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1. Aptidão Leiteira
Os búfalos são tradicionalmente considerados como animais de tração e produtores de carne, porém, com
a escolha de animais selecionados e a obtenção de melhores níveis de desempenho dos rebanhos, os
produtores têm demonstrado um crescente interesse pela produção leiteira, com vistas, sobretudo, ao
fornecimento de leite para elaboração de derivados.
A pecuária leiteira bubalina, com sua matéria prima sendo transformada em derivados de alto valor
agregado, tem resultado numa maior remuneração aos produtores o que, aliado à alta fertilidade e baixa
mortalidade da espécie, bem como a sua dupla aptidão, tem atraído de forma expressiva, tanto pequenos
estabelecimentos industriais quanto pequenos rurais.
Em alguns países a menor produtividade leiteira das búfalas é compensada pelo preço superior pago por
litro de leite, como na Itália para se fazer à mozarela e na Bulgária onde produz um iogurte.
Há na realidade enormes possibilidades de melhoramento para a produção leiteira, uma vez que
atualmente são obtidas produtividades muito superiores as décadas passadas. É na qualidade que reside a
maior vantagem do produto. É mais concentrado que o leite bovino, apresentado menos água e mais matéria
seca. Possui maiores teores de proteína, gordura e minerais, permitindo que seja adicionado até cerca de 30%
de água no leite bubalino e ainda obter um produto semelhante ao bovino integral, em valor nutritivo.
2. Tratamento Pré-Natal
Sessenta dias antes de parirem, as búfalas devem ser separadas das demais em um piquete perto do
curral. Diariamente essas búfalas devem ser encaminhadas para o curral, aonde vão se acostumando com o
ambiente. Segundo Punia e Singh (2001), o período de gestação da búfala pode variar entre 300 e 310 dias.
Na oportunidade, esses animais receberão uma ração balanceada apropriada para vacas gestantes e
deverão ser avaliadas quanto ao seu escore de condição corporal (ECC) e temperamental. O ideal é que a
búfala venha a parir com um ECC entre 3 e 4 e temperamental de 4 ou 5, conforme tabela abaixo. Búfalas
dóceis têm mais facilidade de aceitar a ordenha sem bezerro ao pé.
ESCORE TEMPERAMENTAL
1 MUITO AGRESSIVA
2 AGRESSIVA
MEDIANAMENTE
3 AGRESSIVA
4 DÓCIL
5 MUITO DÓCIL
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2. Manejo de Bezerras (Bufalinhas)
Os cuidados com os bezerros iniciam-se no pré-parto. A lactação da búfala deve ser encerrada 90 dias
antes do parto para que ela recupere as reservas corporais perdidas na lactação precedente, a glândula
mamária involua normalmente e possa produzir colostro em volume e qualidade adequada para o recém
nascido. Após o nascimento os bezerros devem ficar com as búfalas por cinco dias, sendo posteriormente
agrupados com outros bezerros da mesma faixa etária. A separação dos bezerros em grupos de diferentes
faixas etárias minimiza a transmissão de doenças e evita acidentes, como por exemplo, os traumatismos.
Colostro
A placenta da búfala é do tipo endotélio-corial e não permite a passagem de anticorpos para o feto durante
a gestação. O sistema imune do bezerro recém nascido é funcionalmente imaturo. Assim, a ingestão de
colostro após o nascimento é muito importante. O colostro é rico em imunoglobulinas, principalmente da
classe IgG. Porém, para a absorção ser máxima, a primeira mamada deve ocorrer no máximo até as primeiras
seis (06) horas de vida, porque com o passar do tempo a absorção das imunoglobulinas pelas vilosidades
intestinais diminui gradualmente. Após 24 horas de vida, o intestino não absorve mais as imunoglobulinas,
que permanecem ativas no lúmen intestinal atuando como mecanismo de defesa local contra agentes que
possam ter sido ingeridos por via oral, como o Rotavirus (Quigley, 2003).
Além das imunoglobulinas o colostro possui na sua constituição, duas vezes mais sólidos totais, três
vezes mais minerais, e também altas concentrações de vitaminas A, D e E . Além disso, possui grande
quantidade de fatores de crescimento e fatores não específicos antimicrobianos em maiores concentrações,
quando comparados ao leite comum (Mowrey, 2001). O colostro é rico em gordura, grande fonte de energia
que promove a termo-regulação do bezerro. Por isso, a ingestão de colostro nas primeiras oito (08) horas de
vida é muito importante, ajudando a manter o corpo aquecido nas primeiras horas de vida (Quigley, 2003).
Os anticorpos transmitidos pelo colostro podem proteger o bezerro por até seis semanas. Nesse período, o
animal entra em contato com os agentes infecciosos presentes no ambiente, que estimulam gradualmente o
desenvolvimento do seu próprio sistema imune (Radostits et al., 2000).
Caso existam, devem ser cortadas por um médico veterinário, na primeira semana de vida, para evitar
problemas com mastite, futuramente. A ferida cirúrgica deve ser tratada e acompanhada até a sua completa
cicatrização.
O tratamento de umbigo tem grande importância após o nascimento evitando que o mesmo seja contaminado
e sirva como porta de entrada para agentes infecciosos, levando a grandes índices de mortalidade e de
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subdesenvolvimento dos animais (Rebhun, 2001). Esse risco aumenta quando as búfalas entram em trabalho
de parto em ambientes sujos ou muito contaminados, ou logo após o nascimento, quando os bezerros são
levados e mantidos no curral, o qual, na maioria das propriedades, é um dos locais mais contaminados
(Heinrichs e Radostits, 2002).
A cura do umbigo deve ser realizada nas primeiras horas de vida com tintura de iodo a 10%, duas
vezes ao dia, até secar, o que demora em média, três (03) dias.
3. Identificação
- Não tem revelado resultado satisfatório, com o tempo ficam pouco legíveis e desaparecem.
Aplicação de marcadores ultra-resfriados, com nitrogênio liquido ou mistura de gelo seco e álcool
etílico absoluto. A transferência do super-resfriamento do marcador para a pele do animal provoca a
destruição dos melanócitos e conseqüentemente o surgimento de pelos brancos.
Coloca-se gelo seco num isopor contendo álcool absoluto com intuito de ultra resfriar o álcool. Sabe-
se que a transferência do super frio ocorreu adequadamente quando o borbulhamento intenso se reduziu a
um mínimo estável. Em seguida, mergulha-se o marcador de cobre na mistura, o que provoca outro
borbulhamento intenso, representando a transferência do ultra frio da mistura para o marcador.
Quando o borbulhamento novamente se estabilizar no mínimo, o marcador já está pronto para ser
aplicado. Nesse momento, o animal já deve estar contido, com os pelos raspados na coxa. O local é então
umedecido com próprio álcool etílico absoluto e efetuada imediatamente a aplicação do marcador, por um
tempo de contato com a pele de 60 segundos.
Depois de dias começarão a surgir os pelos brancos na área marcada. Com o avanço da idade, os
pelos tendem a desaparecer, inclusive os brancos.
Processo de identificação que vem conseguindo êxito pelos produtores, porém apresenta a
desvantagem de não permitir uma leitura fácil, sendo necessária a contenção dos animais para a leitura, às
vezes necessitando de limpeza no local, principalmente quando as marcas se localizam na orelha.
A tatuadeira provoca pontos de perfuração na orelha onde posteriormente se esfrega tinta preta
“Pelikan” Outro local utilizado para tatuagem é a prega caudal. Nesse caso a leitura se dá apenas com o
levantamento da cauda.
No entanto, para obtenção de melhores resultados é imprescindível utilizar animais com painel da
prega desenvolvido, ou seja, o animal deve ter mais de 6 meses.
Dá-se através de cortes com ou sem furos na orelha de acordo com o sistema convencional de
representação numérica.
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Desvantagens
∗ Leitura somente a pequenas distâncias
∗ Identificação sujeita a leitura errada
∗ Mistura dos picotes com cortes de piranha, rasgos e cortes.
∗ Prejuízo a estética do animal.
∗ Sistema de representação numérica tradicional é conhecido por marcação australiana, muito usada em
suínos.
Apesar do custo alto, o sistema, que usa a identificação e o gerenciamento eletrônicos, promove o
aumento da produção, porque permite avaliar cada animal em tempo real, uma vez que os indicadores podem
ser anotados e analisados eletronicamente, além de facilitar o rastreamento dos animais, que é uma exigência
atual.
Para sanear estes problemas costuma-se colocar brincos com a mesma numeração nas duas orelhas
do animal, possibilitando recolocar a numeração correta em caso de perda. As chapas metálicas têm as
mesmas desvantagens dos brincos, além de serem mais caras. Os colares são de custo mais elevado e além
das desvantagens semelhantes aos brincos chapas de metal, podem provocar asfixia quando engatam em
objetos.
4. Descorna ou Mochação
A descorna deve ser realizada até os sete (07) dias de idade em rebanhos comerciais, com a retirada
do botão córneo e posteriormente com a utilização de um ferro quente no tecido adjacente ao botão córneo.
Os animais pertencentes a rebanhos comerciais devem ser descornados, pois a ausência de chifres facilita o
manejo na propriedade; ocupando menos espaço no cocho, não causando feridas graves em outros animais e
ocupando menos espaço no caminhão de transporte.
Métodos:
Faca: primeiras semanas de vida.
Ferro mochador : idem.
Alicate de descornamento: 3 – 6 meses.
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5. Manejo de Ordenha
Diferentemente das vacas e cabras, o leite da búfala é expelido dos alvéolos da glândula mamária
para cisterna glandular apenas durante a fase ejeção do leite, não existindo fração de leite cisternal. A primeira
porção de leite produzido é chamada cisternal e a segunda é a alveolar (Aliev, 1969). O leite cisternal das
búfalas corresponde a 5% do leite total produzido. Com isso, quando as búfalas são utilizadas para a
exploração leiteira, a capacidade plena do úbere não é utilizada. O esvaziamento da porção alveolar do úbere
se dá apenas quando a cria é amamentada. As búfalas têm preservado este tipo de reflexo neuro-hormonal
de regulação da formação e ejeção do leite, devido mais precisamente a menor domesticação e forte instinto
maternal (Thomas et al., 2004).
O período de reflexo para ejeção do leite em búfala é maior do que em vaca bovina. A duração do
período pode variar em função de características individuais das búfalas, como produtividade, condições de
ordenha e outros fatores; apresentado a média aproximada de dois minutos. Thomas et al. (2004) observaram
que o período latente para ejeção de leite de búfalas induzidas com administração exógena de oxitocina em
níveis fisiológicos foi semelhante ao encontrado em vacas e cabras, ou seja, em torno de 25 segundos. O
período de latência foi menor no início da lactação e maior nos estádios mais avançados, demonstrando uma
correlação negativa do período de latência com produção de leite, sem diferenças entre animais novos e
velhos.
Alguns fatores podem incrementar a produção e também diminuir o período latente de ejeção do leite. O
banho do úbere com água morna e a subseqüente massagem por 30–40 segundos reduzem consideravelmente
a duração do período latente e promovem ejeção mais eficiente e completo esvaziamento do úbere. O banho
das búfalas sob chuveiro nos dias muito quentes do verão também diminui o período latente e incrementa a
produção (Aliev, 1969).
5.2. Ejeção do leite
A ejeção do leite depende do status funcional da glândula mamária, do estado de preparação e da
resposta do animal à ordenha. A ejeção do leite é uma condição reflexa e, assim, distúrbios nas condições de
ordenha prolongam o período latente, reduz a pressão intramamária e taxa de ejeção, com conseqüente
diminuição da produtividade dos animais. Segundo Thomas et al. (2004), como a área alveolar é a principal
responsável pelo acúmulo de leite, o seu grau de enchimento, o tempo até a liberação de ocitocina e a
manutenção da ejeção têm impacto direto no início da ejeção do leite e no esvaziamento do úbere. Na prática,
o estádio da lactação, a freqüência de ordenha e a estimulação dos procedimentos de ordenha podem
influenciar diretamente a produção de leite pelas búfalas.
5.3.Ordenha
Pode ser realizada uma ou duas ordenhas diárias. No sistema extensivo é comum apenas 1 ordenha e
nos intensivos 2. Quando se pratica 2 ordenhas, existe a tendência de aumento da produção de leite. A
ordenha manual predomina na bubalinocultura brasileira, entretanto na Itália a ordenhadeira mecânica já é
consagrada. Quando possível à sala de ordenha, deve estar próxima a uma lagoa, onde os animais
permanecerão por 10 minutos antes da ordenha. Este processo facilita a dissipação de calor e a limpeza, por
conseguinte os animais se tornam mais tranqüilos. Quando não há lagoa, os animais devem ser limpos com
água. Os úberes devem ser individualmente lavados e massageados. Pelo fato dos esfíncteres dos tetos das
búfalas serem mais rígidos, as teteiras mais pesadas são as mais apropriadas para a ordenha. Para vacas
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bovinas usa-se normalmente 50 Kpa, entretanto para búfalas, devido a maior rigidez dos esfíncteres dos tetos,
usa-se 15% a mais, ou seja, 57,5 Kpa. Em vacas bovinas, o tempo de apojo se dá entre 6 a 7 minutos. Em
búfalas, existe uma pequena variação em torno de 30%, dependendo da búfala. O estímulo para o apojo
poderá ser provocado pelo bezerro, pela lavagem dos tetos ou mesmo com o barulho contínuo da
ordenhadeira. A hipófise recebe a mensagem através do sistema nervoso, com isso libera na corrente
sanguínea um hormônio chamado ocitocina, essencial para a liberação do leite da glândula mamária.
Pesquisas realizadas com vacas bovinas relatam que, caso o ordenhador não inicie a ordenha no começo do
apojo, a ocitocina irá cessar a sua função antes de ter expulsado todo o leite dos úberes. Os trabalhos relatam
também que o leite residual que porventura venha a ficar nos úberes dessas vacas, poderá causar mastite. É
utilizada uma pequena quantidade de concentrado para facilitar o apojo das vacas sem a presença das crias.
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- Redução da interrupção (“corte”) precoce da lactação;
- Menor no de funcionários.
9. Literatura de apoio
ALIEV MG. Physiology of milk ejection in buffaloes. Dairy Sci Abstr, v.31, p.677-680, 1969.
TURTON, J.D. Modern needs for diferent genetic types. In: CATTLE GENETIC RESOURCE, WORLD
ANIMAL SCIENCE B7, Elsevier. Amsterdan, p.21-35, 1991.
VILLARES, J.B.; RAMOS, A. de A. & ROCHA, G.P. As vias cutâneas e respiratórias na termólise de
bubalinos sob extrema tensão térmica. In: RAMOS, A. de A.; VILLARES, J.B.; MOURA. J.C. de.
Bubalinos. Campinas: Fundação Cargill, 1979a, p.118-132.
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