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PALFREY, Jonh; GASSER, Urs.

Nascidos na era digital:


entendendo a primeira geração de nativos digitais.
Porto alegre: Artmed, 2011.

Letícia Carvalho Belchior E. Fernandes ¹

O livro Nascidos na era digital é uma produção de Palfrey e Urs Gasser, que contaram com a ajuda de
pesquisadores da Faculdade de Direito de Harvard, em Cambridge, e da Universidade de St. Gallen, na
Suiça, os quais fizeram pesquisas e entrevistas, por meio de conversas em formatos digitais, com diversos
estudantes que nasceram depois de 1980, os denominados Nativos Digitais, por terem habilidades
extraordinárias quanto ao uso de tecnologias.

O livro trata de assuntos pertinentes ao mundo digital, principalmente, no que tange à preocupação que
pais e professores devem ter quanto à exposição desses nativos digitais na rede e à responsabilidade
que esses educadores têm de instruí-los na maneira como devem se comportar no ciberespaço. Em treze
capítulos, o livro trata de diversos assuntos que trazem à discussão elementos tais como: a identidade
que é exposta na rede (a própria, a imaginárias ou de um avatar), como os jovens tratam a questão da
privacidade, da segurança de dados expostos nas redes sociais, da pirataria e até movimentos ativistas
e partidários na rede dentre outros que iremos abordar.

Uma questão importante é perceber a lacuna digital que existe muitas vezes entre pais e ou professores
conhecidos como Colonizadores Digitais (pessoas mais velhas que cresceram em um mundo apenas
analógico) ou Imigrantes Digitais (pessoas que aprenderam tarde na vida a mandar e-mails e a usar
as redes sociais), de seus filhos ou alunos denominados Nativos Digitais (são os que só conhecem a
linguagem digital e passam grande parte da vida online, sem distinguir sua identidade entre online e o
offline). Reconhecer essa diferença de geração é importante para que haja uma aproximação no intuito
de quebrar as barreiras da linguagem e da cultura tornando possível conhecer o comportamento dos
Nativos Digitais e equilibrar tomada de medidas efetivas para protegê-los.

Neste livro, os autores ressaltam e distinguem duas formas de identidade: identidade pessoal (coisas
que a pessoas se interessa, atividades às quais dedica) e identidade social (característica proveniente
do hábito familiar, das comunidades com as quais o jovem convive). Na era da internet, com o aumento
de Nativos Digitais, está havendo uma mudança no que significa construir e administrar a própria
identidade. Na era digital, a identidade social pode ser descrita pelas pessoas com as quais o jovem se
associa, através de conexões em redes sociais como MySpacee Facebook. A identidade pessoal online
pode ser caracterizada por meio de um avatar, o que permite ao jovem autorrepresentações que podem
ou não coincidir com sua verdadeira identidade, o que demonstra uma instabilidade pessoal. Essas
conexões promovem alta exposição de informações pessoais, podendo trazer riscos ao jovem pela

Mestranda em Educação Tecnológica no CEFET-MG. Professora da rede privada de ensino.


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alta probabilidade dessas informações serem acessadas por outros que não fazem parte do seu ciclo
de convivência digital, trazendo ao jovem certa insegurança. Essa volatilidade de identidade faz parte
da construção da verdadeira identidade do Nativo Digital, mas é importante que seja acompanhada
por um adulto. A identidade offline que pode ser embasada em uma relação de confiança criada pela
identidade online permitindo uma socialização dentro e fora da rede. Outra questão relevante quanto à
identidade, é que na rede uma pessoa pode criar múltiplas versões da própria identidade, refletindo sua
instabilidade de comportamento e insegurança pessoal.

Todas as informações que são expostas na rede criam um extenso dossiê digital (é toda informação
pessoalmente identificadora associada ao individuo, seja ou não acessível ou revelada a terceiros) de
informações do indivíduo, em especial do Nativo Digital, que muitas vezes publica ou dele são publicadas,
sem nenhuma preocupação, diversas informações que podem, algum dia, em especial na vida adulta,
prejudicá-lo em uma entrevista de emprego, por exemplo. Afinal, na rede, a informação passa por diversas
mãos, e cada parte tem suas próprias regras, podendo compartilhar essa rapidamente. A complexidade
desse fato é que, hoje, não há mais a necessidade de um computador para que isso aconteça, basta
um dispositivo móvel para que esse dossiê seja montado. Uma questão que pode proteger os jovens
quanto às informações postadas na rede é a formulação de uma legislação ponderada, que facilite a
autoproteção das pessoas, não impeça a inovação de tecnologias.

A segurança online é um fator que preocupa os pais de Nativos Digitais e é um risco que muitas vezes
os que estão imersos neste mundo online não percebe. Dois riscos são relevantes quanto se trata de
segurança: primeiro é a intimidação cibernética (dano psicológico) que pode vir da exposição a imagens
prejudiciais como pornografia ou experiências negativas online como bullying virtual. Em segundo
lugar, há o dano físico, que pode ser infligido offline por alguém que encontra sua vítima online. Daí a
importância do acompanhamento e aconselhamento de um adulto quanto à navegação e exposição de
informações na rede. Os autores ressaltam quatro ferramentas que podem ser usadas para mitigar os
riscos de segurança que as crianças enfrentam na internet. Primeiro, trabalhar através da educação o
bom senso no que postar, amigos que deve aceitar. Segundo, colocar as tecnologias digitais nas mãos
das crianças, pais, dos professores, da policia, numa tentativa de minimizar a lacuna digital que existe
entre as gerações e para que os mesmos saibam o que seus Nativos estão postando na rede. Terceiro,
desenvolver normas sociais positivas em torno da vida online. E, por último, o cumprimento da lei tanto
em ambientes online quanto offline.

Analisado as questões quanto à identidade, privacidade e segurança na rede, vale ressaltar que os Nativos
Digitais estão cada vez mais envolvidos com a criação de informação, conhecimento e entretenimento
nos ambientes online (vídeos, blogs, websites, editar arquivos no Wikipédia, remix – uma nova forma
de arte, uma espécie de colagem), e a interatividade entre os usuários amplia essa questão. O aspecto
desfavorável dessa criatividade é a violação da lei dos direitos autorais. Em geral, muitos não pagam pelos
filmes, músicas, livros e, assim, baixam e copiam, sabendo que o que estão fazendo é ilegal, outros não
têm muita certeza, principalmente, quando se trata de uso particular e quanto ao compartilhamento
entre sua rede de contatos. Discute-se muito sobre o que é ou não correto nesse comportamento virtual;
para que não haja dúvida torna-se necessária a criação de leis de direitos autorais claras para reger esse
ambiente tecnológico sem prejudicar os criadores, possibilitando a pais e professores ensinarem sobre
responsabilidades e direitos que os Nativos Digitais têm dentro desse ciberespaço.

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Um problema que os Nativos Digitais vêm enfrentando é o grande acesso à informação. Durante muito
tempo acreditava-se que mais informação é informação melhor; no ambiente virtual é percebido que os
nascidos digitais não sabem escolher bem sua fonte de informação e, normalmente, absorvem tudo que
está online como se fosse correto, sem se preocuparem com a confiabilidade dos dados apresentados
no ambiente virtual.

Cabe a nós, pais e professores, conhecer todas as dificuldades e vulnerabilidades que os nascidos digitais
enfrentam no ambiente virtual e perceber o poder e a atração crescente que a internet proporciona
como fuga e autoexpressão como parte do problema para alguns jovens, que proferem a “segunda vida”
como fuga do real, da exposição que estão quanto à pornografia, a dados não confiáveis, a crimes de
violação de direitos na rede e ensinar, instruir e orientá-los em todo o tempo quanto ao melhor uso
dessas ferramentas digitais.

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