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Mirella Carvalho do Carmo

RELATÓRIOS FINAIS DA DISCIPLINA

GEL 127- INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS

LINGUÍSTICOS

Relatórios Finais referentes aos


seminários desenvolvidos na
disciplina GEL127 - Introdução aos
Estudos Linguísticos.

Professora: Profa. Dra. Helena Maria


Ferreira.

LAVRAS
1º semestre de 2018

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1. Linguística Aplicada ao ensino de língua materna

A Linguística Aplicada (LA) é uma área do conhecimento que


norteia o processo de ensino-aprendizagem de determinada língua, pois requer
do professor um arcabouço teórico que permita com que ele trabalhe mediante
suas próprias alternativas metodológicas e conceituais. Nesse sentido, a
Linguística Aplicada não propõe verdades absolutas e solidificadas acerca do
processo de aprendizagem linguística, ao passo que sua função é, sobretudo,
iluminá-lo.
No caso da Língua Materna, as contribuições da Linguística
Aplicada são denotadas por meio das habilidades de leitura e escrita, assim
como pela consideração do contexto enquanto fator fundamental para o
desenvolvimento linguístico. Ademais, a LA possibilita a fundamentação
teórica do professor, que irá propiciar formas diversas para diminuir o
distanciamento do indivíduo com a língua falada. Outros aspectos essenciais
para o ensino da língua materna são as abordagens sobre questões sociais no
contexto escolar, a valorização e o respeito perante as variações linguísticas,
bem como a inclusão de temáticas que problematizem o preconceito linguístico,
e a compreensão da norma padrão como uma opção e não como o único modo
de uso da língua.
O rompimento de conceitos estereotipados acerca da definição de
Língua Materna, também é um tópico extremamente importante, visto que se o
processo de aquisição é realizado naturalmente por meio da exposição, infere-
se que as Línguas de Sinais, assim como as demais, são consideradas Línguas
Maternas de muitas pessoas, pois que é um meio eficiente de comunicação.

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2. Linguística Aplicada ao ensino de língua adicional

A Linguística Aplicada tem como objetivo, por exemplo, analisar as


questões de uso da língua e os problemas envolvidos nessa utilização. Nesse
sentido, o ensino de Língua Adicional formulado no substrato da Linguística
Aplicada, viabiliza o desenvolvimento processual dos conteúdos de modo a
ultrapassar as barreiras do estruturalismo linguístico. O primeiro método
abordado foi o Método Audiolingual que, conforme Spada (2004), baseia-se na
associação entre a Linguística Estrutural de Saussure e o Behaviorismo de
Skinner, assim, a metodologia proposta fundamenta-se nas técnicas de
repetição e correção. Outro modelo exposto foi o Monitor Theory, cuja
proposta é embasada na asserção de Krasher (1982) que sustenta a necessidade
de criar similaridades entre os ambientes de aprendizagem da Língua Materna e
o da Língua Adicional, a fim de facilitar o processo por meio da assimilação dos
cenários. Tal teoria é respaldada na Gramatical Universal de Chomsky que
prevê uma predisposição natural para a aquisição da linguagem, isto é, a
simples exposição a uma língua é o suficiente para desencadear o processo de
aprendizagem.
Por fim, o conceito interacionista da linguagem, sob a ótica de
Bakhtin(1997), compreende a língua como um lugar de interação humana, ou
seja, o sujeito é entendido como agente ativo e responsável pela elaboração dos
sentidos de determinado texto. Destarte, a Linguística Aplicada ao ensino de
língua adicional, não exerce o papel de eleger as metodologias mais viáveis, haja
vista que sua função é orientar o professor acerca dos fenômenos envolvidos na
compreensão do funcionamento da linguagem e na observação do
relacionamento estabelecido entre o aluno e sua própria aprendizagem. Portanto,
o intuito da Linguística Aplicada não é marginalizar e/ou propor o anulamento
de um método em relação ao outro, mas sim demonstrar a eficiência existente a

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partir da interação dos diferentes métodos, possibilitando assim, um ensino mais
dinâmico e flexível.

3. Linguística Aplicada à produção de materiais didáticos

A elaboração dos materiais didáticos efetua-se por meio dos seguintes


procedimentos:
1º - Elaboração de um edital MEC e
FNDE;
2º - Avaliação pedagógica;
3º - Os professores realizam os pedidos dos livros via guia
PNLD;
4º- Aquisição: O FNDE recebe os pedidos e solicita na editora;
5º - Produção e distribuição;

6º - Monitoramento e avaliação.

Diante das pontuações realizadas acima, pode-se observar a precípua


participação da Linguística Aplicada para a análise e percepção das etapas que
envolvem o processamento de produção dos materiais didáticos, haja vista que
no decorrer desse trajeto estão implicadas profundas divergências entre a teoria
e sua efetivação. O primeiro ponto merecedor de ressalva é o referente à
avaliação pedagógica pois, frequentemente, os professores responsáveis pela
avaliação dos materiais não são suficientemente capacitados para tal prática,
configurando assim, sérias consequências a qualidade do ensino. O segundo
tópico diz respeito à realização dos pedidos via guia PNLD, já que não há, de
fato, meios que verifiquem a legitimidade das escolhas dos livros didáticos a
partir das eleições estabelecidas pelas instituições de ensino, possibilitando,
desse modo, a manipulação dos resultados finais que efetivam e transferem os
pedidos às editoras. Por fim, os fatores relacionados à distribuição e ao
monitoramento dos livros didáticos, também estão incluídos em cenários

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fragilizados, pois que a dimensão territorial e a diversidades das localizações
presentes no Brasil, dificultam o acesso aos livros, ocasionando uma
distribuição desigual e desencadeando sérios prejuízos à educação. Sendo
assim, os materiais que chegam em determinadas regiões do país, cuja
infraestrutura favorece a distribuição, não chegam em outras localidades onde a
circulação de mercadorias é afetada pela decadência na infraestrutura. Com
isso, o cenário da educação que, teoricamente, deveria ser igual para todos,
constitui-se de modo excludente, já que o monitoramento dos materiais
didáticos não é efetuado de forma eficaz como previsto nos regulamentos.

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4. Linguística Aplicada à aquisição de linguagem

O papel da Linguística Aplicada à aquisição da linguagem está


diretamente relacionado com a compreensão dos fatores que englobam o
processo de aprendizagem das práticas linguísticas, isto é, oralidade, leitura,
produção de textos e análise textual. Em consonância a isso, a Linguística
Aplicada auxilia, ainda, na identificação de possíveis patologias da linguagem e
seus níveis de gravidade. Nesse sentido, é possível perceber dificuldades no
percurso da fala, recorrente em algumas crianças, e que podem ser revertidas
quando tratadas precocemente. Ademais, por intermédio do substrato da
Linguística Aplicada, torna-se perceptível a existência de certos atrasos simples
da linguagem, ocasionados por dores ou problemas respiratórios que, quando
associados ao processo de aquisição da linguagem, acarretam sérios prejuízos
para o desenvolvimento linguístico. Em suma, o conhecimento sobre os
processamentos de aquisição da linguagem, admite, não apenas a detecção de
diversas patologias, como também propicia um desenvolvimento linguístico
mais flexível e consciente das especificidades de cada indivíduo integrante
desse processo.

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5. Linguística Aplicada aos contextos jurídicos

O conceito de Linguística Forense compreende a aplicação da


linguagem ao contexto investigativo, sendo, portanto, uma área de estudos
transversal entre a Linguística e o Direito. Nesse sentido, o corpus da pesquisa
perscrutou as contribuições da Linguística para o âmbito jurídico por
intermédio, por exemplo, da análise dos tipos argumentativos que perpassam a
documentação legal, as interferências exercidas por cada um deles, as
distorções e manipulações de sentidos do discurso, as possibilidades de
interpretação e seus usos durante os processos judiciais. Ademais, o estudo
objetivou a observação comportamental dos sujeitos discursivos em suas
situações de fala.
A consideração acerca do distanciamento linguístico presente nos
textos do Direito é, sem dúvidas, um fator precípuo, haja vista que desencadeia
extremo desconforto aos leitores que não integram profissionalmente o contexto
jurídico. Faz-se válido enfatizar que tal distanciamento é produto de uma
estratégia de poder, visto que essa estruturação discursiva visa, sobretudo, manter
o monopólio das informações judiciais. Sendo assim, a Linguística executa um
papel indiscutível no processo da democratização discursiva, no sentido de romper
com as barreiras construídas pelos sujeitos que, equivocadamente, intitulam-se
como dominadores desse linguajar. Dessa forma, enquanto a linguagem jurídica
se instaurou com o objetivo turvo da manutenção hierárquica de informações, a
Linguística se dispôs a pleitear a favor de que os direitos dos cidadãos não
sejam infringidos, a começar pelo direito à linguagem, pela aristocracia linguística
preponderante nesse cenário.

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6. Linguística Aplicada à computação

A Linguística Computacional é definida como uma área de pesquisa


multidisciplinar destinada ao estudo dos processamentos sintático, semântico e
lógico da linguagem natural, isto é, a língua utilizada para a interação humana.
Desse modo, ela faz uso da inteligência artificial para desenvolver tecnologias
capazes de solucionar determinadas situações de forma similar às práticas
humanas. Conforme sustentado por Allen (1987), a Linguística Computacional
objetiva tipificar uma teoria voltada para a compreensão e produção da
linguagem de modo que seja possível elaborar um programa de computador
que entenda e produza a linguagem natural.
Inserida ao contexto computacional, a Linguística Aplicada tem a
finalidade de desenvolver técnicas que possibilitem, por intermédio da fonética
e fonologia e da sintaxe e semântica, o reconhecimento de fala e sistemas de
diálogos em linguagem oral, ou seja, os dispositivos respondem aos comandos
de voz a partir de um léxico já registrado. Para exemplificar tais processos de
comandos, temos a “Siri” nos dispositivos da Apple, e no caso do Android o
“OK, Google”. Outro aspecto linguístico relacionado ao desenvolvimento de
tecnologias pautadas no sistema da fala são os programas de interação com o
usuário chamados de chatterbots inicialmente criados por Joseph Weizenbaum
em 1966, no MIT, e intitulado Eliza. Esses robôs de conversa são construídos a
partir da inteligência artificial para estabelecerem diálogos com os humanos. A
exemplo disto existe os softwares, recurso automático utilizado por várias lojas
virtuais, instituições e operadoras de telefonia com o intuito de facilitar o
atendimento aos clientes.

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7. Linguística Aplicada ao contexto midiático

Os recursos estilísticos e argumentativos operados pela linguagem


midiática estão focalizados, sobretudo, no convencimento e nas manipulações de
sentido das informações veiculadas nesse contexto. Sendo assim, as mídias
desempenham funções respaldadas na persuasão do público, na medida em que é
capaz tanto de promover a valorização quanto a degradação acerca de algo ou
alguém.
As estratégias midiáticas apresentam natureza plural, visto que se
valem dos variados recursos semióticos disponíveis para estabelecerem seus
própositos informativos. A propaganda, por exemplo,vale-se do poder exercido
pelos verbos no modo imperativo, haja vista que eles introduzem uma ordem
disfarçada de convite. Outro artifício essencial para o sucedimento das
intencionalidades implicadas no contexto midiático, refere-se à função
argumentativa dos verbos introdutores de opinião pois, conforme sustenta
Marcuschi (2007) a reprodução das opiniões leva à distorção e à interferência no
discurso, já que apresentar ou citar o pensamento de alguém implica certo
posicionamento (avaliação linguística de caráter interpretativo e avaliativo). O
autor defende, ainda, a existência de duas formas linguísticas de relatar opiniões
a partir da ênfase verbal. A primeira realiza-se mediante a um verbo, isto é, a
opinião é introduzida pelo verbo que antecipa o caráter geral do relato, como nos
exemplos: declarar, confirmar, elogiar, contar, acreditar etc. Já o segundo
método é relativo à nominalização do verbo, ou seja, expressa-se nos textos a
forma nominal dos verbos. Trata-se de um procedimento incisivo, mas que pode
subentender o conhecimento da opinião como o ocorrido no seguinte exemplo:
“As declarações do presidente não agradam.”
Marcuschi(2007) afirma que a semântica dos verbos introdutores de
opiniões não pode ser feita através de uma marginalização dos contextos de
enunciação, visto que toda informação é produzida dentro de algum sistema que

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não ignora a si próprio, veiculando implicitamente uma interpretação qualquer
de maneira ampla; assim, observa-se que o termo “interpretação” envolve três
aspectos possíveis: (1) Interpretação explícita em que o redator comenta a
notícia; (2) Interpretação implícita que diz respeito ao posicionamento assumido
através dos verbos que introduzem as opiniões, ou por expressões equivalentes,
sem comentário adicional; e (3) Interpretação pela seleção, na qual a opção por
uma ou outra opinião já é uma forma de interpretar o discurso pela omissão. Em
suma, as contribuições exercidas pela Linguística Aplicada ao contexto
midiático, volta-se para o reconhecimento das estratégicas discursivas
responsáveis pela efetivação das intencionalidades que tangenciam as
informações veiculadas em cada mídia. É fundamental, ainda, ressaltar a
importância da compreensão de tais recursos e seus efeitos por parte do público
pois, assim, as informações não serão recebidas de modo passivo e alienador,
mas sim de maneira crítica e problematizada.

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8. Linguística Aplicada aos multiletramentos

A temática dos multiletramentos está diretamente relacionada a dois


outros conceitos e suas particularidades. O primeiro refere-se à alfabetização
definida como um processo de aprendizado da leitura e escrita e que envolve
atividades de codificação e decodificação dos conteúdos de natureza
linguística, dessa forma, o indivíduo torna-se apto para desenvolver as demais
modalidades presentes na língua. Em contrapartida, a concepção de letramento
diz respeito ao estado que o indivíduo atinge após desenvolver o uso
competente da leitura e da escrita, o que o torna capacitado para utilizar a
língua nos variados contextos de interação.
A conceituação acerca dos multiletramentos recebe notoriedade no
ensino devido à necessidade de inserir, no contexto escolar, as tematizações
sobre o reconhecimento dos avanços tecnológicos e suas influências para a
sociedade, já que, diante desse cenário, as relações e as atividades sociais
interativas foram modificadas pela diversidade de linguagens e mídias, assim
como pela pluralidade cultural. Tendo em vista estas questões, a proposta de
ensino baseado nos multiletramentos visa promover a articulação entre os
estudos da linguagem e as inovações sócio-históricas e culturais, como por
exemplo, as iniciativas que viabilizam a assimilação entre os recursos
tecnológicos e os conteúdos problematizados em sala de aula. Desse modo, tal
perspectiva possibilita a contextualização entre os textos circulados e os
veículos nos quais ocorre esta circulação, promovendo assim, uma educação
mais autônoma e consciente das multiplicidades semióticas que compõem os
diferentes contextos sociais.

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9. Linguística de Corpus

O levantamento histórico sobre os estudos da Linguística de Corpus, englobou


as pesquisas desenvolvidas por Thorndike, cujo trabalho realizou-se através de
coletas manuais de um corpus com 4,5 milhões de palavras; bem como os
estudos de Michael West que, seguindo o modelo de Thorndike, elaborou a
“General Service List of English Words” contendo as 2 mil palavras mais
frequentes na Língua Inglesa. Com o findar dos anos 50, Noam Chomsky lança
sua obra intitulada “Syntactic Structures” que desencadeou alterações acerca do
conceito de Linguística, tendo em vista o seu embasamento voltado para as
teorias racionalistas da linguagem.
Com o surgimento dos computadores, a Linguística de Corpus inclui-se ao
âmbito empresarial, como no caso da Microsoft e da Apple que fazem uso de
Corpus para o gerenciamento de informações e o reconhecimento de vozes.
Ademais, os Corpora também são utilizados no desenvolvimento de programas
de tradução, constituídos pelo armazenamento lexical e pela variedade de
sinônimos de um vocábulo. Merece ressalva, no entanto, o papel essencial
exercido pelos linguistas para a criação das plataformas tecnológicas de
traduções, haja vista que a composição dos vocábulos e seus léxicos
formadores são efetuados por meio das pesquisas linguísticas.

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