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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CCT – Centro de Ciências e Tecnologia

Sistemas de Investigação e Ritos Processuais – Profa. Mariana Secorum

Documentário “Sem Pena”

Rubens Fabris Golsman – TIA 42017580

Campinas – SP

05/2022
Resposta à pergunta: quais dos princípios processuais penais estabelecidos pela
Constituição, se fossem de fato aplicados, minimizariam os impactos do sistema
penal?

Após assistir o documentário, com diversos relatos em primeira mão, em sua maioria de
ex-presidiários, alguns aspectos da realidade mencionados no documentário se
destacaram, como o desrespeito à princípios fundamentais da Constituição Federal e do
Processo penal, como a presunção de inocência e a duração razoável do processo, assim
como um problema sistêmico demonstrado pela corrupção da polícia brasileira.

Em primeiro lugar, muitos dos ex-presidiários que fizeram um depoimento no


documentário eram inocentes, e foram presos mesmo assim. O primeiro homem que
conta sua história foi preso sem entender o que estava acontecendo, sendo acusado de
um crime por uma mulher que o havia confundido com o verdadeiro criminoso, e, por
causa de sua acusação, ele foi preso, o que fez com que outras pessoas o acusassem até
ele acumular doze processos diferentes, e ficasse preso por anos, mesmo sem ter
cometido um crime. A presunção de inocência é um dos principais princípios do Direito
penal brasileiro, e existe justamente para diminuir ao máximo as ocorrências nas quais
um inocente é culpabilizado por algo que não fez, poupando-o de perder tempo de sua
vida preso, além de ter sua reputação arruinada por ser preso. Porém, em diversas
ocasiões esse princípio é desrespeitado, e muitos inocentes podem permanecer presos
por meses, até anos, até terem a chance de tentar provarem sua inocência, sendo que na
verdade eles deveriam ser considerados inocentes por padrão, e o contrário que deveria
ser provado.

Tal tempo demasiado grande para que a primeira tentativa de provar a inocência de
alguém seja feita vai de encontro com outro princípio de suma importância: a razoável
duração do processo. É sabido que o Brasil segue a doutrina do não-prazo, já que não
explicita algum prazo que seria considerado razoável, deixando inteiramente nas mãos
do judiciário a decisão de quanto o processo pode e deve durar. Isso por sua vez gera
uma demora muito maior do que desejável no tempo de duração do processo, o que
constitui uma violação à dignidade das pessoas que se encontram presas, esperando o
corrimento do processo para que possam ser inocentadas e sair de uma punição que
nunca mereceram em primeiro lugar. Além disso, tal demora faz com que muitos
processos se acumulem, o que gera uma contribuição para o número grandemente
inflado de processos que o judiciário deve julgar, além de contribuir para que o Brasil
continue sendo a terceira maior população carcerária do mundo.

Finalmente, a corrupção da polícia é um problema gravíssimo no país. Diversos


policiais, ao realizar uma prisão em flagrante, tentam negociar com os réus e avaliar sua
condição de vida, prolongando o que deveria ser uma prisão imediata ou não prisão,
com o objetivo de receber dinheiro deles para fingir que não o viram ou que não o
encontraram. Além disso, policiais recebem propina para soltar grandes criminosos
como grandes traficantes, como relatado por uma das pessoas no documentário, mas
para atenderem as estatísticas necessárias, prendem alguém que possuía 5 gramas de
maconha, e o colocam “no lugar” do traficante, assim contribuindo ao mesmo tempo
para a soltura de um criminoso que deveria permanecer na cadeia, como para a prisão de
alguém que é inocente ou cometeu apenas um pequeno delito.

Em suma, se os princípios de presunção de inocência e duração razoável do processo


fossem aplicados corretamente e frequentemente, assim como a presença de uma polícia
não corrupta, a maioria dos casos relatados no documentário “Sem Pena” seriam
grandemente aliviados ou nem aconteceriam em primeiro lugar, o que reforça ainda
mais o quão importante a Lei é e, mais importante ainda, o quão importante é mantê-la.

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