Controle do Movimento
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
NEURÔNIOS E CÉLULAS DA NEUROGLIA................................................................................................. 9
CAPÍTULO 1
UM MARCO IMPORTANTE NA NEUROCIÊNCIA: A COLORAÇÃO DE GOLGI............................... 10
CAPÍTULO 2
O SOMA................................................................................................................................ 13
CAPÍTULO 3
O AXÔNIO............................................................................................................................ 17
CAPÍTULO 4
A SINAPSE.............................................................................................................................. 19
CAPÍTULO 5
OS DENDRITOS...................................................................................................................... 21
CAPÍTULO 6
CLASSIFICAÇÃO BASEADA NAS CONEXÕES............................................................................ 22
CAPÍTULO 7
AS CÉLULAS DA NEUROGLIA................................................................................................... 23
CAPÍTULO 8
OUTRAS CÉLULAS NÃO NEURONAIS........................................................................................ 25
UNIDADE II
TRANSMISSÃO DE SINAIS...................................................................................................................... 26
CAPÍTULO 1
O IMPULSO NERVOSO E O POTENCIAL DE REPOUSO DE MEMBRANA........................................ 26
CAPÍTULO 2
DESPOLARIZAÇÃO E HIPERPOLARIZAÇÃO............................................................................... 28
CAPÍTULO 3
POTENCIAIS GRADUADOS E POTENCIAIS DE AÇÃO.................................................................. 30
CAPÍTULO 4
SEQUÊNCIA DE EVENTOS DE UM POTENCIAL DE AÇÃO............................................................ 33
CAPÍTULO 5
PROPAGAÇÃO DO POTENCIAL DE AÇÃO............................................................................... 36
CAPÍTULO 6
A JUNÇÃO NEUROMUSCULAR................................................................................................ 39
CAPÍTULO 7
NEUROTRANSMISSORES.......................................................................................................... 41
UNIDADE III
NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR.......................................................................................... 46
CAPÍTULO 1
O SISTEMA NERVOSO CENTRAL............................................................................................... 46
CAPÍTULO 2
O SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO.......................................................................................... 52
CAPÍTULO 3
O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO......................................................................................... 55
CAPÍTULO 4
INTEGRAÇÃO SENSÓRIO-MOTORA......................................................................................... 58
CAPÍTULO 5
ATIVIDADE REFLEXA................................................................................................................ 61
CAPÍTULO 6
OS CENTROS ENCEFÁLICOS SUPERIORES................................................................................ 65
CAPÍTULO 7
A RESPOSTA MOTORA............................................................................................................ 68
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 71
ANEXO............................................................................................................................................... 73
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
7
Introdução
Objetivos
» Propiciar a construção de conhecimentos específicos em neurociências.
8
NEURÔNIOS E
CÉLULAS DA UNIDADE I
NEUROGLIA
Nesta unidade, enfocaremos a estrutura dos diferentes tipos celulares no sistema nervoso (SN):
neurônios e células gliais. Tratam-se de categorias amplas, nas quais há muitos tipos de células
que se diferenciam com base na sua estrutura química e função. Contudo, a distinção entre neurônios
e células gliais é importante. Ainda que existam muitos neurônios no encéfalo humano (ao redor de
100 bilhões), as células gliais excedem em número os neurônios em cerca de 10 vezes. Em face disto,
poderia parecer que devíamos focalizar nossa atenção na glia para compreendermos as funções
celulares do SN. No entanto, os neurônios são as células mais importantes para as funções únicas
do encéfalo. São os neurônios que percebem modificações no meio ambiente, comunicam tais
modificações a outros neurônios e comandam as respostas corporais a essas sensações. Acredita-se
que a glia contribui para a função encefálica, sobretudo por isolar, sustentar e nutrir os neurônios
vizinhos. Se o encéfalo fosse um biscoito e os neurônios pedaços de chocolate, a glia seria a massa
que preenche todos os espaços restantes e assegura que os pedaços de chocolate fiquem suspensos no
lugar certo. Na verdade, o termo glia origina-se da palavra grega empregada para “cola”, sugerindo
que a principal função dessas células seria a de manter a coesão do tecido neuronal. Como veremos
mais tarde, a simplicidade desse ponto de vista provavelmente é um bom indício da profundidade de
nossa ignorância acerca da função glial. Entretanto, ainda acreditamos que os grandes responsáveis
pelo processamento das informações no encéfalo são os neurônios. Assim sendo, despenderemos
90% de nossa atenção aos 10% da população celular do encéfalo: os neurônios.
9
CAPÍTULO 1
Um marco importante na neurociência:
a coloração de Golgi
Em 1873, Camillo Golgi (figura 1A) descobriu que submergindo uma amostra de tecido nervoso em
uma solução de cromato de prata – o que hoje é chamado de procedimento de Golgi – um pequeno
percentual de neurônios fica corado de preto em toda a sua extensão (figura 1B). Isso revelou que o soma
neuronal, a região do neurônio ao redor do núcleo, na realidade é somente uma pequena fração do total
da estrutura do neurônio.
O método de Golgi mostra que os neurônios têm, pelo menos, duas partes distinguíveis: uma região
central, que contém o núcleo, e numerosos tubos finos que dali irradiam. A região dilatada, que
contém o núcleo celular, recebe diferentes nomes que podem ser empregados indistintamente:
corpo celular, soma ou pericário. Os tubos finos que irradiam do soma são chamados de neuritos,
havendo dois tipos: axônio e dendritos (figura 2).
Do corpo celular frequentemente origina um único axônio, o qual apresenta um diâmetro uniforme
por toda a sua extensão e, quando ele se ramifica, os ramos geralmente projetam-se em ângulos
10
NEURÔNIOS E CÉLULAS DA NEUROGLIA │ UNIDADE I
retos (figura 2). Como os axônios podem se estender por grandes distâncias no corpo (de um
metro ou mais), os neurocientistas imediatamente reconheceram que os axônios poderiam atuar
como os “cabos” que transportam a informação que emerge dos neurônios. Os dendritos, por outro
lado, raramente se estendem por mais de 2 mm. Muitos dendritos estendem-se do corpo celular,
terminando geralmente em uma ponta fina. Os primeiros neurocientistas reconheceram que, uma vez
que os dendritos relacionam-se com muitos axônios, devem atuar como uma espécie de “antena” do
neurônio, recebendo os sinais de entrada.
Como vimos, o neurônio consiste de várias partes: o soma, os dendritos e o axônio. O conteúdo
interno de um neurônio é separado do meio externo por uma membrana limitante, a membrana
neuronal, que recobre o neurônio como uma tenda de circo sustentada por uma intrincada rede
interna, dando a cada parte da célula sua aparência tridimensional característica. Vamos examinar
agora o interior do neurônio e aprender um pouco sobre as funções das diferentes partes que o
compõem (figura 3).
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UNIDADE I │ NEURÔNIOS E CÉLULAS DA NEUROGLIA
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CAPÍTULO 2
O soma
Iniciaremos nosso passeio pelo soma, uma estrutura aproximadamente esférica na parte central do
neurônio. Dentro do soma, existe uma grande quantidade de estruturas membranosas chamadas
de organelas.
O corpo celular (soma) de um neurônio contém as mesmas organelas presentes nas demais
células animais. As mais importantes são o núcleo, o retículo endoplasmático rugoso, o retículo
endoplasmático liso, o aparelho de Golgi e as mitocôndrias.
Organelas celulares.
Sugestão de leitura
GUYTON, Arthur C.; HALL, John E. Tratado de Fisiologia Médica. 11. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2006. Capítulo 2: A Célula e suas Funções.
O núcleo de uma célula nervosa é esférico, localizado centralmente e delimitado por uma dupla
membrana chamada envelope nuclear. O envelope nuclear é perfurado por poros que medem
aproximadamente 0,1 µm de diâmetro cada.
A “leitura” do DNA é conhecida como expressão gênica, e o produto final da expressão gênica é a
síntese de moléculas chamadas de proteínas. A síntese proteica ocorre no citoplasma celular. Como
o DNA nunca deixa o núcleo, necessita de um mensageiro intermediário que carregue a mensagem
genética até os locais de síntese no citoplasma celular. Essa função é realizada por outra molécula de
grande dimensão chamada ácido ribonucleico mensageiro, ou RNAm. O RNAm consiste em
13
UNIDADE I │ NEURÔNIOS E CÉLULAS DA NEUROGLIA
quatro diferentes nucleotídios fortemente unidos em sequências que formam cadeias. A sequência
específica de nucleotídios na cadeia representa a informação no gene, assim como uma sequência
de letras dá sentido a uma palavra escrita. O processo de confecção de um RNAm que contenha a
informação de um gene é chamado de transcrição (figura 4) sendo o RNAm resultante chamado
de transcrito.
O RNAm transcrito emerge do núcleo através dos poros presentes no envelope nuclear e desloca-se
para os sítios de síntese protéica em algum lugar do neurônio. Nesses sítios, a molécula de proteína é
sintetizada assim como a de RNAm foi. Muitas moléculas pequenas vão sendo conectadas, formando
uma cadeia. No caso das proteínas, os blocos para a construção são os aminoácidos, dos quais há 20
tipos diferentes. Essa confecção de proteínas a partir de aminoácidos, sob controle do RNAm, é
chamada de tradução (figura 4).
Os ribossomos podem ser encontrados na forma livre quando não estão aderidos à membrana do
retículo endoplasmático.
14
NEURÔNIOS E CÉLULAS DA NEUROGLIA │ UNIDADE I
Já o Retículo Endoplasmático Liso (REL) é formado por tubos membranosos achatados que
se assemelham ao RER, porém sem os ribossomos. O REL é muito heterogênio e assume diferentes
funções em distintos locais. Alguns REL estão em continuidade com RER.
As pilhas de discos membranosos no soma, dispostas longe do núcleo, constituem o aparelho de Golgi
descrito em 1898 por Camilo Golgi (figura 5). Trata-se de um grande sítio de intenso processamento
bioquímico pós-tradução de proteínas. Acredita-se que uma função importante do aparelho de Golgi
seja a distribuição de certas proteínas destinadas a diferentes partes de um neurônio, tais como axônio
e os dendritos.
15
UNIDADE I │ NEURÔNIOS E CÉLULAS DA NEUROGLIA
devolve para a célula hospedeira. Sendo energia química que pode ser, e é usada em
reações bioquímicas que necessitem de dispêndio de energia. A mitocôndria está
presente em grande quantidade nas células: do sistema nervoso (na extremidade
dos axônios), do coração e do sistema muscular, uma vez que estas apresentam uma
necessidade maior de energia.
Até aqui estudamos o soma e as organelas neuronais. Nenhuma destas estruturas (organelas),
entretanto, é exclusiva dos neurônios; elas são encontradas em todas as células do nosso corpo.
Agora estudaremos o axônio, uma estrutura encontrada apenas nos neurônios e altamente
especializada para a transferência de informação entre pontos distantes do SN.
16
CAPÍTULO 3
O axônio
O axônio parte de uma região chamada cone de implantação ou proeminência axônica, que
funciona como o segmento inicial do axônio propriamente dito (figura 6). Essa região tem um papel
importante na condução do sinal elétrico – impulso nervoso –, que discutiremos posteriormente.
Duas marcantes características distinguem o axônio do soma:
Todos os axônios têm um início (o cone de implatação), um meio (o axônio propriamente dito)
e um fim. Essa região final é chamada de terminal axonal ou botão terminal, pois, de fato,
normalmente se parece com um disco intumescido (dilatado). O terminal é o local onde o axônio
17
UNIDADE I │ NEURÔNIOS E CÉLULAS DA NEUROGLIA
entra em contato com outros neurônios (ou outras células) e passa a informação para eles. Esse ponto
de contato, as sinapses, palavra derivada do grego “amarrar junto”, são as regiões de comunicação
entre os neurônios, ou mesmo entre neurônios e células musculares e epiteliais glandulares.
Os terminais axonais formam sinapses com os dendritos ou com o soma de outros neurônios.
Quando um impulso nervoso chegar no terminal axonal pré-sináptico, são liberadas moléculas
neurotransmissoras das vesículas sinápticas na fenda sináptica. Os neurotransmissores, então,
ligam-se a proteínas receptoras específicas, desencadeando a geração de sinais elétricos ou químicos
na célula pós-sináptica.
Em resumo, o axônio é o transmissor do neurônio. Ele transmite impulsos para longe do corpo
celular. Próximo de sua extremidade, um axônio divide-se em numerosos ramos. São os terminais
axônicos ou fibrilas terminais. As pontas desses terminais são dilatadas, formando pequenos bulbos,
e são denominadas botões sinápticos. Esses botões alojam numerosas vesículas (sacos) repletos de
substâncias químicas denominadas neurotransmissores, que são utilizadas na comunicação entre
um neurônio e uma outra célula.
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CAPÍTULO 4
A sinapse
Para que um neurônio se comunique com o outro, deve ser produzido um potencial de ação (impulso
nervoso) como veremos posteriormente. Uma vez disparado um potencial de ação, o impulso
nervoso percorre toda a extensão do axônio e, finalmente, atinge os terminais axônicos.
Como o impulso nervoso se move do neurônio que lhe deu origem a um outro
neurônio?
Os neurônios comunicam-se entre si por meio de sinapses. Uma sinapse é o local onde ocorre a
transmissão de um impulso nervoso de um neurônio a outro. O tipo mais comum de sinapse é a química.
A sinapse tem dois lados: o pré e o pós-sináptico. Esses nomes indicam a direção habitual do fluxo
de informação que vai da região “pré” para “pós”. O lado pré-sináptico geralmente consiste de
um axônio terminal, enquanto que o lado pós-sináptico pode ser o dendrito ou o soma de outro
neurônio. O espaço entre as membranas pré e pós-sináptica é chamado de fenda sináptica. A
transferência de informação através de uma sinapse, de um neurônio para outro, é chamado de
transmissão sináptica.
Na maioria das sinapses, a informação que viaja na forma de impulsos elétricos ao longo de um
axônio é convertida, no terminal axonal, em um sinal químico que atravessa a fenda sináptica. Na
membrana pós-sináptica, esse sinal químico é convertido novamente em um sinal elétrico. O sinal
químico é chamado de neurotransmissor, sendo armazenado nas vesículas sinápticas dentro do
terminal axonal e liberado na fenda sináptica.
19
UNIDADE I │ NEURÔNIOS E CÉLULAS DA NEUROGLIA
Figura 7. Terminal axonal e a sinapse. Observe a liberação da substância neurotransmissora pelo terminal axonal
pré-sináptico na fenda sináptica, e sua subsequente interação com os receptores específicos localizados sobre a
membrana de um dendrito pós-sináptico.
20
CAPÍTULO 5
Os dendritos
A maioria dos neurônios contém muitos dendritos. São os receptores dos neurônios. Geralmente,
os impulsos que chegam ao nervo, de estímulos sensoriais ou de neurônios adjacentes, tipicamente
entram no neurônio através dos dendritos. Essas projeções transmitem, então, os impulsos em
direção do corpo celular. Em comparação, a maioria dos neurônios possui apenas um axônio, o
transmissor do neurônio.
De uma forma mais simples, os dendritos estão adaptados para a recepção e processamento dos
sinais elétricos que chegam de outros neurônios por meio das sinapses. Sendo assim, os dendritos
funcionam como “antena” para o neurônio, estando recoberto por milhares de sinapses. A
membrana dendrítica relacionada com as sinapses (a membrana pós-sináptica) apresenta muitos
receptores, especializados na detecção dos neurotransmissores liberados na fenda sináptica pelo
neurônio pré-sináptico.
Agora que já vimos às principais características e estruturas da unidade funcional do SN, estamos
prontos para classificá-los de acordo com suas funções específicas.
21
CAPÍTULO 6
Classificação baseada nas conexões
Os neurônios são as unidades funcionais do SN e são identificados três tipos funcionalmente distintos:
Até este momento do capítulo dedicamos exclusivamente nossa atenção aos neurônios. Em outras
palavras, despendemos exclusivamente nossa atenção aos 10% da população celular do encéfalo: os
neurônios. Nos próximos tópicos despenderemos nossa atenção às células da glia, consideradas por
alguns neurocientistas como “o gigante adormecido”.
22
CAPÍTULO 7
As células da neuroglia
As células gliais (ou células da neuroglia) mais numerosas no encéfalo são os astrócitos. Os
astrócitos ocupam a maior parte do espaço no encéfalo que não está ocupada por neurônios ou
vasos sanguíneos, ou seja, essas células preenchem os espaços entre os neurônios.
Os astrócitos são vários tipos de células em forma de estrela (de onde lhes vem o
nome: astro = estrela, cito = célula). Os astrócitos são as células da neuróglia que
possuem as maiores dimensões. Existem dois tipos de astrócitos: os protoplasmasticos
e os fibrosos. Os primeiros predominam na substância cinzenta, e os segundos
predominam na substância branca do cérebro. Os astrócitos desempenham funções
muito importantes, como a sustentação e a nutrição dos neurônios.
É provável que os astrócitos determinem quanto um neurito poderá crescer ou se retrair. Uma
descoberta recente e inesperada é que a membrana dos astrócitos também apresenta receptores para
os neurotransmissores que, assim como nos neurônios, podem desencadear eventos bioquímicos e
elétricos no interior da célula glial.
23
UNIDADE I │ NEURÔNIOS E CÉLULAS DA NEUROGLIA
Figura 9. Neurônio, astrócito e oligodendrócito. Observe na figura b como o astrócito “abraça” o axônio de um
neurônio para proporcionar sua nutrição.
24
CAPÍTULO 8
Outras células não neuronais
Ao eliminarmos cada neurônio, cada astrócito e todos os oligodendrócitos, ainda restariam outras
células no encéfalo. Para não excluir nenhum tipo, precisamos mencionar essas outras células. Uma
classe de células chamada de microglia age como “macrófagos” na remoção de fragmentos celulares
gerados pela morte ou degeneração de neurônios e células gliais. Finalmente, também temos as
células que estruturam a vascularização do encéfalo, definindo artérias, veias e capilares.
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TRANSMISSÃO DE UNIDADE II
SINAIS
CAPÍTULO 1
O impulso nervoso e o potencial de
repouso de membrana
Um impulso nervoso – uma carga elétrica – é o sinal que passa de um neurônio ao seguinte e
que, finalmente, termina num órgão terminal, como um grupo de fibras musculares, ou retorna ao
Sistema Nervoso Central (SNC). Simplificando, você pode imaginar o impulso nervoso percorrendo
fios elétricos em sua casa. Vejamos como esse impulso elétrico é gerado e como ele percorre um
neurônio até chegar a seu destino final.
Em repouso, quando o neurônio não esta recebendo, transmitindo e nem integrando informações
no seu interior e entre células, ele possui uma alta concentração de íons potássio (K+) no seu
interior e uma alta concentração de íons sódio (Na+) no seu exterior. O desequilíbrio na quantidade
de íons no interior e no exterior da célula produz o PRM. Esse desequilíbrio é mantido de duas
maneiras. Primeiramente, a membrana celular é muito mais permeável ao K+ do que ao Na+, de
modo que o K+ pode se mover mais facilmente através da membrana celular. Como os íons tendem
a se mover para estabelecer um equilíbrio, parte dos íons K+ movem-se para uma área onde a
sua concentração é menor: fora da célula. Já o Na+ não consegue mover-se dessa maneira, só que
no sentido oposto, do meio extracelular onde é mais concentrado para o meio intracelular onde é
menos concentrado. Essa diferença na permeabilidade da membrana para os íons Na+ e K+, faz
com que o meio intracelular perca cargas positivas deixando o meio intracelular negativo em relação
ao meio extracelular. Em segundo lugar, a bomba de sódio-potássio do neurônio, que na realidade
26
TRANSMISSÃO DE SINAIS │ UNIDADE II
é uma enzima denominada Na+-K+ ATPase, mantém o desequilíbrio em cada lado da membrana
transportando ativamente íons potássio e sódio. A bomba de sódio-potássio move três íons Na+
para fora da célula para cada dois íons K+ que ela move para o seu interior. O resultado final é que
mais íons carregados positivamente encontram-se fora da célula do que no seu interior, criando
uma diferença de potencial através da membrana. A manutenção de um PRM constante de -70 mV
é principalmente uma função da bomba de sódio-potássio.
Outro fator que contribui para o PRM ser negativo é a maior concentração de proteínas no meio
intracelular, uma vez que, as proteínas são moléculas carregadas com carga negativa (moléculas
aniônicas) isto auxilia a deixar o meio intracelular negativo em relação ao meio extracelular.
O registro do PRM e os três fatores determinantes do PRM podem ser visualizados na figuara 11.
Figura 11. Origem do PRM. LIC = líquido intracelular (meio intracelular); LEC = Líquido extracelular (meio
extracelular).
27
CAPÍTULO 2
Despolarização e hiperpolarização
O oposto também pode ocorrer, se a diferença de carga através da membrana aumentar, ou seja, em
qualquer situação onde o PRM for se tornando mais negativo, por exemplo, -75 mV, -80 m V, -85
mV etc. a membrana tornar-se-á então mais polarizada. Isso é conhecido como hiperpolarização.
A principal causa de hiperpolarização é o influxo de íons cloro (Cl-), que são íons aniônicos e estão
mais concentrados no meio extracelular.
Exemplos incluem:
28
TRANSMISSÃO DE SINAIS │ UNIDADE II
29
CAPÍTULO 3
Potenciais graduados e potenciais de ação
Os potenciais graduados são disparados por uma alteração do ambiente local do neurônio. Dependendo
da localização e do tipo de neurônio envolvido, as comportas iônicas podem abrir em resposta à
transmissão de um impulso oriundo de um outro neurônio ou em resposta a estímulos sensoriais,
como alterações de concentrações de substâncias químicas, da temperatura ou da pressão.
Lembre-se de que a maioria dos receptores neuronais estão localizados nos dendritos (embora existam
alguns no corpo celular) e que o impulso é sempre transmitido dos terminais axônicos localizados na
extremidade oposta da célula. Para que um neurônio transmita um impulso, este deve percorrer quase
toda a sua extensão. Embora um potencial graduado possa produzir despolarização de toda a membrana
celular, geralmente ele é apenas um fenômeno local e a despolarização não se dissemina muito ao longo
do neurônio. Para percorrer a distância total, um impulso deve gerar um potencial de ação.
Figura 12. Características dos canais de sódio (A) e potássio (B) regulados pela voltagem. Observe que o canal de
sódio contem duas comportas, uma de ativação voltada para o liquido extracelular (LEC) e outra de inativação
voltada para o liquido intracelular (LIC), enquanto que o canal de potássio contem apenas uma comporta, a de
ativação que está voltada para o LIC. Será a alteração conformacional (mudança do seu estado de origem)
dessas comportas as responsáveis pela gênese (formação) do potencial de ação. A figura A demonstra o canal
de sódio em três diferentes estados: repouso, ativado e inativado e a figura B demonstra o canal de potássio em
dois diferentes estados: repouso e ativado.
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TRANSMISSÃO DE SINAIS │ UNIDADE II
Os sinais nervosos são transmitidos por potenciais de ação. Para conduzir um sinal nervoso, o
potencial de ação se desloca ao longo da fibra nervosa até sua extremidade. Um potencial de ação
é uma despolarização rápida e substancial da membrana do neurônio. Em geral, ele dura apenas
aproximadamente 1 milissegundo (ms). Tipicamente, o potencial de membrana altera de um PRM
de -70 mV para um valor de +30 mV e, em seguida, retorna rapidamente ao seu valor de repouso.
Todos os potenciais de ação começam como potenciais graduados. Quando ocorre uma estimulação
suficiente para causar uma despolarização de pelo menos 15 a 20 mV, há a produção de um potencial
de ação. Em outras palavras, se a membrana despolarizar de um PRM de -70 mV para um valor de
-50 a -55 mV, a célula apresentará um potencial de ação, e essa despolarização da membrana ocorre
tipicamente por meio de um influxo (entrada) de íons sódio o qual faz com que entre carga positiva
no LIC. A despolarização mínima necessária para a produção de um potencial de ação é denominada
limiar. Qualquer despolarização inferior ao valor limiar de 15 a 20 mV não produzirá um potencial de
ação. Por exemplo, se o potencial de membrana alterar do PRM de -70 mV para -60 mV, a alteração
será de apenas 10 mV e não atingirá o limiar. Consequentemente, não haverá a produção de um
potencial de ação. No entanto, sempre que a despolarização atingir ou ultrapassar o limiar ocorrerá a
produção de um potencial de ação, a isso, é dado o nome de princípio do tudo ou nada.
31
UNIDADE II │ TRANSMISSãO DE SINAIS
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CAPÍTULO 4
Sequência de eventos de um potencial
de ação
Em cada potencial de ação, ocorre a seguinte sequência de eventos apresentada nas figuras 13a
a 13e:
33
UNIDADE II │ TRANSMISSãO DE SINAIS
Figura 13. Sequência de eventos que ocorrem durante um potencial de ação: a – estado de repouso, b
– aumento da permeabilidade ao sódio e despolarização, c – propagação de um potencial de ação, d –
repolarização e, e – ação da bomba de sódio e potássio.
A figura 14 apresenta um resumo dos eventos de um potencial de ação. Observe que na figura 14
b esta demonstrada às alterações da permeabilidade da membrana aos diferentes íons causadores
do potencial de ação. Note que a permeabilidade ao íon sódio aumenta de maneira muito rápida,
enquanto que a permeabilidade ao íon potássio aumenta de maneira mais discreta, alcançando o
máximo durante a fase de repolarização do potencial de ação. No entanto, ambas as alterações da
permeabilidade são causadas pela aplicação de um estímulo despolarizante.
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TRANSMISSÃO DE SINAIS │ UNIDADE II
35
CAPÍTULO 5
Propagação do potencial de ação
Agora que sabemos como um impulso neural (sob a forma de um potencial de ação) é gerado,
podemos analisar como o impulso é propagado e como ele percorre o neurônio. Duas características
do neurônio tornam-se particularmente importantes ao considerarmos quão rapidamente um
impulso pode passar pelo axônio: a mielinização e o diâmetro.
A bainha de mielina
Os axônios da maioria dos neurônios motores (motoneurônios) são mielinizados, significando que são
recobertos por uma bainha composta por mielina, uma substância gordurosa que isola a membrana
celular. Como vimos, no sistema nervoso periférico, essa bainha de mielina é formada pelas células de
Schwann, enquanto que no sistema nervoso central é formada pelos oligodendrócitos, um tipo celular
da neuroglia.
Como pode ser observada na figura 14, a bainha de mielina não é contínua. Ao longo do axônio, a
bainha de mielina apresenta espaços entre as células de Schwann adjacentes, deixando o axônio
não isolado nesses pontos. Esses espaços são denominados nódulos de Ranvier (ver figura 14).
São nesses nódulos que são propagados os potenciais de ação. É como se o potencial de ação
saltasse de um nódulo ao nódulo seguinte quando ele percorresse uma fibra mielinizada. Esse
fenômeno é denominado condução saltatória, um tipo de condução muito mais rápido do que o
das fibras não mielinizadas.
A velocidade da transmissão do impulso nervoso nas fibras mielinizadas grandes pode ser elevada,
de até 100 m/s, ou 5 a 50 vezes mais rápida do que a das fibras não mielinizadas do mesmo
tamanho.
Figura 15. Bainha de mielina e nódulo de Ranvier. Observe que a figura também demonstra a direção da
propagação do impulso nervoso.
36
TRANSMISSÃO DE SINAIS │ UNIDADE II
Essa doença causa uma piora do estado geral do paciente, ocasionando: fraqueza
muscular, rigidez articular, dores articulares e descoordenação motora. O doente
sente dificuldade para realizar vários movimentos com os braços e pernas,
perde o equilíbrio quando fica em pé, sente dificuldade para andar, tremores e
formigamentos em partes do corpo. Em alguns casos a doença pode provocar
insuficiência respiratória, incontinência ou retenção urinária, alterações visuais
graves, perda de audição, depressão e impotência sexual.
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UNIDADE II │ TRANSMISSãO DE SINAIS
os oligodendrócitos, que são diferentes das células com a mesma função no SNP,
conhecidas como células de Schwann.
Diâmetro do neurônio
A velocidade da transmissão do impulso nervoso também é determinada pelo tamanho do neurônio.
Os neurônios de diâmetro maior conduzem impulsos nervosos mais rapidamente do que aqueles de
diâmetro menor, por apresentarem menor resistência ao fluxo de corrente local.
38
CAPÍTULO 6
A junção neuromuscular
Na junção neuromuscular, o impulso é recebido por uma fibra muscular (ver figura 16).
Observa-se que nos locais onde os terminais axônicos se aproximam da fibra muscular, a fibra
apresenta invaginações (pregas formando cavidades). Esse arranjo aumenta a área superficial
para a interação do neurotransmissor liberado pelo terminal axonal com os receptores
localizados no sarcolema (membrana plasmática) da fibra muscular. A cavidade assim formada
é denominada goteira sináptica, e como nas sinapses, o espaço entre o neurônio e afibra
muscular é denominado fenda sináptica.
Figura 16. Junção neuromuscular, demonstrando a interação entre o motoneurônio e o sarcolema de uma fibra
muscular. Observe as invaginações do sarcolema dando origem à goteira sináptica.
O neurotransmissor liberado dos terminais axônicos motores difundem-se através da fenda sináptica
e se ligam aos receptores localizados no sarcolema da fibra muscular. Essa ligação normalmente
produz despolarização por meio da abertura dos canais iônicos de sódio, permitindo que mais íons
39
UNIDADE II │ TRANSMISSãO DE SINAIS
sódio penetrem na fibra muscular. Como vimos no capítulo 3, desta unidades, se a despolarização
atingir o limiar, um potencial de ação é disparado. O potencial de ação se dissemina ao longo do
sarcolema, e como resultado final, a fibra muscular se contrai.
Como o neurônio, o sarcolema uma vez despolarizado deve sofrer uma repolarização. Durante o
período de repolarização, as comportas que controlam o sódio estão fechadas e as que controlam o
potássio estão abertas, assim, como o neurônio, a fibra muscular é incapaz de responder a qualquer
outra estimulação. Isso é denominado período refratário (já estudado). Quando as condições elétricas
da fibra muscular retornam aos níveis de repouso, a fibra pode responder a um outro estímulo.
40
CAPÍTULO 7
Neurotransmissores
41
UNIDADE II │ TRANSMISSãO DE SINAIS
transportada ativamente de volta para o interior do terminal pré-sináptico para ser reutilizada na
síntese da acetilcolina por intermédio da enzima colina acetiltransferase. Observe que a colina é
recaptada para o interior do terminal pré-sináptico por meio de um transportador específico de
colina (transporte ativo secundário – co-transporte com sódio), e que a acetilcolina é transportada
para o interior da vesícula por meio de um transportador específico para acetilcolina.
Figura 17. Liberação e degradação da acetilcolina na fenda sináptica, e recaptação da colina pelo terminal
pré-sináptico. ACo = Acetilcolina, ACoE = Acetilcolinesterase, CoAT = Colina Acetiltransferase.
A degradação da acetilcolina acontece muito rapidamente, pois a acetilcolinesterase possui uma das
taxas catalíticas mais rápidas dentre as enzimas conhecidas. A acetilcolinesterase é alvo de muitos
gases neurotóxicos e inseticidas.
Não existe uma enzima degradadora extracelular rápida análoga à acetilcolinesterase para os
neurotransmissores: dopamina, noradrenalina e adrenalina, que coletivamente são chamados de
catecolaminas. Ao contrario, a ação das catecolaminas na fenda sináptica é terminada pela captação
seletiva dos neurotransmissores de volta para o terminal axonal por transportadores dependentes de
sódio. Esse passo é sensível a diferentes drogas. Por exemplo, as anfetaminas e a cocaína bloqueiam
a captação de catecolaminas, com isso prolongam a ação desses neurotransmissores na fenda
sináptica. Uma vez dentro do terminal axonal, as catecolaminas podem ser transportadas novamente
para as vesículas sinápticas para serem reutilizadas ou ser enzimaticamente degradadas pela ação
da monoaminoxidase (MAO), uma enzima encontrada na membrana externa da mitocôndria.
42
TRANSMISSÃO DE SINAIS │ UNIDADE II
Resposta pós-sináptica
Analisamos a geração de um potencial de ação, a condução do impulso ao longo do neurônio e a sua
transmissão à célula seguinte. Continuaremos descrevendo o que ocorre após o neurotransmissor
se ligar aos receptores pós-sinápticos.
Quando o neurotransmissor se liga aos receptores, o sinal químico que atravessou a fenda sináptica
torna-se novamente um sinal elétrico. A ligação produz um potencial graduado na membrana pós-
sináptica. Um impulso aferente pode ser tanto excitatório quanto inibitório. Um impulso excitatório
produz uma hipopolarização, ou despolaização, conhecida como Potencial Excitatório Pós-Sináptico
(PEPS) (figura 18). Um impulso inibitório produz uma hiperpolarização, conhecida como Potencial
Inibitório Pós-Sináptico (PIPS) (figura 19).
Figura 18. Potencial Excitatório Pós-Sináptico (PEPS). Observe na figura que durante a sinapse excitatória ocorre a
abertura de canais de sódio (Na+) na membrana do neurônio pós-sináptico, fazendo com que ocorra influxo de
íons Na+ despolarizando o neurônio pós-sináptico.
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UNIDADE II │ TRANSMISSãO DE SINAIS
Figura 19. Potencial Inibitório Pós-Sináptico (PIPS). Observe na figura que durante a sinapse inibitória ocorre a
abertura de canais de cloro (Cl-) na membrana do neurônio pós-sináptico, fazendo com que ocorra influxo de
íons Cl- hiperpolarizando o neurônio pós-sináptico.
Na figura 20 podemos observar os dois tipos de somação; a somação temporal, quando estímulos
sub-limiares são aplicados sucessivamente (menos de 1 milissegundo), variações nos potenciais
locais podem somar-se e atingir o limiar, levando à despolarização, e a somação espacial, quando
estímulos sub-limiares são aplicados em áreas próximas e simultaneamente, podem somar-se e
levar a despolarização.
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TRANSMISSÃO DE SINAIS │ UNIDADE II
Figura 20. (a) Um potencial de ação pré-sináptico desencadeia um pequeno PEPS no neurônio pós-sináptico. (b)
Somação espacial de PEPSs: quando dois ou mais sinais de entrada pré-sinápticos são simultâneos, seus PEPSs
individuais se somam. (c) Somação temporal de PEPSs: quando a mesma fibra pré-sináptica dispara potenciais
de ação em uma rápida sucessão seus PEPSs se somam.
O processo de somação é muito importante e tem uma grande relevância para a função muscular.
O músculo humano é capaz de gerar uma força considerável, muito maior do que normalmente
se observa mesmo nos levantadores de peso ou nos fisiculturistas altamente treinados. Sob
circunstâncias extremas e potencialmente letais, como um acidente automobilístico ou aéreo,
os indivíduos têm sido capazes de exercer níveis sobre-humanos de força, quebrando ossos e
lacerando músculos das inserções dos ossos durante o processo. Em condições normais, os PIPSs
atuam protegendo o complexo músculo-tendão-osso. Uma redução dos PIPSs pode ser um fator
importante que explica os ganhos rápidos de força que são apresentados após um período curto de
treinamento de força.
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NEUROFISIOLOGIA
DO CONTROLE UNIDADE III
MOTOR
CAPÍTULO 1
O sistema nervoso central
Para compreender como mesmo o estímulo mais básico pode produzir uma atividade muscular,
devemos considerar a complexidade do Sistema Nervoso Central (SNC). Vamos agora, voltar
nossa atenção aos vários componentes do sistema nervoso e como eles produzem o movimento.
Esses componentes estão listados na figura 21. Nesta unidade, estudaremos uma visão geral dos
componentes do SNC e analisaremos brevemente as suas funções.
Figura 21. Organização funcional do sistema nervoso (SN). O SN pode ser subdividido em Sistema Nervoso Central
(SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP).
O encéfalo
O encéfalo é composto por várias partes. Para os nossos estudos, nós consideraremos quatro regiões:
» Cérebro
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NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR │ UNIDADE III
» Diencéfalo
» Cerebelo
Figura 22. As quatro principais regiões do encéfalo. Cérebro, diencéfalo, tronco cerebral e cerebelo.
O cérebro
O cérebro é composto pelos hemisférios cerebrais direito e esquerdo. O hemisfério cerebral direito
está conectado ao hemisfério cerebral esquerdo por feixes de fibras (tratos) denominados corpo
caloso, o que permite a intercomunicação entre eles. O córtex cerebral forma a porção externa dos
hemisférios cerebrais e foi considerado o local da mente e do intelecto. Ela também é denominada
substância cinzenta, o que simplesmente reflete a sua cor particular resultante da ausência
de mielina sobre os corpos celulares localizados nessa área. O córtex cerebral é o seu cérebro
consciente. Ele permite que você pense, perceba estímulos sensoriais e controle voluntariamente
os seus movimentos.
O cérebro é constituído por cinco lobos – quatro lobos externos e a ínsula central. Seus quatro lobos
principais, apresentados na figura 23, possuem as seguintes funções:
47
UNIDADE III │ NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR
Figura 23. As áreas funcionais do córtex cerebral. Lobos: frontal, parietal, temporal e occipital.
As três áreas do cérebro que são de principal importância em nossa discussão e que discutiremos
posteriormente nesta unidade são:
O diencéfalo
Essa região do encéfalo é composta principalmente pelo tálamo e pelo hipotálamo. No entanto,
o epitálamo e o subtálamo também fazem parte do diencéfalo. O tálamo é um importante centro
de integração sensorial. Todos os estímulos sensoriais exceto o olfato chegam ao tálamo e são
retransmitidos à área apropriada do córtex. O tálamo, em outras palavras, regula quais estímulos
sensoriais atingem seu encéfalo consciente e, por essa razão, ele é muito importante no controle
motor. Ademais, o tálamo realiza um escalonamento das informações sensoriais que devem atingir
seu encéfalo consciente, priorizando e escalonando quais informações sensoriais devem atingir
primeiro seu encéfalo consciente.
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NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR │ UNIDADE III
O hipotálamo, localizado logo abaixo do tálamo, é responsável pela manutenção da homeostasia por
meio da regulação de quase todos os processos que afetam o ambiente interno do organismo. Seus
centros neurais regulam:
» o sistema nervoso autônomo (e, por meio dele, a pressão arterial, a frequência e a
contratilidade cardíaca, a respiração, a digestão etc.);
» a temperatura corporal;
» o equilíbrio hídrico;
» o controle neuroendócrino;
» as emoções;
» a sede;
» a ingestão alimentar e
» o ciclo de sono-vigília.
O cerebelo
O cerebelo está localizado atrás do tronco cerebral conectado a várias partes do cérebro e possui um
papel fundamental na coordenação do movimento, como veremos posteriormente nesta unidade.
O cerebelo é primariamente um centro para o controle do movimento que possui extensivas conexões
com o cérebro e a medula espinhal. Ao contrário dos hemisférios cerebrais, o lado esquerdo do
cerebelo está relacionado com os movimentos do lado esquerdo do corpo, enquanto o lado direito,
com os movimentos do lado direito do corpo.
Apesar de o cerebelo constituir apenas cerca de um décimo do volume total do encéfalo, ele contém
mais de 50% do número total de neurônios do sistema nervoso central, devido à alta densidade
de neurônios no seu córtex. Neurônios também estão “enterrados” nas profundezas da substância
branca do cerebelo, constituindo os núcleos cerebelares profundos, que retransmitem a maioria das
eferências corticais cerebelares a várias estruturas do tronco cerebral.
49
UNIDADE III │ NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR
» Perda do equilíbrio.
O tronco cerebral
O tronco cerebral, composto pelo mesencéfalo, ponte e bulbo (figura 24), é o eixo principal do
encéfalo, conectando o encéfalo à medula espinhal.
Todos os nervos sensoriais e motores passam através do tronco cerebral quando eles retransmitem
informações entre o encéfalo e a medula espinhal. Esse é o local de origem de 10 dos 12 pares de
50
NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR │ UNIDADE III
nervos cranianos. O tronco cerebral também contém os principais centros reguladores autônomos
que exercem o controle sobre os sistemas respiratório e cardiovascular.
Um conjunto especial de neurônios que percorre toda a extensão do tronco cerebral, conhecido
como formação reticular, é influenciado por praticamente todas as áreas do SNC e exerce influência
sobre elas. Esses neurônios auxiliam:
A medula espinhal
A parte mais inferior do tronco cerebral, o bulbo (figura 24), forma uma continuidade com a medula
espinhal. A medula espinhal é composta por tratos de fibras nervosas que permitem a condução
bidirecional dos impulsos nervosos. As fibras sensoriais (aferentes) transmitem sinais nervosos dos
receptores sensoriais, como os localizados nos músculos e nas articulações, aos níveis superiores do
SNC. As fibras motoras (eferentes) do cérebro e da medula espinhal superior dirigem-se aos órgãos
terminais (por exemplo, músculos e glândulas).
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CAPÍTULO 2
O sistema nervoso periférico
O Sistema Nervoso Periférico (SNP) é composto por 43 pares de nervos, sendo eles: 12 pares de
nervos cranianos que se conectam com o cérebro e 31 pares de nervos espinhais ou raquidianos
que se conectam com a medula espinhal. Os nervos espinhais inervam diretamente os músculos
esqueléticos. Em cada nervo espinhal, neurônios sensoriais entram na medula espinhal através
da raiz dorsal e seus corpos celulares estão localizados nos glânglios espinhais. Os motoneurônios
(neurônios motores) deixam a medula espinhal através da raiz ventral. Eles são o elo final da cadeia
de controle da atividade muscular, terminando nas junções neuromusculares.
Funcionalmente, o SNP possui duas divisões principais: a divisão sensorial e a divisão motora.
Examinaremos agora cada uma delas.
A divisão sensorial
A divisão sensorial do SNP transmite informações sensoriais ao SNC. Neurônios sensoriais
(aferentes) originam-se em áreas como:
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NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR │ UNIDADE III
» órgãos internos;
» pele e
» músculos e tendões.
Vários desses receptores são importantes no exercício e no esporte. consideremos alguns deles. As
terminações nervosas livres detectam o toque rude, a pressão, a dor, o calor e o frio. Portanto, elas
funcionam como mecanorreceptores, nociceptores e termorreceptores. Essas terminações nervosas
são importantes na prevenção de lesão durante o desempenho atlético.
Terminações nervosas especiais localizadas nos músculos e nas articulações são de tipos variados
e possuem funções diversas. Cada tipo é sensível a um estímulo específico. A seguir, apresentamos
alguns exemplos importantes:
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UNIDADE III │ NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR
A divisão motora
O SNC transmite informações para várias partes do corpo por meio da divisão motora, ou eferente,
do SNP. Após o SNC processar a informação que recebe da divisão sensorial, ele decide como o
corpo deve responder ao estímulo. Do encéfalo e da medula espinhal, redes intricadas de neurônios
vão a todas as partes do corpo, fornecendo instruções detalhadas às áreas-alvo.
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CAPÍTULO 3
O sistema nervoso autônomo
» a frequência cardíaca;
» a pressão arterial;
» a distribuição sanguínea;
» a respiração.
O SNA possui duas divisões principais: o Sistema Nervoso Simpático (SNS) e o Sistema Nervoso
Parassimpático (SNP). Elas se originam a partir de diferentes seções da medula espinhal e a partir
da base do encéfalo. Frequentemente, o efeito desses dois sistemas é antagonista (enquanto um
estimula o outro inibe), mas ambos sempre funcionam em conjunto. Lembre-se disso à medida que
examinamos cada um separadamente.
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UNIDADE III │ NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR
» A glicose é liberada do fígado para a corrente sanguínea como uma fonte de energia.
» As funções que não são diretamente necessárias tornam-se mais lentas (por
exemplo, função renal, digestão), conservando energia.
Essas alterações básicas das funções corporais facilitam a resposta motora, demonstrando a
importância do SNA no preparo do seu corpo ao estresse agudo, como por exemplo, na atividade física.
» broncoconstrição;
» aumenta o peristaltismo.
Os vários efeitos das divisões simpática e parassimpática do SNA são resumidas na tabela 2.
Tabela 2. Efeitos dos sistemas nervosos simpático e parassimpático sobre vários órgãos.
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NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR │ UNIDADE III
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CAPÍTULO 4
Integração sensório-motora
Tendo analisado os componentes e as divisões do SN, estamos prontos para discutir como um
estímulo sensorial dá origem a uma resposta motora. Como, por exemplo, os músculos de sua mão
sabem afastar os dedos de um fogão quente? Quando você decide correr, como os músculos de suas
pernas se coordenam, suportando o seu peso e impulsionando seu corpo para frente? Para realizar
essas atividades, os sistemas sensorial e motor devem se comunicar entre si.
Esse processo é denominado integração sensório-motora e é descrito na figura 26. Para que seu
corpo responda aos estímulos sensoriais, as divisões sensorial e motora do seu SN devem atuar em
conjunto numa sequência específica de eventos:
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NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR │ UNIDADE III
Estímulo sensorial
Lembre-se de que as sensações e o estado fisiológico são detectados por receptores sensoriais
distribuídos em todo o corpo. Os impulsos resultantes da estimulação sensorial são transmitidos
por meio de nervos sensoriais à medula espinhal. Quando eles chegam à medula espinhal,
eles podem desencadear um reflexo local nesse nível ou podem ir até as regiões superiores
da medula espinhal ou ao encéfalo. Vias sensoriais ao encéfalo podem terminar em áreas
sensoriais do tronco cerebral, do cerebelo, do tálamo ou do córtex cerebral. Uma área em
que os impulsos sensoriais terminam é denominada centro de integração. É lá que o estímulo
sensorial é interpretado e ligado ao sistema motor. Esses centros de integração possuem
funções variadas:
» Impulsos sensoriais que terminam na medula espinhal são integrados nessa região.
A resposta é tipicamente um reflexo motor simples, que é o tipo mais simples
de integração.
» Somente quando os sinais sensoriais chegam ao córtex cerebral é que você pode
localizar distintamente o sinal. O córtex sensorial primário localizado no giro
pós-central (no lobo parietal), recebe estímulo sensorial de receptores da pele e de
proprioceptores dos músculos, tendões e articulações. Essa área é um mapa do corpo.
A estimulação de uma área específica do corpo é identificada e a sua localização exata
é instantaneamente reconhecida. Assim, essa parte do nosso encéfalo consciente
permite que estejamos constantemente conscientes das condições externas e de
nossas relações com elas.
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UNIDADE III │ NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR
A figura 27 ilustra vários receptores sensoriais e suas vias nervosas de volta à medula espinhal e a
várias áreas do encéfalo.
Figura 27. Receptores sensoriais e suas vias de volta à medula espinhal e ao encéfalo. T0 = temperatura. Observe
que parte dos estímulos sensoriais antes de atingirem o córtex sensorial deixa uma “cópia” dessa informação
no cerebelo. Pois assim, o cerebelo atuará como um sistema de integração, comparando a sua atividade
programada ou desejada com as alterações reais que ocorrem no seu corpo e, em seguida, iniciando ajustes
corretivos através do sistema motor.
Controle motor
Quando o impulso sensorial é recebido, ele tipicamente provoca uma resposta através de um
motoneurônio, independentemente do nível em que o impulso sensorial é interrompido. Os
músculos esqueléticos são controlados por impulsos conduzidos por motoneurônios (eferentes) que
se originam em qualquer um dos seguintes níveis:
1. medula espinhal
À medida que o nível de controle vai da medula espinhal ao córtex motor, o grau de complexidade
do movimento aumenta de um controle reflexo simples a movimentos complicados que exigem
processos de pensamento básicos. As respostas motoras de padrões de movimento mais complexos
comumente originam-se no córtex motor do encéfalo.
Finalmente, estamos prontos para ligar os dois sistemas através da integração sensório-motora. Sua
forma mais simples é o reflexo e, por essa razão, ele será analisado em primeiro lugar.
60
CAPÍTULO 5
Atividade reflexa
O que ocorre quando você descuidadamente coloca a mão sobre um fogão quente? Primeiramente,
os estímulos do calor e da dor são recebidos pelos termorreceptores e nociceptores localizados
em sua mão e, em seguida, os impulsos sensoriais vão à medula espinhal, terminando no
nível de entrada. Na medula espinhal, esses impulsos são integrados instantaneamente
pelos interneurônios que conectam os motoneurônios e os neurônios sensoriais. O impulso é
transmitido aos motoneurônios e vai até os músculos efetores os quais controlam a retirada
de sua mão. O resultado é que você retira a mão do fogão quente de maneira reflexa, sem dar
atenção a nenhum pensamento.
Um reflexo motor é uma resposta pré-programada. Sempre que seus nervos sensoriais
transmitem determinados impulsos, seu corpo responde instantaneamente e de forma idêntica.
No nosso exemplo, quer você toque algo muito quente ou muito frio, os termorreceptores
desencadearão um reflexo para que você retire a sua mão. Quer a dor seja decorrente do calor ou
de um objeto pontiagudo, os nociceptores produzirão também um reflexo de retirada. Quando
você se conscientiza do estimulo específico (após os impulsos sensoriais também terem sido
transmitidos ao córtex sensorial primário), a atividade reflexa já está ocorrendo, se já não tiver
sido completada. Toda atividade neural ocorre de maneira extremamente rápida, mas um reflexo
é o modo mais rápido de resposta, uma vez que você não necessita de tempo para tomar uma
decisão consciente. Somente uma resposta é possível – não há necessidade de se levar em conta
outras opções.
Fusos musculares
Agora que você conhece os princípios básicos da atividade reflexa, podemos analisar mais
detalhadamente dois reflexos que auxiliam no controle da função muscular. O primeiro envolve
uma estrutura especial: o fuso muscular.
O fuso muscular, mostrado na figura 28, está localizado entre fibras musculares esqueléticas
regulares, denominadas fibras extrafusais (fora do fuso). Um fuso muscular contém de 4 a 20 fibras
musculares especializadas pequenas, denominadas fibras intrafusais (dentro do fuso) e terminações
nervosas, sensoriais e motoras, associadas a essas fibras. Uma bainha de tecido conjuntivo envolve
o fuso muscular e o fixa ao endomísio das fibras extrafusais. As fibras intrafusais são controladas
por motoneurônios especializados, denominados motoneurônios gama. Em contraste, as fibras
extrafusais (fibras regulares) são controladas pelos motoneurônios alfa.
61
UNIDADE III │ NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR
A região central de uma fibra intrafusal não se pode contrair porque ela não contém, ou contém
poucos, filamentos de actina e de miosina. Por essa razão, somente a região central pode se alongar.
Como o fuso muscular está fixado às fibras extrafusais, sempre que essas fibras são alongadas, a
região central do fuso muscular também se alonga.
Quando essa região é alongada, as terminações nervosas sensoriais localizadas em torno dessa
região central do fuso muscular transmitem informações à medula espinhal, informando ao SNC
o comprimento do músculo. Na medula espinhal, o neurônio sensorial forma sinapse com um
motoneurônio alfa, o qual desencadeia a contração muscular reflexa (das fibras extrafusais) para
resistir a um maior alongamento.
Ilustremos essa ação com um exemplo. O seu braço é flexionado na altura do cotovelo e sua mão
é estendida, com a palma virada para cima. Subitamente, alguém coloca um peso elevado sobre a
palma de sua mão. O seu antebraço começa a cair, alongando as fibras musculares do seu braço
(músculo bíceps braquial), as quais, por sua vez, alongam o fuso muscular. Em resposta a esse
estiramento, os neurônios sensoriais enviam impulsos à medula espinhal, a qual então excita
os motoneurônios alfa. Eles fazem com que o músculo bíceps braquial se contraia, superando o
alongamento. Esse exemplo esta ilustrado na figura 29.
62
NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR │ UNIDADE III
O fuso muscular também auxilia a ação muscular normal. Parece que, quando os motoneurônios
alfa são estimulados a contrair as fibras musculares extrafusais, os motoneurônios gama também
são ativados, contraindo as extremidades das fibras intrafusais. Isso alonga a região central do
fuso muscular, dando origem a impulsos sensoriais que vão à medula espinhal e, em seguida, aos
motoneurônios. Em resposta, o músculo se contrai. Assim, a contração muscular neural é melhorada
por meio dessa função dos fusos musculares.
As informações que chegam à medula espinhal pelos neurônios sensoriais associados aos fusos
musculares não terminam simplesmente nesse nível. Os impulsos também são enviados às partes
superiores do SNC, fornecendo informações ao encéfalo sobre o comprimento exato e o estado
contrátil do músculo, assim como a velocidade com que esses estados estão mudando. Essas
informações são essenciais para a manutenção do tônus muscular e da postura e para a execução
dos movimentos. Antes que o encéfalo possa dizer o que o músculo deve fazer a seguir, ele deve
saber o que o músculo está fazendo no momento.
63
UNIDADE III │ NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR
Esses receptores sensoriais são inibidores por natureza, desempenhando um papel protetor ao
reduzirem a possibilidade de lesão. Quando estimulados, esses receptores inibem os músculos
agonistas (que se contraem) e excitam os músculos antagonistas.
Alguns pesquisadores especulam que a redução da influência dos órgãos tendinosos de Golgi resulta
na desinibição dos músculos ativos, permitindo uma ação muscular mais forçada. Esse mecanismo
poderia explicar, pelo menos parcialmente, os ganhos de força muscular que acompanham
o treinamento de força, principalmente no inicio do treinamento quando os ganhos de força
decorrentes da hipertrofia muscular não são aparentes.
Um exemplo de reflexo com origem no órgão tendinoso de Golgi (reflexo tendíneo) é representado
na figura 31.
Figura 31. Reflexo tendinoso de Golgi (reflexo tendíneo). Observe as informações referentes aos eventos de 1 a
4. O que faz o órgão tendinoso de Golgi disparar é a tensão gerada pelo músculo no tendão, local onde se
encontra o órgão tendinoso de Golgi.
64
CAPÍTULO 6
Os centros encefálicos superiores
Os reflexos envolvem a forma mais simples de integração neural. No entanto, a maioria dos
movimentos utilizados nas atividades esportivas (atividades físicas) envolve o controle e a
coordenação através dos centros encefálicos superiores, especificamente:
» no gânglios da base;
» no cerebelo.
Os corpos celulares das células piramidais estão localizadas no córtex motor primário e seus axônios
formam os tratos extrapiramidais. Estes também são conhecidos como tratos córtico-espinhais
porque as projeções nervosas se estendem do córtex cerebral até a medula espinhal. Esses tratos
provêm o principal controle voluntário de nossos músculos esqueléticos.
Além do córtex motor primário, existe um córtex pré-motor, localizado anteriormente ao giro
pré-central no lobo frontal. As habilidades motoras aprendidas de natureza repetitiva ou padronizada
são nele armazenadas. Acredita-se que essa região seja o banco de memória das atividades motoras
especializadas.
Os gânglios da base
Os gânglios (núcleos) da base não fazem parte do córtex cerebral. Ao contrário, eles estão localizados
na substância branca, profundamente em relação ao córtex. Esses gânglios são aglomerados de
corpos de células nervosas. As funções complexas dos gânglios da base não são bem conhecidas,
mas sabe-se que os gânglios da base são importantes para o início dos movimentos de natureza
65
UNIDADE III │ NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR
sustentada e repetitiva (como o balanço dos braços durante a marcha) e, portanto, eles controlam
movimentos complexos semivoluntários, como a marcha e a corrida. Essas células também estão
envolvidas na manutenção da postura e do tônus muscular.
O cerebelo
O cerebelo é fundamental para o controle de todas as atividades musculares rápidas e complexas.
Ele auxilia na coordenação do “timing” das atividades motoras e da progressão de um movimento
ao seguinte através da monitorização e da realização de ajustes corretivos das atividades motoras
desencadeadas por outras partes do cérebro. O cerebelo auxilia as funções tanto do córtex motor
primário quanto dos gânglios da base. Ele facilita os padrões de movimento, suavizando-os. Se isso
não ocorresse, os movimentos seriam espasmódicos e descontrolados.
Consideremos o nosso exemplo anterior no qual você está sentado e deseja ficar em pé. O seu
córtex motor primário é a parte do encéfalo que toma a decisão de ficar em pé. Essa decisão é
retransmitida ao cerebelo. O cerebelo capta a ação desejada e, em seguida, analisa o estado atual
do corpo, baseando-se em todos os estímulos sensoriais que ele recebe. Em seguida, ele decide,
baseando-se nessas informações, qual é o melhor plano de ação para realizar o seu movimento
desejado, ficar em pé.
Engramas
Quando você aprende uma nova habilidade motora, os períodos iniciais de prática exigem uma
intensa concentração. À medida que se familiariza com a habilidade, você acha que não é necessário
se concentrar tanto. Finalmente, quando aperfeiçoa a habilidade, ela pode ser realizada sem nenhum
ou com muito pouco esforço. Como você chega a esse ponto?
Padrões motores específicos aprendidos parecem ser armazenados no encéfalo, sendo repetidos
sempre que solicitados. Esses padrões motores memorizados são denominados programas
motores ou engramas. Aparentemente, os engramas são armazenados tanto na porção sensorial
quanto na porção motora do encéfalo, como o córtex pré-motor. Os armazenados na porção
sensorial do cérebro são para os padrões motores mais lentos e os armazenados na porção motora
66
NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR │ UNIDADE III
são para os movimentos rápidos. Pouco se sabe sobre os engramas e os seus mecanimos de ação.
Por essa razão, eles representam uma área importante para a pesquisa futura.
Descreva com suas palavras o que você entende como integração sensório-motora.
Após realizar sua descrição complemente seu texto com auxilio de consultas
bibliográficas.
67
CAPÍTULO 7
A resposta motora
Tendo analisado como o estímulo sensorial é integrado para determinar a resposta motora
adequada, o último passo do processo a ser levado em consideração é como os músculos respondem
aos impulsos motores quando eles chegam às fibras musculares.
A unidade motora
Quando um impulso elétrico atinge um motoneurônio, ele percorre a extensão do neurônio até
a junção neuromuscular. A partir daí, o impulso dissemina-se para todas as fibras musculares
inervadas por esse neurônio. Lembre-se de que o motoneurônio e todas as fibras por ele inervadas
formam uma unidade motora. Cada fibra muscular é inervada por apenas um motoneurônio, mas
cada motoneurônio inerva até milhares de fibras musculares, dependendo da função do músculo.
Os músculos que controlam movimentos finos, como os que controlam os olhos, apresentam apenas
uma pequena quantidade de fibras musculares por motoneurônio. Os músculos com funções mais
gerais apresentam muitas fibras por unidade motora.
68
NEUROFISIOLOGIA DO CONTROLE MOTOR │ UNIDADE III
unidades número 2, 3, 4 etc., até chegar a uma ação muscular máxima que ativa 50% a 70% das
unidades motoras. Para a produção de uma determinada força, todas as vezes as mesmas unidades
motoras são recrutadas.
69
Para (não) Finalizar
Hipócrates, Acerca das doenças sagradas (século IX a.C.)
O homem deve saber que de nenhum outro lugar, mas do encéfalo, vem a
alegria, o prazer, o riso e a diversão, o pesar, o ressentimento, o desânimo e
a lamentação. E por isso, de uma maneira especial, adquirimos sabedoria e
conhecimento, e enxergamos e ouvimos e sabemos o que é justo e injusto, o
que é bom e o que é ruim, o que é doce e o que é amargo... E pelo mesmo órgão
tornamo-nos loucos e delirantes, e medos e terrores nos assombram... Todas
essas coisas suportamos do encéfalo quando não está sadio... Nesse sentido
sou da opinião de que o encéfalo exerce o maior poder sobre o homem.
BER, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema
nervoso. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.
É da natureza humana ser curioso sobre o que vemos e ouvimos; por que algumas coisas são prazerosas e
outras não; como nos movemos, como pensamos, aprendemos, lembramos e esquecemos; a natureza do
ódio e da loucura. Esses mistérios estão começando a ser revelados pela pesquisa básica em neurociências.
Por isso, efetue as leituras recomendadas, reflita, faça relações entre dados, informações e ideias, desafie o
senso comum, pesquise, troque opiniões.
Em pouco tempo você estará surpreendido. Verá que, além de ter alcançado maiores conhecimentos, a
aprendizagem foi um acontecimento natural e que a sua capacidade de estudos terá sido ampliada pelo
exercício e pela satisfação em sentir o próprio crescimento.
Por tudo isso, lembre-se de que o assunto não termina aqui. Há muito o que aprender. O que foi visto
nesta etapa é um caminho apontando para fontes inesgotáveis de estudos e experimentações.
Caminhe, sempre, rumo à descoberta. Dessa forma, seus horizontes se ampliarão e, consequentemente,
seu desempenho profissional.
Desejamos-lhe sucesso.
70
Referências
BARBANTI, V. J. Dicionário de educação física e esporte. 2. ed. Barueri: Manole, 2003.
FODSTAD, H.; HARIZ, M. Electricity in the treatment of nervous system disease. Acta
Neurochir Suppl, v. 97, no 11, 2007.
FOX, E. L.; MATHEWS, D. K. Bases fisiológicas da educação física e dos desportos. 3. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2006.
KNIKOU, M.; CONWAY, B. A. Effects of electrically induced muscle contraction on flexion reflex in
human spinal cord injury. Spinal Cord, v. 43, 2005.
PEREIRA, B.; SOUZA JÚNIOR, T. P. de. Metabolismo celular e exercício físico: aspectos
bioquímicos e nutricionais. São Paulo: Phorte, 2004.
71
REFERÊNCIAS
SIMÃO, R. Fisiologia e prescrição de exercício para grupos especiais. São Paulo: Phorte,
2004.
WILMORE, J. H.; COSTIL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2. ed. São Paulo: Manole,
2001.
72
Anexo
Estratégias de controle em movimentos
complexos: ciclo percepção-ação no
controle postural
Um problema que o sistema de controle postural tem que resolver, durante a manutenção de
uma posição corporal, é que as forças atuando nos segmentos corporais não são constantes. Uma
consequência da variação dessas forças é que, mesmo em uma posição estática, como por exemplo
a manutenção da posição ereta, o corpo nunca está totalmente imóvel. A figura 1 apresenta
um estabilograma, onde a posição do centro de massa nas direções médio-lateral (abcissa) e
ântero-posterior (ordenada), de uma pessoa adulta mantendo a posição em pé o mais estável
possível, durante o intervalo de 25 segundos, é apresentada. Como pode ser verificado a posição
do centro de massa oscila de um lado para o outro e para frente e para trás. Essas oscilações
são decorrentes da dificuldade em manter os muitos segmentos corporais alinhados entre si
sobre uma base de suporte restrita, utilizando um sistema muscular esquelético que produz
forças que variam ao longo do tempo (DE LUCA; LEFEVER; MCCUE; XENAKIS, 1982). Desta
forma, os segmentos corporais controlados pela ação muscular são incapazes de permanecer em
orientações estritamente constantes (COLLINS; DE LUCA, 1993). A questão que surge é: como
73
ANEXO
a manutenção de uma orientação corporal é mantida por um sistema que sofre a ação de forças
constantemente mudando? Sem dúvida, a manutenção de uma orientação é alcançada com base
em um intrincado relacionamento entre informação sensorial e atividade motora. Uma sugestão
de como esse relacionamento ocorre é discutida no próximo tópico.
Essa visão de funcionamento do sistema de controle postural assume que informação sensorial e
atividade motora estão entrelaçados entre si com o objetivo de atingir ou manter o equilíbrio e a
orientação postural. Em muitas situações, o relacionamento entre informação sensorial e atividade
muscular dá-se de forma contínua, como por exemplo, durante a manutenção da posição ereta
por algum período de tempo. Nesse caso, informação sensorial influencia a realização das ações
motoras relacionadas ao controle postural e, simultaneamente, a realização dessas ações motoras
influencia a obtenção de informação sensorial. Por exemplo, na manutenção da posição ereta, uma
oscilação para frente é detectada pelos sistemas sensoriais e, consequentemente, ocorre contração
dos músculos posteriores para que essa oscilação seja revertida. Entretanto, assim que a oscilação é
revertida, agora para trás, um novo fluxo de informação faz-se disponível, indicando a nova direção
da oscilação. Com base nessa informação, ocorrerá nova contração, agora, dos músculos anteriores
e assim sucessivamente. Nas situações em que essa dependência mútua entre percepção e ação é
manifestada regularmente, o padrão percepçãoação (SCHÖNER, 1991) ou o ciclo percepção-ação
(BARELA, 1997) é formado.
74
ANEXO
A explicação de como a informação visual influência o controle postural foi formulada baseando-se
no deslocamento do cenário ambiental na retina do observador (PAULUS; STRAUBE; KRAFCZYK;
BRANDT, 1989). Quando a informação visual está disponível, por exemplo, durante a manutenção
da posição em pé com os olhos abertos, o cenário do ambiente está sendo projetado na retina do
observador. Conforme o observador oscila para frente, a projeção desse cenário na retina aumenta
e o observador interpreta esse aumento como sendo decorrente de sua oscilação para frente. Essa
informação é usada na produção de atividade muscular com o objetivo de diminuir e reverter a
oscilação. Quando informação visual não está disponível, por exemplo quando o observador está
com os olhos fechados ou em um ambiente escuro, a projeção do cenário na retina não pode ser
utilizada e, consequentemente, outras fontes de informação sensorial devem ser utilizadas. Essa
explicação também é coerente com as situações em que a informação visual é manipulada. Por
exemplo, diminuição da acuidade visual ou aumento da distância entre o observador e o cenário
influencia a projeção da cenário na retina. Com o aumento da distância, a projeção do cenário
na retina é reduzida. Consequentemente, o observador necessita ter uma amplitude de oscilação
maior para que a projeção seja alterada em uma mesma quantidade do que quando a distância do
observador e o cenário era menor. Dessa forma, o sistema de controle postural parece minimizar
a expansão da imagem na retina com o objetivo de manter um relacionamento estável entre o
observador e o cenário ao seu redor.
75
ANEXO
Mais interessante ainda, foi a constatação que, em ambas as condições experimentais, variações
da força aplicada na superfície e variações da oscilação corporal estavam relacionadas. Na
situação de força ilimitada, mudanças na força e mudanças na oscilação corporal ocorriam
espacial e temporalmente de forma semelhante, sem qualquer diferença temporal. Por outro
lado, na situação de toque suave, as mudanças estavam espacialmente relacionadas mas com uma
diferença temporal entre a força e a oscilação corporal. Mudanças na força aplicada ocorriam de
200 a 300 milésimos de segundo à frente de mudanças na oscilação corporal (JEKA; LACKNER,
1994). Um exemplo desse relacionamento entre força aplicada na superfície e oscilação corporal
é apresentado na figura 2.
Jeka e Lackner (1994) sugeriram que o toque suave da ponta do dedo com a superfície fornece
informação sobre a oscilação corporal que é utilizada na forma de “feedforward” para implementar
o controle postural e, consequentemente, reduzir oscilação corporal. Por exemplo, conforme uma
pessoa oscila na direção da superfície que está tocando, a força aplicada na superfície aumenta na
mesma direção que a pessoa está oscilando, indicando a oscilação da pessoa. A partir da constatação
dessa oscilação, a pessoa diminui a força aplicada na ponta dos dedos, para evitar ultrapassar o
limite imposto (1 N), e utiliza essa informação para iniciar a oscilação do corpo na direção oposta ao
movimento que estava ocorrendo. Dessa forma, mudanças na força aplicada ocorrem à frente das
mudanças correspondentes na oscilação corporal. A diferença de 200 a 300 milésimos de segundo
é decorrente, sugeriram Jeka e Lackner (1994), do tempo necessário para processamento e tomada
de decisão e do tempo necessário para produzir ativação muscular e reverter o momento de inércia
do corpo.
76
ANEXO
dedos com uma superfície estacionária fornece informação sobre a oscilação corporal que é utilizada
para produzir ativação muscular apropriada, de forma antecipatória (feedforward), com o objetivo
de controlar a oscilação corporal (JEKA; LACKNER, 1995).
Os estudos desenvolvidos por Jeka e Lackner (1994, 1995) indicaram a utilização do ciclo percepção-
ação pelo sistema de controle postural. Informação sensorial e ação motora estão intimamente
relacionados na obtenção da tarefa de manter o corpo em uma determinada posição desejada. Mais
ainda, o funcionamento do sistema de controle postural necessita que esse relacionamento entre
informação sensorial e ação motora seja coerente e estável. Recentemente, esses dois aspectos foram
verificados em estudos desenvolvimentais (BARELA; JEKA; CLARK, 1999a, 1999b). Seguindo
longitudinalmente bebês durante a aquisição da posição em pé independente, Barela, Jeka e Clark
(1999a) observaram que a aquisição de um relacionamento coerente entre informação sensorial e
oscilação corporal é essencial para a solução do problema de manter um corpo composto de muitos
segmentos sobre uma pequena superfície de apoio. Bebês, no curso de aquisição da posição em
pé independente, apresentaram melhoras significativas na manutenção da posição ereta quando
conseguiram incorporar as informações sensoriais provenientes do toque em uma superfície com
uma mão, utilizando a mesma estratégia de feedforward verificada para adultos.
Em outro estudo, Barela, Jeka e Clark (1999b) examinaram a estabilidade do ciclo percepção-ação em
crianças de quatro, seis e oito anos de idade. Essas crianças foram testadas na situação experimental do
toque suave. Os resultados revelaram, primeiro, que oscilação corporal foi reduzida significantemente
com o toque suave da ponta do dedo em uma superfície. Crianças, nas três diferentes idades,
apresentaram redução de 30 a 50% da oscilação corporal na situação de toque suave em comparação
com a situação sem toque. Esse resultado sugere que crianças na faixa de quatro a oito anos estavam
utilizando a informação somatosensória proveniente do contato da ponta dos dedos com a superfície
estacionária. Segundo, essas crianças utilizavam a informação sensorial empregando a mesma
estratégia de “feedforward”, verificada para os adultos. Mudanças na força aplicada pela ponta do
dedo na superfície estacionária estavam relacionadas espacial e temporalmente com mudanças na
oscilação corporal. Semelhantemente aos adultos, mudanças na forças estavam por volta de 300
milésimos de segundos à frente das mudanças na oscilação corporal.
77
ANEXO
manter a imagem projetada na retina o mais estável e estacionária possível. Da mesma forma, a
relação entre as mudanças de força na ponta do dedo e da oscilação corporal também é mantida a
mais estável possível, pelo menos no caso de adultos. Então, a estratégia utilizada pelo sistema de
controle postural é minimizar as alterações no ciclo percepção-ação, ou seja, minimizar alterações
entre o relacionamento da pessoa e o ambiente.
78
ANEXO
Jeka e colaboradores (JEKA; OIE; SCHÖNER; DIJKSTRA; HENSON, 1998; JEKA; SCHÖNER;
DIJKSTRA; RIBEIRO; LACKNER, 1997; JEKA; SCHÖNER; LACKNER, 1994) examinaram o
relacionamento entre informação somatosensória e ação motora no controle postural. Eles criaram
a versão deles da “sala móvel” para examinar os efeitos do toque suave em uma superfície oscilatória,
posicionada na posição lateral de adultos mantendo a posição ereta. Similarmente à condição do
toque suave na superfície estacionária, contato com a superfície oscilatória ocorreu através da ponta
do dedo indicador com níveis de força abaixo de 1 N. Os resultados revelaram que a oscilação corporal
foi semelhante à frequência de oscilação da superfície e que o relacionamento entre a oscilação da
superfície e a oscilação corporal foi temporalmente estável. Análises mais detalhadas indicaram que
o acoplamento entre a informação proveniente do toque suave na superfície oscilatória e a oscilação
corporal foi baseado na velocidade e posição dos sinais somatosensoriais provenientes da ponta dos
dedos quando em contato com a superfície (JEKA; OIE; SCHÖNER; DIJKSTRA; HENSON, 1998;
JEKA; SCHÖNER; DIJKSTRA; RIBEIRO; LACKNER, 1997).
Os resultados obtidos por Jeka e colegas, tanto na atenuação da oscilação corporal através do toque
suave em uma superfície estacionária quanto na indução de oscilação corporal através do toque
suave em uma superfície oscilatória, indicaram que informação sensorial influencia o sistema de
controle postural através de um acoplamento entre informação sensorial e oscilação corporal. Mais
ainda, o sistema de controle postural procura manter uma relação estável com o meio em que a
posição corporal desejada é mantida. Essa relação estável é mantida, mesmo em situações em que o
sistema de controle postural necessita produzir oscilação corporal, como verificado na situação do
toque suave em uma superfície oscilatória (JEKA; OIE; SCHÖNER; DIJKSTRA; HENSON, 1998;
JEKA; SCHÖNER; DIJKSTRA; RIBEIRO; LACKNER, 1997).
Se o acoplamento entre informação sensorial e ação motora no controle postural é crucial, será
que diferenças comportamentais podem ser decorrentes de diferenças nesse acoplamento? Esse
acoplamento está presente em crianças e, se está, é semelhante ao verificado em adultos? Procurando
responder a essas perguntas Barela, Jeka e Clark (1999c) verificaram o acoplamento entre uma
superfície oscilatória e a oscilação corporal em crianças de quatro, seis e oito anos de idade, utilizando a
estratégia experimental desenvolvida por Jeka e colegas. Crianças tocaram uma superfície oscilatória,
aplicando menos de 1 N de força, com o dedo indicador. Os resultados revelaram que o movimento da
superfície oscilatória induziu oscilação corporal correspondente em crianças.
79
ANEXO
Conclusão
Durante a manutenção de uma orientação postural desejada, há a necessidade de ocorrer um
relacionamento estável entre o executante e o meio ambiente ao seu redor. Para que isso ocorra,
informação sensorial e ação motora são utilizadas continuamente pelo sistema de controle postural,
formando um ciclo percepção-ação. Esse ciclo está baseado em um relacionamento coerente e
estável que, no caso da utilização da informação somatosensória, ocorre utilizando uma estratégia de
“feedforward”. Neste caso, informação sensorial é utilizada para estimar oscilação corporal e, então,
utilizada para produzir atividade motora antecipatória com o objetivo de minimizar esta oscilação
corporal. Este relacionamento parece não estar totalmente desenvolvido em crianças e pode ser a
causa das diferenças comportamentais entre crianças e adultos com relação ao controle postural.
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