EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL
DA COMARCA DE FREDERICO WESTHALEN /RS
SUZANA, brasileira, casada, inscrita no CPF sob o n°
XXX.XXX.XXX-XX e RG XXXXXXXXXX, residente e domiciliada na Rua X, n° XXX, bairro X, na cidade de XX, Estado do Rio Grande do Sul e BEATRIZ, brasileira, solteira, inscrita no CPF sob o n° XXX.XXX.XXX-XX e RG XXXXXXXXXX, residente e domiciliada na Rua X, n° XXX, bairro X, na cidade de XX, Estado do Rio Grande do Sul, ambas representado a sucessão de ANTÔNIO DA SILVA, vem perante Vossa Excelência, por meio de sua Advogada, infra assinado, ajuizar
RECURSO DE APELAÇÃO COM PRELIMINAR PARA IMPUGNAR DECISÃO
INTERLOCUTÓRIA
Em face da sentença proferida, em AÇÃO DE
INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE COM PEDIDOS CUMULADOS DE PENSÃO ALIMENTÍCIA E RESERVA DE QUINHÃO HEREDITÁRIO, ajuizada por PEDRINHO, menor absolutamente incapaz, à época com 12 (doze) anos de idade, devidamente representado por sua genitora MÁRCIA, ambos já devidamente qualificados nos autos.
Requer-se dede já, o que abaixo subscreve:
a) De pronto, a intimação do recorrido, para, querendo, ofereça as contrarrazões, nos termos do Art. 1010, §1º do CPC; b) Com fulcro no Art. 1.007 §3° do CPC, o qual dispõe que “é dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno em processos que tramitam por meio eletrônico”, requer-se a juntada da guia de recolhimento de preparo;
c) Que sejam os autos encaminhados ao tribunal, para
que seja processado e julgado o presente recurso.
d) A intimação do Ministério Público, por se tratar de
ação que demanda sua intervenção.
Termos em que, pede e aguarda deferimento.
Frederico Westphalen, 14 de outubro de 2021.
STÉFANI NOGUEIRA,
OAB/RS XXXX.
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
COLENDA CÂMARA:
EMÉRITOS DESEMBARGADORES:
RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO:
I – PRELIMINARMENTE
Segundo o Art. 1.009 do Código de Processo Civil, o
recurso de apelação é cabido das decisões definitivas de primeira instância para juiz, instância ou tribunal superior.
Por ser um recurso bastante usado no cotidiano forense, é
passível de ser utilizada este possibilidade na elaboração desse importante recurso processual.
Com o devido respeito à sentença proferida nos autos pelo
juiz a quo, percebe-se que ocorreu flagrante cerceamento de defesa no decorrer do processo, em razão do desrespeito às normas processuais, bem como ao princípio constitucional do devido processo legal, porquanto não observado os regramentos do Código de Processo Civil.
No presente caso, o pedido de produção de prova cabal
ao esclarecimento dos fatos foi indeferido pelo juízo singular, considerando que a tese defensiva dependia desta prova.
Porquanto, o juiz, na condução do processo, deve velar
para que a marcha processual se processe de forma justa e equânime, rechaçando as provas pretendidas pelas partes, quando entender impertinentes ou protelatórias ao andamento regular do feito, mas por outro norte, deferindo a produção daquelas imprescindíveis à elucidação do caso concreto na busca da verdade real.
Sendo a sentença desfavorável àquele a quem aproveitaria
a prova, e sendo esta indeferia pelo juízo, incompleta se mostra a fase instrutória, fazendo jus a parte sucumbente a um novo procedimento judicial. A Ampla liberdade na direção do processo não se sobrepõe jamais ao direito à produção de provas. Patente a violação ao princípio constitucional do devido processo legal, erigido ao status de direito social, conforme insculpido no Art. 5°, inciso LIV da Constitucional Federal de 1.988.
Ademais, cumpre destacar que a essencialidade da prova
foi devidamente comprovada na contestação, tornando-se parte fundamental na hora de comprovar a relação entre o Autor e o pai que o registrou.
Além disso, percebe-se que é infundado o pedido de
gratuidade da justiça postulado pela parte autora, devendo esse ser revogado, a mesma não representa necessidade de gozar de tal benefício. A mesma declara-se pobre e a declaração de pobreza gera apenas presunção relativa acerca da necessidade, fazendo-se necessária uma verificação detalhada para a concessão deste benefício, já que a parte autora nitidamente tem condições financeiras de arcar com os custos judiciais, devendo o benefício da gratuidade de justiça ser revogada.
II – RAZÕES DA REFORMA
Ademais, expostas as teses preliminares, cumpre destacar
o equívoco cometido na sentença monocrática, no que diz respeito ao mérito:
É de veras excêntrica a atitude da parte Autora, a qual
esperou ocorrer o falecimento do suposto pai de seu filho, para somente depois entrar com pedido de pensão alimentícia e reserva de quinhão hereditário, mesmo após terem passado doze anos do nascimento da criança.
Sem quaisquer alegações a respeito da parte, mas
mostrasse um tanto descabido o fato de que a mesma esperou doze anos para buscar os direitos de filho como herdeiro de Antônio, sendo que à época do nascimento de Pedrinho, mesmo sabendo de sua real paternidade, aceitou que José, seu convivente em união estável, registrasse o menino.
Tendo crescido por mais de uma década tendo José como
sua única figura paterna, há de imaginar-se o abalo sofrido por Pedrinho ao saber que o laço entre ambos não são de sangue. Há de se presumir que o psicológico do menor pode estar sendo afetado.
Além do mais, o convivente José, voluntariamente
registrou a criança e vinha sendo um de seus responsáveis com total concordância da mãe . Além do mais, é digno concluir que a relação entre pai e filho biológico ou não, desde que amorosamente, equiparam- se. Segundo decisão do STF, ambas as modalidades de vínculo parental foram reconhecidas com o mesmo status, sem qualquer hierarquia apriorística (em abstrato).
Segundo o Ministro Relator Luiz Carlos Fux “Se o
conceito de família não pode ser reduzido a modelos padronizados, nem é lícita a hierarquização entre as diversas formas de filiação, afigura-se necessário contemplar sob o âmbito jurídico todas as formas pelas quais a parentalidade pode se manifestar, a saber: (i) pela presunção decorrente do casamento ou outras hipóteses legais (como a fecundação artificial homóloga ou a inseminação artificial heteróloga – art. 1.597, III a V do Código Civil de 2002); (ii) pela descendência biológica; ou (iii) pela afetividade.” 1 . 1 Trecho do voto do Min. Relator Luiz Fux, ao julgar o RE 898060/SC, p. 14 Contudo, importante se faz analisar se o reconhecimento de paternidade é somente para fins afetivos ou se há interesse econômico. Se a razão for a última, é de ser revisto este pedido. Aliás, sabe-se que uma relação entre pai e filho não depende da genética, sendo que basta uma relação amorosa para que se considere uma paternidade, prevalecendo os vínculos criados.
Sendo assim, por mais que haja o reconhecimento da
paternidade de Pedrinho, não há como anular a relação socioafetiva entre José e o menino.
Nesse sentido, há mais de 10 (dez) anos posiciona-se o TJRS:
NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. REGISTRO CIVIL. VÍCIO DE
CONSENTIMENTO NÃO-DEMONSTRADO. 1. O ato de reconhecimento de filho é irrevogável (art. 1º da Lei nº 8.560/92 e art. 1.609 do CCB). 2. A anulação do registro, para ser admitida, deve ser sobejamente demonstrada como decorrente de vício do ato jurídico (coação, erro, dolo, simulação ou fraude). 3. Se o autor registrou a ré como filha, mesmo sabendo da possibilidade de inexistência do liame biológico, não pode pretender a desconstituição do vínculo, já que presente a voluntariedade do ato. Recurso desprovido. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Apelação Cível Nº 70039415971, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 19/10/2011)
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE.
RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. AUSÊNCIA DE VÍNCULO BIOLÓGICO COMPROVADA NOS AUTOS. ASSENTO DE NASCIMENTO QUE NÃO É PASSÍVEL DE ALTERAÇÃO. ERRO NÃO COMPROVADO. O registro da paternidade é ato voluntário e irretratável, cuja invalidação exige a verificação dos chamados vícios do consentimento: erro, dolo, coação, simulação ou fraude. A alegação do autor no sentido de que teria sido induzido em erro ao declarar a paternidade da demandada não resultou comprovada, não concretizando as hipóteses previstas nos arts. 138 a 165 do CCB. Nesse contexto, em que pese comprovada a inexistência de vínculo biológico mediante exame de DNA, assim como de relação socioafetiva entre as partes, deve prevalecer a referência formal de parentesco. Sentença reformada. APELAÇÃO PROVIDA.(Apelação Cível, Nº 70084007640, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sandra Brisolara Medeiros, Julgado em: 28-05- 2020)
ANULAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. NEGAÇÃO DE PATERNIDADE.
INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO BIOLÓGICO. LIAME SOCIOAFETIVO. 1. O ato de reconhecimento de filho é irrevogável (art. 1º da Lei nº 8.560/92 e art. 1.609 do CCB). 2. A anulação do registro civil, para ser admitida, deve ser sobejamente demonstrada como decorrente de vício do ato jurídico (coação, erro, dolo, simulação ou fraude), não podendo alegar que foi induzido a erro o companheiro da genitora quando afirma, na exordial, que tinha desconfiança sobre a filiação, mas mesmo assim optou por reconhecer o filho. 3. Em que pese o distanciamento entre a verdade real e a biológica, o acolhimento do pleito anulatório não se justifica quando o ato jurídico de reconhecimento de filho não padece de vício e quando ficou claro que se estabeleceu forte liame socioafetivo. 4. Inexistência de prova do vício induz à improcedência da ação. Recurso desprovido. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Apelação Cível Nº 70038611489, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 24/08/2011)
Nessa esteira, em análise de toda a situação fática, não resta
mínima dúvida de que a pretensão do demandante é exclusivamente patrimonial, pois, por óbvio a parte avistou a possibilidade de inclusão no processo de inventário e ter parte do quinhão hereditário, não merecendo chancela judicial, com a devida vênia aos entendimentos em sentido contrário, porquanto estar-se-ia desprestigiando a paternidade socioafetiva construída ao longo dos anos e bem demonstrada nos autos, que não pode ser olvidada, sob pena de se desvirtuar os princípios basilares do Direito de Família, somente incutido em interesses financeiros.
Aliás, assim já se posicionou o TJRS:
APELAÇÃO CÍVEL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. PATERNIDADE
SOCIOAFETIVA COM O PAI REGISTRAL RECONHECIDA. PRETENSÃO QUE VISA EXCLUSIVAMENTE AOS EFEITOS PATRIMONIAIS DECORRENTES DA FILIAÇÃO BIOLÓGICA.C aso concreto em que reconhecida a vinculação socioafetiva entre o demandante e seu pai registral, que perdurou por anos, exercendo, o autor, os direitos decorrentes dessa filiação, com o recebimento da herança deixada pelo de cujus. Pertinente, apenas, o reconhecimento da origem genética, que restou irrefutável diante da conclusão da prova técnica – exame de DNA, sem reconhecer os direitos patrimoniais e, tampouco, alterar o registro civil do demandante, sob pena de se desfigurar os princípios basilares do Direito de Família. Sentença confirmada. APELO DESPROVIDO. (apelação cível, n° 70069757774, Sétima Câmera Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sandra Brisolara Medeiros, julgado em 24-02-2016) [grifos acrescidos]
Portanto, mais do que necessário a desconstituição do direito ao
quinhão hereditário, desabilitando-o do processo de inventário, com a consequente anulação da sentença monocrática.
III- EFEITO SUSPENSIVO
Com base no art. 1.012 §3° do Código de Processo Civil,
pretende o apelante requer a atribuição de efeito suspensivo ao presente recurso de apelação para o fim de ver suspensa a temporariamente a ação de execução n. xxxxx, objeto deste presente, tendo em vista a notória presença de perigo de lesão em prejuízo do apelante. Ademais, convém ressaltar que o efeito suspensivo não ocasionará prejuízo a parte apela, pois, em caso de improvimento do recurso, poderá seguir normalmente os atos processuais pertinentes, razão pela qual o provimento cautelar é a medida que se impõe.
IV- PEDIDOS E REQUERIMENTOS
DIANTE DO EXPOSTO, requer:
1) o reconhecimento do presente recurso de apelação, tendo em vista a suatempestividade e pertinência, com fulcro no art. 1.009, do CPC; 2) o recebimento do presente recurso de apelação nos seus efeitos legais, nos termos do art. 1.012, do CPC; 3) Nos termos do art. 1.009 §1° do CPC, requer o conhecimento das decisões interlocutórias impugnadas preliminarmente no presente recurso de apelação para deferimento da prova testemunhal e revogação da AJG; 4)o provimento do recurso a fim de acolher a alegação de cerceamento de defesa e violação do princípio do devido processo legal, com a consequente anulação da sentença; subsidiariamente, seja acolhida a tese da multiparentalidade e prevalência da paternidade socioafetiva sobre a paternidade biológica e desconstituição do direito ao quinhão hereditário, desabilitando-o do processo de inventário, com a consequente anulação da sentença e devolução dos autos ao juízo de primeiro grau para o prosseguimento do feito para que a instrução seja reaberta e posteriormente nova decisão seja proferida; 5) não sendo este o entendimento de Vossas Excelências, no mérito, requer seja dado provimento integral ao recurso para reformar a sentença, julgando improcedente os pedidos do apelado ou, ao menos, provimento parcial no sentido reconhecer a multiparentalidade, sem excluir o pai registral com a inversão ou, alternativamente, a majoração das verbas sucumbenciais em face da condenação recíproca; 6) a revogação da justiça gratuita impugnada em preliminar, considerando a situação financeira de Pedrinho, não se enquadrando no benefício de gratuidade, constante no art. 98 do CPC e/ou art. 5°, inciso LXXIV, da CF; 7) requerimento de intimação da parte autora para o pagamento das custas em virtude da revogação da gratuidade, sob pena de extinção do processo sem análise do mérito, na forma do art. 102, do CPC. Nestes termos, pededeferimento.