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Universidade Federal de São Paulo

Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas


Departamento de Ciências Sociais

UC CSO 7043 – Sociologia da Violência e do Conflito


Prof.ª Dr.ª Liana de Paula

PRIMEIRA RESENHA TEMÁTICA


TEMA: Civilização, cultura e violência

Nome: Letícia Amorim Fragoglietti


Matrícula:140602

Com o início do debate intelectual a respeito da sociologia, no século XIX, o


filósofo alemão Norbert Elias tratou a ciência em questão como sendo fundada pelos
problemas da sociedade, a qual é formada por cada indivíduo, inclusive a si próprio.
Portanto, Elias analisa cada relação social com base na integração dos conceitos de
indivíduo e sociedade, excluindo a possibilidade de haver uma dicotomia entre os
termos, estabelecendo uma complexa interação entre eles. Esta interação sofre
influência no papel do indivíduo em sociedade e seu peso na mudança social. Em sua
teoria sociológica, a relação entre o indivíduo e a sociedade se dá através da não
aceitação de qualquer tipo de concepção social totalizadora ou individualista dos
processos sociais, pois este analisa os processos sociais baseados nas atividades dos
indivíduos que através de suas necessidades se orientam e se unem.

A sociedade não existe sem o indivíduo e o indivíduo não existe sem a


sociedade. Ambos elementos coexistem, não são consequência e nem associados. Nas
palavras do autor, “a sociologia trata dos problemas da sociedade e a sociedade é
formada por nós e pelos outros. Aquele que estuda e pensa a sociedade é ele próprio um
de seus membros” (ELIAS, 2008, p. 13). Isso ocorre pois o indivíduo é dependente de
outros indivíduos, sendo seu desejo ou não, ocorrendo de forma não estática e nem
harmoniosa. Portanto, a sociedade e sua relação com os indivíduos é pensada sem a
existência de uma divisão entre eles, pois todos os indivíduos são interdependentes.

A vida em sociedade possui contradições, conflitos e tensões, porém, apesar


destes fatos, há um “consenso” que impulsiona os Seres a ocuparem determinados
lugares, como se existisse uma ordem invisível ditando tais regras. Logo, é indiscutível

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que, através da relação social, a ordem invisível oferece possibilidades específicas de


posicionamento ao indivíduo, as quais são estruturadas em uma consciência da
sociedade, do tempo e das condições que cada um é resultado. Trata-se então, os
padrões sociais de forma coercitiva em suas obras, sendo assim, “o constrangimento
característico que as estruturas sociais exercem sobre aqueles que as formam é
particularmente significativo”. (ELIAS, 2008, p. 16).

Portanto, para que a estrutura citada ocorra é necessário a existência de uma


organização da sociedade, a qual o autor discorre como sendo feita através do processo
civilizador. A constituição desse processo não ocorre de maneira racional, nem por meio
de qualquer ação intencional de pessoas ou de grupos com o intuito de fundamentar um
movimento civilizatório conduzido e calculado em um longo prazo.

“ O processo civilizador constitui uma mudança na conduta e sentimentos


humanos rumo a uma direção muito específica. Mas, evidentemente, pessoas isoladas
no passado não planejaram essa mudança, essa ‘civilização’, pretendendo efetivá-la
gradualmente através de medidas conscientes, ‘racionais’, deliberadas. Claro que
‘civilização’ não é, nem o é a racionalização, um produto da ‘ratio’ humana ou o
resultado de um planejamento calculado a longo prazo”.

Porém, também não ocorre sem um tipo específico de ordem, ou simplesmente


se dá por um aparecimento aleatório de modelos de condutas estáveis, uniformes e
generalizadas. O que entra em questão é a mudança da estrutura histórica e social
atuando sobre os indivíduos, havendo assim, um movimento de adensamento da vida
social e, consequentemente, uma mudança na forma de controle.

É importante frisar que para a ocorrência dessa mudança, Elias considera que os
indivíduos singulares estão ligados a outros indivíduos singulares, logo, todos são
interdependentes uns dos outros. Ou seja, é proposto uma teoria sociológica da
figuração, a qual contraria a ideia de desmembramento entre sociedade e indivíduo,
sendo necessário pensar cada questão como parte de um contexto, havendo sempre uma
fidelidade com a realidade. Portanto, para obter uma compreensão a respeito da
sociedade como um todo, deve-se pensar primeiro sobre o indivíduo e suas motivações
em sociedade.

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A sociedade então, é uma rede de dependência mútua entre os indivíduos que


funciona e depende de cada Ser exercer bem suas funções sociais, logo, toda ação
cotidiana depende dessa rede densa de interdependência . Essa reorganização das ações
e relacionamentos desencadeou mudanças na estrutura da personalidade do indivíduo, a
qual formula uma conduta civilizada. Esse tipo de comportamento implica em uma série
de mudanças nos sentimentos, nas emoções e no aparato psicológico humano, as quais
são sujeitas a uma ordem específica.

Essa mudança na maneira como a conduta humana é executada modela a


personalidade do Ser como mais ‘civilizadora’ a partir das funções sociais individuais
que cada um está sujeito.

“ As funções sociais, sob pressão da competição, tornaram-se cada vez mais


diferenciadas. Quanto mais diferenciadas elas se tornavam, mais crescia o número de
funções e assim, de pessoas das quais o indivíduo constantemente dependia em todas as
suas ações, desde as simples e comuns até as complexas e raras.”

A decorrência da maior diferenciação social dos indivíduos desencadeia uma


necessidade da civilização de ter um bom aparelho interno de autocontrole, portanto, há
uma diminuição da violência e um esfriamento de emoções impulsivas. A civilização
está constantemente ameaçada e incompleta, pois sempre há uma ameaça da
preservação dos padrões civilizados de comportamento sociais. Uma forma de
conservá-los é a autodisciplina, relativamente estável, por cada Ser, ou seja, o
autocontrole em uma civilização é tão intenso que o controle externo coercitivo não
precisa necessariamente ser muito veemente. Há, portanto, uma pretensão na
manutenção de um padrão de vida, incluindo a busca por uma pacificação social.

A pacificação social está também, constantemente, ameaçada por conflitos tanto


pessoais quanto sociais, sendo esta um processo frágil, inacabado e não unilinear em
todos seus aspectos.

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