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Conjuntos enumeráveis
Bruno B. S. Lima
1.1 Introdução
Este artigo trata de uma introdução à Teoria dos Conjuntos. O primeiro
a estudar essa teoria como uma disciplina matemática foi o russo Georg
Cantor (1845-1918) no final do século dezenove. Esta teoria está entre
os fundamentos da ciência e serve como linguagem para a matemática
atual.
Procuraremos dar ênfase ao caso em que o conjunto em questão é o
dos números reais R ou alguns de seus subconjuntos. Pretendemos dis-
cutir algumas perguntas como: É sempre possı́vel ordenar os elementos
de um conjunto? Existem mais números racionais ou irracionais?
Os sı́mbolos e operações relativos a conjuntos são por exemplo ∈
, 6⊂ , ∩ , ∪, ⊂, ∅ , × (produto cartesiano). Dado um conjunto X
e A ⊂ X, Ac denota o complementar de A em relação a X, isto é,
Ac = {x ∈ X : x 6∈ A} = X \ A. A notação X n denota X × X × ... × X
(n vezes). O conjunto dos naturais será denotado por N = {1, 2, 3, ...},
os inteiros por Z = {. . . , −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . .} e os racionais por Q =
{mn , m ∈ Z, n ∈ N}. Os reais serão denotados por R. A construção de
R não é algébrica, sendo necessário os conceitos de análise. Temos que
N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R. As várias propriedades das operações de conjuntos
podem ser vistas em [1] e [2].
Basicamente podemos definir conjuntos de duas maneiras: exibindo
todos os elementos do conjunto ou então a partir de um certo conjunto,
podemos escolher alguns de seus elementos que satisfaçam a uma de-
terminada propriedade, formando assim um novo conjunto. Vejamos
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1.2 Relações
Dados conjuntos X e Y uma relação de X em Y é um subconjunto R do
produto cartesiano X ×Y . Lembramos que os elementos de X ×Y são os
pares ordenados (x, y), x ∈ X, y ∈ Y . Enfatizamos que (x, y) 6= (y, x),
a menos que x = y. Por exemplo, X = {0, 1, 2} e Y = {1, 3, 5}, então
podemos exibir R = {(0, 3), (0, 5), (2, 5)}, uma relação de X em Y . Se
X = Y dizemos que R é uma relação em X. Dados x ∈ X e y ∈ Y , se o
par (x, y) ∈ R, também denotamos xRy e dizemos x se relaciona com y.
No caso acima, foi exibida a relação, mas em geral as relações são
definidas através de propriedades que devem satisfazer os pares (x, y) ∈
X × Y . Exemplos:
1) X = {0, 2, 3} e Y = {2, 7, 9}, definimos R ⊂ X × Y por (x, y) ∈
R se x divide y. Assim, 2 divide 2 e 3 divide 9, logo (2, 2) ∈
R e (3, 9) ∈ R, já (2, 7) 6∈ R, pois 2 não divide 7. Portanto
R={(2,2);(3,9)}.
2) X = {1, 2} e Y = {0, 1, 4, 5, 9}, defina (x, y) ∈ R se x2 = y, com
(x, y) ∈ X × Y , temos R={(1,1);(2,4)}.
3) X = {f ormiga, homem, elef ante}, defina xRy se x for mais pe-
sado que y, com x, y ∈ X. Assim temos
talmente ordenados de Z são {a, c}, {a, b}, {a, d}, {b, d}, {d, e}, {a, d, e},
{b, d, e}, {a, b, d} e {a, b, d, e}. Todos eles possuem limites superiores em
Z e Z possui c e e como elementos máximos.
Esse lema, aparentemente simples é utilizado em contextos mais com-
plicados e é equivalente a um princı́pio proposto 30 anos antes por outro
alemão Ernst Zermelo (1871-1953) conhecido como Princı́pio da Boa Or-
dem e também é equivalente a um fato ainda mais antigo, o Axioma da
Escolha, uma das bases de toda a Teoria de Conjuntos. Essas equi-
valências podem ser encontradas em [1].
m
K( ) = p1 2a1 p2 2a2 . . . pr 2ar q1 2b1 −1 q2 2b2 −1 . . . qs 2bs −1 , com pi 6= qj , ∀i, j
n
onde, m = p1 a1 p2 a2 ...pr ar e n = q1 b1 q2 b2 ...qs bs estão decompostos em
fatores primos. Então K é uma bijeção. De fato, temos que todo raci-
m
onal positivo tem uma representação única na forma com m, n pri-
n
mos entre si. Decomponha os números m, n em fatores primos: m =
p1 a1 p2 a2 ...pr ar , n = q1 b1 q2 b2 ...qs bs . Forme o número
K(m/n) = p1 2a1 p2 2a2 ...pr 2ar q1 2b1 −1 q2 2b2 −1 ...qs 2bs −1 , com pi 6= qj , ∀i, j
1.4 Problemas
1- Mostre que M = {1, 2, 4, 8, 16...} é totalmente ordenado.
2- Dado X um conjunto finito, prove que f : X → X é injetiva, se e
somente se é sobrejetiva.
3- Dados os conjuntos C = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1} e E =
x2 y2
{(x, y) ∈ R2 : + = 1}, ou seja uma circunferência e uma
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Bibliografia
[1] P. Halmos, Teoria Ingênua dos Conjuntos, tradução de Irineu Bi-
cudo, USP-SP, (1970).
[2] E. Lima, Curso de Análise, vol.1, 10a edição, Projeto Euclides,
IMPA-RJ, (2002).
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[3] Y. Sagher, Couting the rationals, Amer. Math. Monthly., vol. 96,
(1989), pp. 823
[4] V. Silva, Números: Construção e Propriedades, Editora da UFG,
(2003).
[5] V. Silva, Ordenação dos Números Complexos, Revista da Olimpı́ada
de Matemática do Estado de Goiás, vol. 3, (2002).