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CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE

POLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO DA


ORDEM PÚBLICA

Direito Administrativo

JULHO-2022

2º CICLO DE ENSINO

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Julho 2022

Sumário

Aula 1 e 2 - Direito Administrativo: Conceito e Princípios Gerais. ..............................................................3

Aula 3 e 4 - Administração Pública: Administração Pública Direta; Administração Pública Indireta.


Regime Jurídico Administrativo....................................................................................................................8

Aula 5 e 6 – Poderes Administrativos. ........................................................................................................11

Aula 7 e 8 – Ato Administrativos: Requisitos; Atributos; Constituição; Extinção dos atos Administrativos
.....................................................................................................................................................................15

Aula 9 e 10 – Agentes Públicos. Responsabilidade Civil do Estado. ..........................................................19

Aula 11 e 12 – Improbidade Administrativa. ..............................................................................................23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................27

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Aula 1 e 2 - Direito Administrativo: Conceito e Princípios Gerais.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Antes de apresentarmos a definição de Direito Administrativo, é de fundamental


importância apontar o caminho percorrido para que este ramo do Direito nascesse e se fizesse
valer, tal qual ocorre atualmente.
Desde o princípio da história da humanidade, a vida em sociedade se apresenta como uma
complexa rede de relacionamentos, onde o conflito é elemento presente em toda relação coletiva.
Não há homem sem confronto, posto que, dentro da natureza humana, todo indivíduo ou
grupo tem por objetivo estabelecer uma situação que lhe favoreça em detrimento das outras
pessoas.
Consequentemente na história do gênero humano, eventuais discórdias foram resolvidas
de diferentes formas, pela “lei do mais forte” até o quadro contemporâneo, em que, na maior
parte do planeta, se instituíram diversos modelos de Estado de Direito, no qual, todos, sem
exceção devem obedecer e cumprir as leis.
Entretanto, tal Estado de Direito tem como um de seus pilares a ideia do Contrato Social,
concebida por Jean Jacques Rousseau, onde é apresentada a concepção de que o Homem abre
mão de sua plena liberdade, se submetendo às regras de convívio social, a fim de que tenha
garantido seus Direitos pelo Estado.
Mas afinal, o que é Estado?

O ESTADO
O Estado é composto pelo seu povo, um território e o exercício da soberania, para o
desenvolvimento de uma sociedade é necessário o estabelecimento de uma estrutura mínima que
garanta direitos e deveres as pessoas. Conforme Milena Dartora Bof indica:
“ Ao analisar esses aspectos, entende-se que o Estado nada mais é do que uma sociedade
constituída por um grupo de indivíduos organizados, como: os grupos familiares, profissionais,
educativos, políticos, religiosos, que buscam objetivos em comum... Além disso, o Estado se
apresenta como uma organização denominada sociedade política. Nessa sociedade existem
normas jurídicas escritas (Constituição Federal, Código Civil, Código Penal, Código de Defesa
do Consumidor, etc...)”.

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O Estado moderno surgiu como fruto das revoluções dos séculos XVIII e XIX, como por
exemplo, a Guerra da Independência dos Estados Unidos da América e a Revolução Francesa.
Resultado dessas correntes é o fato de que o centro do poder passou a ser o povo, ou melhor, o
cidadão, o Estado passa a existir como subordinado da vontade coletiva, tendo como
responsabilidade administrar a vida social utilizando princípios, leis e normas vigentes no País.
E o que seriam esses princípios, leis e o próprio Direito?

PRINCÍPIOS:
As normas por si só não possuem validade, para que se façam valer há de existir a
correlação do que é previsto no ordenamento com a com a vontade social, ou seja, os
representantes públicos devem estabelecer leis e ordens de acordo com os anseios do corpo
social. Esses anseios se denotam através de princípios.
Logo, princípios são orientações, diretivas gerais, a base de uma ciência, conhecimentos
fundamentais com força de lei, oriundas do aspecto político, social e econômico do Estado, que
funcionam como base do ordenamento jurídico, estabelecendo de que forma devem ser criadas,
deliberadas, aprovadas, empregadas e julgadas as leis e a estrutura social.

LEI:
Uma das melhores definições do que significa Lei se encontra nas palavras de Geoffrey
Robertson, que define lei como “um sistema de regras que são criadas e executadas por meio de
instituições sociais ou governamentais para regular comportamentos”. Norma geral e cogente,
que obriga a todos, emanadas por um órgão competente, geralmente o poder legislativo, com
pena de sanções ou não.

DIREITO:
Direito vem do latim “Directum”, que significa aquilo que é certo, reto, correto, justo,
honesto, conforme a regra.
Conforme dito anteriormente o surgimento e desenvolvimento do Direito, e, por
conseguinte, das Leis, se relaciona diretamente com a evolução da sociedade.
Durante toda a história da humanidade, o direito foi compreendido como uma forma de
guia para as condutas adotadas, sendo utilizado como base para se evitar eventuais conflitos, do
mesmo modo que funciona para resolução destes. Porém não se pode pensar nas Leis e, Direito
como elementos fixos no desenrolar da história, pelo contrário, as mudanças e transformações os

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afetam diretamente, uma vez que são vinculados diretamente a valores morais da sociedade em
que se apresentam.
O Direito é uma construção que surge através do conjunto de leis, costumes,
jurisprudência, doutrina, analogia e princípios gerais. Dentro deste conceito cabe destacar a
existência de dois tipos direito, genericamente o direito natural e o direito positivo. Direito
Natural é considerado como aquele que surge com o próprio homem, sem que haja necessidade
de seu registro, essência de uma natureza como, por exemplo, o direito a vida, a integridade
física; enquanto que o direito positivo se manifesta como um direito escrito e estabelecido pelos
homens, através das normas e leis que apontam padrões a serem cumpridos, e potenciais
punições o caso de descumprimento, em síntese. Diferente do direito consuetudinário em que as
regras são definidas pelos costumes e as práticas sociais temos como exemplo o direito inglês.

DIREITO PÚBLICO X DIREITO PRIVADO:


Dentro das transformações apontadas anteriormente, é possível dividir o Direito Positivo
em dois grandes grupos, sendo estes o Direito Público e o Direito Privado.
Nas palavras da Professora Irene Patrícia Nohara, “enquanto o direito público contém
normas que tratam de relações entre o Estado e os administrados, em uma perspectiva que pode
ser vertical, o direito privado diz respeito às relações de utilidade dos particulares e resolve os
problemas de forma horizontal ou igualitária”.
Ou seja, há todo um conjunto de lei e norma que formam o ordenamento jurídico, que
estabelecem o que é o Direito; o direito não se resume a uma só área, não funciona em apenas
um aspecto da vida social, tendo em vista que, conforme já foi dito o Estado tem de elaborar
normas gerais e abstratas, aplicá-las aos casos concretos e dirimir os conflitos resultantes da
aplicação desta, e assim, agir dentro do aspecto público, entre o cidadão e o poder público, e
privado, entre os particulares.
Dentre os diferentes ramos dentro do campo do Direito Público e Privado, são exemplos:
Direito Penal: que estabelece crime e contravenções, e suas possíveis punições;
Direito Civil: apresenta aspectos dos interesses individuais, relacionados a obrigações,
bens, propriedade, sucessões, direito das pessoas, dentre outros;
Direito Tributário: rege o estabelecimento e funcionamento de tributos em âmbito
nacional.
Dentro destas esferas existem subáreas, como Direito do Consumidor, com conceitos e
aplicações próprias; cabe frisar ainda que além dos planos citados acima existem diversos outros

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dentro do ordenamento jurídico, como direito Ambiental, Trabalhista, Eleitoral, constitucional,


administrativo etc...
Retomando ao tema desta apostila, e compreendendo a multiplicidade do Direito e suas
características de estruturação social, se faz necessário apresentar o conceito de Direito
Administrativo.

DIREITO ADMINISTRATIVO:
O direito administrativo representa uma área do direito cujas normas e princípios regulam
o exercício das funções da Administração Pública, ou seja, o próprio funcionamento do Estado.
No Brasil não há uma codificação do direito administrativo, estando suas normas básicas
expressas na Constituição, principalmente no artigo 37 e seguintes, e demais normas de sua
natureza distribuídas pelo ordenamento jurídico pátrio.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello “o direito administrativo, é o ramo do direito
público que disciplina a função administrativa, bem como, as pessoas e órgãos que a exercem”.

PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO:


Reforçando o contido anteriormente, podemos afirmar que princípios são “normas de
caráter geral, com elevada carga valorativa, que fundamentam as regras jurídicas.” (Nohara,
2017).
Neste contexto, Constituição Federal, no caput do artigo 37, estabelece de forma expressa
alguns princípios básicos para a atuação a Administração Pública:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)”.

Portanto, tais princípios expressos na Constituição Federal são à base de toda atividade
estatal.
Vamos ver melhor cada um deles:
-Legalidade: O princípio da legalidade impõe a Administração Pública o dever de agir
conforme o estabelecido pela lei, ou seja, o agente público, como representante da administração,
só pode agir segundo a lei, e de forma alguma contrário a ela ou além do que lhe é imposto. Este
é o princípio essencial para o Estado de Direito, uma vez que a lei é a expressão da vontade do
cidadão, a qual deve ser satisfeita pelos atos da estrutura estatal. A lei em sentido amplo se

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divide em normas constitucionais, leis ordinárias, leis complementares, lei delegada, leis
municipais, resolução, ordem de serviço e etc.....
Por exemplo: a existência da abordagem policial encontra embasamento em diversos
diplomas legais, sendo oriunda de um conjunto de regulamentações. A existência da Polícia
Militar está presente no artigo 144, inciso V, da Constituição Federal; já o Poder de Polícia,
acha-se no art. 78 do Código Tributário Nacional, enquanto que a abordagem pessoal figura no
parágrafo 2º, do artigo 240 e no caput, do art. 244, ambos do Código de Processo Penal;
-Impessoalidade: nenhum ato da Administração Pública pode ser vinculado à vontade
individual do agente que o pratica, não cabendo interesse pessoal de qualquer forma. Para Celso
Bandeira de Mello, a impessoalidade denota a obrigação da Administração em tratar todos os
administrados sem discriminações benéficas ou prejudiciais.
Por exemplo: Sd PM Stive decide abordar o Sr. José Malandro, baseado no fato de que o
cidadão é seu vizinho e ambos possuem desentendimentos na esfera pessoal, ou seja, nesse
cenário o policial irá fazer a abordagem por motivos particulares, atingindo o princípio da
impessoalidade, e, também, o princípio tratado anteriormente, da legalidade. Outro exemplo é do
prefeito de uma cidade que na placa de reforma de uma rua coloca o seu nome como forma de
propaganda política.
-Moralidade: o princípio da moralidade impõe aos agentes públicos o dever de atuação
ética e proba, baseado na ideia de boa-fé. Segundo Di Pietro, a moral administrativa corresponde
ao comportamento da Administração Pública esperado pelos administrados, para a execução dos
fins de interesse coletivo, um conjunto de valores morais que deverá seguir como guia para os
procedimentos estatais.
Por exemplo: Tício tem a intenção de adentrar as fileiras da Polícia Militar do Estado de
São Paulo, todavia, durante o processo de admissão, é verificada que o rapaz possui uma
tatuagem valorizando a violência ou de determinada facção criminosa, e por isso, ele é eliminado
do concurso. Não há lei prévia que impeça a sua admissão, não obstante, sua tatuagem não é
moralmente aceita para a função policial-militar.
-Publicidade: Tal princípio representa a transparência da Administração Pública, no
sentido de que seus atos admnistrativos devem ser públicos para que o cidadão possa fiscalizar a
atuação estatal, contribuindo assim para a segurança e estabilidade das relações jurídico-
administrativas.
Por exemplo: A publicação contínua de índices criminais visa atender tal princípio,
permitindo não só as forças de Segurança Pública, mas toda a sociedade, a adoção de meios para
a melhoria do estado de segurança social.

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-Eficiência: Tal princípio impõe que a atividade administrativa tenha de ser exercida com
diligência, excelência e alto rendimento, tendo em vista a busca por uma maior produtividade e
redução dos desperdícios de dinheiro público. É conhecido também, como princípio da qualidade
dos serviços públicos.
Por exemplo: A instauração de Boletim de Ocorrência Policial Militar Eletrônico
possibilita uma maior agilidade no atendimento ao cidadão, bem como, a redução de gastos e
gerenciamento efetivo do desenvolvimento da atividade operacional e administrativa.
Além destes princípios, explícitos na Constituição Federal, há, também a existência de
princípios implícitos na Carta Magna, com a Supremacia do Interesse Público sobre o particular,
a indisponibilidade do interesse público, a Presunção de Legitimidade ou de veracidade, a
Motivação, Razoabilidade e Proporcionalidade, Contraditório e Ampla Defesa, a Segurança
Jurídica, a Continuidade do Serviço Público, a Especialidade, a Hierarquia, a Precaução e a
Sindicabilidade.
Além de todos os princípios supracitados, temos a previsão de outros, específicos, no
artigo 111 da Constituição Estadual Paulista, da seguinte maneira:
“artigo 111 – A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos
Poderes do Estado, obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade, razoabilidade, finalidade, motivação, interesse público e eficiência.”
Desta forma concluímos estas duas aulas iniciais.

Aula 3 e 4 - Administração Pública: Administração Pública Direta; Administração Pública Indireta.


Regime Jurídico Administrativo.

Já vimos o conceito de Estado, Leis, Direito Administrativo e seus princípios, entretanto


foi possível perceber que o termo “Administração Pública” surgiu em diversos momentos no
texto, sendo necessário, neste momento, partirmos para a compreensão do que é a Administração
Pública.

-ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:
Administração pública é na concepção de José Afonso da Silva:
“o conjunto de meios institucionais, financeiros e humanos preordenados à execução das
decisões políticas. Essa é uma noção simples de Administração Pública que destaca, em
primeiro lugar, que é subordinada ao poder político, em segundo lugar, que é meio e, portanto,
algo de que se serve para atingir fins definidos e, em terceiro lugar, denota os seus dois

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aspectos: um conjunto de órgãos a serviço do Poder político e as operações e atividades


administrativas”.
Seguindo a linha do doutrinador supracitado, podemos dividir a Administração Pública
em dois sentidos: estrito (objetivo, material e imaterial), e amplo (subjetivo, formal ou orgânico).
Em sentido estrito, o conceito de Administração Pública envolve todo o aparelhamento
estatal voltado à execução das políticas públicas. Nas palavras de Hely Lopes Meireles, “a
administração não pratica atos de governo; pratica tão-somente, atos de execução, os chamados
atos administrativos, com poderes de decisão limitados a atribuições de natureza executiva,
conforme definidos em lei”, ou ainda, segundo José dos Santos Carvalho Filho,” Trata-se da
própria gestão dos interesses públicos executada pelo Estado, seja através da prestação de
serviços públicos, seja por sua organização interna, ou ainda pela intervenção no campo
privado, algumas vezes até de forma restritiva (poder de polícia)”.
Portanto, Administração Pública em sentido estrito significa o planejamento e a execução
dos atos necessários para atender ao interesse público, com por exemplo, a realização de
reuniões de planejamento para operar em manifestações populares e o trabalho operacional no
dia da atividade, com o emprego de efetivo apto a garantir a segurança dos manifestantes e
demais cidadãos, que não possuem relação direta com o direito exercido por terceiros.
Já no sentido amplo, abrange os órgãos superiores de governo que exercem função
política, da mesma forma que os órgãos, agentes e entidades que exercem função meramente
administrativa, isto é, de execução dos programas de governo. Ou seja, abrange tanto os órgãos
governamentais, que dirigem e comandam entes administrativos, que executam tais planos.
São considerados órgãos governamentais federais, ou públicos federais, os três poderes
previstos na Constituição Federal, Executivo, Legislativo e Judiciário, e as entidades que lhe são
subordinadas, como Ministérios, Secretarias, Tribunais, dentre outros.
Em âmbito Estadual Bandeirante podemos apontar também, os três poderes estipulados,
Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como, demais instituições vinculadas, como Defensoria
Pública, Secretaria da Segurança Pública, Companhia de Trens Metropolitanos, Polícia Militar
do Estado de São Paulo, etc....

-ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA:


Quando analisamos a Administração Pública em seu sentido amplo, subjetivo, formal ou
orgânico, encontramos duas subdivisões: Administração Pública Direta e Indireta.
A Administração Pública Direta corresponde às pessoas jurídicas políticas, isto é, União,
Estados, Territórios, Distrito Federal e Municípios, e órgãos sem personalidade jurídica própria

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que integram essas pessoas, aos qual a lei confere o exercício de funções administrativas; a
Administração Pública Direta, por meio de seus Ministérios e Secretarias, exerce supervisão
sobre a Administração Pública Indireta, que, conforme será reiterado logo a seguir, possui
personalidade jurídica e sua estrutura hierárquica própria (Nohara, 2017).
Exemplos de entes da Administração Pública Direta: União, Ministério da Saúde, Estado,
Secretaria da Educação, Município, Secretaria da Segurança Pública e etc...
Já a Administração Pública Indireta, no sentido utilizado pela Constituição e pelo
Decreto-lei nº 200/67, representa o conjunto de pessoas jurídicas, de direito público ou privado,
criadas por lei, para desempenhar atividades assumidas pelo Estado, seja como serviço público,
seja a título de intervenção no domínio econômico. Envolve a chamada “descentralização” por
serviços das atividades estatais, pois a pessoa política faz nascer, por lei, outro ente com
personalidade jurídica própria. Compreendem as autarquias, as fundações instituídas pelo poder
público, as sociedades de economia mista, as empresas públicas e os consórcios (Nohara, 2017).
Exemplos de entidades da Administração Pública Indireta são: Caixa Beneficente da
Polícia Militar, Centro Paula Souza, Fundação Procon-SP, Fundação Casa, Banco do Brasil
etc....

-REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO:


Para o funcionamento da Administração Pública Direta e Indireta, há a necessidade de
normatização específica, sendo esta o Regime Jurídico Administrativo que representa a ordem
jurídica vinculada ao Direito Administrativo onde há o objetivo de se estabelecer a concordância
entre a satisfação dos interesses sociais e a salvaguarda dos direitos individuais, e para isso, a
Administração Pública tem que seguir um conjunto de princípios e normas, inseridos na ordem
jurídica já declarada, a fim de cumprir sua missão constitucional.

-REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO PÚBLICO:


Para que possamos entender melhor tal conjunto é preciso compreender que a
Administração Pública, e diretamente o agente público está sujeito a prerrogativas e restrições
diferentes do direito privado. São exemplos dessas prerrogativas que caracterizam o regime
jurídico administrativo a autoexecutoriedade, a presunção de legitimidade e veracidade dos atos
administrativos, a autotutela, o poder de expropriar ou de requisitar bens ou serviços, a
possibilidade de alteração ou de rescisão unilateral dos contratos, a imunidade tributária, os
prazos dilatados em juízo e o processo especial de execução (Nohara, 2017).

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As prerrogativas à atuação da Administração Pública ocorrem devido à observância da


Supremacia do Interesse Público sobre o particular, sendo representadas, por exemplo, pelos
seguintes itens: necessidade de realização de concurso público para seleção de pessoal, o
imperativo da licitação para a celebração de vários contratos, a necessidade de dar publicidade
aos atos administrativos e a submissão à legalidade administrativa, isto é, a obrigatoriedade de
previsão legal autorizando a atuação administrativa. A observância dos princípios do Direito
Administrativo é também restrição a que o Poder Público se submete em nome do regime
jurídico administrativo (Nohara, 2017).

-REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO PRIVADO:


Conforme citado em aula anterior, a Administração Pública se divide em Direta e
Indireta, sendo que a indireta possui entes com personalidades jurídicas próprias, tais entidades,
como as empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas, consórcios
públicos, entidades paraestatais, atuam tanto no direito administrativo público, como no privado,
quando, por exemplo, realizam concurso público para seleção de pessoal, atuam no direito
público e quando no direito privado no caso das relações comerciais, por exemplo.
Desta forma, concluímos estas duas aulas.

Aula 5 e 6 – Poderes Administrativos.

Para que a Administração Pública possa exercer a sua função se faz necessária a
utilização de elementos que permitam tal empreitada; deve haver a capacidade para fazer o
trabalho necessário, revestida das características que outorgam o controle dos atos. Tal atributo é
conhecido como Poder Administrativo.
O Direito Administrativo prevê a existência de poderes que concedem aos órgãos
públicos a aptidão para o exercício de suas atividades, a fim de atender o interesse público e
permitir o funcionamento da sociedade constituída.
Os Poderes Administrativos permitem que o público se sobressaia sobre o privado, tendo
em vista o benefício do coletivo sobre o individual na vida social. Conforme ensina Carvalho
Filho, pode-se conceituar o poder administrativo como o “conjunto de prerrogativas de direito
público que a ordem jurídica confere aos agentes administrativos para o fim de permitir que o
Estado alcance seus fins”.
De regra, os poderes administrativos são conferidos por lei e destinam-se a equipar o
administrador público, tencionando o objetivo finalístico a que se presta o Estado: a satisfação

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dos interesses públicos; diferem, assim, dos poderes políticos (Legislativo, Judiciário e
Executivo), que são considerados poderes estruturais, pois formam a estrutura do Estado,
estabelecida na Constituição.
Esclarecido o que é um poder administrativo, veremos agora quais são os seus tipos.

-TIPOS DE PODER ADMINISTRATIVO:


Os principais poderes administrativos são o Poder Vinculado, Discricionário,
Hierárquico, Disciplinar, Regulamentar e de Polícia.

-PODER VINCULADO:
O poder vinculado se relaciona com a prática de atos vinculados, isto é, atos que devem
seguir exatamente, o que está previsto em lei. Nos atos vinculados não cabe juízo de
conveniência e oportunidade por parte do administrador público, do agente público, pois a lei
expressa todos os elementos necessários a sua prática. O agente, então, deve agir nos exatos
termos e limites previstos na lei, sem margem para escolha de conduta diversa. Ex. abordagem
de fiscalização de trânsito em que o condutor está conduzindo o veículo com o licenciamento
atrasado, deve-se realizar a autuação de trânsito.

-PODER DISCIRICIONÁRIO:
A lei não é capaz de estabelecer todas as ações a serem adotadas pelo agente público.
Assim, em várias situações ela lhe oferece a possibilidade de valoração da conduta, isto é,
permite ao agente avaliar a conveniência e oportunidade dos atos que vai praticar.
O poder discricionário, portanto, é aquele que confere prerrogativa para a Administração
praticar atos discricionários, isto é, atos cuja execução admite certa margem de flexibilidade por
parte dos agentes, os quais, dessa forma, podem usar seu juízo de valor para escolher, entre
várias condutas possíveis previstas em lei, a que traduz maior conveniência e oportunidade para
o interesse público.
Esse poder de escolha, contudo não deve ser exercido com arbitrariedade, e sim aplicado
dentro dos limites da lei, com vistas ao atendimento dos interesses da coletividade.
Serve de amostra a fundada suspeita na busca pessoal, durante a abordagem policial; a lei
não define o que é fundada suspeita, todavia, estabelece sua existência e possibilidade no
parágrafo 2º, do artigo 240, do Código de Processo Penal, cabendo ao policial definir a
oportunidade e conveniência de sua utilização. Como por exemplo um indivíduo que em dia de
extremo calor está utilizando blusa, indivíduo conduzindo uma bicicleta e levando outra,

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indivíduo carregando uma televisão nas costas em alta madrugada, pode ser produto de furto, a
fundada suspeita é subjetiva de cada policial, mas deve ser fundamentada para fiel aplicação da
lei.

-PODER HIERARQUICO:
Para o funcionamento eficiente da atividade administrativa há a necessidade de que seja
estipulada uma distribuição de competências e ordenação entre órgãos, cargos e atribuições,
sendo assim, se cria uma relação de coordenação e subordinação entre diversos níveis, ou seja, se
estabelece uma relação de hierarquia.
Nesse contexto, o poder hierárquico é aquele que permite ao superior hierárquico exercer
determinadas prerrogativas sobre seus subordinados, especialmente de dar ordens, fiscalizar,
controlar, aplicar sanções, delegar e avocar competências. Na Polícia Militar a hierarquia, junto
com a disciplina, são as colunas basilares da Instituição.

-PODER DISCIPLINAR:
O poder disciplinar representa a possibilidade que a administração possui de aplicar
sanções àqueles que, submetidos a uma ordem administrativa interna, cometem infrações. No
exercício do poder disciplinar, a Administração Pública pode reprimir internamente as infrações
funcionais de seus servidores, e, até, punir infrações administrativas cometidas por particulares a
ela ligados mediante algum vínculo específico, como por exemplo a celebração de contrato,
convênio do particular com a Administração Pública.
O Poder disciplinar possui relação com o poder hierárquico, mas não pode ser confundido
com ele. No uso do poder hierárquico, a Administração Pública organiza as suas funções
executivas; já no uso do poder disciplinar ela controla o desempenho dessas funções e a conduta
interna de seus servidores, responsabilizando-os pelas faltas cometidas. Quando um policial é
punido em um Procedimento Disciplinar (PD) por trabalhar mal, está sendo exercido o poder
disciplinar.

-PODER REGULAMENTAR OU NORMATIVO:


Poder regulamentar ou normativo é a prerrogativa conferida a Administração Pública de
editar atos gerais para complementar as leis e possibilitar sua efetiva aplicação. Seu alcance é
apenas de norma complementar à lei, não pode, pois, a Administração, alterá-la a pretexto de
estar regulamentando-a. Se o fizer, cometerá abuso de poder regulamentar, invadindo a

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competência do Legislativo. São atos normativos: os regulamentos, as instruções, as portarias, as


resoluções, os regimentos, as ordens de serviço e etc...
Para tomar como exemplo, em âmbito estadual, temos a resolução SSP-57/2015 que
dispõe sobre o atendimento e o registro de ocorrências, estabelecendo que os policiais militares e
civis de serviço terão atendimento preferencial em todas as ocorrências criminais apresentadas a
Polícia Civil. Tal resolução foi estabelecida pela Secretaria da Segurança Pública do Estado de
São Paulo e funciona como uma complementação à legislação vigente.

-PODER DE POLÍCIA:
O poder de polícia é dirimir direito de outrem em favor da coletividade é uma aptidão de
que dispõe a Administração Pública para subordinar ou restringir o uso de bens, o exercício de
direitos e a prática de atividades privadas, sempre em busca da proteção da Supremacia do
Interesse Público sobre o particular, o poder de polícia não é atributo apenas da polícia civil ou
militar, mas de toda a administração pública, dentro da competência de cada órgão ou
autoridade.
Representa ainda, toda a atividade administrativa que limita ou interfere no interesse
privado com o fim de ajustá-lo ao interesse público, como por exemplo, a expedição de alvarás
para construções, a interdição de estabelecimentos em situação irregular, a fiscalização
ambiental, da aplicação de sanção pelo descumprimento de normas de trânsito e etc..
O poder de polícia possui previsão legal no artigo 78 do Código Tributário Nacional
(CTN):
“ Art. 78 Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que,
limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou obtenção
de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, higiene, à ordem, aos costumes,
à disciplina da produção e do mercado, no exercício das atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do poder público, à tranquilidade pública ou o respeito à propriedade
e aos direitos individuais e coletivos”.

O artigo acima aponta o fato de que o Poder de Polícia tem como função limitar ou
disciplinar direito do particular quando este for de encontro ao interesse coletivo, seja qual for o
interesse coletivo que seja afrontado.
Nesta mesma linha de raciocínio Hely Lopes Meirelles, acrescenta o Poder de
Polícia como:

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“o mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração Pública para conter os


abusos do direito individual. Por esse mecanismo, que faz parte de toda a Administração. O
Estado detém a atividade dos particulares que se revelar contrária, nociva ou inconveniente ao
bem-estar social, ao desenvolvimento e a segurança nacional.”

É possível perceber que, quando o Poder de Polícia for utilizado ele condicionará, ou
restringirá as atividades particulares em favor do interesse público. Uma interdição de
estabelecimento pela vigilância sanitária, por exemplo, busca evitar que os desleixos do
proprietário em relação ao cumprimento das normas de higiene prejudiquem a saúde da
população; já as fiscalizações de trânsito visam prevenir acidentes causados por condutores que
trafegam em alta velocidade, embriagados, sem habilitação; a abordagem policial de fiscalização
ou de fundada suspeita visa combater a criminalidade, manter o cumprimento da lei e da ordem
pública, interferindo diretamente na liberdade de ir e vir do cidadão, em benefício do interesse
social e etc....
Deve ficar claro que, ao exercer o Poder de Polícia, a Administração está praticando um
ato administrativo, sujeito, portanto, às regras que regem as demais atividades da Administração,
inclusive ao controle de legalidade pelo Poder Judiciário.

ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA:


O Poder de Polícia possui alguns atributos, sendo estes a Discricionariedade,
Autoexecutoriedade e Coercibilidade.
A discricionariedade representa certa margem de liberdade que o poder público possui
para agir, seguindo os critérios de conveniência e oportunidade, e, claro, seguindo os limites
estabelecidos em lei e os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
A autoexecutoriedade constitui-se na possibilidade de que certos atos administrativos
sejam executados de forma imediata e direta pela própria Administração, independentemente de
ordem judicial ou apreciação do poder judiciário.
A coercibilidade é a possibilidade da Administração Pública, com base no exercício do
poder de policia, de impor medidas ao administrado, inclusive mediante o emprego da força e
independentemente de ordem judicial.
Desta forma, concluímos estas duas aulas.

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Aula 7 e 8 – Ato Administrativos: Requisitos; Atributos; Constituição; Extinção dos atos


Administrativos

ATO ADMINISTRATIVO

No Direito, quando a manifestação da vontade humana produz efeitos jurídicos, é dito


que se formou um ato jurídico. Se este ato resulta das práticas da Administração Pública, o que
se tem é um ato administrativo. Os atos administrativos constituem a forma básica pela qual a
Administração Pública manifesta a sua vontade. Tais atos materializam o exercício da função
administrativa, a qual é típica do Poder Executivo, mas que, também, pode ser exercida pelos
demais poderes.
Segundo Maria Silvia Di Pietro, ato administrativo é a “declaração unilateral do Estado
ou de quem o represente que produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob o
regime jurídico de Direito Público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”.
Para que se caracterize o ato administrativo, e este se torne válido há a necessidade de
alguns requisitos:

REQUISITOS:
Os requisitos dos atos administrativos são: competência, finalidade, forma, motivo e
objeto.
Competência: é o poder atribuído ao agente para a prática do ato; a lei é a fonte originária
da competência, mas não é exclusiva, já que, também, deriva de normas administrativas
infralegais (atos de organização), como Regimentos Internos e Resoluções.
Finalidade: é o resultado pretendido pela Administração com a prática do ato
administrativo. Como a finalidade do ato é sempre aquela prevista na lei, não há espaço para o
administrador agir diferente, ou seja, a finalidade é sempre um elemento vinculado. A prática do
ato, por vezes, pode ser discricionária, todavia, o resultado é sempre vinculado, porque busca
atingir o que e lei determina a Supremacia do Interesse Público, respeitando os Direitos
Humanos. A finalidade da administração pública pela teoria do gerencialismo é o atendimento
do interesse público.
Forma: é o modo como o ato administrativo se exterioriza, isto é, o modo que o agente
público apresenta sua ação no mundo. De regra, os atos administrativos devem ter a forma
escrita; entretanto, existem atos administrativos praticados de forma não escrita, a exemplo de
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ordens verbais, gestos, apitos, sinais sonoros ou luminosos (semáforos de trânsito), placas
(proibido fumar, proibido estacionar, e etc...). Esses elementos não escritos expressam uma
ordem da Administração Pública (uma manifestação de vontade) e, com tais, são considerados
atos administrativos. Frise-se, porém, que são meios excepcionais de exteriorização do ato, que
atendem situações especiais.
Motivo: é o pressuposto de fato e de direito que serve de fundamento do ato
administrativo. Ou seja, são as razões que justificam a prática do ato. Por exemplo, no ato de
punição do servidor público, o motivo é a infração que ele praticou. Todo ato administrativo
deve ter um motivo lícito, ou seja, baseado na lei. Não é permitido que um ato seja feito sem
nenhum fundamento. O motivo deverá ostentar relação entre o objeto e a finalidade, senão, será
nulo.
Objeto: é o efeito jurídico imediato que o ato produz, ou seja, o objeto representa o
direito que surgiu, mudou, extinguiu devido ao ato administrativo. Segundo Maria Silvia Di
Pietro, o objeto do ato administrativo deve ser lícito (conforme a lei), possível (realizável no
mundo dos fatos e do direito), certo (definido quanto ao destinatário, aos efeitos, ao tempo e ao
lugar), e moral (em consonância com os padrões comuns de comportamento, aceitos como
corretos, justos e éticos).

Definidos os requisitos do ato administrativo, passemos agora a apresentação de seus


atributos.

ATRIBUTOS:
O ato administrativo constitui a exteriorização da vontade estatal e, por isso, é dotado de
determinadas características não presentes nos atos jurídicos em geral. Tais características são
inerentes ao ato administrativo, e são conhecidos como atributos.
Os atributos do ato administrativos são a Presunção de Legitimidade,
Autoexecutoriedade, Tipicidade e Imperatividade.

Presunção de legitimidade:
A presunção de legitimidade diz respeito à conformidade do ato com a lei; por esse
atributo, presumem-se até prova em contrário, que os atos administrativos foram emitidos com
observância da lei. Inerente à presunção de legitimidade, têm-se a presunção de veracidade, que
diz respeito aos fatos; em decorrência desse atributo, presumem-se verdadeiros os fatos alegados
pela Administração para a prática de um ato administrativo, até prova em contrário

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.
Autoexecutoriedade:
A autoexecutoriedade é a prerrogativa de que certos atos administrativos sejam
executados imediata e diretamente pela própria Administração, inclusive mediante o uso de
força, independentemente de ordem ou autorização judicial prévia. A autoexecutoriedade é
frequentemente utilizada no exercício do Poder de Polícia. Exemplos conhecidos do uso dessa
prerrogativa são os da destruição de bens impróprios para o consumo e a demolição de obra que
representa risco de desabamento. Verificada a situação que provoca a execução do ato, a
autoridade administrativa de pronto a executa, ficando, assim, resguardado o interesse público.
Tipicidade:
É o atributo pelo qual o ato administrativo deve corresponder a figuras definidas
previamente pela lei como aptas a produzir determinados resultados.
Esse atributo decorre diretamente do princípio da legalidade, impedindo que a
Administração pratique atos inominados, vale dizer, atos sem previsão legal; afinal, para cada
finalidade a ser perseguida pela Administração o ordenamento jurídico estabelece previamente o
ato específico (típico). A tipicidade impede, também, a prática de atos totalmente discricionários
(que seriam na verdade arbitrários), pois a lei, ao prever o ato, já define os limites em que a
discricionariedade pode ser exercida.
Imperatividade:
É o atributo pelo qual os atos administrativos se impõem a terceiros, independentemente
da sua concordância, criando obrigações ou impondo restrições. O atributo da imperatividade
decorre diretamente do princípio da supremacia do interesse público sobre o particular.
Por exemplo, a Administração, nos termos da lei, pode determinar a interdição de
determinado estabelecimento comercial, independentemente da anuência do proprietário. Este
ato é dotado de imperatividade.

EXTINÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO:


O ato se torna válido quando preenche seus requisitos, e durante sua vigência possui
atributos que garantem o seu cumprimento, todavia, em determinado tempo o ato será extinto.
Um ato administrativo extingue-se por:
Cumprimento de seus efeitos (extinção natural): o ato administrativo atende a finalidade
para o qual foi criado. por exemplo, o gozo de férias pelo servidor, a execução da ordem de
demolição de uma casa, a chegada de um termo final ao ato, e etc.....

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Desaparecimento do sujeito ou do seu objeto: por exemplo a concessão de licença para


tratar de interesse particular a servidor que, posteriormente, vem a falecer; a permissão para uso
de bem público que vem a ser destruído por catástrofe natural.
Retirada, que abrange:
- Revogação: em que a retirada se dá por razões de conveniência e oportunidade;
- Anulação ou invalidação: se dá por razões de ilegalidade no ato;
- Cassação: em que a retirada ocorre pelo descumprimento de condição fundamental para
que o ato pudesse ser mantido; por exemplo, ultrapassar o número máximo de infrações de
trânsito permitido em um ano, fazendo com que o infrator tenha a sua habilitação cassada.
- Caducidade: quando a retirada se dá porque uma norma jurídica posterior tornou
inviável a permanência da situação que antes permitia tal ato. O exemplo dado é caducidade da
permissão para explorar parque de diversões em local que, em face da nova lei de zoneamento,
tornou-se incompatível com aquele tipo de uso.
- Contraposição: que se dá pela edição de ato posterior cujos efeitos se contrapõem ao ato
anteriormente emitido. É o caso da exoneração do servidor que tem efeitos contrapostos à
nomeação.
-Renúncia: pela qual se extinguem os benefícios do ato administrativo porque o próprio
beneficiário abriu mão de uma vantagem que desfrutava. É o exemplo, do servidor inativo que
abre mão da aposentadoria para reassumir cargo na Administração.
Obs: é importante citar que a anulação e a revogação são as principais modalidades de
extinção do ato administrativo, vide súmulas 346 e 473 do Supremo Tribunal Federal.
Súmula 346 do STF: “A Administração Pública pode declarar a nulidade de seus
próprios atos.” (Anulação).
Súmula 473 do STF: “A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados
de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em
todos os casos a apreciação judicial.” (Revogação).

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Aula 9 e 10 – Agentes Públicos. Responsabilidade Civil do Estado.

AGENTES PÚBLICOS

Durante este curso temos falado muito de Administração Pública, entretanto, esta
entidade não é um ser vivo e necessita que pessoas exerçam suas atividades, essas pessoas são os
agentes públicos, que dentro de suas atribuições possuem subdivisões, sendo estas: agentes
políticos, servidores públicos, militares e particulares em colaboração com o poder público.

Agentes Políticos:
Segundo Hely Lopes Meirelles “São os componentes do governo em seus primeiros
escalões, investidos de cargos, funções, mandatos ou comissões, por nomeação, eleição,
designação ou delegação para o exercício de atribuições constitucionais.”
Pode-se dizer que os agentes políticos são os componentes do Poder Público que ocupam
os escalões superiores, responsáveis por definir as diretrizes da atuação governamental. São
exemplos: o Presidente da República, governadores, prefeitos, ministros, secretários, senadores,
deputados, vereadores, magistrados em geral, promotores de justiça, representantes diplomáticos
e, ainda nas palavras do grande jurista Hely Lopes Meirelles “demais autoridades que atuem
com independência funcional no desempenho de atribuições governamentais, judiciais ou quase
judiciais, estranhas ao quadro do serviço público.”

Servidores Públicos:
São as pessoas físicas que prestam seu serviço a Administração Pública com vínculo de
emprego, mediante remuneração paga pelo erário.
Se dividem em:
-Servidor público estatutário: aqui o agente se sujeita ao regime estatutário do órgão para
o qual presta seu serviço. O ocupante de cargo público é considerado servidor público
estatutário.
-Empregado público: são os considerados segundo as regras da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), todavia, se sujeitam as normas constitucionais válidas para os outros agentes
públicos, como por exemplo, a necessidade de realizar concurso público para a sua admissão.
-Servidores temporários: são aqueles contratados para determinado período de tempo, a
fim de suprir necessidade excepcional de interesse público, conforme o inciso IX, do artigo 37,
da Constituição Federal.

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Militares:
Aqui se faz necessário seguir os apontamentos da Constituição Federal de 1988, que em
seu parágrafo 3º e caput do art. 142 estabelece que os militares sejam aqueles que prestam
serviço às Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), e no artigo 42 indica que também
são militares os policiais militares e membros do Corpo de Bombeiros dos Estados, Distrito
Federal e dos Territórios (Nohara, 2017).
Os membros das forças armadas respondem a estatuto de âmbito federal, enquanto que os
militares dos Estados submetem-se aos estatutos específicos de cada ente federativo.
Segundo a ilustríssima jurista Irene Patrícia Nohara:
“Antes da Emenda Constitucional nº 18/98, os militares eram considerados servidores
públicos. Atualmente, eles se sujeitam a regime jurídico próprio, e as normas dos servidores
públicos só lhe são aplicáveis em face de expressa previsão legal nesse sentido, como ocorre no
art. 142, parágrafo 3º, inciso VIII, da Constituição Federal, que determina a aplicação do
disposto no art. 7º, VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, XI, XIII, XIV e XV,
abrangendo, respectivamente: as garantias de décimo-terceiro salário; salário família; férias
anuais remuneradas; licença à gestante; licença paternidade; assistência gratuita a filhos e
dependentes em creches; limite de remuneração e subsídio; vedação de vinculação de espécies
remuneratórias para o serviço público; vedação de acréscimos pecuniários para fins ulteriores;
e irredutibilidade de subsídios e vencimentos. Os militares dos Estados, Distrito Federal e
territórios fazem jus às mesmas vantagens, acrescidas das disposições dos arts. 14, parágrafo
8º, e 40. Parágrafo 9º, referentes à elegibilidade do militar e à contagem de tempo para a
aposentadoria (cf. art. parágrafo 1º, CF). “

Particulares em colaboração com o Poder Público:


São pessoas físicas que prestam serviço à Administração Pública, sem qualquer vínculo
empregatício, que podem ou não receber remuneração, e que realizam atividade ou função
pública na seguinte conformidade:
-Requisição Estatal: para executar missão de interesse público. Exemplo: ser jurado, ser
mesário e etc...
-Por Conta Própria: quando “gestores de negócios públicos, que, em situações de
emergência (epidemia, incêndio, enchente, e etc...) assumem espontaneamente determinada
função pública para acudir necessidades prementes”. (Nohara, 2017).

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-Delegação do Poder Público: são as empresas concessionárias de serviço público, ou


outros que pratiquem atos de força oficial e que sejam remunerados pelo consumidor da
atividade. Exemplo: notário, leiloeiro, e etc...

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO:

Dentro do contexto de agente público nos cabe verificar o que ocorre no caso da
necessidade de sua responsabilização pelos atos praticados.
Responsabilidade representa a assunção a ser avaliada e entendida é a do Estado, e,
consequentemente, dos agentes públicos que o representam.
Existem três tipos de responsabilidade: a administrativa, a penal, e a civil; em resumo a
responsabilidade administrativa corresponde à verificação, e eventual sanção de infração as
normas administrativas, enquanto que a responsabilidade penal surge da prática de crimes e
contravenções penais, previstas em legislação, e a responsabilidade civil sucede das infrações às
normas de natureza civil, dando origem à obrigação de reparação do dano ou prejuízo causado a
terceiro.
A responsabilidade do Estado é sempre civil e tem como pressuposto a ocorrência de um
dano (prejuízo) material ou moral. Quando estiver caracterizada a responsabilidade civil é
cabível sanção, sendo esta a de indenização, que é o montante pecuniário necessário para reparar
os prejuízos causados pelo responsável.
No Brasil adotamos a teoria do Risco Administrativo que:
“Baseia-se no risco que o Estado causa a seus administrados. A administração tem
obrigação de indenizar a vítima pelo ato danoso e injusto que lhe for causado, não sendo
necessário à vítima provar culpa dos agentes ou falta de serviço. Para que surja a
responsabilidade, mister se faz que a vítima comprove que sofreu um dano e que ele é injusto,
Porém, se comprovado, pelo poder público, que a vítima teve culpa a indenização será
amenizada ou excluída”. (DireitoNet, 2004).
Neste cenário a Constituição Federal disciplina que o Estado é civilmente responsável
pelos danos que seus agentes causarem a terceiro (CF, art. 37, §6º). Ou seja, é o Estado quem
deverá reparar os prejuízos causados por seus agentes, pagando as respectivas indenizações aos
terceiros lesados. Isso não impede, contudo, que o Estado, depois de indenizar a vítima, cobre o
ressarcimento correspondente de seus agentes que tenham agido com dolo ou culpa.
Sendo assim, cabe salientar que a responsabilidade do Estado é objetiva, restando apenas
demonstrar o dano gerado e o nexo causal entre a ação do agente público e o prejuízo causado,

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ao mesmo tempo em que a responsabilidade do agente público é subjetiva, sendo necessária a


comprovação de dolo ou culpa para que sofra a sanção correspondente.

-Ação Regressiva:
O art. 37, § 6º, da CF autoriza que o Poder Público mova ação regressiva contra o agente
cuja atuação acarretou o dano, desde que seja comprovado dolo ou culpa, (responsabilidade
subjetiva), na atuação do agente público.
Para entrar com ação de regresso contra o agente, o ente público deverá comprovar que já
foi condenado judicialmente a indenizar o particular que sofreu o dano. Isso porque o direito de
regresso nasce com o trânsito em julgado da decisão condenatória prolatada na ação de
indenização.
A responsabilidade do agente poderá ser descaracterizada caso sejam comprovados
alguns dos seguintes elementos: força maior, caso fortuito, estado de necessidade, legítima
defesa ou culpa exclusiva da vítima, caso contrário haverá a constatação através do dolo ou
culpa.
Vale anotar que, mesmo que não consiga provar a culpa ou dolo do agente público, a
obrigação da Administração perante o particular não muda, e que, a ação regressiva pode ser
ajuizada ainda que o servidor não mais exerça o cargo. Caso o agente causador do dano já tenha
falecido, a ação regressiva poderá ser ingressada contra seus herdeiros e sucessores, dentro dos
limites patrimoniais da herança.
Por último, cabe frisar, que a ação regressiva visa atingir a responsabilidade civil do
agente público, cabendo ainda, nas respectivas esferas, a responsabilização administrativa e
penal, se for o caso.
Exemplo: Sd PM 2ª Cl Bily e Sd PM 2ª Cl Kid, cumprindo ponto de estacionamento
ouvem na rede rádio que determinado banco está sendo roubado naquele instante, em uma
avenida próxima. Imbuídos do desejo de combate à criminalidade embarcam na viatura e partem
imediatamente para o local do ilícito, esquecendo-se de acionar as luzes e sirenes do veículo. Ao
adentrarem na avenida, seguem na contramão do fluxo dos veículos, e colidem, frontalmente,
com um carro, que em seu interior possuía uma família com pai, mãe e duas crianças menores de
12 anos. Além da ampla destruição do carro da família, houve a perda das pernas pela mãe, a
morte de uma das crianças e lesões corporais graves no pai e na outra criança.
Caberá responsabilização dos policiais em âmbito administrativo e penal; na esfera civil o
Estado deverá indenizar a família, e após esse processo, poderá através da ação regressiva

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pretender cobrar dos policiais os valores pagos, devendo haver a comprovação do dolo ou culpa
dos policiais durante tal processo.

Aula 11 e 12 – Improbidade Administrativa.

A Constituição Federal de 1988 apresentou novos princípios e deu maior valoração a


outros, dentre estes o da moralidade administrativa, sendo esta inclusa como princípio
constitucional no art. 37, caput, da Carta Magna.
Destarte, o Estado, em conjunto com toda a coletividade brasileira, passou a exigir do
Poder Público, e daqueles que com ele fazem negócio, uma atuação moral, relacionada com o
dever de probidade, ética e honestidade da Administração Pública.
Nessa perspectiva, a Constituição Federal trouxe em seu texto algumas determinações no
que se refere à improbidade administrativa como forma de violação à moralidade administrativa,
incluindo diversos dispositivos sobre o tema.
No artigo 15, inc. V, a improbidade administrativa é tratada como forma de suspensão
dos direitos políticos:
“Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará
nos casos de:
V- improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º, da Constituição Federal
O art. 85, V, estabelece que são os crimes de responsabilidade os atos do Presidente da
República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra a probidade na
administração; enquanto o art. 14, § 9º, trata a proteção da probidade administrativa como um
dos parâmetros para definição dos casos de inegibilidade.
Conquanto, o parágrafo 4º, do artigo 37 da Constituição é o mais importante, uma vez
que estabelece a fundação para a responsabilização dos atos de improbidade administrativa:
“§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos
políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade de bens e o ressarcimento ao erário, na
forma e gradação prevista em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.”
Estando presentes na Constituição os textos citados se impõe diante da Administração
Pública como um todo, seja na modalidade direta ou indireta.
Posterior a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, foi
editada a Lei 8.429/1992, modificada posteriormente pela Lei 14.230, de 25OUT21, norma de

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caráter nacional, alcançando, portanto, todos os entes da federação (União, Estados, Distrito
Federal e Municípios).
Nesse contexto, a lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa – LIA) define os
sujeitos ativo e passivo do ato de improbidade ( art. 1º ao 3º ); o próprio ato de improbidade (arts.
9º ao 11º) as sanções cabíveis (art. 12); e as normas da ação judicial em decorrência da prática de
ato de improbidade (art. 17).
Lembrando que a improbidade não significa apenas a realização de atos imorais ou
desonestos, mas também atos ilegais, ou seja, aqueles que confrontam leis, regulamentos ou
outros atos normativos.
Dessa forma a Lei de Improbidade Administrativa (LIA) estabelece hipóteses de atos de
improbidade, sendo que a violação à moralidade administrativa é apenas uma delas. Neste
contesto, a lei 8.429/92, alterada pela lei 14230/21, estabeleceu três tipos, ou categorias, de atos
considerados como de improbidade administrativa: os que importam enriquecimento ilícito (art.
9º), os que causam prejuízo ao erário (art. 10) e os que atentem contra os princípios da
Administração Pública (art. 11).

Atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito:


De acordo com o art. 9º da lei 8429/92, constitui ato de improbidade administrativa
importando em enriquecimento ilícito “auferir, mediante a prática de ato doloso, qualquer tipo
de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício do cargo, de mandato, de função, de
emprego ou de atividade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:”, havendo
a especificação de alguns comportamentos dentre os incisos I ao XII, do mesmo artigo.
A sanção para o agente que atuar de acordo com o previsto neste artigo corresponde aos
seguintes itens: perda dos bens e valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos até 14(catorze) anos, pagamento de multa civil
equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o poder público ou
de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário pelo prazo não superior a 14
(catorze) anos.

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Atos de improbidade de que causam prejuízo ao erário:


Consoante o artigo 10 da LIA, “ Constitui ato de improbidade administrativa que causa
lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva e comprovadamente, perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das
entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:”, havendo a especificação de alguns
comportamentos dentre os incisos I ao XXII do mesmo artigo.
A sanção para o agente que atuar de acordo com o previsto neste artigo corresponde aos
seguintes itens: perda dos bens e valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta
circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até 12 (doze) anos,
pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano e proibição de contratar com o poder
público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente,
ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não
superior a 12 (doze) anos.

Atos que atentam contra os princípios da Administração Pública:


Constitui ato que atenta contra os princípios da Administração Pública “qualquer ação ou
omissão dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade,
caracterizada por uma das seguintes condutas:”, havendo a tipificação de comportamentos nos
incisos III ao XII do mesmo artigo.
A sanção para o agente que atuar de acordo com o previsto neste artigo corresponde aos
seguintes itens: pagamento de multa civil de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração
percebida pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos.

Natureza Jurídica da Sanção:

De acordo com o art. 37, § 4, da Constituição Federal, os atos de improbidade


administrativa importarão na suspensão de direitos políticos, perda da função pública, a
indisponibilidade dos bens, e o ressarcimento ao erário, “sem prejuízo da sanção penal cabível”.
Cabe lembrar que existem três esferas de responsabilidade independentes entre si: penal,
civil e administrativa, ou seja, é possível que uma pessoa seja absolvida em uma, e não na outra.
Também é possível que alguém seja sancionado nas três esferas, ou em apenas duas, lembrando

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que se a pessoa for absolvida na esfera penal por inexistência do fato ou negativa de autoria, tal
decisão, vincula as outras esferas de responsabilidade (civil e administrativa).
A natureza da ação de improbidade administrativa não é penal, uma vez que se a conduta
for tipificada como crime, deverá ser interposta ação própria buscando aplicação das sanções
penais. Nesse caso, teremos duas ações distintas, uma de improbidade administrativa e outra de
natureza penal.
A ação de improbidade administrativa também não tem caráter administrativo, já que as
condutas tipificadas na LIA serão apuradas administrativamente, em procedimento próprio de
cada órgão, sem prejuízo da ação de improbidade, por isso, devemos perceber que as sanções
por ato de improbidade não são aplicadas na esfera administrativa.
Alguns doutrinadores a consideram como de natureza civil. Todavia a Prof. Maria Silvia
Zanella Di Pietro ensina que o ato de improbidade administrativa caracteriza um ilícito de
natureza civil e política, uma vez que pode implicar a suspensão dos direitos políticos, a
indisponibilidade de bens e o ressarcimento ao erário.
Vale dizer, que as sanções são aplicadas no âmbito judicial, em processo próprio,
instaurado por iniciativa do Ministério Publico.
Dessa forma, ainda que a sanção possa ter repercussão na esfera administrativa (como
ocorre com a perda da função pública, com a proibição de contratar com o Poder Público e com a
proibição de receber do Poder Público benefícios fiscais ou creditícios), a sanção em si é
aplicada no âmbito judicial.

Da Declaração de Bens:

O artigo 13 da LIA estabelece que quando da posse, e durante o exercício da atividade


pública o agente público deve obrigatoriamente apresentar a declaração de imposto de renda e
proventos de qualquer natureza, que tenha sido apresentada à Secretaria Especial da Receita
Federal do Brasil, a fim de ser arquivada no serviço de pessoal competente.
Ademais, a declaração de bens deverá ser atualizada anualmente e na data em que o
agente público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou função.
Se o agente público se recusar a prestar a declaração de bens do serviço público, ou
prestar declaração falsa, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, poderá ser punido com a pena
de demissão.

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OBSERVAÇÕES SOBRE AS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES REALIZADAS PELA LEI


14230/21:
-Atualmente a lei de improbidade só admite conduta dolosa, não tem mais a modalidade
culposa, como ocorria na lesão ao erário;
-Ministério Público passa a ter exclusividade para propor a ação, antes a pessoa jurídica
prejudicada também tinha legitimidade para propor ação;
-Houve alterações nos prazos das sanções e nos valores das multas;
-No caso de atos que atentem contra princípios da Administração Pública não cabe a
sanção de perda da função pública.
- Alteração no prazo prescricional, que passa a ser de 8 (oito) anos;
- Atos de improbidade decorrentes de concessão ou aplicação indevida de benefício
financeiro ou tributário que antes era uma categoria de ato de improbidade passou a ser ato de
improbidade que causa prejuízo ao erário (art. 10, inc. XXII da LIA).
- alguns artigos e incisos foram revogados ou modificados pela lei 14.230, de 25OUT21.

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