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Módulo 6
Práticas inovadoras para o ciclo de alfabetização:
ferramentas digitais e metodológicas ativas
no processo de ensino aprendizagem
Unidade 2
A pedagogia dos multiletramentos e o trabalho
com textos multimodais na alfabetização
FICHA TÉCNICA
Agenciamento:
Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro – SEEDUC/RJ & Pró-Reitoria de Extensão
e Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – PR3/UERJ
Título:
A alfabetização no contexto do programa Rio + Alfabetizado
Título do Módulo VI:
Práticas inovadoras para o ciclo de alfabetização: ferramentas digitais e metodológicas ativas
no processo de ensino aprendizagem
Autora – Módulo VI:
Marcia Lisbôa (UERJ)
Design Gráfico
Mario Ricardo da Silva Lima (Fundação Cecierj)
Priscila Alexandre Freire (Instituto IBGE)
Equipe administrativa:
Ricardo Lodi Ribeiro – Reitor (UERJ)
Mario Sergio Alves Carneiro –Vice-reitor (UERJ)
Cláudia Gonçalves de Lima – Pró-reitora de Extensão e Cultura (UERJ)
José Aluízio Belisário de Souza – Coordenador da Coordenadoria de Projetos Especiais de
Extensão a Distância – Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (UERJ)
Apoio técnico:
AVATE – Ambiente Virtual de Apoio Tecnológico à Extensão
Equipe de Apoio:
José Aluízio Belisário de Souza – Coordenador da Coordenadoria de Projetos Especiais
de Extensão a Distância – Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (UERJ)
Adriana Lana Ramos – Coordenação Acadêmica (UERJ)
Gilberto Resende de Azevedo – Coordenação Técnica (UERJ)
Maria do Socorro dos Santos – Sub-Coordenação de Conteúdo e Professora de Apoio
Conteudista (Doutoranda ProPEd/EDU/UERJ)
Débora Raquel Alves Barreiros – Coordenação Material Didático e Professora
de Apoio Conteudista (EDU/UERJ)
Nataly da Costa Afonso – Assessora de Material Didático (Doutoranda ProPEd/EDU/
UERJ e Professora de Anos Iniciais da SME-RJ)
Ana Paula Pereira Marques de Carvalho – Coordenação de Material Didático (Coordenadora do
Programa de Bolsas de Iniciação Científica – Pró-reitoria de Pós-Graduação/UERJ)
Vittorio Leandro Oliveira Lo Bianco – Designer Instrucional (Fundação Cecierj)
Judith da Silva Mello – Designer Instrucional (Fundação Cecierj)
Renata Vettoretti – Designer Instrucional (Fundação Cecierj)
Clarisse de Mendonça e Almeida – Designer Instrucional (Fundação Cecierj)
Flávia de Mattos Giovannini Busnardo – Designer Instrucional (Fundação Cecierj)
Revisão Textual:
Alexandre Alves (Fundação Cecierj)
Lícia Matos (Fundação Cecierj)
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ÍNDICE
Referências bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
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1. Do Letramento aos (multi)letramentos:
diferentes perspectivas
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No Brasil, essas três abordagens floresceram em estudos e em práticas peda-
gógicas. Demarcados, na linha do tempo abaixo, um percurso do letramento aos
(multi)letramentos, destacando obras significativas aqui publicadas. Lembramos,
no entanto, que embora possamos organizar de forma cronológica o percurso
das concepções sobre o letramento, observamos, em alguns discursos, a simul-
taneidade e até a superposição dessas diferentes visões.
No livro inserido no início da linha do tempo, temos aquela que costuma ser
considerada a primeira menção ao termo letramento no Brasil, por tradução da
palavra inglesa literacy:
Acredito ainda que a chamada norma padrão, ou língua falada culta, é consequência
do letramento, motivo por que, indiretamente, é função da escola desenvolver no
aluno o domínio da linguagem falada institucionalmente aceita. (KATO, 1986, p.7)
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A capacidade de trabalhar através dos letramentos (diferentes e plurais) abre
caminhos para a participação social, em que se podem formar aprendizes com
experiências e vivências culturais sociais e econômicas distintas para construir
significados e ter sucesso. (KALANTZIS; COPE; PINHEIRO, 2020, p. 24)
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Tendo em conta a necessidade transformação do ensino centrado na língua
nacional formal, padrão e escrita, propõem a incorporação da multimodalidade
dos múltiplos discursos de identidade à Pedagogia do letramento (THE NEW
LONDON GROUP, 2000).
Todas essas mudanças demandam novos professores e novos aprendizes
cujo posicionamento diante do conhecimento seja impelido pela agência, isto é,
pela capacidade de engajamento em contextos-para-a-ação na construção de
respostas às mudanças contemporâneas (EMIRBAYER; MISCHE, 1998, p. 970).
A Pedagogia dos Multiletramentos apresenta quatro componentes ou movi-
mentos teórico-metodológicos, os quais organizam o modo como as situações
de ensino-aprendizagem devem ser organizadas, acionando a agência de estu-
dantes e docentes:
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Figura 2 Baseado em KALANTZIS; COPE, 2012, pp. 28, 29. Elaboração da autora.
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Fonte: elaboração da autora com base em PINHEIRO; KALANTZIS; COPE, 2020, p.181 e 184.
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Fonte: Elaboração da autora com base no: Cambridge Dictionnary
Fonte: https://www.pensador.com/gifs_de_bom_dia/
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Temos nesse GIF significados escritos, visuais, espaciais e gestuais. Vamos
pensar nos planos da imagem e sua inter-relação, para compreendermos o fun-
cionamento da sinestesia no GIF. Nele, os designs disponíveis – fotos estáticas
que já existiam – são ressignificados por um processo de mixagem e associação.
Deste processo, se desenvolve um novo design.
Em primeiro plano, temos significados escritos. Os elementos linguísticos nos
permitem inferir as mídias em que o esse meme circula, bem como o contexto
de interação em que é utilizado: trata-se de uma saudação matinal para envio
em grupos de familiares ou pessoas muito próximas, através de aplicativos de
mensagens instantâneas. As cores utilizadas nos elementos linguísticos, assim
como a escolha da fonte, pertencem ao modo visual e, juntamente com o efeito
de pulsação (aparecer-sumir), trazem luminosidade para a imagem, contribuindo
para a construção da atmosfera de alegria que marca a imagem.
No plano intermediário temos os movimentos corporais e o deslocamento dos
personagens é produzido pela sequenciação/colagem de imagens. O efeito de
dança, o ritmo do movimento, as direções simultâneas - para o alto e para a
frente, tudo isso reforça a atmosfera evocada no primeiro plano o que se soma
ao fato de o grupo de pinguins remeter à ideia de família,
O plano de fundo, que remete a uma paisagem próxima ao mar, também é
formado por alternância de imagens estáticas. O fundo é que cria a sensação de
movimento dos personagens pelo espaço representado, dando ideia de direção.
Como vemos, a construção de sentidos na produção desse texto, aparentemente
simples, é bem mais complexa do que aparenta. Usualmente, não atentamos
a esses detalhes, mas precisamos aprender a percebê-los – e nossos alunos
também. Um dado relevante, que não custa lembrarmos é que os mesmos
artifícios ilusórios empregados de forma ingênua e divertida nesse GIF também
podem ser usados para nos enganar.
Uma atividade com esse texto na alfabetização poderia ser planejada de varia-
das formas. Apresentamos a seguir uma sugestão pautada nos quatro com-
ponente/movimentos da Pedagogia dos Multiletramentos:
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Proposta de atividades
Como esse é um texto de real circulação em redes sociais, que
até mesmo crianças pequenas de alguma forma conhecem,
essa é uma prática situada relacionada a seus mundos de vida.
A metalinguagem utilizada na instrução explicita precisa ser
modalizada e adaptada ao repertório e ao vocabulário infantil.
Em relação aos planos da imagem, o professor pode perguntar,
por exemplo: o que parece estar na frente? O que está no meio?
O que está atrás? Na análise do primeiro plano, após a leitura
pelo professor ou pela turma, algumas questões possíveis são:
Que sentimentos as palavras piscando trazem para vocês? E as
cores das palavras? Sobre o segundo plano, pode-se perguntar:
O que os pinguins estão fazendo? Por que vocês acham que
eles estão tão juntinhos? O que eles estão sentindo? Podem
ser formuladas, com respeito ao terceiro plano, questões como:
onde eles estão? Como você sabe isso?
O enquadramento crítico, como citamos anteriormente,
está ao relacionamento entre um design e seu contexto
social. Partindo dos conhecimentos dos estudantes podemos
expandir seus horizontes com perguntas como: Você já viu
imagens como essa? Onde? Você acha que as pessoas
gostam de receber imagens como essa? Por quê? Para
quem você mandaria essa imagem? Em que momento do dia
você mandaria essa imagem? Por quê? Você gostaria que
uma pessoa da sua família ou alguém de quem você gosta
mandasse essa imagem para você? Por quê?
Na prática transformada, pode-se estimular a turma a
pensar em como foi construído o GIF, explicando como fun-
ciona esse formato de imagem e desafiando-os a entender
como os efeitos que eles perceberam foram criados – “des-
montando” a mixagem.
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Assim, os estudantes terão a oportunidade de transferir
o que aprenderam no desafio de “desmontar” o GIF para
criar suas próprias mixagens. Há muitos aplicativos para
criar GIFs, mas isso também pode ser feito em papel, com
colagens e sobreposições, não precisa necessariamente
acontecer em telas. Afinal, o design não acontece somente
em meio digital. O que importa é criar oportunidades para
a construção de sentidos na produção e na compreensão
desse gênero multimodal e aplicar esse conhecimento em
outros usos e contextos, sempre pensando na adequação
à faixa etária dos estudantes, aos seus conhecimentos
linguísticos, de mundo e de textos.
Referências bibliográficas
EMIRBAYER, M.; MISCHE, A. What Is Agency? The American Journal of Socio-
logy. Vol. 103, No. 4., Jan., 1998), pp. 962-1023. Disponível em: http://links.jstor.
org/sici?sici=0002-9602%28199801%29103%3A4%3C962%3AWIA%3E2.0.CO
%3B2-7 Acesso em: 15 de fevereiro de 2017.
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STREET, B.V. Letramentos sociais. Abordagens críticas do letramento no desen-
volvimento, na etnografia e na educação. São Paulo: Parábola, 2014.
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