Você está na página 1de 16

Excelentíssimo Senhor Ministro do Tribunal Superior Eleitoral

URGENTE – PLANTÃO JUDICIAL

HUGO WANDERLEY CAJU, filiado ao Movimento Democrático Brasileiro


(MDB) desde 6 de junho de 2007, eleito na convenção partidária do MDB/AL, no dia
7 de março de 2022, ao cargo de Delegado à Convenção Nacional (Doc 3), inscrito no
CPF sob o nº 049.250.874-79 (Doc 4), Título de eleitor nº 028726701775 (Doc 2),
domiciliado em Praça José Caetano de Moraes, 127, Centro, Cacimbinhas/AL, com
endereço eletrônico hcwanderley@hotmail.com, vem, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, por intermédio de seus advogados constituídos (doc. 1), apresentar

AÇÃO ANULATÓRIA
de Ato Convocatório de Convenção Partidária Nacional
com pedido liminar

com fulcro no art. 22, inciso I do CE c/c art. 26 do Estatuto do MDB em face
do MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO – MDB, partido político com
representação no Congresso Nacional, inscrito no CNPJ sob o n. 00.676.213/0001-38,
com sede no SHIS QL 12, conjunto 07, Casa 17, CEP 71630-275, Lago Sul,
Brasília/DF, e-mail diretorionacional@mdb.org.br, telefone (61)3771-4200,
representado pelo seu presidente nacional, LUIZ FELIPE BALEIA TENUTO ROSSI (e-mail
dep.baleiarossi@camara.leg.br, telefone (16)99616-0015) pelos fatos e fundamentos
que passa a aduzir.
I. Dos Fatos. Da existência de irregularidade no edital de convocação da
CONVENÇÃO NACIONAL ORDINÁRIA do partido.

1. A Comissão Executiva Nacional do MOVIMENTO DEMOCRÁTICO


BRASILEIRO – MDB, no exercício de sua competência estatutária, procedeu à
convocação da CONVENÇÃO NACIONAL ORDINÁRIA do partido (publicada no Diário
Oficial da União, em 19/7/2022, na edição nº 135, Seção 3, página 161 – doc. 5) com
o objetivo de aprovar as candidaturas e as coligações referentes às eleições de 2022.
Transcreve-se o teor da referida convocação:
EDITAL DE CONVOCAÇÃO
CONVENÇÃO NACIONAL ORDINÁRIA
A Comissão Executiva Nacional do Movimento Democrático Brasileiro -
MDB, com fundamento no artigo 8º da Lei 9.504/97 e artigos 22, 26, 65,
incisos II e III, e 67, inciso I, do Estatuto Partidário, e conforme decidido em
reunião realizada no dia 15/07/2022, CONVOCA a Convenção Nacional
com seus respectivos membros, os Deputados Federais e Senadores da
República, os Delegados titulares e suplentes das Seções Estaduais e do
Distrito Federal, os membros titulares e suplentes do Diretório Nacional e os
membros do Conselho Nacional não integrantes do Diretório Nacional, a
comparecerem à reunião ordinária deste órgão partidário que se
realizará no dia 27 de julho de 2022, de forma virtual por intermédio da
plataforma ZOOM, como autorizado pela Resolução TSE 23.609/2019,
com a seguinte ordem do dia:
1.Aprovação da candidatura da Senadora Simone Tebet à Presidência da
República para as eleições de 2022;
2.Aprovação de delegação à Comissão Executiva Nacional para decidir sobre
coligações com outros partidos.
Notas:
I-Todos os convencionais deverão requerer acesso ao link da Convenção com
a apresentação de documento de identificação;
II-A Convenção terá início às 10 (dez) horas e terminará às 14 (catorze) horas,
sendo que os respectivos suplentes serão convocados a partir das 13 (treze)
horas.
III-Será garantido o sigilo do voto pelo sistema que será utilizado para
a realização da reunião.
IV-O link da reunião será disponibilizado 24 horas antes do horário marcado
para o início do encontro
Brasília-DF, 15 de julho de 2022.
BALEIA ROSSI
Presidente Nacional do MDB
NEWTON CARDOSO JR.
Secretário-Geral
(grifos nossos)
2. Ocorre que o mencionado edital de convocação, ao prever a realização da
reunião por meio da plataforma “ZOOM”, reveste-se de grave irregularidade,
notadamente relacionada à garantia do sigilo do voto, representando violação às
disposições estatutárias do MDB, tal como será verificado adiante.

II. Da competência deste Tribunal Superior Eleitoral para o julgamento da


presente Ação. Precedente MC nº 354/DF.

3. Conforme já mencionado, trata-se a presente de ação com pedido liminar


para anular ato convocatório da Convenção Partidária Nacional do MDB, destinada a
definir o(a) candidato(a) à Presidência da República, por incompatibilidade do meio
escolhido para a sua realização com o Estatuto do partido.
4. É cediço que o Registro da candidatura para Presidência da República
(competência desta Corte Eleitoral por força do art. 22, inciso I, do CE) é um ato
complexo e depende, essencial e invariavelmente, da referida convenção partidária para
existir.
5. Nesse sentido, não restam dúvidas de que é competência desta Corte
Eleitoral deliberar sobre o pedido aqui formulado, uma vez que tal decisão implicará
diretamente na eleição para a escolha do novo Presidente da República que se aproxima.
6. Impende destacar que a competência do TSE para deliberar acerca de ato
convocatório de Convenção Partidária que se destina à escolha de candidato à
Presidência da República já foi debatida e confirmada pelo Plenário quando do
Julgamento da Medida Cautelar nº 354/DF (Doc. 7), precedente que consta no
repositório de jurisprudência do TSE1. Ipsis litteris:

Processo eleitoral. 2. Eleições presidenciais de 1998. 3. Medida cautelar


contra ato de Presidente de partido que, como Presidente da Comissão
Executiva Nacional, convoca convenção nacional para deliberar sobre
escolha de candidatos aos cargos de Presidente e Vice-Presidente da
1 https://www.tse.jus.br/jurisprudencia/jurisprudencia-por-assunto
República. 4. Questão de ordem preliminar proposta pelo Relator
resolvida, por maioria de votos, no sentido de afirmar a
competência do TSE para apreciar e decidir a cautelar. 5. Segundo
o estatuto do PMDB - art. 66, inciso I e parágrafo único - a convocação
da convenção nacional, para deliberar sobre a escolha de candidatos aos
cargos de Presidente e Vice-Presidente da República e decidir sobre
coligação partidária, está reservada à Comissão Executiva Nacional. 6.
Medida Cautelar indeferida.

III. Da necessária preservação da garantia de sigilo do voto. Da inadequação


da plataforma digital escolhida para a realização DA CONVENÇÃO NACIONAL
ORDINÁRIA do MDB.

7. Nos termos transcritos no edital de convocação da CONVENÇÃO


NACIONAL ORDINÁRIA do MDB (doc. 5), foi enunciada a garantia de sigilo do voto
pelo sistema a ser utilizado para a realização da reunião. Destaca-se, a esse respeito, que
a referida previsão encontra respaldo no artigo 26, caput, do Estatuto do MDB (doc. 6),
in verbis:
Art. 26. Nas Convenções, as deliberações referentes à constituição dos órgãos
partidários e à escolha de candidatos serão tomadas por voto direto e
secreto, ressalvada a hipótese do §3º, do art. 23.

8. Ocorre que a plataforma digital eleita no caso concreto (“ZOOM”) não é


capaz de garantir o sigilo exigido em deliberações dessa natureza, o que acaba colocando
em risco a legitimidade das escolhas a serem realizadas por meio da aludida Convenção
Nacional.
9. Isso porque a ausência de sigilo nas votações representa grave risco de
escolha antidemocrática entre filiados, haja vista a possibilidade de culminar no
afastamento de pré-candidatos que desejariam disputar o pleito, no direcionamento dos
votos e opiniões de filiados e, ainda, no receio quanto a possíveis represálias da cúpula
partidária.
10. Conforme exposto, a CONVENÇÃO NACIONAL ORDINÁRIA do MDB tem
previsão de ser realizada por meio de sistema virtual. Escolheu-se, para viabilizar tal
método, a plataforma denominada “ZOOM” (https://zoom.us).
11. A referida plataforma, hoje amplamente conhecida e de cediça utilização,
integra o SISTEMA DE DELIBERAÇÃO REMOTA (SDR) e foi de primordial importância
para a continuidade do funcionamento de diversos órgãos durante a pandemia.
12. No caso do SENADO FEDERAL, por exemplo, foi operada no âmbito de
suas deliberações plenárias (Ato da Comissão Diretora do Senado Federal nº 7, de
2020), sendo o modelo virtual de reuniões empregado até os dias atuais.
13. Ocorre, porém, e tal fato é notório, que a plataforma “ZOOM”, apesar de
atender bem aos propósitos acima delineados, não é capaz de garantir o sigilo das
informações por ela veiculadas, não sendo, pois, recomendada para garantir a lisura de
votações dessa natureza.
14. Tal fato, inclusive, forçou o SENADO FEDERAL, quando diante da
necessidade de resguardar o sigilo das votações, a realizar seus escrutínios de
forma exclusivamente presencial.
15. Nesse sentido, destaca-se notícia recente (junho/2022) que demonstra a
realização de sessão presencial para a deliberação de autoridades e embaixadores,
hipótese na qual deve ser resguardado o sigilo do voto:

Em dia de esforço concentrado, em Sessão Presencial, Senado aprova


nove autoridades no Plenário
Da Agência Senado | 01/06/2022, 19h27
O Senado realizou nesta quarta-feira (1º) mais um esforço concentrado para a
aprovação de autoridades. Convocado pelo presidente da Casa,
Rodrigo Pacheco, esse esforço é importante porque as votações exigem quórum
especial e precisam ocorrer de forma presencial.
Foram nove autoridades confirmadas pelo Plenário do Senado: cinco diplomatas, duas
indicações para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), uma
para o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e outra para a Agência
Nacional de Cinema (Ancine).
(file:///C:/Users/JM/Downloads/noticia%20vota%C3%A7%C3%A3o%20secreta
%20presencial%202.pdf)

16. Registre-se, inclusive, que essa fragilidade do “ZOOM” [quanto ao sigilo


das informações nele circulantes] foi atestada pelo SENADO FEDERAL em manifestação2
dirigida ao STF na ADPF 661, que tratou da aplicação do Sistema de Deliberação
Remota no processo de apreciação de Medidas Provisórias.
17. Apesar de o mérito da ADPF não guardar relação com o caso ora em
análise (tendo em vista que os procedimentos de votação são distintos), é importante
ressaltar que o voto do Relator, Ministro Alexandre de Moraes, consignou o excerto da
manifestação do SENADO FEDERAL que destaca a impossibilidade fática de se

2 Doc 112 do inteiro teor da ADPF 661.


resguardar o sigilo do voto de parlamentar por meio da referida plataforma
digital.
18. Tão relevantes foram as considerações que, em voto proferido pelo
mesmo Relator na ADI 6751, foi aproveitado o conteúdo da mesma manifestação. A
seguir, transcrevem-se os principais trechos das considerações feitas pela Casa
Legislativa:
[...] O SDR consiste em duas partes: uma solução de votação eletrônica
remota e outra de videoconferência. A primeira permite o registro dos votos
por meio de aplicativo próprio instalado nos aparelhos celulares dos
Parlamentares, a consulta do painel de votação, além de outras funções. [...]
Já a solução de videoconferência é viabilizada por meio do uso da plataforma
ZOOM. Por meio dela, torna-se possível a discussão das matérias em
deliberação, a realização de audiências públicas, entre outras funções
necessárias para que os debates ocorram de forma consentânea aos princípios
democráticos que regem as relações no Parlamento.
Com o início emergencial de utilização do SDR, foram adquiridas, de forma
urgente e excepcional, 14 (quatorze) licenças corporativas do software
ZOOM, quantidade permitida pelos recursos orçamentários disponíveis.
[...]
Contudo, ainda não se chegou a uma solução tecnológica que permitia
a realização de votações secretas de forma remota.
Isso, especialmente, em decorrência da própria incompatibilidade fática de
se resguardar o devido sigilo do voto do parlamentar de forma não
presencial. Esse impedimento inviabiliza, por exemplo, o uso do SDR para
a deliberação de autoridades e embaixadores, uma vez que essa aprovação
deve dar-se por voto secreto, segundo expressa norma constitucional.
Ressalte-se que, no âmbito das comissões mistas, esse impedimento pode
dificultar a escolha dos Presidentes e Vice Presidentes dos respectivos
colegiados, uma vez que sua eleição deve ocorrer mediante votação secreta,
por força do art. 151 do Regimento Comum do Congresso Nacional e do art.
88 do Regimento Interno do Senado Federal. (trecho do voto do Ministro
Relator. ADI 6751, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal
Pleno, julgado em 08/09/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-183
DIVULG 14-09-2021 PUBLIC 15-09-2021).

19. Dessa forma, merece reconhecimento a impossibilidade de utilização da


plataforma “ZOOM” para a realização de votações secretas, tendo em vista a
impossibilidade fática de garantia da segurança e do sigilo das informações veiculadas.

IV. Da existência de irregularidade insanável no edital de convocação da


CONVENÇÃO NACIONAL ORDINÁRIA do MDB. Da imprescindível anulação do
referido edital, sob pena de violação das garantias legais e estatutárias
asseguradas ao procedimento eleitoral.

20. O monopólio das candidaturas assegurado aos partidos políticos pelo


texto constitucional aumenta a responsabilidade dessas agremiações em contribuir para
o fortalecimento da representação política e para a garantia da universalidade do
sufrágio pelo qual se manifesta a soberania popular, ex vi do art. 14, caput, da CF.
21. Na linha da jurisprudência do TSE, "o regime democrático manifesta-se
pela livre escolha de candidatos, mediante voto universal e secreto, e também é
intrínseco ao próprio funcionamento dos partidos, cujos filiados detêm
legítimas pretensões políticas" (RPP nº 1535–72/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de
17.5.2018).
22. Além da previsão constitucional acima aventada, nota-se que o próprio
Estatuto do MDB, em seu artigo 26, prevê a necessidade de sigilo das deliberações
havidas no âmbito das convenções para escolha dos candidatos participantes das
eleições.
23. Em relação à importância da referida diretriz, destaca-se que o art. 7º da
Lei 9.504/97 dispõe que normas para a escolha e substituição dos candidatos e para a
formação de coligações serão estabelecidas no Estatuto do partido, seguidas as
determinações legais.
24. Dessa forma, ao permitir que a reunião convocada ocorra nos termos até
então dispostos, por meio de plataforma digital comprovadamente insegura no que diz
respeito ao direito ao sigilo, significa violar o disposto nas regras estatutárias de
constituição do partido, acarretando, consequentemente, no desrespeito às
determinações legais e constitucionais sobre o tema.
25. Importante ressalvar, ainda a esse respeito, que a judicialização da presente
questão não configura intervenção indevida no sistema partidário. Isso porque não se
pretende, com a presente ação, criar regra nova a respeito da realização de convenções
partidárias. Ao contrário, busca-se apenas preservar aquelas estabelecidas no próprio
Estatuto do MDB.
26. Salienta-se, nesse sentido, que o direito ao sigilo do voto é garantido
expressamente pelo Estatuto partidário. A realização da CONVENÇÃO NACIONAL
ORDINÁRIA pelo “ZOOM” vulnera tal garantia, por se tratar de meio comprovadamente
inidôneo para assegurar o padrão de sigilo necessário a deliberações dessa natureza.
27. O problema não é, portanto, o modo pelo qual a convenção será realizada
(presencial ou virtualmente), mas, sim, a tecnologia oferecida aos filiados com direito a
voto.
28. A propósito, necessário trazer à discussão as diretrizes contidas na
Resolução TSE nº 23.609/2019, que, no caput do seu art. 6º, dispõe o seguinte:
Art. 6º A convenção para escolha de candidatas e candidatos e deliberação
sobre coligações deverá ser feita pelos partidos políticos e pelas federações,
de forma presencial, virtual ou híbrida, no período de 20 de julho a 5 de
agosto do ano em que se realizarem as eleições, obedecidas as normas
estabelecidas no estatuto partidário ou no estatuto da federação,
conforme o caso.

29. Nota-se que o TSE, atualizado às necessidades e tendências de


modernização aplicadas ao sistema eleitoral, já se manifestou a respeito da possibilidade
da realização de convenções partidárias nas modalidades presencial, virtual ou híbrida,
desde que, obviamente, obedecidas as normas previstas nos respectivos
estatutos.
30. Nesse sentido, a Resolução TSE nº 23.609/2019 não revogou o artigo 26
do Estatuto do MDB. A escolha do modo de realização dos trabalhos (virtual,
presencial ou híbrido) deveria levar em conta todos os direitos assegurados no Estatuto
do MDB.
31. Mostra-se essencial, nessa toada, esclarecer que a presente ação anulatória
não se insurge contra toda e qualquer possibilidade de realização de reuniões virtuais
no âmbito do MDB, muito menos inviabiliza a aplicação da Resolução TSE nº
23.609/2019. Chama-se a atenção, na verdade, para a inadequação da plataforma digital
eleita, considerando-se as imposições estatutárias aplicáveis às Convenções Nacionais.
32. Afinal, se a condição preliminar para a regular realização de convenções é
o respeito às normas estatutárias do partido, estas devem ser priorizadas acima de
eventual comodidade ou economia de recursos.
33. Insista-se. Em relação à situação em estudo, o art. 26 do Estatuto do
MDB dispõe que, na CONVENÇÃO NACIONAL ORDINÁRIA para escolha das
candidaturas e coligações, será garantido o sigilo do voto. Nota-se, portanto, que
se trata de regra procedimental escolhida pelo partido e que deve ser resguardada pelo
sistema eleitoral, respeitado o princípio da autonomia partidária.
34. Por outro lado, conforme já demonstrado, a plataforma “ZOOM”
não é capaz de assegurar esse nível primordial de segurança e de sigilo das
informações.
35. Mais uma vez. A Resolução TSE nº 23.609/2019, em que pese preveja a
possibilidade de realização de convenções partidárias na forma virtual, não revoga
dispositivos estatutários dos partidos políticos que, conforme já ressaltado, têm
autonomia para a definição de seus procedimentos internos.
36. Sendo aplicáveis ao caso concreto tanto a Resolução TSE nº 23.609/2019
quanto o art. 26 do Estatuto do MDB, a leitura e interpretação desses regramentos deve
ser feita de forma conjugada, assegurando-se uma forma de realização da
convenção partidária (dentro das três modalidades possíveis) que garanta o
sigilo da votação a ser efetivada.
37. Destaca-se que, em casos excepcionais como o presente, a atuação do
Judiciário Eleitoral se justifica de modo a garantir o respeito à autonomia partidária e
ao modelo federativo e descentralizado sob o qual se constituem os partidos políticos.
38. Garante, ainda, conforme já ressaltado, a livre escolha dos candidatos
filiados que desejam disputar o pleito, sem o risco de direcionamento de votos e
opiniões por medo de possíveis represálias de cunho político.
39. Verifica-se, portanto, que o edital de Convocação da CONVENÇÃO
NACIONAL ORDINÁRIA do MDB, ao eleger a plataforma “ZOOM”, não consegue
garantir o sigilo das votações que serão realizadas neste encontro que se aproxima. A
escolha infeliz da Executiva Nacional gera danos irreparáveis ao direito dos delegados
com habilitação para voto, o que conspurca todo o processo de escolha de candidatos
de um dos maiores partidos do país.
40. É importante anotar o fato de que a Convenção Nacional do MDB pode
impactar diretamente os resultados das eleições presidenciais do próximo outubro, se
levarmos em conta a capilaridade e o peso do MDB no cenário político nacional.
41. Destarte, não há alternativa ao presente caso senão a suspensão da reunião
inicialmente marcada para o dia 27/07/2022, com a consequente anulação do edital de
convocação da CONVENÇÃO NACIONAL ORDINÁRIA do MOVIMENTO DEMOCRÁTICO
BRASILEIRO – MDB – Nacional, em prestígio à garantia estatutária do voto secreto.

V. Dos requisitos para o deferimento da tutela antecipada de urgência inaudita


altera pars. Periculum in mora e fumus boni juris aplicáveis ao caso concreto. O
deferimento da presente medida não implicará em descumprimento do
calendário eleitoral pelo MDB, uma vez que o partido tem até o dia 5 de agosto
de 2022 para realizar a convenção de maneira segura e em consonância com o
seu Estatuto (Doc 6).

42. O artigo 300 do CPC, ao estabelecer os requisitos para a concessão da


tutela provisória de urgência, destaca a importância de restarem caracterizados tanto a
probabilidade do direito quando o perigo da demora ou risco ao resultado útil do
processo.
43. No caso concreto, o direito encontra-se evidenciado nos artigos 14 da
Constituição, 7º da Lei 9.504/97 e 26 do Estatuto do MDB. Conforme já demonstrado,
existe evidente contradição em previsão do edital de convocação que, ao mesmo tempo
em que assegura, em tese, o sigilo das votações a serem realizadas no âmbito da
convenção partidária inicialmente marcada para o dia 27/07/2022, indica o “ZOOM”
como plataforma online para a realização da referida reunião.
44. Isso porque, nos termos já reproduzidos pelo STF, a utilização da
plataforma “Zoom” não garante a realização de votações secretas, tendo em vista a
impossibilidade fática de garantia da segurança e do sigilo das informações veiculadas.
45. Diante das irregularidades apontadas, destaca-se que a reunião partidária
não pode ser realizada nos termos inicialmente convocados, sob pena de não ser
garantido o sigilo das votações, em flagrante violação ao art. 26 do Estatuto do MDB.
46. Encontra-se caracterizado, ainda, o periculum in mora, mormente
considerando o curto espaço de tempo disponível até a data incialmente marcada para
a convenção partidária (27/07/2022).
47. Ora, mesmo diante da garantida anulação posterior dos resultados de
deliberação onde não tenham sido respeitadas as normas estatutárias básicas de
proteção de sigilo, destaca-se que a mera ocorrência da convenção por plataforma
digital incorreria em prejuízo ao se considerar o constrangimento imposto aos filiados
votantes.
48. Ademais, destaca-se que o deferimento da Tutela Antecipada de Urgência
não implicará em descumprimento do calendário eleitoral por parte do MDB. De
acordo com o art. 8, caput, da Lei 9.504/1997 c/c o art. 6º da Resolução -TSE nº
23.609/2019, os partidos políticos têm até o dia 5 de agosto de 2022 para realizar
suas convenções destinadas a deliberar sobre coligações e escolhas de
candidatos(as) a presidente e vice-presidente da República, de modo que existe
tempo hábil para que o MDB convoque uma nova convenção, presencial ou em outra
modalidade, que assegure o sigilo do voto, adequada ao seu Estatuto.
49. Dessa forma, requer o deferimento da tutela provisória de urgência inaudita
altera pars para suspender a realização da CONVENÇÃO NACIONAL ORDINÁRIA do MDB,
inicialmente convocada para o dia 27/07/2022.
50. Posteriormente, quanto ao mérito, requer a confirmação da liminar com a
anulação do ato convocatório combatido e a consequente publicação de novo edital,
dessa vez com a convocação das eleições partidárias em modalidade que garanta o sigilo
das votações, na forma do art. 26 do Estatuto do MDB.
V. Subsidiariamente. Na remota impossibilidade de suspensão da reunião
e/ou anulação do instrumento convocatório em tempo, necessária a anulação
de todas as deliberações porventura realizadas na convenção partidária.

51. Apenas na remota hipótese de indeferimento da tutela provisória de


urgência acima requerida, verifica-se que os efeitos da irregularidade apontada se
estenderiam ao resultado das deliberações eventualmente realizadas por meio do
“ZOOM”, considerando a forma arriscada e insegura de colheita dos votos decisórios.
52. Dessa forma, subsidiariamente, no intuito de preservar a disciplina do art.
26 do Estatuto do MDB, bem como dos dispositivos legais e constitucionais acima
invocados, requer a anulação das deliberações adotadas na CONVENÇÃO NACIONAL
ORDINÁRIA do partido, com a consequente determinação de agendamento de nova
reunião, em modalidade que assegure o sigilo das deliberações.

V. Da providência de intimação do MDB também através de seu Presidente e


de forma mais célere (telefone e e-mail). Necessário garantir a efetividade da
tutela provisória de urgência requerida.

53. Além da forma tradicional de citações e intimações de partidos políticos


em processos judiciais eleitorais, nos termos do art. 1º da Resolução TSE nº
23.328/2010, existem peculiaridades atinentes ao caso concreto que demandam
medidas complementares de forma a assegurar a efetividade da tutela provisória de
urgência.
54. Em razão da proximidade da data inicialmente marcada para a
CONVENÇÃO NACIONAL ORDINÁRIA do MDB (agendada para o dia 27/07/2022)
requer que a comunicação acerca da sua suspensão seja realizada ao Presidente Nacional
do MDB, senhor LUIZ FELIPE BALEIA TENUTO ROSSI, preferencialmente por telefone
ou por e-mail (de acordo com os dados informados na qualificação).
55. Destaca-se que a adoção dessa medida complementar referente à
intimação visa garantir a ciência acerca da decisão judicial de deferimento da tutela
provisória de urgência e não encontra vedação na Resolução TSE nº 23.328/2010 que,
em seu art. 2º, admite que as notificações sejam realizadas em forma diversa definida
em decisão judicial.
56. Nesse sentido, a jurisprudência do Direito Eleitoral autoriza a adoção das
medidas que se mostrarem necessárias à efetivação da tutela de urgência:
Ora, na efetivação a tutela de urgência de natureza cautelar, é dada
considerável liberdade procedimental ao julgador, que pode utilizar-se, além
de procedimentos legais, de qualquer outra medida idônea para asseguração
do aparente direito em perigo de dano (inteligência dos artigos 297 e 301 do
CPC). (TRE RN. Recurso Eleitoral nº 220-27.2016.6.20.0016 – Classe 30ª.
Acórdão nº 365/2018, publicado no DJe em 29/11/2018).

VII. Dos Pedidos.

57. Diante do exposto, requer o conhecimento e provimento da presente ação


Anulatória para que:

(a) Seja deferida a tutela antecipada de urgência, inaudita altera pars, nos termos
do art. 300 do CPC, de forma a suspender a realização da CONVENÇÃO
NACIONAL ORDINÁRIA do MDB, convocada para o dia 27/7/2022, conforme
publicação no Diário Oficial da União, em 19/7/2022, na edição nº 135, Seção
3, página 161;
(b) Quanto ao mérito, seja confirmada a tutela antecipada de urgência com a
anulação do ato convocatório combatido e a consequente publicação de novo
edital, dessa vez com a convocação das eleições partidárias em modalidade que
garanta o sigilo das votações, na forma do art. 26 do Estatuto do MDB.
(c) Subsidiariamente, na remota hipótese de a liminar não ser apreciado antes da
realização da convenção vergastada, sejam anuladas as deliberações nela
adotadas.
(d) Para fins de efetivação da tutela provisória de urgência, requer que a
intimação acerca da suspensão da CONVENÇÃO NACIONAL ORDINÁRIA do MDB
seja feita também ao Presidente Nacional do MDB, senhor LUIZ FELIPE BALEIA
TENUTO ROSSI, preferencialmente por telefone ou por e-mail (de acordo com os
dados informados na qualificação).

58. Após a efetivação do pedido de tutela provisória de urgência, pugna-se


pela citação do requerido para, querendo, apresentar contestação.
59. Requer, ainda, a intimação do MINISTÉRIO PÚBLICO, nos termos do art.
178 do CPC.
60. Pugna-se pela produção de todas as provas admitidas em direito, em
especial a documental.
61. Atribui-se à causa, por ser tal quantia inestimável, o valor de R$ 100,00
(cem reais), para efeitos meramente fiscais.

Termos em que pede deferimento.

Brasília/DF, 25 de julho de 2022

Fabiano Augusto Martins Silveira


OAB/DF 31.440

João Marcelo de Castro Novais


OAB/DF 22.762

Isis Negraes Mendes de Barros


OAB/DF 66.052
Lista de Documentos

Doc 1 – Procuração
Doc 2 – Título de Eleitor
Doc 3 – Certidão de Filiação
Doc 4 – Documento de identidade
Doc 5 – Edital de convocação da Convenção Nacional Ordinária do MDB
Doc 6 – Estatuto do MDB
Doc 7 – MC nº 354/DF

Você também pode gostar