 1 O partido e o Estado 68
Rosa Luxemburgo 16 Baldur von Schirach 59
Ernest Toller 117 Gertrud Scholtz-Klink 62
O programa do NSDAP 18 Leni Riefenstahl 64
A constituição de Weimar 19 Albert Speer 69
Esportes e Olimpíadas (1
Da estabilidade à crise 21
= Reparações e inflação 22 A política econômica (3
» Retomada econômica e agroindustrial 23 = As primeiras medidas 14
» Trabalho e sindicatos 21 = À luta contra o desemprego T6
= O “espírito de Locarno” 26 = À política agrícola tl
= A vida cultural 29 = À classe operária 18
m Crise econômica e desemprego 32 = A organização do trabalho 80
= O crescimento do NSDAP 54 = O plano quadrienal 83
= À desagregação da república 36 = Política e economia 35
A ocupação da região de Ruhr 24 Walter Darré tt
O putsch de Munique 25 Robert Ley 19
Sociedade de massa e tempo livre 30 Hjalmar Schacht 32
Alfred Hugenberg 34 Hermann Góôrng 34
O livro Mein Kampf 36 O Fusca 81
A cidade e a política habitacional 31

Terror, perseguição, oposição 89


A “revolução nacional” 39
= A administração da justiça 90
= O incêndio do Reichstag 40 = Entre consenso e silêncio 91
= Depuração do Estado e da sociedade 4] m Ordem e terror 92
= As igrejas e o nazismo 42, m À oposição interna 95
= À noite das facas longas 48 = O descontentamento popular 96
= O Estado totalitário 50 = À emigração política 98
= À ideologia nazista 51 = À emigração intelectual 101
= Simbologia e ritos do NSDAP 52
Heinrich Himmler 90
A queima dos livros 44 As SA 95
Adolf Hitler 46 As SS 94
Paul von Hindenburg 49 Os campos de concentração 100
Z Joseph Goebbels 55 O “mito” do Filhrer 103
O SS O

À comunidade do povo 105 As armas do Reich 141


E O antissemitismo 106 Ã barbarização do conflito 146
E E FEPuEaçãO racial 108 a o m | o
E Doenças hereditárias e esterilizaçã NERDRU O Nas Tn Seia
= Os ciganos o o À ocupação da Itália 154
E Ás leis de Nuremberg 113 O colaboracionismo 156
E a ie dos cristais” 115 o ar de Dresden e
nm Os alemã - resistência ao nazismo
So 116 A “Ordem Nero” 166
Às organizações judaicas 107
A emigração judaica 110

api BE agia g
A pa 112 A Shoah 169

m Os Ren e Os assassinatos em massa 172


at m As deportações 173
A política externa 121 m Os campos de concentração 174
m À revisão do tratado de Versalhes 122 E Os campos de extermínio 176
m À aproximação da Itália e a intervenção m Eutanásia e extermínio dos ciganos 178
na Espanha 123 m Os prisioneiros do Reich 180
= Mudanças nos vértices militares 125
= À Anschluss 127 Auschwitz: o símbolo da Shoah 177
= Berlim, Roma e Tóquio 128 Adolf Eichmann: o burocrata do extermínio 181
E O desmembramento da Tchecoslováquia 130 O extermínio: quem sabia? 182
m O pacto nazi-soviético 132

O von Ribbentrop
Joachim 126
DO Um paíserra
Cida 185
O fascismo na Europa 134 m À Alemanha no pós-guerra 186
m (Os processos 187
E À ocupação aliada e o aumento das divergências 188
A guerra 137 m As duas Alemanhas 189
CER m À República Federal Alemã 191
a O ataque a Polônia 157 E À Republica Democrática Alemã 192
m Oataqueà França 140 E À reunificação 192
E À guerra no norte da Africa 143
m Operação Barba-Roxa 144 Nuremberg 187
m À nova ordem europeia 145 Repensar o nazismo. 192,
Ae interna 147 Os locais da memória 194
= O sistema de poder nazista nos anos da guerra 152
m Economia e armamentos 155
= O sistema financeiro do Grande Reich 151
= O segundo front e a mudança do destino da guerra 160 TAbelasterenoLópicas 195
m As conferências aliadas 162 Índice dos nomes 199
m A derrota 164
Apresentação

As consequências da derrota da Alemanha


guilhermina na Grande Guerra, os devastadores
efeitos da hiperinflação e a consequente crise eco-
nômica, a desagregação dos tradicionais segmen-
tos da sociedade e do frágil sistema político da
República de Weimar, o desgaste dos equilíbrios
decorrentes da Paz de Versalhes entre os anos
1920 e 1930: estes são os elementos nos quais se
deve situar a ascensão do Partido Nacional-Socia-
lista e a chegada de Hitler ao poder, em janeiro
de 1933. A partir daí, teve início a construção
do novo Estado nazista, com o sistemático uso do
terror e o enquadramento das massas sob a égide
de uma disciplina coletiva baseada na diserimi-
nação racial.
Do regime totalitário são examinadas as bases
ideológicas, as leis raciais e a perseguição dos
judeus, o aniguilamento dos partidos de oposi-
ção, a ordem institucional, a nova organização
do trabalho, os instrumentos e aparatos do terror
político e policial, as principais autoridades do
regime, as organizações para o disciplinamento
da população, o culto do Fihrer, a propaganda e
a cultura, as medidas econômicas e a política do
rearmamento. Para contrabalançar, em política
externa, o projeto da “nova ordem europeia” sob
a égide da Alemanha nazista. A supremacia do
Grande Reich e o desígnio de dominação conti-
nental, por meio da aliança com os regimes fas-
cistas, culminaram na subversão do sistema das
relações internacionais e na eclosão de um con-
flito que, em poucos anos, se estendeu da Europa
para todos os cantos do mundo.
Esta obra dedica atenção especial às operações
militares que opuseram a Alemanha aos Alia-
dos, entre 1939 e 1945, ao genocídio dos judeus
e à peculiar conotação que o nazismo conferiu
à “guerra total? voltada ao extermínio de popu-
lações consideradas inferiores, conectando todos
esses temas às bases sobre as quais havia sido
erguido o Terceiro Reich. Completam o quadro a
capitulação alemã, o processo de Nuremberg e a
questão da “memória”, a ocupação aliada, a divi-
são do país e a herança de um incômodo passado
na época da Guerra Fria.
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A fundação e NE

da República
de Weimar
o decorrer do primeiro decênio de 1900, os
equilíbrios internacionais se tornaram sem-
pre mais precários por causa das crescentes
rivalidades que opuseram especialmente a
Alemanha à França e à Grã-Bretanha. A região dos Bál-
cãs constituía um dos mais perigosos focos de tensões, e
o assassinato do herdeiro ao trono da Áustria — ocorrido
no dia 28 de junho de 1914 pelas mãos dos nacionalistas
sérvios — fez eclodir um conflito que viu contrapor-se
duas forças: Áustria e Alemanha de um lado e, de outro,
Grã-Bretanha, França e Rússia.
A classe dirigente alemã estava decidida a entrar em
guerra para fortalecer o próprio poder e assumir um papel
central no continente. Em 1914, o estado-maior do exército

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|4 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ECLIPSE DO soOL (1926)


Na pintura de George Grosz,
sentam-se, em torno de uma mesa,
militares, capitalistas e homens sem
cabeça: uma metáfora da derrota
da Alemanha transtornada pela
crise econômica (p. | 2).

ELMOS DE AÇO
Desfile da associação dos com-
batentes contra o tratado de
Versalhes (na abertura).

MUTILADO DE GUERRA
E PRISIONEIROS ALEMÃES
(embaixo).

alemão estava convencido de que o conflito seria breve. No decorrer do ano de 1917, a situação bélica do Reich
Depois dos primeiros embates bem-sucedidos, ficou claro se apresentava sempre mais comprometida. A isso se aliava
que se iniciava uma guerra de trincheira, baseada no des- uma crescente carência de gêneros alimentícios, o cansaço
gaste recíproco e na força econômica dos beligerantes. A dos soldados no front e da população civil, elementos que
longa batalha travada em Verdun contra os franceses (feve- contribuíram para exacerbar as tensões de classe. A exemplo
reiro a setembro de 1916) não resultou na esperada guinada do que havia acontecido na Rússia — a conquista da paz e de
militar, mas provocou significativas mudanças políticas. uma nova ordem revolucionária —, encontrava eco sempre
O imperador Guilherme II tinha consciência de que seu maior numa população já prostrada.
papel era sempre menos determinante e confiou o comando O estado-maior esperava ainda poder chegar a uma paz
supremo do exército ao marechal Paul von Hindenburg e de compromisso. A rendição incondicional havia sido, no
a seu chefe do estado-maior Erich Ludendorff, criando as entanto, necessária por causa do crescente poder dos Estados
condições para uma verdadeira e característica ditadura Unidos e do declínio da Áustria, e principalmente em razão
militar. A política dos novos vértices visava, de um lado, a do esfacelamento da frente interna. Para evitar a desagre-
acentuar a mobilização para explorar ao máximo os recur- gação do país e salvar a monarquia, o governo, presidido
sos disponíveis e, de outro lado, a agir com os meios mais pelo chanceler Max von Baden, procurou convencer o kai-
persuasivos no plano militar, estimulando particularmente ser a abdicar e promoveu uma reforma do poder político,
a guerra submarina. cujos pontos fundamentais eram o sufrágio universal e a

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A FUNDAÇÃO DA REPÚBLICA DE WEIMAR EE I5

REPRESSÃO DOS MOVIMENTOS


ESPARTAQUISTAS EM BERLIM
Soldados a postos no telhado de
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EM PRE am é sr
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uma casa se preparam para abrir
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fogo (janeiro de 1919).

A GRANDE CIDADE (1927)


No quadro de Otto Dix é retrata-
do um ex-combatente apoiando-se
em muletas (embaixo).

plena atribuição dos poderes legislativos ao parlamento.


ao qual a guerra havia infligido o golpe decisivo. O SPD,
Mas o descontentamento já estava amplamente difundido
e protagonista contra sua vontade dessa mudança radical, pro-
quando, no final de outubro, os marinheiros do porto de Kiel curou deter as tendências mais radicais, tornadas suas pelo
se amotinaram, o protesto se estendeu, atingindo muitos movimento dos “conselhos”, cujos principais centros eram
Eder

outros centros industriais em Berlim e nos regimentos desco-


E

Berlim e a Baviera. O novo governo recorreu, portanto,


=

lados no front franco-belga. Com isso, o kaiser foi obrigado ao apoio do estado-maior monárquico e reacionário e aos
a sad

a fugir para a Holanda.


DS

Freikorps (“corpos livres”, i.e., milícias paramilitares) forma-


dos por nacionalistas, aos quais foi concedida certa liberdade
O NASCIMENTO DA REPÚBLICA de ação contra a esquerda revolucionária. Em janeiro, uma
Depois da abdicação do kaiser, Von Baden convenceu tentativa de insurreição do Partido Comunista foi sufocada
Friedrich Ebert, chefe do Partido Social-Democrata Alemão com uma sangrenta repressão. No mês seguinte, Kurt Eisner,
(SPD), a formar um governo. O SPD não tinha nenhum presidente da república dos conselhos na Baviera, foi assas-
projeto político a longo prazo e viu-se despreparado diante sinado em Munique.
dos acontecimentos. A república, proclamada em Berlim em Ficou evidente a incapacidade da social-democracia
9 de novembro de 1918, foi um gesto impelido pela multi- de acolher as instâncias revolucionárias da
dão revoltada. Essa ruptura institucional marcou o ponto de ala radical do movimento operário alemão
chegada do longo processo de dissolução do império alemão, — animadas pelo outubro russo e pelo biênio

ERNST mon militou nas corporações era importante que aquilo que
VON SALOMON livres” (Freikorps) e foi ativo fazíamos fosse correto; impor-
contra os espartaquistas em tava que nesses dias sufocantes
Nascido em 1902, filho de Berlim. Em 1920 participou se agisse. À sorte da Alemanha
um oficial prussiano poste- do putsch de Wolfgang Kapp estava nas mãos de cada um,
riormente chefe da polícia e, em 1922, do assassinato do e cada indivíduo naqueles
criminal de Frankfurt, foi um ministro do Exterior Rathenau. momentos incomparáveis
dos expoentes da geração que Preso, foi condenado a cinco de graça estava em re-
saiu da experiência da guerra anos de reclusão e, depois da lação com o destino
e se caracterizou pelo estado libertação, dedicou-se à ativi- alemão”. Preso em
de revolta tanto contra a velha dade editorial e de publicidade. 1945 pelos ameri-
ordem imperial como contra Em 1930, publicou sua auto- canos, ficou encar-
a nova ordem democrática, biografia — Os proscritos — que cerado até o ano
considerado incapaz de guiar O mais que qualquer outro texto seguinte e depois
renascimento do povo alemão da época testemunha o misto se dedicou à pu-
e de restituir ao país o papel de rebelião e de ativismo que blicidade. Morreu
de grande potência. Von Salo- caracterizou sua geração: Não em 1972.
16 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

KARL LIEBKNECHT
Pacifista, fundador da Liga de
Espártaco e do Partido Comunista
Alemão, foi assassinado em Berlim,
em janeiro de |919.

“ESTRELA VERMELHA”
Orgão oficial dos comunistas
alemães. Abandonando a via dos
movimentos revolucionários, nos
anos 1920 o partido conquistará
amplo consenso entre as classes
trabalhadoras, flageladas pela crise
econômica.

vermelho em toda a Europa — sem recorrer aos pilares da O TRATADO DE PAZ


velha ordem. As primeiras eleições convocadas com sufrágio E A “PUNHALADA NAS COSTAS”
universal para a assembleia constituinte (janeiro de 1919) A conferência de paz foi aberta em Paris em maio de 1919.
foram vencidas pela coalizão republicana (social-democra- Os representantes das potências vitoriosas estavam conven-
tas, democratas e católicos), assinalando uma clara derrota cidos de que somente a Alemanha tinha sido responsável
dos conservadores e da extrema esquerda. As duras cláusu- pelo desencadeamento do conflito e que o melhor modo para
las do tratado de paz imposto pelas potências da “Entente” neutralizá-la seria enfraquecê-la nos planos econômico, polí-
tornaram ainda mais difícil a tarefa dos próprios partidos, tico e militar. O tratado de Versalhes, com o qual os vencedo-
que se reconheceram na chamada “coalizão de Weimar”. res impuseram ao Reich vencido suas condições, foi assinado
No ano seguinte (junho de 1920), por ocasião das primeiras em 28 de junho de 1919. Os alemães perderam 13% de seu
eleições políticas, houve uma nítida inversão de tendên- território, que compreendia áreas industrializadas com 75%
cia: a coalizão baixou de 76% para 43,6%, e cresceram os das jazidas de ferro e 25% das minas de carvão. A Alsácia
partidos mais radicais, tanto de direita como de esquerda. e a Lorena foram devolvidas aos franceses, que as haviam
Desse modo, teve início um longo período em que o país foi cedido em 1870, e uma parte da Prússia passou a fazer parte
dirigido por governos minoritários obrigados, em sucessivos da recém-criada Polônia. As colônias alemãs foram divididas
momentos, a contar com o apoio dos social-democratas ou como “protetorados” (que na prática equivaliam a domínios
dos conservadores. coloniais) entre a França, a Grã-Bretanha, a Bélgica, o Japão

ROSA do movimento espartaquista. somente com uma ruptura e contra toda tentativa de in-
LUXEMBURGO Embora elogiasse a revolução radical com o passado teria surreição. Durante as subleva-
bolchevique, soube apontar sido possível criar as bases ções de Berlim de 1919 — ver-
Nascida na Polônia em 1871, os perigos que pesavam sobre para uma igualmente radical dadeiros episódios de guerra |
estudou em Zurique, onde a gestão do poder político renovação democrática da civil — Rosa Luxemburgo foi ;
entrou em contato com os soviético. Depois Alemanha. Participou da morta junto com Karl Liebk- ã
líderes da social-democracia da fundação fundação do Parti- necht. Sua morte foi seguida,
polonesa. Transferindo-se para da República do Comunista depois de pouco tempo, pela
Berlim em 1898, nos anos su- de Weimar, Alemão e se repressão contra o movimen- |
cessivos foi uma das teóricas foi bastante posicionou to dos conselhos na Baviera:
mais lúcidas e empenhadas crítica com a favor da dois episódios que constituí-
do movimento socialista. Ao relação à participa- ram uma ulterior reabilitação
eclodir a guerra, denunciou a política mo- ção nas das velhas forças militares e
LE

política de lealdade patriótica derada e de eleições confirmaram a tendência da


a
da social-democracia alemã compromisso para a república de privilegiar a alian-
e desempenhou um papel da social-demo- d assembleia ça com a direita em perspecti-
determinante no surgimento cracia, porque constituinte va contrarrevolucionária.
A FUNDAÇÃO DA REPÚBLICA DE WEIMAR E 17

ELEJAM ESPÁRTACO
O punho dos comunistas se abate
sobre a frágil democracia parla-
mentar de VYeimar.

ESPARTAQUISTAS COMBATEM
NAS RUAS DA CAPITAL
(no centro da página).

O DETENTO ERNST TOLLER


O dramaturgo alemão é retratado
no período de sua detenção
(abaixo).

ea Austrália. As reparações que a Alemanha deveria pagar permanecia fora dela. A dureza das condições impostas alimen-
num prazo de trinta anos chegavam a 132 bilhões tou o descontentamento em amplas camadas da
de marcos de ouro. população. O novo governo democrático era
Graças especialmente ao empenho do considerado responsável pelasituação, causa
presidente americano Woodrow Wilson, de todos os males decorrentes da derrota. O
foi fundada a Sociedade das Nações, efeito inevitável foi a humilhação
com sede em Genebra, organismo de uma nação que tinha con-
que deveria ser local de media- fiado a própria identidade,
ção permanente e de resolução antes e durante a guerra, à
arbitral e pacífica dos conflitos força militar, e difundiu-se a
internacionais. À Alemanha foi, lenda da “punhalada nas cos-
no entanto, excluída, confirmando tas”, desferida pelos próprios
a vontade punitiva para com ela e novos governantes, acusados
evidenciando as frágeis bases sobre de uma política renunciatária e
as quais nascia a Sociedade, de não terem sabido defender a
visto que um dos prin- honra da Alemanha na mesa das
negociações.
cipais países europeus

Toller afirmou sua fé numa expressionista. Em 1933, exi-


ERNST TOLLER lou-se nos Estados Unidos on-
“revolução do amor” e, de-
pois de seu fracasso, afastou- de colaborou em numerosos
Nascido em 1893, numa abas-
se da esquerda extremista, periódicos sobre emigração.
tada família de origem judaica,
apoiando a necessidade de Suicidou-se em 1939, com a
foi voluntário na guerra e, du-
uma solução não violenta dos notícia da entrada das tropas
rante o conflito, converteu-se
conflitos sociais. Depois de li- franquistas em Madri. Entre
ao pacifismo. Em 1918 aderiu
bertado, continuou a atuar no suas obras mais significativas,
à esquerda revolucionária e
movimento pacifista e esteve cumpre citar Homem massa
participou na instauração da
entre aqueles que na esquer- (1921), sobre os contrastes na
república bávara dos conse-
da refutavam tanto o extre- esquerda alemã, Opla, vivemos
lhos, tornando-se por breve
mismo comunista como o (1927), sobre a esqualidez
tempo seu presidente, depois
moderantismo socialista. Nos ideal da experiência republi-
do assassinato de Kurt Eisner.
anos de VVeimar compôs suas cana, e a autobiografia Uma
(Com a queda do governo, foi
principais obras que fazem juventude na Alemanha, na qual
condenado a cinco anos de
dele um dos mais inquietos transparece o trágico destino
detenção. No decorrer da
protagonistas da dramaturgia da burguesia judaico-alemã.
experiência revolucionária,
E: E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ELMOS DE AÇO
Hindenburg era presidente hono-
rário da organização paramilitar
nos anos 1920.

CARTAZ DO NSDAP
para as consultas de 1930 (abaixo).

O NASCIMENTO DO NSDAP! teriam um papel fundamental: Alfred Rosenberg, Rudolf Hess


O primeiro núcleo do partido nazista foi fundado em Muni- e Hans Frank. Em janeiro de 1923, realizou-se o primeiro con-
que em 1919 e, no ano seguinte, tomou o nome de Partido gresso do partido: os inscritos eram 20 mil. O NSDALE, por-
Nacional-Socialista alemão dos trabalhadores. Em 1920 foi tanto, tinha crescido muito, embora ainda estivesse restrito à
divulgado seu programa, embora o aspecto característico do região da Baviera e não pretendesse se tornar um partido que,
novo movimento fosse um ativismo desenfreado, muito mais como os outros, haveria de defender os próprios interesses no
importante que qualquer princípio programático. O NSDAP âmbito da batalha parlamentar.
logo se transformou em um grupo paramilitar: a maioria de seus A marcha sobre Roma (outubro de 1922) e o advento
membros era proveniente dos Freikorps e da Reichswehr e tinha do fascismo na Itália tiveram um efeito galvanizador sobre o
a intenção de continuar a luta contra o governo de Weimar, movimento nacional-socialista, mesmo que este tirasse suas
sem se ater a qualquer regra democrática. Adolf Hitler assumiu forças da própria situação alemã, do clima de exasperação
a direção do partido. Foram formadas as SA (tropas de assalto) nacionalista e do protesto social, provocados pela difícil
como força fundamental na condução dos choques em locais situação do pós-guerra. As raízes sociais do proselitismo do
públicos. No final de 1920, saiu o diário Volkischer Beobacther, NSDAP estavam na inflação e na grave crise de confiança
graças ao financiamento da Reichswehr e de setores privados. que atingiram a classe média e a pequena burguesia, que
Ao lado de Hitler e dos expoentes de primeira hora, começou não estava disposta a unir-se ao proletariado numa batalha
a perfilar-se o peso crescente de personalidades que, a seguir, comum de reivindicação social. |

e a criação de uma Grande Além disso, declarava-se — e O partido, portanto, já em


O PROGRAMA este teria sido um permanen- 1920, se caracterizava como
Alemanha, fosse para restabe-
NSDAP te ponto-chave da propaganda um movimento racista e an-
lecer as justas fronteiras, fosse
O primeiro programa do par- para oferecer terras a uma do partido nazista — que des- tissemita. Os aspectos mais
tido nazista foi redigido em população em contí- sa comunidade demagógicos eram o pedido
Rb quai:
een

1920. Hitler sempre defendeu nuo crescimento. poderiam fazer de um acentuado estatismo
E ap [
a necessidade de não vincular- Amplo espaço era parte somente ea luta contra a denominada
conferido à polêmi- os cidadãos “escravidão de interesses”, a
-se a nenhum projeto rígido
e este foi concebido essen- ca contra o pluralis- de sangue ale- isto é, a eliminação dos ã
cialmente como instrumento mo dos partidos e o mão; todos os fenômenos especulativos,
parlamentarismo, aos outros, e em próprios do sistema capita-
de propaganda, mas continha
quais se contrapunha primeiro lugar lista.À aliança sempre mais
muitos elementos que te-
a existência de uma os judeus, po- estreita com amplos setores
riam permanecido pontos de
comunidade nacional diam viver na da indústria e das finanças in-
referência da ação política,
que teria tornado Alemanha na duziu o NSDAR no final dos
mesmo nos anos seguintes.
inúteis e danosos os qualidade de anos 1920, a abandonar essa
O programa requeria a su-
partidos políticos. hóspedes. posição.
peração da paz de Versalhes
A FUNDAÇÃO DA REPÚBLICA DE WEIMAR E 19

A CONSTITUIÇÃO “Der Sieg des republikanifchen Gedankens”


DE WEIMAR o
Von begrásst.

Von Loebe empfangen Von Ebert gerufen


A constituição promulgada 48) e tinha, portanto, um pa-
em VYeimar, em 1919,foi uma pel fundamental de alternativa
das mais avançadas do primei- ao poder do parlamento.A
ro período pós-guerra. De lei que deveria definir, dentro
característica liberal, foi re- dos limites do possível,a si-
sultado de um compromisso tuação de emergência, nunca
com as outras forças demo- foi emanada, deixando vaga,
cráticas: socialistas e católicos. portanto, sua avaliação. O
Os dois partidos socialistas papel legislativo do Reichstag
tinham realmente peculiares (Parlamento) era, além dis-
objetivos de política constitu- so, limitado pela introdução
cional, mas não uma ideia glo- do referendo. No que diz (o ca ISSAa e F
“a

tm 1
ho a

bal e, deixando a Hugo Preuss, respeito ao ordenamento


novo secretário de Estado,a da sociedade, a constituição prospectava-se uma gestão concepções social-democratas,
responsabilidade da redação não decidiu entre capitalismo solidária:o artigo 165 previa os direitos civis encontravam
da Carta Magna, reconheciam e socialismo, mas se referiu o princípio da paridade entre amplo reconhecimento e eram
a experiência superior do se- somente a um consenso miíni- capital e trabalho e assegurava delineados os contornos de
tor liberal.A constituição de mo:a base da futura legislação o reconhecimento estatal aos um Estado assistencial. Fruto
VVeimar delineava um sistema seria a organização existente, parceiros dos contratos co- de diversos ajustes, pactos e
no qual o poder executivo fundada sobre a propriedade letivos e a seus acordos. Aqui compromissos, a constituição
estava ligado às coalizões que privada, que, no entanto, de- o texto da constituição era foi aprovada em 31 de julho
se formaram no parlamento. veria ter certa propensão em mais concreto que em quase de 1919 com 262 votos favo-
Um papel específico cabia ao sentido social e, quando se todos os outros pontos rela- ráveis e 75 contrários.
presidente da república que, tivesse a necessária maioria tivos a questões econômicas
eleito por sufrágio universal, nos órgãos legislativos, pode- e sociais. Sobre o tema da À VITÓRIA DO PENSAMENTO
podia, em situações de emer- ria ser modificada em sentido socialização continha dispo- REPUBLICANO
sições que não ultrapassaram Charge de George Grosz.
gência, governar com base em socialista. Essa situação, de
decretos presidenciais (artigo fato, nunca se verificou nos a “lei de socialização” de JOVENS ALEMÃS
anos sucessivos. Com rela- março de 1919. Na parte mais São ministrados cursos de culinária
ção ao mundo econômico, diretamente inspirada nas a jovens candidatas.
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| terizaram por uma relativa estabilidade política,
à ainda que a Alemanha fosse dirigida por gover-
nos de minoria que podiam contar sucessivamente com a tole-
rância dos social-democratas ou dos nacional-populares. Foram
anos de retomada econômica, de retorno da Alemanha à cena
política internacional e de maior tranquilidade social. Nesse
período emergiram, porém, as contradições e os limites sobre
os quais estava baseada a experiência da república de Weimar
e que teriam explodido na década seguinte. Em abril de 1925,
foram realizadas as primeiras eleições presidenciais por sufrágio
universal. Foi eleito o marechal Paul von Hindenburg, o herói
da Primeira Guerra Mundial, apoiado por todas as forças nacio-
nalistas, pelos militares e pangermanistas, que, por algumas
centenas de votos, conseguiu derrotar o candidato católico da
coalizão governista.
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22 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

DESFILE NACIONALISTA (p. 20).

ESPERANDO NA FRENTE
DE UM BANCO (na abertura).

WALTER RATHENAU
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AEG, como ministro da política

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Cédula de 100 bilhões de marcos.
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DISTRIBUIÇÃO DE REFEIÇÕES
(abaixo).

Esse resultado marcou uma etapa fundamental no processo procos, recusaram-se a uma aliança contra as forças da direita,
de desgaste no qual, desde seus primeiros anos, se debateu a que foram as primeiras a beneficiar-se com a crescente insta-
república. Com efeito, esta reduziu a interpretação da demo- bilidade política da Alemanha.
cracia unicamente a nível parlamentar, excluindo o apoio da
participação popular também em outros setores, e não pôde REPARAÇÕES E INFLAÇÃO
contar com um aparato do Estado renovado e inteiramente As reparações impostas pelas potências vitoriosas à Ale-
fiel aos pressupostos da democracia. Em 1928 foram realizadas manha derrotada eram pesadíssimas, impossíveis de serem
as eleições parlamentares que trouxeram à tona evidentes pagas em vista da desastrada economia de um país exaurido
sinais de crise. Saíram vitoriosos os social-democratas e os pela guerra. A questão do cumprimento se tornou um dos nós
comunistas, enquanto os partidos democratas foram derrota- centrais da vida política alemã, uma das principais causas de
dos. Os votos perdidos pelas forças que até aquele momento instabilidade dos governos e de agitação ideológica das forças
tinham formado os governos republicanos se dispersaram extremistas de direita e de esquerda. Walter Rathenau, minis-
entre diversos grupos locais, sintoma da incapacidade dos tro da Reconstrução e das Relações Exteriores (1921-22),
partidos burgueses de conquistar o centro do conglomerado foi um daqueles que mais se empenharam em resolver essa
político. Comunistas e socialistas, além disso, estavam em complexa situação, convencido da necessidade de atender
posições inconciliáveis e, dilacerados pelos contrastes recí- aos pedidos das potências vitoriosas, mas consciente de que
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1920 1922 1924

a economia alemã não estava em condições de cumpri-los


titulares de créditos hipotecários foram favorecidos, pois
integralmente. puderam saldar suas obrigações com dinheiro desvalorizado.
O elevado montante das reparações, as despesas com a Graças ao empenho do ministro da Economia Hans Luther,
previdência social, os custos da manutenção das viúvas e dos a situação de emergência chegou ao fim em 1923, depois de
órfãos de guerra e a enorme emissão de papel-moeda, que uma reforma monetária. As dificuldades econômicas mais
na Alemanha, como em outros lugares, tinha financiado graves foram então superadas, mas os anos de grande infla-
a guerra, causaram uma inflação galopante. Na eclosão da ção deixaram uma sensação de insegurança e desconfiança
guerra, 4,2 marcos valiam 1 dólar; em janeiro de 1920, a no Estado.
proporção era de 64,8 por 1; em 1922, saltou para 17.972
marcos. Em 1923, a inflação atingiu o ápice, queimando RETOMADA ECONÔMICA E
uma enorme parte da riqueza nacional. Os mais atingidos AGROINDUSTRIAL
foram os segmentos de baixa renda fixa — classe operária As dificuldades ligadas a reparações muito elevadas eram
e média — e os credores — particularmente, as instituições evidentes. Os Estados Unidos, que logo depois da guerra
bancárias. Muitos industriais, em contrapartida, tiraram financiaram amplamente a retomada econômica de muitos
vantagem da situação, obtendo créditos facilitados e conse- países europeus, estavam convencidos da necessidade de
guindo, desse modo, realizar maiores investimentos e formar que a economia alemã não fosse completamente estran-
grandes concentrações. Também os camponeses e todos os gulada. Em 1924, o banqueiro e político estadunidense

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24 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

LiTvIiNOV E RATHENAU
Os ministros das Relações
Exteriores (à esquerda, o soviéti-
co Litvinov; no centro, o alemão
Rathenau) assinaram, em abril de
1922, o tratado de Rapallo, com o
qual os dois países iniciaram uma
cooperação econômica.

SABOTAGEM NA REGIÃO
DO RUHR
Locomotiva francesa inutilizada
pela ação dos ferroviários alemães
(embaixo).

Charles Dawes elaborou um plano que reduziu as repara- crise profunda, cujas raízes eram antigas: seus interesses
ções, subdividindo-as em parcelas anuais para favorecer a divergiam cada vez mais daqueles da indústria e já não sub-
retomada alemã. Um grupo de bancos americanos, além sístia mais o bloco de poder com a grande indústria que
disso, concedeu ao país um empréstimo de 800 milhões de tinha sido a base da Alemanha da época de Bismarck. No
marcos. Com o plano, Dawes retomou o fluxo de créditos pós-guerra, muitas pequenas empresas agrícolas faliram e
estadunidenses e a economia alemã entrou numa fase de as grandes propriedades, especialmente a leste do rio Elba,
reestruturação e de racionalização. Em 1927, a Alemanha mantiveram seu caráter latifundiário e escassamente produ-
atingiu o nível de produção de antes da guerra e retornou a tivo, impermeável a qualquer tipo de mudança. À prome-
um sistema de importações e exportações. Acentuaram-se tida e jamais realizada reforma agrária foi, por outro lado,
as tendências já presentes no início do século: crescimento uma das mais graves concessões do governo de Weimar à
das grandes empresas e criação de cartéis, introdução de for- continuidade dos poderes do segundo Reich. O mundo agrí-
mas modernas de gestão empresarial, racionalização produ- cola em seu conjunto foi, de fato, adversário da república
tiva, presença sempre mais forte do Estado na economia. Os e constituiu um dos núcleos de força da reação que, espe-
setores produtivos mais importantes (químico, siderúrgico, cialmente a partir de 1925, depois da eleição do presidente
elétrico, de mineração) aperfeiçoaram no decorrer dos anos Hindenburg, encontrou um espaço sempre mais amplo e,
1920 seus acordos de cartel. com a crise econômica de 1929, constituiu uma força fun-
Em contrapartida, o setor agrícola se encontrava numa damental para a tomada do poder nazista.

A OCUPAÇÃO região, a população foi concla- transformou-se, nos meses desse modo,a prova de força
DA REGIÃO DO mada a não colaborar com os seguintes, num sucesso alemão, da Primeira Guerra Mundial,
RUHR ocupantes. O governo central, em razão do esgotamento dos favorecendo em ambas as par
tes a disponibilidade para uma 1
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uma vez proclamada a greve contendores. O novo curso
No final de 1922,a França geral, assumiu o ônus de pa- econômico e a aceitação do estabilização da situação. RE
aproveitou o atraso de forne- gar salários e estipêndios. No plano Dawes garantiram a
cimentos alemães por conta verão de 1923, desenhou-se o solvência dos pagamentos.
das reparações para invadir O fracasso dessa estratégia, por- Nesse momento, a política
distrito do Ruhr: oficialmente, que a inflação crescia vertigi- de Paris passou a ser atingida.
para garantir “penhores produ- nosamente e o Ruhr já estava Pressionada por seus aliados,
tivos”, na realidade, para apolar prostrado. A grande coalizão foi obrigadaa anunciar
a separação da Renânia e do formada e dirigida por Gustay sua retirada do
Ruhr do Reich. A resposta foi Stresemann tentou, no outono, território ZE | RR ga
uma onda de movimentos na- uma mudança de rota: não ae RU BE aa E
cionalistas instrumentalizados restava outra escolha a não
pelo governo e a proclamação ser a capitulação ante a França. 1925. Che- a
da “resistência passiva”. Na No entanto, a vitória da França gou ao fim,
DA ESTABILIDADE À CRISE E 25

O PUTSCH DE na Baviera e de lá marchar que gozava o NSDAP para de apenas um ano de prisão,
MUNIQUE sobre Berlim para con- derrubar o sistema demo- Hitler já estava convencido
quistar o Reich, a exemplo crático. O próprio processo da necessidade de mudar de
Para o NSDAPR 1923 foi um da marcha sobre Roma de foi uma importante ocasião tática: não uma derrubada
ano de reviravolta.A que- Mussolini. O golpe de Estado para mostrar a fragilidade da violenta do poder, mas uma
da do marco e a explosão fracassou porque os ambien- república, visto que Hitler, conquista gradual e por vias
do nacionalismo depois da tes conservadores bávaros mesmo condenado a cinco legais.
ocupação do Ruhr foram desconfiavam de Hitler, mas anos de reclusão, conse-
determinantes para des- as circunstâncias que torna- guiu emergir com notável
ferir um ataque ao regime ram possível essa tentativa, superioridade em relação
democrático. Na noite de 8 como teria mostrado o pro- aos próprios aliados e seu
de novembro, Adolf Hitler, cesso contra os revoltosos, ataque à democracia foi ex-
presidente do partido na- colocaram em evidência o plicado como amor à pátria. No PRINCÍPIO ERA O VERBO
zista, tentou tomar o poder potencial de cumplicidade de Posto em liberdade depois Hitler retratado como o Messias.
26 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

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PARTIDÁRIOS DO RECÉM-NASCIDO PARTIDO NAZISTA


DA ESTABILIDADE À CRISE E 27

Nós ESTAMOS COM ÁDOLF


HirLeER!
O NSDAP procurou atrair, desde o
início, a simpatia dos trabalhadores.

PÃO E TRABALHO
A promessa dos nazistas aos eleitores.

SLOGANS ELEITORAIS
Da esquerda para a direita: pro-
paganda dos social-democratas
que mostram o perigo nazista, dos
comunistas (conclamando para O
fim do sistema) e dos populares que
durch den se batem contra a inflação e
a guerra civil (embaixo).
Wationalsozialismus Liste

JRABALHO E SINDICATOS se exacerbaram, enquanto os empresários tentaram descar-


O poder contratual no mundo do trabalho e em parti- regar nos ombros dos trabalhadores a pressão dos preços,
cular, dos sindicatos organizados cresceu sensivelmente nos aumentando a carga horária para além das oito horas. Toda
anos de Weimar. À guerra tinha comprovado de modo irre- perspectiva corporativista fracassou perante a dura realidade
vogável a importância do papel produtivo da classe operária dos conflitos de classe. O mundo empresarial teve atitu-
e, na Alemanha da desmobilização, não era possível voltar des muito diversas com relação a essa nova realidade: como
atrás. No dia 15 de novembro de 1918, foi assinado o acordo tendência, os setores mais modernos eram também os mais
que deu vida à comissão central paritária para a coopera- favoráveis à cooperação.
ção entre sindicatos e industriais. Havia sido criado, desse Entre 1924 e 1928, as margens para uma superação por
modo, o primeiro quadro institucional para a cooperação, e via negociada do conflito se restringiram sempre mais. Os
a introdução da jornada de trabalho de oito horas mostrou empresários queriam reconquistar a plena liberdade de ação
a disponibilidade dos empresários em acatar algumas con- e pôr fim a todas as garantias e contribuições do Estado social.
quistas materiais que ultrapassavam as normas existentes. Com a crise econômica, o choque ocorreu com toda a sua
A base econômica que permitiu estabelecer essa política de virulência, visto que agora estava em jogo o próprio sistema
cooperação foi a inflação. Quando a estabilização da moeda democrático e social. O mundo do trabalho via-se, além
pôs fim a toda margem de manobra inflacionária, também a disso, sempre mais marcadamente dilacerado pelo radical
contraste entre os trabalhadores organizados, entrincheira-
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razão social da comissão perdeu força, e os conflitos salariais


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28 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

GUSTAV STRESEMANN
Entre os fundadores do partido Ê ; .
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chanceler à frente de uma grande
coalizão. Em seguida, assumiu O
Ministério das Relações Exteriores
e, até 1929, procurou atenuar as
tensões com a França. Em 1928
recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

MANIFESTAÇÃO CONTRA
O TRATADO DE VERSALHES
(embaixo)

dos na defesa dos próprios privilégios, e a massa crescente comercial, a Alemanha começou a desempenhar um papel
dos desempregados. de maior peso em nível internacional. Stresemann estava
convencido de que uma situação de equilíbrio na Europa
O “ESPÍRITO DE LOCARNO” podia ser garantida somente se o próprio país tivesse saído
As potências vitoriosas, especialmente por vontade da do isolamento, e essa posição era compartilhada, em mea-
França, não somente tinham imposto à Alemanha derro- dos da década de 1920, tanto pela Grã-Bretanha como pela
tada altíssimos custos, como também tentado anular seu França, em particular por Aristide Briand, ministro francês
peso político internacional, excluindo-a da Sociedade das das Relações Exteriores de 1925 a 1932. Ponto de chegada
Nações e procurando isolá-la. Gustav Stresemann, ministro desse novo curso foi a conferência de Locarno, de outu-
das Relações Exteriores de 1923 a 1929, foi o maior artífice da bro de 1925. Os participantes garantiram uns aos outros as
superação dessa situação. Em 1922, um primeiro passo impor- fronteiras nacionais, repelindo o uso da força para resolver
tante foi a assinatura em Rapallo de um tratado de amizade eventuais contenciosos. No ano seguinte, a Alemanha foi
com a União Soviética, que deu à Alemanha importantes admitida na Sociedade das Nações. Em 1926, Stresemann
vantagens econômicas em decorrência das possibilidades de assinou um novo pacto de neutralidade e recíproca amizade
intercâmbio que dele derivaram. com a União Soviética, para mostrar que a política externa
Nos anos seguintes, eliminada a emergência da inflação e alemã já tinha reconquistado plena autonomia. Muitos
conquistada, desde 1º de janeiro de 1925, a plena liberdade conservadores alemães criticaram as excessivas concessões

império
antes de 1914
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DA ESTABILIDADE À CRISE E 929

VVALTER GROPIUS
Arquiteto, desenhista e urbanista,
foi um dos protagonistas do movi-
mento da nova arquitetura fun-
cional e da escola do Bauhaus de
Weimar, do qual realizou o edifício
de Dessau (embaixo).

TRAMA NEGRA (1922)


Partidário de uma concepção anti-
naturalista da arte, O pintor russo
Kandinsky, que se transferiu para a
Alemanha no final do século XIX,
foi um dos expoentes da escola do
abstracionismo (à direita).

aquelas mesmas potências que tinham assinado as rígidas haviam surgido nos anos precedentes, puderam se exprimir
cláusulas da derrota e julgaram sua política exterior incapaz com maior liberdade. O desenvolvimento dos meios de
de restituir ao país seu papel hegemônico na Europa central. comunicação de massa encontrou seu interlocutor natural
Em 1927, Stresemann e Briand receberam o Nobel da Paz: num público sempre mais amplo e variado. A literatura e O
na Europa, muitos estavam convencidos de que a paz já esti- teatro procuraram desse modo novas formas: da difusão da
vesse garantida para os anos futuros. reportagem como gênero literário, à grande experiência do
teatro político de Erwin Piscator, ao cabaré.
A VIDA CULTURAL A produção em série de objetos domésticos levou ao
desenvolvimento das artes aplicadas, de escala artesanal a
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Depois de 1918, a vida cultural alemã apresentou aspectos


contraditórios. Ao lado de experiências pedagógicas e didá- um nível industrial. O surgimento do Bauhaus como centro
ticas de vanguarda, prevaleceu, com efeito, a continuidade formador e cultural, empenhado na renovação da arquitetura
tanto nos programas como na organização do sistema escolar. habitacional e de projetos de decoração, reuniu, primeiro em
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A maioria do corpo docente nunca aderiu com convicção à Weimar e depois em Dessau, arquitetos (Walter Gropius),
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causa republicana; pelo contrário, manteve-se muitas vezes pintores (Oskar Schlemmer, Wassily Kandinsky, Johannes
Itten), fotógrafos (Lazló Moholy-Nagy, John Heartield). Em
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em posições antidemocráticas. No campo artístico, a Ale-


manha de Weimar viveu, no entanto, um período de grande oposição ao decorativismo “decadente” e burguês, surgiram
tanto o movimento da “nova objetividade” como aquele
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riqueza cultural e inovadora, no qual muitas tendências, que


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30 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

SOCIEDADE DE MASSA de boxe e velódromos foram maiores com relação ao tra-


E TEMPO LIVRE sempre mais frequentados, dicional associacionismo de
particularmente pelos jovens. antes da guerra, uma vez que
No decorrer da década de quica dos bens no âmbito do O associacionismo teve notá- havia aumentado a disponibili-
1920, a Alemanha tinha uma núcleo familiar.À introdução vel expansão em todos os ní- dade política das massas para
boa dotação de bens indus- da semana de trabalho de 40 veis: operário, juvenil, cultural as grandes mobilizações e a
triais e de amplo consumo. horas e das férias remune- e esportivo. Depois da crise tecnologia para a manipulação
Em 1932, 66 habitantes de radas criaram as premissas dos velhos modelos liberais da opinião pública passara por
cada 1.000 possuíam um apa- para a organização do tempo e autoritários, da mobilização uma grande transformação. As
relho de rádio, 52 uma televi- livre dos assalariados.À ideia em massa promovida pela massas organizadas, a partir
são e um automóvel (a média moderna do tempo livre (um Primeira Guerra Mundial e daí, começaram a participar
europeia era de 38, 20 e 7, luxo que até então tinha sido das transformações políticas, dos cortejos e das grandes
respectivamente). O grande reservado à burguesia) estava socioculturais e tecnológicas, manifestações políticas.
processo de industrialização potencialmente ao alcance as formas da vida pública
tinha criado as premissas da de todos. Difundiu-se a moda conheceram uma notável mu-
produção e do consumo em dos parques de diversões, dos dança. Foi necessário recorrer À MARGEM DO LAGO
massa.À urbanização tinha teatros de variedade e dos sa- a fórmulas de expressão co- Berlinenses num café nos arredo-
reduzido a produção autár- letiva de dimensões e alcance res da capital (no alto).

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VARIEDADE BERLINENSE Bailarinas no camarim antes de entrar em
32 MH HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

VENDA DE HORTALIÇAS
NUMA CIDADE ALEMÃ

POLÍCIA CONTRA
OS GREVISTAS
Causados por uma excessiva emis-
são de moeda, os impressionantes
indices de inflação, que marcaram
os anos de VVeimar, enfraqueceram
o poder de compra do marco, atin-
gindo especialmente todos aqueles
que garantiam sua subsistência
com uma renda fixa (embaixo).
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expressionista, que se apresentavam como verdadeiros intér- período foram profundamente críticos com relação à nova
pretes da vida cotidiana, próximos das pessoas. Contra as ordem, a seu ver incapaz de se tornar portadora de uma ino-
decorações e o catálogo dos estilos em arquitetura, passou-se vação realmente radical.
a defender uma construção liberada do ornamento ou ime- Os últimos anos da república foram caracterizados por uma
diata e direta. guinada para a exaltação da guerra, que preparou e difundiu a
As novas técnicas fotográficas e cinematográficas permi- mentalidade e a ideologia fascista. Diante dessa polarização
tiram o desenvolvimento de linguagens autônomas, ligadas e radicalização, no início da década de 1930, muitos intelec-
à imagem e à cultura da metrópole, não mais tomadas da tuais se retiraram da vida pública, afirmando a primazia da
literatura e do teatro, com o trabalho de maestros como Fritz interiorização.
Lang, Max Ophiils e Friedrich W. Murnau.
Elemento característico de grande parte das expressões CRISE ECONÔMICA E DESEMPREGO
culturais foi a falta de identificação com os novos valores À crise econômica de 1929 teve suas raízes essencial-
republicanos e democráticos por causa dos limites do refor- mente no desenvolvimento capitalista e financeiro dos
mismo da política social-democrática, que assinalaram tam- Estados Unidos. Os estreitos laços que a Alemanha tinha,
bém sua incidência na vida cultural e sua elaboração ideo- desde o início da década de 1920, com a economia ameri-
lógica. Muitos dos intelectuais mais ativos e atuantes do

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cana fez com que se tornasse um dos países mais atingidos dos preços e pela redução de seu poder de compra. Tanto o
pela crise. À recessão produtiva assumiu níveis dramáticos, seguro contra o desemprego, garantido por lei desde 1921,
em particular no setor dos bens de consumo. Os salários como o subsídio de crise eram suficientes para um período
sofreram uma maciça contração, em parte por causa do corte relativamente breve. À pobreza crescente se juntavam um
dos salários mínimos decretado pelo governo, como também difundido senso de frustração e a falta de perspectivas. Com
pela falta de cumprimento dos contratos coletivos de traba- a crise econômica, a república de Weimar perdia ulterior-
lho pelos empresários; os preços, ao contrário, continuaram mente sua legitimidade, em vista de sua conclamada falên-
a aumentar. Os índices mais alarmantes se referiram, con- cia no setor social. Os grupos militarizados de direita e de
tudo, ao desemprego que passou de 8,5% de 1929 a 29,9% esquerda ofereciam coesão e oportunidades para preencher
em 1932, isto é, cerca de 5,5 milhões de desempregados o dia que os desempregados não encontravam em outro
registrados, aos quais devem ser acrescentados cerca de um lugar: a disciplina da organização substituiu a do trabalho. A
milhão de não oficiais. crise econômica mundial foi uma das causas fundamentais
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Os mais atingidos foram os operários, em particular do colapso definitivo da república: de um lado, promoveu
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uma radicalização das massas dispostas a tudo para sair do


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os mineiros e os trabalhadores da indústria pesada, e os


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empregados. Muitos funcionários públicos não perderam o angustiante presente; de outro, concedeu aos conservadores
emprego, mas sofreram uma nítida redução do estipêndio; ocasião de desferir o golpe definitivo ao sistema que se havia
pequenos lojistas e comerciantes foram atingidos pela queda firmado em 1918.

CARCAÇA DE CAVALO
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No auge da crise, populares ten-


a tam retirar um pouco de alimento
da carne do animal exposta na via
pública.
34 H HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

CAMINHÃO DE PROPAGANDA
NAZISTA ATRAVESSA O PORTÃO
DE BRANDEMBURGO (BERLIM)
No início, o partido nazista agiu
sobretudo como força de pressão
nas praças e como organização
que reunia ideologicamente os
conservadores e os segmentos
populares atingidos pela crise.

O CRESCIMENTO DO NSDAP obteve sucesso decisivo nas áreas rurais e nas cidades pegue-
Os efeitos da grande crise mundial coincidiram com o nas e médias, enquanto nos grandes centros urbanos os par-
crescimento eleitoral do partido nazista, cuja força provinha tidos operários mantiveram certa força. Os dados eleitorais
principalmente do esfacelamento progressivo das institui- demonstram que, entre 1930 e 1933, os nazistas conseguiram
ções republicanas e do redimensionamento em ato no setor a maioria de seus votos no tradicional eleitorado das forças
de direita do alinhamento político. O NSDA?P foi favorecido burguesas. O aumento do número dos deputados permitiu
pelo desmantelamento da ideia de democracia na consciên- aos nazistas utilizar o parlamento como caixa de ressonância
cia popular: a maioria da população, profundamente abatida de suas palavras de ordem. O aumento de inscritos e sim-
com o desemprego e a incerteza, reclamava uma ordem qual- patizantes se traduziu num ativismo de praça pública, capaz
quer, capaz de garantir estabilidade para o futuro. A tradição de canalizar a insatisfação e a rebeldia. A grande habilidade
autoritária da Alemanha imperial tinha raízes profundas e do NSDAP foi utilizar todas as técnicas de manipulação dos
era fácil induzir a maioria a pensar que a única solução seria comportamentos coletivos. Uma contribuição essencial para
o retorno àqueles princípios que a república tinha se pro- sua vitória foi dada também pelos setores de ponta da eco-
posto eliminar, mas revelando-se incapaz de substituí-los nomia alemã que, especialmente depois de 1930, estavam
por novos conteúdos. A partir de 1930, o partido nazista convencidos da necessidade do restabelecimento de uma
continuou a crescer, favorecido também pela impotência das ordem autoritária e antissocialista, e financiaram generosa-
forças democráticas diante da expansão da crise. O NSDAP mente o partido.

ALFRED do partido nacional alemão, nhava também o apoio dos levou a superar as rivalidades
HUGENBERG sua afirmação marcou uma setores fortes da economia, existentes entre os partidos
etapa fundamental para a mas também de como os da direita nacionalista a que
Nascido em Hannover em concentração em torno do representantes dos partidos todos visavam, com poucas di-
[865,a partir de 1890 fez INSDAP das forças nacionalis- conservadores pensavam em ferenças de perspectiva, a uma
parte de numerosos círculos tas e pangermanistas. Finan- explorar a força de pressão restauração autoritária. Com
e organizações nacionalistas. ciou o partido nazista, decidi- nazista para romper definiti- relação a estes,o NSDAP ti-
Grande industrial, durante a do a utilizá-lo, precisamente vamente a frente democrática nha, porém, a vantagem de ter
guerra construiu um imenso por sua grande capacidade e, depois, centralizar nas pró- introduzido na política o mê-
império econômico, graças de atração nas praças, como prias mãos o poder político todo das esquadras de choque
especialmente ao controle de cabeça de ponte para destruir e repropor um alinhamento em praça pública. O destino
grande parte da imprensa e o sistema weimariano. O peso conservador de tipo imperial, do partido de Hugenberg, que
de outros meios de comuni- econômico de Hugenberg mais que um novo sistema se dissolveu pouco depois de
cação, que soube utilizar para e seu papel político foram a de alianças. A decisão de janeiro de 1933, teria mostra-
combater violentamente a prova mais concreta de co- Hungenberg de resolver a do nos anos seguintes a falta
recém-constituída república, mo, por detrás do crescente crise alemã por meio de um de fundamento desses proje- |
Eleito em 1928 à presidência sucesso do NSDAR se dese- golpe de força antiparlamentar tos de restauração. 1%
DA ESTABILIDADE À CRISE E 35
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DE LEITE No início dos anos 1730,a cada dois trabalhadores um estay


“CRIANÇAS À ESPERA DE SUA RA
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a as fam pert ence ntes aos seto res mais humi ldes da soci edade, com con-
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ílias alem ãs
ra m o já pes ado cli ma de in segu ranç a que se havi a difu ndid o no país após a guerra,
* sequências psicológicase materiais que exaspera
ENTE
36 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

SUÁSTICA NAS BANDEIRAS


Símbolo do valor mágico-religioso
difundido em suas origens entre
populações do tronco linguístico
indo-europeu, transformou-se, com
o prolongamento de seus braços,
na cruz gamada que os nazistas
adotaram como emblema de sua
organização política,

PROIBIDO FALAR
Hitler amordaçado num cartaz de
propaganda nazista de 1926.

À DESAGREGAÇÃO DA REPÚBLICA 1930, o presidente Hindenburg conferiu ao católico Hein-


Foi a crise econômica que infligiu o golpe de graça à rich Brining o mandato para formar um novo governo,
coalizão de Weimar. Os contrastes entre os partidos de aplicando o artigo 48 da Constituição: este não deveria
governo sobre como enfrentar a emergência econômica responder ao parlamento sobre sua atuação, mas depen-
eram sempre mais marcantes e a luta política assumiu um deria exclusivamente da confiança do presidente. Inau-
radicalismo e uma virulência extremos. Os partidos ope- gurava-se assim o período de gabinetes presidenciais que,
rários, embora continuassem a reunir a maior parte do sem poder ser considerados como a inevitável premissa do
eleitorado proletário, foram incapazes tanto de enfrentar a triunfo nazista, desferiram um derradeiro golpe ao sistema
emergência social e econômica como de perceber a ameaça democrático. Entre 1930 e 1933, as forças conservadoras
representada pelo NSDAP. Este último, com efeito, inci- se aliaram ao partido nazista, a fim de utilizá-lo como força
tava o protesto em praça pública, agressivo e terrorista, de pressão para derrubar o sistema, convencidas de que
contra os partidos operários e contra todas as forças que teria sido possível privá-lo de seu potencial subversivo e
se identificavam de algum modo com o sistema democrá- integrá-lo depois numa coalizão de governo. Os conser-
tico: organizações pacifistas, movimentos antimilitaristas, vadores davam por certo o fim da república democrática,
intelectuais. mas não souberam avaliar o peso subversivo e inovador
No âmbito governamental delineava-se o alinhamento do NSDAP, tornando-se eles próprios vítimas, depois de
de forças que teriam sepultado a república. Em março de 1933, de sua estratégia.

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O LIVRO MEIN crevia — que, numa época de Em contrapartida, o espaço de- tar-se às circunstâncias contin-
KAMPF decadência das raças, dedica-se dicado às questões econômicas gentes, prometendo aquilo que

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aos cuidados de seus melhores era bastante escasso e havia so- se sabia que era do agrado dos

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Minha luta foi redigido por elementos raciais deverá um mente afirmações muito vagas. presentes, sem preocupar-se
Hitler em 1924, durante a de- dia tornar-se dono do mundo”, Mein Kampf foi traduzido em com as reais possibilidades de
tenção, depois do fracassado 6 línguas e, até 1940, foram atuação. Seria errôneo, con-
putsch de Munique. O pri- e + publicados |O milhões tudo, pensar que, já em 1924,
meiro volume saiu em 1925 ap E — de exemplares.É difícil Hitler visse claramente todo
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e o segundo, no ano seguin- pao sor MEIN KAMPI estabelecer quantas pes- o sucessivo desenvolvimento E
te. Nele eram expressos al- Es.
soas realmente o leram político: Mein Kampf é mais um q
guns pontos fundamentais e quantas, entre aquelas testemunho das linhas mestras|
de sua concepção política que o leram, entenderam de seu pensamento, que foi q
e ideológica, em particular sua mensagem. Além dis- possível em boa parte realizar |RE
no tocante ao espaço vital so, nas manifestações e por meio de um concurso: de É
e à questão judaica, dois | nos discursos de propa- circunstâncias que certamente
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aspectos profundamente | é.
Ô ganda prevaleceu sem- não era previsível em meados
pre a tendência a adap- da década de 1920.
Treme lhos Dindi, Ex a Tiudra

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ligados: “Um Estado — es-


DA ESTABILIDADE À CRISE E 37

A CIDADE E A POLÍTICA
HABITACIONAL

As experiências urbanas May em Frankfurt, as cidades-


promovidas antes da Gran- Satélite, os parques, os esta-
de Guerra (movimento das belecimentos balneários de
cidades-jardim, intervenções Martin Wagner em Berlim, as
para construir aldeias rurais grandes cortes de Fritz Schu-
ou de filantropia industrial, macher em Hamburgo. Esses
bairros-modelo) tiveram re- cenários serviram de fundo
novado empenho na década para Os romances de Alfred
de 1920 em teorizações e, Dôblin sobre as repentinas
às vezes, em realizações que transformações urbanas ou
tinham por objeto a cidade para as reflexões de Walter
do trabalho (Trabantenstadt), Benjamin sobre a Berlim em
a cidade socialista, alternativa movimento. A política da casa, lógicos, traduzidos em requi- enfrentaram o tema da ra-
à cidade burguesa do século fortemente incentivada em sitos habitacionais, impuseram cionalização doméstica e da
XIX (Ernst May, Ludwig Hil- formas cooperativas ou tute- as medidas mínimas do habitar. vida da mulher, em particular a
berseimer). O mesmo modelo lada por acordos com as cen- Interessantes as experiências Frankfurter Kiche de Grete
de metrópole (Groszstadt) trais sindicais, conheceu um que num horizonte reformista Schiltte-Likowsky.
foi pensado não mais como feliz período de experiência
demonização do grande nú- na construção de bairros com
mero, mas como horizonte objetivos de alta qualidade de EMPÓRIO VWVERTHEIM EM
reformista onde a cidade vida (Berlim Britz de Bruno BERLIM
O edifício era um local para
era não somente o lugar da Taut, por exemplo). A neces-
as compras da classe média da
fábrica racionalizada (AEG, sidade de alojamentos levou à capital (no alto).
Siemens), mas também de massificação da produção (as
uma vida cotidiana em parte fábricas de casas) e a extremi- CENTRO RESIDENCIAL
CARL LEGIEN
liberada do trabalho, racio- zações e slogans como o Exis-
Na década de 1920,
nalmente organizada inclusive tenzminimum, segundo o qual Berlim esteve na vanguarda,
no tempo livre: exemplo disso enxutos parâmetros socio- na arquitetura urbana.
foram os bairros-modelo e
as escolas de Ernst

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ntre 1932 e 1933, existiam ainda possibilidades de


compromisso entre a classe política, as velhas elites
sociais eo NSDA?P que, nas eleições para o Reichstag
de setembro de 1930, havia obtido 18,3% dos votos.
O alinhamento em torno do presidente do Reich fez com que
fosse superada a desconfiança que tinha impedido até agora a
nomeação de Hitler como chanceler, pensando que seria “cer-
cado” pelos homens de confiança da direita. Em 30 de janeiro
de 1933, o marechal Hindenburg confiou a Hitler a missão de
formar o governo. À preocupação inicial do novo chanceler
foi demonstrar a própria moderação. Seu gabinete foi formado
por uma minoria de nazistas, ao lado dos quais havia os repre-
sentantes das várias correntes da direita conservadora e das
forças armadas, certos ainda de poder controlar a situação.
Franz von Papen, vice-chanceler, Hugenberg no Ministério
da Economia, Werner von Blomberg na Defesa e Franz Seldte,
no Ministério do Trabalho, pareciam suficientes para neutra-
art
40 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

O cHANCELER HITLER
E O PRESIDENTE HINDENBURG
EM 1933 (p. 38)

O INCÊNDIO DO PARLAMENTO
(na abertura).

PROPAGANDA
O cartaz nazista, que acusa os
comunistas de ter ateado fogo ao
Reichstag, convida a votar na lista
liderada por Hitler.

lizar os nacional-socialistas Frick, no Ministério do Interior, O INCÊNDIO DO REICHSTAG


e Hermann Góring, ministro sem pasta. Em poucos meses, Na noite de 27 de fevereiro de 1933, o Reichstag foi
foi posta em movimento a chamada “revolução nacional” incendiado. O culpado, o comunista holandês Martin Van
que se estendeu muito além do projeto dos conservadores e der Lubbe, foi preso e condenado à morte. Ainda hoje é con-
mudou a concessão do poder em tomada do poder. O cartel troversa a questão das reais responsabilidades desse gesto:
das elites da economia, do exército e do NSDAP que entre- certo é que o episódio foi habilmente explorado pelo novo
mentes se havia consolidado e que tinha como fins comuns governo. No dia seguinte, Hitler fez Hindenburg assinar um
a destruição do movimento operário, a instauração da dita- “decreto para a proteção do povo e do Estado” que abolia
dura e a aceleração forçada do rearmamento, acabou por se alguns princípios fundamentais como a liberdade de opinião,
configurar como a estrutura de poder do Terceiro Reich. Os de imprensa, de associação; suspendia o segredo epistolar, a
dirigentes dos partidos operários e dos sindicatos estavam, no inviolabilidade do domicílio e reforçava as penalidades para
início de 1933, resignados e passivos. Ainda que partindo de certas acusações, restabelecendo em alguns casos também a
perspectivas diversas, os partidos antifascistas tinham sido pena de morte. A detenção por razões de segurança foi lega-
incapazes de colher as mudanças em ato e, entrincheirados lizada como medida preventiva que permitia deter inimigos
em suas posições, renunciaram a uma estratégia comum. No políticos e aplicada especialmente contra os comunistas.
dia 30 de janeiro de 1933, o princípio da ação tinha passado A medida de 28 de fevereiro não vinculava de modo
definitivamente para outras mãos. algum o chanceler à autoridade do presidente do Reich;

Um MONTE DE RUÍNAS E =,

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O que restava do plenário do
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Reichstag depois do incêndio de


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27 de fevereiro de 1933. O ato cri-


minoso foi instrumentalizado por
Hitler para baixar um decreto for-
temente limitativo das liberdades
civis e políticas e que reintroduzia
a pena de morte.
A "REVOLUÇÃO NACIONAL" E 4]

FRANZ VON PAPEN


No governo do país por alguns
meses em 1932, geriu a última fase
da agonia da república de VYeimar.
Deixou livres os esquadrões para-
militares nazistas e foi nomeado
vice-chanceler no primeiro gabine-
te de Hitler.

CARTAZES ELEITORAIS

REVOLUÇÃO NACIONAL
Cartaz nazista (embaixo).

foi assim institucionalizado o estado de emergência que vezes e somente para aplau-
caracterizou toda a duração do regime nazista. As eleições dir e ratificar as decisões
convocadas para 5 de março de 1933 se desenvolveram do Fiihrer. Todo resíduo de
num clima de violência terrorista. Com 43,9% dos votos, colegialidade política havia
o NSDAP não obteve a maioria absoluta como esperava. desaparecido.
No dia 23 de março, reuniu-se o novo parlamento, do
qual ficavam praticamente excluídos os comunistas; foi DEPURAÇÃO DO
votada uma lei que atribuía plenos poderes ao Fiihrer: eram ESTADO E DA SOCIEDADE
colocadas, desse modo, as bases para o fortalecimento do O plano das forças conser-
executivo e o definitivo desmantelamento do sistema de vadoras de “cercar? o partido
Weimar. A lei foi aprovada com 444 votos favoráveis e 94 nazista e dobrá-lo a suas exi-
contrários. À oposição ficou a cargo dos social-democra- gências revelou-se muito cedo
tas e seu presidente Otto Wels denunciou com coragem o uma ilusão. No dia 9 de março,
sepultamento da democracia. Os representantes de todos tinham sido anulados os manda-
os outros partidos votaram a favor, convencidos de que era tos parlamentares dos comunis-
necessário ter um executivo forte para garantir um retorno tas: muitos deputados e funcio-
ordem. Daí em diante, os parlamentares se reuniram raras nários foram presos ou obrigados

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42 HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

“Nossa ÚLTIMA ESPERANÇA:


HirLER”

SOCIAL-DEMOCRATAS = JUDEUS
A frase “Eu, bisneto de Mardoqueu
Marx, lhes dei meu simbolo” alude
com sarcasmo ao fato de que os
cabelos crespos dos judeus se
tornam flechas, simbolo da social-
democracia alema.

DESFILE DAS SA
Os cartazes intimam:“Não com-
prem dos judeus!” (embaixo).

a deixar o país. A social-democracia, decidida a manter-se origem “não-ariana”: antes mesmo que fosse criada uma
no âmbito da legalidade, tinha, no entanto, enviado ao legislação racial, o princípio racista era sancionado num
exterior alguns de seus funcionários mais importantes e, setor essencial da vida do Estado. Ao mesmo tempo as vio-
quando no dia 22 junho, o partido foi declarado ilegal, o Iências de rua, revoltas num primeiro momento especial-
grupo dirigente decidiu continuar no exterior sua batalha mente contra os partidos operários, começaram a atingir
antinazista. Os outros partidos se dissolveram e, no fim de também os judeus. No dia 1º de abril foi organizada uma
junho, o NSDAP era a única força política legal. A situação ação para boicotar lojas de judeus, que inaugurou a série de
ficava sempre mais difícil para todos aqueles que se haviam ações coordenadas pelo governo e, embora essa iniciativa
empenhado contra o regime; para fugir do perigo iminente e não fosse realmente coroada de êxito, começou a difundir-se
poder continuar a se exprimir livremente a fim de denunciar em setores sempre mais amplos a convicção da culpa e da
o que ocorria em seu país, muitos intelectuais escolheram inferioridade dos judeus.
o caminho do exílio.
No dia 7 de abril foi criada a lei “para o restabelecimento AS IGREJAS E O NAZISMO
da burocracia profissional”, destinada a subordinar o apa- As igrejas católica e evangélica tiveram, nos primeiros
relho administrativo aos ditames do novo regime. Foram anos do governo de Hitler, um importante papel no fortale-
despedidos os funcionários que haviam entrado em serviço cimento da autoridade do Estado nazista e na eliminação de
depois de 9 de novembro de 1918 e aqueles que eram de possíveis núcleos de oposição.

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44 [E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

A QUEIMA
DOS LIVROS
No dia 10 de maio de 1933
foram queimados nas praças
de muitas cidades universi-
tárias milhares de livros de
autores como Sigmund Freud,
Karl Marx, Erich Marie Re-
marque, Carl von Ossietzky,
Kurt Tucholsky. As queimas
tinham sido organizadas pelas
ligas estudantis e a maioria
dos professores participou,
demonstrando que nenhuma
oposição ao novo regime
proviria das universidades.
Não se tratou, porém, como
se pretendia fazer crer, de
um gesto improvisado que
deveria deixar transparecer
os mais autênticos sentimen-

tos dos alemães, mas de uma jurioso contra os autores que pretendia ser a concreta
ação planejada e coordena- condenados.A queima não foi demonstração de que o es-
da por Goebbels que, em somente um ato de barbárie, pírito alemão mais autêntico
Berlim, pronunciou inclusive mas mostrou a pretensão do não havia sido queimado, mas
um discurso violento e in- governo nazista de conquistar somente obrigado a calar-se
a hegemonia cultural. As ima- em seu próprio país.
gens das chamas que incine-
ravam os livros repercutiram
por toda a Europa, suscitando
enorme indignação. Muitos
intelectuais alemães no exí-
lio consideraram esse ato
uma ulterior confirmação CORTEJO MACABRO
de sua dolorosa escolha. No Universitários desfilam em torno
primeiro aniversário desse de uma fogueira de livros. Essas
ações foram um sinal preciso do
episódio, 10 de maio de 1934, terror que seria instalado pelos
um grupo de intelectuais, sob nazistas (no alto).
a coordenação de Heinrich
Erich Marie Remarque
Mann, inaugurou em Paris a
Um dos escritores cujos livros
biblioteca alemã da liberdade foram queimados nas praças ale-
(Deutsche Freiheitsbibliothek) mãs em maio de 1933.
A "REVOLUÇÃO NACIONAL" E 45

CRIANÇAS AGITAM
BANDEIRINHAS COM A CRUZ
GAMADA NA PASSAGEM
DO FÚUHRER

ARCEBISPO ITALIANO
Eugenio Pacelli — futuro papa
Pio XII — foi núncio apostólico
primeiro em Munique e depois
em Berlim, na década de 1920
(embaixo).

Em poucos meses foram definidas as relações com as confessante se empenhou particularmente em defender
duas confissões, que representavam respectivamente um seu espaço de ação, chegando às vezes a formas de oposição
terço e dois terços dos fiéis cristãos. Uma lei de 14 de mais radical.
julho de 1933 punha fim à organização em 28 circunscri- À igreja católica sofreu, nos primeiros meses de 1933, um
ções da igreja evangélica e criava uma estrutura unitária duro golpe do regime: propaganda contra as escolas católicas,
guiada por um bispo do Reich, segundo um modelo que se ataques na imprensa, crescente limitação da liberdade de ação
reportava claramente ao Fiihrerprinzip. Tinha-se chegado a das associações. No dia 20 de julho foi firmado um acordo
isso por iniciativa da corrente majoritária dentro da igreja entre o governo de Hitler e a Santa Sé que deveria regular as
evangélica (os Deutsche Christen), favorável a um Estado relações recíprocas nos anos seguintes e que contribuiu para
autoritário e que apoiou a política nazista inclusive nos aumentar o prestígio internacional do nazismo. O Estado
anos seguintes, chegando até a defender a discriminação reconhecia a liberdade de culto e de atividade às escolas e
dos judeus. Os evangélicos contrários a essas posições se às associações, na medida em que se limitassem a objetivos
refugiaram na “igreja confessante” que, reunida em sínodo culturais e caritativos. De seu lado, a Santa Sé proibiu toda
em maio de 1934, divulgou sua posição, segundo a qual atividade política ao clero. Nos anos subsequentes, o regime
mesmo um Estado totalitário devia reconhecer um limite desrespeitou essas cláusulas e a oposição cresceu também no
nos mandamentos divinos. Nos anos seguintes, a igreja interior do mundo católico.
46 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ADOLF HITLER nome para NSDAP Seu pres- de 1934. Nos anos seguintes, guiar seus destinos por doze
tígio dentro do partido conti- seu poder e prestígio conti- anos se deve a três fatores:

Adolf Hitler nasceu em 1889 nuou crescendo e, depois da nuaram crescendo, mesmo a tenaz oposição de consi-
na localidade austríaca de prisão por causa do putsch porque sempre permaneceu derável parte dos ambientes
Brunau am Inn. Filho de um de Munique, tornou-se seu lí- distante de todo conflito conservadores à república
funcionário aduaneiro e de que pudesse dividir as elites de VVeimar; à crescente insa-
der indiscutível. Nas eleições
sua terceira mulher, depois de 1930, o NSDAP assumiu do poder nazista ou que se tisfação em amplas camadas
da morte do pai interrompeu características de partido de referisse a questões políticas da população, vinculada so-

os estudos e requereu, sem massa com [07 deputados e mais genéricas. O mito cria- bretudo à crise econômica:
sucesso, sua admissão para a Hitler passou a fazer parte do em torno de sua figura sua capacidade oratória,
Academia de Belas Artes de da frente das direitas (frente foi um dos mais formidáveis que fez dele uma espécie de
Viena; manteve-se trabalhan- de Harzburg) nos mesmos instrumentos de consenso messias aos olhos de muitos
do como pintor de paredes e termos dos outros compo- no Terceiro Reich e começou alemães desejosos em mu-
ilustrador de cartões-postais. nentes. Em 1932 obteve a a vacilar somente durante a dar a própria situação. Não
Em 1913, transferiu-se para nacionalidade alemã e, desse guerra, quando não era mais há, portanto, em sua incrível
Munique. No ano seguinte, modo, pôde aspirar ao car- possível fazer crer que a si- ascensão, aspectos diabólicos
com a eclosão da guerra, alis- go de chanceler, que lhe foi tuação poderia melhorar. ou inexplicáveis, mas somen-
tou-se como voluntário. No confiado no ano seguinte Quando, em 1913, Hitler se te um complexo e articulado
fim do conflito, voltou para pelo presidente Hindenburg. transferiu de Viena para Mu- concurso de circunstâncias.
Munique, onde entrou para As etapas de sua ascensão nique, sua bagagem ideológica
um batalhão de reserva e se política coincidiram com o era bastante confusa, baseada
aproximou dos ambientes desmantelamento do sistema no antissemitismo e num im- PROVAS DE RECITAÇÃO
de extrema direita. Em I919, democrático e a centraliza- perialismo racista. O fato de “Apocalíptico, visionário, con-
que tenha conseguido tornar- vincente”: estas são as legendas
inscreveu-se no partido dos ção de todo o poder estatal
(da esquerda para a direita) das
trabalhadores alemães que, em suas mãos, processo que se o dirigente do mais pode- fotografias tiradas por Heinrich
no ano seguinte, alterou seu foi concluído no decorrer roso partido na Alemanha e Hoffman em 1925 (no alto).
A "REVOLUÇÃO NACIONAL" E 47
ma

| HITLER EM NUREMBERG
48 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

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Um GRrUPO DAS SÃ FAZ di
"8
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PROPAGANDA DE UMA LOTERIA ET
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GREGOR STRASSER
Lider de ponta do partido nazista ui,

(a esquerda na fotografia), desejava


uma guinada de cunho social para a
“revolução nacional”. Foi morto na
“noite das facas longas” (embaixo,
a esquerda).

HiTLER E ERNST RÕHM


Em 1931, Rôhm se tornou chefe
das SA que, dois anos depois, con-
tavam cerca de 2 milhões de mem-
bros (embaixo, à direita).

À NOITE DAS FACAS LONGAS Góoring e Heinrich Himmler, cada um interessado em aumen-
O partido nazista se caracterizava pela presença simulttá- tar sua esfera de influência, queriam marginalizar as SA e os
nea de diversas “almas” no núcleo da orientação política. Em projetos de Róhm relativos à “segunda revolução”. O próprio
julho de 1933, depois do desaparecimento do partido católico Hitler se convenceu de que era necessário pôr fim por meio
do Zentrum (Centro) como último potencial concorrente, da violência ao potencial subversivo que colocava em perigoa
Hitler declarou concluída a fase da “revolução” e o início da aliança sempre mais estreita com os grupos conservadores.
“evolução”. Essa perspectiva não era compartilhada por Ernst Destinada a fazer crer que as SA estivessem organizando
Rôóhm, chefe das SA e líder da ala movimentista do partido um golpe de Estado, na noite de 30 junho de 1934 foi prepa-
que, com a organização paramilitar por ele comandada, estava rada uma encenação que passou para a história como a “noite
decidido a manter os impulsos ativistas e revolucionários. das facas longas” — Róhm e mais de cem membros das SA
Róhm considerava as SA como o núcleo de uma futura milí- foram mortos. Desse modo foram eliminados muitos adversá-
cia do povo, que deveria contrapor-se ao exército. A inserção rios considerados perigosos e foi derrotada a corrente rebelde
do partido no tradicional aparato de poder não correspondia que tinha constituído a força de pressão do NSDA?P nos anos
a seus ideais e muito menos o proclamado fim da fase revo- de Weimar e que agora se perfilava contra as exigências de
lucionária. Entretanto, graças à mediação do presidente Hin- normalização do partido. Hindenburg agradeceu a Hitler por
denburg, a ligação de Hitler com a Reichswehr se solidificava, ter salvo o país; o estado-maior do exército, apesar de terem
enquanto personalidades como Joseph Goebbels, Hermann sido mortos também dois generais, não interveio; as igrejas

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PAUL VON HINDENBURG força, o peso político e econô-


mico dos grandes latifundiários
Nascido em 1847, filho de VVeimar. Eleito presidente da da Alemanha oriental, decla-
radamente hostis ao sistema
um oficial de carreira, desde república em 1925, desiludiu
muitos conservadores, pois foi democrático. Hindenburg
cedo foi iniciado na carreira
constituiu um traço de união
militar. Combateu na guerra fiel ao governo parlamentar e
deu voto de confiança à políti- fundamental entre o mundo
franco-prussiana de 18/72 e
agrícola conservador e o
daí começou sua ascensão até ca externa de Stresemann. De-
crescente movimento nazis-
os mais altos postos do exér- pois da nomeação de Brúning
ta, que teve,a partir do final
cito. Hindenburg entrou para como chanceler em 1930 e do
da década de 1920, uma
a reserva em 1908, mas foi início dos gabinetes presiden-
enorme expansão nas áreas
reconvocado com a eclosão ciais, Hindenburg se envolveu
rurais. Depois da nomeação
da Primeira Guerra Mundial.A mais diretamente na gestão
de Hitler como chanceler e
partir de 1916, tornou-se co- da vida política, procurando
até sua morte, ocorrida no
mandante supremo do exérci- conferir-lhe um direcionamen-
ano seguinte, Hindenburg
to e, junto com o general Erich to à direita sem, no entanto,
se afastou da vida política.
[udendorff, definiu a condução abandonar os fundamentos da
(da guerra alemã, pondo em Constituição. Foi reeleito em
prática as primeiras formas de [932 com os votos dos so- Com HiTLER E GÓRING
guerra total. No pós-guerra cial-democratas e do Zentrum, Hindenburg decretou a unificação
1 e ED
partido católico, que não O dos cargos de chanceler e de
e * contribuiu para difundir a presidente do Reich, na pessoa de
E | Tenda de um exército invicto tinham apoiado nas eleições Hitler (no alto).
precedentes. Por trás da figura
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DA JUVENTUDE HITLERISTA
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50 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

À ALEMANHA É LIVRE!
A fotografia do Fuhrer se sobressai
num cartaz de 1934,

REICHSWEHR E SA
Desfile de regimentos do exército
seguidos por aqueles das SA.A
união entre as forças armadas e os
grupos paramilitares garantiu uma
imponente força de pressão para o
nazismo em ascensão (embaixo).

se calaram: a violência e a ilegalidade já eram aceitas como Após a morte do presidente Hindenburg, Hitler assu-
instrumento de governo. miu, além do cargo de chanceler, também o de presidente
do Reich e de comandante supremo das forças armadas.
O ESTADO TOTALITÁRIO Completava-se assim a construção do papel do Fihrer, não
A lei emanada no dia 14 de julho de 1933 sancionou a exis- somente dentro do partido, como também do ponto de vista
tência de um só partido. Foram anuladas as autonomias locais, institucional. O princípio do chefe (Fiihrerprinzip) se tornou
regionais e municipais: outro passo para a liquidação de toda o fundamento do poder nazista: a estrutura piramidal culmi-
forma de independência e diversidade e um fortalecimento do nava no Fiúhrer, chefe carismático e vértice supremo, fonte
poder de controle do governo central. Foi criado o Gauleiter, de direito e base de legitimação da ditadura. O modelo que
dirigente de partido e chefe de uma circunscrição administra- governava o vértice do Reich foi reproduzido em todos os
tiva, confirmando a cada vez mais completa integração entre níveis da estrutura política e administrativa, estabelecendo
Estado e partido. A autonomia legislativa das Ltinder (regiões) a obrigação de obediência de baixo para o alto. Hitler, além
foi progressivamente perdendo peso até a completa abolição, da condução indiscutível do partido, detinha em si um tal
com a lei relativa à organização do Reich de 30 de janeiro de poder que podia controlar, ele próprio, o inteiro aparato
1934. A concentração de toda autoridade nas mãos de Adolf estatal. Depois de um ano e meio somente, desde sua posse
Hitler foi atingida no decorrer desse ano. A eliminação de Rôhm no governo, o regime nazista concluiu a construção da nova
e de seus partidários constituiu uma etapa fundamental. estrutura institucional.
A "REVOLUÇÃO NACIONAL" mm 5|

MEDALHAS E DISTINTIVOS
NAZISTAS

SAUDAÇÃO DAS SA A HITLER


Convencido de ser o depositário
de uma missão histórica para a
Alemanha, o chefe indiscutível
do nazismo soube utilizar com
habilidade a aspiração de seus
partidários em encontrar um líder
carismático (embaixo).

À IDEOLOGIA NAZISTA
proclamação da república. Combater os judeus significava,
Um dos elementos centrais da ideologia nazista

ii
ERES

era a portanto, salvar a identidade ariana do povo alemão, uma


questão da raça. Na opinião de Hitler - como havia escrito
batalha para defender-se dessa conspiração tramada de
no livro Mein Kampf — existiam raças superiores e inferiores
maneira pérfida em detrimento da Alemanha.
e era fundamental que não houvesse contatos recíprocos
Outro elemento fundamental da ideologia nazista foi
para evitar o abastardamento das primeiras. O povo alemão
a convicção de que os alemães deveriam expandir-se para
era formado, segundo seu modo de ver, por uma maioria além das próprias fronteiras, conquistando um espaço a
ainda não “contaminada” e era necessário fazer com que leste para garantir matérias-primas e fontes abundantes de
somente ela pudesse se reproduzir, de modo que o povo subsistência. O tratado de Versalhes, portanto, devia ser
alemão se tornasse sempre mais puro. Essa progressiva “puri- anulado e era necessário recomeçar uma política de grande
ficação” era, porém, obstaculizada, segundo Hitler, pelos potência. A URSS, governada por
judeus, responsáveis não somente pela eclosão da Primeira um bando de negociantes judeus,
Guerra Mundial, mas também pela derrota do Reich e pela
52 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

RubDoOLE HEss
Preso depois do fracassado putsch
) À SOZDEUTSCHE ARBEITERPAR FEI

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de Munique, colaborou na reda-

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ção do Mein Kampf. Em seguida,

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tornou-se secretário pessoal de
Hitler e conquistou enorme poder
dentro do partido nazista.

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BANDEIRA DO NSDAP

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ANIVERSÁRIO DO PUTSCH
DE MUNIQUE
Os principais líderes do partido
desfilam pelas ruas da cidade
(embaixo).
STURMABTEILUNG
RAPEL
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era para Hitler a quinta-essência do mal e os dardos conti- SIMBOLOGIA E RITOS NO NSDAP
nuamente desferidos contra ela confirmam como o racismo A harmonização de Estado e partido procedia também
era a essência de sua política expansionista. Racistas eram do ponto de vista simbólico. No dia 12 de março de 1933,
também suas posições no que dizia respeito aos outros aspec- o presidente Hindenburg dispôs que, ao lado da bandeira
tos da vida do Estado germânico: em particular, a política preta, branca e vermelha do Reich, fosse içada aquela com
para com os jovens devia ser direcionada para a manutenção a cruz gamada. No dia 21 de maio, o novo Reichstag reu-
de sua pureza racial e seus corpos, especialmente com o niu-se pela primeira vez em Potsdam, na igreja onde estava
esporte, deviam ser educados para a força e a agressividade. o túmulo de Frederico II, e a assim chamada “jornada de
O papel das mulheres era reduzido à função biológica de Potsdam” tinha o objetivo de, com sua evocação simbólica
procriar filhos para a pátria. da tradição prussiana, pôr as paixões nacionalistas a serviço
O elemento de força dessas argumentações residia sobre- do novo regime.
tudo na capacidade de agir como fatores de catalisação da Elemento central da simbologia foram os congressos
opinião pública, na capacidade de inserir-se num sistema de do partido, não pensados como ocasião de debate político,
valores em crise, apresentando-se como verdade alternativa mas de autoexaltação, de expressão de potência e concreta

q
e suprema: uma nova ideologia antidemocrática que substi- demonstração da existência da “comunidade do povo”.

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Estes assumiram o caráter de manifestações de Estado e

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tuía valores desacreditados a uma unidade de teoria e prática

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destinada a fortalecer a credibilidade. eram indicados com um slogan que relembrava os aconte-

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A "REVOLUÇÃO NACIONAL" E 53

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54 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

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DE BERLIM (embaixo)
Depois da dissolução dos sindica- pn 20 N o
tos e de seus bens confiscados (2 Õ SE 37,4%
de maio de 1933), foi instituída a E 10] E
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cimentos mais importantes: em 1933, “Vitória da fé” para programático de Hitler. Para aumentar ainda mais os efeitos
honrar a tomada do poder; em 1934, “Triunfo da vontade”, teatrais dessa encenação, a hábil direção de Goebbels fez
referência à conclusão do processo de conquista do aparato com que os congressos fossem anunciados e preparados com
estatal, e assim por diante. O arquiteto Albert Speer montou uma maciça campanha de imprensa que garantia numeroso
em 1935, em Nuremberg, um enorme espaço com estádio, público. O regime introduziu também novas festividades para
sala para congressos e grandes campos onde marchavam as exaltar o regime e reafirmar a guinada ideológica. O dia 1º de
colunas dos fiéis servidores do Estado. Todos os anos, em maio tornou-se o “dia do trabalho nacional”; no entanto, os
setembro, num mar de bandei- trabalhadores nem sequer eram citados para que se esquecesse
ras, desfilavam diante do a tradicional ocorrência da solidariedade operária internacio-
Fiuhrer as SS, as SA, as ho nal. No segundo domingo de maio, celebrava-se a festa das
organizações juvenis e ndo mães e discursos e manifestações reafirmavam o papel central
unidades da Wehrmacht. da mulher como mãe de numerosa prole para a nação alemã,
Manifestações esportivas, O aniversário de Hitler (20 de abril) foi outra data que o
discursos e cortejos cul- regime destinou para fortalecer o mito do Fiihrer, celebrado
minavam com o discurso em toda a Alemanha com desfiles militares e bailes.
A "REVOLUÇÃO NACIONAL" E 55

JOSEPH
GOEBBELS gularmente desde 1923 para
transmitir aos pósteros uma
imagem de si como grande
Nascido em 1897 numa fa-
líder político, constituem uma
mília católica, Goebbels teve
das fontes mais interessantes
indeferido seu pedido como
sobre o aparato de poder do
voluntário de guerra, porque
regime nazista.
claudicava. Estudou germanísti-
ca, filosofia e história da arte e,
depois de formado, procurou MINISTRO DA PROPAGANDA
sem sucesso tornar-se jorna- E HÁBIL ORADOR
lista e dramaturgo. Em 1924 Em 1933,0 escritor Thomas Mann
declarou:“Basta com esse indecoro-
ingressou no INSDAP e logo so chefe da propaganda do inferno,
se destacou como um de seus com esse estropiado no corpo e na |
mais produtivos jornalistas, alma que visa, com desumana baixe- |
za,a elevar a mentira à divindade, à
trabalhando para numerosos
soberana do mundo!”
periódicos nazistas. Inicialmen-
te apoiou as posições da ala SLOGAN DE GOEBBELS

esquerda, reunida em torno “Somente a tranquilidade e um


coração de ferro nos conduzirão
de Gregor Strasser, mas em à vitória.
1926 se aproximou de Hitler e
tornou-se Gauleiter de Berlim,
onde logo emergiu seu talento eo d mê

demagógico como orador. Sua


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capacidade de organização e
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de propaganda transpareceu
quando soube explorar a mor- formas de autorrepresentação rer do segundo conflito mun-
te do jovem SA Horst VVessel, do regime e dedicou-se in- dial, exasperou a propaganda
para fazer dele um mártir do cansavelmente à propaganda do regime com tons paroxís-
movimento: este foi o primei- antissemita, com tons de ticos em favor de uma luta
ro de uma série de mitos que extrema agressividade e vul- sem trégua contra o inimigo
Goebbels criou durante sua garidade. Foi o organizador bolchevique, especialmente
carreira. Em 1928 foi eleito de- da “noite dos cristais”, bem nas colunas do jornal semanal
putado pelo INSDAP. No ano como das exposições sobre a Das Reich, fundado em 1940.
seguinte, foi nomeado chefe “arte degenerada”. INo decor- Após a derrota de Stalingrado,
do setor de propaganda e, lançou a palavra de ordem
desde então, seu ativismo não da “guerra total” e, em
teve descanso; particularmente setembro de 1943,
conhecido nesse período foi tentou em vão
convencer Hitler
o boicote por ele organizado
a estipular uma
da projeção do filme pacifista
paz separada.
Nada de novo na frente ocidental,
Nos últimos dias
baseado no romance de Erich
do regime, mos-
Marie Remarque. Depois da
trou-se um dos
tomada do poder, assumiu o
homens mais
Ministério da Propaganda e a
fiéis a Hitler, per-
direção da câmara da cultura,
manecendo com
tornando-se a figura principal
ele no bunker até
da vida cultural sob o nazismo.
o fim. Seus diá-
* Mestre insuperável da suges- rios, escritos re-
* tão das massas, inventou novas
,
enquadramento so
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da sociedade E

grande atenção dada ao uso da propaganda


foi um traço específico do nazismo que, como
movimento político e depois como regime,
soube valorizar e gerir as técnicas mais avan-
çadas de formação do consenso. Na Alemanha da década
de 1920, o Estado havia feito amplo uso da propaganda, não
em favor dos partidos, mas do sistema, apresentando-se como
mediador da tutela dos interesses das diferentes classes: ou
seja, como instância suprema de integração social e garantia
ao mesmo tempo do pluralismo político. Depois de 1933, o
regime hitlerista, mostrando uma clara ruptura com o período
precedente, pôs no centro de seu sistema de poder o mono-
"

58 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ADORAÇÃO PELO FÚHRER


(p. 56)
JOVENS PIONEIROS COMUNISTAS
NA DÉCADA DE 1920
(na abertura).

DESFILE MILITAR
O rearmamento e o consequente
impulso conferido à indústria béli-
ca contribuíram para fortalecer o
consenso dos vértices militares em
torno de Hitler.

pólio da informação e o controle da opinião pública. A uni- Os JOVENS


formização de todas as atividades ligadas à propaganda e à A educação e o enquadramento dos jovens foram aspec-
cultura impôs uma única concepção do mundo, subordinada tos que mereceram do nazismo a maior atenção: os jovens
as exigências do regime. constituíam uma poderosa massa de manobra a envolver,
Seu artífice: Joseph Goebbels. Hábil organizador das ativi- explorando seu frescor de espírito e seu entusiasmo, e eram
dades do NSDABP, Goebbels tinha em suas mãos o controle de sobretudo o futuro exército que devia ser educado na luta
todo o aparato ideológico do Reich. Um passo fundamental para a conquista de um espaço vital para o Reich alemão.
nessa direção foi a lei de novembro de 1933 que instituiu a Muito mais que a escola, foi a organização centralizada da
câmara da cultura do Reich, da qual dependiam sete câmaras: juventude o instrumento que o regime utilizou para exercer
cinema, teatro, música, imprensa, rádio, literatura e arte. O seu controle. Moços e moças eram rigidamente separados: os
exercício de uma profissão que se inserisse nesses setores era rapazes faziam parte da Hitlerjugend (juventude hitlerista), as
subordinado à admissão do trabalhador na câmara de com- moças constituíam a Bund Deutscher Mádel (BDM — união
petência. Goebbels obteve, dessa forma, plenos poderes no das jovens alemãs). A partir de 1936, estas foram as únicas
campo da cultura. Esse processo de homogeneização cresceu organizações admitidas na Alemanha, a sanção definitiva do
paralelamente ao de expulsão da vida política e cultural de monopólio nazista sobre os jovens.
todos aqueles que fossem contrários ao modelo de uniformi- Obediência, camaradagem e senso do dever eram os valo-
dade imposto pelo regime. res supremos a ser transmitidos. Todos os membros foram

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MILHARES DE JOVENS
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FAZEM A SAUDAÇÃO COM
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O BRAÇO ESTENDIDO
Hitler em seu automóvel num
encontro da Hitlerjugend.A disci-
plina coletiva da juventude foi um
dos fundamentos da atividade do
regime nazista. Os jovens eram
doutrinados com a propaganda e
treinados para uma vida espartana,
que os preparava para sua inserção
nas fileiras das forças armadas.
O ENQUADRAMENTO DA SOCIEDADE E 59

BALDUR
VON SCHIRACH

Nasceu em 1905 em Berlim.


Seu pai era um capitão de
cavalaria que viveu a passagem
para a república com profun-
do ódio ao novo regime que
o tinha rebaixado de posto.
Frequentou, desde o início
de sua juventude, escolas e
ambientes profundamente
antissemitas. Inscreveu-se no
NSDAP em 1925 e, três anos
depois, conquistou a presi-
dência da liga dos estudantes
nazistas. Em 1929 fundou um
jornal destinado a tornar-se
um dos periódicos mais di-
fundidos — o Akademischer
Beobachter (Observador
acadêmico) — e publicou
livros de propaganda para
os jovens como À batalha e populações orientais, foi des-
a ascensão de Hitler e de seu tituído de seus cargos e viveu
regime (1933) e Hitler, como no Tirol até o fim da guerra.
ninguém o conhece (1935). Em Condenado a vinte anos de
1931 foi nomeado chefe da reclusão, no processo de Nu-
juventude nazista, cargo que remberg, por crimes contra a
ocupou durante toda a dé- humanidade, foi libertado em
cada de 1930, crescendo sua 1966 e morreu em 1974. Seu
autoridade e seu peso político nome permanece particular-
à medida que todas as outras mente ligado à infatigável obra
associações juvenis eram de organizador da juventude
dissolvidas, até que, em 1936, e à sua capacidade de doutri-
a Hitlerjugend permaneceu nação de uma geração inteira,
como organização única da que cresceu no culto do
juventude e Schirach, um dos Fúhrer e da guerra.
mais poderosos funcionários
do Estado. Com a eclosão da
guerra, alistou-se como vo- BALDUR VON SCHIRACH
luntário e combateu na frente O chefe da juventude hitlerista (de
ocidental. Em 1940 foi no- capa impermeável) fez largo uso de
meado responsável pela área rituais e coreografias de massa, ja
presentes na bagagem histórica dos
anexada de Viena.A partir de movimentos juvenis alemães da
1941, dirigiu a deportação dos década de 1920, para inculcar os
judeus nas áreas de sua com- postulados ideológicos do regime.
petência. Em 1943, em razão
T'ROMBETEIROS
de crescentes conflitos com A juventude hitlerista masculina
Hitler sobre a política judaica compreendia duas faixas de idade:
e sobre o tratamento das dos 10 a0s 14 anos e dos 15 aos 18.
60 EE HISTORIA ILUSTRADA DO NAZISMO

FESTA DA JUVENTUDE nt
Rapazes e moças alemães, repre- TEA 1
sentados em torno de uma foguei- ed pis nd
ra, num cartaz de 1934. Cinco anos da
mais tarde, o número de moças E
inscritas na Bund Deutscher Mádel
(cerca de um milhão e meio) era
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quase igual ao dos membros do


sexo masculino.

Jogos E EXERCÍCIOS
Rituais e treinamento eram um
compêndio de romantismo de
traços pagãos, de militarismo e de
patriotismo exasperado (embaixo).
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CHE JUG EN D
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enquadrados por idade e vestidos com uniformes que deviam disciplinar, uma verdadeira jurisdição interna separada da
ressaltar que pertenciam à comunidade do povo. Os rapa- administração da justiça. A propaganda sempre sublinhou o
zes deviam participar, pelo menos duas vezes por semana, de aspecto juvenil da organização, mas a palavra de ordem de
todas as iniciativas: marchas, exercícios esportivos e vários uma “juventude dirigida pela juventude” foi inteiramente
rituais como a chamada com o hasteamento da bandeira. mistificadora, porque todos os chefes foram nomeados do
A. militarização da juventude era acentuada pelo fato de alto e a estrutura era rigidamente verticista. A Hitlerjugend
que a Hitlerjugend tinha um rígido sistema chegou a ter 8 milhões de jovens inscritos.
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O ENQUADRAMENTO DA SOCIEDADE E 6|

SD FRAEA
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BRASÃO DA LIGA
DAS MULHERES NAZISTAS

QUE TODAS AS JOVENS DE |0


ANOS SE INSCREVAM NA BDM!
Cartaz com uma alegre expoente
da Bund Deutscher Madel, retratada
segundo os parâmetros da beleza
juvenil nazista.

Mais controversos e contraditórios foram os conteú- motivou a introdução no calendário da festa do dia das mães
dos transmitidos pela BDM, porquanto os aspectos tipica- e, a partir de 1938, a atribuição de uma cruz ao mérito às mães
mente masculinos e belicistas difundidos na Hitlerjugend
Po

mais prolíficas; até setembro de 1941 haviam sido entregues


E

estavam em clara contradição com o ideal de mulher Sae quase 5 milhões.


E

promovido pelo regime. As jovens inscritas nas organiza- A propaganda foi, também nesse caso, impregnada de
ções nazistas permaneceram uma minoria e constituíram espírito belicista, como testemunham as palavras de Hitler
uma elite. no congresso de Nuremberg de 1938: “Envergonhar-me-ia
de ser um homem alemão se, em caso de guerra, também
AS MULHERES uma mulher-soldado tivesse de ir ao front. A mulher já
A função da mulher no Reich nazista é compreensível tem seu campo de batalha. Ela combate sua batalha para
somente no contexto dos fundamentos racistas e eugenéticos a nação com cada filho que põe no mundo para a nação.
do regime. A mulher foi considerada e exaltada exclusiva- O homem se empenha para o povo exatamente como a
mente como mãe, educadora dos filhos, mulher submissa e mulher para a família. A paridade de direitos da mulher
respeitosa ao predomínio masculino. Procriar para a pátria reside no fato de que ela recebe, nos campos vitais a ela
foi o ideal mais elevado ao qual as mulheres podiam e deviam destinados pela natureza, o apreço que lhe é devido”. Desse
aspirar, naturalmente sob a condição de que fossem represen- modo, as mulheres perderam sua autonomia, e todas as
tantes da pureza racial ariana. A idealização da maternidade lutas para a emancipação feminina, que nos anos da repú-

LIGA DAS MULHERES ALEMÃS


O regime impôs a proibição para
as mulheres de usar cosméticos e
exibir o encanto feminino, consi-
derados exemplos de “cosmopoli-
tismo hebraico”. No vestuário, foi
imposto um novo “estilo germâni-
co” que excluía o uso de peças de
vestuário consideradas decadentes
ou uma imitação do estilo masculi-
no (à esquerda).

DISTRIBUIÇÃO DA CRUZ
DE FERRO À MÃE ALEMÃ
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do
62 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

GERTRUD femininas nazistas, desde


SCHOLTZ-KLINK outubro de 1931] se tornou
diretora da associação das
Nascida em 1902 em Baden, mulheres nacional-socialistas
em 1928 se inscreveu no da Baviera e de Hessen. Em
NSDAP e, seguindo o exem- 1934 foi nomeada presidente
plo do primeiro marido que e assumiu também a direção
era líder local do partido, do escritório feminino da
constituiu a partir de 1929, frente de trabalho. No decor-
primeiro em Offenburg e rer da década de 1930, suas
depois em muitas cidades da responsabilidades dentro das
Alemanha do sudoeste, uma estruturas do partido foram
organização de mulheres na- efetivamente consideráveis,
cional-socialistas. Em outubro mas sempre subordinada às
de 1930, em Baden, tornou- elites masculinas, comprovan-
se presidente da ordem das do o papel subalterno da mu-
mulheres alemãs que, desde lher no Terceiro Reich. Preci-
1928, era filiada ao NSDAP samente porque Scholtz-Klink
Após a união numa única aceitou esse estado de coisas,

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organização das associações foi-lhe possível fazer uma bri-

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lhante carreira, em detrimen- Reich, continuou sendo uma


to de outras colegas menos das mais fanáticas e ingênuas
dispostas a permanecer em partidárias do nazismo, como
posição de inferioridade. Acei- transparece em seu livro pu-
tou e reforçou a necessidade blicado em 1978,A mulher no
de que a mulher fosse sub- Terceiro Reich.
missa ao homem nas relações
familiares e interpessoais e
ao Fihrer em todo momento CARTAZ PARA O RECRUTAMENTO
DAS JOVENS ALEMÃS
de sua vida. Depois da guerra HITLERISTA
NA JUVENTUDE
viveu três anos com nome
falso. Foi condenada por um GERTRUD ScHOLTZ-KLINK
Esteve à frente de uma colossal |
tribunal francês a dezoito
organização de massa que presidia
meses de detenção. Mesmo todos os aspectos da vida das
depois da queda do Terceiro mulheres alemãs.
O ENQUADRAMENTO DA SOCIEDADE E 63

TODA A ALEMANHA ESCUTA


O FÚHRER cOM A RÁDIO DO
Povo
A iconografia oficial exibia inces-
santemente a imagem das famílias
escutando a voz do líder do regi-
me. Isso testemunha quanto, num
país que em 1938 contava com
mais de 8 milhões de rádios, esse
meio era essencial para manter
uma contínua sintonia entre o líder
e a comunidade nacional.

TELEFUNKEN T. 121
Em pose, jovens ao lado de um
aparelho radiofônico (embaixo).

blica de Weimar tinham levado a significativas conquistas difusão foi favorecida com a venda de um modelo bas-
sociais e políticas, foram reduzidas a nada. As mulheres tante econômico e o percentual daqueles que possuíam um
foram privadas do direito de voto, além de afastadas do aparelho passou de 25% em 1933 a 70% em 1939. Ouvir
mundo do trabalho com uma série de medidas que iam rádio se tornou uma obrigação e foi promovida também a
da obrigação de deixar o emprego ao marido, a reduções audição coletiva, particularmente no decorrer das mani-
salariais e à proibição de aceder a determinadas profis- festações ou nas pausas de trabalho nas fábricas.
sões. Essa situação mudou sensivelmente no decorrer da O percurso que levou ao controle da imprensa foi, ao
guerra, quando se tornou necessário substituir os homens contrário, mais longo e complexo. Em 1933 havia 3.400
que combatiam no front; as mulheres e as mães foram então periódicos diários, dentre os quais os de cunho nazista
chamadas, especialmente depois da proclamação da guerra constituíam uma clara minoria. Poucos meses depois foram
total em 1943, a dar sua contribuição para a pátria, inclu- proibidos aqueles dos partidos de esquerda. Os judeus e
sive com a mão-de-obra. todos os indesejáveis que trabalhavam nesse meio foram
afastados.
Amann, presidente da câmara da
RÁDIO E IMPRENSA Em 1935 Max
imprensa, deu início a uma sistemática concentração dos
Der

O rádio constituiu o mais importante meio de comu-


E CE

nicação de massa do nazismo e se transformou no instru- jornais nas mãos do aparato estatal. Dos quase Z0 milhões
de cópias que eram impressas diariamente, o NSDAP con-
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mento cotidiano de propaganda e entretenimento. Sua


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64 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ENQUADRAMENTO EXTRAÍDO DE
O TRIUNFO DA VONTADE
Em 1934, 100 mil membros das SA
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e das SS enfileirados no estádio de - dl
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Nuremberg.

LENI RIEFENSTAHL
À diretora de espetáculos (da
esquerda para a direita) passeando RA RAVE: Mir d |
com Goebbels e Hitler e receben- ARO PSP TR dh VALE AN Tg
do as congratulações do Fiihrer | 2 RRERPBENS
em dezembro de 1945 (embaixo).

trolava mais de 13 milhões. No verão de 1939, 2.200 perió- LITERATURA E TEATRO


dicos pertenciam ainda a setores privados, não somente A queima dos livros ocorrida em 10 de maio de 1933
para dar, especialmente no exterior, uma ideia de aparente simbolizou tragicamente a ação do regime interessada em
moderação, como também porque entre os mais impor- suprimir a liberdade de expressão e a escrita. Foram redigidas
tantes acionistas havia grupos industriais como o colosso listas negras com os nomes dos autores proibidos e depura-
químico IG Farben. das as bibliotecas, as editoras, as agências distribuidoras e as
No decorrer da guerra, o controle se tornou ainda mais livrarias: no final de 1934, haviam sido proibidos mais de 4
capilar e numerosos periódicos provinciais foram supri- mil livros. Em contrapartida, a produção literária centrada
midos. Com relação aos conteúdos da informação, Goe- na exaltação dos novos valores — a pureza racial, o culto da
bbels conseguiu, num curto espaço de tempo, impor uma guerra, a luta contra o perigo judaico-bolchevique — foi incre-
uniformidade absoluta. As entrevistas coletivas se redu- mentada e uma série de iniciativas, tanto pelas estruturas
ziram a declarações cotidianas sobre o que devia ser dito estatais como por aquelas do partido, foi implementada: dos
e sobre o que devia ser calado, com meticulosa atenção sempre mais numerosos prêmios literários ao convite explí-
quanto ao uso de cada palavra. Uma medida de outubro cito a escrever sobre determinados assuntos.
de 1933 desvinculou os jornalistas da autoridade dos edi- A superação da crise econômica a partir da metade da
tores, tornando-os diretamente dependentes do ministro década de 1930 favoreceu o aumento da produção editorial,
da Propaganda. e o comércio dos livros desfrutou das vantagens dessa con-

LENI bém a superar a resistência |


RIEFENSTAHL de Goebbels. Em 1934,pro- |
duziu o filme O triunfo da von; A
Nascida em 1902 numa família tade, dedicado ao congresso | E
pequeno-burguesa, estudou de Nuremberg, que se tornou |
na Academia de Belas Artes um dos filmes mais eficazes e
de Berlim, especializando-se da propaganda nazista, com O: No o
em dança. Trabalhou como qual obteve uma medalha de: º
bailarina e atriz na década de
1920. Em 1932 estreou como 1935, por ocasião da reintro-
diretora com o filme A luz
dução do alistamento militar
azul, que obteve certo suces-
obrigatório, dirigiu outro
so pela caprichosa utilização +
importante filme de propa-
da máquina filmadora. Hitler
ganda: O dia da liberdade. Nossa +
ficou impressionado por suas
Wehrmacht. Em 1936, durante |
capacidades e lhe ofereceu
os jogos de Berlim, atingiu O
colaboração, ajudando-a tam-
O ENQUADRAMENTO DA SOCIEDADE E 65

BERTOLT BRECHT

E
o
Poeta e dramaturgo comunista,

O,
cujas obras representam a con-
dição humana na sociedade capi-

eq
talista dividida em classes, deixou
a Alemanha após o incêndio do

e
Reichstag. Exilou-se primeiramente

ri
E.
na Dinamarca e depois se transfe-
riu para os Estados Unidos, onde
viveu em Hollywood em situação
de isolamento durante seis anos.
Depois de ser investigado pelo
comitê de atividades antiameri-
canas, deixou o país e viveu até a
morte em Berlim oriental.

juntura e conheceu uma notável retomada, em detrimento ARTES FIGURATIVAS E ARQUITETURA


de toda autonomia editorial. O nível da produção literá- A polêmica contra a produção artística das vanguardas de
ria que exaltava o regime permaneceu, contudo, bastante Weimar foi um dos aspectos pelos quais cresceu a agressivi-
baixo. Os maiores escritores haviam emigrado: de Thomas dade do NSDAP antes mesmo da tomada do poder. Depois
Mann a Anna Seghers, de Bertolt Brecht a Stephan Zweig. de 1933, Goebbels declarou querer restabelecer os puros e
Muitos daqueles que permaneceram na Alemanha fizeram autênticos valores de uma arte alemã e foi promovida uma
parte da assim chamada “emigração interna”, conseguindo produção figurativa que culminou na exposição de 1957 em
formar para si, apesar da rigorosa censura, um minúsculo Munique. Dominavam os gêneros tradicionais: os retratos,
nicho para continuar escrevendo sem conformar-se com os as naturezas-motrtas, as paisagens e as imagens deviam trans-
conteúdos impostos pelo regime. Também o teatro, depois mitir os supremos ideais da nova concepção ideológica do
do grande florescimento da época de Weimar, foi submetido nazismo. Propugnou-se o retorno às áreas rurais com bucóli-
ao rígido controle da câmara da cultura. Foram privilegiadas cas cenas campestres, exaltou-se a guerra com representações
as representações que faziam propaganda dos novos mitos bélicas, e o novo homem nazista foi reproduzido enaltecendo
do regime, mas amplo espaço teve igualmente o setor mais seus traços somáticos: mulheres louras e de olhos azuis, crian-
popular: operetas e comédias — mesmo que não empenhati- ças sadias e sorridentes. Violenta e agressiva foi ao mesmo
vas— abertamente promovidas como instrumentos do entre- tempo a propaganda contra a assim chamada “arte degene-
tenimento de massa. rada”, representada por todos aqules que não se conforma-

sucesso, mas no pós-guerra


negou qualquer relação com
os aparatos de poder nazistas.
Acusada de ter utilizado cerca
de 60 ciganos para produzir
seus filmes, sem tê-los pago
nem salvo da deportação para
Auschwitz, foi absolvida em
1948 e, no ano seguinte,
moveu e ganhou uma causa
contra a revista ilustrada
Revue, que tinha noticiado
esses fatos. Em 1982, um
versário do Fúhrer. Esse filme documentário televisivo
ainda hoje é considerado uma renovou essas acusações,
obra-prima, Durante O nazis- mas Riefenstahl optou pe-
hou durante dois anos e
mo, Riefenstahl teve grande lo silêncio,
plplstado em 1938, no ani-
— e
66 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

QUADROS PARA UMA EXPOSIÇÃO


Visitantes na mostra da “arte
degenerada”, montada em 1937
em Munique. Sob essa denomina-
ção, Os nazistas incluíram, e bani-
ram, as obras-primas de artistas
como Picasso, Van Gogh, Gauguin,
Kandinsky, Grosz, os pintores do
grupo Die Briúcke... Igual sorte
foi reservada ao músico Arnold
Schônberg, acusado de ter com-
posto uma música “degenerada”,
porque tinha subvertido os tradi-
cionais valores tonais.

vam com esses princípios e apontados pela crítica pública EscoLA E UNIVERSIDADE
em exposições — nas quais eram exibidas as obras-primas de A escola foi um campo fundamental de dilatação do apa-
pintores como Klee e Kandinsky e muitos outros — montadas rato cultural e de propaganda do regime. Antes mesmo de
em todas as cidades alemãs e sempre mais frequentadas. No local para a educação e a socialização, ela se tornou, como as
campo da arquitetura, o Estado incrementou a construção organizações juvenis, local de militarização. À nazificação do
de edifícios de representação e de rodovias especialmente corpo docente foi rápida, porque poucos foram os professores
para favorecer a economia de guerra. A arquitetura teve um que haviam aderido com convicção à causa republicana. A
papel de primeira grandeza na autorrepresentação e exalta- crise econômica, que havia gerado um clima de contínua
ção do poder, porque veiculava direta ou indiretamente a incerteza, contribuiu para aumentar o Ódio contra o governo
ideologia do regime. Isso ficou evidente nos projetos de re- republicano; assim, se até 1930 a refutação de Weimar se
estruturação das cidades alemãs elaborados por Albert Speer, havia concretizado na falta de adesão aos ideais da república,
que exprimiram as características retóricas e monumentais da em seguida se traduziu em ativa colaboração com o nazismo.
arquitetura nazista: os imensos espaços para as manifestações No final de 1933, todo o corpo docente era “racialmente
de Nuremberg e os projetos incompletos para a construção puro” e fiel ao regime.
da grande Berlim — destinada a tornar-se, segundo os planos Os novos programas foram redigidos somente no final
de Hitler, a capital do mundo — foram suas testemunhas mais da década de 1930; a verdadeira mudança, mais que do
significativas. ponto de vista organizacional, foi percebida na crescente

ERNST LUDWIG KIRCHNER


NU DEITADO DIANTE
DO ESPELHO (1909-10)
Suas telas são dominadas pela
temática da vida e dos conflitos
da metrópole, onde muitas vezes
são reunidas figuras de cores cha-
mativas, traçadas com pinceladas
nervosas.

ERICH HECKEL, KG. BRÚCKE


(1912)
Xilografia do artista expressionista
para o convite a uma exposição
do movimento realizada em 1912.
Os quadros de Kirchner e Heckel
foram classificados como “arte
degenerada.
O ENQUADRAMENTO DA SOCIEDADE E 67

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68 IH HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

CARTEIRA DO PARTIDO
Documento de identificação dos Mationalio;. Deutidye Arbeiterpartei DPerjonal=Ausieis
membros do NSDAP que trazia o

nome, a ocupação, o endereço e a amitalicosbud Sr. 24

data de nascimento. Depois de sua Mor unb Jumame hoisl Sisdhie :


dissolução em 1923,o NSDAP foi Etenb er Berul. fist: É. cite

refundado dois anos mais tarde, Mebnort (frbe aus E, 12= mdbiaid
ddsdosaiges aa
optando pelo abandono da luta
SEE Estabibejirt
clandestina. Adotou como progra- anita f, Butde E ss ie

ma o livro Mein Kampf de Hitler Seborteect edrato a E E=


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que, em 1934, se tornou chefe fe Pegada
Cingerreten am É figo a APP
frio Eigenbinhigo Usterfáril bro Cpabdlato

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indiscutível do partido, do exército Micberringelretem am
led Mlermlt befelnlat,
sirmibenhes o BUGS Rargefebs Goerfom und Sitatheh ier Olat
Csplalipifáo Deurfáreos Drbeitrrpacial dy fam He tamumiet findo
Ms Unferfasrio rigenbiaka volieda La
e do Estado.

ideologização de todas as matérias de ensino. O racismo conservadora e saudou com alegria o novo regime que pro-
foi o elemento característico de cada momento da didá- metia instaurar a ordem depois de anos de caos, mas foi
tica: todas as matérias, inclusive a matemática e o dese- muito mais difícil mudar as matérias de ensino e introduzir
nho, foram ensinadas nessa perspectiva. Poucos foram os novos textos de estudo. As organizações estudantis tiveram
livros de texto novos, na maioria das vezes substituídos por uma influência fundamental na aceleração do processo de
opúsculos e breves panfletos, considerados mais incisivos e “nivelamento”, porque muitos jovens foram convencidos
de fácil compreensão. Além dos conteúdos das lições, foi de que o Terceiro Reich representaria realmente uma nova
a própria liturgia de cada dia que caracterizou a cotidiani- época em que eles deveriam assumir um papel central.
dade e veiculou os novos valores: as numerosas ocasiões
em que se festejava uma data significativa, as excursões, O PARTIDO E O ESTADO
as projeções de filmes contribuíram para reafirmar uma A partir de junho de 1933, o NSDAP ficou sendo o
diversidade existente entre quem era “ariano” e quem não único partido legal na Alemanha. Hitler, chefe indiscu-
o era; foi objeto de debate também se os judeus eram ou tível, conseguiu com habilidade agregar em torno de si
não dignos de fazer a saudação nazista, com a qual se abria as elites divididas não tanto por divergências ideológicas
e se fechava cada dia. (como foi o caso do fascismo italiano), mas por rivalidades
As universidades, ao contrário, foram mais difíceis de e batalhas pelo poder que favoreceram o fortalecimento de
“expugnar”; a maioria dos professores tinha orientação sua liderança.

FRENTE DO TRABALHO
EM NUREMBERG
Substituiu os sindicatos dissolvi-
dos e constituiu a mais numerosa
na

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organização de massa do Reich.


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Formalmente, garantia a igualdade


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entre empresários e trabalhadores,


mas, na prática, funcionava como
uma organização rigidamente a Et x Ea E
hierárquica, na qual a base devia
Sais,

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obedecer às ordens do chefe da
empresa (Fuhrer).
DS
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O ENQUADRAMENTO DA SOCIEDADE E 69

ALBERT SPEER
em 1944 alcançou seu nível

Nascido em 1905 em Man- máximo, foi alcançada graças


nheim, numa família de tradição inclusive à exploração da força
liberal, seguiu a trajetória do de trabalho dos prisioneiros
pai arquiteto e estudou em dos campos de concentração
Karlsruhe, Munique e Berlim. e dos trabalhadores estran-
Fascinado pela oratória de geiros, circunstância em que
Hitler, ingressou nas fileiras teve ocasião de trabalhar em
do NSDAP e das SA em 1931. estreito contato com Oswald
A partir de 1933, foram-lhe
Pohl e Fritz Sauckel que, em
confiados o planejamento e a
Nuremberg, foram condenados
Hh coreografia dos encontros de
à morte. Durante o processo
7 massa do regime. Seu talento
de Nuremberg, Speer susten-
le organizador e sua capacidade
tou que realmente compreen-
a foram admirados pelo próprio
k Hitler, que lhe confiou o proje- deu só no início de 1945 que
' to da nova chancelaria de Ber- a guerra estava perdida para
lim e das áreas onde se realiza- as forças do Eixo, além de não
vam os congressos do partido ter conhecimento dos planos
em Nuremberg. Em 1937 foi de extermínio dos judeus. Por
nomeado inspetor-geral da edi- isso foi condenado somente a
lícia em Berlim, em 1938 foi-lhe 20 anos por crimes contra a
humanidade. Nos anos trans-
corridos na prisão de Spandau,
escreveu as Memórias do Tercei-
ro Reich que ainda hoje cons-
tituem, não obstante as graves
omissões, um Interessante
conferido o título [943, ministro do Armamento
documento sobre a história do
de professor e e da Produção de Guerra).
regime nazista. Libertado em
| | nomeado conse- Em |942 tornou-se também
outubro de 1966, morreu em

PAS
AS lheiro do estado inspetor-geral da viabilidade
e dos recursos hídricos e de Londres em 1981.
prussiano, além
“Ti de ser agraciado energia. Speer se empenhou
para transformar a indústria ACADEMIA DE GINÁSTICA E
Ei por uma alta honorifi- NOVA CHANCELARIA EM BERLIM
cência do partido. Ainda dos armamentos no contexto (no centro da página).
em 1938, assumiu a direção de uma economia inteiramente Marcada pelos parâmetros do mais
direcionada para a produção desprovido classicismo, a nova chan-
do departamento “beleza do celaria do Reich, projetada por Speer,
trabalho”, que dependia da bélica, alcançando resultados se configurava como um exemplo de
frente alemã do trabalho. produtivos bastante elevados, arquitetura que, embora pretendida
apesar dos danos causados para criar efeitos, era de grandiosida-
Em 1942, com a morte de de comedida. O edifício foi erguido
Fritz Todt, sua carreira deu pelos bombardeios aliados nas em menos de um ano, numa verda-
uma guinada: foi nomeado infraestruturas e no armaze- deira corrida contra o tempo que
E E exigiu o trabalho de 4,5 mil operá-
ministro do Armamen- namento de matérias-primas
Má El rios divididos em dois turnos.
to e das Provisões (a paraa economia alema. A ele-
|
partir de vada produção industrial, que SPEER COM HITLER (à esquerda).
70 HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ILUMINAÇÃO
PARA AS OLIMPÍADAS
Vista de uma praça de Berlim
durante a realização dos jogos
olimpicos.

ESCULTURAS NAS PROXIMIDADES


DO PORTÃO DE BRANDEMBURGO
(embaixo)

Em janeiro de 1933, o NSDAP contava com 850 mil ins- A tendência à identificação de Estado e partido permitiu
critos, cuja maioria provinha da pequena burguesia e cerca a este último gozar de maior ou menor autoridade, de acordo
de um terço era constituído de operários, a metade deles com as necessidades táticas. Essa compenetração institucio-
desempregada no momento da tomada do poder. A presença nal ficou evidente no caso dos Gauleiter, responsáveis pelas
feminina foi bastante escassa, enquanto os jovens foram bem circunscrições regionais, que unificaram as funções de mem-
mais numerosos do que o eram nos partidos burgueses ou bros do partido e de funcionários estatais: alguns deles foram
na social-democracia. Depois de 30 de janeiro, houve um até ministros (como Goebbels), muitos ocuparam outros car-
sensível aumento dos inscritos — em particular professores gos na administração pública. Ao lado dos chefes regionais
e empregados — de tal modo que, já em maio, seu número do partido nazista, subsistiram também todas as organizações:
havia triplicado. Sempre mais indefinidos se tornaram os SS, Hitlerjugend, associações estudantis e femininas, pormeio
limites entre Estado e partido, e a lei de 1º de dezembro de das quais foram exercidas duas das funções fundamentais do
1933 sancionou sua unidade: o NSDAP se transformou numa NSDAP: a educação da nação e a escolha daqueles que deve-
associação de direito público, o substituto do Fiihrer e o chefe riam desempenhar papéis de responsabilidade no Estado.
do estado-maior das SA se tornaram membros do governo e
o partido teve a possibilidade de julgar os próprios membros,
subtraindo-se do direito usual.
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O ENQUADRAMENTO DA SOCIEDADE E 7|

ESPORTE
E OLIMPÍADAS rários, cujos bens foram uma ocasião impar para exibir
confiscados por “legatá- um grandioso show de pro-
O esporte — entendido rios da polícia. No dia 10 paganda numa fase bastante
especialmente como exer- de maio de |933, foi criada delicada da política externa
cício físico, disputa de a organização do Reich pa- nazista. Os jogos de Berlim
competitividade, fortaleci- ra O esporte, que submeteu ofereceram a oportunidade
mento do espírito agres- à UM rigido controle por de montar uma fachada que
sivo — foi considerado parte do poder central as desse a atletas e jornalistas
elemento constitutivo do outras associações do setor. estrangeiros a imagem de um
novo homem alemão. O Todos os membros tiveram país “normal”. Durante a rea-
associacionismo esportivo de declarar fidelidade ao lização das competições ces-
— operário, confessional, Organismo central e confor- saram os tons mais violentos
de partido — tinha co- mar-se com suas diretivas. Os e antissemitas da propaganda
exercicios esportivos, cujo e foi conferida uma aparência
nhecido um notável de-
caráter belicista era evidente, de ordem e eficiência que não
senvolvimento na década
assumiram um peso sempre deixou de enganar a imprensa
de 1920, particularmente
mais importante também estrangeira, concorde ao refe-
entre os jovens.A partir de também nesse setor: Foram
nas escolas: os jovens foram rir o desenvolvimento regular
1933,o “nivelamento” acon- dissolvidas as associações obrigados a desafiar-se em das Olimpiadas.
teceu por etapas forçadas esportivas dos partidos ope- competições de resistência e
Pr,

marchar em preparação para


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a bem mais empenhativa


batalha a que seriam con-
vocados a combater para
o próprio país. De igual ORE

modo na Hitlerjugend, tEpantA tada

as atividades físicas,
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clara preparação para Po


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o empenho bélico,
revestiam-se de um
peso cada vez maior.
As Olimpíadas de 1936,
como foi estabelecido em
1931, deveriam ser realizadas
em Berlim, embora a orienta-
ção racista fosse inconciliável
com o caráter cosmopolita
desses jogos. Em 1935,0 co-
mitê olímpico internacional
declarou-se perplexo particu-
larmente por causa das reser-
vas nazistas a respeito da par-
ticipação de atletas judeus, ao
qual Goebbels deu respostas CARTAZ PARA AS OLIMPÍADAS
tão vagas como tranquiliza- INVERNAIS DE 1936
(no alto)
doras que, no entanto, foram
consideradas satisfatórias. O MEDALHA CONFERIDA AOS
NSDAP inicialmente contrário ORGANIZADORES DOS JOGOS
== +

A à realização dos jogos na Ale-


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GOTTFRIED VON CRAMM


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manha, mudou de ideia depois


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O tenista alemão pluricampeão na


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década de 1930 (à esquerda).


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S graves consequências da crise de 1929 constituí-
ram um dos elementos que favoreceram a tomada
do poder do NSDAP, cujas promessas de eliminar
o desemprego tinham exercido grande atração
no eleitorado alemão. O “socialismo”, que o partido usava em
seu próprio nome, revelou-se uma fórmula demagógica que
ocultava o propósito de atuar no enquadramento hierárquico
do mundo do trabalho. O apoio às camadas médias, que era vei-
culado no programa do NSDA? foi esquecido. Gottfried Feder,
que havia difundido a palavra de ordem do “fim da escravidão
do débito”, foi afastado em 1934 do Ministério da Economia,
fazendo calar aquele componente anticapitalista que tinha tido
um papel significativo nos primeiros anos de vida do partido.
Também a política agrária do regime, além da exaltação dos
camponeses como “fonte de vida”? da nova raça ariana, não
implementou mudanças estruturais, deixando inalterado o
poder dos grandes proprietários e não melhorando em nada a
condição dos agricultores.
74 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

Trabalhos em rodovias

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Início da construção da rede rodo-

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viária alemã (p. 72).

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Aperto de mão

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Hitler com alguns operários (na A

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| abertura).

Poupadores alemães

O engenheiro aeronáutico
Willy Messerschmitt
e os estabelecimentos Krupp
em Essen (embaixo).

À política econômica nazista foi programada para o rear- AS PRIMEIRAS MEDIDAS


mamento e a preparação da guerra, embora essa tendência Em 1933 a Alemanha, diversamente dos outros países
tenha se acentuado em 1936 com a apresentação do plano europeus, tinha começado a recuperar-se dos efeitos da
quadrienal. Inicialmente, a grande indústria alemã, dividida crise econômica mundial. Isso foi resultado de uma ten-
internamente, que tinha objetivos parcialmente contraditó- dência de longo período da economia, cujo mérito não
rios, esteve longe de se entusiasmar com a ideia de conceder pode ser atribuído ao novo regime que mal tomara posse,
| prioridade absoluta ao rearmamento. Mas a liquidação das mas se acentuou no decorrer do ano seguinte, graças a
| esquerdas, a liberdade de ação concedida à indústria e, em uma política programada para conquistar a autonomia e
| âmbito mais geral, o novo clima de terror policial constituí- para impulsionar a produção bélica, facilitada por maciças
ram a base da colaboração entre o governo nazista e a grande requisições do Estado.
empresa: uma ligação aprofundada depois pelo Para promover o crédito, Hjalmar Schacht, presidente
E estímulo dado à economia pelo pro- do banco do Reich e ministro das Finanças desde agosto
as grama de criação de postos de de 1934, criou uma empresa cujo capital de um milhão de
trabalho e, portanto, em medida marcos foi financiado por empresários da indústria pesada,
crescente, pelos imponentes lucros como Krupp e Siemens. Foram emitidas letras de câmbio
gerados pelo crescimento vertigi- tributáveis no valor de 12 bilhões de marcos, que poderiam
noso da indústria militar. ser resgatadas a partir de 1938, mas para esse fim foi impresso

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A POLÍTICA ECONÓMICA E 75

Te
Carros MERCEDES-BENZ
Cartaz publicitário da indústria de
veículos.

RETRATO DE FAMÍLIA
O magnata da indústria de arma-
mentos Gustav Krupp (em pé, à
direita) retratado com a mulher
(sentada à sua direita) e seus
familiares numa pintura de 193]
(embaixo).

MERCEDES-BENZ

mais papel-moeda de quanto o governo podia garantir, e deveria ser igual a 5% de todos os salários pagos nas empre-
o financiamento dos armamentos e a conquista da plena sas alemãs em 1932.
ocupação foram geridos com uma política inflacionária, O primeiro modelo de intervenção estatal sem estatização
enquanto o Estado contava poder saldar seus débitos com da economia ocorreu no final de 1933 com a criação do cartel
os futuros ganhos de uma vitória na guerra. O desenvolvi- da IG Farben relativo a novas instalações para a produção
mento econômico provém claramente das despesas mili- sintética de gasolina. O percurso da produção artificial que
tares que certamente não foi possível financiar somente deveria garantir a autossuficiência econômica alemã tinha
por meio da cobrança de impostos: em 1933 chegavam a sido, portanto, empreendido e, no ano seguinte, no dia 1º de
49%, em 1934 alcançaram 18%, e em 1938 cobriam 50% da dezembro de 1934, foi promulgada a lei que previa facilita-
despesa pública. ções econômicas para a construção de novas instalações para
Comumente, a grande indústria apoiou com maior empe- a produção de gasolina, borracha sintética e lã de celulose.
nho o novo regime, como demonstram, entre outras coisas, Quanto ao comércio exterior, Schacht promoveu um
as “doações Adolf Hitler da economia alemã”, por meio das novo plano — definido por ele de “New Deal alemão” — que
quais foi financiada a campanha eleitoral de 1933 e que, incrementou as trocas especialmente com a Europa centro-
sucessivamente, depois de um apelo de Gustav Krupp, foram oriental, para remediar a falta de
transformadas em uma doação anual que matérias-primas na Alemanha.
76 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

TRABALHADORES INTELECTUAIS ER
E MANUAIS: ELEJAM
O SOLDADO HITLER!
Cartaz eleitoral nazista.

À INTERNACIONAL DE
OTTO GRIEBEL (1930)
(embaixo).

Diante dos maciços investimentos para o rearmamento, série de medidas bastante eficazes. Schacht promoveu uma
os destinados para as políticas sociais foram bastante modes- política até então não usual de deficit spending que, para esti-
tos. A política habitacional, por exemplo, foi muito infe- mular o crescimento econômico, determinou um maciço
rior ao padrão da república de Weimar e medidas como as endividamento do Estado. As leis para a diminuição do
subvenções para a política matrimonial foram pagas com a desemprego puseram em prática este princípio, concedendo
diminuição de outros fundos sociais. O endividamento do créditos às regiões e aos municípios, graças aos quais foram
Reich saltou de 12,9 bilhões de marcos em 1933 para 31 promovidas algumas obras públicas, como a construção de
bilhões em 1938. A estabilidade da moeda e a paz social rodovias, em que se renunciou, dentro de certos limites, a
estavam em perigo, mas a escolha inadiável da corrida aos todo maquinário para empregar o maior número possível de
armamentos era prioritária em relação a qualquer outra pessoas. Esse processo foi favorecido também pelo fato de
consideração. que os créditos haviam sido concedidos sob a condição de
que as mulheres não trabalhassem ou deixassem seu lugar
À LUTA CONTRA O DESEMPREGO ao marido.
Restabelecer na Alemanha a plena ocupação foi uma Isso não somente diminuiu o desemprego masculino,
promessa continuamente desfraldada qual bandeira pela como também favoreceu inclusive a política demográfica,
propaganda nazista. Esse projeto se tornou possível tanto deixando às esposas tempo para dedicar-se ao exclusivo
pela modificação da conjuntura econômica como por uma papel de mães. A partir de 1935, a reintrodução do alista-
A POLÍTICA ECONÔMICA E 77

CHARLES LINDBERGH
O aviador norte-americano foto-
grafado durante uma visita a um
campo de aviação na Alemanha em
meados da década de 1930.

mento obrigatório e de seis meses de trabalho obrigatório a autonomia da classe operária; mas depois dos difíceis
para os homens entre 18 e 25 anos aliviou ulteriormente a anos da crise econômica, a certeza de um emprego foi,
pressão sobre o mercado de trabalho. Aqueles que prestaram para muitos alemães, realmente mais importante que essas
o “serviço do trabalho” e os jovens que foram empregados considerações.
em atividades agrícolas temporárias não foram, contudo,
incluídos nas estatísticas dos desempregados. A dissolução A POLÍTICA AGRÍCOLA
dos sindicatos e a nova organização hierárquica dentro das A propaganda nazista tinha insistido muito na impor-
fábricas favoreceram o controlee > o comando do mercado tância da defesa do mundo agrícola e camponês, ver-
de trabalho. dadeiro representante da pureza racial alemã. Walter
Apesar disso, o sucesso da luta contra o desemprego Darré, ministro da Agricultura e chefe da organização
foi real: no momento da tomada do poder de Hitler, os corporativa dos agricultores, foi o principal artífice das
desempregados eram cerca de 5 milhões; em 1935 houve reformas do mundo agrícola. Ele deu vida ao Reichsnáhrs-
uma redução para pouco mais de dois milhões; e, no ano tand (corporação da alimentação do Reich) do qual eram
seguinte, alguns setores, como a indústria de edificações e membros todos os agricultores e quem comercializava ou
a metalúrgica, lamentavam a falta de mão-de-obra. Esses trabalhava industrialmente produtos agrícolas; todas as
sucessos foram atrelados a uma economia destinada à pro- ligas agrícolas e as organizações preexistentes foram dis-
dução bélica e obtidos à custa do desaparecimento de toda solvidas. Os novos funcionários nem sempre conseguiram

colaboração com Himmler


NWALTER DARRÉ viável apenas através de um
retorno aos campos e pelo
na definição das normas ra-
ciais que deviam caracterizar
aa a dt

E: ssa ão em 1895 na Argen- abandono do desenvolvimen-


Ra aa

1930, Darré as SS. Depois da tomada do


to industrial. Em
pio

| tina pum a família de comer-


es

poder tornou-se respon-


passou a fazer parte do
sável pela política agrícola
ha e foi antro na NSDAP e logo estabeleceu
Hi mm ler do NSDAP e, em seguida,
laç os co m
; odEia -studou economia est rei tos
do po- ministro da Agricultura. Com
1 e exerceu car gos e Hit ler . Até a to ma da
a a promulgação do plano qua-
o der est eve ent re aqu ele s que
Rr públ icos no setor de criaçã drienal em 1936 e mais ainda
192 9 pub li- mai s se em pe nh ar am para
— dear nim nais. Em o par tid o e depois da eclosão da guerra,
| nundo camponês como
On . obt er vot os par a
em seu peso político diminuiu.
se oc up ou esp eci alm ent e
E fonte vi al da raça nórdica e, es com O Detido em 1945, foi conde-
. idi fic ar as rel açõ
em 19300, À nova nobreza do sol
nado em 1949 a sete anos
inclusive
sangue ée qjo solo. Nesses tex a : | mundo, camponês de prisão, mas foi libertado
borot ;teorias. sobre . por 'meio da redação de um
no ano seguinte. Morreu em
de de uma TomTeE A “periódico. mensal fundado em
Munique em 1953.
lo povo alemão, “1932. Trabalhou em estreita
78 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

DISTINTIVOS DO SERVICO
DO TRABALHO DO REICH
de 1934

KRrAFT DURCH FREUDE


Uma colônia agrícola no cartaz da
organização do trabalho nazista
(embaixo, à esquerda).

CAMPONESAS EM
TRAJES TRADICIONAIS
A política agrícola do Reich não
conseguiu refrear a fuga dos cam-
pos (embaixo, à direita).

obter o controle completo da situação, como no caso das mente que sobre essas terras não podiam pesar hipotecas,
estreitas ligações entre agricultores e comerciantes judeus protegendo os endividados, mas não foi possível, por falta
que, muitas vezes, lhes ofereciam os créditos necessários; de capitais, proceder aos necessários investimentos. Além
mas além disso, não houve para os camponeses nenhuma da retórica propagandista, a política agrícola implementada
autonomia. pelo regime não trouxe mudanças significativas; pelo con-
A intervenção pública limitou-se de fato a aspectos trário, a fuga das áreas rurais se acentuou no decorrer dos
técnicos, deixando aos cartéis da indústria química e aos anos. No setor agrícola, porém, a autonomia produtiva da
latifundiários a liberdade de impor condições de trabalho Alemanha chegou a 80%.
proibitivas e de determinar os preços dos produtos agrícolas.
Não foi encaminhada nenhuma reforma para mudar a estru- A CLASSE OPERÁRIA
tura do latifúndio, porque o apoio dos grandes proprietários Os operários e suas organizações políticas, sindicais e
de terras tinha sido e deveria continuar sendo um pilar do associativas foram o primeiro alvo de ataque nazista e já em
sistema de poder nazista. A lei de setembro de 1933, que junho de 1933 não existia mais nada do amplo e variado
vinculava o primogênito a uma propriedade de até 125 hec- espectro de grupos e estruturas que haviam caracterizado
tares, tornando-a indivisível e inalienável, reafirmou o vín- os anos da época da república de Weimar. Os operários
culo dos camponeses com a terra, privando-os de qualquer foram rigidamente enquadrados para acelerar os ritmos
possibilidade de mudar seu próprio status. A lei previa real- produtivos sem direito a nenhuma reivindicação ou mani-

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A POLÍTICA ECONÔMICA E 79

CRUZEIROS PARA OS
TRABALHADORES
O cartaz anuncia; "Agora também
tu podes viajar!” As viagens orga-
nizadas para famílias de operários
e de empregados deram a ilusão

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de que também as camadas menos

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favorecidas podiam desfrutar das
mesmas benesses da burguesia.

Ma eee nu pe
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Neg De e po Sd a PA

festação de descontentamento. Em maio foi fundada a social de seus membros e estendendo sua presença parti-
Frente Alemã do Irabalho, tendo como presidente Robert cularmente fora do horário de trabalho, por meio da regu-
Ley, que, com mais de 25 milhões de inscritos, passou a lamentação do tempo livre. Essa tarefa foi desenvolvida
ser a maior associação de massa nazista. Ley a concebeu pela organização Kraft durch Freude (força por meio da
como instrumento para penetrar em todos os setores da alegria) que administrou numerosas iniciativas: de espe-
vida econômica alemã. Caixa de ressonância da política táculos teatrais a concertos, de curtas viagens a atividades
social do regime e tentacular mecanismo de pressão con- culturais. Apesar dos preços relativamente baixos, foram
formista, foi um dos meios mais eficazes para a penetração os empregados e não os funcionários que mais usufruíram
popular do regime e para o condicionamento psicológico delas e muitos aproveitaram a possibilidade de evadir-se
das massas trabalhadoras. A grande disponibilidade eco- da rotina diária.
ln! | nômica da Frente, que derivava das contribuições de seus O objetivo dessas iniciativas foi a exaltação naciona-
eia membros, serviu para financiar uma elefantíaca estrutura lista do espírito coletivo para dar, ao menos momenta-
a de funcionários. neamente, a ilusão de que acima dos conflitos de classe
104 A interpenetração típica de partido e Estado, que carac- era realmente possível pertencer a uma Volksgemeinschaft
gm | terizouo Terceiro Reich, transpareceu também nesse setor: (comunidade do povo) que, na realidade, se caracterizou
ie | oNSDAP administrou a frente trabalhista realizando, por como estrutura nada igualitária, pois era articulada de
conta do Estado, o controle da confiabilidade política e modo hierárquico e corporativo.

operárias da época da repú- responsabilidade dentro


ROBERT LEY vel pelo comitê de ação
SR blica de VVeimar, Ley teve do Reich. Criou também as
para a proteção do
k um dos cargos de maior escolas “Adolf Hitler” para
| Nasceu em 1890 numa família trabalhador alemão
; os filhos da elite do partido.
de (camponeses abastados. e, portanto, depois
Preso pouco antes do fim
E Voluntário na guerra, foi da tomada do poder,
da guerra pelas tropas
| gravemente ferido em 1917. pela destruição das
! norte-americanas, foi
Iinscreyeu-se no NSDAP em associações e
, citado no tribunal de
925 e tornou-se responsável
A 192 das sedes sin-
] Nuremberg e se sui-
peloo partido da Renânia meri- dicais. Como
cidou na prisão.
à e Foi despedido da Bayer, presidente da
frente tra- o & |
o ro
ag de seus violentos
balhista, que Va vá dá
“ataques antissemitas contra
se formou - O PRESIDENTE
oo RE judeu Warburg,
embro do conselho de graças aos | DA FRENTE
patrimônios f 4 DO TRABALHO
ministração. Em 1930 foi ENTRE SPEER E
Er o para O Reichstag. Em confiscados das GOEBBELS
É 2 foi nomeado responsá- “organizações

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do, 4 TE
80 EE HISTORIA ILUSTRADA DO NAZISMO

FrITZ ToDT
Artífice da construção da rede
rodoviária alemã e das fortificações
do Atlântico, foi ministro para os
armamentos de 1940 a 1942,ano
em que morreu num acidente aéreo.

|º DE MAIO NAZISTA
Cartaz para a primeira celebração
da “Festa do trabalho nacional”.
assim rebatizada para eliminar toda
conotação de classe.

ENCONTRO DA FRENTE
DO TRABALHO (embaixo).

À ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO a importante função de enquadramento político, seleção e


No decorrer de 1934 foram baixadas as medidas que deli- disciplinamento.
nearam o novo ordenamento econômico e social. A lei do O esforço fundamental do regime foi enfraquecer o espí-
trabalho nacional, de 20 de janeiro de 1934, estabeleceu em rito classista dos trabalhadores e, para esse fim, contribuíram
cada fábrica uma rígida estrutura hierárquica: os empresários não somente o aparato repressivo sempre mais capilar, mas
eram os chefes a quem empregados e operários deviam obe- também as condições de trabalho. Os ritmos, quanto mais se
decer cegamente “para promover os objetivos da empresa e acelerava o esforço produtivo em preparação da guerra, tor-
a utilidade comum do povo e do Estado”. Os sindicalistas naram-se massacrantes; a introdução do trabalho por emprei-
foram substituídos por fiduciários, nomeados pelos indus- tada, desencadeando a competitividade, rompeu a tradicio-
triais e pelas organizações nazistas e prepostos ao controle e nal solidariedade de classe. A classe operária acabou ficando
à manutenção da ordem e da disciplina. Em maio do mesmo sempre mais esfacelada e dividida por contrastes, privada de
ano foi baixada a lei sobre a colocação da mão-de-obra. Em sua força contratual, embora não faltassem casos — particular.
1935, com a introdução da “carteira de trabalho”, foi ulte- mente naqueles setores que haviam alcançado a plena ocupa-
riormente obstaculizada a mobilidade dos trabalhadores. No ção — em que os trabalhadores, de qualquer modo conscientes
mesmo ano foi introduzido o “serviço do trabalho” obriga- de sua possibilidade de reivindicação, obtiveram melhorias
tório, por seis meses, para os jovens entre 18 e 25 anos. Isso, salariais, às vezes até por mediação da frente trabalhista, cuja
além de aliviar a pressão sobre o mercado de trabalho, teve pretensa função de mediação sempre foi ambígua.
A POLÍTICA ECONÓMICA E 8|
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a do naz ism o, a infla ção e o dese mpre go deix aram de exist ir. Mas a classe operária
OPERÁRIOS NA FÁBRICA Com a chegad fábricas e da disciplina interna
co m a es ta bi l ida de e ple na oc up aç ão à cus ta de uma férrea regulamentação nas
alemã se beneficiou salár ios e condições de trabalho.
su pr e ssão da libe rdad e de asso ciaç ão e da poss ibil idad e de nego ciar
nos estabelecimentos, além da
82 E HISTORIA ILUSTRADA DO NAZISMO

HJALMAR escolhas econômicas e políti-


SCHACHT cas do regime comportavam.
Schacht foi preso em |944.
Nascido em 1877 numa famií- por causa de seus ocasionais
lia de comerciantes, estudou contatos com o movimento
economia e, apenas concluídos de oposição, que organizou o
os estudos, iniciou brilhante atentado contra Hitler de 20
carreira no setor bancário. Em de julho, e ficou detido nos
1918 foi um dos fundadores campos de Ravensbriick e de
do Partido Democrático Ale- Flossenbúrg. Citado perante
mão, de inspiração liberal e o tribunal de Nuremberg
progressista.À partir de 1923, por sua responsabilidade na
tomou parte ativa na política política de rearmamento, foi
econômica da república de absolvido. Posteriormente foi
VVeimar, dando sua contribui- condenado por um tribunal de
ção no combate à inflação. No Stuttgart a oito anos de traba-
mesmo ano foi nomeado pre- md lhos forçados, dos quais cum-
sidente do banco dos Reich.
a! X |

AA à

SANS
o ; a)
priu apenas um. Na década de
NR EEN
Deixou o cargo em 1930 1950, começou uma brilhante
em decorrência de conflitos carreira como conselheiro
com a política financeira do econômico e financeiro dos
governo e se aproximou dos países em via de desenvolvi-
ARES
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ambientes conservadores. Em ! o Er

SNL
A

mento. Morreu em Munique


março 1933, Hitler nomeou-o
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RNA
NR | em 1970. |
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novamente presidente do ban-
Adir ear
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co estatal e, no ano seguinte, o ROO RA |


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a o na ScHACHT NUMA FOTOGRAFIA |
ministro da Economia. Em
DA DÉCADA DE 1920
ph f Er AR O) TUE x

maio de 1935 foram-lhe con-


feridos plenos poderes para entre Schacht e Góring. Em do colapso completo da eco- DURANTE UMA PAUSA
a economia de guerra, por novembro de 1937, deixou os nomia alemã, mas desse desen- DO PROCESSO DE NUREMBERG
Fotografado enquanto toma sua
causa dos crescentes conflitos cargos ministeriais e, em 1939, volvimento ele foi ativa e cons-
refeição em companhia de outros
também a presidência do ban- cientemente corresponsável, prisioneiros, entre os quais Von
co.Até 1943 continuou como colhendo melhor e antes de Papen (à sua esquerda).
ministro sem pasta e sem in- muitos outros os riscos que as
fluência alguma. Afastou-se da
vida política antes do início da
guerra e, por causa dela, antes
A POLÍTICA ECONÔMICA E 83

BORRACHA SINTÉTICA
PRODUZIDA NOS
ESTABELECIMENTOS
DA IG FARBEN

HITLER EM VISITA AO SALÃO


DO AUTOMÓVEL DE BERLIM
(embaixo)
E

O PLANO QUADRIENAL
em=roa

zação estava Góring, que tinha o poder de emanar todas as


E

No encontro de Nuremberg de 1936, foi anunciada a pro-


od

disposições jurídicas e administrativas e hierarquicamente


mulgação do plano quadrienal que constituiu o passo defi- estava acima de todos os responsáveis pelos departamentos
Me

nitivo para uma organização de todo o sistema econômico econômicos. Os melhores resultados no tocante à produção
Fo

em vista do esforço bélico. Hitler declarou nessa ocasião: autárquica foram alcançados pela indústria química.
“Dentro de quatro anos a Alemanha deverá ser completa- Do ponto de vista da organização das estruturas econô-
mente independente do exterior no que diz respeito a todas micas, o plano não introduziu mudanças significativas, o
aquelas matérias-primas que podem, de qualquer modo, ser Estado não interveio diretamente na gestão da economia,
produzidas pela habilidade dos alemães, por nossa química mas garantiu para si uma série de tarefas de coordenação. As
e por nossa indústria mecânica, como
também por nossas minas”.
Já não havia praticamente
nenhuma relação entre des-
pesas e lucros: a autarquia
devia ser garantida como
premissa da nova guerra.
À frente dessa organi-
84 E HISTORIA ILUSTRADA DO NAZISMO

HERMANN tomada do poder Contribuiu


GÓRING de modo determinante para
consolidar o caráter terroris.
ta do regime. Foi Ministro do
Nasceu em 1893, nos arredo-
Interior da Prússia e chefe da
res de Rosenheim, na Baviera.
polícia prussiana, além de mi.
Seu pai tinha seguido a car-
reira diplomática e era então
nistro sem pasta do primeiro
cônsul-geral no Haiti. Góring governo Hitler. Ao mesmo
dedicou-se à carreira militar. tempo, em maio de [933 fo;
tornando-se, em janeiro de indicado responsável pelo
1914, tenente de infantaria. departamento da aeronáutica,
Com a eclosão da guerra, base da futura Lufwaffe. Em
alistou-se na aviação e com- 1934 consolidou sua posi-
bateu como piloto de caça, ção como lugar-tenente de |
conquistando a mais alta con- Hitler, a tal ponto que uma k
decoração,a ordem ao méri- lei de dezembro o nomeava |
to. Em 1922 conheceu Hitler secretamente sucessor do
e se inscreveu no NSDAP Fúhrer. Em 1936 tomou asia
sendo logo nomeado chefe da responsabilidade da implan-
recém-criada organização tação do plano quadrienal e 5
das SA. Participou foi dessa posição que pôs as |
do putsch de Mu- bases de seu crescente peso
nique e, depois político, numa fase em que a
do fracasso política do Reich já visava ao y
desse complô, desencadeamento da guerra
refugiou-se na para a conquista de um espa-
Suécia, país de ço vital. No início do conflito,
origem de sua Góring tinha atingido o topo
mulher. Voltou de sua carreira, mas então
começou a perder prestígio
e peso político. No processo
de Nuremberg foi condenado
para a Alemanha em 1927, a morte e suicidou-se pouco
em decorrência de uma antes da execução.
anistia política. Em
1928 foi eleito para
o Reichstag, do
; qual chegou a ser e
presidente, depois Com O UNIFORME DE SOLDADO |
da vitória eleitoral No retorno de seu exílio na: ss
EA A aii * | do NSDAPem Suécia, Hitler confiou-lhea tarefa
de conquistar a grande mes É
CP 1932.Sua fama alemã para a causa do nazismo saia
À 3, como herói da
Primeira Guerra Com COLETE DE PELE |
Mundial, seus conta- E PUNHAL DOURADO
A estrela de Góring caiu vertigi=
tos com influentes círcu- nosamente no decorrer da loi
los do mundo econômico, do batalha de Stalingrado, quando
exército e da aristocracia fi- Lufwaffe não teve:condições de
zeram com que ele passasse a garantir os suprimentos necess
rios ao 6º exército Ma |
ter um papel fundamental na
ascensão do nazismo. Após a
A POLÍTICA ECONÔMICA E 85

GRANDE LOJA
BERLINENSE

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únicas intervenções diretas ocorreram na criação de algumas as responsabilidades e o controle administrativo sobre o fun-
empresas públicas, entre as quais as mais importantes foram as cionamento da economia passaram para as mãos da indústria
| Oficinas Hermann Góring, grande sociedade para a explora- privada que exerceu ampla influência nas decisões políticas e
ção dos minérios de ferro e para o desenvolvimento da meta- militares inerentes à economia. Os limites entre a adminis-
lurgia. Depois da promulgação do plano quadrienal, não ocor- tração econômica do Estado e a esfera da economia privada
reram, porém, mudanças substanciais no setor econômico: se tornaram sempre menos distintos. A aliança entre o com-
MD O

as modificações se resumiram em transformações internas plexo militar-industrial e o grupo dirigente nazista, baseada
no âmbito do sistema monopolista, embora não tenha sido no rearmamento e no programa expansionista, durou até a
a,

certamente por acaso que a maior concentração se verificasse última fase do Terceiro Reich, porquanto os dois parceiros
PR

nos setores-chave da indústria química e extrativa. estavam estreitamente ligados à lógica dos acontecimentos
que tinham posto em movimento. É verdade, porém, que
POLÍTICA E ECONOMIA o equilíbrio das relações de força no interior dessa aliança
O entrelaçamento dos objetivos da liderança nazista se deslocou progressivamente em favor da liderança nazista
e daqueles do capitalismo alemão se tornou sempre mais e, nos momentos cruciais da história do Terceiro Reich, as
estreito com o passar dos anos. O Estado e os setores de ponta exigências políticas e ideológicas dos chefes nazistas desem-
da indústria se fundiram ainda mais que no passado, de modo penharam um papel cada vez mais relevante na determinação
que, especialmente depois da eclosão da guerra, a iniciativa, das decisões políticas.

MÚSICA PARA AS LIDERANÇAS


Concerto da Filarmônica de Viena
regida por Wilhelm Furtwângler,
numa fábrica do Reich.
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Com cinco MARCOS


POR SEMANA PODES TER
TAMBÉM TU TEU AUTOMÓVEL!
Assim dizia a publicidade do “carro
do povo”. Foi uma ideia de Hitler
produzir um carro capaz de esten-
der os benefícios da motorização
a amplas camadas da sociedade
alema.

CONSTRUÇÃO DE AVIÕES
DE GUERRA
No âmbito dos programas de rear- 4
mamento, o Estado ofereceu consi- UERR) ? É (2)
derável apoio financeiro à indústria
NE |
pesada (embaixo).
o

A partir de 1936, teve início a redistribuição interna mente entrelaçadas com fatores ideológicos e estratégico-
dos poderes: a promulgação do “plano quadrienal” mar- militares ao forjarem o caráter e o andamento da agressão
cou um claro declínio da influência direta da indústria alemã. A permanência de problemas de disponibilidade
nas decisões políticas. Daquele momento em diante, as e de entrega das matérias-primas e da mão-de-obra fe:
considerações ideológicas estiveram em primeiro plano com que os dirigentes das principais indústrias bélicas
na determinação das escolhas e das prioridades políticas. continuassem tendo um considerável peso nas decisões
As empresas alemãs obtiveram enormes vantagens tanto políticas. A guerra de saque imperialista se tornou a única
com o processo da “arianização” como com a expansão escolha possível, e a indústria alemã foi envolvida nas
territorial do regime. Mas o ímpeto ia progressivamente decisões que culminaram numa destruição e crueldade até
se deslocando para uma política de alto risco, em que era então desconhecidas na história europeia.
a intrínseca e urgente dinâmica da corrida ao armamento Até o fim do conflito, todos os setores das finanças e da
que delimitava as margens dentro das quais os grandes indústria ligados à produção de armamentos conseguiram do
interesses econômicos podiam agir. A indústria privada Reich enormes benefícios. Em 1939 os lucros não distribuí-
era indispensável para o rearmamento e isso permitiu a dos das sociedades de responsabilidade limitada eram quatro
seus expoentes manter um considerável poder contratual vezes superiores aos níveis de 1928. Os lucros mais ingentes
durante o Terceiro Reich. Mesmo no decorrer da guerra, foram conseguidos pelos grupos monopolistas, com destaque
as determinantes econômicas continuaram inextricavel- para o gigante químico IG Farben.
A POLÍTICA ECONÔMICA E 87

o FUSCA

Hitler apoiou o projeto de


Ferdinand Porsche de cons-
truir um “automóvel para o
povo”, a fim de explorá-lo
para fins propagandísticos e
incentivar a motorização da
Alemanha.Visto que a indús- ii

tria automobilística, em cujas


fábricas deveria ser realizado
o novo modelo, boicotou
indiretamente esse plano, a
sociedade para a produção
do Volkswagen construiu
com a frente trabalhista um
Ma

estabelecimento próprio em
YVolfsburg. Ali foi planejada,
a, e RE

por vontade de Hitler, uma


cidade-modelo operária,
projetada pelo arquiteto Pe-
ter Koller: uma área em que
indústria, tempo livre e espa-
ços habitacionais estivessem
estreitamente ligados e na
qual o centro da cidade fosse
O fr

constituído pelos edifícios


=

do partido. O automóvel foi


Fa.

NAS ,
HA 4720504

APRESENTAÇÃO
apresentado pela pri- nem às 66 mil que já tinham
DO FUSCA
meira vez em setembro completado o pagamento, Os únicos exemplares produzidos
de 1938, mas não foi porque a nova empresa, du- foram entregues a oficiais das SS e
rante a guerra, teve de redire- a membros da elite nazista.
entregue a nenhuma
das 336 mil pessoas cionar a própria produção em FERDINAND PORSCHE
que o haviam pedido, função das exigências bélicas. (à esquerda).
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Terror,

em
Ca

e
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perseguição,
OPOSIÇÃO
polícia foi o instrumento que o nazismo utilizou
para executar a vontade do Fiihrer e garantir a
ordem e, embora fosse a única instituição auto-
rizada a exercer o poder de coerção, nela preva-
leceu claramente a instância do partido em vez da estatal. A
estrutura da polícia foi um dos setores que confirmou a com-
penetração entre Estado e partido. Logo depois da tomada do
poder, Hermann Góring, ministro do Interior na Prússia, pro-
cedeu a uma radical reorganização dos serviços de segurança,
a
E

criando a polícia secreta do Estado (Gestapo). Também em


todas as outras Lânder (regiões) foi criada a polícia política, e,
na Baviera, Heinrich Himmler foi nomeado diretor-geral, que,
a partir de 1929, foi também chefe das SS. Seu colaborador,
Reinhard Heydrich, criou, em 1931, o Sicherheitsdienst (serviço
de segurança), um poderoso instrumento de controle tanto
dos partidos e das organizações inimigas como da oposição
interna ao partido. Após a eliminação das SA em 1934, o
90 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

HITLER NUM AFRESCO


DO PINTOR MEXICANO
DiEGso RivErA (1933)
(p. 88) ÀS
FLORES PARA O FÚHRER
A imagem de Hitler foi objeto de
devoção em muitas casas alemãs
(na abertura).

DISTINTIVO DE IDENTIFICAÇÃO
DA POLÍCIA SECRETA
DO ESTADO (GESTAPO)

poder de Himmler cresceu notavelmente: foi unificada sob próprio Ministério da Justiça: a maioria dos funcionários era
seu comando toda a polícia política, exceto a prussiana. da ala conservadora e pronta a conformar-se com a vontade
Em junho de 1936, um decreto de Hitler, destinado a do novo governo. Foram afastados os judeus e, a partir de
regulamentar esse complexo aparato, centralizou a estrutura 1935, as mulheres não puderam mais ser juízes. No setor
da polícia e a pôs sob o controle de Himmler, que era for- administrativo, o fim das autonomias locais fez com que
malmente subordinado ao Ministério do Interior, mas de fato o ministério tivesse o controle sobre um sistema bastante
autônomo. Na união entre polícia do Estado e polícia política amplo, porquanto, até aquele momento, havia prevalecido
prevaleceram claramente as SS, de tal modo que Himmler a descentralização.
não teve sequer um escritório no Ministério do Interior. No As mudanças ocorreram fora das estruturas administra-
mesmo ano, ele reorganizou a polícia, dividindo-a em polícia tivas: foram criados amplos espaços de autonomia jurídica
da ordem e polícia de segurança, confiando a Heydrich o para as SA e depois para as SS e muitos aspectos do direito
controle desta última. passaram por significativas mudanças. Isso afetou particular-
mente o direito privado: depois do incêndio do Reichstag,
A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA foi restabelecida a pena de morte para alguns delitos. Seto-
O direito no regime nazista se tornou instrumento para res sempre mais amplos foram subtraídos da administração
a perseguição dos inimigos e dos indesejáveis. Não houve, comum da justiça e foram instituídos tribunais especiais.
após a tomada do poder por Hitler, mudanças de relevo no Enquanto aquele especial para os delitos políticos e a corte

SS e, no ano seguinte, eleicoa a


HEINRICH
ao Reichstag. Como chefe |
HIMMLER da pala de a abriu, Si
Nascido em Munique em
1900, numa família de estrita
observância católica e mo-
nárquica, em 1923 tomou
pos. Em 1934 esteve enge ca ,
parte no putsch de Munique
mais entusiastas organizado: | |
junto com Hitler. Em 1925
res do massacre das SAdide +
se inscreveu no NSDAP e li-
Rôhm. Nos anos seguintes, a
gou-se a Gregor Strasser; no
sua carreira coincidiu com |
mesmo ano se tornou subs- a E
o crescimento do
tituto do Gauleiter (respon-
“sável) da Baviera meridional dos mais poderosos mem É:
e, de 1926 a 1930, substituto
bros do aparato político « eRr
E chefe da propaganda. Em regime e teve margens &de a
1929 foi nomeado chefe das
ia
TERROR, PERSEGUIÇÃO, OPOSIÇÃO E 9]

REINHARD HEYDRICH
Membro das SS desde 1931, teve
um papel de primeiro plano na
“noite das facas longas”, nas vio-
lências antijudaicas que culminaram
“na noite dos cristais” e no plane-
jamento do extermínio dos judeus
da Europa (à esquerda).
a

WILHELM FRICK
e

Ministro do Interior do Reich


de 1933 a 1943 e depois
it

Reichsprotektor da Boêmia-
“Morávia, foi condenado à forca
em Nuremberg.

popular de justiça eram ainda dependentes do Ministério da ENTRE CONSENSO E SILÊNCIO


Justiça, os novos tribunais da Wehrmacht eram autônomos À adesão ao nazismo não foi unânime entre a população
e, a partir de 1936, tiveram também autonomia, em determi- alemã, como queria a propaganda do regime. O entusiasmo
nadas circunstâncias, de julgar os civis. De acordo com esse foi apenas um fenômeno de fachada e, na realidade, após a
modelo, Heinrich Himmler fundou em 1934 um tribunal de tomada do poder, o movimento nacional-socialista se carac-
honra para as SS. Foram introduzidas mudanças também no terizou pela luta pelo poder pessoal e por um ritual total-
E | direitode família: a tutela da pureza racial contemplou a proi- mente exterior de desfiles, enquanto a massa politicamente
bição de casamentos por razões eugenéticas e foi incentivada indiferente da população caiu num passivo mau
a separação dos casais mistos. humor e numa série de compromissos pri- Mo
4 Fundamento da concepção nazista do direito não foi mais vados com o regime. |
a proteção de cada pessoa e a igualdade de todos os cidadãos Houve, no entanto, muitos aspectos da
perante a lei, mas a prioridade do interesse da comunidade política nazista que tiveram amplo apoio,
ini

do povo e o dever de servi-la. Muitas novas penas foram em primeiro lugar os sucessos na política
aplicadas retroativamente. Houve, além disso, uma inten- externa: o fato de que
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E
É | sificação geral das medidas punitivas, como demonstra O a
crescimento exponencial das condenações à morte, em o
]
particular após a eclosão da guerra.
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w e hp

nobra sempre mais am- (grupos de operação) nos


EE Entre a elite dominante, territórios ocupados pela
não. granjeou simpatizantes, Wehrmacht, nos guetos e
nos campos de extermínio. potências
mas de qualquer modo foi ocidentais.
temido pelo obsessivo cui- Foi também responsável pela
germanização dos territórios Nos dias seguintes
dado nas questões que de- à capitulação da Ale-
anexados e, portanto, esteve
pendiam dele. Empenhou-se manha, tentou fugir
entre os principais estrategis-
“pela tutela da “raça ariana”, com documentos
tas da condução da guerra
em particular por meio da falsos, mas, feito
total” no leste. Na primavera
Criaç cão da casta elitista das prisioneiro pelos
de 1945 foi afastado de to-
SS é pela fundação do Lebens- ingleses em 23
dos os cargos e expulso do
born. - Depois da eclosão da de maio de 1945,
partido, porquanto se decla-
guerra, esteve entre aqueles suicidou-se com
rou favorável à capitulação
a Ie tiveram maiores respon- cianureto quando
parcial, na ilusória esperança
| ag idades na organização sua identidade foi
de continuar combatendo
fi extermínio dos judeus descoberta.
contra a URSS, ao lado das
or pare dos Einsatzgruppen
E “E F A EL ya a q , ] !
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E a pis FOTIidA
92 HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

SOMENTE HITLER
Esta declaração de Baldur von
Schirach confirmava o culto de que
era objeto o Fiihrer:“Adolf Hitler,
nós cremos em ti. Sem ti seríamos
apenas indivíduos, por meio de ti
somos um povo. És tu que dás um
sentido à nossa juventude”.

HITLER PELAS RUAS


DE NUREMBERG EM 1934
(embaixo).

Hitler tivesse conseguido, num breve espaço de tempo, anu- pôr “ordem”, embora incluísse a perseguição dos opositores é
lar as cláusulas discriminatórias do tratado de Versalhes e rea- a supressão violenta de toda dissensão, por menor que fosse.
lizar antigas reivindicações territoriais (como a unificação de O fato de que se pudesse deixar a bicicleta sem cadeado na
todos os alemães numa grande Alemanha) foi acolhido com frente de casa, sem que ninguém a roubasse, ou que não cir-
grande entusiasmo pela imensa maioria da população. O que culassem pelas ruas tantos “transviados”, foi atribuído como
contava para muitos alemães não foi somente o sucesso no mérito exclusivo do regime. Todos esses aspectos contribuí-
plano dos resultados, mas também dos métodos: depois de um ram para fazer crescer o mito da imensa superioridade do
decênio de política exterior titubeante e contraditória, sob a Fiihrer, ao qual eram atribuídos todos os sucessos, e constituiu
insígnia do compromisso, Hitler deu aos alemães a impressão um poderoso elemento de agregação e de consenso.
de que sua estratégia, arriscada mas ao mesmo tempo eficaz,
tinha obtido grandes resultados. Muitos alemães fizeram ava- ÓRDEM E TERROR
liações análogas com relação às medidas econômicas e sociais O apoio de amplas camadas da população para alguns
do regime. Parecia que o novo governo tinha efetuado uma aspectos da política nazista incluiu também a concordância
reviravolta radical: após a incerteza e o desemprego, a partir com a política do terror, que não é possível etiquetar como
is

de 1936-1937 foi pelo menos garantida a todos a satisfação das simples envolvimento passivo por parte dos alemães. Depois
necessidades fundamentais de alimentação e trabalho. Teve de 1933, Hitler se declarou contrário às formas espontâneas
Fizssd

grande apoio até mesmo a política do terror quando prometia de terrorismo dos camisas-marrom e, com a morte de Róhm
fr ti TU
TERROR, PERSEGUIÇÃO, OPOSIÇÃO | 93

AS SA uma espiral de agressividade


sempre mais marcante, a que
As SA (Sturmabteilung, divisão muitos membros do partido
de assalto) foram criadas em queriam pôr fim. Depois da
1920, como polícia do tomada do poder, por
partido, para defen- ». decreto de Górins,
der suas iniciati- y as SA puderam
vas e constituir abrir prisões,
uma poderosa 5 administrar
força de re- 4 campos de
pressão nos Ff ka e a concentra-
de
choqques aa — E
FFo OESNE çã
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a x BI REA E
ES ea detenções.
1?
contav E Entre as mais
cerca de 300 conhecidas ini-
membros; em Ciativas das SA
1933 eram mais * ea 7 está o boicote
de 400 mil. Ernest “q das lojas judaicas
Rôhm se empenhou no dia |º abril de
para que as SA se trans- 1933.A situação política
formassem numa organização confusa e contraditória que
paramilitar, mas, em crescente caracterizou o ano de 1933
conflito com Hitler, demitiu-se fez com que muitos membros
do partido em 1925. Em 1931, das SA ocupassem cargos
voltou à direção das SA por públicos que, no entanto, era
vontade do próprio Hitler, necessário canalizá-los para

A VORAN
Mi cargo que ocupou ate seu o Estado nazista. Os projetos
LA
assassinato em 1934. As tro- de normalização de Hitler não
pas com o uniforme marrom tinham mais nada em comum
conduziram sua luta política com aqueles de uma “segunda
especialmente nas ruas, procu- revolução” que as SA exigiam
gy
rando criar locais de agregação e por isso se chegou à decisão
vi precisamente nas cidades e da matança da “noite das facas
nos bairros operá- longas”. Nos anos seguintes, a
rios e angariando atividade das SA concentrou- da “noite dos cristais” (9 de
Cartaz em que se destaca um
informantes entre se na preparação pré-militar novembro de 1938), quando
inquietante camisa-marrom.
os mais jovens. Sua dos jovens e nas manifestações foram mortos dezenas de
públicas. Sua vocação terroris- judeus e foi ateado fogo as si-
tática baseou-se na ENCONTRO DE DIVISÕES DE

ta, nunca realmente adorme- EN nagogas, às casas e às ASSALTO EM 1920.


provocação e na
cida, transpareceu em toda a em lojas de alemães de
violência, chegando
sua crueza no decorrer ato m ligião jjudaica.
religião

=)
a criar, dessa forma,
94 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

AS SS
As 55 (Schutzstaffeln, esqua-
dras de proteção) foram cria-
das em 1925 como guarda-
-costas de Hitler. Nos primei-
ros anos eram subordinadas
ao chefe das SA e formalmen-
te essa situação não mudou
quando, em 1929, Himmler
se tornou seu comandante.
Este procurou, no entanto,
conferir a essas esquadras
uma marca correspondente à
sua concepção de um corpo
de guardas que fosse a elite
do movimento nacional-so-
cialista, criando uma ligação
muito estreita com o Fiihrer
(segundo a palavra de ordem:
“Homem das SS, tua honra
se chama fidelidade”). Com
a constituição de um serviço
de informações sob a direção
de Reinhard Heydrich, as SS
adquiriram cada vez mais a
função de polícia do partido. com agrado esse crescimento polícia e em parte a desen- acentuou esse papel, porquan-
Depois da tomada do poder, do poder de Himmler numa volver-se como exército vo- to sua tarefa principal foi a g
o papel de Himmler conti- fase em que luntário de soldados políticos germanização dos territórios
nuou inalterado, mas tinha todo do INSDAE se tornaram os ocupados.
no ano seguinte o interesse gestores do aparato terrorista
sua situação em enfra- do regime. As 55 assumiram
mudou quecer as o controle direto dos campos
considera- SA. Depois de extermínio e de concen-
velmente da “noite das tração, confiado a divisões
quando, apoia- facas longas”, especiais (ditas “cabeças de
HIMMLER COM ALTOS OFICIAIS
do pelo ministro o poder das morto”). Casta privilegiada DAS SS EM UNIFORME PRETO
do Interior Wilhelm SS aumentou ligada a Himmler e a Hitler (no alto).
Frick que queria superar O expressivamente. por um juramento que acen-
QUEPE, ANEL E PUNHAL DAS SS
particularismo regional tam- Os homens das SS que, das tuava características de seita,
Na lâmina do punhal está escrito
bém na organização do apara- poucas centenas do final da as SS foram consideradas por
“Minha honra se chama fidelidade”,

a
to policial, ele se tornou chefe década de 1920, formavam em Himmler como fonte da pure- que ecoava o juramento dos cava-

a
[933 um exército de mais de za ariana. À eclosão da guerra

E
leiros das lendas teutônicas.
da polícia política de toda a
Alemanha. Gôring, presidente 50 mil homens, destinado em
dos ministros da Prússia, viu parte a cobrir os postos de

2 Tui
(GE
ir.
TERROR, PERSEGUIÇÃO, OPOSIÇÃO E 95

QUEIMADA EM PRAÇA PÚBLICA


UMA BANDEIRA COMUNISTA

RAPAZES DA JUVENTUDE
COMUNISTA EM BERLIM
Os adversários políticos do
nazismo, entre os quais havia na
dianteira os militantes comunistas,
foram objeto de vasta operação
de aniquilamento físico, visando a
eliminar qualquer vestígio de dis-
sensão (embaixo).

e das SÁ, pôs fim ao componente movimentista do partido, denúncias foram atos espontâneos, não impostas do alto, e
mas organizou depois, de modo burocrático e sistemático, o seu elevado número é a prova de como a população utilizou
aparato repressivo para manter a ordem contra todos aqueles a possibilidade de exercer uma forma, mesmo que mínima,
que eram considerados “desviadores” ou inimigos da “comu- de poder social ou de resolver conflitos pessoais. Cada um,
nidade do povo”. Essas mudanças certamente não ocorreram portanto, se transformou em inimigo potencial, um possível
em segredo, pelo contrário, falava-se delas publicamente nos delator. É precisamente nessa profunda subversão do tecido
jornais, no rádio e em toda ocasião em que se desejava subli- social que se deve detectar um dos maiores efeitos da política
nhar a guinada histórica do nazismo. terrorista do nazismo.
À brutal repressão de 1933 contra a esquerda foi acolhida
pela maioria dos alemães como uma promessa que, a partir À. OPOSIÇÃO INTERNA
daquele momento, a ordem ameaçada teria sido restabelecida A sociedade do Terceiro Reich era muito mais fragmen-
até mesmo com a força. Nos anos seguintes, as instituições da tada e contraditória do que apregoava a propaganda. Muitas
emergência não foram dissolvidas, mas modificadas e refor- foram as áreas de aberto desacordo, em primeiro lugar, a opo-

ee
o
cadas para fins de controle totalitário sobre a sociedade. Um sição organizada pelos partidos políticos. O partido comu-
grande número de cidadãos privados denunciou vizinhos de nista estava pronto, desde o final de 1932, a passar para a
casa, amigos e colegas, mas também pais ou filhos, quando ilegalidade e, embora fosse a primeira vítima das violências
estes se manchavam com comportamentos “desviados”. Essas terroristas do novo regime, não entrou inteiramente despre-
96 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

As SA PUXAM NUMA
CARROÇA UM OPOSITOR
OBRIGADO A VARRER
AS RUAS DA CIDADE DE
CHEMNITZ, EM MARÇO DE 1933.

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parado para a nova fase de luta; seus militantes tomaram dos militantes social-democratas abandonou, contudo, a ati-
iniciativas tão espetaculares como perigosas que causaram vidade política, continuando fiel aos próprios ideais em nível
numerosas prisões sem obter efeitos concretos. Em 1935, pessoal ou permanecendo dentro de um restrito círculo de
para enfrentar a gravidade da situação, foi abandonada essa contatos. Os contatos entre aqueles que continuaram ativos
estratégia de choque frontal para passar a iniciativas menos na ilegalidade e o grupo dirigente no exterior se tornaram
espetaculares, mas bem mais centradas, voltadas a organizar o sempre mais esporádicos e, de fato, se resumiram especial-
potencial de desacordo que serpenteava nas fábricas: os mili- mente no intercâmbio de material informativo. À repres-
tantes tiveram de realizar um trabalho capilar e certamente são sempre mais capilar do aparato policial conseguiu, no
mais fragmentado, mas menos arriscado. entanto, eliminar, nos anos 1938-39, a oposição dos partidos
A social-democracia, em contrapartida, foi colhida de operários. Ao lado dos comunistas e dos socialistas, houve
improviso pelas mudanças de janeiro de 1933 e, durante outros pequenos grupos que, graças à sua maior agilidade
alguns meses, tratou de encontrar um modus vivendi com o organizativa e ao fato de serem menos conhecidos da polícia,
novo regime. Quando ficou evidente que não era possível foram muito ativos.
nenhum tipo de compromisso, o grupo dirigente se estabele-
ceu no exterior, primeiramente em Praga e depois em Paris, O DESCONTENTAMENTO POPULAR
com o propósito de organizar e dirigir a atividade daqueles Ao lado das formas de oposição política, declaradamente
que haviam permanecido ativos na ilegalidade. A maioria destinadas a pôr fim à ditadura, houve uma insatisfação mais
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NUM ESTABELECIMENTO EM QUE


SE PRODUZIA CERVEJA
TERROR, PERSEGUIÇÃO, OPOSIÇÃO E 97

HELMUTH JaMEs GRAF


Von MoLTKE EM 1928
Estará entre os opositores do
nazismo condenados à morte
depois do fracassado atentado
contra Hitler em julho de 1944.

PADRES JESUÍTAS ALEMÃES


A Ordem dos Jesuitas foi posta
sob estrita vigilância pelo regime
(embaixo,à esquerda).

MILITANTES COMUNISTAS JOGAM


FUTEBOL NA FRENTE DA SEDE
DO PARTIDO NOS PRIMEIROS
ANOS DA DÉCADA DE 1930
(embaixo, à direita).

latente e difusa, que se manifestou com atos e comporta- o espaço separado, reservado à política. Espalharam-se boatos
mentos que podem ser interpretados como manifestação do e queixumes relativos especialmente à má qualidade ou à
esforço ininterrupto de adaptar-se a um regime que interfe- insuficiente quantidade dos produtos alimentícios e à lenti-
ria em cada aspecto particular da existência cotidiana, rei- dão com a qual procediam as reformas no campo social. Hitler
vindicando um poder total sobre a sociedade. Múltiplos são nunca foi, porém,
os exemplos: a não-inscrição de um filho na Hitlerjugend, a alvo dos críticos,
recusa da saudação “Heil Hitler”, a compra de mercadorias não foi con-
nas lojas de judeus e a confraternização com os trabalhadores siderado A E Lan
a

estrangeiros — gestos não considerados de recusa total, mas


infrações específicas. Muitos desses comportamentos cotídia-
nos não tinham relevância política, embora numa sociedade
democrática esses atos heterodoxos tivessem sido permitidos
a

ou tolerados, porquanto inerentes ao âmbito privado.


Em vez disso, o regime conferiu a esses comportamentos
um significado diverso: o totalitarismo nazista politizou a tal
ponto a sociedade em todas as suas esferas, que introduziu
obrigações políticas até no âmbito privado, destruindo assim
28 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

HEINRICH MANN (DE PERFIL)


E ALBERT EINSTEIN

CRIANÇAS JUDIAS FUGITIVAS


DA ALEMANHA, DA ÁUSTRIA
E DOS SUDETOS EM SUA
CHEGADA NA INGLATERRA, EM
DEZEMBRO DE 1938.

JUDEUS ALEMÃES DESEMBARCAM


NA GRÃ-BRETANHA
(embaixo).

responsável por aquilo que não funcionava. porque prevale- enquanto os membros dos partidos burgueses que emigraram
cia a convicção de que não estava a par disso. Esses atos, assim foram menos numerosos e viveram, na maioria das vezes,
como as diversas manifestações de insatisfação, conviveram isolados. Fugiram para o exterior entre 30 mil e 40 mil pes-
com o parcial reconhecimento do regime ou pelo menos com soas, estabelecendo-se, pelo menos até a eclosão da guerra,
um comportamento passivo perante o poder público. Precisa- especialmente na França e na Tchecoslováquia. A escolha
mente essa contraditória convivência de aspectos, inclusive de uma terra de asilo próxima da Alemanha era ditada pela
muito diversos, constituiu um dos elementos de força do sis- esperança de um breve retorno, mas também e talvez sobre-
tema nazista: no comportamento cotidiano de cada um não tudo pela vontade de manter contato com os companheiros
foi possível separar claramente os momentos de desacordo que ainda continuavam ativos na ilegalidade. Comunistas
daqueles de passiva adesão ou de consentimento ativo. e socialistas conseguiram, pelo menos até 1938, criar uma
boa rede de contatos dentro do Reich, graças à mediação de
À EMIGRAÇÃO POLÍTICA pessoas de confiança que viviam nas áreas de fronteira. Sua
Em 1933, muitos dirigentes, em particular dos partidos atividade política se limitou, contudo, quase exclusivamente
operários e dos sindicatos, decidiram, por motivos de segu- à troca de material informativo: na Alemanha eram coletadas
rança, deixar a Alemanha. Somente os partidos de esquerda e enviadas ao exterior as notícias sobre o estado de espírito da
— social-democratas, comunistas e alguns grupos menores população, notícias que tinham, no entanto, uma clara cono-
— constituíram núcleos ativos e organizados fora do Reich, tação política e, do exterior, chegavam jornais e livros.
TERROR, PERSEGUIÇÃO, OPOSIÇÃO E 99
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-Lo la no fil me O anjo azul. Sua refu taçã o ao nazi smo levo u-a a Holl ywoo d e a pedir a cidada-
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de Lolerp
interpretado, em 19 30 P o con fli to int retou canções para as tropas norte-americanas deslocadas nas diversas frentes de guerra,
a no rt e- am er ic an a. Durante
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M
| 100 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

| OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO também, graças sobretudo a novos campos, por exemplo,


Theodor Eicke, que foi seu nas proximidades das pedrei-
Em poucas semanas, depois levou à prestação de contas diretor nesses anos, tarefas ras de granito, como os de
da tomada do poder por com as SA (30 de junho de diversificadas da polícia e do Mauthausen e Flossenburg,
Hitler, os aparatos de polícia 1934),as SS substituíram as pessoal de vigilância. Entre O aumento dos prisioneiros
alemães ficaram nas mãos de SA também na gestão dos 1937 e 1938, com o forta- nesses anos esteve vinculado
membros confiáveis das SS, Lager. Os anos de 1934-35 lecimento do regime, tanto também à expansão terri-
das SA e do partido. No dia representaram uma fase de na política interna como na torial do Reich. Os judeus
20 de março, foi instalado o transição de um duplo pon- externa, tomou forma o novo foram encerrados nos Lager
primeiro campo de concen- to de vista: fechamento de sistema de detenção nazista com o preciso objetivo de
tração, utilizando a fábrica de diversos campos, redução com quatro grandes cam- acelerar sua emigração; aque-
pólvora de Dachau, nos arre- no número de prisioneiros pos: Dachau, Sachsenhausen, les que demonstraram poder
TU

dores de Munique. Às prisões e controle da violência e de Buchenwald e Lichtenburg. emigrar foram, com efeito,
efetuadas pelas SA e pelas SS, arbítrios. Além disso, com o Foram detidos especialmen- liberados e foi-lhes permitido
E

seguiu-se a abertura de ou- processo de concentração te homens ainda capazes deixar a Alemanha.
tros campos. No ano seguin- de trabalhar, demonstrando
E

dos poderes da polícia nas


-

te, foi iniciada a normalização mãos de Himmler, criou-se como estava adquirindo
e foram fechados muitos um modelo de Lager— o de sempre mais importância a
“Lager selvagens”, procurando Dachau — especialmente no exploração da mão-de-obra.
inclusive regular a situação que dizia respeito ao tra- Muitas indústrias, para as
das prisões e das relações tamento dos prisioneiros e quais trabalhavam os prisio- PRISIONEIROS NO
entre polícia e SS. Depois da das regras internas. Ali, com neiros, dependiam das SS e, TRABALHO NUM
“noite das facas longas”, que efeito, foram organizadas desse modo, foram abertos CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

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TERROR, PERSEGUIÇÃO, OPOSIÇÃO EE 10]

NOSFERATU, O VAMPIRO (1922),


DE FRIEDRICH MARNAU

ERNEST LUBITSCH
EM HoLLYWOOD
Emigrado nos Estados Unidos, o
diretor alemão, no centro da foto-
grafia abaixo, dirigiu Greta Garbo

É
na brilhante comédia intitulada

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Ninotchka (1939) e, em 1942, rea-

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lizou Queremos viver!, irônica comé-


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dia ambientada na Polônia ocupada

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pelas tropas nazistas.

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Ecal

Não houve, em contrapartida, uma direta influência polí- Com a eclosão da guerra, foi necessária, para muitos, nova
tica: quem estava no exílio, ainda que se declarasse porta-voz da fuga: a maioria se refugiou na Inglaterra ou deixou a Europa
maioria do próprio partido, obrigada ao silêncio no Reich, agiu para dirigir-se aos Estados Unidos e à América do Sul. Não foi
independentemente dela, e quem estava no país não foi con- mais possível contato algum com a Alemanha, e a atividade
cretamente influenciado pelas decisões dos grupos emigrados. A dos núcleos ainda ativos se redirecionou para estabelecer,
emigração política se caracterizou por contrastes e rupturas que com pouco êxito, contatos com os Aliados, na tentativa de
haviam dividido os partidos operários até 1933. A única tenta- ter um papel concreto na estratégia bélica e elaborar proje-
tiva concreta de criar uma plataforma comum foi promovida em tos e programas para a Alemanha do pós-guerra. A maioria
Paris em 1936. Heinrich Mann, a exemplo da experiência de dos emigrados políticos retornou para a pátria após o fim da
governo das frentes populares na Espanha e na França, procurou guerra e retomou suas atividades.
promover um Volksfront entre os emigrados. Mas não se con-
seguiu ir além de uma comum declaração de intenções, à qual A EMIGRAÇÃO INTELECTUAL
os socialistas aderiram, por outra, a título pessoal e não como A emigração intelectual foi o núcleo mais característico
partido. A emigração política deixou-nos, contudo, numero- do exílio alemão: deixaram o próprio país os maiores escrito-
sos informes de grande interesse para a denúncia do nazismo e res (de Thomas Mann a Bertolt Brecht), diretores de cinema,
atentas análises sobre a situação internacional, além de umarica músicos, compositores, atores. Para cada um deles, inclusive
produção de livros, particularmente por parte dos comunistas. para os poucos já muito conhecidos no exterior, foi bastante
102 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

OTTO KLEMPERER
E THOMAS MANN
Ambos se exilaram nos Estados
Unidos: o primeiro (de perfil) foi
diretor da Filarmônica de Los
Angeles de 1933 a 1947.

UMA CENA DE METRÓPOLIS


(1926) E O PÓSTER EM PURO
ESTILO EXPRESSIONISTA DO
FILME DIRIGIDO POR FRITZ
LANG (embaixo).

difícil continuar a própria atividade: o primeiro obstáculo possibilidades de trabalho para alguns diretores de cinema
foi a língua, e a necessidade de detectar um público a quem (entre outros, Fritz Lang e Ernst Lubitsch) que trabalharam
dirigir-se constituiu muitas vezes um problema insuperável. em Hollywood.
Muitas das grandes obras-primas da literatura alemã foram Graves foram as perdas no mundo científico da Alemanha
publicadas no exterior e alguns intelectuais, entre eles Hein- nazista: cerca de um terço dos acadêmicos e pesquisadores
rich Mann, foram incansáveis promotores de iniciativas vol- de diversas categorias foram despedidos por razões políticas
tadas para denunciar o regime; a imprensa do exílio teve sua ou raciais e dois terços destes abandonaram o país, deixando
marca mais incisiva conferida precisamente por escritores e vazios consistentes nesses setores, da politologia (ciência
jornalistas ativos nos anos da república de Weimar. Amsterdã política) à sociologia, da bioquímica à física atômica, que se
e Suíça foram os maiores centros editoriais, Paris foi até 1939 haviam desenvolvido com intensidade na década de 1920.
o maior centro de agregação: nessa cidade foram redigidos Emigraram com frequência os mais jovens que, graças par-
numerosos periódicos que reproduziram o multifacetado arco ticularmente às organizações de auxílio, conseguiram, exce-
ideológico e cultural weimariano, nela se desenvolveram ini- tuando os médicos, encontrar novo emprego. À maioria foi |
ciativas, encontros e debates, embora tenha sido o isolamento para os Estados Unidos sem deter-se na Europa, e o abandono
que caracterizou a vida dos intelectuais exilados. Para aqueles do próprio país foi quase sempre definitivo.
que se transferiram para os Estados Unidos foi ainda mais Ma Re:

difícil encontrar uma ocupação, ainda que surgissem novas

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TERROR, PERSEGUIÇÃO, OPOSIÇÃO E |03

o “MITO” tamente por Hitler, ele soube


DO FUHRER mostrar-se estranho a todas
as instâncias da administração
O mito relativo à figura de normal e a todos os conflitos,
Hitler se desenvolveu no de- confirmando sua intangível
correr da década de 1920 com superioridade. Depois da eclo-
uma série de mudanças que são da guerra e dos rápidos
seguiram as sucessivas fases da sucessos militares, cresceu
história do NSDAR. A crise po- mais ainda o apoio prestado
lítica e social da democracia na a ele. Quando, porém, a partir
república de VVeimar suscitou de 1943,as destruições e os
em amplos setores da direita bombardeios aliados, a fome e
conservadora a necessidade o frio começaram a dominar a
de um condutor forte e auto- vida cotidiana dos alemães,o
ritário, de um líder capaz de mito de Hitler passou a vacilar.
garantir o renascimento nacio- Exatamente por força de sua
nal. No primeiro ano de vida natureza carismática, não desti-
do partido nazista, Hitler se tuída de tons messiânicos, não
considerou defensor dos ideais podia transformar-se em outra
do movimento e seu principal forma de poder, mas somente
porta-voz, mas não o homem desabar junto com o Reich.
chamado a mudar os destinos
da nação. Depois da marcha PRIMEIRO PLANO DO FÚHRER
sobre Roma de Mussolini
(outubro de 1922), Hitler co- PISTOLA DOADA A HITLER
Traz a escrita: “Para derrotar a
meçou a mudar a imagem que Frente Vermelha e a Reação e para
tinha da própria função. Seus proteger nosso Fúhrer”.
seguidores começaram a cha-
má-lo de “Mussolini da Alema- em diante seria necessário um instrumentalizar a força do RETRATO EXECUTADO
NSDAP para depois relegá-la, POR HEINRICH KNIRR (1937)
nha? e a atribuir-lhe qualidades partido organizado de modo
salyvadoras para o país inteiro. verticista. Um sinal exterior de que Hitler se tornava sempre
como o culto do Fúhrer have- mais autônomo e que o suces-
À guinada principal ocorreu
ria de se tornar um elemento so do regime era atribuído ex-
depois do fracasso do putsch
central do partido foi a intro- clusivamente a ele pela maioria
de Munique quando Hitler, no
dução, em 1926, da saudação a da população. Com a morte de
decorrer do processo movido
Hitler (“Heil Hitler”). Hindenburg, a autoridade do
contra ele, soube pôr à sombra
Nos anos seguintes, acentuou- Fúhrer não conheceu mais ne-
a figura do general Ludendortf
“se a força coercitiva dessa nhum limite:as formas e as es-
para emergir como único líder
mitificação da figura do chefe truturas do regime dependiam
da extrema direita. Durante
que pôs na sombra Os con- exclusivamente de sua vonta-
sua detenção, seus seguidores de. O gabinete, que até 1934
cultivaram o mito do herói trastes internos do partido e,
nos anos da crise econômica, se havia reunido com certa re-
encarcerado para o bem da na- gularidade, em 1935 se reuniu
ção, e se convenceram que daí a perspectiva de um poder
extremamente capaz de impri- doze vezes, em 1937 apenas
mir uma guinada radical, pre- seis. O chefe da chancelaria,
cisamente em virtude de sua Hans Heinrich Lammer,
liberdade de ação, conquistou constituiu a única ligação
sempre maior apoio. Depois entre o Fúhrer e os
da tomada do poder, ficou ministérios. Embora
muitas decisões fos- Á Mi
evidente, para todos aqueles
que tinham acreditado poder sem tomadas dire-
m dos fundamentos da ideologia nazista foi a nítida
contraposição entre aqueles que faziam parte da
Volksgemeinschaf (comunidade do povo) e aqueles
que eram excluídos dela. O regime desenvolveu
um imenso aparato propagandista, ideológico e repressivo tanto
para doutrinar e enquadrar os primeiros como para discriminar
os segundos. Principais vítimas, logo após a tomada do poder,
foram os inimigos políticos, encerrados em campos de con-
centração para serem “reeducados”. Outras minorias, como os
homossexuais ou os “antissociais”, embora indesejáveis e qua-
lificados como indignos de fazer parte da comunidade popular,
foram considerados reinseríveis na sociedade, desde que mudas-
sem seus hábitos. Outros, ao contrário, foram estigmatizados
como racialmente inferiores, como os judeus, mas também os
ciganos e os doentes mentais: a estes devia ser proibido qualquer
contato com os alemães e foram gradualmente, mas capilar-
mente, excluídos de todos os setores da sociedade.
SI
106 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

JOVENS FAZEM A SAUDAÇÃO


COM O BRAÇO ESTENDIDO
(p. 104)
Denlfiors Pac a, quem Sarmapfe écoca doa Adnet

BUCÓLICA REPRESENTAÇÃO
7 a E EH at

DA FAMÍLIA SEGUNDO Dant des envia


VVOLFANG WILLRICH tnh der Gobn bes Juben
(na abertura). E A Edsdchtme Ter mma Remy

PROPAGANDA ANTISSEMITA
NO “DER STÚRMER” E
SUSS, O JUDEU
O filme, realizado por vontade de
Goebbels em 1940, tinha a precisa
intenção de instilar nos alemães o mim
Solon ta cs judeus. Die Juden sind unser Ungliick!
SS AR CR TE

A operação de mistificação ideológica realizada pelo meira Guerra Mundial. Profundas especificidades nacionais,
regime foi de grande importância: o apelo ao privilégio de mas também condições e motivações gerais, estiveram na
todos pertencerem à comunidade única foi um incentivo bas- base da difusão do fenômeno: em primeiro lugar, um obscuro
tante forte para a consolidação da disciplina coletiva. O sen- senso de catástrofe da civilização, acompanhado da consta-
tido de que os membros da comunidade eram todos partícipes tação do declínio da Europa e de sua hegemonia, e a resso-
dos destinos dela, embora ilusório, representou um elemento nância com a qual se difundiu o mito da revolução bolche-

Th
de homogeneização dos comportamentos que pareceu conva- vique associada ao papel central que nela desempenharam os

ÃO
MS
lidar a tese do regime sobre a existência de uma sociedade sem judeus. O estereótipo do “judeu-bolchevismo” constituiu um
conflitos. Além das delimitações jurídicas, foram projetados slogan de fácil efeito e foi um poderoso fator multiplicador.
mecanismos de exclusão, injetados na psicologia de grandes Um texto fundamental do antissemitismo, Os protocolos dos
massas que, perante as vítimas, assumiram uma violência per- antigos sábios de Sião — dedicado a uma pretensa conjuração
secutória muito mais incisiva e interiorizada, e identificada tramada pelos judeus para a conquista do mundo — começou
com um imperativo não político, mas ético. a circular em toda a Europa entre as duas guerras; a primeira
edição alemã apareceu em 1919. Esse texto contribuiu para
O ANTISSEMITISMO difundir a ideia de um complô, obra de um poder oculto e
O antissemitismo foi uma das características culturais e invencível, que exatamente por isso devia ser combatido com
políticas comuns a boa parte da Europa, depois do fim da Pri- a máxima violência e eficácia.

O caRTAZ DAS SA INTIMA:


“ALEMÃES, DEFENDAM-SE!
NÃO COMPREM DOS JUDEUS!”

Ranff NirhÊ De
ir, CE yr
A COMUNIDADE DO POVO E 107

AS ORGANIZAÇÕES
JUDAICAS

O mês de janeiro de 1933 A crescente influência da Rei.


não foi percebido como mo- chsvertretung na vida de cada
mento de profunda mudança organização e de cada judeu
pela maioria dos judeus resi- alemão mostra que muitos
dentes na Alemanha e, pelo começaram somente então
contrário, muitas associações a tomar consciência de sua
hebraicas, de modo particular identidade hebraica. O efeito
as mais conservadoras, espe- das leis de Nuremberg foi
ravam poder ser integradas deixar mais clara a situação
na nova ordem. Às outras or- jurídica e a Reichsvertretung
ganizações reagiram segundo se iludiu ao pensar que sua
diferentes ideias políticas e atividade pudesse prosseguir
concepções ideológicas ama- mais tranquilamente que as violências mais desatinadas que, particularmente para
durecidas nos anos preceden- antes; além disso, “a pausa”, fossem cessar. Até março os jovens, começou a ser
tes. Três foram as alternativas por ocasião das Olimpíadas, de 1938, aumentou o peso uma alternativa apreciável.
para os judeus alemães nesse induziu a esperar que também representativo do sionismo A crescente agressividade
momento: o esfacelamento da política nazista atingiu O
total diante do terror nazista; ápice no início de 1938 com
a aplicação do princípio hie- o Anschluss e levou também
rárquico também no interior ao agravamento da situação
da própria organização; ou dos judeus: uma lei de março
a continuação da tradição de 1938 dissolveu as comu-
pluralista e democrática da nidades. A Reichsvertretung se
transformou em associação
sociedade hebraica, como se
nacional (Reichsvereinigung),
havia configurado depois da
de caráter mais centralizado
emancipação. Esse foi o ca-
que a precedente, embora
minho escolhido e continuou
permanecesse inalterado o
até o completo aniquilamento
princípio da representação.
da vida dos judeus alemães.A
Nesses anos teve continui-
na

organização nacional (Reichs-


dade em todas as maiores
=

vertretung), que representava


ão

comunidades — até que o iní-


pd

todos os grupos, adquiriu


EE

cio das deportações pôs fim


nesses anos um peso crescen- a toda possibilidade de ação
Ti

te, Nunca pediu o reconhe-


RE

— uma intensa atividade cul-


A

cimento oficial do governo, Ê


DR

tural e espiritual; o crescente


gp

THB:

mas em diversas ocasiões se


]
=

número de guetos não conse-


É

apresentou como à organi- guiu desmantelar totalmente a


zação oficial dos judeus na vitalidade judaica, embora lhe
Alemanha. Paradoxalmente, OS tenha marcado profundamen-
judeus alemães foram o único te as características,
grupo dentro do Reich que
conservou sua própria estru-
tura autônoma e com base CRIANÇAS ALEMÃS
democrática. Seu empenho NUMA ESCOLA RABÍNICA
se concentrou especialmente (no alto).

nos setores da assistência, Os TALMUDISTAS (1934),


da educação — também dos DE Max VYEBER
adultos — e da vida cultural,
108 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ACOLHIDA FESTIVA
A JULIUS STREICHER
A ilustração estava inserida num
livro de texto para escolas pri-
márias distribuído às centenas de
milhares de exemplares e publicado
pelo próprio Streicher em 1936.

“EvITEM OS MÉDICOS
E OS ADVOGADOS JUDEUS!
Cartaz antissemita nas ruas de uma
cidade alema.

O nazismo soube apropriar-se de todo o patrimônio ideo- A DEPURAÇÃO RACIAL


lógico do antissemitismo que se havia desenvolvido desde Depois das eleições de março de 1933, a violência contra
a década de 1880, acrescentando-lhe, especialmente por — os judeus continuou aumentando. No dia 1º de abril ocor-
obra de Goebbels e Julius Streicher, uma virulência inédita reu o boicote que já havia sido, reiteradas vezes, previsto e
e uma conotação biológica, prelúdio de um choque extremo desejado pelos componentes mais radicais do nazismo
entre as raças. O judeu, portanto, foi considerado não Bm. — ex-combatentes, membros das SA e militantes
somente criatura racialmente inferior, mas perene | Em de base do partido. Mas os radicais nunca tive-
ameaça à nova ordem que se pretendia criar, além ram um poder tal para obrigar Hitler a dar passos
de ser apontado como bode expiatório de todas as contrários à sua vontade. O boicote foi, de modo
desgraças e dificuldades da Alemanha. A violência eeral, acolhido friamente pela maioria da popu-
exercida contra os judeus assumiu x lação alemã, favorável a limitar a presença
uma característica exemplar de ae eg O dos judeus, mas decid a continuar
ida
intimidação diante de todosos > 3 “a dies o. comprando nas lojas deles.
outros: O racismo e o antisse- E z B is Hitler adotou, nessa oca-
mitismo em particular se tor- sião, a linha de conduta que
EE

naram mais um instrumento de nos anos seguintes se teria


=

controle social. tornado típica de suas ini-

PAI DE TODAS
AS CRIANÇAS ALEMÃS
O fato de Hitler não ter
filhos e não estar sequer
casado foi um dos ele-
mentos utilizados pela
propaganda do regime para
fortalecer o halo mítico
em torno de seu papel
de “chefe de família”. Seu
poder carismático provinha
também de suas aparições
em público, nas quais pare-
cia dotado, aos olhos dos
alemães, de um magne-
tismo que muitas vezes O
levou a ser comparado ao
flautista mágico.
A COMUNIDADE DO POVO E 109

o

ILUSTRAÇÃO DE CAPA DE UM

e
TT

LIVRO INFANTIL EM IÍDICHE

ciativas antijudaicas: um aparente compromisso entre os dos e estudar (a lei de 25 de abril contra o excessivo número
pedidos dos radicais do partido e as mais pragmáticas reser- de alunos das escolas e das universidades estabeleceu que a
vas dos conservadores, dando à opinião pública a impressão matrícula de novos estudantes judeus em todas as escolas
de que não era ele que se ocupava dos detalhes operacionais. fosse de 1,5% do total dos inscritos e, de qualquer forma, em
No dia 7 de abril foi registrada a primeira lei antijudaica cada instituto não podiam superar 5% do total). No dia 14 de
sobre a reclassificação dos funcionários públicos de carreira. julho foi votada a lei sobre a revogação da cidadania alemã,
O parágrafo 3 — definido “parágrafo ariano” — estabeleceu que que aboliu as naturalizações ocorridas entre o fim da guerra
os empregados de origem não-ariana deviam ser aposentados. e 30 de janeiro de 1933, e instituiu a proibição de imigração
Até esse momento os nazistas tinham humilhado e boicotado para os judeus orientais.
os judeus com base em simples suspeita, que podiam de algum
modo ser identificados como tais, mas não tinha havido ainda DOENÇAS HEREDITÁRIAS E ESTERILIZAÇÃO
nenhum ato formal de privação dos direitos legais, baseado Durante a década de 1930, o regime baixou várias medi-
numa definição discriminatória. das que excluíram da comunidade nacional todos aque-
Nos meses seguintes, com a lei sobre os funcionários públi- les que podiam minar sua pureza. A lei de 14 de julho
cos, os judeus foram afastados de todos os setores-chave do de 1933, sobre a esterilização dos indivíduos portadores
Estado, foi-lhes proibido exercer a profissão de médico em de deficiências físicas e mentais, constituiu um momento
favor da saúde biológica da comunidade nacional, ser advoga- fundamental nesse processo e uma pedra angular para a

E É | ET JUDEUS EM UM CARRO DA
POLÍCIA OBSERVAM OS AGENTES
“LE QUE CONTROLAM SEUS
a
gm
ps DOCUMENTOS DE IDENTIDADE
Os cidadãos de religião israelita
eram julgados como o maior
perigo para a Alemanha, porque
encarnavam a ameaça da contami-
nação da raça ariana. No livro Mein
Kampf, Hitler tinha escrito: “Há
uma porcaria qualquer, uma infâmia
qualquer, em particular na vida da
sociedade, em que não tenha parti-
cipado pelo menos um judeu?”.
HO E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

A EMIGRAÇÃO de ingresso muito baixas; a prioritária a Alemanha. À ne- tório processo de integração
JUDAICA maioria daqueles que perma- cessidade primária, para uma tinha começado nas décadas
precedentes e a tomada de
neceram na Europa foi para emigração que, contrartamen-
Durante o nazismo, cerca de a Inglaterra e, fora da Europa, te aquela política e intelectual, consciência de que ele já havia
350 mil judeus deixaram a para os Estados Unidos. A caracterizava-se essencial- sido irremediavelmente rom-
Alemanha. Os períodos de própria Palestina não foi uma mente de núcleos familiares, pido foi muitas vezes longa e
sua partida estiveram ligados meta fácil, porque a liderança foi reconstruir as premissas sofrida. De fato, muito poucos
às etapas da política antisse- palestina não permitiu um para poder viver em outro retornaram depois de |945.,
mita; o fluxo foi constante no maciço fluxo proveniente lugar. A maioria dos judeus Shoah tinha aberto uma ferida
decorrer dos anos e atingiu da Alemanha. Poucos entre que deixou a Alemanha o fez demasiado profunda.
seu ápice em 1938, depois da os que deixaram o país por quando se deu conta de que
“noite dos cristais”. Foi sem- motivos raciais se empenha- não existiam mais condições
MuraL DE BEN SHAHN
pre mais difícil encontrar uma ram ativamente no exílio na econômicas, sociais e de inco-
REPRESENTANDO JUDEUS
meta, porque as políticas de denúncia do regime nazista umidade pessoal para conti- IMIGRADOS NOS ESTADOS
imigração das possíveis terras ou, então, em atividades que nuar a residir nesse país. Para UNIDOS, GUIADOS POR
de exílio impuseram cotas tivessem como referência muitos, o longo e contradi- ALBERT EINSTEIN.

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A COMUNIDADE DO POVO E |||
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Os JUDEUS NÃO
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SÃO BEM-VINDOS
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A escrita na figura caricatural esta-
va no ingresso de uma taverna na
Prússia.

legislação eugenética e racial. Essa lei introduziu o princí- do povo, requeria o registro das raças estrangeiras ou dos
pio da coerção, porquanto não somente os inábeis ou seus grupos “racialmente inferiores” e impunha a obrigação de
familiares puderam requerer a esterilização, mas também uma licença matrimonial que certificava que os dois eram
os próprios médicos, sempre que julgassem oportuno. Nos “racialmente idôneos” para casar-se. Um decreto suplemen-
casos controversos deveriam intervir os “tribunais para a tar proibiu os alemães de contrair matrimônio ou manter rela-
saúde hereditária”, criados especialmente para isso. Além ções com pessoas de sangue estrangeiro, diverso dos judeus;


o
doze dias depois foi especificado que se tratava de ciganos,

——
da intervenção cirúrgica, que tornava homens e mulheres

TT.
incapazes de gerar, iniciou-se também a redução do nível de negros e “seus bastardos”.
assistência daqueles que eram hospitalizados para causar- No verão de 1939, pouco antes da eclosão da guerra, teve
“lhes indiretamente a morte. início a chacina dos adultos inábeis, que foi mascarada como
Entre 1933 e 1945, 400 mil pessoas foram submetidas à projeto de eutanásia. Tudo ocorria em segredo, e os parentes
esterilização forçada: alcoólatras, “antissociais”, portadores não eram informados sobre as transferências de seus familia-
de deficiências e muitos outros. Em outubro de 1935, um res para os centros de matança, que foram implantados em
mês após a promulgação da lei que proibia o casamento entre diversas áreas da Alemanha. Antes mesmo que o conflito
judeus e alemães, foi baixada a “lei para a proteção da saúde mundial desse início à realização da nova ordem europeia e
hereditária da nação alemã”, que proibia a união entre ale- ao extermínio dos judeus, o assassínio de Estado, portanto,
mães e aqueles que não eram desejáveis para a comunidade tinha sido legalizado e atuado em larga escala.

ARREGIMENTAÇÃO

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[12 EE HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

CASAMENTO ARIANO
À Alemanha deparou com um
aumento dos casamentos que
foram estimulados também por
incentivos materiais do regime.

CRIANÇAS NASCIDAS DE MÃES


“RACIALMENTE PURAS” E DA
ELITE MASCULINA DAS SS
(embaixo).

Os CIGANOS se teria concluído no decorrer da guerra com o extermínio.


Em 1933, os ciganos constituíam 0,05% da população A partir de 1935 foram abertos campos para o confina-
na Alemanha. Tinham geralmente empregos regulares, mento dos ciganos: eram caracterizados por péssimas condi-
mesmo que muitas vezes itinerantes, como o comércio a ções higiênicas, cercados de arame farpado e a vida dentro
cavalo e as artes circenses. Mesmo antes de 1933 tinham deles foi rigidamente regulamentada. O maior campo foi
sido discriminados e perseguidos pela polícia e, de início, instalado em Marzahn, na periferia de Berlim, e camuflado
os nazistas nada mais fizeram que continuar essa política, para não ser visível aos olhos daqueles que tomaram parte nas
embora com progressiva exasperação. A propaganda criou Olimpíadas. A discriminação assumiu novos aspectos com o
uma imagem que mirava dois alvos: o estrangeiro com sua aparecimento de publicações que continham os resultados de
inaceitável cultura e o pretenso “a-social” que não estava pretensas pesquisas de biologia das raças; um papel de relevo
disposto a aceitar a disciplina do trabalho e as relações teve o doutor Robert Ritter que, a partir de 1936, dirigiu em
estáveis e contínuas. Berlim o Instituto de Biologia Criminal. Em dezembro de
Essa perseguição se baseou na pretensa hereditariedade 1938, Himmler baixou disposições para que “a regulamenta-
biológica desse desvio e, portanto, como os judeus, também ção da questão cigana fosse baseada na natureza dessa raça”.
Os ciganos não foram considerados “reeducáveis”; o único Um decreto de 8 de dezembro sobre a “luta contra a praga
modo para tutelar a pureza da “comunidade do povo” foi uma dos ciganos” exasperou ainda mais a tradicional instrumen-
progressiva exclusão do corpo social que, também nesse caso, talização de detenção da polícia.

A LEBENSBORN ça, Bélgica e Noruega, Nesses

Th
mdiio
dino
centros nasceram cerca de 8
Associação das SS, funda- mil crianças. Além de uma po-
da por Himmler em 1935 lítica racista e antissemita vol-
e financiada por doações tada para a expulsão de todos
obrigatórias das próprias SS, os elementos “indignos” de
Do

a Lebensborn (fonte da vida) viver na Alemanha, o regime


teve especificamente o objeti- nazista se empenhou, portan-
vo de apoiar a política racista to, em promover a procriação
do regime. Seus membros se também fora desses vínculos
empenharam, com efeito, na familiares e matrimoniais e
luta contra o aborto e a favor departamento das 55 encar- de que se unissem à elite ra- não se cansou de divulgar
do aumento da natalidade. Do regado das questões raciais. cial do regime, precisamente como o fundamento da socie-
ponto de vista administrativo, No decorrer da guerra foram as 55, e procriassem filhos dade. Diante da necessidade
dependiam da divisão eco- criadas sedes destinadas a “sadios”: na Alemanha foram de salvaguardar a raça, até a
nômica das SS, mas para suas acolher as mães não casadas abertas onze sedes, nove nos ordem constituída passou a
funções estavam ligados ao e “racialmente puras”, a fim territórios ocupados da Fran- um segundo plano,
A COMUNIDADE DO POVO E ||3

Et
ot DER STÚRMER ANUNCIA
ASI
O “PLANO HOMICIDA JUDAICO”
Ifees a O jornal dirigido por Streicher

e
pum Sairapfe tum bia 4a 1
= TREGREST: [ERES] publicou sem cessar artigos ilustra-

a
; dos sobre judeus que violentavam
Ee difther Mocóplan
Tee
mulheres arianas.
Ad aid

negen die michtsióifdo Menfihheit aufgrde dt


FR RENA DE PARTIDA PARA

odio
e
ct med qua da Pp Pi dj
A VIAGEM DE NÚPCIAS
O Recém-casados numa motocicleta
au com a bandeira nazista (embaixo).

SL prrA A]
POR

E EESC RSLET E fis add gi imo, O hM a pad

Dice Juden sind unser Unglick!

AS LEIS DE NUREMBERG proibiu o casamento entre judeus e arianos, com a consequente


Quanto mais capilar se tornou a exclusão dos judeus da nulidade dos casamentos contraídos, as relações sexuais extra-
sociedade alemã, tanto mais crucial foi a questão da separação matrimoniais entre os mesmos grupos e impediu aos judeus de
física, isto é, biológica. Os casamentos mistos e as relações manter a seu serviço mulheres alemãs de idade inferior a 45
sexuais entre alemães e judeus passaram a ser objeto de inces- anos. Nos meses seguintes foi enfrentada a questão dos chama-
santes e muitas vezes violentos ataques do partido; a imprensa dos Mischlinge (mistos), estabelecendo que quem tivesse três
agiu como ponta avançada, especialmente por meio do jornal avós judeus era de fato judeu.
Der Stiirmer, dirigido por Julius Streicher. Em setembro de 1935, Em seguida foram sistematicamente identificados e notifi-
por ocasião do “Congresso da Liberdade”, foram anunciadas cados todos os aspectos da vida cotidiana e todas as atividades
as leis de Nuremberg. A “lei sobre a cidadania do Reich” esta- profissionais em que o contato entre arianos e judeus podia ter

Di
beleceu que os judeus, não implicações sexuais. Os judeus, por exemplo, foram afastados

De
mais cidadãos como os das piscinas públicas; a partir da primavera de 1936, a
fd. outros, fossem priva- l maioria dos departamentos de medicina proibiu aos
dos dos direitos polí- 7 estudantes judeus de proceder a exames nos órgãos
ticos. A “lei para a genitais de mulheres arianas. Mesmo depois da pro-
defesa do sangue e mulgação das leis de Nuremberg, a maioria da popu-
da honra alemã” lação continuou contrária a atos de violência, mas

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lies de
[14 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

O COGUMELO doria possível vai de aldeia em


VENENOSO aldeia. Elogia sua mercadoria
como a melhor e menos cara

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Publicado em 1938, O cogumelo Na realidade, é a pior e a mais

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cara. Não deves confiar nele!

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venenoso é um dos livros de

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texto para as escolas em que [...] O mesmo ocorre com

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transparecia com mais clareza os judeus que criam animais,

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Ta
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Te
a virulência antissemita difundi- com os judeus dos mercados,

a
da na sociedade alemã: com os açougueiros, com os
O pequeno Franz foi com sua médicos judeus, com os judeus
mãe procurar cogumelos no bos- batizados etc. Mesmo que fin-
que. [...] Pelo caminho,a mãe diz: jam, mesmo que se mostrem
— Olha, Franz, como acontece gentis e, se mil vezes dizem
com os cogumelos no bosque, em pessoas más, pode ocorrer Nosso professor o diz com que querem apenas nosso bem,
o mesmo ocorre também com uma desgraça, assim como se frequência na escola. [...] não podemos acreditar neles.
as pessoas na terra. Há cogu- comermos um cogumelo vene- — Exatamente! — aplaude a São judeus e continuam sendo
melos bons e pessoas boas. noso, podemos morrer! mãe. E depois continua falando, judeus. São venenosos para
Existem cogumelos venenosos, — E sabes também quem são muito séria. nosso povo! [...| Do mesmo
cogumelos maus, e pessoas más. essas pessoas más, esses cogu- — Os judeus são pessoas más. modo que com um cogumelo
E dessas pessoas é preciso ter melos venenosos da humani- São como os cogumelos veneno- venenoso se pode matar uma
cuidado como com os cogume- dade? — pressiona a mãe. Franz sos. E assim como é difícil muitas família inteira, um único judeu
los venenosos. Entende? demonstra segurança, vezes distinguir os cogumelos pode aniquilar uma aldeia in-
— Sim, mãe, compreendo — Certamente, mamãe! Sei venenosos dos bons, é igualmen- teira, uma cidade, até mesmo
— diz Franz —, se confiarmos muito bem. São... os judeus. te difícil reconhecer os judeus todo um povo.
como pilantras e delinquentes. Franz compreendeu a mãe.
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le Como os cogumelos veneno- — [Mãe, todos os não judeus
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sos se apresentam com as mais sabem que o judeu é perigoso
variadas cores, assim também como um cogumelo venenoso?
os judeus conseguem tornar-se — Infelizmente, não, meu filho.
irreconhecíveis, assumindo os Há muitos milhões de não
mais estranhos aspectos. judeus que ainda não conhe-
— Em que aspectos estranhos ceram o judeu. E por isso de-
pensas? — pergunta o pequeno vemos informá-los e deixá-los
Franz. de sobreaviso com relação
A mãe compreende que o aos judeus. Devemos, porém,
menino não captou ainda total- advertir também nossa juyen-
mente o sentido. E, impertur- tude sobre os judeus. Nossos
bável, continua explicando. meninos e meninas devem
— Então, escuta! Há, por exem- saber imediatamente quem são
plo, o judeu ambulante. Com Os judeus. Devem saber queo
tecidos e todo tipo de merca-
judeu é o cogumelo venenoso:
mais perigoso que pode existir.
Ce

CRIANÇAS LEEM O COGUMELO Como os cogumelos crescem


VENENOSO (no alto).
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em toda parte, assim também.


ILUSTRAÇÕES DE O judeu se encontra em todos.
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UM LIVRO ANTI-SEMITA
Os países do mundo. Como os |
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Na primeira são representados um cogumelos venenosos provo= .


professor e algumas crianças judias graves des- p
cam muitas vezes
expulsos de sua escola;na segunda,
judeus tomam o caminho do exílio graças, assim também o judeé.u
sob um cartaz que diz: “Estrada de Causa de miséria e sofrimento,
sentido único”. de infecção e de morte.
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A COMUNIDADE DO POVO E [I5

PASSAGEIROS JUDEUS NUM


NAVIO NORTE-AMERICANO
QUE OS LEVA A SALVO PARA
ALEM DO ATLÂNTICO

VITRINES DE COMERCIANTES
JUDEUS EM ESTILHAÇOS
NUMA CIDADE ALEMÃ
À partir da “noite dos cristais”, a
gestão da política antissemita foi
de exclusiva competência das 55
(embaixo).

não à marginalização dos judeus e à abolição de seus direitos miram um tom sempre mais ameaçador. Teve início a acele-
civis. Visto que a segregação já tinha sido estabelecida por lei, a rada arianização dos bens pertencentes aos judeus, vinculada
maioria se sentiu livre de qualquer responsabilidade com relação pelo menos em parte à nova situação econômica e à sempre
às medidas tomadas perante a minoria judaica, de cujo destino maior confiança nos setores comerciais e industriais de que
se teria encarregado, a partir de agora, o próprio Estado. eventuais represálias dos judeus não teriam constituído um
risco. Em setembro de 1936, pela primeira vez, o regime falou
“A NOITE DOS CRISTAIS” da emigração como prioridade absoluta.
O ano de 1936 marcou o início de uma nova fase na per- Uma das maiores dificuldades para eliminar os judeus da
seguição antijudaica. A plena ocupação havia sido concluída sociedade alemã residia no fato de que eles eram parte inte-
e a fraqueza da frente antialemã parecia evidente: era de se orante em todos os setores; assim, o sistema teve de inven-
esperar, portanto, uma radicalização por parte desta. Nessa tar continuamente novas medidas para romper todos esses
atmosfera de acelerada mobilização, a questão judaica assu- vínculos. A partir do início de 1938, todos os judeus foram
miu aos olhos dos alemães uma nova dimensão e desenvolveu obrigados a entregar o passaporte, que foi restituído somente

se
uma nova função. Com uma virulência ainda desconhecida, para aqueles que emigravam, e todos foram fichados e contro-
os judeus foram definidos como uma ameaça mundial e as lados; escapar da rede repressiva, cujas malhas se tornavam

O
sempre mais apertadas, foi quase impossível. Uma nova série
iniciativas antijudaicas foram utilizadas como justificativa
de leis no decorrer de 1938 despedaçou completamente o
para o choque que teria eclodido; os discursos de Hitler assu-
| [6 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

RESERVAS: JUDEUS
| TRANSPORTADOS COMO GADO
, Fotomontagem realizada em 1939
| por John Heartfield, artista comu-
| nista alemão exilado na Inglaterra.
No centro da imagem impera
| Himmler, que brande um chicote.
Suas obras permanecem um dos
exemplos mais eficazes da arte a
serviço da política.

que restava da economia judaica. A partir do verão, eclodiu Os ALEMÃES E O RACISMO


novamente a violência antissemita. Não é fácil avaliar que importância a maioria dos ale-
O dia 9 de novembro de 1938 (conhecido como a “noite mães atribuiu à “questão judaica”. A estabilização política,
dos cristais”) marcou outro divisor de águas na perseguição o desmantelamento das esquerdas, a retomada econômica, o
dos judeus na Alemanha, porquanto a ação do Estado pas- renascimento nacional e a política de expansão sempre mais
sou da discriminação legislativa e administrativa à violência agressiva foram todos elementos certamente mais presentes
aberta. O episódio que desencadeou essa nova onda de vio- na mente dos alemães que os incertos contornos da perse-
lência foi o assassinato de Ernst von Rath, funcionário da guição antisemita. Os temas e os desafios da vida cotidiana
| embaixada alemã em Paris, por parte de um jovem judeu, numa época de mudanças políticas e de insegurança econô-
mas a campanha da imprensa havia preparado com muita mica constituíram os principais pontos de interesse, mas a
| antecedência essa guinada. À notícia da morte de Von Rath, imensa maioria não se opôs, contudo, às iniciativas antijudai-
| judeus foram agredidos e maltratados publicamente em cas. À identificação de
| todo o território alemão, sinagogas foram queimadas, Hitler com a política
lojas foram depredadas.
ad

racial e a consciência de
Nos meses seguintes, novos decretos sancionaram a que sobre essa questão
| exclusão definitiva dos judeus da sociedade alemã: seu os nazistas estavam
| confinamento no início da guerra era completo. decididos a ir em
CASAMENTOS DE RITO
HEBRAICO NA ALEMANHA
A COMUNIDADE DO POVO E 117

asso ciaç ão femi nina para o aum ent o dos nas cim ent os. Dur ant e o nazismo, as
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[|8 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ALFRED entre 1924 e 1926) até 1937.


ROSENBERG Tomou parte no putsch de
Munique e, durante a prisão
Nascido em 1893 numa famí- de Hitler (visto que o NSDAP
lia de comerciantes, formou- havia sido dissolvido), partici-
-se em arquitetura na escola pou ativamente na organiza-
politécnica de Riga em 1918. ção do partido que o substi-
Com as mudanças territoriais tuiu. Em 1929 fundou a liga de
que se seguiram à Primeira combate pela cultura alemã
Guerra Mundial, a cidade com o declarado objetivo de
passou a fazer parte da União liberar a Alemanha da “arte
Soviética e Rosenberg transfe- degenerada”. Nas eleições de
riu-se em 1919 para Munique. 1230 foi eleito para o parla-
Nessa cidade teve os primei- mento e dedicou-se à política
ros contatos com os ideais da externa. Em 1933 tornou-se
extrema direita antissemita e diretor do departamento do
iniciou uma intensa atividade partido responsável pelas
jornalística. Em 1920, aderiu relações com as organizações
ao partido alemão dos traba- nazistas no exterior. Em janei-
lhadores, que se teria ro de 1934 foi nomeado “en-
transformado carregado do Fiihrer para a
no NSDAP no supervisão da educação
ano seguinte, Ens” espiritual e ideoló-
e começou a A.DS k gica do NSDAP”,
escrever para cargo que o pôs
o Volkischer A À sempre em for-
Beobachter, / Pas os te conflito com
do qual se k * osministros
tornou re- e. - q da Educação e
dator-chefe a da Propaganda.
partir de 1923, — us. Em 1939 fundou que tinha especificamente o milhões de exemplares. Nele,
cargo que con- o instituto para O objetivo de saquear as biblio- Rosenberg propugnava uma
TELES

servou (com uma estudo da questão tecas, as galerias de arte e nova religião anticristã e antis-
- mn

interrupção judaica, os bens de diversa natureza semita e, como no restante


de propriedade dos judeus.
o

de seus escritos, tentou cons-


Depois da eclosão da guerra, truir uma nova mitologia da
ocupou-se especialmente da revolução que deveria apagar
transferência das obras de todo vestígio do passado e le-
arte dos países ocupados pa- var ao renascimento de toda
ra a Alemanha. Em 194] foi a civilização, graças à defesa
nomeado ministro dos ter- do homem nórdico e ariano.
nitórios orientais ocupados. Foi condenadoà morte no |
A contribuição mais signi- processo de Nuremberg. |
ficativa ao partido está re-
lacionada à sua produção
teórica, Seu texto mais ALFRED ROSENBERG Ta
A história, a seu ver, era domit
conhecido, O mito do n da:
pela luta entre os valores, de «
século XX (1930), nunca eram portadores os “nórdicos”
teve o reconhecimento
oficial do partido, mas
SS DA DIVISÃO
teve uma tiragem de 2 “ApoLF HirLeR?
vue a
A COMUNIDADE DO POVO E 119

CAMPONÊS ARIANO
E CARICATURA DO JUDEU
EM UM TEXTO ESCOLAR

À FAMÍLIA DOS CAMPONESES


KALENBERG, DE ADOLF WISSEL
(1939)
Coube às artes figurativas a tarefa
de difundir o sentimento de per-
tencer à “comunidade do povo”,
baseada na supremacia ariana
(embaixo).

frente, aumentaram provavelmente a inércia ou talvez até ou levantaram a voz contra os responsáveis. Prevaleceu
mesmo a passiva cumplicidade das massas. um misto de passividade e de aceitação que, no entanto,
Houve, dessa forma, uma difundida aquiescência com implicou também o apoio, pelo menos implícito, às for-
relação à política de segregação e à exclusão do serviço mas mais extremas de violência. Mas a passividade e o
público e civil, além de iniciativas individuais voltadas costume crescem em si, e a eclosão da guerra e a realização
a tirar proveito das expropriações, mas sem demonstra- da “solução final” teriam levado esse comportamento a
ções de contentamento ao assistir à degradação. Depois da consequências extremas: esse foi um dos maiores sucessos
“noite dos cristais”, muitos criticaram o excesso de violên- do regime nazista que, mesmo onde não obteve aberto e
cia, o desperdício, o dano a tantos bens de consumo, mas incondicional apoio, teve pelo menos, a seu favor, um
poucos intervieram ativamente em defesa dos perseguidos silêncio passivo.

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derrota sofrida pelo Reich na Primeira Guerra


Mundial e as cláusulas do tratado de Versalhes
deixaram insatisfeita a maioria dos alemães e
convencida, já no imediato pós-guerra, de que
era necessário mudar a situação. A Alemanha perdeu no total
70 mil km? de território com mais de 6 milhões de habitantes.
Regiões antes alemãs foram cedidas à França, à Polônia ou
postas sob o mandato da Sociedade das Nações. O exército
foi reduzido a 100 mil unidades, com a proibição de abrigarem
armas pesadas, canhões e aviões.
Entre os principais motivos da propaganda do NSDAP
estava a necessidade de rever as cláusulas de Versalhes, atri-
buindo ao governo da república de Weimar a responsabilidade
de ter aceitado condições tão humilhantes — um dos temas que
No
encontrou maior eco entre os simpatizantes do partido.
Kampf, Hitler indicou o inimigo principalna URSS
livro Mein
da qual a Alemanha deveria expandir-se —,
— em detrimento
a Grã-Bretanha foi individuada como aliada ideal
enquanto
to rn as se a ter um pa pe l de po tê nc ia eu ro pe ia
para que o Reich
e)

Pile
122 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ÁGUIA SUSTENTA COM AS


GARRAS UMA COROA DE FOLHAS
DE CARVALHO COM A SUÁSTICA
(p. 120).

MussoLinti E HiTLER
(na abertura).

UNTER DER LINDEN


Vista noturna do cenário montado
na principal artéria de Berlim para
a visita de Mussolini, em setembro
de 1937.

O ZEPPELIN EM VOO
SOBRE Nova IORQUE (embaixo).

e mundial. Depois da tomada do poder, o governo nazista o risco de isolamento em nível europeu, fosse para obter con-
escolheu uma linha de ação moderada, especialmente para dições mais favoráveis no Ambito de negociações internacio-
não alarmar os demais países europeus: o tratado de Berlim nais. Em janeiro de 1934, celebrou um pacto decenal de não
com a União Soviética, estipulado em 1926, foi confirmado agressão com a Polônia, cujas cláusulas tiveram para Hitler
em maio; a Concordata com o Vaticano em julho seguinte foi a única função de garantir a neutralidade polonesa no caso
vista com bons olhos, particularmente pelos países católicos, de ataque à Áustria e que nunca foram concebidas como um
como a Espanha e a Itália. Mas os verdadeiros projetos de vínculo real para o expansionismo alemão.
Hitler eram bem claros. Em outubro, a Alemanha abandonou O território da região de Saar foi posto, depois do fim da
tanto a Sociedade das Nações como a conferência sobre o guerra, sob o controle da Sociedade das Nações com o acordo
desarmamento, refutando a estratégia da segurança coletiva e de que um referendo popular teria estabelecido, em 1935, se
reivindicando a liberdade de estipular tratados, desvinculada deveria ser o caso de confirmar o status quo ou se deveria ser
de toda coação externa: desse modo foram postas as bases para anexada à Alemanha ou à França. O Reich nazista montou
as etapas sucessivas da expansão nazista. um enorme aparato propagandista para apoiar a união com

A REVISÃO DO TRATADO DE VERSALHES


Após ter abandonado a Sociedade das Nações, a Alema-
nha iniciou uma série de tratativas bilaterais, fosse para evitar
A POLÍTICA EXTERNA E 123
k
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OcuPAÇÃO ALEMÃ
DA RENÂNIA

HITLER PASSA EM REVISTA UM


REGIMENTO DA VWVEHRMACHT
(embaixo, à esquerda).

BEnNITO MUSSOLINI
Os vínculos entre a Itália e a
Alemanha se estreitaram depois
que, no decorrer da guerra da
Etiópia, Hitler ofereceu a Mussolini
o carvão alemão em substituição
ao inglês (embaixo, à direita).

os “irmãos alemães” e, no dia 13 de janeiro de 1935, dia do A APROXIMAÇÃO COM A ITÁLIA


referendo, foi feito amplo uso de métodos terroristas e inti- E A INTERVENÇÃO NA ESPANHA
midadores. Noventa por cento da população de Saar votou As relações do Terceiro Reich com a Itália fascista foram
pela anexação ao Reich, resultado que constituiu um enorme assinaladas por conflitos territoriais, especialmente relativos
sucesso e um grande aumento de prestígio para a Alemanha, à Áustria. Nesta, estava no poder Engelbert Dollfuss — cujo
porquanto em eleições livres uma clara maioria havia dado governo clérico-fascista se inspirava no modelo italiano — que
seu apoio ao regime nazista. foi morto em maio de 1934 por nazistas austríacos. Embora
Dois meses mais tarde, Hitler anunciou o reintrodução do ainda continuem obscuras as circunstâncias e as responsa-
alistamento obrigatório, violando o tratado de Versalhes. Em bilidades relativas à sua morte, ela certamente favoreceu o
março de 1936, as tropas alemãs marcharam sobre a Renânia, projeto de anexação de Hitler. Nessa ocasião transparece-
desmilitarizada desde 1919, contra o que previa o tratado ram também os contrastes com Mussolini, porque a Itália,
MOU de Locarno, assinado em 1925. A Alemanha deu início à temendo uma iniciativa nazista,
com própria política de potência sem que os demais países inter- colocou suas próprias tropas
viessem: a França e a Grã-Bretanha não tomaram qualquer na fronteira com a Áustria.
iniciativa concreta, e a absoluta maioria dos alemães apoiou No ano seguinte, porém,
a situação internacional
incondicionalmente esse novo curso que restituía ao país a
começou a mudar. Mus-
dignidade perdida.
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124 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

MULHERES CONSTROEM
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Em vão o Fihrer pediu ao caudilho

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ESTANDARTE DOS COMUNISTAS
ALEMÃES QUE PARTICIPARAM
DA GUERRA DA ESPANHA
(embaixo, à direita).

solini atacou a Etiópia para garantir à Itália “um lugar ao em que a França e a Espanha eram governadas por frentes
sol”; a Sociedade das Nações condenou a agressão e decre- populares formadas por socialistas e democratas com apoio
tou sanções contra a Itália que foram, aliás, inteiramente comunista. Hilter explorou essa ocasião para pôr à prova,
descumpridas. A ajuda econômica oferecida pela Alemanha com um maciço envio de homens e armas, a eficiência mili-
à Itália nessa ocasião constituiu o primeiro passo para uma tar da nova Wehrmacht e das técnicas ofensivas que seriam
aproximação entre os dois países que, no ano seguinte, foi depois utilizadas no decorrer do segundo conflito mundial e
fortalecida em terras espanholas. para constituir uma base de apoio territorial e logístico no
No verão de 1936, havia eclodido na Espanha uma guerra Mediterrâneo. Foi durante a guerra da Espanha, concluída
civil que logo se transformou em um conflito internacional em março de 1939 com a vitória dos nacionalistas comanda-
entre fascismo e antifascismo. A Alemanha decidiu inter- dos pelo general Francisco Franco, que a aliança entre Itália
vir para mostrar a força da frente antibolchevique e abalar e Alemanha se solidificou definitivamente numa posição
a resistência do antifascismo internacional num momento antibolchevique.
A POLÍTICA EXTERNA E 125

SUBMARINO ALEMÃO
As despesas com o rearmamento,
que nos anos 1936-37 atingiam
mais de um terço do orçamento do
Terceiro Reich, garantiram a plena
ocupação da classe operária alemã.

FRANZ VON PAPEN (A


ESQUERDA) E O MARECHAL
WiLHELM VON KEITEL
Ferido no decorrer da Primeira
Guerra Mundial, Keitel fez parte
dos Freikorps. Em 1938, Hitler
nomeou-o chefe do staff do alto-
-comando das forças armadas do
Reich (embaixo).

MUDANÇAS NOS VÉRTICES MILITARES em novembro seguinte, Hitler colocou prazos precisos que
Depois da promulgação do plano quadrienal, da remilita- coincidiam com os ritmos do rearmamento estabelecido
rização da Renânia, da aproximação com a Itália fascista e da pelo plano quadrienal, declarando, além disso, ter como
participação no conflito espanhol, o caminho para um novo objetivos imediatos a destruição da autonomia da Áustria
conflito estava traçado. Em junho de 1937, Werner von e da Tchecoslováquia para poder, em seguida, seguir em
Blomberg, comandante supremo da Wehrmacht e ministro direção leste. Blomberg e Werner Fritsch, comandante
da Defesa, baixou algumas diretivas para as forças armadas, a supremo do exército, embora de acordo no mérito da ques-
fim de predispor uma “preparação conjunta de uma possível tão, expressaram algumas reservas técnicas. Os tempos do
guerra”, levando em consideração duas hipóteses: guerra em rearmamento e particularmente o estado de aberta crise no
duas frentes com centro de gravidade no sudeste da Europa sistema das relações internacionais fizeram com que Hitler
ou com centro de gravidade no ocidente. A disposição alemã já se sentisse seguro, a ponto de impor mudanças nos vérti-
ces militares, que foram justificadas
para o conflito era explícita e, enquanto se tinha certeza
oficialmente por reservas morais
de uma frente franco-russa, esperava-se ainda poder aliar-se
sobre o comportamento dos dois
com a Grã-Bretanha.
chefes militares. Blomberg foi
Numa reunião com
, acusado de ter casado com uma
=.

*
os comandantes mili- Y MB mulher de dúbia moralidade,
tares, que se realizou
E

126 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO


um
e

JOACHIM VON

RIBBENTROP
e

Ribbentrop nasceu em 1893,


numa família em que o pai
era militar de carreira. Sem
ter concluído os estudos,
transferiu-se para o Canadá
em [910 junto com o irmão,
onde viveu atuando em di-
ferentes profissões. Com a
eclosão da guerra, voltou
para a Alemanha e combateu
no front, onde foi ferido em
19217. Depois da guerra, sem
uma sólida preparação pro-
fissional, trabalhou para um
comerciante de Bremen e, em
1219, abriu uma empresa de
comércio de vinhos que teve
E ea
enorme sucesso e que o le-
vou a enriquecer na década ES
de 1920. Substancialmente
desinteressado pela política, ne | mente durante esses anos, co- o Japão de Ribbentrop era
Ribbentrop teve os primeiros locando a própria mansão de bastante diversa daquela de |
contatos com o partido na- Dahlem (um bairro residen- Hitler. Por sua vez, este soube
zista em 1930; filiou-se ao cial de Berlim) à disposição de explorar essas posições para
INSDAP em 1932 4 Hitler para os numerosos conservar a simpatia daque-
e o financiou RR encontros políticos dos les grupos conservadores
generosa- | primeiros meses de que compartilhavam com
1933. No mesmo ano Ribbentrop uma linha que se
foi eleito ao Reichstag reportava às concepções gui-
e começou sua car- lherminas.
reira, primeiramente
como encarregado
das questões do de-
sarmamento (1934)
Com O MINISTRO DO EXTERIOR
e,a partir de 1935, JAPONÊS JosukE MATSUOKA
como embaixador E COM DINO ALFIERI,
em Londres. Em EMBAIXADOR ITALIANO
1938 foi nomeado EM BERLIM EM [940
ministro das Re- VON RIBBENTROP EM 1938
lações Exteriores Hitler teve em Goring o mais
em substituição tenaz adversário à sua política |
ao ultramodera- externa fortemente anti-inglesa.
do Von Neurath.
Teve certo peso na estratégia
do |
Reich até a metade do conflito, |
A concepção mas em seguida perdeu toda | E

profundamente
influência. Capturado pelos ing
Ray
PE: A
Do

anti-inglesa e mais em 1245, foi julgado pelo tribunal


favorável a uma de Nuremberg entre os principais
responsáveis pelo segundo co
aproximação com li
mundial e condenàad
moro
te. : ca
A POLÍTICA EXTERNA EE 127

O CADÁVER DE DOLLFUSS
Artífice de um regime corporativo
e autoritário que pôs na ilegalidade
todos os partidos, o chanceler foi
assassinado em 1934 pelos nazistas
austríacos favoráveis à anexação
do pais ao Reich.

ACOLHIDA FESTIVA
Tropas alemãs entram na Austria
em março de 1938 (embaixo).

Eritsch por ser homossexual. Foram substituídos, em feve- Grã-Bretanha tinham mostrado sua fraqueza e substancial
reiro de 1938, por homens fidelíssimos ao Fiihrer: Wilhelm desinteresse por uma política de oposição ao expansio-
Keitel foi nomeado chefe do comando supremo da Wehr- nismo nazista que, desse modo, pôde proceder sem obstá-
macht e o próprio Hitler se pôs no vértice do Ministério culos, favorecido inclusive pela progressiva aproximação
da Guerra. Nesse mesmo período, o ministro do Exterior da Itália fascista.
Kostantin von Neurath, um conservador da velha escola A Áustria, entretanto, tinha permanecido sempre mais
diplomática, foi substituído pelo mais dinâmico e petulante isolada em nível internacional. No dia 12 de fevereiro de
Joachim von Ribbentrop, confirmando como essas mudan- 1938, Hitler convocou o chanceler austríaco Kurt von
cas eram o prelúdio de uma fase ainda mais agressiva da Schuschnigg para incluir em seu governo, como ministro
política nazista. do Interior, o chefe dos nazistas austríacos Arthur Seyss-
Inquart e conceder plena liberdade de ação aos nazistas.
O ANSCHLUSS De retorno a Viena, Schuschnigg fez uma derradeira tenta-
Em 1936 Hitler proclamou o início do plano quadrie- tiva para defender a autonomia de seu país e anunciou um
referendo popular sobre a independência austríaca, o que
nal, a fim de preparar todas as estruturas necessárias para a ofensi va nazista . Na
os consti tuiu ocasiã o para desen cadea r
o desencadeamento do conflito. No decurso de 1951,
da- noite de 10 de março, Hitler deu ao 8º Exército a ordem
equilíbrios internacionais já tinham mudado profun
a pou cos ano s ante rior es. A Fra nça e a de marchar sobre Viena; no dia seguinte, Góring impôs
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128 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NA

BANDEIRA NAZISTA gt

PACTO ANTIKOMINTERN
Os ministros do Exterior da Itália
(Galeazzo Ciano é o primeiro à
esquerda), da Alemanha e do Japão
na cerimônia de assinatura da
aliança em 1937 (embaixo).

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a demissão de Schuschnigg e Seyss-Inquart proclamou a o reconhecimento do império na Etiópia. No mês seguinte,


anexação da Áustria ao Reich, coroando assim o sonho de num discurso em Milão, Mussolini proclamou o surgimento
uma reunificação dos “irmãos alemães” e da criação de uma de um eixo Roma-Berlim. Daí em diante, a Itália apoiou de
“grande Alemanha”. modo sistemático, embora tácito e subalterno, as iniciativas
No dia 12 de março, tropas alemãs entraram em Viena, expansionistas alemãs. Hitler considerou esse eixo particu-
acolhidas pela população em festa. O novo regime desen- larmente como um instrumento para induzir a Grã-Bretanha
cadeou uma violenta repressão contra os inimigos políticos a uma aliança numa perspectiva antibolchevique, enquanto
e contra Os judeus e, em poucas semanas, realizou aquela Mussolini visava a ampliar sua esfera de influência em detri-
depuração capilar que no Reich havia exigido alguns meses. mento da Grã-Bretanha e da França.
No dia 10 de abril, um referendo aprovou o Anschluss com Nesse meio tempo, o Reich procurou fortalecer a própria
99,73% dos votos favoráveis. posição internacional, em particular no Mediterrâneo e no
norte da África, aproximando-se do Japão. Os dois países
BERLIM, ROMA E Tóquio assinaram, em 25 de novembro de 1936, o “pacto Antiko-
A colaboração no teatro de guerra espanhol teve a fun- mintern' que constava de um acordo de colaboração para a
ção de consolidar de modo definitivo a aliança entre Itália repressão da atividade da Internacional Comunista e de um
e Alemanha. No final de outubro de 1936, o ministro do acordo adicional em que os dois países se empenhavam em
Exterior italiano, Galeazzo Ciano, se dirigiu a Berlim e obteve não fortalecer a posição da União Soviética, caso um dos
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A POLÍTICA EXTERNA EE 129

o PAC TO surar para O caso previsto


em contato para a adoção
a rápida aplicação das obri- cisiva do sucesso era a mais
DE AÇO gações da aliança assumida
das outras medidas neces- absoluta reserva em torno
s sárias à aplicação prática dos objetivos operacionais,
Em 22 de maio 1939, Itália com o artigo 3,0s membros
das disposições do presente mesmo com relação à Itália e
e Alemanha assinar o das duas partes contratantes
pacto [...]”. Esse “constante- ao Japão.
“macto de aço”, com o qual o aprofundarão mais especifi-
mente informados” foi logo
do
Reich assegurou a aliança camente sua colaboração no
contestado por Hitler que,
regime fascista em vista do campo militar e no campo da
no dia seguinte, num relatório
desencadeamento da guerra. economia de guerra. De for-
aos comandantes militares
A Itália subscreveu-o sem que ma análoga, os dois governos relativo à preparação bélica,
HITLER E MUSSOLINI NA
o PRAÇA “DELLA SIGNORIA”,
lhe fosse dado a conhecer se manterão constantemente afirmou que a premissa de- EM FLORENÇA, EM 1938.
desenrolar da iniciativa alemã
com relação à Polônia e sem
que fossem definidos os ob-
jetivos da aliança. O artigo 3
a dizia: “Se, apesar dos desejos
t e das esperanças das partes
Ia contratantes, devesse ocorrer
o que uma delas viesse a ser
Ih envolvida em complicações
| bélicas com outra ou com
| outras potências, a outra
A parte contratante se alinhará
imediatamente como aliada
mm a seu lado e a apoiará com
EM todas as suas forças militares,
ss por terra, por mar e pelo
ko ar”. Nisso se contradizia cla-
ii ramente a prática geral da
diplomacia internacional, se-
E gundo a qual o compromisso
ç de ajuda de outro país era
| subordinado ao fato de que
este fosse vítima de agressão
por parte de terceiros. Neste
“caso, pelo contrário, a pró-
pria agressão teria posto em
movimento o mecanismo da
ajuda recíproca; o pacto favo-
“recia, portanto, os projetos
| da Alemanha de uma próxima
"invasão da Polônia. O próprio
Mussi compreendeu os
* riscos implícitos nessa cláu-
E E a. visto que, poucos dias
E “depois, enviou a Hitler uma
y — carta em que declarava que à
en-
: É —lN eália não estaria pronta à
E: * trar em guerra antes de 1943.
“Oartigo 4 do pacto rezavà.
“ “Com o objetivo de asse-

E. ee
130 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

SOLDADOS ALEMÃES EM PRAGA


Na fotografia, tirada em setembro
de 1938, é evidente a raiva dos
tchecoslovacos por causa das
decisões tomadas pelas grandes
potências em Munique.À conferên-
cia abriu caminho para a expansão
do Reich na Europa centro-orien-
tal, abandonada a si própria pelas
diplomacias francesa e inglesa.

HITLER ENTRA NA
TcHECOSLOVÁQUIA (embaixo).

dois signatários fosse agredido. Esse pacto, declaradamente O DESMEMBRAMENTO DA ICHECOSLOVÁQUIA


destinado à luta contra o comunismo, constituiu na realidade Os acontecimentos austríacos levaram Hitler a compre-
uma ligação para as políticas agressivas e belicistas da Alema- ender que podia agir sem que a França e a Grã-Bretanha se
nha e do Japão, ambos interessados no enfraquecimento da opusessem à sua estratégia de subversão do precário equilíbrio
União Soviética e na subversão da ordem mundial, excluindo fixado pelo tratado de Versalhes. Neville Chamberlain, pri-
qualquer mediação internacional. meiro-ministro inglês, declarou preferir as negociações com
Em 1937, também a Itália aderiu ao pacto Antikomintern o governo alemão, mesmo que tivesse de deixar de fora de
e, dois anos após, em maio de 1939, pouco depois do fim da qualquer acordo a União Soviética: a escolha da política de
guerra da Espanha e do desmembramento da Tchecoslová- abpeasement contribuiu para acelerar o ritmo já posto em ato
quia, Itália e Alemanha assinaram o “pacto de aço”, com o pelo expansionismo nazista.
qual se garantiam recíproco apoio Poucos dias depois da Anschluss, Hitler iniciou uma
militar, mesmo no caso de violenta campanha de agressão verbal contra a
uma guerra de agressão. Tchecoslováquia, onde vívia uma À R

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A POLÍTICA EXTERNA E |3|

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132 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

AGARRADO PELO PESCOÇO


Na charge inglesa, o Duceé
apertado pelas mãos de Hitler:
emblemática representação do
papel que tocava à Itália no pacto
italo-alemão.

CONFERÊNCIA DE MUNIQUE
Da esquerda para a direita: Neville
Chamberlain, Edouard Daladier,
Hitler, Mussolini e Ciano (embaixo).

minoria alemã formada de cerca de 3 milhões de pessoas. são militar e da subversão interna. À Eslováquia foi for-
Berlim financiou generosamente Konrad Henlein, chefe dos cada a declarar-se estado independente e a colocar-se sob
alemães dos Sudetos, para que encaminhasse ao governo de a proteção nazista. Os territórios tchecos, cujo potencial
Praga pedidos de autonomia sempre mais prementes, até a industrial e cujas matérias-primas eram essenciais para levar
pretensão de ceder os Sudetos (28 mil km? que constituíam adiante os projetos expansionistas alemães, foram postos
20% do território tchecoslovaco) à Alemanha, afirmando sob o direto controle de Berlim como “protetorado da Boê-
que esse seria o último pedido de parte da Alemanha. mia e Morávia”.
No dia 30 de setembro, reuniram-se em Munique, com a O caminho para o ataque à Polônia já estava pronto.
mediação de Mussolini, os chefes de governo inglês, francês
e alemão e foi assinado o “pacto de Munique”, com base O PACTO NAZI-SOVIÉTICO
no qual foram aceitos os pedidos nazistas e reconhecida a Em abril de 1939, Hitler decidiu atacar a Polônia no iní-
anexação dos Sudetos ao Reich. A França ea Grã-Bretanha cio do ano seguinte. Os equilíbrios internacionais estavam
julgaram então que tinham satisfeito todas as pretensões sempre mais comprometidos, mas nem a França nem a Gra-
nazistas, mas logo ficou claro o engano. Hitler pretendia, “Bretanha tomaram iniciativas radicais contra a Alemanha,
com efeito, proceder à expansão do Terceiro Reich para limitando-se a declarar-se fiadores das fronteiras da Pol6-
o leste: em março foi completado o desmembramento da nia (31 de março). Em abril, Hitler denunciou o pacto de
Tchecoslováquia, continuando a agir na dupla via da pres- não agressão com a Polônia, estipulado em 1934, e o pacto
A POLÍTICA EXTERNA E 133

PACTO NAZI-SOVIÉTICO
Oficiais alemães e soviéticos tra-
çam as novas fronteiras da Polônia,

CONGRESSO DA PAZ
Cartaz do congresso do NSDAP,
que não foi realizado por causa da
guerra.

RETORNANDO DE MUNIQUE
O primeiro-ministro inglês procu-
rou refrear a corrida para a guerra,
mas sua linha de conciliação reve-
lou-se um fracasso ante a agressivi-
dade do nazi-fascismo (embaixo).

naval com a Grã-Bretanha do ano seguinte. Nem mesmo a neutralizar um eventual bloco franco-inglês em caso de ata-
Grã-Bretanha e a França se decidiram por uma aliança em que à Polônia; Stalin foi movido pelo propósito de manter
perspectiva antialemã com a União Soviética, porque suas neutro seu país, caso eclodisse um conflito entre os países
desconfianças estavam profundamente enraizadas e os con- capitalistas, de se expandir para os países bálticos e espe-
trastes e as tratativas seguiam morosamente. cialmente de refrear as aspirações de expansão de Hitler em
Hitler soube, portanto, aproveitar habilmente a situação direção dos territórios soviéticos.
e inserir-se no jogo diplomático, oferecendo à União Sovié- A assinatura desse pacto lançou o movimento comunista
tica a normalização das relações, buscando também garantir internacional numa profunda crise, porque anulava de impro-
reciprocamente as fronteiras. Em 25 de agosto, foi assinado o viso uma luta decenal contra o
“macto de não agressão” entre a Alemanha nazista e a União inimigo fascista. Na reali- / a
dade, Hitler não tinha / 6
Soviética, que pôs fim repentinamente a anos de violenta
propaganda e de radical oposição ao mundo comunista. Nele mudado seus projetos,
foi estabelecido que os dois contratantes se teriam abdicado o pacto lhe deu a pos-
sibilidade de garantir
de recíprocas agressões (art. 1), que em caso de guerra de um
para si a frente orien-
dos dois países contra um terceiro, este último não receberia
tal no momento da
nenhum apoio (art. 2) e que se procuraria resolver qualquer
agressão à Polônia.
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conflito de modo pacífico. Desse modo, Hitler pensou em


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A expansão
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Fronteiras de 1945 (o)


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Anexação de Saar
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E Ocupação do território Io A É E M A N FAS 2 A

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Anexação dos
Sudetos (1938)

Anexação da Austria
(Anschluss — 1938)

Protetorado da Boêmia
BSD eMorávia (1939)
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[134 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

O FASCISMO Europa atingida, em formas e um regime autoritário como


NA EUROPA condições diversas, pela crise da ditadura militar, enquan-
econômica, pelo desemprego, to, com frequência, faltaram
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POL ug
pelos extravasamentos nacio- EU TECA aqueles elementos plebisci-
e

Entre a Itália fascista e a Ale- e


AS o EI pe
manha nazista havia profundas nalistas e pelo antissemitismo. aTie BEL C reus ENteuso tários — em particular, o mito
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Os regimes instaurados no Eu qua E E UEn(ES 4 do chefe e o enquadramento
analogias: a criação de um — fa frus! JÊ, Butt.

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decorrer da Segunda Guerra dos jovens — que distinguiram
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poder que aspirava a tornar-se - ornr a TERO;
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prtatate biplo-
totalitário, a luta contra toda Mundial pela ocupação nazista ombEe S€ o
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8.30 deTaioSepteni a experiência italiana e alemã.
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forma de pluralismo, o papel não foram impostos do exte- bre d e l 8 , Wi
o ita de elreia Mariani A Áustria constituiu um claro
rior, mas constituíram o ponto e
o do
Maçã
exemplo de desenvolvimento
do ditador, a arregimentação
das massas, uma organização de chegada de acontecimentos () autônomo em sentido autori-
econômica e social corpora-
tiva. A categoria de fascismo
nacionais que, se não estavam
necessariamente destinados
/ tário. Principal característica
desse regime de nítida marca
pode servir para definir esses a desembocar em um fascis- clérico-fascista foi a solidifi-
regimes que exerceram, além mo completo, apresentavam cistização” em muitos países, cação do partido de governo,

dg
disso, uma notável influência muitas características que se caracterizado por um sistema os socialistas cristãos, com as
em nível internacional, pro- aproximavam dele. Verificou-se, institucional e constitucional Heimwehren, a milícia filofas-
pondo um modelo de solu- portanto, durante a década sempre mais antidemocrático, cista financiada por Mussolini

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ção aos problemas de uma de 1930, um processo de “fas- que assumiu tanto a forma de (1930).

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racao.”
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A POLÍTICA EXTERNA EE |35

As etapas sucessivas mais


importantes foram a violenta
repressão do movimento ME Regime |
operário (fevereiro de 1934) k » socialista
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constituição antidemocrática Ditadura fascista e E A
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e corporativa (maio de 1934). E
nacional-socialista Roo
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Regimes autoritários > 7 Ss SUÉCIA a a a À
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e nacionalistas
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nir a direita reacionária e mo-
1933 No de instituição
gime autoritário | BRETANHA
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derada em nome de uma reli- SB -L SEN 1936
gião patriótica. Diversamente Do Corarquio asOo , aa “Hamburgo Varsóvia
e IN f BAIXOS O) ,
Monarquia
das outras ditaduras, O regime % depois república Pc — BÉLGICA > Reno 2 » o
espanhol se formou no de- EParis (6) OLÔNIA |
* República RI oo de ; 1926 4
correr da guerra civil que, E raga
entre outras coisas, determi- S Sopigererilrfil
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nou uma transformação dos E PE ViViena a udapeste
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reacionárias. Durante todo o oFiume Belgrado 1930 [-
período franquista, aumentou, PORTUGAL do 24 8 O BucaresteO
desse modo, o peso ideológi-
1926 ESPANHA “ITÁ DA r
1923/1939 o E
co da Igreja católica e aquele Lisboa a Barcelona y 7 222
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Portugal, a concepção forte- ALBÂNIAé
25 de ; dA ão
mente organicista do Estado
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encontrou sua expressão na
nova constituição (1930) e,
especialmente, na introdução
de um sistema corporativo
(1933). Também a Hungria e
a Romênia conheceram o de-
" senvolvimento autônomo de
4 || fortes movimentos de marca
FP fascista: o Partido da Vontade
e "Nacional (fundado em 1935)
E " ea Guarda de Ferro (que já
| nas eleições de 1937 obteve
16% dos votos), unidos parti-
"| cularmente por um virulento
| antissemitismo.

| ATESTADO DO GOVERNO
FRANQUISTA AOS SOLDADOS
| ALEMÃES QUE COMBATERAM NA
ESPANHA (no alto, à esquerda).

DESFILE EM TRAJES
TRADICIONAIS NA EUROPA
CENTRAL (embaixo, à esquerda).

MARECHAL ROMENO ION


ANTONEScCU COM HITLER
| (adireita).
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Segunda Guerra Mundial se caracterizou pelo


entrelaçamento de múltiplos fatores que tornam
complexa uma definição única do conflito. Em
contrapartida, não é difícil individualizar na agres-
sividade do Reich nazista a causa fundamental de sua explosão.
À guerra foi, acima de tudo, um choque pela hegemonia entre
potências, mas também entre ideologias e regimes e, portanto,
entre fascismo e antifascismo, embora com profundas diferenças
entre as democracias ocidentais e a União Soviética. O aspecto
da guerra antifascista transpareceu em particular nas áreas
diretamente vítimas da agressividade nazi-fascista, enquanto o
choque entre os Estados Unidos e o Japão foi especialmente
destinado a ampliar as respectivas esferas de hegemonia política

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138 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ESQUADRILHA DE STUKAS
EM VOO (p. 136)

A SUÁSTICA NO CÍRCULO
POLAR ÁRTICO (na abertura).

ESQUADRÃO DE LANCEIROS
POLONESES

HITLER COM O ALTO-COMANDO


ALEMÃO ANTES DO ATAQUE
CONTRA A POLÔNIA
(embaixo).

e econômica. O conflito, muito mais que a Primeira Guerra que se opuseram alinhamentos e regimes colaboracionistas e
Mundial, foi também uma guerra total, fosse pela exploração movimentos de resistência aos próprios ocupantes.
sempre mais intensa de toda reserva de cada uma das socieda- Os objetivos de guerra das grandes potências foram deter-
des nacionais, fosse porque a contraposição de projetos totali- minados em primeiro lugar pela necessidade de combater
zantes de reestruturação da sociedade europeia investiu como a expansão da Alemanha nazista. Este foi o elemento que
nunca, não somente contra vastas áreas, mas também contra uniu em fases e em períodos diferentes Grã-Bretanha, Esta-
sistemas estataise sociais e componentes nacionais. dos Unidos e União Soviética e outras potências menores,
A conduta bélica alemã assumiu, em algumas partes da mesmo que, além disso, cada país cultivasse objetivos parti-
Europa, a característica de verdadeira e própria guerra de culares. A Grã-Bretanha tentou defender sua hegemonia no
extermínio: isso transpareceu no ataque à Polônia e foi pro- Mediterrâneo e no subcontinente indiano. De arsenal mili- hi

gramado desde o início da agressão à União Soviética. Com tar, os Estados Unidos tornaram-se uma potência mundial. O 8!

efeito, não se pretendia somente derrotar o inimigo, como no entrelaçamento entre uma guerra defensiva e a conquista de
oeste, mas aniquilá-lo para ter um território submetido às exi- novos espaços ficou particularmente claro no caso da União
gências do Reich. A guerra de extermínio gerou por sua vez Soviética. A Itália, como aliada, foi realmente um satélite da
fenômenos característicos desse conflito, como a Resistência Alemanha e tentou tecer para si um espaço de autonomia;
e os movimentos clandestinos, que se desenvolveram nos mas, em vez de reforçar sua posição, foi sufocada por essa
países ocupados pelas potências do pacto tripartite, sempre escolha estratégica.

ns
A GUERRA E 139

À DROLE DE GUERRE (A GUERRA


ENGRAÇADA)
Numa charge de abril de 1940, na |
qual Hitler é pescado pelo anzol
do peixe francês, é representado o
estado das operações militares que |
precedeu o ataque à França. |

Rua de Varsóvia depois


dos bombardeios alemães (embai-
xo).

Le Vous far ce belrf Epvur /


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O ATAQUE À POLÔNIA centrais formaram o Governo Geral dirigido por Hans Frank
Na aurora de 1º de setembro de 1939, sem declaração de e os orientais, segundo as cláusulas do pacto nazi-soviético,
guerra, à Alemanha invadiu a Polônia. Havia meses que o foram ocupados pela União Soviética. No decorrer da cam-
regime nazista tinha optado pela solução de força e o pacto panha polonesa, o regime nazista pôs em prática o método de
de aço com a Itália, os crescentes contrastes com a França e guerra que teria depois, sem grandes variações, utilizado nos
a Gra-Bretanha e o pacto nazi-soviético constituíram outras meses seguintes: a surpresa e a brutalidade do ataque esma-
tantas etapas do crescente isolamento internacional da Polô- garam as forças armadas inimigas em pouco tempo, o terror
pia. A guerra foi conduzida segundo os princípios da Blietzkrieg paralisou a população civil e a “quinta coluna” desintegrou
(guerra-relâmpago), empregando um elevado número de for- a partir de dentro o adversário.
ças blindadas, que atacaram o país a partir de diversas partes Enquanto na frente ocidental a situação se conservava
convergindo para o centro. No dia 3 de setembro, a França e estacionária, o conflito se estendeu para outras direções: no
a Gra-Bretanha declararam guerra à Alemanha. O exército dia 30 de novembro, a União Soviética atacou a Finlândia,
polonês logo esteve em dificuldades e, em poucos dias, os acelerando também os planos alemães de controle da penín-
destinos do conflito foram definidos. Varsóvia, quase comple- sula escandinava, ligados especialmente à presença de jazidas
tamente destruída pelos bombardeios alemães, capitulou no de ferro. No dia 9 de abril, a Alemanha invadiu a Dinamarca
final de setembro e, poucos dias depois, foi assinado o armis- e a Noruega: a primeira foi derrotada em pouquíssimo tempo;
tício. Os territórios ocidentais foram anexados ao Reich, os a segunda, mesmo com a intervenção das forças aeronavais
140 E HISTORIA ILUSTRADA DO NAZISMO

PRISIONEIROS FRANCESES CRAnVASio da Era ç


O ataque à França foi uma obra- | ã
-prima de estratégia militar dos Pe» Ei eos INGLATERR A ;
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altos comandos alemães. As repe- Ru Roteços ARMADAS B
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tidas manobras em círculo das divi- Dunquerque Bruxelas P RAR
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sões blindadas do Reich estiveram
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em condições, em dois meses, de “Abbeville, | Amiens


“GICA A RMABIASIA
aniquilar um exército e um plano
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de defesa que eram considerados A olen
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invencíveis (embaixo). 2 E sENánci
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carros armados alemães Dijon
Ataques dos corpos blindados
Q Desembarques aéreos RETA
alemães (IO de maio)
Clermont
Território ocupado Ferrand O E/On:

inglesas, capitulou no dia 10 de junho. O Reich, que se pro- A queda da França constituiu o ápice do triunfo nazista
punha a isolar a Grã-Bretanha, começou a ofensiva na frente no Ocidente, revelando as fraquezas da preparação e da
ocidental. estratégia militar francesa. Também a frente interna, poli-
ticamente dividida e moralmente abatida, cedeu. O país foi
O ATAQUE À FRANÇA ocupado parcialmente: a zona alemã se estendeu à França
Em 10 de maio 1940, a Alemanha invadiu a Holanda, a centro-setentrional e a uma faixa ao longo do Atlântico até
Bélgica e Luxemburgo sem declaração de guerra, derrotando- a fronteira espanhola, que englobava a maior parte dos dis-
“Os rapidamente, graças inclusive aos maciços bombardeios tritos industriais e todos os portos sobre o Atlântico. Grande
aéreos. Em 24 de maio, tropas alemãs chegaram ao Canal parte da França centro-meridional, ao contrário, permaneceu
da Mancha, diante de Dunquerque, onde se detiveram, per- sob o controle do novo governo conservador dirigido pelo
mitindo o reembarque das forças inglesas e de numerosos marechal Pétain, com sede em Vichy. Hitler julgou então
destacamentos franceses, provavelmente na esperança de que necessário que um governo francês continuasse a funcionar
a Grã-Bretanha encerrasse as hostilidades. As tropas nazistas numa parte do território nacional, a fim de impedir que este
avançaram em direção das regiões do Meuse e das Ardennes, se transferisse para a Inglaterra, de onde teria podido conti-
rompendo depois a linha da retaguarda francesa entre os rios nuar combatendo com liberdade de ação bem diversa. Além
Somme e Aisne; em 14 de junho, entraram em Paris e, no dia disso, não reclamou a entrega da frota, nem fez exigências
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22, foi assinado o armistício. sobre os domínios coloniais; seu objetivo principal nesse |
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erra, à Alemanha podia con- “antiaérea ' (toneladas)
ar com um vasto arsenal pro-
tado para uma guerra-relâm-
o. AWehrmacht, depois da
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rei ntrodução do recrutamento
obrigatório em 1935, foi refor-
cado: em 1939 era composto
de quase 3 milhões de homens
e tinha mais de 3 mil carros
"| armados. No rearmamento
BASES DE LANÇAMENTO DE
alemão, a marinha tinha sido mirante Raeder não conseguiu dotada de uma organização e MÍSSEIS V2
deliberadamente sacrificada. confiar a guerra no mar a um de um conjunto de meios con- As Vergeltunsgswaffen (armas de
Depois do tratado naval de único chefe que comandasse ao cebidos e montados segundo represália) foram fabricadas no
[935 com a Grã-Bretanha, que mesmo tempo as forças navais a tecnologia mais moderna. final da guerra. O V2 era um fogue-
te de 12,9 kg, dotado de cerca
atribuía à frota do Reich 35% e as forças aéreas e,em 1939, Contudo, os estabelecimentos de uma tonelada de explosivos e
da tonelagem daquela britânica, dispunha somente de algumas haviam sido edificados e capaz de desenvolver uma veloci-
o almirante Erich Raeder tinha esquadrilhas de vigilância das equipados apressadamen- dade de 5,6 mil km/h.
montado um ambicioso plano costas. A marinha alemã arris- te e a fabricação em sé-
de construções navais, mas cava ser privada, no momento E A rie tinha começado so- nenhuma mudança da guerra
em 1939 mal havia começado. decisivo, do concurso da Luf- mente em 1938. Ape- na frente oriental. Houve de-
Além disso, uma controvérsia twarfe, ainda mais que Góring sar disso, em setembro senvolvimentos significativos
havia colocado em choque a estava convencido de poder de 1939,a Luftwaffe sobretudo para os submergi-
marinha de guerra com a Luf- obter o domínio do mar possuía mais de 4 mil veis e para os aviões à reação,
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em favor do chefe desta última, A Luftwaffe efetivamente No rer do conflito, par-


o marechal Góring: a aviação, tinha sido beneficiada mo ticularmente a partir poder redirecionar os destinos
tanto com bases em terra co- com um orçamento E de 1943, quando a do conflito foram os aviões
mono mar teria continuado a ilimitado a partir de 4
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142 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO
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| PROTEÇÃO DA VITÓRIA DE SAMOTRÁCIA NUMA FOTOGRAFIA DE SETEMBRO DE 1940 Depois do


ataque alemão, muitas obras de arte do Louvre foram transferidas para locais seguros,a fim de protegê-las dos bombardeios. A depre-
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dação de quadros e esculturas na Europa ocupada pelos exércitos do Reich foi um dos aspectos mais odiosos da dominação nazista.
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A GUERRA E 143

GUERRILHEIROS GREGOS
A Resistência grega foi um espinho
nos flancos para as tropas de ocu-
pação do Eixo.

A “RAPOSA DO DESERTO”
Erwin Rommel, com o braço ergui-
do, foi o mais brilhante estrategista
da guerra com meios blindados
no deserto africano. Próximo dos
circulos militares que organizaram
o atentado contra Hitler de 20 de
julho de 1944, foi preso e forçado
a suicidar-se (embaixo).
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momento era enfraquecer a Grã-Bretanha, impedindo que mel, tomou o nome de “Afrikakorps”. Incansável e fulmíneo
se unisse ao que restava das forças francesas. O projeto de na concepção e nas decisões, Rommel logo ganhou o apelido
Hitler previa, portanto, a máxima exploração econômica da de “raposa do deserto” e, mal chegou, deu início por inicia-
França em proveito da Alemanha e a presença de um governo tiva própria a uma guerra-relâmpago. Favorecido com o vazio
que mantivesse as aparências da soberania. criado pelo envio de tropas britânicas para a Grécia, Rommel
A derrota da França marcou o primeiro verdadeiro triunfo começou a avançar sem tomar conhecimento da opinião dos
político-militar nazista, porquanto foi batido um adversário comandantes italianos, a quem deveria ficar subordinado.
histórico e foi eliminada do continente toda a força inimiga Em abril reconquistou a Cirenaica, chegando quase até a
restante. A operação “leão-marinho” (o ataque à Gra-Breta- fronteira egípcia, onde foi retido numa longa batalha para a
nha), no entanto, foi adiada, e o Reich foi obrigado a intervir conquista de Tobruk, conseguindo expugná-la em junho do
na Grécia e na lugoslávia ao lado da Itália, para evitar a ano seguinte, sabendo aproveitar-se, com a habitual habili-
derrota (abril de 1941). dade, de uma série de acontecimentos adversos que atingiram
a esquadra inglesa no Mediterrâneo.
A GUERRA NO NORTE DA ÁFRICA O “Afrikakorps” continuou a avançar, chegando, no final
Em janeiro 1941, Hitler decidiu socorrer as tropas italia- de agosto, a cerca de 100 km de Alexandria. A situação
nas que estavam em dificuldade na Líbia. Foram enviadas se tornou sempre mais séria para os ingleses, uma vez que
duas divisões blindadas que, sob o comando de Erwin Rom- seus suprimentos estavam destinados ao controle do Canal
144 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

HEINZ GUDERIAN
O maior teórico da guerra com
meios blindados. No decorrer da
invasão da União Soviética, obteve
fulminantes sucessos e, com seu
exército Panzer, chegou até as por-
tas de Moscou.

BLINDADO ALEMÃO DESTRUÍDO


Em novembro de 194l, ficou claro
que a Blitzkrieg, que deveria ter leva-
do à capitulação da União Soviética,
havia fracassado (embaixo).

de Suez e à manutenção das bases aéreas no Egito centro- OPERAÇÃO BARBA-ROXA


“oriental. No dia 23 de outubro de 1942, o general inglês Em 22 de junho de 1941, teve início a agressão nazista
Bernard Montgomery, que havia recebido reforços decisi- à União Soviética. A Alemanha atacou com 153 divisões,
vos, lançou uma contraofensiva contra as forças do Eixo, a Itália enviou um corpo de expedição mal armado e des-
que se concentrou em El Alamein e terminou nos primeiros preparado e a Romênia enviou a maior parte de suas tropas.
dias de novembro com uma pesada derrota para as forças Hitler pretendia conseguir a vitória em poucos meses e, de
talo-alemãs, que tiveram de recuar para a Líbia. No dia 8 início, tudo caminhou mais ou menos segundo as previsões.
de novembro de 1942, os anglo-americanos, após acurada Como nas campanhas da Polônia e da França, as manobras
preparação tornada possível pelo emprego sempre maciço da alemãs, após a conquista do espaço aéreo, desenvolviam-se
gigantesca máquina bélica estadunidense, desembarcaram por meio da ação conjunta de forças imponentes na primeira
no Marrocos e na Argélia. No dia 13, os ingleses reconquis- fase da ofensiva; em seguida, o ataque teve o apoio das colu-
taram Iobruk. Em janeiro de 1943, Rommel abandonou a nas blindadas (o ponto fraco do adversário) com a cobertura
Líbia e, em maio seguinte, os anglo-americanos obrigaram da aviação.
as tropas ítalo-alemãs a capitular na Tunísia. Os primeiros avanços foram arrasadores: em setembro
Leningrado foi sitiada e, em outubro, as tropas alemãs che-
garam às portas de Moscou, mas ali se detiveram. O outono
estava chegando e o Exército Vermelho tinha sofrido gra-
A GUERRA E 145

DESFILE DO
ExéÉRCITO VERMELHO
O fulgurante avanço alemão em
território russo foi favorecido pelo
fator surpresa e pelo despreparo
militar de Moscou.

METRALHADORES ALEMÃES
NA NEVE
Os exércitos do Reich viram-se
combatendo em condições proibi-
tivas no decorrer do longo inverno
russo (embaixo).

ves perdas, mas não tinha sido aniquilado. Em dezemb A NOVA ORDEM EUROPEIA
no coração do inverno russo, ao qual as tropas pp A partir da agressão à União Soviética, ocorreu uma
estavam preparadas, o Exército Vermelho começou a contra- profunda reviravolta na condução da guerra, porquanto se
ofensiva. Com a campanha russa, teve fim o glorioso período desdobrou a lógica da guerra nacional-socialista que, ao
da guerra-relâmpago paga pelo vencedor com perdas de pouca choque entre as potências, acrescentou o choque frontal
monta, amplamente compensadas pelas riquezas depredadas, de ideologias e raças. O objetivo era a conquista de um
pelos territórios ocupados e pelos adversários subjugados. As interminável “espaço vital”, de modo a garantir ao Reich
dificuldades e as derrotas criaram discórdia entre os gene- imensos recursos e a criação de uma “nova ordem europeia”,
rais e profunda desmoralização se apoderou dos soldados. Foi ou seja, de um sistema de estados-satélites sujeitos à Ale-
necessário substituir os combalidos, aumentar e renovar os manha. Esse objetivo implicou uma ocupação que deveria
armamentos e o conflito se transformou numa guerra de des- ser definitiva, em vista da futura dominação nazista. Com
gaste, de êxito incerto e de duração imprevisível. Para tentar efeito, foi nas áreas destinadas ao assentamento dos alemães
vencê-la, a Alemanha teve de mobilizar todos os seus recursos que se realizou esse processo de germanização indissociável
eutilizar todos os homens válidos, mesmo que isso significasse do objetivo racista: introdução de alemães, portadores de
afastá-los das fábricas e dos postos-chave na frente interna. valores raciais superiores, e expulsão de grandes massas de
Toda a Europa conquistada deveria ser explorada, para que o população local para deixar trabalho e bens aos ocupantes.
Reich milenar pudesse coroar seus sonhos de glória. Essas maciças transferências de população constituíram, na
146 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

A BARBARIZAÇÃO
DO CONFLITO

A condução da guerra e a em primeiro lugar. Em vista da


administração das zonas ocu- estação, decisão rápida. Darei
padas seguiram as normas da o pretexto de propaganda
ideologia nazista, muito mais para o desencadeamento da
que as regras dos direitos dos guerra, não importa se digno
povos. No leste, os soldados de credibilidade ou não. Ao
alemães fizeram uma guerra vencedor não se pedirá mais
ideológica e de extermínio, tarde se disse ou não a ver-
cujas regras, com raras exce- dade. Ao dar início e ao con-
ções, foram compartilhadas duzir a guerra, O que importa
por toda a VVehrmacht. Em não é o direito, mas a vitória. comissários políticos: “As tro- todos de luta. É necessário,
22 de agosto de 1939, pou- Fechar o coração à compai- pas devem estar conscientes portanto, proceder contra
cos dias antes da agressão xão, proceder de modo brutal. de quanto segue: |. Nesta luta, eles imediatamente e, sem dú-
à Polônia, dirigindo-se ao É necessário fazer justiça para está errada uma atitude de vida, com toda a aspereza, Por
alto-comando militar, Hitler 80 milhões de homens. É pre- indulgência e de respeito do conseguinte, eles deverão ser
declarou: “Em primeiro plano ciso garantir sua existência. direito internacional no que imediatamente passados pelas
está a destruição da Polônia. Será o mais forte a ter razão. diz respeito a esses elemen- armas quando forem captura-
O objetivo é a eliminação das A máxima dureza”. Em 6 de tos. São perigosos para sua dos em combate ou em ações
forças vitais, não a conquista junho de 1941, pouco antes segurança e para uma rápida de resistência”.
de determinada linha. Mesmo do ataque à URSS, foi dada a pacificação dos territórios
que tivesse de eclodir a guer- GUERRILHEIROS FRANCESES
ordem do comando supremo conquistados. 2. Os comissá-
ANTES DO FUZILAMENTO (no
ra no Ocidente, o aniquila- da VVehrmacht sobre o tra- rios políticos são promotores alto) E PRISIONEIROS RUSSOS
mento da Polônia permanece tamento a ser reservado aos de bárbaros e asiáticos mé- (à esquerda).

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A GUERRA E |47

CRIANÇAS REFUGIADAS
Além da destruição de muitas cida-
des, o conflito provocou o êxodo
forçado de milhões de pessoas.

PROPAGANDA ALEMÃ
NOS PAÍSES OCUPADOS
Cartaz em língua flamenga que
exorta o alistamento nas 55
(embaixo, à esquerda).

SOLDADOS DE INFANTARIA EM
CIMA DE UM CARRO ARMADO
NO FRONT DE DON
(embaixo, à direita).

economia da guerra nazista, um instrumento de dizimação A FRENTE INTERNA


e de seleção de grupos étnicos e sociais, num contexto em À guerra mudou também a vida cotidiana dos alemães.
que a desagregação dos estados e do tecido social, os des- As rações de gêneros alimentícios continuaram a diminuir,
locamentos de fronteiras e a hierarquização de nacionali- a qualidade do pão a piorar, a falta de gorduras animais se
dades foram parte de um único projeto de transformação tornou crônica. A duração da semana de trabalho útil pas-
da Europa. Isso significou sobretudo a exploração da força sou de 48 para 50 horas. Quanto mais durava a guerra, mais
de trabalho nas formas mais diversas: da dependência nos se tornou maciça a intervenção sobre os jovens. Os rapa-
lugares de produção originais à utilização nos serviços da zes de 14a 18 anos djs
administração bélica alemã, à deportação nos complexos tiveram de parti- |
produtivos, na agricultura e nos campos de concentração cipar de cursos GH
do Reich. Outra característica desse projeto de germaniza-
ção foi a exploração dos aparatos produtivos e dos recursos
naturais para realizar um gigantesco processo de integração
continental em sentido único: um sistema de subordinação
total das exigências da periferia ao centro do império, repre-
sentado pela Alemanha.
148 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

HOMENS DO NORTE, COMBATAM


PELA NoRruEGA! HOLANDESES: MAIA
As SS os CHAMAM!
Propaganda nos países ocupados.

GOEBBELS NUMA
CARICATURA RUSSA
O ministro da Propaganda procurou
em vão transformar a derrota de
Stalingrado na heroica resistência
do Reich milenar às “hordas bolche-
viques” (embaixo,à esquerda).

INFANTARIA RUSSA AO ATAQUE


VOOR UW EER EN GEWETEN
(embaixo, à direita). OP !- TEGEN HET BOLSJEWISME
DE WAFFEN 44 o AR

ministrados pela Hitlerjugend, de características sempre


de Stalingrado, se difundia cada vez mais entre a popula-
mais belicistas. Além disso, substituíram os homens que
ção, Goebbels, no famoso discurso de 18 de fevereiro de
partiam para o front, especialmente nos trabalhos agr
ícolas 1943 no palácio dos esportes de Berlim, procurou invocar
e na administração. A propaganda se tornou maciça e
a o fanatismo e a vontade de resistência dos alemães com
guerra entrou ainda mais ostensivamente nas salas de aula:
ênfase retórica que culminou com a pergunta: “Querem
nas escolas foram organizadas visitas de soldados em licença
a guerra total?” Também o terror foi intensificado e, em
que contavam, em termos entusiásticos, suas experiências
; agosto de 1944, com a “operação tempestade”, cerca de
nas paredes, mapas assinalavam o glorioso avanço do Reich 5 mil ex-funcionários e políticos da república de Weimar
e a produção de opúsculos de propaganda aumentou, entre foram encerrados em campos de concentração. Foram sus-
1940 e 1941, de modo exponencial.
pensas as últimas prerrogativas da Wehrmacht nas questões
Foram intensificados também todos os instrumentos de política interna e foi criada a “milícia popular alemã”, da
da repressão interna e todo o aparato terrorista do regime qual deviam fazer parte todos os homens entre 16 e 60 anos.
exerceu sua função de intimidação e de disciplina para com Com os primeiros bombardeios das cidades alemãs, também
todas as camadas da sociedade, e isso muito além da simples a população civil começou a sentir na pele os horrores da
hierarquização já implícita na concepção da Volksgemeins- guerra e ficou sempre mais difícil continuar alimentando o
chaft. A pressão do regime cresceu com os reveses milita- mito da superioridade e da invencibilidade do Fiihrer e do
res. Para contrastar o abatimento que, depois da derrota Terceiro Reich.
A GUERRA E |49

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NKO, DO CONSERVATÓRIO DE MOSCOU, TOCA VIOLINO PARA AS TROPAS


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O PROFESSOR ILCH A FRENTE SUL Numa imagem realizada por um dos mais famosos repórteres soviéticos de
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RUSSAS ESTACI Exército Vermelho ouve música depois de um dia de combates — Anatoly Garanin/Magnun Photos.
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150 E HISTORIA ILUSTRADA DO NAZISMO

STALINGRADO

Hitler atacou a União Sovié-


tica com a certeza de vencê-
-ja em poucos meses. Depois
dos primeiros e arrasadores
sucessos, o avanço estancou
e o rígido inverno russo
colheu os exércitos alemães
despreparados. Às portas
de Stalingrado se configurou,
por mais de um ano, um dos
choques mais decisivos entre
os dois blocos. A resistência
e depois a ofensiva do Exér-
cito Vermelho a partir do fi-
nal de 1942 se tornaram, aos
olhos de todos, o símbolo do
resgate da agressão nazista
e constituíram a esperança
mais concreta das potências
aliadas de chegar à inversão
das sortes do conflito. Para

o Reich nazista,a batalha de sua contribuição para a salva-


Stalingrado constituiu uma ção da pátria. Mas o próprio
enorme perda de homens e “mito” do Fúhrer começou
meios: quase um quarto das a vacilar e teve início o esfa-
forças do Eixo empregadas celamento da frente interna,
na campanha da Rússia, em premissa da crescente refuta-
sua maioria soldados ale- ção da guerra e das trágicas
mães, pereceu no cerco da consequências que esta trazia
cidade. Logo ficou claro para consigo.
Goebbels que era necessá-
rio inverter o significado do
ocorrido, transformando a
derrota numa aparente vitó-
ria: Stalingrado, do momento
supremo da derrota do bol-
chevismo, se tornou símbolo SOLDADOS RUSSOS COMBATEM
da heróica resistência dos ENTRE AS RUÍNAS DE
alemães contra o bárbaro STALINGRADO
avanço dos soviéticos.À À reconquista da cidade às mar-
gens do rio Volga destruiu o mito
máquina de propaganda do da invencibilidade da Wehrmacht
regime declarou o início da (no alto).
“guerra total”, todas as es-
CARROS ARMADOS BLOQUEADOS
truturas repressivas do Esta-
PELO GELO E SOLDADOS
do foram reforçadas e cada COM METRALHADORAS NUMA
cidadão foi chamado a dar TRINCHEIRA (à esquerda).
A GUERRA E |5]

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ROS SOVIÉTICO
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152 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

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NA FRANÇA E Fade
Até novembro de 1942 o país, Ee DE an
ocupado em três quintos, conti- e E
nuou formalmente livre na area
centro-meridional dirigida pelo
governo colaboracionista com sede
em Vichy.

OFICIAIS ALEMÃES
EM UM CABARE PARISIENSE
(embaixo).

O SISTEMA DE PODER NAZISTA Hitler se isolou cada vez mais com relação ao exterior
NOS ANOS DA GUERRA e Bormann se empenhou para que ele tivesse poucos con-
O sistema burocrático e administrativo do Terceiro Reich tatos com ministros, Gauleiters e chefes de partido, mesmo
se caracterizou, no decorrer da guerra, por um caos crescente. quando se tratava de antigos combatentes. Desde a eclosão
A última sessão do gabinete teve lugar em fevereiro de 1938. da guerra, o Fúhrer permaneceu quase exclusivamente em
Acrescente-se a isso que, para os vários ministros e responsá- seu quartel-general, de onde dirigia inclusive as operações
veis políticos, passou a ser sempre mais difícil durante a guerra militares. Em janeiro de 1945, transferiu-se para o bunker
| ter contatos diretos com Hitler. O poder se concentrou, de construído debaixo da chancelaria do Reich, em Berlim, e
| fato, sempre mais nas mãos de três homens: Hans Heinrich dele não saiu mais até sua morte.
Lammer, chefe da chancelaria do Reich, cujo papel foi equi- Enquanto Góring, após o fracassado ataque aéreo con-
| parado ao de um ministro; Martin Bormann, onipresente e tra a Inglaterra em 1940, perdeu sempre mais autoridade,
| superativo secretário particular de Hitler; e Wilhelm Keitel, Goebbels, Himmler e Speer, fiéis até o fim a seu chefe e em
chefe do comando superior da Wehrmacht de 1938 a 1945. perene rivalidade entre si, disputaram o poder continuando
Toda diretiva, medida e circular emitidas pelo Fiihrer eram a administrar, cada um em seu próprio âmbito, a louca con-
| redigidas e divulgadas somente por esses respectivos membros dução da guerra nazista.
do partido.
O império nazista
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A GUERRA E 153

A MÃO-DE-OBRA Os trabalhos massacrantes a acordo com a posição ocu-


ESTRANGEIRA que eram forçados. Em março pada. Essas hierarquias foram
de 1942, Hitler nomeou Fritz mantidas e aguçadas pelo re-
Durante à Segunda Guerra agida com invasões, durante
Sauckel, Gauleiter da Turíngia, gime, inclusive com o objetivo
Mundial foram deportados as quais eram recrutados
plenipotenciário para o recru- de acentuar as diferenças en-
para a Alemanha quase 8 mi- todos os homens aptos para
tamento dos trabalhadores; tre os próprios trabalhadores
lhões de civis estrangeiros e O trabalho. Até 944 foram
este procedeu a maciças ar- estrangeiros, tornando desse
prisioneiros de guerra para deportados mais de um |.5
regimentações na Europa na- modo ainda mais difícil toda
serem empregados na in- milhão de poloneses.A partir zista e estabeleceu uma rígida aliança e confraternização.
dústria alema, especialmente de 1942 começou uma maciça hierarquia racial no tratamen-
nos setores da produção de transferência de civis sovié- to das vítimas, em cujo vértice
armamentos e na agricultura. ticos (cerca de 2,5 milhões), FRITZ SAUCKEL
estavam os trabalhadores de
No conjunto, os trabalhado- uma vez que os prisioneiros estirpe germânica, enquanto Idealizador do sistema de trabalho
res estrangeiros forneceram de guerra, por causa do brutal forçado para milhões de prisionei-
or soviéticos e poloneses foram ros de guerra russos (à esquerda).
cerca de um terço da mão- tratamento ao qual eram sub- confinados na base inferior
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de-obra das indústrias bélicas, metidos, quase nunca estavam da pirâmide. As condições de OPERÁRIAS FRANCESAS
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atingindo às vezes até 50%, em condições de desenvolver vida e os salários variavam de NUMA FÁBRICA ALEMÃ
como no caso das fábricas
de carros armados Krupp
em Essen. Eles chegaram ao
Reich provenientes de todos
os países compreendidos no
projeto da “nova ordem eu-
ropeia”. O recrutamento teve
nm E início em 1939 na Polônia e,
k, o. visto que as campanhas para
m E arregimentação não tiveram o
bi sucesso desejado, os nazistas
procederam à intimação co-
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154 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

A OCUPAÇÃO 1

DA ITÁLIA
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Em 5 de setembro de 1943,
a Itália assinou o armistício,
pondo fim desse modo a três
anos de condução bélica desas-
trosa. A coroa foi salva, mas o
país permaneceu nas mãos das
tropas alemãs que, já depois
O
1

de 25 de julho, dia da queda de


Mussolini, haviam começado a
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reforçar sua presença no ter-


ritório. O objetivo principal da
Alemanha foi explorar tanto
o potencial produtivo italiano,
agrícola e industrial, como a |
mão-de-obra. Dessa forma, f
teve início uma varredura in- ração demográfica e territorial. | acompanhadas por medidas tas mostraram seu domínio f
discriminada, e muitas vezes Houve, no entanto, uma gene- que atingiram em massa à po- sobre o território. Quase 7 1
casual, para deportar o maior ralização de comportamentos pulação civil. A intimidação foi, mil judeus italianos foram de- N
número de italianos para as em que a agressividade e o portanto, um componente fun- portados para os campos de q
| indústrias do Reich. Nos me- arbítrio foram considerados damental das ações do exérci- extermínio nazistas e a polícia '
ses seguintes, o recrutamento legítimos. O caráter opressivo to alemão; a repressão contra da república de Salô deu uma
| foi racionalizado por meio da da ocupação não se manifes- as ações da resistência atingiu ativa contribuição para sua ;
| criação de organismos, como a tou unicamente como reação sempre com maior frequência captura e para a organização 6
organização lodt.A ocupação à rebelião da população, e os civis inermes e a prática da dos comboios que os teriam É
nazista se caracterizou por massacres e represálias nem varredura foi um transportado para a morte. Ee
| uma extrema brutalidade, ainda sempre estiveram em relação dos principais '
que houvesse uma Stan! causal com o ocorrido, mas » meios pelos SIDADOS NG ECAMER EAN R
diferença entre a conduta bé- ulterior prova de força. À vio- quais os ENTRAM EM NÁPOLES EM |
lica em outros contextos, em lência como demonstração de nazis- SETEMBRO DE [943 ,
particular aquele da Europa superioridade militar foi uma O Robert Capa/Magnum Photos
oriental, e o caso da Itália ou prática cotidiana. A captura
CARGUEIRO ALIADO ATINGIDO
da França, onde não foi atuado e a deportação dos soldados POR UMA BOMBA ALEMÃ
o projeto nazista de reestrutu- italianos desarmados foram AO LARGO DA SICÍLIA

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A GUERRA BE 155

FORTE ATLÂNTICO
Por detrás das fortificações de
concreto, os comandos alemães
haviam disposto as divisões blinda-
das para repelir o previsto desem-
barque aliado.

MESssERSCHMIDT ME-262
O primeiro avião à reação produ-
zido pela indústria alemã em 1942.
Foi utilizado, porém, em operações
bélicas somente a partir de julho
de 1944 (embaixo).

ECONOMIA E ARMAMENTOS ao dobro daquela da Grã-Bretanha, a Alemanha estava pre-


Uma prescrição de 4 de setembro de 1939 decretou 50% parada apenas para uma guerra de curta duração. À organi-
de majoração do imposto de renda e o aumento das taxas zação da produção bélica dependia de Góring, responsável
sobre o consumo de numerosos produtos. Essas medidas não pelo plano quadrienal e, como tal, dos ministérios da Eco-
foram, contudo, suficientes para cobrir as despesas para a nomia, do Trabalho e do Abastecimento. Fritz Todt tinha
produção de armas e o saldo foi obtido com as contribui- o controle do Ministério dos Armamentos, bem como da
ções dos países ocupados. Embora obrigando o Reich a um empresa de trabalhos nacionais que levava seu nome e os dois
esforço fiscal considerável, o regime nazista procurou evitar organismos eram praticamente autônomos. Em fevereiro de
o aumento dos preços, para reduzir ao mínimo o descon- 1942, Speer substituiu Todt (morto em um acidente aéreo)
tentamento. O resultado foi o recurso à emissão de papel- e desde então, de modo sempre mais claro, foi dada prio-
“moeda e um notável endividamento do Estado, mas ape- ridade absoluta às indústrias de armamentos. Ele ampliou
sar da tendência ao aumento dos meios de pagamento, o o sistema inaugurado por Todt dos comitês compostos por
regime soube habilmente manter a estabilidade da moeda especialistas da indústria e não por militares, encarregados
por quatro anos. Pelo menos até 1943, as condições de vida de estabelecer os melhores procedimentos para construir
dos alemães foram superiores àquelas dos ingleses. cada arma. Speer, formalmente subordinado a Góring, assu-
Embora tendo entrado em guerra com uma indústria miu a efetiva direção da economia de guerra, embora fosse
bastante moderna e uma produção de armas equivalente responsável apenas pelos armamentos do exército e não

a dá
156 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

O COLABORACIONISMO PES UA )
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O colaboracionismo caracte- propaganda para afirmar a Ds , se f


E, pn

rizou muitos países envolvidos função do Terceiro Reich na E, i RO A

no segundo conflito mundial e cruzada pela nova Europa, mas


assumiu pesos e formas novas também em termos bem mais
com relação ao fenômeno da concretos do ponto de vista
colaboração com uma potên- da mobilização de forças e de
cia ocupante, como se havia energias para serem postas a
verificado no curso de outras serviço da Alemanha nazista.À
guerras e conquistas territo- colaboração foi, contudo, um
riais e coloniais. Os regimes processo em sentido único: o
instalados com a ocupação Reich tinha necessidade dela
alemã foram muito além das nos países ocupados para
simples necessidades bélicas e poupar homens e meios, para

ta
deram à sua intervenção um introduzir-se nos aparatos

rd
caráter bem mais global, ou administrativos e em am-
seja, destinado a envolver a bientes sociais dos quais não
organização política e institu- podia prescindir, para obter
cional do país. No âmbito da suprimentos e estimular a
“nova ordem europeia”, o uso produção industrial e agrícola
do colaboracionismo deveria dos países ocupados para
ter sido um dos instrumentos seus territórios, para recrutar
de agregação do consenso a mão-de-obra necessária a
e das forças em torno do seu esforço bélico e também
desígnio de expansão da Ale- para transmitir, através de me-
Jal
manha nazista. À colaboração diadores locais, uma imagem
ty
de elementos integrados no e uma mensagem tranquili- do fenômeno do colaboracio- -se nas estruturas tradicionais
tecido social e administrati- zadoras. Muitos movimentos nismo — com a esperança de de poder — como na Bélgica
vo dos territórios ocupados pró-fascistas e pró-nazistas realizar suas aspirações polí- — em detrimento das forças
era para a Wehrmacht uma ofereceram sua colaboração à ticas. Por vezes, porém, num fascistas, mas caracterizadas
exigência primária. Não so- potência ocupante — uma das paradoxo só aparente, a Ale- igualmente de um forte com-
mente do ponto de vista da características fundamentais manha nazista preferiu apoiar- ponente nacionalista. A repú-
blica social italiana constituiu
um significativo exemplo de
como muitas vezes os alemães
consideravam as forças locais
mais como um obstáculo do
que uma ajuda para a atuação
de sua política.

FRANCESA DE CABEÇA
RASPADA A ZERO
Punida por ter tido um filho de um
soldado alemão (O Robert Capa/
Magnum Photos (no alto).

JACQUES DorioT
O líder colaboracionista francês
(de uniforme escuro) combateu
como voluntário na Rússia.

CARTAZ DAS SS BELGAS


Vá EO RR
A GUERRA E 157

Tu ESTÁS NO FRONT
ASSIM COMO NOS COMBATEMOS,
TU TRABALHA PARA A VITÓRIA!
Trabalhadores alemães são incita-
dos a empenhar-se para vencer a
guerra.

Navio ALEMÃO
EM COMBATE
(embaixo, à esquerda).

SOLDADOS DA WVEHRMACHT
ADQUIREM CARTÕES-POSTAIS
(embaixo, à direita).

daqueles da marinha e da aviação. A partir de então, a


pro- dantes militares em 10 de agosto de 1942: “Sei saquear de
dução bélica continuou crescendo sem, no entanto, jam
à à

ais forma perfeita e organizar verdadeiras caçadas”. Em todos


atingir Os níveis do arsenal norte-americano. Os países em que entraram como vitoriosos, os regimentos
alemães saquearam, expropriaram e requisitaram. As auto-
O SISTEMA FINANCEIRO ridades ocupantes se abstiveram, nos meses seguintes, de
DO GRANDE REICH medidas tão brutais e escolheram vias muito mais astuciosas
As despesas militares alemãs tinham passado de 41 e eficazes. Uma primeira medida consistiu em revalorizar
bilhões de marcos em 1939 a 60 em 1940 e 91 em 1942. O arbitrariamente o marco — tornando-o uma moeda europeia
ministro das Finanças Walter Funk, para poder enfrentar — em relação às moedas dos países conquistados. Isso reduziu
a situação, havia recorrido à tributação e a um sistema que o poder de compra dos produtos alemães que se tornaram
foi definido de “financiamento tácito”: os cidadãos privados mais caros e, vice-versa, aumentou a possibilidade para os
eram induzidos à poupança e os organismos eram obriga- alemães de maiores aquisições nos países ocupados. Os pri-
dos a remeter ao Estado seus fundos em troca de meiros a beneficiar-se disso foram os soldados.
bônus do tesouro. Para fazer frente a despesas tão
ingentes era necessário, contudo, organizar um sis- ES
tema muito mais complexo e capilar, que Góring di a
comunicou aos comissários do Reich e aos coman- q
“mM

158 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO


E

O BOMBARDEIO
DE DRESDEN

No decorrer da conferên- de Dresden são um testemu-


cia de Casablanca, Churchill nho insuperável desse trágico
convenceu Roosevelt de que, episódio: “Foi então que che-
para acelerar a derrota da gou o alarme geral. — Se ape-
Alemanha e para utilizar na nas destruíssem tudo! disse
Europa o potencial bélico amargurada a senhora Stiihler,
e

norte-americano, era neces- que durante o dia tinha feito


sário intensificar os bombar- de tudo na tentativa, eviden-
deios aéreos. O objetivo era temente vã, de resgatar seu
tríplice: destruir o potencial menino. Se a coisa tivesse pa-
militar, industrial e econômico rado naquele primeiro ataque,
do Reich, minar o moral dos teria ficado impresso em mim Uma pausa para retomar fô- Depois tudo ficou mais tran- t
alemães, e preparar o desem- para sempre como o mais lego, ajoelhamo-nos dobrados quilo e o alarme parou de so-
barque na França, enfraque- espantoso, desencadeado até

E
entre as cadeiras, de alguns ar. Eu tinha perdido a noção
cendo a capacidade defensiva aquele momento, enquanto grupos erguiam-se lamentos do tempo. Fora estava claro
do inimigo. Uma frota aérea agora que se sobrepõe a ele e prantos; avizinhavam-se como o dia. Na Pirnaischer
norte-americana fixou a base a sucessiva catástrofe, já se novamente, novo aperto pelo Platz, na Marschallestrasse e
no sul da Grã-Bretanha. En- confunde no perfil geral. Logo perigo mortal, nova explosão. às margens ou do outro lado
quanto estes continuaram as começamos a ouvir o zumbi- Não sei quantas vezes tudo do rio Elba, a cidade estava
incursões noturnas nos cen- do sempre mais agudo e sem- isso se repetiu. De improviso, em chamas. [...] Diante de
tros urbanos, aqueles atuaram pre mais ensurdecedor dos a janela da adega em frente mim abria-se um grande es-
de dia procurando atingir os voos que se aproximavam, da entrada saltou, sobre a

“3
paço vazio, irreconhecível, e
objetivos militares. O auge faltou luz, foi ouvida uma ex- parte posterior, e fora havia

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no meio dele uma gigantesca
dos bombardeios foi alcança- plosão nas proximidades. [...] luz como em pleno dia. [...] cratera. Estampidos, ilumina-
do no dia 13 de fevereiro de ção como se fosse dia, explo-
1945 com a ação sobre Dres- sões. Não pensava em nada,
den que durou |4 horas e não tinha medo, havia em
durante a qual morreram |35 mim somente uma espantosa
mil pessoas.Viktor Klemperer, tensão, creio que estivesse
filólogo de origem hebraica e esperando o fim. [...] Tinha
professor na Universidade de perdido a noção do tempo,
Dresden, da qual foi afastado foi uma eternidade, enquanto,
em 1935, mantinha havia anos no fundo, não durou muito,
um diário que constitui um porque em certo ponto co-
dos documentos mais inte- meçou a clarear o dia. À ci-
ressantes sobre a vida coti- dade continuava queimando”.
diana durante o nazismo. No
momento do bombardeio, ele
não havia sido ainda deporta-
do porque, tendo casado com
uma mulher ariana, tinha sido
poupado da “solução final” BOMBARDEIO DE COLÔNIA
Na fotografia tirada de um avião
que já havia feito a maioria
is cp

inglês distinguem-se a catedral, a


E

de suas vítimas nos campos ponte Hohenzollern e a estação


de extermínio poloneses. Foi ferroviária (no alto).
precisamente a destruição da
DRESDEN
cidade que o salvou.As pági-
Uma vista da cidade em 1946
nas dedicadas ao bombardeio
e

O Werner Bischof/Magnum Photos.


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A GUERRA E 159

SOLDADOS DA WVEHRMACHT
DIANTE DO TEMPLO DE DELFOS
NA GRÉCIA CENTRAL

PosTO DE FRONTEIRA
entre a França ocupada e o ter-
ritório da República de Vichy
(embaixo).

Tiveram início relações econômicas caracterizadas por estabelecido com base no número de soldados, mas na suposta
aparente regularidade. Transações comerciais transferiram riqueza de cada país; as ingentes somas excedentes eram utili-
para à Alemanha enormes quantidades de produtos. Todas zadas pelo Reich para pagar a mão-de-obra estrangeira empre-
as trocas econômicas da Europa ocupada foram dirigidas para gada no próprio território e para intervir nos diversos sistemas
o Reich e para seus satélites. Na Europa central o domínio econômicos nacionais, adquirindo cotas de participação. A
efetivo que a Alemanha tinha conquistado antes da guerra Alemanha, que entrara em guerra sem reservas de divisas
transformou-se num monopólio. O projeto da “nova ordem estrangeiras para o financiamento das próprias aquisições,
europeia” previa, entre outras coisas, que depois da guerra tinha adiado para o final do conflito o pagamento de seus
à Alemanha teria reservado uma espécie de monopólio da crescentes débitos. Para sufocar a inflação, consequência ine-
indústria europeia, em particular no setor da metalurgia e vitável dessa estratégia,

O) ijinie
da química. Berlim se transformaria no centro das artes, das o Reich se arrogou, além
letras, da moda, do espetáculo. disso, o direito de vigilân-
As despesas de manutenção das tropas de ocupação eram cia sobre as instituições
de responsabilidade dos países vencidos e o montante não foi de emissão de cada país.
Demarkationsl
160 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ROBERT CAPA
O “maior fotógrafo de guerra”, aqui
retratado antes do desembarque na
Normandia, trabalhou na Espanha
durante a guerra civil e depois na
oj

China. Com suas imagens docu-


Ti a E
ima

mentou o conflito no Oriente e na


Europa. Em 1946 fundou, com Henri
a. ART CA

Cartier-Bresson e David Seymour, a


agência fotográfica Magnum. Morreu
na Indochina em 1954 O Robert
Capa/Magnum Photos.

SOLDADOS NORTE-AMERICANOS
COM UMA BANDEIRA NAZISTA
(embaixo).

O SEGUNDO FRONTE A MUDANÇA bastante velocidade. No dia 25 de agosto Paris foi libertada,
DOS DESTINOS DA GUERRA em 3 de setembro os Aliados entraram em Bruxelas e em 21 de

Depois de longas negociações entre as forças aliadas, foi outubro chegaram à primeira grande cidade alemã, Aachen.
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decidido abrir uma segunda frente na Europa para infligir à Também nas outras frentes a sorte da Alemanha mudou
Alemanha a derrota definitiva. O ataque à “fortaleza Europa” rapidamente. Em setembro de 1943, após o desembarque dos
teve início no dia 6 de junho de 1944 com o desembarque Aliados na Sicília e o golpe de Estado contra Mussolini, a Itá-
na Normandia de mais de 600 mil homens sob o comando lia assinou o armistício. Na frente oriental também fracassou
do general norte-americano Dwight Eisenhower. Os Aliados a última ofensiva alemã, e o Exército Vermelho continuou
puderam contar com uma superioridade numérica e com maior seu avanço para oeste, chegando em outubro à Prússia orien-
eficiência, visto que muitas das tropas alemãs estavam dura- tal. Depois da saída da Itália do conflito, na segunda metade
mente provadas por longos períodos de guerra em outras frentes. de 1944, acentuou-se a progressiva erosão das alianças em
O sucesso aliado foi reforçado pelo fator surpresa e pelas incerte- torno da Alemanha: Finlândia, Bulgária e Romênia capitu-
zas táticas do comando alemão. O avanço aliado procedeu com laram uma após outra.
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A GUERRA E 16l
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TE- AME RIC ANO S DES EMB ARC AM NA NOR MAN DIA Numa das célebres fotos
UTLEIROS NAVAIS NOR fuzileiros Beach", navais avançam
o dia 6 de junho de 1944, no decorrer do desembarque em “Omaha
tiradas por Robert Capa n metralhadoras alemãs. À | divisão de infantaria norte-americana sofreu nesse
sob o mortí foro tiroteio das
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setor peà rdas alt íssimas O Rob
162 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

VI NA RAMPA DE LANÇAMENTO
Dita “bomba voadora”, foi utilizada
pelos alemães para o bombardeio
das cidades inglesas no final do
conflito.

AS CONFERÊNCIAS ALIADAS da Prússia oriental à União Soviética. A Alemanha não


No decorrer da guerra, os Aliados deram forma, numa era ainda o elemento central das divergências entre os três
série de conferências, ao projeto de uma ordem da Europa grandes, mas surgiram, no entanto, visões um tanto dis-
do pós-guerra. À finalidade comum foi derrotar e punir a cordantes. Roosevelt sustentou a necessidade de desmem-
Alemanha para impedi-la de desencadear uma nova guerra. brar a Alemanha em seis regiões autônomas, privando-a
Em janeiro de 1943 em Casablanca, o presidente norte- desse modo dos pilares de seu sistema de poder: supremacia
americano Franklin Delano Roosevelt concordou com da Prússia, unidade territorial e potência econômica. Os
Winston Churchill a fórmula da “rendição incondicional” ingleses projetaram uma ocupação militar tripartite de todo
da Alemanha. o território alemão, a desnazificação e a desmilitarização
Em novembro do mesmo ano, em Teerã, Roosevelt, Sta- totais e pesadas repartições de guerra. Pouco depois foram
lin e Churchill estabeleceram o deslocamento da fronteira estabelecidas as linhas de demarcação dos futuros setores de
da Polônia até o Oder e atribuíram a parte setentrional ocupação na Alemanha.

MOTORISTA ALEMÃO MORTO


POR MEMBROS DA RESISTÊNCIA
NUMA CIDADE HOLANDESA
Na Itália, na França, na Iugoslávia e
na Grécia a guerra de libertação
do ocupante alemão teve um cará-
ter de massa.
A GUERRA E 163

A RESISTÊNCIA
Ao NAZISMO
Na Alemanha nunca foi organi-
ado um movimento de resis-
rência armada como, em con-
trapartida, foi ativo em todos os
países ocupados pelos nazistas e
que, embora com profundas di-
ferenças nacionais, sempre deu
uma importante contribuição
militar, política e ideológica para
4 condução da guerra aliada. A te nas grandes cidades, onde nal-conservadora, portanto, foi toritário, uma redução da in-
frente interna se caracterizou conseguiram unir-se a uma formada, embora com matizes fluência política do NSDAP e do
por crescentes rupturas, ainda preexistente rede de contatos e e pressupostos muito diversos, nacional-socialismo, sem anular,
que a maioria dos alemães — im- Os mais ativos conseguiram ter por homens que não haviam se por outro lado, alguns aspectos
pelida pela política terrorista ou uma rede de ligações bastante oposto ao novo regime desde introduzidos pelo regime, como
seduzida pela propaganda — per- ramificada.A maioria deles caiu 1933. Ao contrário, foi neces- a destruição do movimento
manecesse passiva até o fim do vitima do opressivo controle da sária uma longa aprendizagem operário organizado, a forma-
conflito. Quanto mais durava a Gestapo. Difundiram-se tam- para compreender que os ção da “comunidade do povo”,
guerra e quanto mais se distan- bém formas de oposição entre traços criminosos do governo o rearmamento, os primeiros
ciava a perspectiva de um fim Os jovens que não toleravam nazista constituíam sua essência passos da política expansionista.
rápido e vitorioso, tanto mais esse estrito controle ao qual íntima. Na resistência nacional-
começou a desenvolver-se em eram submetidos na Hitlerjugend -conservadora e, em particular,
diferentes meios uma oposição e estavam desiludidos pelas pro- nos grupos cuja atividade con- “TRIBUNAL POPULAR”
ativa. Os opositores de Hitler, messas de renovação. Muitos fluiu depois na organização do QUE JULGA OS CONSPIRADORES
DE 20 DE JULHO DE 1944
de formação política bastante deles se refugiaram em grupos atentado contra Hitler de 20 de (no alto, à esquerda).
diversa, não estavam de acordo desprovidos de uma conotação julho de 1944, foi muito raro o
nem em relação aos fins nem política, mas que precisamente debate sobre as futuras linhas HANS ScHOLL (no alto,à direita).
em relação aos métodos de por isso mostravam o fracasso políticas; todas as hipóteses
MUSSOLINI EM VISITA AO
ação. Além disso, eles tiveram, do projeto totalitário nazista. concordavam num programa QUARTEL-GENERAL DE
na maioria das vezes, um raio de Entre os estudantes universitá- mínimo de uma “revolução pro- RASTENBURG NA SALA
ação limitado a um nível local e rios,o grupo da “Rosa Branca”, posta do alto”. O objetivo era SEMIDESTRUÍDA PELO ATENTADO

muitas vezes não chegaram se- ativo em Munique desde junho uma reestruturação do regime
quer ao conhecimento da exis- de 1942 a fevereiro de 1943, num sentido conservador-au-
tência de outros grupos. Aque- foi o mais conhecido e atuante.
les que pertenciam aos velhos Os irmãos Scholl, principais
quadros políticos e sindicais op- animadores, transformaram-se O ia,

taram por uma tática ligada aos em promotores de apelos de


tradicionais métodos de luta, cunho cristão humanitário con-
inclinados para a propaganda e a tra a guerra, particularmente
penetração entre as massas. En- por meio da distribuição de
tre eles, os comunistas foram OS
folhetos. Depois da derrota de
mais ativos. Estes se tornaram
Stalingrado, conclamaram para
a luta aberta contra o regime.
sempre mais independentes em
A eclosão do conflito e, de
relação ao grupo dirigente mos»
modo particular, a insensata
covita e se empenharam na dis-
condução bélica constituíram
tribuição de folhetos, em sabo:
para muitos conservadores a
tagens e na difusão de notícias
ocasião para tomar distância
sobre o andamento do conflito.
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do regime. A resistência nacio-


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164 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

CHURCHILL, ROOSEVELT
E STALIN EM YALTA
A conferência realizada na cidade
russa garantiu a colaboração aliada
até o fim do conflito. Stalin pediu
para dividir a Alemanha, depois de
concluída a guerra, e reafirmou
que a URSS estava determinada a
desempenhar um papel hegemôni-
co na Europa central.

CAPTURA DE SOLDADOS
ALEMÃES EM LEIPZIG, EM 1945
O Robert Capa/Magnum Photos
(embaixo).

Em fevereiro de 1945, os três grandes subscreveram acor- tado: as diferenças políticas entre os Aliados foram postas
dos em Yalta sobre a divisão do Reich em zonas de ocupação, em segundo plano enquanto durou o esforço comum para
a distribuição do território de Berlim e o reconhecimento da derrotar o Reich. Mas, com o fim da guerra, a necessidade
França como quarta potência de ocupação. Stalin se mostrou do acordo a qualquer custo fracassou e prevaleceram os inte-
o mais intransigente a respeito das reparações a impor ao resses nacionais e as divergências ideológicas.
Reich, visto que seu país havia sofrido mais que qualquer
outro a agressividade nazista. Churchill e Roosevelt, em con- À DERROTA
trapartida, temiam que lhes tocasse o ônus da sustentação e Enquanto os Aliados prosseguiam seu avanço para o
da retomada da Alemanha, num provável empobrecimento coração da Alemanha, do leste para o oeste, os bombardeios
desta. Pouco depois do encontro de Yalta, Stalin, porém, foi destrufam as cidades alemãs. Colônia, Dresden e Berlim con-
contrário à divisão da Alemanha; de fato, ele atribuía mais taram dezenas de milhares de mortos, a maioria das casas foi
peso que os outros aliados à questão das reparações admi- destruída, a vida cotidiana dos alemães era orientada pelos
nistrável somente num contexto unitário e estava interes- alarmes aéreos. Quanto mais a situação se apresentava deses-
sado no controle comum sobre o Ruhr e, desde que pudesse peradora, mais Goebbels prosseguia em sua batalha ideoló-
explorar seus recursos, estava pronto a muitas concessões. gica, reafirmando a confiança no triunfo final do Reich.
À França era contrária a essa perspectiva e logo aflorou a Embora insistindo sempre no perigo judaico-bolchevique,
impossibilidade de gerir de modo coordenado o país derro- difundiu novos argumentos de propaganda. Hitler não foi

ana
E
A GUERRA EE 165

T I R A DOR Na fotografi a de Robert Capa, o cadáver de um soldado norte-americano abatido por um


MORTO POR UM A em abril de 1945. A desespe rada resistência oposta ao
do no telhado de uma casa em Leipzig,
franco-atirador alemão posiciona
v e z e s d e t erminad a pela proibiçã o de render-s e que Hitler havia decretado também para os jovens recru-
muitas
avanço aliado era s .
a p a / M a g n u m P h o t o
tas O Robert C
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166 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

A “ORDEM e que lhe impeçam continuar inimigo nos deixará somente JOVENS SOLDADOS ALEMÃES
|

avançando. Devem ser explo- terra queimada e abandonará ENCAMINHADOS PARA OS


NERO” CAMPOS DE PRISIONEIROS
radas todas as possibilidades todo o respeito para com a A “Ordem Nero”, baixada por
de causar direta ou indireta- população. Por conseguinte,
der

Quando a derrota pareceu Hitler, ligava-se ao princípio da


inevitável, Hitler deu ordens mente danos mais duradouros ordeno: Todas as instalações “terra queimada” que as forças
draconianas, do bunker da a eficiência bélica do inimigo. militares, dos transportes, das armadas alemãs tinham posto em
prática no decorrer de sua retirada
chancelaria, para evitar a total É um erro julgar poder repor comunicações, da indústria e dos territórios da Europa oriental.
vitória aliada. A “Ordem Ne- em funcionamento, para nossa de suprimentos, bem como Ao Exército Vermelho, que chegava
ro” foi divulgada no dia 19 de vantagem no ato de recon- materiais de valor, existentes aos arredores de Berlim, o Reich
março de 1945:"A luta pela quista dos territórios perdidos, dentro do território do Reich, pôde opor apenas os batalhões da
recém-criada Deutscher Volkssturm
fo

existência de nosso povo im- instalações dos transportes, que podem resultar imediata- (milícia popular alemã), constituída
põe explorar, também no inte- das comunicações, da indústria mente ou em tempo menos de rapazes nascidos em 1928.
rior do território do Reich, to- e dos suprimentos não destru- próximo úteis ao inimigo para
dos os meios que enfraqueçam idas, apenas por breve tempo a continuação da luta, devem
a eficiência bélica do inimigo paralisadas. Em sua retirada,o ser destruídos”.
A GUERRA E 167

ENCONTRO SOBRE
A PONTE ENTRE RUSSOS
E NORTE-AMERICANOS
Soldados das duas principais
potências vitoriosas apertam as
mãos sobre o rio Elba.

A RENDIÇÃO DO
TERCEIRO REICH
9 de maio de 1945: 0 marechal-de-
-campo Wilhelm Keitel, no centro,
antes da assinatura da rendição
incondicional no quartel-general do
marechal soviético Georgij Zukoy,
em Berlim (embaixo).

mais apresentado como o maior gênio militar da humani- dades. A maioria da população, já extenuada, esperava o
dade — depois de Stalingrado, não era mais possível — mas fim da guerra. Nos primeiros meses de 1945, os Aliados, de
como o gigante “Atlas que carregava sobre os ombros o peso leste para o oeste, chegaram até o coração da Alemanha,
do mundo”, e o soldado alemão se tornou o “defensor da descobrindo em seu avanço os campos de extermínio e os
civilização”. Inclusive a existência de armas secretas foi um horrores da Shoah.
dos motivos recorrentes de suas declarações. Pouco depois Em abril, praticamente nenhum dos mais fiéis paladinos do
do desembarque na Normandia, foram lançadas da costa do Fihrer julgava que os destinos do conflito mundial pudessem
Canal da Mancha as primeiras bombas voadoras VI contra ser revertidos. Em 30 de abril, Hitler se suicidou, nomeando
a Inglaterra, que produziram ingentes destruições, especial como seu sucessor, no testamento, o almirante Karl Dônitz.
mente na área urbana de Londres, mas que se desintegraram Em 7 de maio foi assinada a capitulação da Alemanha. Desse
contra as defesas antiaéreas e não tiveram nenhum peso sobre modo, tiveram fim as hostilidades na Europa.
os destinos do conflito. O balanço da Segunda Guerra Mundial foi trágico: mor-
O atentado contra Hitler de 20 de julho de 1944, por reram 13 milhões de homens, dos quais 6 milhões de judeus,
obra do coronel Claus von Stauffenberg, mostrou que no 3 milhões de prisioneiros de guerra soviéticos, 2,5 milhões
interior das estruturas de poder nazista se havia aberto uma de poloneses. Perderam a vida mais de 4 milhões de soldados
luta entre os fautores da guerra até o fim e os partidários alemães e cerca de 17 milhões da parte dos aliados. No con-
de um golpe de Estado, prelúdio da cessação das hostili- junto, perderam a vida cerca de 50 milhões de pessoas.

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extermínio dos judeus, conhecido também como
“solução final”, não constituiu um projeto ela-
borado em detalhes por Hitler desde a década de
1920, mas foi consequência de um complexo, e
por vezes contraditório, processo decisório que se delineou no
decorrer dos anos e que, somente depois da eclosão da guerra
e da agressão à URSS, foi possível realizar e no qual Hitler
teve, de qualquer modo, um papel fundamental ao estabelecer
modalidades e tempos de execução. Em setembro de 1939, no
ímpeto da vitória sobre a Polônia, Hitler aprovou um plano ini-
cial para a reorganização demográfica da Europa oriental, que
se baseava em princípios de seleção racial e que previa, entre
outras coisas, a transferência forçada dos judeus para o leste.
Em maio de 1940, no decorrer da Blietzkrieg em território fran-
cês, aprovou o memorando de Himmler sobre o tratamento das
populações orientais e o “plano Madagascar”, que previa uma
deportação em massa dos judeus para a ilha africana. Para esse
fim, contudo, era necessário derrotar não somente a França,
en
170 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

cs j ú d i s c h e K o m p l o
SAPATOS DE DEPORTADOS
NO CAMPO DE EXTERMÍNIO
DE AUSCHWITZ (p. 168).

JUDEUS NUM LAGER


(na abertura).
XX
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CoMPLÔ JUDAICO
Cartaz alemão que estabelece
uma conexão entre EUA, URSS
FE

e Grã-Bretanha.

CARTAZES ANTISSEMITAS
NAS LOJAS DE COMERCIANTES
JUDEUS (embaixo).

mas também a Grã-Bretanha e, em meados de setembro de Os JUDEUS NA ALEMANHA


1940, ficou claro que isso não deveria ocorrer a curto prazo. Depois da “noite dos cristais” começou outra fase da per-
Em julho de 1941, depois que os exércitos nazistas penetra- seguição antissemita: o agrupamento dos judeus em grandes
ram maciçamente no território soviético, Hitler aprovou o cidades e sua separação da população alemã. O agrupamento
esboço de um plano para o extermínio dos judeus da Europa. foi consequência das restrições econômicas e não foi orga-
À política racial nazista se radicalizou, portanto, com saltos nizado diretamente, enquanto a separação foi planejada em
de qualidade que coincidiram com os sucessos militares ale- todos os detalhes. Na Alemanha e no protetorado da Boêmia
mães e, somente no decorrer da guerra, assumiu os espantosos e Morávia, não foram criados verdadeiros guetos como na
contornos que a caracterizaram. Polônia e na Rússia, mas foram impostas condições de vida
Durante a conferência de Wannsee (20 de janeiro de 1942), análogas. O verdadeiro salto de qualidade na perseguição
não se decidiu proceder à solução final, mas foram definidas as antissemita foi a definitiva imposição da ruptura das relações
linhas de sua realização. Nessa ocasião, reuniram-se os organis- sociais entre judeus e alemães. Foram delimitados os lugares
mos representativos do Reich, convocados pelo chefe da polí- de residência dos primeiros, que foram desalojados quando
cia de segurança Heydrich, que estabeleceram a coordenação tinham a possibilidade de se transferir para outro lugar. A
das operações. Foi também redigida a estatística relativa ao partir de 1941, foi ordenada a transferência de todos os judeus
número de judeus europeus que eles se propunham exterminar: em Judenhiuser (casas de judeus), cuja administração foi con-
11 milhões, incluindo aqueles dos países aliados. fiada às próprias comunidades judaicas. Os deslocamentos
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A SHOAH E 17

e CAMPO DE CONFINAMENTO
DE DRANCY
Aqui foram encerrados judeus
franceses e estrangeiros de religião

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hebraica, residentes no país duran-

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1 mo hi dl JE E RE DEPORTAÇÃO DO GUETO
JUDAICO DE VARSÓVIA
A guerra racial da Wehrmacht logo
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se tornou uma gigantesca e brutal
' j operação de reorganização demo-
> Td e social, que encontrou na
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gráfica
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3 a / Polônia ocupada pelo Reich sua
Sl | primeira realização (embaixo).
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diários foram rigidamente regulados e reduzidos: em 1938 foi


Os GUETOS
E

confiscada a carteira de motorista aos judeus; no ano seguinte Pouco depois do ataque nazista à Polônia, em 21 de setem-
A

foi-lhes proibido ficar fora de casa depois das oito horas da bro de 1939, foi decidido instituir os guetos e formar em
noite. Em 1941 foi decretada a proibição de sair do município cada comunidade um Judenrat (conselho judaico), respon-
de residência, de utilizar os meios públicos nas horas de pico, sável pela atuação das ordens do Reich. O primeiro grande
de ter um telefone. A partir de 1942, não lhes foi permitido gueto foi constituído em Lodz, em abril de 1940; em outubro,
servir-se de qualquer meio de transporte público. seguiu-se o de Varsóvia e numerosos outros nos meses seguin-
Além disso, foram introduzidas medidas específicas de tes. Embora não houvesse uma diretiva uniforme, análogas
identificação. Em 1938 foram emitidos passaportes marca- foram em toda parte as questões a resolver. Os preparati-
dos com a letra ), inicial de Jude (judeu). A partir de 1941, vos foram feitos em segredo e a transferência da população
tornou-se obrigatório exibir uma estrela amarela sobre as judaica ocorria de surpresa, de modo a impedir eventuais
roupas, de modo que fossem imediatamente identificáveis fugas. Algumas comunidades judaicas foram encerradas em
inclusive pelas forças de polícia. A emigração, incentivada pequenas cidades que se transformaram em cidades-gueto.
até 1939, foi proibida no outono de 1941. Desse modo, foi No final de 1941, todos os judeus dos territórios incorporados
sancionado o absoluto isolamento dos judeus em relação e do Governo Geral da Polônia estavam segregados.
à população alemã. O passo seguinte, a deportação, era Isolado completamente do restante do mundo, o gueto
somente questão de tempo. teve de resolver com suas próprias forças muitos problemas
172 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

EXECUÇÃO A SANGUE-FRIO
Um habitante dos territórios ocu-
pados da Bielo-Rússia antes de ser
morto por um soldado alemão.

REVOLTA DO GUETO
DE VARSÓVIA
À insurreição na capital polonesa
teve início no dia 19 de abril de
1943 e terminou, depois da deses-
perada resistência das milícias
armadas judaicas, no dia 16 de
maio. Pereceram mais de 56 mil
judeus. O que restava do gueto
foi pouco depois arrasado pela
VYehrmacht (embaixo).

internos. Os contatos além da fronteira foram proibidos ou Os EINSATZGRUPPEN E


muito reduzidos; todos os judeus deviam usar a estrela ama- OS ASSASSINATOS EM MASSA
rela e respeitar o cessar-fogo. Foi impossível adquirir gêne- Os Einsatzgruppen foram unidades móveis empregadas
ros de primeira necessidade no mercado livre e os gêneros especialmente nas campanhas militares na Europa oriental.
alimentícios obtidos no mercado negro, ou com o contra- Ativos pela primeira vez em 1938, durante a ocupação da
bando, eram insuficientes. Desnutrição, doenças e morte, Áustria e como unidades de serviço secreto da polícia em
especialmente por epidemia, se espalharam rapidamente e apoio às forças de invasão, atuaram no decorrer da invasão
25% da população judaica morreu antes da deportação para da Tchecoslováquia e da Polônia para tutelar a segurança
os campos de extermínio. do regime dos ocupantes. Em abril de 1941, após o ataque à
À criação dos guetos deu o golpe de misericórdia às comu- URSS, foram constituídas novas formações, divididas em 4
nidades judaicas da Europa oriental. As empresas judaicas grupos compostos de cerca de 3 mil homens: unidades móveis
foram liquidadas, muros cercaram fábricas e laboratórios de que faziam parte membros da polícia de segurança e do ser-
artesanais ainda ativos. Os conselheiros judeus tentaram viço de segurança, cuja tarefa fundamental foi a eliminação
superar essas dificuldades, mesmo que tivessem de obedecer dos inimigos políticos e dos elementos “racialmente indese-
às ordens dos alemães, e a complexa condição de um poder jáveis”. Esses grupos podiam atuar tanto na retaguarda como
suspenso entre judeus e nazistas, vítimas e carrascos, não no front. Para chegar mais rapidamente ao maior número
facilitou suas tarefas. possível de cidades, os Finsatzgruppen seguiam o avanço da
-
A SHOAH E 173

JUDEUS DE LODZ AMONTOADOS


NUMA CARROÇA
Nessa cidade da Polônia foi per-
mitido aos judeus trabalhar para a
economia do Reich antes de serem
conduzidos ao extermínio,

MULHER IDOSA
COM A ESTRELA AMARELA
(embaixo, à esquerda)

MONTE DE RUÍNAS
O que restava do antigo gueto
de Varsóvia, depois que os alemães
decretaram sua destruição
(embaixo, à direita).

Wehrmacht e puderam assim capturar suas vítimas antes que o interior deles, sistema menos brutal para os executores do
tivessem tempo de fugir do destino que as aguardava. De que as chacinas em massa, nas quais atiravam de uma distância
início, foram mortos apenas os homens adultos: logo, porém, bem próxima. No decorrer do avanço alemão para o leste,
foi a vez de mulheres, velhos e crianças. foram exterminadas cerca de 500 mil pessoas.
A Wehrmacht deu muito mais que um simples apoio logís-
tico a essas operações: com efeito, empenhou-se em entregar AS DEPORTAÇÕES
osjudeus aos Einsatzgruppen, pedindo para intervir em algumas Em novembro de 1941, com a deportação sistemática dos
operações, participar em execuções coletivas e fuzilar reféns judeus da Alemanha, teve início a última fase do extermínio.
como represália por ataques contra as tropas de ocupação. A Em outubro de 1941, os judeus foram informados sobre os pon-
partir da segunda metade de 1941, começou-se o extermínio tos de “coleta” preestabelecidos, as regras de comportamento,
empregando os caminhões com o gás de descarga dirigido para a bagagem indispensável para aquilo que foi apresentado como
[74 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

EDIÇÃO FRANCESA DOS


PROTOCOLOS DOS SÁBIOS DE SIÃO
PUBLICADA EM VicHYy, EM 1943
A propaganda antissemita nazista |
fez amplo uso da farsa elaborada

TS PROTOCOLES
com arte pela polícia czarista no
início do século XX.

JUDEUS DO GUETO DE VARSÓVIA


ELE D SL,
As desumanas condições de vida E
a que eram submetidos seus habi- JEAN DE LA HERSE

tantes logo transformaram o gueto


num foco de doenças (embaixo). |

“LA PORTE LATINE *


EDITE PAR

Nº 4
re É FLANCS

“uma transferência para os territórios orientais”. Foi-lhes orde- nenhuma autoridade para administrar esse complexo meca-
nado deixar suas casas com as taxas pagas e comunicado que nismo; nenhum poder central que não fosse alemão estava
todos os bens haviam sido requisitados pela polícia com efeito autorizado a funcionar. Os europeus do norte, do oeste e do
retroativo. As comunidades judaicas forneceram à Gestapo sul eram, em contrapartida, aliados em potencial, e nesse “arco
listas, com base nas quais era feita uma seleção e, visto que semicircular” os alemães deram instruções a escritórios centrais
o número de vítimas era muito superior ao dos trens em par- fantoches e apresentaram seus pedidos aos governos-satélites.
tida, foi possível pedir adiamentos e trocas por aquilo que se Enquanto os guetos poloneses eram esvaziados e prosseguiam
pensava que fosse uma transferência para campos de trabalho os massacres no leste, a solução final foi estendida à Europa
num indefinido território do leste. Numa segunda fase, quando ocidental com a sincronização das deportações da França, da
entraram em funcionamento os campos de extermínio, foram Bélgica, da Holanda e dos estados nórdicos. Em março de 1943,
utilizadas as listas das comunidades e dos comissariados, irrom- foram deportados os judeus da Salônica e depois de toda a
pendo nas casas sem qualquer aviso. As deportações começa- Grécia; em outubro seguinte, os estabelecidos na Itália.
ram pelo território do Reich; depois foi a vez da Polônia, onde
os guetos foram esvaziados progressivamente. Os CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO
À expansão geográfica da “solução final” constituiu a ope- A eclosão da guerra marcou uma ruptura significativa no
ração administrativa mais complexa do extermínio dos judeus complexo sistema de concentração. Houve uma grande onda
da Europa. Aos poloneses e aos russos não foi reconhecida “de prisões e um decreto de 20 de setembro 1939 permitiu matar

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A SHOAH EE 175

ESTRELA AMARELA
Em muitas cidades da Europa
oriental, a deportação dos judeus
para os campos de extermínio,
ordenada pelas forças de ocupação
do Reich, foi precedida por ver-
dadeiros pogrons de nacionalistas
locais em detrimento das comuni-
dades judaicas.

os prisioneiros que tivessem cometido graves delitos:


as mortes, utilização dos prisioneiros para o trabalho se tornou prepon-
portanto, não se deviam mais a causas indiretas (doe
nças, epi- derante e os campos, além de locais de detenção, se transfor-
demias, desnutrição), mas explicitamente autorizadas. Dimi- maram em locais de trabalho forçado, marcado por condições
nuiu percentualmente o número de alemães detidos, enquanto e ritmos desumanos. Em março de 1942, a gestão dos Lager
aumentou o dos estrangeiros e o dos judeus. Até 1941 as deten- ficou subordinada à administração econômica das SS, que
ções aumentaram de modo gradual, especialmente com relação procederam a um embate ainda mais impiedoso na explora-
às chegadas dos cidadãos dos territórios ocupados. A partir de ção da força de trabalho.
1941, foram criadas repartições especiais para os prisioneiros Os campos de concentração foram organizados de modo
soviéticos. Foi iniciada a construção de novos Lager, entre que sua própria estrutura fosse parte integrante da repressão.
os quais os de Auschwitz, de Neungamme, de Gross Rosen. A planta era geralmente quadrangular, com torres de con-
Em 1942 foi registrada nova guinada, ligada à fase decisiva da trole em cada ângulo, de modo a poder vigiar os reclusos; os
“solução final”? e, desde então, os judeus constituíram a abso- limites foram cercados com arame farpado e sobre essa linha
luta maioria entre os detentos reclusos. demarcatória, destacando a impossibilidade de ultrapassá-la,
Já a partir de 1938, os campos de concentração não foram concentradas as medidas de vigilância. A porta foi
foram mais utilizados somente para “reeducar” os inimigos a própria metáfora do isolamento absoluto para o mundo
do Estado, mas em sua gestão adquiriram crescente peso os externo, ressaltada pela sádica inscrição “o trabalho torna
interesses econômicos das SS. No inverno de 1941-42, a livre? colocada à entrada de Auschwitz.

CASA DE ANNE FRANK


A menina alemã, obrigada a refu-
giar-se em Amsterdã e cuja aven-
tura foi transformada em símbolo
da Shoah, deixou-nos em seu diário
um terrível testemunho sobre
as atrocidades cometidas pelos
nazistas. Anne Frank foi deportada
e morta, junto com seus familiares,
no Lager de Bergen Belsen.
TRE:

176 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ZYkLON B
Ácido cianídrico fixado em pas-
E

tilhas de sílica e utilizado para


T+

asfixiar os deportados nas câmaras


de gás.

RESTOS DE UM FORNO
CREMATÓRIO DE BIRKENAU

SOLDADO NORTE-AMERICANO
OBSERVA OS CADÁVERES DE
JUDEUS NO CAMPO DE DACHAU
(embaixo).
ES

Os CAMPOS DE EXTERMÍNIO numerosas articulações do aparato do Estado e da própria


Entre 1941 e 1942, entraram em funcionamento na sociedade alemã, bem como dos colaboracionistas nos paí-
Polônia ocupada os campos de extermínio de Sobibor, ses ocupados.
Treblinka, Chelmno, Majdenek, Belzec e o campo de Na chegada aos centros de extermínio não era feita
Auschwitz II (Birkenau), destinados para a matança dos nenhuma seleção, porquanto todos eram destinados à morte
deportados. imediata. A espera durava no máximo algumas horas e as
Neles foram exterminados entre 2,5 milhões e 3 vítimas eram logo enviadas para as câmaras de gás, embora
milhões de pessoas, principalmente judeus. A criação dos lhes fizesse crer que se tratava de uma etapa de trânsito,
campos de extermínio tornou o massacre não mais uma antes de ulterior transferência para o leste. Essa trágica
E!

prática marcada pela ferocidade selvagem das repartições encenação era escrupulosamente organizada: as roupas
especiais, mas o resultado da premeditação científica deviam ser deixadas fora das câmaras de gás, os objetos de
da chacina programada e industrializada. Os campos de valor, depositados num local específico. Todas as medidas
extermínio não constituíram somente a exasperação das foram criadas, na realidade, para facilitar a reciclagem dos
práticas de segregação de uma grande parte da sociedade, bens daqueles que eram encaminhados para a morte. Foram
já posta em prática com os campos de concentração e os temporariamente poupados somente aqueles utilizados na
guetos: exigiram, direta ou indiretamente, no extermínio transferência dos corpos das câmaras de gás aos fornos cre-
em massa planejado, a participação e a cumplicidade de matórios ou às valas comuns, a fim de ocultar as provas.
A SHOAH E 177

AUSCHWITZ: de 1943,a tras quilômet


ros
o SIMBOLO de distância de Auschwit
z | e
DA SHOAH foi continuamente ampli
ado
a

até O fim da guerra, até atingi


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Foi o maior campo de con- uma extensão de cerca de
200
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a

centração e de extermínio hectares. Foi dividido em Vá


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nazista, hoje transformado em rios subcampos, entre os quai

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símbolo da Shoah. Alguns dos aquele destinado os cigano

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testemunhos mais conhecidos

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Os únicos detidos por núcleos

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sobre a deportação — entre os familiares, e aquele dos depor-

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quais O livro É isto um homem?,

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tados de TheresienstadAuts-

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de Primo Levi — foram des- chwitz III, na localidade de Mo-
critos por pessoas ali detidas. nowitz, foi construído para a
O primeiro núcleo do campo indústria química IG Farben no ticos e pequenos grupos de os quais todas as crianças e Os
(Auschwitz |) foi instalado em final de 194], com o objetivo judeus.A câmara permaneceu idosos — eram imediatamen-
1940, utilizando as estruturas de explorar o trabalho forçado em funcionamento até 1942. te enviados para os fornos
de um quartel polonês de ar- para a produção de matérias No início de 1942,a “solução crematórios; os outros eram
tilharia. Os prisioneiros foram sintéticas. Deste dependiam to- final” assumiu dimensões tais poupados para serem depois
empregados em trabalhos dos os Lager, cerca de 40, que que, no campo de Birkenau, fo- mortos por meio de ritmos de
forçados, tanto agrícolas como se encontravam na alta Silésia. ram construídas novas e mais trabalho e de condições higiê-
industriais em fábricas de pro- Em setembro de 1941, come- amplas câmaras de gás. Nelas nicas desumanos. Por ordem
priedade das SS. Em 1943, havia çaram no campo de Auschwitz foram exterminados os judeus de Himmler, as câmaras de gás
nele 20 mil pessoas detidas, e | as chacinas por meio do gás que provinham de todos os começaram a ser destruídas
foram executados membros da com o Zyklon B numa cela lo- territórios anexados e ocu- no final de 1944; a última foi
resistência, reféns poloneses calizada no bloco Il do campo. pados pelo Reich. Na chegada demolida em janeiro de 1945,
e membros da intelligentzia Esta, porém, se revelou muito a Auschwitz, os deportados poucos dias antes da chegada
de diversas nacionalidades. O pequena e por isso foi construí- eram selecionados enquanto das tropas soviéticas. Em Aus-
campo Auschwitz Il, conheci- da, no crematório, uma câmara estavam ainda na plataforma chwitz foram mortos mais de 2
do como Birkenau, foi aberto de gás, utilizada sobretudo para do trem: os que eram julgados milhões de homens, mulheres
entre o final de 1942 e o início prisioneiros de guerra sovié- incapazes de trabalhar — entre e crianças.
178 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

JUDEUS ESPERANDO SER


ENCAMINHADOS PARA OS Os números do genocídio dos judeus na Europa
CAMPOS DE EXTERMÍNIO
Notícias sobre o extermínio nazista — ——
se espalharam nos primeiros meses E
Polônia até 3 milhões | lugoslávia — maisde | 60 mil
de 1942, Aquelas enviadas pelo nún- URSS — maisde * 800 mil | Grécia | mais de 60 mil
cio apostólico de Bratislava à Santa Romênia 400 mil | Áustria mais de 60 mil
Sé, as pace Re Sa Tchecoslováquia 260 mil | Bélgica 24 mil
so ico ENA] ESSES E [E
de Genebra Go RAGE E À Hungria mais de MEN] RSS e
mundial ou as informações difun di- 180 mil | Itália (incluindo Rodes) 8 mil
— [DD IT —
das por um membro do parlamento Lituânia -
mais de 130 mil | Estônia 2 mil
polonês no exílio e publicadas Alemanha mais de 150 mil | Noruega menos de 1.000
pelos principais órgãos de imprensa Países Baixos mais de 100 mil | Luxemburgo menos de 1.000
Sa ra Raro França 83mil | Dantzig
suficientes para deter a indústria ==
menos de 1.000
| P Letônia | —
nazista da morte (embaixo). 80 mil | TOTAL mais de 5 milhões

EUTANÁSIA E EXTERMÍNIO DOS CIGANOS loga àquela dos campos de extermínio. Nesses centros foram
Em abril de 1940, Hitler decidiu dar início à operação T4,
mortas mais de 100 mil pessoas.
Isto é, a eutanásia dos doentes mentais e dos portadores
de O sucesso da operação eutanásia convenceu o regime de
deficiências: este foi o primeiro capítulo do genocídio nazista. que era possível praticar o homicídio em massa, quer porque
A ideologia, o processo decisório e a técnica vinculam euta- havia funcionários dispostos a fazê-lo, quer porque a maioria
násia e “solução final”: todas as vítimas foram sacrif
icadas dos alemães escolheu o silêncio e não constituiu um real
em nome do racismo biológico nazista. A esterilização e a
impedimento ao desenvolvimento das operações.
eutanásia foram destinadas a preservar a pureza da comuni-
O extermínio dos ciganos se caracterizou por etapas aná-
dade do povo, enquanto o extermínio dos judeus — embora
logas àquelas da “solução final”: a guerra marcou também
igualmente entendido como um processo de purificação neste caso uma guinada na prática persecutória. No dia 2
racial — foi essencialmente uma luta contra um inimigo que de setembro de 1939, foi proibido no Reich o nomadismo
se julgava estar ameaçando a sobrevivência da Alemanha dos ciganos; no mês seguinte foi-lhes impedido de deixar o
e do mundo ariano. Os centros de morte da eutanásia, dis- domicílio. Em maio de 1940, começaram as deportações para
postos em locais isolados, funcionaram com procedimentos os campos de concentração e, em 1941, foram vítimas da fúria
destinados a esconder das vítimas seu trágico destino: eram homicida dos Einsatzgruppen na frente oriental. Uma ordem
registradas, submetidas a uma “consulta” médica e depois de Himmler, de 12 de dezembro de 1942, marcou a etapa final
encaminhadas a uma câmara de gás com uma prática aná- do extermínio. Embora seja difícil estimar com precisão o

,
Ed
A SHOAH E 179

T H E R ESA À solicit ação de desenh ar uma casa, Theres a, uma menina polonesa que havia vivido dois anos num
A CASA DE vivida. Os sinais que traçou no
m € ste testem unho do própri o bloque io psíquic o depois da horren da experi ência
Lager, respondeu co
l i m i t a m ao in extricável emaranhado de linhas, representado pelo arame farpado.O David Seymour/Magnum Photos.
quadro-negro se
180 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

PRISIONEIROS RUSSOS
Entre 5 e 6 milhões de soldados
do Exército Vermelho cairam nas
mãos dos alemães durante o con-
flito. Destes, mais de 3 milhões
morreram de privações, doenças,
trabalhos forçados e por causa do
tratamento desumano dispensado
a eles.

MULHERES NUM CAMPO


DE TRABALHO FORÇADO
À sua chegada nos campos de
trabalho forçado, as mulheres
grávidas eram obrigadas a abortar
(embaixo).

número de vítimas, calcula-se que quase meio milhão de ciga- nhóis. Na massa caracterizada pelo adensamento máximo,
nos tenha sido sacrificado nos centros de morte nazistas. um tirava o lugar do outro, ninguém estava jamais só, mas
nem junto com os outros; a convivência forçada tornou quase
Os PRISIONEIROS DO REICH impossíveis formas de autonomia social. A confraterniza-
Os prisioneiros foram classificados de acordo com a raça e ção foi bastante rara e muitas vezes ditada por exigências
a proveniência geográfica, isto é, de acordo com o lugar que de sobrevivência, como trocas de comida ou de gêneros de
ocupavam na hierarquia racial nazista: um triângulo colorido primeira necessidade.
sobre o uniforme tornava visível o status de cada um. Essa sub- Na chegada, as vítimas eram logo introduzidas com
divisão teve, além disso, o objetivo de acentuar os contrastes violência nesse novo sistema, raspadas, obrigadas a vestir
entre as vítimas, de modo a tornar quase impossível qualquer um uniforme, privadas de sua individualidade e reduzidas
forma de solidariedade. Esse sistema classificatório, que res- a número, gravado a fogo no braço, para sublinhar o can-
pondia a reais diferenças ou a estereótipos preexistentes, foi celamento total de seu passado e o início do processo de
assumido pelos próprios prisioneiros, acentuando assim os aniquilamento.
contrastes recíprocos. A babel de línguas tornou ainda mais A divisão entre detentos e o pessoal do campo, entre víti-
difíceis os contatos, favorecendo aqueles entre concidadãos. mas e carrascos, foi cautelosamente administrada, de modo a
A coesão de alguns grupos foi, portanto, uma exceção, como não se mostrar muito rígida e clara. Foi criada uma complexa
no caso das testemunhas de Jeová ou dos republicanos espa- escala hierárquica, baseada nas diferentes tarefas confiadas a
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A SHOAH E 18|

ADOLF EICHMANN: portação dos judeus húngaros


O BUROCRATA DO EXTERMÍNIO para Auschwitz.
Depois do fim a,
Nasceu em 1906 e, depois de que administrava a emigração da guerra, viveu
"| ter interrompido os estudos judaica. A partir de outubro escondido na Alema-
1 de engenharia, trabalhou como de 1939, foi diretor, em Berlim, nha até 1950, quando se
* "comerciante. Em 1932 tor- do escritório central para a estabeleceu em Buenos Aires
| nou-se membro do NSDAP emigração. Graças a esses en- com o nome de Ricardo Kle-
austríaco e das SS. Transferiu- cargos, tinha adquirido grande ment. Descoberto pelos ser-
"| -se depois para a Alemanha e, experiência sobre a expulsão viços secretos israelenses, foi
e a deportação dos judeus. Em levado a Jerusalém e proces-
iPito

a partir de 1934, foi respon-


sado. No decorrer do debate,
e ae

sável pela questão judaica no dezembro seguinte, tornou-se


Dr

escritório do serviço de segu- responsável pela seção IV B4 declarou ter sido uma minús-
ENREDO

rança em Berlim. Ocupou-se (questões relativas à evacua- cula engrenagem e um simples


ção dos judeus) no escritório executor das ordens baixadas
ativamente das possibilidades
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de transferir os judeus para O central para a segurança nacio- por seus superiores no com-
ES

nal e, portanto, foi o principal plexo sistema de extermínio.


Er

É estee,em 1937, empreendeu


uma viagem para compreender responsável pela gestão das Foi enforcado em 1962.

que concretas perspectivas deportações dos judeus na


Europa ocupada. Em março de
havia para a realização desse Com O UNIFORME DAS SS E NO
1944, Eichmann foi enviado à BANCO DOS RÉUS NO PROCESSO
Plano. Depois da Anschluss,
dirigiu em Viena o organismo Hungria, onde organizou a de- QUE SE REALIZOU EM JERUSALÉM

z 1
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182 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

O EXTERMÍNIO: por aqueles que conseguiram dezembro de 1942, os Aliados A Igreja não regateou ajuda
QUEM SABIA? escapar ou por outras mil condenaram a política do ex- aos perseguidos, mas faltou
modalidades de vazamento de termínio dos judeus e prome- uma explícita condenação
O silêncio de todos aqueles notícias, como o testemunho teram sanções por esses cri- dos crimes. Os dirigentes da
que tinham conhecimento das dos próprios alemães, eram, mes, mas então a derrota da Cruz Vermelha Internacional
chacinas e que não reagiram no entanto, suficientes para Alemanha e o fim da guerra também foram informados,
constituiu uma das condições dar uma ideia do destino que eram prioritários em relação ainda que sua capacidade de
que tornaram possível o pro- recaía sobre os judeus. À gra- a qualquer outra considera- intervenção fosse limitada e a
longado funcionamento da in- vidade do que acontecia no ção, embora se tratasse da vi- deportação dos judeus punha
dústria nazista do extermínio. coração da Europa foi conhe- da de milhões de seres huma- a instituição diante de tarefas
O automatismo da máquina cida bastante cedo: emissários nos. O Vaticano também es- que excediam seu tradicional
da destruição e a normaliza- do governo polonês no exílio tava informado: por meio dos campo de ação.
ção burocrática do pessoal divulgaram notícias sobre os canais eclesiásticos chegavam,
que constituiu seu núcleo campos de extermínio des- com efeito, notícias de todos
operacional foram elementos de o inverno de 1942. Num os países.A tradição antisse-
fundamentais, mas também a opúsculo da propaganda ingle- mita de amplo setor da Igreja
tradição do antissemitismo, sa, difundido provavelmente Católica esteve certamente
particularmente na Alemanha, no início de 1943, lia-se: “A na origem de reticências, in- À SALA DO TRIBUNAL
favoreceu a queda de qualquer Polônia tornou-se, graças aos sensibilidade e cumplicidade. DE NUREMBERG
inibição e a indiferença de alemães, o açougue em que
muitos diante do extermínio. se recolhem e se massacram
Embora cercada pelo segredo os judeus, não somente
e por cautelas infinitas, a des- poloneses, mas de toda a
truição dos judeus era um fato Europa. Os governos alia-
demasiado complexo e exten- dos e colaboracionistas
so para que não transpareces- eram informados do « Nai Er |
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se. À difusão da informação que acontecia. Em *

Os principaiscampos de extermínio
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A SHOAH E 183

CADÁVERES DE RECLUSOS
NUM LAGER, ABANDONADOS
NUM VAGÃO FERROVIÁRIO

LIBERTAÇÃO DO
CAMPO DE DACHAU (embaixo).

cada um e nas formas de delegação de competências a grupos


auxiliares de reclusos que, em troca de um melhor tratamento
alimentar, foram por isso obrigados a uma fidelidade absoluta
ao pessoal do campo e a defender sua posição dos ataques dos
rivais. Esta foi uma das perversas habilidades do sistema de
dominação nazista, que soube transformar algumas de suas
próprias vítimas em cúmplices.
Obrigados a viver em condições desumanas, mui-
tos deportados nos Lager logo perderam toda esperança
de sobrevivência, forçados pela violência a um eterno
presente, incapazes de imaginar uma perspectiva
de melhoria. Muitos se reduziram ao irreversível
estado de Muselman (muçulmanos), verdadeiras e
próprias larvas humanas, desprovidas de todo senso
de autoconservação, e votados à morte certa.
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Um país
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Alemanha derrotada foi ocupada pelas tropas


aliadas. A capital Berlim foi dividida em quatro
setores e governada por um “Conselho aliado de
controle”, órgão colegial preposto à administra-
ção do país, mas na realidade incapaz de agir.
Na segunda metade de junho de 1945, realizou-se em Pots-
dam uma conferência interaliada para decidir sobre as ques-
tões primordiais, como as fronteiras da Alemanha, o montante
das reparações, a futura organização europeia. O acordo pre-
valeceu nos aspectos punitivos: destruição do poder central
alemão, condenação dos criminosos nazistas, depurações, fim
das grandes concentrações econômicas, desmantelamento da
indústria bélica, reparações, interdição das forças armadas e
fim do militarismo, cessão de territórios da Prússia oriental à
União Soviética e transferência para a administração polonesa
aqueles a oeste da linha Oder-Neisse. Em contrapartida, não
foi enfrentada a questão da divisão da Alemanha como havia
sido projetada nos precedentes encontros entre os Aliados, mas
a indeterminação das concretas medidas políticas, econômicas
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Esso
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186 E HISTORIA ILUSTRADA DO NAZISMO

FOTO RECORDAÇÃO DE
SOLDADOS NORTE-AMERICANOS
NO ESTÁDIO DE NUREMBERG
O Roberto Capa/Magnum Photos
(p. 184);

BERLIM: UM MONTE DE RUÍNAS


(na abertura).

CAMPO DE DETENÇÃO ALIADO


NA ALEMANHA

Os viTORIOSOS NA
CONFERÊNCIA DE POTSDAM
(embaixo).

e sociais para a administração das zonas de ocupação conti- tudo na zona de ocupação soviética, permaneceu em boa
nha em si as premissas da divisão que se tornou perspectiva parte incólume.
concreta quanto mais o país se transformou num terreno de A fome constituiu o problema mais grave: no decorrer do
choque entre os dois blocos. inverno de 1946-47, insolitamente longo e frio, as colheitas
A. mais evidente contradição que emergiu em Potsdam foram arruinadas pelas geadas, ficaram esgotados os estoques
estava relacionada às reparações: foi estabelecido que, apesar e começaram a faltar fontes de energia. Em 1936, o consumo
da divisão da Alemanha em zonas, a gestão deveria ser a de médio dos alemães era de 3 mil calorias por dia; dez anos depois
um Estado único; cada potência deveria obter, contudo, as tinha caído para pouco mais de 1.000. O mercado negro se
reparações de guerra da própria zona de ocupação, com um tornou uma realidade difundida, contra a qual as medidas
acréscimo em favor da União Soviética, que havia sofrido no dos Aliados nada puderam fazer. A situação foi agravada
decorrer do conflito os danos materiais mais ingentes. pelo maciço afluxo de prófugos da Europa do leste, impelidos
tanto pelo avanço das tropas soviéticas quanto pela política
A ALEMANHA NO PÓS-GUERRA de expulsão dos alemães, por parte dos governos polonês e
Os maciços bombardeios aéreos aliados tinham destruído tchecoslovaco. Em cada uma das zonas de ocupação inglesa,
especialmente os centros urbanos, e cerca de 7 milhões de americana e soviética, a população aumentou em cerca de 3
pessoas tinham ficado sem teto. O sistema de transportes foi milhões, com os consequentes problemas de abastecimento,
duramente atingido, enquanto o aparato industrial, sobre- alojamento e trabalho. Difundiram-se a criminalidade e as
UM PAÍS DIVIDIDO E |87

Os KRUPP NO BANCO DOS RÉUS


Um membro da família proprietária
das metalúrgicas do aço (centro)
julgado por um tribunal norte-
-americano no pós-guerra,

ÂNGULO DO BANCO
DOS RÉUS NA SALA
DO TRIBUNAL DE INUREMBERG
(embaixo).

doenças, como o tifo e a tuberculose. De acordo com o que foi


Nos anos seguintes desenvolveram-se outros numerosos
decidido em Potsdam, foram desmanteladose desmembrados
processos sob a jurisdição de cada uma das forças de ocupação.
| “setores nevrálgicos da economia e da indústria, e
as conse- Os americanos realizaram, sempre em Nuremberg, outros
| quências psicológicas foram mais graves que as financeiras.
doze que se concluíram na metade de 1949 e no decorrer
| A maioria dos alemães percebeu, com efeito, esses atos como
dos quais foram julgadas 184 pessoas. Os processos, dedica-
uma injusta punição a seu passado, com relação ao qual não se dos a aspectos peculiares da política nazista — rearmamento,
julgavam responsáveis. Antes que a vontade de refletir sobre guerra nos Bálcãs, diplomacia e ruptura dos acordos interna-
| | asrazõesca herança do nazismo, prevaleceram o afastamento cionais —, tiveram um papel muito importante por trazer à
da política e a tendência a isolar-se na vida privada. luz o complexo aparato de poder nazista, as responsabilida-
des e as conivências. Foram julgadas as elites do regime, dos
Os PROCESSOS Gauleiter aos secretários de Estado, dos generais aos chefes
Na declaração conjunta de Moscou, de novembro de 1943, das SS. Funcionários da política nazista de ocupação durante
os Aliados deixaram claro que queriam punir os principais a Segunda Guerra Mundial foram processados também em
responsáveis dos crimes de guerra. Uma corte internacional, diversos países, como Holanda, Itália, Polônia, Tchecoslová-
formada por advogados e juízes franceses, ingleses, america- quia, entre outros. Somente a partir dos anos 1960 também
nos e soviéticos, processou em Nuremberg 24 réus, conside- os alemães começaram a ocupar-se dos crimes cometidos
rados os principais responsáveis pela política nazista. durante o nazismo: alguns dentre os mais importantes pro-

NUREMBERG execução dos culpados. As guerra. Franceses e soviéti- insistência americana sobre
posições dos Aliados em re- cos que, ao contrário, tinham a guerra de agressão — en-
No decorrer do processo lação aos nazistas derrotados sofrido mais diretamente em quanto a grande indústria não
que se desenvolveu em Nu- foram consequência do modo seu próprio território os efei- era representada. Os Aliados
remberg, de outubro de 1945 diverso pelo qual os respec- tos do conflito, pediram que atribuíram ao processo de
a outubro de 1946, pela pri- tivos países tinham sofrido fossem destacados os crimes Nuremberg um grande signi-
meira vez na história os mais os danos da guerra. Uma vez de guerra. Em Potsdam foi ficado ético-político, mas a |
altos dignitários de um Estado estabelecida a realização de estabelecido que as peças de maioria da opinião pública
foram levados perante um um processo, os problemas acusação deveriam ser: crimes alemã considerou-o uma
tribunal e julgados. Durante surgiram no tocante à indi- contra a paz e complô, crimes vingança dos
viduação dos réus e de seus de guerra e crimes contra a vitoriosos.
a guerra muitas vezes tinha
delitos. Os anglo-americanos humanidade. A presença dos
sido reafirmada a necessidade
privilegiaram os crimes con- réus foi ligada alea-
de punir os crimes nazistas,
tra a paz e, portanto, todas toriamente à sua
mas em 1944 americanos e captura: havia qua-
as organizações nazistas que
| ingleses refutaram a ideia de
esso, declarando-se,
tinham concorrido paraà a tro membros do
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188 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

CHECKPOINT CHARLIE
Soldados norte-americanos obser-
vam com binóculos a área do local
de guarda que presidia a passagem
entre os dois setores de Berlim
O René Burri/Magnum Photos.

BRINCADEIRAS DE CRIANÇAS
À imagem espectral de uma praça
de Friburgo no final de 1945
O Werner Bischof/Magnum Photos

cessos referiam-se à gestão dos campos de concentração e À OCUPAÇÃO ALIADA


extermínio, como o debate sobre Auschwitz-Birkenau que E O AUMENTO DAS DIVERGÊNCIAS
se desenrolou em Frankfurt e aquele sobre Treblinka, que se As divergências entre as três zonas ocidentais e a soviética
realizou em Diisseldorf. se acentuaram nos meses sucessivos ao fim da guerra, não
Muitos criminosos nazistas conseguiram apagar as pró- somente sobre questões alemãs, mas como reflexo do choque
prias pegadas ou fugir para o exterior, graças também à ajuda mais geral pelo controle dos equilíbrios internacionais. Em
das Igrejas católica e protestante. O processo de Jerusalém nenhum outro lugar como na Alemanha a guerra fria teve
contra Adolf Eichmann, um dos principais organizadores do consequências tão radicais e imediatas, ainda que o tabuleiro
extermínio de judeus, trouxe pela primeira vez ao conheci- dos conflitos já fosse bastante amplo: na Turquia, na Grécia e
mento de amplos setores da opinião pública as espantosas no Irã chegou-se ao choque aberto entre interesses soviéticos
dimensões da Shoah. Mas com o aguçar-se da contraposi- e anglo-americanos e, portanto, a um confronto de dimensões
ção entre os dois blocos, os tribunais aliados cessaram sua mundiais entre o bloco soviético e as potências ocidentais.
atividade e muitos criminosos ou expoentes do Em julho de 1946, os Estados Unidos propuseram a
regime nazista, já condenados, se beneficiaram unificação econômica das quatro zonas de ocupação para
com anistias. melhorar o abastecimento da população, mas a
União Soviética declarou-se contrária. O governo
de Washington decidiu então acelerar o processo de
UM PAÍS DIVIDIDO E 189

VIA LIVRE AO PLANO


MARSHALL
No cartaz, um caminhão americano
carregado de mantimentos passa
pela alfândega alemã. O European
Recovery Program, mais conhecido
como Plano Marshall, foi essencial
para a retomada econômica da
Europa ocidental e reforçou o
consenso para Os novos governos
democráticos.

unificação das zonas ocidentais e, no dia 1º de janeiro de com o objetivo de forçar os Aliados a abandonar a cidade.
1941, nasceu a “Bizona”, economicamente unificada, que Estes responderam com a criação da maior ponte aérea da
uniu a zona americana e a britânica; no dia 8 de abril, foi a história: em pouco menos de um ano, aviões americanos
vez também da francesa e nasceu a “Trizona”. O programa efetuaram mais de 200 mil voos, transportando cerca de 2
de ajuda baseado em créditos, fornecimento de gêneros ali- milhões de toneladas de mercadorias. A guerra fria tinha
mentícios e de matérias-primas, promovido pelo ministro praticamente iniciado e Berlim se tornou o símbolo da luta
do Exterior norte-americano George Marshall, teve uma entre os dois blocos.
função bastante importante inclusive para a reconstrução
das zonas alemãs ocidentais, enquanto a URSS recusou-se a AS DUAS ALEMANHAS
aderir a esse programa, considerado premissa para um con- O bloqueio de Berlim levou os Aliados a acelerar os
trole político total da parte americana. À reforma monetária projetos de unificação política da “Trizona”, atribuindo
introduzida na “Trizona” em junho de 1948 (lançamento do a um governo alemão os poderes civis e criando assim a
deutsche mark) para poder usufruir da ajuda do plano Mar- república federal. Em setembro de 1949, as eleições foram
shall, a zona oriental respondeu com sua própria reforma vencidas pelos conservadores e Konrad Adenauer foi
monetária que deveria se estender a toda Berlim. No dia nomeado chanceler. Prefeito de Colônia durante a repú-
18 de junho de 1949, a tensão se transformou em choque blica de Weimar, depois da tomada do poder pelos nazistas,
aberto: a URSS bloqueou todas as vias de acesso a Berlim, tinha sido afastado de seu cargo; não se havia, portanto,

PARADA MILITAR NA RDA


Desfile de regimentos do Nationale
Volksarmee. À constituição de um
exército nacional na Alemanha
oriental foi seguida pela entrada
do país na aliança político-militar
do Pacto de Varsóvia, instituída em
maio de 1955..

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190 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

TORRE DE CONTROLE AO
LONGO DO MURO DE BERLIM
Para deter o fluxo de alemães
do leste para a república federal,
autoridades militares fecharam as
passagens ainda abertas entre os
dois setores de Berlim. Depois
seguiu-se a construção da muralha
de blocos de cimento que um
comunicado do governo da RDA
definiu como o “muro da defesa
antifascista.

TURISTAS NA DIVISA DA
ZONA FRANCESA DA CIDADE
(embaixo).

comprometido com o regime. O governo formado por ele soviéticas e sua economia foi por anos atormentada pelos
estava ainda sob a tutela dos Aliados, que se reservaram não pagamentos das reparações.
somente o controle sobre a região de Ruhr, mas também No plano político, as autoridades de Moscou mantiveram
sobre a política e o comércio exteriores, além de todas as sob um rígido controle a situação, e as posições-chave da
questões militares. administração, deixadas aos alemães, foram assumidas por
Os soviéticos mantiveram sua sólida influência sobre expoentes comunistas. Os partidos foram unificados num
a parte oriental e nacionalizaram os bancos e a indústria “bloco antifascista” ao qual se seguiu, em 1946, a fusão dos
pesada. As grandes propriedades de terras foram confisca- partidos comunista e social-democrata que formaram o SED
das sem indenização. Algumas indústrias foram transferi- (Partido Socialista Unificado Alemão) e que assumiu
das para a URSS por conta das reparações; outras foram a condução do país num processo de rápida e pn

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geridas diretamente pelos soviéticos e levadas a trabalhar progressiva marginalização das outras a
sempre para o próprio país; outras, finalmente, constituíram forças políticas e, no interior
a base da refundação econômica da Alemanha oriental. do qual, os próprios social-
Em outubro de 1949, um mês após a fundação da república “democratas perderam sempre
federal, nasceu a república democrática. Mantida sob estrito mais prestígio.
controle militar por um exército de ocupação soviética, a
Alemanha oriental se desenvolveu seguindo as diretivas
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UM PAÍS DIVIDIDO E |9|

KONRAD ADENAUER
Artifice da reconstrução alemã,
no curso de seu longo período
como chanceler, Adenauer esteve
também entre os protagonistas da
unidade europeia,

A REPÚBLICA FEDERAL ALEMÃ refutado toda reflexão sobre o passado e conferido uma marca
Adenauer permaneceu no poder até 1963: seu governo, que profundamente conservadora à sua política interna.
contava com ampla maioria parlamentar do Partido Demo- No início dos anos 1960, terminou a fase mais aguda da
crata-Cristão (CDU), se caracterizou por uma estreita aliança guerra fria; nas eleições de 1961, o CDU perdeu a maioria
com os Estados Unidos e por uma moderação político-social absoluta, e Adenauer, representante de uma época que che-
em profunda sintonia com os interesses do grande capital. O gava ao fim, deixou a chancelaria em 1963. O desenvolvi-
crescimento econômico da Alemanha federal nesses anos foi mento econômico dos anos precedentes começou a diminuir,
espetacular: ritmos intensos de trabalho, considerável ajuda os fermentos de oposição se acentuaram e, a partir de 1964,
norte-americana, reparações pouco onerosas fizeram com que registrou-se um constante aumento dos preços. À insatis-
a retomada fosse muito rápida (entre 1950 e 1963, o índice fação pela falta de renovação política cresceu particular-
da produção industrial saltou de 100 para 293). A estabili- mente no universo juvenil, e 1968 viu surgir, aqui como em
dade interna nesse período foi consequência do “milagre outros países europeus, um forte movimento estudantil. O
econômico”, mas esse boom tornou sempre mais pesado, para peso do Partido Social-Democrata (SPD) tinha entrementes
amplas camadas da população, o acentuado autoritarismo de crescido e, em 1969, Willy Brandt foi eleito chanceler. Sua
Adenauer. Ele, se havia conduzido a Alemanha federal a um política se caracterizou pela busca de melhores relações com
papel de prestígio no contexto europeu e se havia feito dela o a Alemanha do leste (Ostpolitik) e com o propósito de “ousar
principal baluarte contra o mundo comunista, tinha também mais democracia”.

Sa co E DE JOELHOS DIANTE DO
Po Be ?
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MONUMENTO ÀS VÍTIMAS
| DO EXTERMÍNIO NAZISTA
A tragédia da Shoah constituiu um
dos problemas mais espinhosos
nas relações entre a Polônia e a
Alemanha. Na foto, Willy Brandt
que, com um gesto de enorme
alcance político e moral, em 1970
prestou homenagem às vítimas do
gueto de Varsóvia.
192 E HISTÓRIA ILUSTRADA DO NAZISMO

ERiCH HoNECKER
Sucedendo a Valter Ulbricht no
vértice do SED em [971], deu ini-
cio a uma política de abertura em
relação a Bonn. Sob sua liderança,
a RDA confirmou sua posição de
país mais industrializado do “bloco
socialista”.

A REPÚBLICA DEMOCRÁTICA ALEMÃ coletivização, do baixo padrão de vida, da excessiva intensifi-


A propaganda sobre a criação de um Estado socialista cação dos ritmos de trabalho; o protesto se estendeu por todo
deu um forte impulso idealista à RDA, mas os resultados o país e foi sufocado pela intervenção das tropas soviéticas.
econômicos não foram imediatos e a vida social e política O SED tomou conhecimento, dessa forma, dos limites de
era rigidamente calcada no modelo soviético. A Alemanha seu poder e da própria dependência da União Soviética. A
oriental se empenhou num grande esforço de reconstrução construção do Muro de Berlim, em 1961, marcou de modo
que determinou um nível de vida muito baixo. O SED con- trágico a necessidade de manter rigidamente separados dois
trolava o Estado e a sociedade e guiava a economia plane- mundos, dos quais um, o ocidental, exercia uma poderosa
jada. O Ministério para a Segurança do Estado, criado em força de atração sobre o outro.
1950, agiu de modo capilar contra toda forma de oposição, a
vida pública foi sempre mais militarizada, o culto do Estado A REUNIFICAÇÃO
e do comunismo caracterizaram toda manifestação cultural. Uma das consequências mais significativas da queda do
O padrão de vida e a qualidade dos produtos continuaram a comunismo foi a reunificação da Alemanha. Na noite de
ser muito inferiores aos da Alemanha ocidental, ainda que a 9 de novembro de 1989, foram abertas as primeiras bre-
economia da Alemanha oriental fosse a mais dinâmica entre chas no Muro de Berlim, pondo fim, desse modo, à sepa-
os países do bloco comunista. Em junho de 1953, verificou- ração entre as duas Alemanhas, que era a consequência
-se em Berlim a primeira greve operária por causa da rígida mais evidente da derrota do Reich nazista e da época da

REPENSAR O também a história de uma de reconquistar uma credibili- assinalar a nítida ruptura com
NAZISMO lembrança dividida do passa- dade internacional, os dois es- o passado nazista. Afirmou-se
do nazista e da oposição ao tados se tornaram concorren- que somente o partido comu-
As duas Alemanhas tiveram regime hitlerista. Durante a tes até no reelaborar o passa- nista tinha levado adiante uma
de enfrentar problemas aná- guerra fria, ambos os estados do. Na República democrática, coerente luta contra o regime
logos depois do fim da guerra: procuraram apresentar-se co- o processo de desnazificação e, portanto, agora era o úni-
a necessidade de superar as mo a única Alemanha legítima foi mais radical que no oeste, co legitimado para governar
consequências materiais e depois de Hitler: a República mas o antifascismo foi impos- o país, sem indagar as reais
morais do conflito e da der- democrática, porque tinha to do alto e se transformou relações de força, as conivên-
rota, de julgar os responsáveis apagado as raízes econômicas em propaganda de estado. cias e os silêncios da maior
pelo regime nazista, de dar do nazismo; a República fede- Considerou-se ainda válida a parte da população, sem
respostas às expectativas das ral, como alternativa antito- definição dada pelo Komin- refletir sobre a continuidade
vítimas e da comunidade in- talitária. Houve, portanto, um tern, em 1935, do fascismo de longo período e sobre a
ternacional e de integrar mui- duplo limite na elaboração da como forma extrema do necessidade de que a reno-
tos ex-nazistas na sociedade própria história: em relação capitalismo, e tê-lo desman- vação ocorresse
em outros
do pós-guerra. As vicissitudes ao nazismo e em relação à telado foi considerado passo níveis. Na República federal,o
da divisão da Alemanha são outra Alemanha. Na tentativa necessário e suficiente para antifascismo foi repelido por-
UM PAÍS DIVIDIDO E 193

TRABANT
Dotado de um motor de dois
cilindros em dois tempos, orgulho
da indústria automobilística alemã-
-oriental, permitiu a muitos cida-
dãos da RDA aceder aos benefícios
da motorização em massa.

guerra fria. As causas da queda do Muro foram ligadas às ria velozmente a todo o país. Iniciaram-se diversos pactos
complexas mudanças que se verificaram em todo o bloco entre os Estados Unidos e a União Soviética e, no dia 3
comunista, a começar pela União Soviética, no decorrer de outubro de 1989, o presidente da República federal
dos anos 1980, graças especialmente à política de reformas Richard von Weizsãcker anunciou a unificação. Embora
promovida pelo líder do Kremlin Mikhail Gorbatchov. Na não houvesse provavelmente alternativas para esse curso,
Alemanha oriental, a partir do início de 1989, aumentou o ele ocorreu depressa demais, porquanto se tratou de
dissenso popular; muitos cidadãos não voltaram das férias uma “anexação” da parte oriental à ocidental, sem que
e pediram asilo nas embaixadas da Alemanha ocidental de se mantivesse qualquer vestígio da experiência da RDA.
Praga e Budapeste; as passagens através do Muro favore- Mas décadas de vida em sistemas políticos diferentes não
| ceram um fluxo contínuo de pessoas. Foram constituídos foram anuladas num dia e logo emergiram as dificuldades e
| grupos de oposição, como “Neues Forum”, favoráveis à os ressentimentos recíprocos. Os suces-
| extensão das reformas soviéticas também na Alemanha sos eleitorais dos partidos de extrema
| oriental. direita na ex-Alemanha oriental, no
Depois da derrubada do Muro, a perspectiva da início dos anos 1990, eo crescimento
unificação entre os dois Estados se tornou sempre exponencial de atos de racismo e
| mais concreta. Os alemães orientais se iludiram xenofobia foram expressão de um
À
| ao pensar que o modelo ocidental se estende- profundo mal-estar.

que era visto como ideologia mal totalitário, e seguintes à guerra foram
soviética, e substituído em sua o novo Estado dominadas por um senso de
legitimidade histórica com à alemão, aliado do inocência coletiva. O silêncio
adesão a um ostensivo antico- Ocidente, encon- foi rompido no decorrer dos
trava agora sua legi- anos 1970:0 processo Eich-
munismo capilar e difundido.
timidade e saldava sua mann, em 1961,e os novos
O passado estava presente de
conta com o nazismo, agentes no mundo dos jovens
modo particular nas nume-
combatendo a ameaça puseram os alemães diante
rosas iniciativas para acelerar
comunista. A guerra fria daquele passado que tinham
o processo de desnazificação
era reabilitava implicitamente procurado remover.
iniciado pelos Aliados. A
pe- o passado nazista. Os
Adenauer se caracterizou ex-nazistas tornavam-
uec ime nto ; à teo ria do
| lo esq
idamente se alemães que tinham CABEÇAS RASPADAS
É* totalitarismo foi rap cumprido seu dever Os “naziskin” alemães tornaram-se
a d a a i d e o l o g i a de Estado:
- * elev como soldados ou
protagonistas de atos de xenofobia
e c o m u n i s m o foram e de racismo em detrimento das
É * nazism o
funcionários do Esta- comunidades de estrangeiros resi-
n s i d e r a d o s e n c a r nação,
*: co do. As duas décadas dentes na Alemanha.
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UMA IMAGEM-SÍMBOLO DO SÉCULO XX No dia 9 de novembro de 1989, depois que o governo da RDA tinha concedido a liberdade I
expatriar seus próprios cidadãos, os berlinenses dos dois setores da cidade se uniram num clima de festa popular que constituiu o primeiro passo fl
a reunificação das duas Alemanhas. Essa data marcou o vértice do terremoto político que naquele ano havia subvertido as bases da Europa oriental
b
OS LOCAIS DA MEMÓRIA metade dos anos 1980, co- geral, seja sobre os conteúdos h
meçou-se a preservação dos da memória a transmitir (isto
A RDA dedicou notável foi reservada uma posição antigos campos de concen- é, modernização à luz da pes- |
atenção à readaptação e ao privilegiada, se não até mesmo tração (muitas vezes graças quisa histórica mais avançada),
cuidado dos campos de con- exclusiva, aos mártires dos a longos trabalhos de recu- seja sobre as técnicas da
centração: nos primeiros anos comunistas e do antifascis- peração de uma parte deles), comunicação hoje adotadas.
da década de 1950, o Estado mo alemão, colocando em não somente como museus, Além das muitas expressões
se encarregou de todas as segundo plano tanto mas como centros de possíveis para evocar a me-
despesas de restauração, o componente in- pesquisa. Um impulso mória de locais, de fatos, de
impedindo que as próprias ternacional das Fm ==" muito grande para pessoas — dos monumentos
estruturas ruíssem, mesmo vítimas como a | a discussão sobre as lápides à simples topo-
que isso tenha sido feito com perseguição dos o a, A
as modalidades da nomástica — desenvolveu-se
recentemente uma verdadeira
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um preciso projeto político. judeus. Na Ale- rh of = DE
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memória seguiu-se
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A memória dos Lager foi, manha federal, depois da reunifi-
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estratégia de exposições e de |
com efeito, administrada de ao contrário, os cação que, além dos mostras históricas. A exigên- |
maneira unilateral, com o locais da memória problemas mais gerais cia para preservar essa me-
objetivo de legitimar — por se tornaram patrimônio derivados da relação do mória é aguçada pela crescen-
meio da afirmação da conti- do Estado e sua preservação novo estado nacional com o te consciência da ruptura em |
nuidade do antifascismo — a e manutenção foram ligadas passado da Alemanha, pôs em ato entre gerações, pela rup-
dominação do partido comu- à iniciativa de privados, co- termos imediatos a aquisição tura dos canais tradicionais de
nista como partido único. Na mitês de vítimas etc., como pela Alemanha unificada dos transmissão, pela morte das |
apresentação dos Lager, nas demonstra, em particular, o campos de concentração testemunhas e, com elas, da |
manifestações ligadas às datas ocorrido com o campo de administrados pela RDA. Isso continuidade das memórias |
comemorativas nos museus, Dachau. Somente a partir da deu lugar a uma reflexão mais familiares.
RAN TENS NETO

sa tea da Ao

1918 representativo, com 37,4% dos sufrágios. I7 de junho Baldur von Schirach é
9 de novembro Abdicação do K alser: nomeado líder da juventude alemã.
nasce a República de Weimar. 1933 I4 de julho A lei contra a reconstrução
30 de janeiro Hitler é nomeado dos partidos legaliza o monopólio político
1919 chanceler por Hindenburg. do NSDAPR. Lei para a prevenção das
5 de janeiro Fundação do Deutsche 4 de fevereiro Decreto “para a defesa doenças hereditárias.
Arbeiterpartei. do povo alemão” que autoriza medidas 20 de julho Concordata com o Vaticano.
limitativas da liberdade de imprensa. setembro “Congresso da vitória” em
me EPT 27 de fevereiro Incêndio do Reichstag. Nuremberg.
24 de fevereiro O Deutsche 28 de fevereiro Decreto “para a defesa 22 de setembro Lei constitutiva da
Arbeiterpartei se transforma no NSDAP do povo e do Estado” que procede à abolição câmara da cultura.
e é redigido o programa dos 25 pontos. dos direitos fundamentais, autoriza prisões 29 de setembro Lei sobre a transmissão
preventivas e bane o partido comunista. hereditária dos fundos campestres.
1923 > de março Eleições para o Reichstag 14 de outubro Retirada da Alemanha
janeiro Ocupação das tropas francesas na em que o NSDAP obtém 43,9% dos votos. da Sociedade das Nações.
região do Ruhr. 13 de março Goebbels nomeado I2 de novembro Eleições em lista
8-9 de novembro Puisch de Hitler em ministro da Propaganda. única para o Reichstag: o NSDAP obtém
Munique. 22 de março Abertura do campo de 92,2% dos votos.
concentração de Dachau. |º de dezembro Lei sobre a unidade
1924. amo | | 23 de março Aprovada a lei que dá entre Estado e partido.
abril Condenação Ee ER a 5 anos de plenos poderes ao governo.
Iº de abril Boicote contra as lojas dos TASSO g
— 2— — me ——— a

prisão.
= a Ei -— — —-

dezembro Libertação de Hitler. judeus. 27 de fevereiro Lei sobre o sistema do


E Na:
o EUA
7 de abril Aprovada a lei que prevê o “trabalho nacional”.
ã E a À Er e Ia [ os Ens

afastamento dos empregos estatais, elementos


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20 de abril Heinrich Himmler é
fevereiro Reconstituição do NSDAR. politicamente não confiáveis e os judeus. nomeado chefe da Gestapo.
abril Paul von Hindenburg é eleito II de abril Hermann Góring nomeado 30 de junho “Noite das facas longas”.
presidente da República. vice-lugar-tenente do Reich e presidente do 3 de julho Hjalmar Schacht é nomeado
governo prussiano. ministro da Economia.
21 de abril Rudolf Hess nomeado 1º de agosto Unificados por decreto os
Raia o» primeiro substituto do Fiihrer. cargos de presidente e chanceler do Reich.
janeiro O NSDAP
2 de maio Supressos os sindicatos. 2 de agosto Paul von Hindenburg
governo regional na Turíngia.
IO de maio Queima dos livros. Fundada morre e Hitler torna-se “Fiúhrere chanceler”.
a Frente Alemã do Trabalho. setembro “Congresso do triunfo da
Nas Eleições nara O I9 de maio A “lei sobre os fiduciários do vontade” em Nuremberg. Schacht elabora o
31 de julho
g, o N S D A P to rn a- se O pa rt id o mais trabalho” suprime a autonomia contratual, “novo plano”,
Reichsta
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1935 23 de outubro Proclamação do Eixo
I3 de janeiro Referendo da região de Roma-Berlim. 15 de março Ocupação da
Saar. 25 de novembro Estipulação do pacto Tchecoslováquiae instituição do
26 de fevereiro Lei constitutiva antikomintern com o Japão. protetorado da Boêmiae Morávia.
da carteira de trabalho para controle da 1º de dezembro A Hiilerjugend torna-se
23 de março Os nazistas invadem a
mão-de-obra. Juventude de Estado.
região de Memel.
I6 de março Reintroduzido o
22 de maio Assinatura do Pacto de aço
recrutamento obrigatório. — Ed

setembro Realização do “Congresso com a Itália.


julho a o! campo es Co RCEnTERAs!
da liberdade” em Nuremberg no decorrer 23 de agosto Pacto de não agressão
de Buchenwald. Inauguração, em Munique,
do qual são emanadas a “lei para a defesa do entre Alemanha e União Soviética.
da exposição sobre a “arte degenerada”.
sangue e da honra alemã” e a “lei sobre 27 de agosto Racionamento dos
5 de novembro Encontro de Hitler
a cidadania do Reich”. com os vértices militares, no qual são gêneros alimentícios.
I8 de outubro Criação da lei para a baixadas as diretivas para a invasão da Iº de setembro Ataque alemão à
defesa da pureza biológica hereditária do Austria e da Tchecoslováquia. Polônia: início da Segunda Guerra Mundial.
povo alemão. 26 de novembro Demissão de Schacht. outubro Autorização escrita de Hitler
|3 de dezembro Instituição das para a atuação do programa de eutanásia.
“Lebensborne”.
e de fevereiro Destituição do ministro
193€ o Rr : 4
da Guerra, do comandante supremo do
7 de março A Wehrmacht ocupa a ; de abril A EH ade: a
exército e do ministro do Exterior em vista
região desmilitarizada da Renânia. da preparação da guerra. Dinamarca e a Noruega.
29 de março Plebiscito sobre a I2 de março Anexação da Áustria ao IO de maio A Alemanha invade os

mi
mi
política hitlerista: 99% dos votos Reich. Países Baixos, a Bélgica e a França.
favoráveis. abril Início da arianização das empresas 14 de junho Chegada dos alemães em
17 de junho Himmler é nomeado de propriedade judaica. Paris.

E
“Reichsfihrer das SS” e chefe da polícia 29 e 30 de setembro Conferência

O
22 de junho A França assina o

O
alemã no Ministério do Interior. de Munique: cessão dos Sudetos à armistício com a Alemanha.

AE dg
julho Intervenção militar alemã na guerra Alemanha. IO de julho Início da batalha da Inglaterra.

md
civil espanhola.

E
Iº de outubro Tropas alemãs invadem
27 de setembro Alemanha, Japão e

mo
agosto (Criação do campo de a Tchecoslováquia.

e,
concentração de Sachsenhausen. Itália assinam o pacto tripartite.
9 de novembro “Noite dos cristais”

A
Realização das Olimpíadas em Berlim. pogrom contra os judeus. outubro Instituídos numerosos guetos
setembro “Congresso da honra” em 8 de dezembro Decreto de Himmler judaicos na Europa do leste.
Nuremberg e anúncio do lançamento do sobre o recenseamento e os procedimentos 18 de dezembro Diretiva n. 21 de
plano quadrienal. de identificação dos ciganos. Hitler: preparação do ataque à União Soviética.

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de

Iodo ER E março Partem para Auschwitz os 1944 |


II de fevereiro Chegada de Erwin primeiros trens de judeus provenientes da 20 de fevereiro Início da ofensiva
Rommel na Líbia. Alemanha e da Europa oriental. aérea anglo-americana contra a Alemanha.
I7 a 30 de março Hitler declara que 21 de junho Rommel conquista Tobruk. 6 de junho Desembarque aliado na
a iminente campanha da Rússia deverá ter o junho Em Auschwitz-Birkenau tem início Normandia.
caráter de “guerra de destruição”. o extermínio em massa dos judeus. 20 de julho Fracassa o atentado contra
6 a 8 de abril Tropas búlgaras, alemãs 1º de julho Início da primeira batalha Hitler.
e italianas invadem a Iugoslávia e a Grécia. de El-Alamein. 24 de julho Os soviéticos libertam o
IO de maio Martin Bormann é nomeado 13 de setembro Início da batalha de campo de extermínio de Majdanek.
responsável pela chancelaria de partido. Stalingrado. 25 de julho Goebbels é nomeado
22 de junho A Alemanha invade a 24 de outubro Início da segunda encarregado geral para a mobilização bélica
URSS. batalha de El-Alamein. total e Himmler, comandante supremo do
14 de julho Rosenberg é nomeado II de novembro A Alemanha ocupa exército de reserva.
ministro para os territórios orientais ocupados. a França de Vichy. 8 de setembro O primeiro foguete V2
Iº de setembro A utilização da estrela atinge a Inglaterra.
amarela passa a ser obrigatória entre os judeus. a Ke
ESAF
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RES Pan 7 de outubro Retirada alemã da Grécia.
NMPoE = Di Wi Do medi E al Ed

21 de outubro Aachen é a primeira


o. E,Rai i RA, x

Iº de outubro Proibição da emigração


Tua E o

14 a 24 de janeiro Conferência
de judeus. cidade alemã a ser ocupada pelas tropas
aliada de Casablanca.
I4 de outubro Deportação dos judeus norte-americanas.
2 de fevereiro Capitulação alemã em
alemães para os guetos da Europa oriental. |Iº de novembro Himmler ordena
Stalingrado.
6 de dezembro Início da contra- a suspensão do extermínio dos judeus em
I8 de fevereiro Goebbels proclama a
Auschwitz-Birkenau.
ofensiva do Exército Vermelho. “ouerra total”.
7 de dezembro Ataque japonês a I3 de maio Capitulação do Eixo no
Pearl Harbor. norte da África.
| I de dezembro A Alemanha declara 26 de junho Speer assume o pleno 14 de janeiro O Exército Vermelho
guerra aos Estados Unidos. controle sobre toda a produção bélica. invade a Prússia oriental.
8 de setembro A Itália torna 27 de janeiro As tropas soviéticas
conhecida a rendição aos Aliados. libertam Auschwitz-Birkenau.
% 20 de janeiro Conferência de Wannsee: 9 de setembro (Os alemães ocupam 19 de março Proclamada a “Ordem de
q coordenação das medidas voltadas à “solução Roma e grande parte da Itália. Nero”.
. final do problema judaico”. I2 de setembro (Os alemães libertam 30 de abril Suicídio de Hitler.
Mussolini. 7 de maio Alfred Jodl assina em Reims
| 8 de fevereiro Albert Speer é nomeado
s. 13 de outubro A Itália declara guerra a rendição incondicional da Alemanha aos
ministro para os armamentos e as mun içõe
à Alemanha. Aliados.
21 de março Fritz Sauckel é nomeado
28 de novembro a Iº de 17 de julho a 2 de agosto
responsável geral para a utilização da
dezembro Conferência aliada em Teerã. Conferência aliada de Potsdam.
mão-de-obra.
Indice dos nomes

A Furtwângler, Wilhelm 85
Adenauer, Konrad 189, 191, 193
L Rivera, Diego 90
Alfieri, Dino 126
Lammer, Hans Heinrich 103, 152 Rôóhm, Ernst 48, 50, 90, 93,95
6 Lang, Fritz 32, 102
Amann, Max 63 Rommel, Erwin 143, 144
Garanin, Anatoly 149 Legien, Carl 37
Antonescu, lon 135 Roosevelt, Franklin Delano 158, 162,
Gauguin, Paul 66 Ley, Robert 79 164
Joebbels, Joseph 43, 48, 54, 55, 58, Liebknecht, Karl 16
B Rosenberg, Alfred 18, 118
64, 65, 70, 71, 79, 106, 108, 148, 150, Lindbergh, Charles 77
Baden, Max von 14, 15 152, 164 Litvinov, M. Maksimovié 24 S
Bayer (indústria) 79 Gorbatchov, Michail 193
Benjamin, Walter 37
Losch, Maria Magdalena von 99 Salomon, Ernst von 15
Góring, Hermann 40, 48, 49, 82. 83, Lubitsch, Emest 101, 102
Bischof, Wemer 158, 188 Sauckel, Fritz 69, 153
84,85, 89, 93,94, 126, 127, 141, 152, Ludendorff, Erich 14, 49, 103 Schacht, Hjalmar 74, 75, 76,82
Blomberg, Werner von 39, 125 155, 157 Luther, Hans 23 Schirach, Baldur von 59, 92
Bormann, Martin 152 Gropius, Walter 29 Luxemburgo, Rosa 16 Schlemmer, Oskar 29
Brandt, Willy 191 Grosz, George 14, 19
Brecht, Bertolt 65, 101 Scholl, Hans 163
Guderian, Heinz 144 M Scholtz-Klink, Gertrud 62
Briand, Aristide 28, 29 Guglielmo II, (imperador) 14
Brúning, Heinrich 36, 49
Mann, Heinrich 43, 98, 101, 102 Schônberg, Arnold 66
Mann, Thomas 55, 65, 101, 102 Schumacher, Fritz 37
Burri, René 188 H Mardocheo, 42 Schuschnigg, Kurt von 127
Heartfield, John 32, 116 Marshall, George 189 Schiútte-Likowsky, Grete 37
C Heckel, Erich 66 Martin, Wagner 37 Seghers, Anna 65
Capa, Robert 151, 156, 160, 161, 164 Henlein, Konrad 130 Marx, Karl 42, 43 Seldte, Franz 39
165, 186 Hess, Rudolf 18, 52 Matsuoka, Josuke 126 Seymour, David 160, 179
Cartier-Bresson, Henri 160 Heydrich, Reinhard 89, 90, 91,94, 170 May, Ernst 37 Seyss-Inquart, Arthur 127
Chamberlain, Neville 130, 132 Hilberseimer, Ludwig 37 Mercedes-Benz, (indústria) 75 Shahmn, Ben 110
Churchill, Winston 158, 162, 164 Himmler, Heinrich 48, 77,89,90,91, Messerschmitt, Willy 74 Siemens, (indústria) 37, 74
Ciano, Galeazzo 128, 132 94, 100, 112, 116, 152, 169, 177, 178 Moholy-Nagy, Lazló 31 Speer, Albert 54, 66, 67, 69, 79, 131,
Cramm, Gottfried von 71 Hindenburg, Paul von 14, 18, 21, 24, Moltke, Helmuth James Graf von 97 152, 155
36, 39,40, 44, 48, 49,50, 52,103 Montgomery, Bernard 143 Stalin, losif Vissarionovié 162, 165
D Hitler, Adolf 18, 26, 27,36, 39,40, Murnau, Friedrich W. 32, 101 Stauffenberg, Claus von 167
Daladier, Edouard 132 41,42, 46, 48,49,50,51,52,54,55, Mussolini, Benito 25, 103, 122, 123, Strasser, Gregor 48, 55, 90
Darré, Walter 77 58,59, 61, 64,66, 68, 69, 74, 75, 76, 128, 129, 132, 134, 135, 160, 163 Streicher, Julius, 108, 113
Dawes, Charles 24 17,19,682,83,84,90, 92,93, 94,97, Stresemann, Gustav 24, 28, 29, 49
Dietrich, Marlene 99 100, 103, 115, 116, 118, 121, 122, N Stúhler, (Sra.) 158
Dix, Otto 15 123, 124, 125, 126, 127, 129. 130, Neurath, Konstantin von 128, 129
Doóblin, Alfred 37 132, 133, 135, 138, 139, 140, 141, T
Dollfuss, Engelbert 123, 127 143, 144, 146, 150, 152, 153, 163, O Taut, Bruno 37
Dônitz, Karl 167 165, 167, 169, 170 Ophiils, Max 32 Todt, Fritz 69,79, 154, 155
Doriot, Jacques 156 Hoffman, Heinrich 46 Ossietzky, Carl von 44 Toller, Emst 17
Honecker, Erich 192 Tucholsky, Kurt 44
E Hugenberg, Alfred 34, 39 Pp
Ebert, Friedrich 15 Pacelli, Eugenio (papa Pio XII) 47 V
Eichmann, Adolf 181, 188, 195 I Papen, Franz von 39, 41,82, 125 Van der Lubbe, Martin 40
Eicke, Theodor 100 Ilchenko 149 Paulus, Friedrich von 84 Van Gogh, Vincent 66
Einstein, Albert 98, 110 [tten, Johannes 29 Pétain, Henri-Philippe 140
Eisenhower, Dwight 160 Picasso, Pablo 66 W
Eisner, Kurt 15, 17 K Piscator, Erwin 29 Warburg, Aby 79
Kandinsky, Wassily 29, 66 Pohl, Oswald 69 Weber, Max 107
Kapp, Wolfang 15 Porsche, Ferdinand 87 Weizsicker, Richard von 193
F
Keitel, Wilhelm von 125, 127, 152, Preuss, Hugo 19 Wels, Otto 41
Farben, (indústria) 1717
167 Wertheim, (empório) 37
Feder, Gottfried 74
Kirchner, Emst Ludwig 66 R Wessel, Horst 55
Federico II, (imperador) 52 Klee, Paul 66 Rath, Ernst von 116 Willrich, Wolfang 106
Franco, Francisco 124 Klement, Ricardo 181 Rathenau, Walter 15, 22, 24 Wilson, Woodrow 17
Frank, Anne 175 Klemperer, Otto 102 Reader, Erich 141 Wissel, Adolf 119
Frank, Hans E ; e Klemperer, Viktor 158 Remarque, Erich Maria 44, 55
Freud, Sigmun Knirr, Heinrich 103 Ribbentrop, Joachim von 126, 127 Z
E Frick, Wilhelm 40,91,94 Koller, Peter 87 Riefensthal, Leni 64, 65 Zukov, Georgij 167
= Fritsch, Wemer 125, 127 Krupp, Gustav 74, 75, 153, 187 Ritter, Robert 112 Zweig, Stephan 65
Funk, Walter 157
RE
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Mais de 200 imagens dos arquivos fotográficos
Roger-Viollet e Magnum/Contrasto

Notas

| Sigla em alemão para Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei — Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores, mais conhecido como Partido
Nazista. (N. do E.)

2 Emalemão, Defesa do Império ou Defesa da Nação; era o conjunto das forças armadas alemãs entre as duas guerras mundiais, de 1919 a 1935, quando foi criada a
Wehrmacht. (N. do E.)

3 Palavra alemã para designar golpe ou tentativa de golpe de Estado. (N. do E.)

4 “Força de defesa”, em alemão, foi o nome do conjunto das forças armadas do Terceiro Reich, de 1935 a 1945. (N. do E.)

Referências fotográficas
O Roger-Viollet/Contrasto 13, 14a/b, 15a,16as/ad/b, 17c/b, 18a, 19b, 20, 21, 22as/b, 23, 24a, 25b, 28a/b, 29as, 32a/b, 33, 34, 35, 36as/b, 38, 39, 40b, 4la, 43b, |
44b, 45b, 48bd, 49b, 50b, 51b, 52as, 53, 54, 55a/bd, 56, 57, 58a, 59a/b, 60b, 6la/b, 62a/bs/bd, 68b, 69a/e/b, 710a/b, 71bs, 74a/bs, 5a, Ta; 79b, 80as/b, 82a/b,83b, |
84a, 85b, 86b, 87b, 90b, 91as/ad/b, 94a, 95b, 98as/AC/b, 99, 101a/b, 102as/ad/bs, 103a, 108ad/b, 111b, 113b, 118a/b, 121, 122b, 123a/bs/bd, 124a/bs/bd,125a/b, -
126a/b, 127a, 128a/b, 129, 131, 133as/b, 134b, 135, 136, 137, 139a/b, 140, 141, 142, 143b, 144a, 145b, 146a/b, 147a/bd, 150b; 152b, 153e/bs, 154b,155a/b, *
156bs/bd, 157bs/bd, 158a/b, 159a, 162a/b, 163b, 166, 170b, 171a,180a, 181b, 183a, 186a, 187a/b, 191a. )

O Magnum/Contrasto 41bs, 44a, 45a, 49a, 52b, 58b, 92b, 115b, 127b, 130a/b, 132b, 138a, 143a; 144b, 146a, 148bd, 149, 1504; 151, 152a, 154a, 156a, 158b, â
160a, 161, 164b, 165, 167a/b, 168, 169, 171b, 172b, 173a/bs/bd, 175b, 176ad/b, 177b, 178, 179, 180b, 181a, 183b;, 184,185, 186b, 188a/b,"189b, 190a; 192, ã
193a/b, 194.

O Olympia/Publifoto 24b, 120, 197b, 191b.

O Corbis/Contrasto 80

Onde não estiver expressamente indicado, as imagens são do Arquivo Giunti. Com relação aos direitos de reprodução, o editor se declara plenamente dis:
ponível para atender eventuais expectativas por aquelas imagens de que não tenha sido possível descobrir a fonte.
à
nejéis a (no alto), ac (no alto, ao centro), ad (no alto, à direita), as (alto a sinistra = no alto, à esquerda), b (basso = embaixo), bd (basso a destra = embaixo;
1a
direita), bs (basso a sinistra = embaixo, à esquerda), c (centro da página)
As consequências da derrota da Alemanha guilhermina na
Grande Guerra, os devastadores efeitos da hiperinflação e a
consequente crise econômica, a desagregação dos tradicionais
segmentos da sociedade e do frágil sistema político da República
de Weimar, o desgaste dos equilíbrios decorrentes da Paz de
Versalhes entre os anos 1920 e 1930: estes são os elementos
nos quais se deve situar a ascensão do Partido Nacional-Socia-
lista e a chegada de Hitler ao poder, em janeiro de 1933.
À partir daí, teve início a construção do novo Estado nazista, com
o sistemático uso do terror e o enquadramento das massas sob a
égide de uma disciplina coletiva baseada na discriminação racial.
Em política externa, o Estado totalitário lança o projeto da
“nova ordem europeia” sob a égide da Alemanha nazista.A su-
premacia do Grande Reich e o desígnio de dominação continen-
tal, por meio da aliança com os regimes fascistas, culminaram na
subversão do sistema das relações internacionais e na eclosão
de um conflito que, em poucos anos, se estendeu da Europa para
todos os cantos do mundo.

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9'788576 5 4 9 fá !

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