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A Jurisprudência dos Interesses:

Essa corrente é uma das mais conhecidas das escolas teleológicas e


muito provavelmente a que teve maior influência no meio jurídico, sendo seu
principal expoente Philipp Heck, que escreveu suas principais obras na Alemanha,
no início do século XX.
Esse tipo de jurisprudência tem como ideia a interpretação da norma,
levando-se em consideração os interesses da sociedade, ou seja, as finalidades a
que se destina, tendo como característica a concepção de obediência e respeito a
lei, objetivando estabelecer uma harmonização entre a segurança e a justiça.
Segundo Heck (apud COSTA),

“O escopo da Jurisprudência e, em particular, da decisão judicial dos casos


concretos, é a satisfação de necessidades da vida, de desejos e aspirações,
tanto de ordem material como ideal, existentes na sociedade. São esses
desejos e aspirações que chamamos interesses e a Jurisprudência dos
interesses caracteriza-se pela preocupação de nunca perder e vista esse
escopo nas várias operações a que tem de proceder e na elaboração dos
conceitos”.

Assim sendo, a lei deveria ser criada não apenas como um controle
impositivo, mas como a expressão dos interesses de toda uma coletividade, porém,
a obediência à lei também não devia ser cega, mas preocupada em alcançar os
interesses que objetiva a norma jurídica (VALE, 2010).
Portando, observa-se que a lei é bem parecida à Jurisprudência dos
interesses de Heck, uma vez que evidencia o normativismo a certas perspectivas
teleológicas, sujeitando o juiz à interpretação da lei, mas também indicando a
necessidade de uma investigação sobre os fins sociais que a lei visa a proteger,
contribuindo para a formação do positivismo jurídico.
Jurisprudência dos Valores

A jurisprudência dos valores inicia-se no século XX, na Alemanha, com a


perspectiva culturalista, ou seja, com a ideia de que o direito reflete os valores de
uma sociedade em seu tempo e seu lugar, caracterizando uma forma de
compreensão dos conceitos de aplicação e interpretação da norma jurídica, e
também a sua divisão em regras e princípios, sempre atentos aos conceitos de
igualdade, liberdade e justiça.
Tem grande importância ao auxiliar o julgador a identificar os valores que
regem o direito naquele dado conflito levado à sua apreciação, sendo a sua maior
preocupação orientar a decisão dos juízes segundo os valores que constituem os
fundamentos do convívio social.
Souza (2010, p.195) Uma herança da Jurisprudência dos Valores
existente ainda hoje no Brasil é a formação de uma decisão com efeito vinculante
atribuída ao Supremo Tribunal Federal.

[....] a ‘‘Jurisprudência dos Valores’ ’[....] no afã de fazer com que o


Judiciário Ordinário fique subordinado às decisões das Cortes
Constitucionais, sustenta que o efeito vinculante estende-se aos
fundamentos determinantes da decisão (tregende gründe). [....] O efeito
vinculante, tal como admitido pela “Jurisprudência dos Valores”, concede às
decisões de controle abstrato de inconstitucionalidade força de lei, ou seja,
transforma-as em discursos normativos de fundamentação [....]. (SOUZA
CRUZ apud SOUZA, 2010 p. 195).

Conclui-se que, quem projeta os valores nas coisas é o próprio ser


humano, sendo construções humanas que variam no tempo, conforme a
necessidade da sociedade, cabendo ao Magistrado mais ponderação e cuidado na
interpretação da lei, seguindo seus valores e princípios.
O Movimento para o Direito Livre

O movimento do direito livre foi desenvolvido por Eugen Ehrlich (deu a


contribuição sociológica ao Movimento do Direito Livre) e Herman Kantorowicz (que
afirmavam “a existência de um direito livre anterior, vivo e espontâneo, contraposto
ao direito ditado pelo Estado) no início do Século XX, buscando critérios mais
objetivos de justiça. Eles sustentavam a ideia de que era necessário afastar-se da
aplicação literal da lei sempre que esta se mostrasse injusta, considerando as
necessidades e os interesses da sociedade, ou seja, os fatos sociais e os valores (a
moral e os costumes), logo, o juiz deveria encontrar o direito na sociedade e aplicá-
lo de tal modo que não violasse a liberdade pela busca do direito “vivo”.

A corrente do direito livre pode ser entendida de tal modo:

A corrente do direito livre contrapunha-se ao formalismo da metodologia


hermenêutica tradicional (que acreditava na possibilidade de uma aplicação
lógica do direito), pois, em vez de exigir decisões formalmente adequadas
(ou seja, extraídas do sistema de normas e conceitos), passou a exigir
decisões materialmente adequadas (ou seja, adequadas aos padrões de
justiça dominantes na sociedade). Sustentando que era impossível reduzir a
atividade do juiz a uma aplicação silogística de normas a fatos, conclamava
os juízes a adaptarem suas decisões às necessidades sociais. (COSTA, p.
124).

Portando, o Movimento do direito livre tem uma considerável contribuição,


uma vez que tem o fato social como fonte da realidade jurídica. O Direito não pode
ser enquadrado nas molduras rígidas do ordenamento jurídico do Estado, devendo-
se respeitar os fatos sociais que ocorrem na sociedade e suas constantes
mudanças.
Referencias:

COSTA, Alexandre Araújo. A Jurisprudência dos Interesses. Arcos. Disponível


em: http://www.arcos.org.br - acesso em: 08/05/2018.

HECK, citado por PESSÔA, A teoria da interpretação jurídica em Emilio Betti, p.


27.

SOUZA CRUZ , citado por SOUZA, Ileide Sampaio de. Jurisprudência dos
interesses e jurisprudência dos valores: características, diferenças, críticas e
contributos à teoria dos direitos fundamentais. Direito e Democracia. v.11, n.2,
jul./dez. 2010.

VALE, Luís António Malheiro Meneses do. Metodologia do direito: guião das aulas
práticas. Policopiado. Coimbra, 2010.

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