EXCELENTÍSSIMO JUIZO DA COMARCA DE IÇARA - SANTA CATARINA
AÇÃO DE EXECUÇÃO
Xan Veículos Ltda, inscrita no CNPJ nº 05.102.111/0001-
00, situada na Rod. SC 444, km 03, Liri, Içara/SC, CEP: 88820-000, e-mail: xanve@gmail.com, por seu procurador, com escritório na Rua Barão do Rio Branco, 435 Ap. 1002, Centro, Criciúma - SC vem, perante Vossa Excelência, propor a presente:
AÇÃO DE EXECUÇÃO
Em face de: Osmar Vardo Nunh, brasileiro, divorciado,
comerciante, inscrito no CPF nº 476.804.159-68 e RG nº 567.678, residente e domiciliado na rua Marcos Rovaris, 150, Bairro Centro, Criciúma/SC – CEP: 88801-410, endereço eletrônico: osmarvado@hotmail.com. I – DOS FATOS
O reclamante informa que vendeu um veículo Toyota/Corolla, ano
2018 para o reclamado no dia 10/01/2020 no valor de R$ 50.000,00 (Cinquenta mil reais). O contrato previu que o requerido entregasse um VW/Gol no valor de R$ 20.000,00 (Vinte mil reais) como entrada e o restante deveria ser pago em 10 (Dez) parcelas consecutivas no valor de R$ 3.000,00 (Três mil reais) a vencer a primeira parcela em 10/02/2020. O contrato prevê ainda que a transferência do automóvel Toyota/Corolla para o requerido assim que quitadas todas as parcelas. Ainda no contrato é mencionado como arras o valor de R$ 20.000,00 (Vinte mil reais) pagos através do VW/Gol entregue como mencionado anteriormente, mais multa de 20% sobre o valor do contrato caso inadimplido. Verificou-se que o requerido não pagou nenhuma parcela do contrato, quando procurado pelo reclamante alegou que veículo apresentou problemas mas em nenhum momento levou a conhecimento do requerente.
II – DOS FUNDAMENTOS
A legislação brasileira, em especial o Código Civil, prevê a
possibilidade de o credor buscar a satisfação de seu crédito mediante a oposição de ação pertinente. Além disso, pelo princípio da força obrigatória dos contratos (pacta sunt servanda), o contrato faz lei entre as partes, devendo os contratantes zelar pelo seu cumprimento e manutenção. No entanto, ante o inadimplemento contratual de uma das partes, como é o caso em tela, surge o direito da parte adimplente de exigir o cumprimento da obrigação. Considerando não tratar-se de título executivo, tem-se por derradeira a via adequada para atingir o seu pleito. No presente caso, tem-se em tela um ato ilícito pelo descumprimento de obrigação pactuada por parte do requerido, o que se enquadra no Código Civil nos seguintes termos:
Art. 186. Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Ou seja, pela omissão voluntária do requerido, que reflete
diretamente num prejuízo ao requerente tem-se configurado um ato ilícito. No mesmo sentido, o Código Civil dispõe:
Art. 389. Não cumprida à obrigação, responde o devedor
por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. No presente caso, tem-se a demonstração inequívoca do inadimplemento do requerido ao deixar de pagar o valor devido de R$ 30.000,00 (Trinta mil reais), devendo ser condenado ao pagamento ao pagamento da multa de 20% bem como a perda do valor que ficou pactuado por arras. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina vem entendo por esse viés em casos parecidos:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C
PERDAS E DANOS - CARÊNCIA DE AÇÃO - AUSÊNCIA DE INTERPELAÇÃO JUDICIAL - PROVIDÊNCIA SUPRIDA PELA AÇÃO CAUTELAR PREPARATÓRIA - PRELIMINAR AFASTADA - PROVA DA QUITAÇÃO - ÔNUS DO RÉU - NÃO COMPROVAÇÃO - PROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE RESCISÃO - PERDA DAS ARRAS - DANOS AO VEÍCULO E DESGASTE PELO USO - PREJUÍZOS INDENIZÁVEIS - RETENÇÃO DOS DEPÓSITOS INCIDENTAIS EFETUADOS NA AÇÃO CAUTELAR - LEGALIDADE. Ainda que não efetivada a interpelação judicial, propriamente dita, na forma dos arts. 867 a 873 do Código de Processo Civil, tal providência considera-se suprida pela a ação cautelar preparatória, mormente por ter-se dado ao réu ciência formal do intento do autor de rescindir a avença, isso anteriormente à propositura da respectiva ação. Assim, não se pode alegar ausência de prévia constituição em mora ou interpelação, sendo certo de que não há carência de ação. Se o réu admite a existência do contrato no qual se fundamenta o pedido inicial, alegando, em sua defesa, fato extintivo do direito do autor, qual seja, o cumprimento das obrigações assumidas, assume o ônus de provar esse fato extintivo, mediante a comprovação da quitação das prestações devidas em razão da avença. Consoante o parágrafo único do art. 1.092 do Código Civil, "a parte lesada pelo inadimplemento pode requerer a rescisão do contrato com perdas e danos". De acordo com o art. 1.097 do mesmo código, rescindido o contrato por culpa do que deu arras confirmatórias, perde aquele estas em favor da outra parte. Rescindido o contrato, condenado o réu a indenizar os prejuízos causados ao autor, devem os depósitos incidentais permanecer vinculados ao juízo, como garantia do pagamento da indenização. Trata-se de medida inspirada nos princípios da economia processual e da instrumentalidade do processo, adequada para assegurar a eficácia do provimento jurisdicional e a satisfação do direito do autor. (TJSC, Apelação Cível n. 1999.008392-6, de Criciúma, rel. Des. Wilson Augusto do Nascimento, Primeira Câmara de Direito Civil, j. 05-03-2002).
Portanto, na ação de cobrança, uma vez demonstrado o fato
constitutivo do direito do requerente, ao requerido incumbe fazer prova do pagamento por aplicação da regra contida no inc. II do art. 373 do CPC/15. Trata-se da necessária aplicação da lei, uma vez que demonstrado o compromisso firmado e a ocorrência do descumprimento, outra solução não resta se não o imediato pagamento do débito, conforme amplamente protegido pelo direito. O referido contrato apresenta cláusulas que dispõem acerca das obrigações do contratado, Cláusulas xª, xª, xª e xª. Portanto, verifica-se que é de responsabilidade do requerido a fiel execução do objeto do contrato. Ora, o descumprimento de obrigações por parte do Sr. Osmar Vardo Nunh gerou a necessidade da execução do contrato, ante o não cumprimento de obrigações, culminando em prejuízos elevados. O contrato nº xxxxx e xxxxx, firmado entre as partes, estabelece termos e condições definidos na cláusula xª as sanções administrativas a serem aplicadas em caso de descumprimento de contrato, ou seja, previsão de incidência de juros e multas – mecanismos de segurança da requerente, no caso de inadimplemento, confira-se a Cláusula X: Cláusula Xª – O não pagamento dos valores devidos na data de vencimento sujeitará ao vencimento do contrato por inteiro, aplicando multa de 20% sobre o valor total do contrato bem como a perda do valor de entrada a título de arras. Sobre arras, Pontes de Miranda expõe:
...pode-se definir as arras como os bens patrimoniais dados em
garantia à pessoa com quem se quer contratar mediante transmissão de sua posse ou propriedade, podendo ter os seguintes usos: (i) comprovação da conclusão do contrato (arras confirmatórias ou arrha confirmatoria), com ou sem antecipação do pagamento; (ii) segurança de contrato ainda não concluído, seja em razão de conveniência ou possibilidade, seja em razão de necessidade de forma solene (arras assecuratórias ou arrha pacto imperfecta data); e (iii) constituição do poder de uma ou mais partes contratuais revogar(em) o contrato por arrependimento (arras penitenciais ou arrha poenitentiales).
Constata-se que, o requerido descumpriu o que fora acordado com a
requerente, cabendo o pagamento de juros e multa disposta na cláusula 9ª do contrato, em razão disso, a autora requer aplicação de juros moratórios de 20% (vinte por cento) sobre o valor total do débito, e a perda efetiva do valor dado de entrada a título de arras. Vale lembrar que até o presente momento o requerido não efetivou o pagamento devido, estando em mora com a requerente, conforme disposto no art. 394 do Código Civil:
Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o
pagamento, e o credor que o não quiser receber no tempo, lugar e forma convencionados.
Trata-se da necessária aplicação da lei, uma vez que demonstrado o
compromisso firmado e a ocorrência do descumprimento, outra solução não resta se não a execução do contrato. Assim, considerando-se a tentativa infrutífera de recebimento dos valores devidos por vias administrativas, bem como os prejuízos que tal atraso no cumprimento das obrigações gerou a Xan Veículos Ltda., requer desde logo o pagamento integral do valor final atualizado de R$ 10.000,00 (Dez mil reais), a perda do valor entregue a título de entrada e arras e a retomada da posse do veículo Toyota/Corolla. III – DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer:
1. Julgada PROCEDENTE concedendo ao requerente
a devolução do veículo Toyota/Corolla, declarando por sentença a posse e o domínio do automóvel;
2. Que seja citado o requerido ou seu representante
legal, para responder aos termos desta ação, sob pena de revelia;
3. Que a ação seja julgada totalmente procedente, com
a condenação do requerido a pagar ao requerente o valor de R$ 10.000,00 (Dez mil reais) a título de multa, a perda do valor de R$ 30.000,00 (Trinta mil reais) a título de arras;
4. Condenação dos eventuais requeridos ao
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios a serem fixados por Vossa Excelência, na proporção de 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, nos termos do artigo 20, § 3º do Código de Processo Civil;
5. Permitir todas as formas de provas admitidas em
direito;
6. Que todas as intimações e publicações deste
processo sejam realizadas exclusivamente em no do Advogado Rangel Izidório Elias, OAB/SC nº XXXXX, por ser este o responsável pelo acompanhamento jurídico, sob pena de nulidade absoluta do ato;
Dá-se à causa o valor de R$ 50.000,00 (Cinquenta mil reais).