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Direito Constitucional: o que é, conceitos e noções fundamentais.

O Direito Constitucional é a área do Direito que tem por objeto as normas constitucionais e decorre,
então, da elaboração das Constituições nos Estados-Nação.

O Direito Constitucional é uma área do Direito recente quando em comparação a outras áreas como
o Direito Civil ou o Direito Penal.

Não que as demais áreas não tenham se modificado consideravelmente ao longo do


desenvolvimento das sociedades. Contudo, algumas áreas foram estruturadas ou seccionadas
antes das outras.

Assim, algumas discussões particulares também foram mais recentes, como no caso do Direito
Constitucional, que se direciona ao estudo da efetivação das normas constitucionais.

Diz-se que o Direito Constitucional é mais recente, porque as Constituições dos Estados não datam
de longo tempo. Isto não significa, todavia, que não houvesse normas anteriores e superiores. Não
havia, entretanto, preocupação igual com o estabelecimento de normas positivas hierarquicamente
superiores.

1. O que é Direito Constitucional: conceito e histórico

O Direito Constitucional é a área do Direito Público que analisa as normas constitucionais, isto é,
as normas da Carta Maior ou consideradas supremas num Estado soberano. Decorre, então, da
elaboração das Constituições nos Estados-Nação. O conceito de Direito Constitucional, portanto, é
bastante recente na História do Direito.

A primeira Constituição conhecida, nos termos hoje considerados, é a Constituição dos Estados
Unidos, de 1787. Logo em seguida, surgiram outras Constituições, como a da França do pós-
Revolução Francesa, em 1791. No Brasil, a primeira Constituição data de 1824.

Barroso [1] descreve o movimento de evolução do Direito no sentido da elaboração de normas


constitucionais, iniciando com as seguintes palavras:

No princípio era a força. Cada um por si. Depois vieram a família, as tribos, a sociedade primitiva.
Os mitos e os deuses – múltiplos, ameaçadores, vingativos. Os líderes religiosos tornam-se
chefes absolutos. Antiguidade profunda, pré-bíblica, época de sacrifícios humanos, guerras,
perseguições, escravidão. Na noite dos tempos, acendem-se as primeiras luzes: surgem as leis,
inicialmente morais, depois jurídicas. Regras de conduta que reprimem os instintos, a barbárie,
disciplinam as relações interpessoais e, claro, protegem a propriedade. Tem início o processo
civilizatório. Uma aventura errante, longa, inacabada. Uma história sem fim.
Fontes do Direito Constitucional:

As fontes do Direito Constitucional são os elementos que servem, então, como base para o estudo
e aplicação das normas.

Para alguns autores, as fontes podem ser divididas entre fontes imediatas e fontes mediatas.

As fontes imediatas são a lei (a Carta Maior), principal fonte normativa neste sentido, e, conforme
alguns autores, os costumes, embora haja debates sobre o enquadramento do último.

Já as fontes mediatas são a jurisprudência e a doutrina. Ou seja, a cultura jurídica com base na
norma escrita. E jurisprudencialmente falando, é preciso destacar a atuação do Supremo Tribunal
Federal (STF), como guardião da Carta Maior.

2. O que é constitucionalismo

A concepção mais difundida e defendida de democracia é aquela na qual o modelo político


consolida decisões através da atribuição de poder à maioria de seus membros.

O exercício desse poder, ainda que emanado do povo, é efetivado por meio de representações.
Contudo, o advento, durante o século XX, de regimes como nazismo e o fascismo, coloca em
questionamento a supremacia da lei pela lei.

Ambos os regimes alcançaram poder através de instrumentos legais próprios de uma sociedade
democrática, para, então, suprimir os elementos democráticos de direito.

Essa realidade evidenciou que as proposições de conteúdo positivista, então hegemônicas, não
eram suficientes à garantia da aplicação de justiça em seu aspecto moral.

Revelou-se necessário, dessa forma, encontrar novas teorias e instrumentos legais que
viabilizassem a segurança do bem coletivo e da manutenção da democracia mesmo diante da
vontade da maioria.

Após a Segunda Guerra Mundial, despontaram, então, teorias em defesa do poder das Cartas
Constitucionais. E foram então intituladas de constitucionalismos, impactando a forma como o
Direito Constitucional era vislumbrado. Todavia, mesmo entre essa corrente houve divergências,
tendo se subdivido em duas vertentes principais:

1. constitucionalismo garantista ou “neoconstitucionalismo” – um progresso de teorias


juspositivistas; e

2. constitucionalismo principialista – um progresso de teorias jusnaturalistas.

Entre os teóricos de ambos os expoentes, destacaram-se, sobretudo, Dworkin, Alexy e Ferrajoli.


Suas teses adentraram, então, o ordenamento jurídico brasileiro e ganharam novos contornos na
redemocratização do país e na promulgação da Constituição de 1988. Apesar da aceitação dessas
teorias, por óbvio, não são tomadas como verdades absolutas. E ainda comportam críticas, no
círculo da teoria e hermenêutica jurídica nacional.
Principialismo versus Garantismo Jurídico

A dimensão formal da democracia serve à legitimação da representação. Não garante, por sua vez,
a adequação das normas ao contexto ou ao bem coletivo, o que somente pode ser alcançado
através de uma dimensão substancial.

O espectro do conteúdo normativo na democracia política é o foco do paradigma constitucional.


Esse paradigma, no pós-guerra, foi estabelecido como um “sistema de limites e vínculos
substanciais – o princípio da igualdade, a dignidade da pessoa e os direitos fundamentais – às
decisões de qualquer maioria” [2].

Colocam-se como elementos limítrofes à tomada de decisões princípios que determinam


obrigações e proibições.

A validade das normas, portanto, passa, a partir dos movimentos pós-guerra, a integrar elementos
formais e substanciais. A produção legislativa não se atém somente aos pré-requisitos formais ou
estruturais; é imprescindível que represente valores coerentes com o paradigma constitucional
democrático.

É necessário ressaltar, contudo, que não há definição prévia das condições de validade da norma
ou do grau de justiça exprimido por elas segundo a teoria do direito; há somente há definição do
que seria válido ou inválido. Segundo Ferrajoli, “é válida toda e qualquer norma produzida em
determinado ordenamento em conformidade e em coerência com as normas formais e substanciais,
quaisquer que sejam, sobre sua produção normativa” [3].

3. Constituições Brasileiras: histórico da Lei Maior no Brasil

A Constituição Brasileira de 1988 é a 7ª que o Brasil já teve. São as Constituições Brasileiras,


consideradas oficialmente, de:

• 1824;

• 1891;

• 1934;

• 1937;

• 1946;

• 1967; e

• 1988.

Além dessas, alguns autores consideram a Emenda Constitucional nº 01 de 1969 como uma nova
Constituição.
Constituição de 1824

A Constituição Brasileira de 1824 é a primeira do país. Afinal, até 1822, o Brasil ainda era
considerado uma colônia de Portugal. A Declaração da Independência dá início, então, ao período
histórico conhecido como Brasil Império, que se estende até 1889, com a Proclamação da
República. Assim, a Constituição de 1824 é também a mais longa da história do país, com 67 anos
de vigência.

Publicada em 1824, a Constituição, portanto, marca também o início de um Direito propriamente


brasileiro e o início da desvinculação ao Direito português.

Merece atenção o fato de que a Carta Maior de 1824 previa quatro poderes:

• Executivo;

• Legislativo;

• Judiciário; e

• Moderador.

O Poder Moderador era exercido pelo Imperador, chefe supremo da nação, dotado de competência
para interferir nos demais poderes.

Constituição de 1891

A Constituição de 1891 é a primeira do Brasil República e revoga, dessa maneira, a Constituição


Imperial de 1824.

A principal função da Carta Maior neste momento histórico era dar uma estrutura para o país diante
da profunda mudança pela qual passava. É ela, então, que introduz o Federalismo, formato atual
de nosso Estado.

Embora seja o princípio da democracia brasileira, a Carta Constitucional está longe do formato hoje
entendido por democracia e, mais ainda, do caráter cidadão da Constituição de 1988.

As eleições, por exemplo, eram diretas, por maioria absoluta de votos não secretos, para presidente
e vice-presidente da República para brasileiros natos, com mais de 35 anos de idade, no exercício
dos direitos políticos. O exercício dos direitos políticos, no entanto, eram restritos a alguns cidadãos,
excluindo-se as mulheres.

A Constituição de 1891 é a primeira do Brasil República e revoga, dessa maneira, a Constituição


Imperial de 1824.

A principal função da Carta Maior neste momento histórico era dar uma estrutura para o país diante
da profunda mudança pela qual passava. É ela, então, que introduz o Federalismo, formato atual
de nosso Estado.
Embora seja o princípio da democracia brasileira, a Carta Constitucional está longe do formato hoje
entendido por democracia e, mais ainda, do caráter cidadão da Constituição de 1988.

As eleições, por exemplo, eram diretas, por maioria absoluta de votos não secretos, para presidente
e vice-presidente da República para brasileiros natos, com mais de 35 anos de idade, no exercício
dos direitos políticos. O exercício dos direitos políticos, no entanto, eram restritos a alguns cidadãos,
excluindo-se as mulheres.

Constituição de 1934

Em 1934, Getúlio Vargas ocupa o cargo de presidente do país. Quatro anos antes, eclodia a
Revolução de 1930.

A Constituição de 1934 foi um marco no Constitucionalismo brasileiro não apenas pelo momento
histórico em que se situa, mas também por suas inovações. Afinal, ela é resultado de um movimento
político e militar que busca o fim do sistema oligárquico marco da Política do Café com Leite da
Primeira República. No entanto, é ela também que introduz o voto feminino e insere as primeiras
proteções trabalhistas em sua redação.

Constituição de 1937

O populismo de Getúlio Vargas, contudo, culmina na tomada do poder em 1937 e a instauração de


uma ditadura. É o início, então, do Estado Novo.

Como o STF destaca:

[…] a Carta de 37 institui a pena de morte, suprime liberdades individuais e os partidos políticos
e concentra poderes no chefe do Executivo, acabando com a independência dos demais
poderes da República. O texto também restringe a atuação e as prerrogativas do Congresso
Nacional, permite a perseguição política aos opositores do governo e estabelece a eleição
indireta com mandato fixo de seis anos para presidente da República.

A Constituição de 1937 permanece vigente até 1946, com a queda de Vargas.

Constituição de 1946

Após a queda de Vargas, assume o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro
José Linhares, o qual convoca nova Assembleia Constituinte.

Promulgada pelo Congresso Nacional durante o governo de Eurico Gaspar Dutra, a Constituição
traz de volta princípios democráticos da Carta de 1934.

Sobre ela:
Na Carta de 1946 destaca-se a instituição do regime parlamentarista, por meio do chamado
Ato Adicional, de 2 de setembro de 1961, após a renúncia do então presidente da República
Jânio Quadros. Mas tal emenda previa a realização de um plebiscito. Realizado em janeiro de
1963, a maioria da população decidiu pela restauração do regime presidencialista.

Constituição de 1967

A Constituição de 1967 é, enfim, o marco da Ditadura Brasileira de 1964, revogando-se os princípios


democráticos trazidos com a Constituição de 1946.

Além do fortalecimento do Poder Executivo e da supressão de garantias políticas, retorna-se às


eleições indiretas. Ademais, o período é marcado por mudanças constantes no texto constitucional,
com destaque para os atos institucionais e complementares, como o AI-5.

O Ato institucional nº 05 decretou, então, o fechamento do Congresso Nacional e instaurou a


censura, entre outros atos de violação à liberdade individual.

Gradativamente, o país foi se abrindo, muito embora a Lei da Anistia tenha contribuído para a
ausência de responsabilização pelos atos praticados durante a Ditadura Militar Brasileira. E em
1988, uma nova Constituição marca o início da atual democracia brasileira.

4. Constituição Brasileira de 1988

O preâmbulo da Constituição Federal de 1988 dispõe:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para


instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada
na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica
das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Ou seja, traz como objetivos da Carta Constitucional e, consequentemente, do Direito


Constitucional, o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar,
o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos .

Para tanto, a Constituinte de 1988 decidiu dividir a Carta Maior brasileira em 9 títulos:

1. Princípios fundamentais

2. Direitos e garantias fundamentais

3. Organização do Estado

4. Organização dos poderes


5. Defesa do Estado e das instituições democráticas

6. Tributação e do orçamento

7. Ordem econômica e financeira

8. Ordem social

9. Disposições constitucionais gerais

5. Princípios do Direito Constitucional

Os princípios do Direito Constitucional estão elencados juntos aos princípios fundamentais da


Constituição Federal, do art. 1º, CF/88, ao art. 4º, CF/88.

Em primeiro lugar, compreende-se, em teoria ao menos, que o poder emana do povo. E dessa
forma, evoca-se a concepção de um Estado Democrático de Direito.

Este poder, então, é exercido por meio de representação, seja através de eleições ou diretamente.

O art. 1º, CF/88, apresenta, desse modo, os fundamentos sob os quais opera esse poder, quais
sejam:

1. a soberania do Estado;

2. a cidadania;

3. a dignidade da pessoa humana;

4. os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

5. o pluralismo jurídico.

6. Garantias Fundamentais da Constituição de 1988

A Constituição Federal de 1988 é conhecida como a Constituição Cidadã. Isto porque dá grande
prevalência aos direitos inerentes à pessoa humana e aos direitos de cidadania. Assim, traz direitos
e garantias fundamentais que assegurem a persecução da igualdade, da isonomia e da equidade
no Direito. E o Direito Constitucional, portanto, deve ser interpretado considerando essas premissas
e garantias fundamentais.

Os direitos e garantias fundamentais representam, além de garantias materiais, garantias formais


inspirados nos princípios constitucionais e nos pactos de direitos humanos. Consolidados no
ordenamento jurídico, então, os direitos constitucionais procuram também dar efetividade ao
princípio da dignidade humana, sob o qual operam as normas de Direito brasileiro.

Os direitos e garantias fundamentais apresentam algumas características, como, por exemplo:

1. inalienabilidade;

2. imprescritibilidade;
3. irrenunciabilidade;

4. universalidade;

5. limitabilidade;

6. historicidade;

7. inviolabilidade;

8. concorrência;

9. complementaridade;

E podem ser encontrados nos seguintes artigos:

1. Direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5º, CF);

2. Direitos sociais (art. 6º ao art. 11, CF);

3. Direitos da nacionalidade (art. 12 e art. 13, CF);

4. Direitos políticos (art. 14 ao art. 16, CF).

Enfim, o Direito Constitucional é uma importante área do Direito, na medida em que fornece as
bases para as demais áreas, mas também indica questões específicas, como os recursos
constitucionais. E, na medida em que os problemas sociais surgem, também levantam-se questões
acerca das previsões constitucionais. Por essa razão, é essencial um entendimento dos seus
conceitos básicos.

Referências
1. BARROSO, Luis Roberto. Direito constitucional, p. 140.
2. FERRAJOLI, Luigi. A democracia através dos direitos: o constitucionalismo garantista
como modelo teórico e como projeto político. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 46.
3. Ibid., p. 47.

Athena Bastos, 21 de maio de 2019. Atualizado em: 05 de julho de 2021.


Redatora do SAJ ADV. Mestra em Teoria e História do Direito pelo PPGD/UFSC (2019). Bacharela
em Direito pela UFSC (2015). Pós-graduanda em Direito da Proteção e Uso de Dados pela PUC
Minas Digital.
https://blog.sajadv.com.br/direito-constitucional/

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