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CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM

ENFERMAGEM NO CUIDADO INTEGRAL A SAÚDE DA MULHER

DENIZE DE LIMA BESERRA


LUSIRENE JUSTINO
LUIZE LAMARTE FERREIRA DE LIMA
MARIA APARECIDA FERREIRA NUNES SANTOS
VANESSA ALEXANDRE FÉLIX
ZENAIDE ALEXANDRE FÉLIX
WELLINGTON BATISTA DE OLIVEIRA

CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

GUARABIRA-PB
2020
DENIZE DE LIMA BESERRA
LUSIRENE JUSTINO
LUIZE LAMARTE FERREIRA DE LIMA
MARIA APARECIDA FERREIRA NUNES SANTOS
VANESSA ALEXANDRE FÉLIX
ZENAIDE ALEXANDRE FÉLIX
WELLINGTON BATISTA DE OLIVEIRA

CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

Trabalho apresentado no curso de graduação em


Enfermagem da Escola Superior do Agreste
Paraibano para obtenção de nota da avaliação da
aprendizagem, da disciplina Enfermagem no cuidado
integral a saúde da mulher.
Eixo Temático: Cuidados de enfermagem na
prevenção da violência obstétrica
Docente: Profª. Ms. Jeany Karla Cavalcante Silva

GUARABIRA-PB
2020
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 4
2 DESENVOLVIMENTO...................................................................................... 5
2.1 RESULTADOS............................................................................................... 7
2.2 EIXOS TEMÁTICOS...................................................................................... 9
3 CONCLUSÃO................................................................................................... 14
REFERÊNCIAS................................................................................................... 16
4

1 INTRODUÇÃO

Na atualidade, as questões que envolvem o tema da violência têm despertado


a atenção de estudiosos em diversas áreas do conhecimento, indo dos estudos
antropológicos, sociais, históricos e culturais ou psicológicos até análises que
envolvem grupos mais específicos, mais delimitados, a exemplo da violência de
gênero, e mais especificamente, da violência obstétrica. Assim, é possível afirmar,
inicialmente, o que a própria ciência já confirmou: a violência é uma manifestação
peculiar à própria sociedade, configurando um fenômeno próprio do ser humano.
Por outro lado, é importante destacar que, embora a violência venha se
constituindo em uma crise da modernidade, ela não é um fenômeno inerente do
período contemporâneo, sempre se manifestando nos grupos humanos, mesmo que
em diferentes circunstâncias (LEVISKI, 2010).
A relevância desse estudo se pauta, portanto, em uma dessas formas de
manifestação violenta no corpo social, problematizando-a a partir da relação
existente entre o comportamento agressivo na prestação assistencial à mulher
parturiente e sua prevenção no âmbito dos cuidados de enfermagem. Em vista do
exposto, o objetivo desse trabalho é analisar produções científicas nacionais a partir
de uma revisão integrativa acerca dos cuidados de enfermagem na prevenção da
violência obstétrica.
A violência obstétrica, de acordo com Carvalho, Lira e Costa (2017, p. 123), a
violência obstétrica trata de um “[...] desrespeito à mulher, seu corpo e seus
processos reprodutivos”. Esse desrespeito, segundo os estudiosos acontece devido
o tratamento desumano no trata com as mulheres durante o parto ou em casos de
doença, por meio de abuso da medicalização e quando se nega às mulheres “[...] a
possibilidade de decidir sobre seus corpos".
Para Sens e Stamm (2019), a violência obstétrica trata de um grave problema
social, político e público que se define pela apropriação do corpo da mulher
parturiente por profissional de saúde, “[...] que se expressa em um trato
desumanizador e abuso da medicalização e patologização dos processos naturais”
(SENS; STA, 2019, p. 2)
Segundo o Guia Mundo em Foco (2016), entre as práticas consideradas
características da violência obstétrica estão: recusar ou não oferecer alívios para a
dor; usar medicamentos como a ocitocina para acelerar o trabalho de parto; não
5

informar a parturiente sobre procedimentos médicos a serem realizados; negar


atendimento à gestante; agredir física ou verbalmente a parturiente; impedir que
enfermeiras obstetras e doulas participem do parto e realizar partos cesáreos sem
necessidade médica.
Embora todas as reflexões apresentadas remetam à vitimização da mulher
gestante e parturiente, há uma naturalização das práticas que caracterizam a
violência obstétrica, existindo, assim, a premente necessidade de ampliar o debate
sobre o tema. No âmbito da área de enfermagem, os cuidados
No que se refere à produção de dados, a pesquisa utilizou os procedimentos
da revisão integrativa da literatura disponível no banco de dados de periódicos
nacionais Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e no Google Acadêmico. A
escolha do método da revisão integrativa se deu pelas vantagens apresentadas por
Mendes, Silveira e Galvão (2008), ao afirmarem que, no âmbito da pesquisa
bibliográfica e, em especial, da revisão de literatura, ela trata de um processo de
estudo científico que possibilita um rico levantamento de dados sobre um
determinado tema, levando em pauta os estudos já produzidos. Esse método tem
seu foco nas pesquisas mais atuais e nas conclusões a que chegaram, tornando-se
mais interessante e producente que a revisão bibliográfica simples. As informações
colhidas foram agrupadas em quadros de modo a facilitar a visualização dos
resultados.
A análise dos dados se tornou bastante facilitada pelo fato de que esse
trabalho buscou artigos que apresentaram resultados nos últimos cinco anos, fato
que contribuiu para a compreensão sobre o cuidado de enfermagem na prevenção
da violência obstétrica.

2 DESENVOLVIMENTO

A violência obstétrica é uma prática recorrente no Brasil e em alguns países


no mundo. A expressão foi utilizada pela primeira vez, na Venezuela em 2017,
passando a constituir-se em uma figura jurídica na Argentina e tema do projeto de lei
nº 7867/ 2017, no Brasil, que, dentre outras propostas, propunha criminalizar atos de
violência obstétrica em seu artigo 3º, conceituando-a como: “[...] todo ato praticado
por membro da equipe de saúde, do hospital ou por terceiros, em desacordo com as
normas regulamentadoras ou que ofenda verbal ou fisicamente as mulheres
6

gestantes, parturientes ou puérperas.”. Já em Santa Catarina, foi promulgada a lei nº


16.869/2016, que obriga as maternidades a permitirem a presença de doulas,
independentemente do acompanhante e a lei nº 17.097/2017, que dispõe sobre a
implantação de medidas de informação e proteção à gestante e parturiente contra a
violência obstétrica.
Conforme os estudos de Puglia (2020), a violência obstétrica é definida por
muitos estudiosos como uma forma de abordagem desrespeitosa de alguns
profissionais da saúde à gestante ou à mulher puérpera que pode resultar em
prejuízos emocionais, psicológicos e sociais.
Entretanto, no país, ainda é insipiente o debate sobre Cuidados de
enfermagem na prevenção da violência obstétrica, seja pela população seja nos
meios acadêmicos, embora, em pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo,
tenha se detectado que aproximadamente uma em cada quatro mulheres já sofreu
violência obstétrica no país (CARVALHO; LIRA; COSTA, 2017).
No Brasil, as práticas que caracterizam a violência obstétrica são tão
naturalizadas que não são interpretadas como atos violentos o que tem
proporcionado a proliferação de mais casos. Dentre as possíveis causas que levam
a esse tipo de violência, duas são concomitantes: a vulnerabilidade física e
emocional as quais as mulheres gestantes e parturientes se encontram e as opções
médicas desnecessárias colocadas à disposição dessas mulheres, muitas vezes
pautadas por ações mercadológicas e menos humanas (CARVALHO; LIRA; COSTA,
2017).
Nesse contexto, Puglia (2020) destaca o papel da equipe de enfermagem no
cuidado e assistência humanizada, de modo ético, à mulher vítima ou em condição
iminente de vitimização da agressão. Para a pesquisadora, o cuidado e prevenção
deve proporcionar apoio emocional para minimizar danos e complicações que
possam cercar a saúde da mulher, buscando amenizar os possíveis traumas. Assim,
para tanto, a equipe de enfermagem, deve adotar as seguintes condutas:

 Acolher a mulher, oferecendo assistência humanizada.


 Atuar de forma ética em todas as situações que envolvam a assistência,
atentando para o sigilo profissional.
 Conhecer os direitos legais da mulher (gestante/puérpera).
 Proporcionar que a paciente receba assistência livre de danos, maus-
tratos e discriminação.
 Orientar a paciente sobre as informações de seu estado de saúde, para
que ela possa compreender a assistência que está sendo direcionada a ela.
7

 Proporcionar oportunidades para a mulher fazer suas próprias escolhas,


principalmente sobre a condução do parto e a realização de exercícios
preparatórios para o parto, entre outras situações.
 Permitir a permanência de acompanhante durante a internação na unidade
obstétrica e no centro obstétrico.
 Proporcionar privacidade e sigilo à paciente/cliente (PUGLIA, 2020, p.12).

Como se percebe nas orientações de Puglia (2020), as ações desenvolvidas


pela equipe de enfermagem têm por objetivo atender às necessidades da mulher
nos aspectos físico, biológico, emocional e social, com o intuito de prevenir a
violência obstétrica.
Em vista das considerações apresentadas, foi feita uma investigação em duas
bases de dados eletrônicos, Scielo e Google Acadêmico. Seguindo à obtenção dos
dados, foram pesquisados os seguintes descritores: violência obstétrica, cuidado,
enfermagem, prevenção e humanização para os últimos cinco anos. Para estes
descritores foram encontrados 18 resultados na base de indexação Scielo e 23
resultados no Google Acadêmico. Após uma leitura dos resumos, entendeu-se a
possibilidade de escolher apenas cinco artigos que atendiam ao objetivo desse
trabalho. Foi utilizado um protocolo específico para revisão integrativa, adaptado do
trabalho realizado por Silveira e Galvão (2005).

2.1 RESULTADOS

Quadro 1. Quadro síntese dos artigos integrantes da revisão por título,


autor(es) e ano, objetivos, em ordem alfabética
Título Autor(es) / Ano Objetivos
OLIVEIRA, VJ; PENNA, Analisar os discursos de mulheres
O discurso da violência
CMM. 2017 e profissionais de saúde sobre a
obstétrica na voz das
assistência ao parto, considerando
mulheres e dos
as situações vivenciadas durante o
profissionais de saúde.
trabalho de parto e parto.
Percepção de LEAL, SYP; LIMA, VLA; Conhecer a percepção de
enfermeiras obstétricas SILVA, AF; LOPES, enfermeiras obstétricas acerca da
acerca da violência PDF; SANTANA, LR; violência obstétrica.
obstétrica. PEREIRA, A. 2018
O cuidado de SILVA, Ú; FERNANDES, Conhecer as vivências das
enfermagem vivenciado BM; PAES, MSL; puérperas sobre o cuidado de
por mulheres durante o SOUZA, MD; DUQUE, enfermagem durante o trabalho de
parto na perspectiva da DAA. 2016 parto e parto no que tange a
humanização. humanização.
Formas de violência CARVALHO, IS. Identificar as formas de violência
obstétrica vivenciadas BRITO, RS. 2017 obstétrica vivenciadas por
por puérperas que puérperas que tiveram parto
tiveram parto normal. normal.
8

SILVA, AA; PEREIRA, Descrever a violência obstétrica e


BB; PEREIRA, JSC; discutir o uso de ferramentas que
Violência obstétrica:
AZEVEDO, MB; DIAS, possibilitem a melhoria da
perspectiva da
RL; GOMES, SKC. assistência por parte dos
enfermagem.
2015 profissionais de saúde à
parturiente.
Fonte: Dados de revisão, 2020.

Quadro 2. Ordem dos artigos, Título, Intervenção, Conclusões


Ordem
Intervenção
dos Título Conclusões
realizada
artigos
O tratamento hostil constitui
um dos obstáculos à
Foram realizadas
humanização da assistência
O discurso da violência entrevistas com 36
ao parto, interferindo na
obstétrica na voz das parturientes, dez
1 escolha da via de parto, sendo
mulheres e dos enfermeiros
necessário rever o conceito de
profissionais de saúde. obstetras e 14
violência obstétrica,
médicos obstetras.
considerando todas as suas
especificidades e nuances
Entrevista realizada
com 19 enfermeiras
que atuavam no As enfermeiras obstétricas
Percepção de Centro Obstétrico, percebem que a violência
enfermeiras obstétricas Pré-parto, Parto e obstétrica se apresenta de
2
acerca da violência Pós-parto de um diversas formas; entretanto,
obstétrica hospital de não reconhecem determinadas
referência materno- práticas como uma violação.
infantil da cidade de
Belém, Pará, Brasil
Evidenciou-se a necessidade
Entrevista com
de reformulação na
O cuidado de doze mulheres que
assistência de enfermagem à
enfermagem vivenciado aguardavam
mulher no parto em prol de
3 por mulheres durante o atendimento em um
ações que reduzam
parto na perspectiva da serviço
intervenções desnecessárias e
humanização. especializado de
devolva à mulher o seu
Minas Gerais.
protagonismo.
Estudo descritivo No âmbito do novo modelo de
desenvolvido junto assistência ao parto e
a 35 puérperas, nas nascimento a violência
Formas de violência
duas maternidades obstétrica não deve ter espaço
obstétrica vivenciadas
4 públicas municipais e os profissionais de saúde
por puérperas que
existentes na devem atuar no sentido de
tiveram parto normal.
cidade de Natal, garantir um atendimento
Rio Grande do digno, com qualidade e
Norte. tratamento respeitoso.
5 Violência obstétrica: Estudo com O suporte profissional no
perspectiva da abordagem trabalho de parto e parto é um
enfermagem. qualitativa de cuidado desenvolvido
natureza descritiva principalmente pela equipe de
com levantamento enfermagem e que
bibliográfico de proporciona bem estar para as
9

texto completo
acessível, no ano parturientes, contribuindo para
de publicação de a humanização da assistência.
2009 até 2013.
Fonte: Dados de revisão, 2020.

2.2 EIXOS TEMÁTICOS

Visando uma abordagem mais objetiva e detalhada do assunto, esse trabalho


segue as orientações de Mendes, Silveira e Galvão (2008), dividendo o conteúdo
dos artigos em três eixos temáticos apresentados, a seguir:

2.2.1 Conceitos introdutórios ao tema e contextualização da violência obstétrica

Em todos os artigos analisados, foi apresentado algum tipo de concepção


e/ou contextualização da violência obstétrica como introdução ao estudo que se
propunham a executar. Muitas dessas concepções encontram convergências entre
si, conforme demonstram os dados apresentados no quadro a seguir:

Quadro 3. Concepções sobre violência obstétrica


Ordem Violência obstétrica (concepção/contextualização)
dos
artigos
[...] qualquer ato ou intervenção desnecessária dirigida
à parturiente ou ao neonato, praticada sem o consentimento da mulher e/ou
1
em desrespeito à sua autonomia, integridade física ou psicológica, indo
contra os seus sentimentos, desejos e opções (p. 3).
[...] apropriação do corpo feminino e de sua autonomia reprodutiva, durante o
processo do pré-parto, parto e pós-parto, pelos profissionais da área da
saúde, expondo a mulher a condutas desumanizadas, à utilização de
2 procedimentos dolorosos ou constrangedores, bem como de medicação sem
a real necessidade, convertendo o processo natural de nascimento em
patológico, e uso de atitudes abusivas no que tange ao psicológico feminino
(p. 2).
[...] violência institucional sofrida pela mulher durante o trabalho de parto [...]
em que algumas intervenções indicadas somente em casos especiais se
3
transformaram em rotina, como o uso do fórceps e a episiotômia, resultando
na perda de privacidade da gestante (p. 1274).
[...] apropriação do corpo e processos reprodutivos das mulheres pelo
4 pessoal de saúde, expresso em um tratamento desumanizador, em abuso de
medicalização e patologização de processos naturais (p. 81)
5 [...] violência que se configura através da imposição de intervenções danosas
à integridade física e emocional das mulheres nas instituições em que são
atendidas, bem como o desrespeito a sua autonomia, como quando o
10

profissional obstetra transformar o processo fisiológico do parto em um


evento medicalizado (p. 2).
Fonte: Dados de revisão, 2020.

Analisando o quadro 3, exposto anteriormente, é possível depreender que


apenas o artigo 3, produzido por Silva et al (2016) não trouxe explicitamente uma
definição de violência obstétrica, detendo-se a contextualizar as condições de
agravo à saúde física e psicológica da mulher durante o parto, haja vista o aumento
de número de cesáreas e de intervenções traumatizantes no momento do parto, no
período de estudo.
Nos demais artigos, houve uma conceituação clara da violência obstétrica.
Nesses artigos repetem-se elementos caracterizadores da violência obstétrica por
meio de palavras-chave e/ou expressões que remetem à apropriação do corpo
feminino, desrespeito à autonomia, patologização, medicação, desumanização,
abusos, agravos físicos e psicológicos.
O destaque nesse eixo é, portanto, a concepção que se tem de violência
obstétrica, com especial relevo à medicalização, a patologização e à apropriação do
corpo feminino, práticas comuns que ocorrem de forma velada e, até entendidas
como naturais no cotidiano da sociedade brasileira, especialmente dos pequenas
cidades onde as deficiências de informação e de saúde são maiores.

2.2.2 Identificação de tipos de violência obstétrica

O segundo eixo temático elencou os fatores de risco para a violência


obstétrica a partir dos estudos arrolados e apresentados no quadro 4, a seguir.

Quadro 4. Identificação de tipos de violência obstétrica


Ordem Tipos de violência obstétrica
dos
artigos
1 “[...] tratamento agressivo e pouco tolerante que permeia o cuidado durante o
trabalho de parto” (p. 4).
“[...] hierarquia médico/enfermeiro, restringindo e controlando o espaço na
assistência ao parto” (p. 5).
“[...] palavras ofensivas” (p. 5).
“[...] sala de parto apresenta-se como um espaço onde ações irracionais e
automatizadas podem ocorrer” (p. 5).
“[...] o médico tem seu saber como uma verdade absoluta, ao qual os corpos
das pacientes são docilmente submetidos para que possam ser controlados,
11

transformados e aperfeiçoados”. (p. 6).


“[...] procedimentos invasivos, como a manobra de Kristeller, a episiotomia e a
infusão de ocitocina de rotina” (p. 3).
“[...] uso de termos intimidatórios e constrangedores” (p. 3).
2 “[...] justificativa da ajuda à parturiente para a realização das condutas” (p. 4).
“[...] as enfermeiras obstetras, as parturientes não sabem reconhecer as
situações de violência obstétrica, exceto aquelas que tiveram contato com a
temática” (p. 5).
“[...] uso da força física para expulsão do feto, tanto no incentivo à parturiente
quanto na intervenção da enfermeira” (p. 1273).
“[...] escassez de orientações acerca dos procedimentos que estavam sendo
realizados” (p. 1275).
3
“[...] condutas desrespeitosas à parturiente ou bebê que desconsideram sua
liberdade de escolha, sua integridade física e os aspectos emocionais
resultantes da intervenção” (p. 1276).
“[...] a cesárea tornou-se o padrão a ser seguido” (p. 1276).
“[...] comentários inadequados, oriundos de alguns profissionais de saúde” (p.
84).
“[...] críticas sobre o ato de gritar ou gemer durante o trabalho de parto” (p. 84).
“[...] momentos de intimidação, inclusive com a ameaça de serem deixadas
4
sozinhas” (p. 85).
“[...] mulheres tratadas com ignorância, sendo, inclusive, pressionadas
psicologicamente com a responsabilização por algum dano possível de ocorrer
com o filho” (p. 85).
“[...] submeter a gestante a uma aceleração do parto desnecessariamente” (p.
2).
5 “[...] privar a mulher da presença do acompanhante” (p. 2).
“[...] deixar de oferecer métodos naturais para o alívio da dor e/ou agendar
cesárea” (p. 3).
Fonte: Dados de revisão, 2020.

O eixo que ganha destaque nesse trabalho é a identificação de tipos de


violência obstétrica, pois os dados elencados no quadro 4 formam uma lista de
situações vivenciadas por profissionais e mulheres parturientes no dia a dia dos
hospitais brasileiros. São fragmentos de exposições apresentadas em pesquisas de
campo que corroboram as concepções apresentadas sobre a violência obstétrica,
tornando realidade as definições elencadas.
Os fragmentos apresentados pelos pesquisadores, resultados de seus
estudos, trazem para o plano da realidade a discussão que se faz na academia. A
violência obstétrica deixa de ser uma possibilidade e uma probabilidade para ser um
fato que se delineia nos discursos dos atores que estão presentes nas salas de
partos, nos hospitais e nas demais instituições.
É importante destacar que a violência descrita por profissionais e mulheres
parturientes não apresenta apenas um ou dois aspectos, mas sim, um conjunto de
elementos que podem ser percebidos no cotidiano do trabalho em enfermagem.
12

Chama a atenção a questão da hierarquia citada nos artigos, em que o(a)


enfermeiro(a) cita atitudes violentas dos(as) médicos(as), mas não se sente em
condições de contrariá-los. Esses casos evidenciam as relações de poder existentes
na sociedade e que se materializam nas instituições de saúde. Assim, o médico é
visto como o “dono” de uma verdade absoluta enquanto os corpos das pacientes são
percebidos como aqueles que devem ser submetidos e controlados. Nessa relação,
o(a) enfermeiro(a) não tem voz, não tem força. Seguindo essa linha de raciocínio, os
artigos evidenciam o parto cesáreo como padrão a ser seguido, orientado por
médicos, aceito pela maioria.
Afora esses achados, ainda tipificam a violência obstétrica o uso de insultos,
ameaças, gritos e a privação da parturiente de um acompanhante, em síntese, a
ausência de ética e de observância dos princípios que regem o trabalho em saúde,
normatizados em documentos legais e a desobediência aos direitos da mulher,
enquanto cidadã plena.

2.2.3 O papel do enfermeiro no cuidado e prevenção à violência obstétrica

O terceiro e último eixo temático trata do papel do profissional de enfermagem


no cuidado e prevenção à violência obstétrica. Os dados estão sintetizados no
quadro 5:

Quadro 5. O papel do enfermeiro no cuidado e prevenção à violência obstétrica


Ordem O papel do enfermeiro no cuidado e prevenção à violência
dos obstétrica
artigos
“[...] instrumentalização de profissionais na assistência ao parto de risco
habitual, tais como os profissionais da Estratégia de Saúde da Família e os
enfermeiros obstetras contribuindo para a elaboração do plano de parto e a
promoção da autonomia e empoderamento das parturientes” (p. 9).
“[...]Outra estratégia de enfrentamento de situações de conflito, como a
1
violência obstétrica, é a atuação do enfermeiro na advocacia do paciente.
Embora seja uma prática ainda incipiente no Brasil, esta ação emerge como
uma obrigação moral do enfermeiro, em advogar em defesa do paciente” (p.
9).

2 “[...] importância da capacitação profissional, vislumbrando um melhor


atendimento à gestante durante o pré-natal. Destacamos, também, o papel das
enfermeiras obstétricas na redução desses casos nas maternidades públicas e
privadas, promovendo, assim, assistência pautada em princípios como a
equidade e a integralidade.” (p. 6).
13

“[...] as atitudes do profissional pautadas na individualidade e no respeito


contribuem para que o cuidado esteja direcionado à valorização da
parturiente.” (p. 1277).
“[...] Durante o trabalho de parto, o enfermeiro e sua equipe devem valorizar a
mulher, ajudando-a no processo de parir, respeitando seu tempo, utilizando
técnicas que visam o relaxamento e o alívio da dor como massagens, banhos,
estímulo à deambulação ativa, exercícios respiratórios, mudança de posição,
toques reconfortantes e utilização de bolas de nascimento.” (p. 1277).
“[...] É necessário lutar por um atendimento respeitoso e de qualidade no
3
sistema de saúde público e privado.” (p. 1278).
“[...] É preciso que os profissionais de saúde adquiram a percepção de que a
mulher é por direito a protagonista de seu parto e, ao terem isso em mente,
reformulem a forma de cuidar.” (p. 1278).
“[...] É preciso colocar em prática o que é considerado como essencial à
assistência pelo Ministério da Saúde e pelas produções científicas sobre o
tema para que cada vez menos mulheres relatem, conscientes ou não, que
sofreram violência obstétrica.” (p. 1278).

“[...] Durante o parto, a mulher necessita de atenção, esclarecimentos sobre o


que será feito, respeito e empatia, e acima de tudo, a possibilidade de
participar ativamente dessa fase de sua vida” (p. 87).
4
“[...] os profissionais de saúde devem atuar no sentido de garantir um
atendimento digno, com qualidade e tratamento respeitoso, considerando os
direitos conquistados pelas mulheres no campo obstétrico.” (p. 87).
“[...] O cuidar deve ser ampliado para uma ação acolhedora, possibilitando uma
relação que transcenda o sentido de curar e tratar, contemplando com atitudes
de solicitude, paciência e preocupação, que resultem em uma humanização do
cuidado por parte do enfermeiro.” (p. 4).
“[...] É válido ressaltar, que a humanização da assistência ao parto, exige
5
principalmente, que a atuação do profissional respeite os aspectos de sua
fisiologia, não intervenha de forma desnecessária, reconheça os aspectos
sociais e culturais do parto e pós-parto, e ofereça o suporte emocional à
mulher e à sua família” (p. 4).

Fonte: Dados de revisão, 2020.

A assistência de enfermagem humanizada como meio de prevenção à


violência obstétrica foi um ponto de convergência dos artigos analisados, uma vez
que estava no cerne do objetivo desse trabalho. Os dados coletados convergem
para uma mesma perspectiva: a importância da instrumentalização de profissionais
de enfermagem para o cuidado e prevenção da violência obstétrica.
Nesse sentido, evidenciam-se nos dados coletados elementos próprios do
parto humanizado, tais como: assistência pautada em princípios como a equidade, a
integralidade, a individualidade e o respeito; atendimento digno, respeitoso e com
qualidade; reconhecimento dos aspectos sociais e culturais do parto e pós-parto;
suporte emocional à mulher e à sua família e ação acolhedora, atitudes de
14

solicitude, paciência e preocupação, humanização do cuidado. Brito et al. (2009),


assim se colocam a respeito do tema:

Muitas são as vezes que a falta de conhecimento da parturiente sobre as


intercorrências do trabalho de parto faz com que ela se submeta a
imposições e conduta médica sem ter condições de manifestar suas
vontades. Por isso a equipe de Enfermagem na sala de parto tem um papel
importante, orientando e garantindo a segurança e conforto da parturiente. É
importante que a parturiente se sinta segura e tranquila. O objetivo da
humanização é tornar o ato do nascimento uma experiencia gradual e que
proporcione satisfação à mãe e ao acompanhante (BRITO et al., 2009, p.
24)

Acrescentando ao rol dos cuidados e prevenção, ainda foi relatada a


capacitação profissional do(a) enfermeiro(a) em estratégias de enfrentamento de
situações de conflito e violência obstétrica para que possa contribuir com mais
eficácia na elaboração do plano de parto e na promoção da autonomia e
empoderamento das parturientes, assim como para atuar em defesa do paciente nos
casos de agressão, considerando, segundo os dados colhidos, os direitos
conquistados pelas mulheres no campo obstétrico.
Tais orientações encontram respaldo no Decreto 94.406/1987 que
regulamenta a Lei nº 7.498/1986 e dispõe sobre o exercício da Enfermagem, em seu
artigo 8º, inciso II, alínea h, que afirma caber ao enfermeiro, enquanto integrante de
uma equipe de saúde, prestar assistência de enfermagem à gestante, parturiente,
puérpera e ao recém-nascido, acompanhando a evolução e o trabalho de parto
(alínea j).
Enfim, cabe ressaltar a Resolução COFEN nº 0564/2017, que traz em seu
preâmbulo, os princípios fundamentais que regem a conduta profissional de
enfermeiros e enfermeiras, apresentando a Enfermagem como “[...] arte e uma
prática social, indispensável à organização e ao funcionamento dos serviços de
saúde”. De acordo com a Resolução nº 0564/2017, reafirmam-se, como princípios
fundamentais a serem observados no exercício da Enfermagem, o respeito aos
direitos humanos sem quaisquer distinção.

3 CONCLUSÃO

Consideramos, ao final deste estudo, que o objetivo delineado no seu início


foi alcançado. Acredita-se que a análise feita conseguiu fornecer ao eventual leitor
um grupo ilustrativo de artigos que tratam dos cuidados de enfermagem na
15

prevenção da violência obstétrica sob diversas perspectivas. Este propósito foi


alcançado por meio da revisão integrativa como metodologia para o trabalho
investigativo. Pois, foi possível estabelecer eixos temáticos que corroboraram os
preceitos encontrados na literatura.
Os dados revelaram que todas as publicações trataram da violência obstétrica
como um tipo de violência de gênero, devido, especialmente ao sujeito passivo da
agressão: a mulher. Também se verificou que esse tipo de violência ocorre de forma
velada e, na maioria das vezes, os elementos que compõem sua definição não são
percebidos pelas vítimas. Isso se deve, no entender desse trabalho, a falta de
informação sobre o tema, fato que pode levar à continuidade da problemática.
O segundo eixo identificou os tipos de violência obstétrica estudados nos
artigos analisados. Esse eixo destacou especialmente a questão da cesárea como
um tipo de violência a que a mulher é submetida e destacou as relações de poder
em que o profissional de saúde se coloca como dono da situação e detentor das
opções a serem feitas. À parturiente é colocada em um lugar se subordinação e de
humilhação, recebendo ameaças, insultos e desprezo. Outra observação encontrada
nos artigos que remetem à violência foi relativa ao próprio espaço onde ocorre o
parto e a proibição de acompanhante.
Através do eixo o papel do enfermeiro no cuidado e prevenção à violência
obstétrica, percebeu-se que os autores dos artigos tratam do tema sob a mesma
perspectiva, apontando a necessidade de cuidado humanizado, capacitação e
instrumentalização do profissional de enfermagem na prevenção à violência
obstétrica. Contudo, humanizar o parto não é tarefa simples, haja vista que o(a)
enfermeiro(a) faz parte de uma equipe de saúde e nem sempre todos estão
capacitados ou compreendem a importância da humanização. Além disso, há toda
uma complexidade que envolve a problemática como questões culturais, relações de
poder e gênero. Daí a importância, cada vez maior do debate, dos estudos e da
discussão na academia e fora dela.
Espera-se, ao fim do trabalho, que ele possa ajudar a futuras pesquisas neste
sentido, especialmente as que lancem olhares mais amplos sobre a realidade
investigada, contribuindo assim com o avanço da ciência e o benefício da
população, alvo dos cuidados de enfermagem.
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