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Universidade Licungo – Quelimane

Faculdade de Ciências e Tecnologia


Licenciatura em Ensino de Geografia com Habilitação em Turismo

José Cassamo

Análise dos Impactos Sócio-ambientais das Queimadas Descontroladas – caso da


localidade de Munhonha, Distrito de Nicoadala (2020-2021)

Quelimane
2021
José Cassamo

Análise dos impactos sócio-ambientais das queimadas descontroladas – caso da


localidade de Munhonha, Distrito de Nicoadala (2020-2021)

Monografia Científica a ser apresentada no


Departamento de Ciências e Tecnologia como requisito
parcial para obtenção do grau académico de Licenciatura
em Ensino de Geografia com Habilitação em Turismo.

Orientador: Dr. José Mariano Nicumua

Quelimane
2021
Índice
Lista de abreviaturas..................................................................................................................iii

Lista de figuras...........................................................................................................................iv

Declaração...................................................................................................................................v

Dedicatória.................................................................................................................................vi

Agradecimentos........................................................................................................................vii

Resumo....................................................................................................................................viii

Abstract......................................................................................................................................ix

INTRODUÇÃO........................................................................................................................10

Delimitação da Pesquisa...........................................................................................................11

Problematização........................................................................................................................11

Justificativa...............................................................................................................................12

Objectivos do trabalho..............................................................................................................13

Objecto geral.............................................................................................................................13

Objectivos específicos...............................................................................................................13

CAPITULO I: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.....................................................14

1.1. Classificação da pesquisa...................................................................................................14

1.1.1. Quanto à abordagem...................................................................................................14

1.1.2. Quanto à natureza.......................................................................................................14

1.1.2. Quanto aos procedimentos técnicos...........................................................................14

1.1.3. Quanto aos objectivos................................................................................................15

1.2. Método de abordagem........................................................................................................15

1.3. Técnicas e instrumentos de recolha de dados....................................................................15

1.3.1. Observação sistemática..............................................................................................16

1.3.2. Entrevista....................................................................................................................16

1.4. Universo e amostra da pesquisa.........................................................................................16

1.5. Descrição da Área de Estudo.............................................................................................17


1.5.1. Localização geográfica...............................................................................................17

1.5.2. Situação ambiental.....................................................................................................18

1.5.2.1. Clima.......................................................................................................................18

1.5.2.2. Relevo.....................................................................................................................19

1.5.2.3. Solos.......................................................................................................................19

1.5.2.4. Fauna e flora...........................................................................................................20

1.5.3. Situação socioeconómica............................................................................................20

1.5.3.1. Cultura e sociedade.................................................................................................20

1.5.3.2. Agricultura..............................................................................................................21

1.5.3.3. Pecuária...................................................................................................................21

CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA.......................................................................22

2.1. Queimadas descontroladas.................................................................................................22

2.2. Importância económica e ambiental das florestas..............................................................22

2.3. Principais causas de queimadas descontroladas.................................................................23

2.4. Principais causas das mudanças da cobertura florestal por via de queimadas em
Moçambique.......................................................................................................................25

2.4.1. Exploração de lenha e fabrico de carvão....................................................................25

2.4.2. Agricultura comercial e de subsistência.....................................................................25

2.5. Impactos Sócio-ambientais das Queimadas Descontroladas.............................................25

2.6. Influência das queimadas descontroladas no clima...........................................................26

2.7. Medidas de mitigação das queimadas de]scontroladas......................................................27

CAPITULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS........29

3.1. Apresentação dos dados.....................................................................................................29

3.2. Análise e Interpretação dos Dados.....................................................................................31

4. Conclusão...........................................................................................................................38

5. Referências bibliográficas..................................................................................................39

Apêndice...................................................................................................................................42
iii

Lista de abreviaturas

CO2 – Dióxido de Carbono

FAO – Organização da Agricultura e Alimentação

GTZ – Cooperação Alemã para o Desenvolvimento

INE – Instituto Nacional de Estatística

MADER – Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural

MAE – Ministério da Administração Estatal

MICOA – Ministério para a Coordenação a Acção Ambiental

NCN – Núcleos de Condensação de Nuvens

PRODER – Programa de Desenvolvimento Rural


iv

Lista de figuras

Figura 1: Mapa de enquadramento regional geográfico da localidade de Munhonha................18


Figura 2: Abertura de campos agrícola com base na queimada na localidade de Munhonha.....32
Figura 3: Degradação da paisagem e dos recursos após ocorrência da queimada na localidade
de Munhonha...............................................................................................................................35
v

Declaração

Declaro que esta monografia científica é resultado da minha investigação e das orientações do
meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas, nos apêndices e na bibliografia final. Declaro ainda que, este
trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau
académico.

Quelimane, Agosto de 2021


________________________________
José Cassamo
vi

Dedicatória

Dedico à minha família, especialmente a minha esposa, Saquita João Almolado, que me
incentivou e me ajudou no meu percurso estudantil.

Aos meus filhos, Madina, Cesário, Nhelete, Jéssica, Sidny e Sonito.


vii

Agradecimentos

Em primeiro lugar agradecer a Deus, pela saúde e pelo dom da sabedoria.

À Universidade Licungo juntamente os Docentes.

Um agradecimento especial vai ao meu supervisor, Dr. José Mariano Nicumua, pela orientação
e paciência que teve no âmbito da realização da monografia.

Aos meus colegas da carteira pelo apoio que me facultaram durante a formação.

O meu muito obrigado!


viii

Resumo

A realização do trabalho objectivou de forma geral analisar os impactos sócio-ambientais das


queimadas descontroladas na localidade de Munhonha. Desta forma, para o alcance deste
foram delineados os seguintes objectivos específicos: identificar as causas das queimadas
descontroladas; descrever os principais problemas sócio-ambientais resultantes das queimadas
descontroladas e propor medidas que atendem à redução das queimadas descontroladas na
localidade de Munhonha. O estudo centrou-se na localidade de Munhonha, Distrito de
Nicoadala, Província da Zambézia – Moçambique, o mesmo enquadra-se na linha de pesquisa
ambiente e desenvolvimento sustentável. Para a materialização do trabalho usou-se a pesquisa
qualitativa tendo a entrevista semi-estruturada e a observação como instrumentos de recolha de
dados. Com o estudo realizado, concluiu-se que a localidade de Munhonha tem enfrentado
vários problemas sócio-ambientais resultantes das queimadas descontroladas. A nível
ambiental destaca-se a destruição de vegetação, erosão, empobrecimento dos solos, morte e
migração da fauna. A nível social ressalta-se a destruição de campos agrícolas, habitações e
outros bens materiais, a baixa produtividade agrícola resultante da degradação de solos.

Palavras-chave: Impactos sócio-ambientais; Queimadas descontroladas.


ix

Abstract

The accomplishment of the work aimed in general to analyze the socio-environmental impacts
of uncontrolled fires in the locality of Munhonha, thus, for the scope of this, the following
specific objectives were outlined, to identify the causes of uncontrolled burning, to describe the
main socio-environmental problems resulting from uncontrolled burning and to propose
measures that meet the reduction of uncontrolled fires in the locality of Munhonha. The study
focused on the locality of Munhonha, Nicoadala District, Zambézia Province – Mozambique,
which fits into the line of environmental research and sustainable development. However, it
was concluded that the locality of Munhonha has faced several problems that arise from
uncontrolled fires in which for the environment stands out the destruction of vegetation,
erosion, impoverishment of soils, death and migration of fauna. In the same order, for man they
cause the destruction of fields, housing and other material goods, the low agricultural
productivity resulting from the degradation of soils.

Keywords: Social and environmental impacts; Uncontrolled fires.


10

INTRODUÇÃO

O presente trabalho intitulado impactos sócio-ambientais das queimadas descontroladas


na localidade de Munhonha, Distrito de Nicoadala, tem por objectivo geral analisar os
impactos sócio-ambientais das queimadas descontroladas na localidade acima mencionada.
Desta forma, para o alcance deste foram delineados os seguintes objectivos específicos:
identificar as causas das queimadas descontroladas, descrever os principais problemas sócio-
ambientais resultantes das queimadas descontroladas e propor medidas que atendem a redução
das queimadas descontroladas na localidade de Munhonha.

O interesse na escolha deste tema surge no âmbito de observações realizadas pelo autor
sobre práticas de queimadas descontroladas efectuadas pela população local. Nestas
observações, constatou-se que a população realizava as queimadas sem nenhum conhecimento
das medidas de prevenção e conservação do meio natural nem dos impactos que estas práticas
podiam trazer, tanto para o meio como para o Homem.

No que concerne aos procedimentos metodológicos, a pesquisa é classificada quanto à


abordagem em qualitativa e quanto à natureza em aplicada. Os procedimentos aplicados
respeitam a pesquisa bibliográfica e conforme os objectivos é explicativa. Para a recolha de
dados foram empregadas a observação sistemática e o questionário.

No que tange à estrutura, a monografia é constituída por três capítulos, no qual antes da
descrição dos capítulos apresenta-se a introdução, delimitação do tema, a problematização
juntamente a pergunta de partida, objectivos e justificativa. Assim sendo, o capítulo I aborda
sobre os procedimentos metodológicos e descrição da área de estudo. O capítulo II versa sobre
a revisão da literatura. O capítulo III trata da apresentação, análise e interpretação dos dados e,
adiante a apresentação das conclusões, as sugestões e as referências bibliográficas.
11

Delimitação da Pesquisa

O estudo sobre os impactos sócio ambientais das queimadas descontroladas centra-se na


localidade de Munhonha, Distrito de Nicoadala, Província da Zambézia – Moçambique, o
mesmo enquadra-se na linha de pesquisa ambiente e desenvolvimento sustentável.

Problematização

Na perspectiva de Cervo e Bervian (2002, p.87) problema é uma questão que envolve
uma dificuldade teórica ou prática para qual se deve encontrar uma solução.

Nos dias actuais, as queimadas descontroladas constituem um dos principais problemas


globais, tal como a poluição, a geração dos resíduos sólidos, entre outros. Estudos realizados
pela FAO (2007) e Mbanze (2013), mostram que Moçambique assim como muitos outros
países da região tropical, apresentam uma redução significativa das áreas florestais devido à
factores como aumento populacional, e outros de índole social como derrube das áreas
florestais para fins agro-pecuários, destruição para construção de habitação e outros que
espelham a presente pesquisa que é devido à prática de queimadas descontroladas.

Em Moçambique, as queimadas descontroladas apresentam-se como um dos problemas


ambientais que mais afecta à sociedade. Elas ocorrem em todo território moçambicano durante
todas épocas do ano e principalmente em períodos secos e no início das campanhas agrícolas e
de caça (Saket, 2000). Esta prática está associada a vários factores, dentre os quais destaca-se o
índice elevado de pobreza que assola a maior parte da população rural do país. (MICOA,
2007).

Na localidade de Munhonha, distrito de Nicoadala o problema das queimadas


descontroladas está relacionado a factores de carácter social e económico, como a falta de
recursos e a necessidade de satisfação das exigências básicas de sobrevivência. Este facto tem
conduzido de maneira inevitável a população ao uso insustentável dos recursos naturais
disponíveis, trazendo desta forma impactos graves para o ambiente. Neste sentido, para
compreender as implicações que as queimadas descontroladas trazem a nível sócio-ambiental,
levantou-se a seguinte questão de partida:

 Quais são os impactos sócio-ambientais que advêm das queimadas descontroladas na


localidade de Munhonha, distrito de Nicoadala?
12

Outras questões que orientam a pesquisa

 O que tem impulsionado a população da localidade de Munhonha a praticar queimadas


descontroladas?
 Quais são os principais problemas sócio-ambientais resultantes das queimadas
descontroladas na localidade de Munhonha?
 O que pode ser feito para minimizar os impactos sócio-ambientais das queimadas
descontroladas na localidade de Munhonha?

Justificativa

Segundo Cervo e Bervian (2002, p.25) a justificativa envolve a delimitação do problema,


análise da situação que o projecto pretende modificar e uma demonstração de como o
modificará.

O interesse pessoal para o desenvolvimento deste estudo surge das observações


realizadas pelo autor sobre práticas de queimadas descontroladas efectuadas pelas populações
locais, sempre que o autor frequentava a localidade de Munhonha, com mais incidência nos
períodos secos, ou seja, no verão.

O tema é urgente, pois os impactos negativos das queimadas descontroladas constituem


uma preocupação tanto a nível local como nacional e até internacional, uma vez que as
queimadas descontroladas constituem não apenas fontes de emissão de gases com o efeito
estufa que contribuem para as mudanças do clima global, mas também fontes de degradação
dos recursos naturais.

Visando melhorar a situação das queimadas descontroladas futuramente na localidade de


Munhonha, é necessário garantir ensinamentos de práticas de uso sustentável dos recursos
florestais através de informação sobre o perigo que advém das queimadas descontroladas.
Assim, poderá se esperar num futuro próximo uma sociedade consciencializada e com uma
postura diferente e mais favorável ao uso sustentável dos recursos florestais através do controlo
do fogo. É neste contexto que se insere a pertinência do tema.

O estudo apresenta uma grande relevância social devido a sua importância no âmbito
social e ambiental. Neste sentido, a redução das queimadas descontroladas pela população na
localidade de Munhonha, pode apontar para uma melhoria na produtividade do solo e maior
conservação da biodiversidade.
13

Objectivos do trabalho

Conforme Bello (2005) os objectivos representam o que o pesquisador quer atingir com a
realização da pesquisa. Para o autor, o objectivo é sinónimo de meta, fim. Nesta perspectiva, o
trabalho apresenta objectivo geral e objectivos específicos, como abaixo se descreve:

Objecto geral
 Analisar os impactos sócio-ambientais das queimadas descontroladas na localidade de
Munhonha.

Objectivos específicos

 Identificar as causas das queimadas descontroladas na localidade de Munhonha;


 Descrever os principais problemas sócio-ambientais resultantes das queimadas
descontroladas na localidade de Munhonha;
 Propor medidas que visam a redução das queimadas descontroladas na localidade de
Munhonha.
14

CAPITULO I: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para Lakatos e Marconi (2003, p.32) a “Metodologia é o conjunto das actividades


sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objectivo,
conhecimentos válidos e verdadeiros, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e
auxiliando as decisões do cientista”

Assim, nesta fase da pesquisa, foram indicadas todas as directrizes com vista a alcançar o
objectivo, partindo da classificação da pesquisa, seguido dos métodos de abordagem e
procedimento e da definição das técnicas e instrumentos de recolha de dados, o universo e
amostra, aspectos éticos e resultados esperados.

1.1. Classificação da pesquisa


1.1.1. Quanto à abordagem

Quanto à abordagem, a pesquisa é qualitativa, que conforme Oliveira (2011,p.25), este


tipo de pesquisa “envolve a obtenção de dados obtidos no contacto directo do pesquisador com
a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a
perspectiva dos participantes”.

Desta forma, a pesquisa relaciona-se com o levantamento de informações no campo que


visam complementar com as diversas obras consultadas sobre os impactos sócio-ambientais das
queimadas descontroladas, visando desta forma, proporcionar uma análise das várias opiniões
do grupo alvo que corresponde à amostra com vista a indicar as possíveis sugestões sobre os
impactos sócio-ambientais das queimadas descontroladas na localidade de Munhunha.

1.1.2. Quanto à natureza

No que tange à natureza, a pesquisa é aplicada. Este tipo de pesquisa segundo, Prodonov
e Freitas (2013) “tem como objectivo gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à
solução de problemas específicos, pois envolve, verdades e interesses locais”.

1.1.2. Quanto aos procedimentos técnicos

Quanto aos procedimentos usou-se a pesquisa bibliográfica, que consistiu no contacto


do autor com o material já publicado que abordam sobre os impactos sócio-ambientais das
queimadas descontroladas.
15

A pesquisa bibliográfica permitiu a busca e análise das diversas obras literárias que
serviram de base para sustentar o assunto em estudos disponíveis em manuais, artigos
científicos, dissertações e relatórios auxiliados pela busca na internet. Paralelamente, em
relação aos dados colectados, baseando-se na confiabilidade destas onde todas foram citadas ao
longo do trabalho e mencionadas nas referências bibliográficas.

1.1.3. Quanto aos objectivos

Do ponto de vista dos objectivos, a pesquisa é explicativa, conforme Gil (2008, p.47) “a
pesquisa explicativa visa identificar os factores que determinam ou contribuem para a
ocorrência dos fenómenos, aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o
porquê das coisas.”

Com base no pressuposto acima avançado, o método explicativo foi empregue para numa
primeira fase para identificar os impactos sócio-ambientais das queimadas descontroladas. Já
levantados os factores, numa segunda fase como base na pesquisa explicativa fez-se a
identificação das causas que levam a prática de queimadas descontroladas.

Vai contar com levantamento de obras que abordam sobre os impactos das queimadas
descontroladas e entrevista com líderes comunitários e moradores da localidade de Munhonha.

1.2. Método de abordagem

Método de abordagem é a linha de raciocínio adoptada no processo de pesquisa. Neste


sentido, quanto ao método de abordagem, o estudo baseou-se no método indutivo que para
Lakatos e Marconi (1990,p.30) é “o método que parte das constatações mais particulares as leis
e teorias gerais.”

Consistiu na observação particular colocando a generalização (geral) como um produto


que vem depois. No entanto, a sua empregabilidade surge a partir de observações feitas pelo
autor referentes às queimadas descontroladas o que levou ao interesse de perceber os impactos
sócio-ambientais que advêm destas práticas na área de estudo em particular.

1.3. Técnicas e instrumentos de recolha de dados

A busca de informações de forma a desvendar o fenómeno que se pretende estudar, só é


possível com base na colecta de dados. Esta busca é feita com auxílio de instrumentos técnicos
16

elaborado pelo pesquisador. Sendo assim, neste trabalho usou-se a observação e a entrevista
semi-estruturada.
1.3.1. Observação sistemática

“A observação sistemática também recebe várias designações: estruturada, planejada,


controlada. Utiliza instrumentos para a colecta dos dados ou fenómenos observados. Realiza-se
em condições controladas, para responder a propósitos preestabelecidos” (Lakatos & Marconi,
2003, p.193). Neste sentido, as normas não devem ser padronizadas nem rígidas demais, pois
tanto as situações quanto aos objectivos da investigação podem ser muito diferentes. Deve ser
planejada com cuidado e sistematizada.

Com base nesta técnica, o autor incorporou-se na comunidade fazendo-se passar como
membro desta, e procurou ver e vivenciar casos concretos de práticas de queimadas
descontroladas.

1.3.2. Entrevista

Para Lakatos e Marconi (2003, p.195), “a entrevista é um encontro entre duas pessoas, a
fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma
conversação de natureza profissional.”

Esta é uma técnica de recolha de dado que estabelece uma interacção entre pesquisador e
o pesquisado. Segundo Selltiz (1967, citado em Gil, 2008), “enquanto técnica de colecta de
dados, a entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as
pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem
como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes” (p.109).

Neste sentido, a opção por esta técnica deveu-se ao facto de esta poder ser utilizada com
todos os segmentos da população: analfabetos ou alfabetizados e oferecer flexibilidade muito
maior, posto que o entrevistador pode esclarecer o significado das perguntas e adaptar mais
facilmente às pessoas e às circunstâncias em que se desenvolve a entrevista.

1.4. Universo e amostra da pesquisa

Para Silva e Menezes (2001, p.32), “população (ou universo da pesquisa) é a totalidade
de indivíduos que possuem as mesmas características definida para um determinado estudo”.
Neste sentido, o universo ou população é representada por todos residentes da localidade de
17

Munhonha que compreende um número de 15468 habitantes conforme o inquérito realizado


pelo INE em 2017 (INE, 2019).

Segundo Turato (2003, p.351) a palavra amostra quer dizer uma porção, um pedaço, um,
fragmento, o qual é apresentado para demonstrar propriedade da natureza ou qualidade de algo.
Na linguagem científica das pesquisas com seres humanos, amostra significa uma parcela
seleccionada segundo uma de terminada conveniência, extraída de uma população de sujeito,
consistindo assim num subconjunto do universo.

Assim, para facilitar a colecta de dados foi usada a amostra não probabilística
intencional, conforme o critério proposto por Fachin (2001), pois segundo o autor, este tipo de
amostra selecciona indivíduos que para amostra representem um bom julgamento da
população/universo. Neste sentido, o critério de intencionalidade usado na escolha foi: ser
membro da comunidade entrevistada e depender da floresta para a sua subsistência. A amostra
para esta pesquisa foi de 25 indivíduos, dentre os quais, 22 residentes e 3 líderes locais.

1.5. Descrição da Área de Estudo

A recolha de informação inerente à prossecução deste trabalho de investigação teve por base
o trabalho de campo na localidade de Munhonha. Nesta secção , faz-se o levantamento da situação
ambiental e socioeconómico que abrange a área de estudo. Assim sendo, a situação ambiental
envolve a descrição do clima, relevo, solo, a fauna e flora, por outro lado, a situação
socioeconómica envolve a cultura e sociedade, agricultura e pecuária.

1.5.1. Localização geográfica

A localidade de Munhonha situa-se no distrito de Nicoadala que é limitado a Norte com


os povoados de Nhafuba e Machindo, a Sul com os povoados de Catale e Ilova, a Este com o
povoado de Lua-lua e a Oeste com a localidade de Nicoadala – Sede. Munhonha possui uma
população estimada em cerca de 15.468 habitantes conforme o inquérito realizado pelo INE em
2017 (INE, 2019).

Por sua vez, o distrito de Nicoadala está localizado a Sudoeste da Província da Zambézia,
fazendo fronteira a Norte com os Distritos de Mocuba e Namacurra, a Oeste com os Distritos
de Morrumbala e Mopeia e a Sul com o Distrito de Inhassunge e Oceano Índico (MAE, 2014).
18

De acordo com os dados do censo populacional realizado em 2017, o distrito de


Nicoadala conta actualmente com 202.653 habitantes, sendo 97.892 homens e 104.761
mulheres, com uma densidade populacional aproximada de 73 hab/km2. (INE, 2019).
Figura 1: Mapa de enquadramento regional geográfico da Localidade de Munhonha

Fonte: Autor, 2021

1.5.2. Situação ambiental


1.5.2.1. Clima

De acordo com MAE (2014,p.2), “a localidade de Munhonha é caracterizada por


apresentar o clima do tipo ‘Tropical Chuvoso de Savana – AW’ (classificação de Köppen),
com duas estações distintas, a estação chuvosa e a seca.”

A precipitação média anual é cerca de 1.428 mm na faixa costeira (estação da cidade de


Quelimane), enquanto a evapotranspiração potencial média anual é cerca de 1.477 mm.

MICOA (2012) avança que na localidade de Munhonha a precipitação média mensal


apresenta uma variação sazonal relevante que corresponde um período húmido, entre
Novembro e Maio, onde ocorre um valor de precipitação equivalente a cerca de 70% do valor
19

total anual da precipitação, sendo o mês de Janeiro o mais chuvoso com precipitação média
mensal de cerca de 280 mm; e um período seco entre Junho a Outubro com médias mensais de
precipitação inferiores a 50 mm.

A temperatura média anual é de cerca de 27ºC, ocorrendo uma semi-amplitude térmica


anual relativa, inferior acerca de 4º C. Novembro é o mês mais quente (30.7ºC). Relativamente
aos ventos predominam ventos de Sul e Sudeste, ao longo dos meses (ibidem, p.3).

1.5.2.2. Relevo

Araújo (1999, p.27) aborda que o território moçambicano de acordo com sua estrutura,
cerca da metade (44%) do território moçambicano é constituído pela planície, com altitudes
inferiores a 200m. Esta planície, que se desenvolve ao longo da costa, é uma faixa estreita entre
a foz do rio Rovuma e o delta do Rio Zambeze.

Parafraseando Araújo (1999), o MICOA (2012, p.5) sustenta que Distrito de Nicoadala
situa-se maioritariamente na zona das grandes planícies costeiras do país, com altitudes
inferiores a 200 m e que diminuem suavemente do interior para a costa. A maior parte do
distrito possui, no entanto, cotas inferiores a 100 m (cerca 95% da área total do mesmo) e
apenas pontualmente ocorrem alguns cumes com altitudes compreendidas entre 100 e 500 m.

Desta forma, a Localidade de Munhonha por se situar no interior do distrito de Nicoadala


é predominantemente dominado pelo relevo de planícies com altitudes inferiores a 200 metros.

1.5.2.3. Solos

O conhecimento das características dos solos é fundamental no estudo da temática sobre


as queimadas descontroladas em Moçambique pois, é sobre eles que assenta o coberto vegetal.
A importância dos diferentes tipos de solos é destacada pelo seu potencial para a produção
agrícola, que é a actividade básica da maioria da população moçambicana e cuja prática, tem
trazido impactos sócio-ambientais significativos.

Dados do MICOA (2012, p.9) indicam que na localidade de Munhonha predominam


solos vermelhos de textura média (VM), por vezes associados a solos castanhos de textura
média, a solos arenosos castanhos-cinzentos (KA) e a solos de coluviões de textura média
(CG). Ocorrem igualmente solos de mananga com cobertura arenosa de espessura variável
(MA); associados a solos arenosos amarelados (AA) e coluviões argilosos de mananga (MC).
20

Solos de aluviões argilosos em diferentes fases (FG) ocorrem também no interior do distrito.
Estes solos apresentam, em geral, fertilidade boa a moderada.

Em geral, na zona interior do distrito onde situa-se a localidade de Munhonha ocorre


areia argilosa de planície de inundação do Quaternário e diversos tipos de gnaisses
(migmatítico, feldspático e ocelado) do Mesoproterozóico (ibidem, p.5).

1.5.2.4. Fauna e flora

A fauna da localidade de Munhonha é caracterizada por possuir um grande potencial


faunístico composto por uma variedade de espécies tais como: Changos, gazelas (encontrando-
se estas duas espécies em vias de extinção) perdizes, coelhos, macacos, cabritos do mato,
porcos do mato, tartarugas marinhas e uma variedade de pássaros (MAE, 2014, p.2).

Nesta senda, a flora do distrito de Nicoadala apresenta-se como sendo bastante rica e
diversificada, podendo-se aqui encontrar espécies de alto valor comercial das quais se destacam
a Umbila – Pterocarpusangolensis, Nhacuada - Swatziamadagascariensis, Chanfuta –
Afzeliaquanzensis, Jambire – Milletiastuhlmannii, Umbaua - Khayanyasica, Muanga -
Pericopsisangolensis e Monzo - Combretum imberbe (ibidem, p.2).

1.5.3. Situação socioeconómica


1.5.3.1. Cultura e sociedade

O MAE (2014,p.5) afirma que a cultura que envolve o povoado residente na localidade
de Munhonha é caracterizada pela existência de vários grupos que praticam diverso tipo de
danças e cânticos típicos de toda a região. E na juventude, destaca-se a existência de grupos
activistas e associações juvenis que se de dedicam a motivação boas práticas entre os seus
concidadãos. Desta forma, têm sido promovidas várias actividades, nomeadamente a
participação no Festival Nacional de Dança Popular, o fomento do associativismo juvenil e de
grupos culturais, bem como o apoio ao desenvolvimento das artes plásticas, em particular a
escultura.

A população residente na localidade de Munhonha é composta maioritariamente pelos


falantes da língua Chuabo, sofrendo grande influência da Cidade de Quelimane. A maioria da
população comunica-se também na língua portuguesa.
21

A religião dominante na localidade é a Muçulmana, que é praticada pela maioria da


população tanto da localidade como do distrito. Existem outras crenças no distrito, sendo
prática corrente que os representantes das hierarquias religiosas se envolvam, em coordenação
com as autoridades distritais, em várias actividades de índole social (MAE, 2014, p.6).

1.5.3.2. Agricultura

Tal como no resto do Distrito, a agricultura predominante é a de sequeiro, praticada num


regime de corte e queimada. As principais culturas incluem o arroz, o milho, a mandioca, os
feijões, o amendoim, a batata-doce e as hortícolas (Governo do Distrito de Nicoadala, 2008).

Embora a agricultura praticada na localidade de Munhonha seja essencialmente orientada


para a subsistência, são também produzidas, pelo sector familiar, algumas culturas de
rendimento, nomeadamente o arroz, a copra e a castanha de caju. A população também
comercializa o excedente de culturas que são normalmente tidas como de subsistência (ex.
milho, mapira, feijões amendoim, mandioca e batata doce).

Dados do MICOA (2012, p.50) indicam que na produção de culturas alimentares, os


factores que limitam a prática destas são as cheias (76%), as pragas (70%) e falta de sementes
(60%). Não há muito investimento externo na agricultura e, as famílias usam métodos naturais
e orgânicos (adubação orgânica) para aumentar a fertilidade dos solos.

1.5.3.3. Pecuária

A população residente na localidade de Munhonha desenvolve a criação de animais de


pequena espécie, tais como aves e gado caprino, embora se observem alguns agregados
familiares a criar gado bovino.

Os animais de criação, para além de constituírem fonte de alimentação, elementos de


troca e para consumo em cerimónias familiares, são também fonte de acumulação de riqueza e
de rendimento familiar.
22

CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA

Neste capítulo faz-se uma abordagem dos conceitos ligados ao conteúdo que se propôs a
discutir, referentes aos impactos sócio-ambientais das queimadas descontroladas. Pretendendo-
se de certa forma mostrar informações escritas por diferentes autores em volta do tema em
estudo como forma de elucidar determinados conceitos e abordagens.

2.1. Queimadas descontroladas

De uma forma genérica, Borges (1992, p.13) define a queimada descontrolada como
sendo “o uso de fogo sem controlo sobre qualquer forma de vegetação, podendo ser causada de
forma espontânea ou pelas acções e omissões humanas.” Já de forma restrita específica, Mwitu,
(2012, p.36), refere que a “queimada descontrolada consiste em queimar o mato por
negligência ou acidentalmente sem nenhum controlo.” Nesta perspectiva, pode-se perceber que
a queimada descontrolada diz respeito à destruição do mato ou floresta por meio do fogo quer
seja por negligência ou não. Este conceito é restritivo na medida que em limita a queimada
descontrolada apenas ao contexto de mato ou floresta.

Estudos realizados por Saket (1999), MADER (2003) e MICOA (2007) revelam que
cerca de 6 a 15 milhões de hectares (ha) de florestas eram queimados anualmente em Moçambique
e entre 9 a 15 milhões de ha de outras áreas. Geralmente cerca de 90 % das queimadas são
resultados das actividades humanas e as restantes 10 % são geradas por causas naturais e
desconhecidas. Normalmente, mais de 80% dos incêndios ocorrem na época seca, que
corresponde aos meses de Junho a Setembro (Mbanze, 2013).

A província da Zambézia é uma das mais afectadas pelas queimadas anualmente.


Queimadas antecipadas (no início da época seca) são descritas como menos prejudiciais
comparadas às que ocorrem no fim da época seca quando há muito material combustível seco
para alimentar a combustão. Os períodos mais críticos na Zambézia são os meses de Agosto,
Setembro e Outubro, dependentes de distribuição temporal das chuvas durante o ano.
(MADER, 2003).

2.2. Importância económica e ambiental das florestas

O sector florestal tem uma contribuição substancial para a economia, emprego e serviço
da sociedade. Como tal, a importância das florestas é caracterizada pelos múltiplos produtos e
23

serviços que estas providenciam e são consideradas como a herança dos povos e nações
(Byron, 1996, citado em Matimbe, 2015, p.13).

A FAO (1993) refere que as florestas providenciam múltiplos benefícios a nível local,
nacional e global. Esta organização refere ainda que alguns desses benefícios dependem da
existência das florestas não perturbadas ou as que estão sujeitas à mínima interferência.

Para Cunha e Princhel (1986), as florestas desempenham uma série de funções


relacionadas com a conservação de solos e água e diversidade biológica para a modulação do
ciclo de carbono e o melhoramento do microclima, para além de protegerem o meio ambiente
contra fenómenos naturais como erosão, alterações climáticas extremas. Brouwer (1996)
acrescenta também que as florestas desempenham um papel vital e importante na produção
agrícola, restabelecendo a fertilidade de solos degradados pelo sistema de agricultura itinerante
e agricultura em pousio, que são consideradas como os sistemas agrícolas mais importantes em
Moçambique

Nesta linha de ideia, a FAO (1985) refere que as florestas desempenham um papel vital
na sustentabilidade do ambiente natural e humano, criando condições para o desenvolvimento
de habitat favoráveis à fauna e ajudam a estabilizar outros ecossistemas, dando extrema
contribuição na mudança da biodiversidade. A organização acrescenta ainda que as florestas
são uma fonte imediata de produtos essenciais para as populações rurais e urbanas sendo
importante recurso à economia nacional.

Ainda sobre este assunto Lamprecht (1990) diz que as florestas desempenham diversas
funções relacionada com a agricultura e pecuária, para além destes terem grande vantagem sob
o ponto de vista económico fornecer produtos homogéneos, tanto sob o aspecto das espécies de
madeira como no tocante à distribuição de rendimento. As florestas também proporcionam
vários benefícios ambientais tais como a conservação da biodiversidade, a prevenção da
erosão, o arresto do carbono e a protecção das bacias hidrográficas, e desempenham um papel
importante na mitigação e adaptação perante as mudanças climáticas (Programa Nacional de
apoio ao Sector de Florestas em Moçambique, 2009).

2.3. Principais causas de queimadas descontroladas

As queimadas descontroladas, constituem um problema que provém de várias causas que


vão desde as naturais até as que resultam da actividade humana. Segundo Mwitu (2012),
24

constituem causas naturais os relâmpagos e faíscas, que constituem principais focos, e ocorrem
em locais de vegetação seca devastando áreas extensas. Estes casos registam-se com pouca
frequência em Moçambique. Nesta perspectiva, Mbanze (2013) refere que em todo o mundo,
inclusive Moçambique, o homem é apontado como o principal causador das queimadas
descontroladas. Mesmo para a maior parte das causas, consideradas como desconhecidas,
acredita-se que o homem esteja envolvido.

Ainda de acordo com o autor acima citado, existem causas que estão relacionadas
directamente com a ignição do material combustível e aquelas que indirectamente podem
impactar não somente no surgimento da queimada descontrolada, mas também na sua
severidade, frequência e extensão. Dentre as causas indirectas, destaca-se o crescimento
populacional, que tem como consequência maior pressão no uso e aproveitamento de terra
(FAO, 2007).

De acordo com a FAO (2007), as principais causas que concorrem directamente para a
ocorrência das queimadas descontroladas no continente africano são a limpeza de terra para
agricultura (agricultura de corte e queima), negligencia, caça, colecta de mel, fogueiras
abandonadas por campistas, descuidos na queima prescrita, incendiários (normalmente devido
a conflitos de uso e aproveitamento da terra). Hough (1992 citado em Mbanze 2013), adiciona
a queima para estimular determinados produtos florestais e afugentar animais selvagens em
algumas vilas.

Em Moçambique, as principais causas das queimadas descontroladas estão associadas ao


uso do fogo nas zonas rurais para os seguintes fins: redução do material combustível, a limpeza
de campos agrícolas, a abertura de caminhos para facilitar a circulação, a limpeza da mata para
melhorar a visibilidade, a caça, a colheita de mel, a produção de carvão, o controlo de espécies
indesejáveis e protecção contra animais ferozes, conflitos sociais, controlo de pragas e
negligência (lançamento de beatas de cigarros, lareiras deixadas acesas na beira das estradas).
(MICOA, 2007; Mwitu, 2012).
25

2.4. Principais causas das mudanças da cobertura florestal por via de queimadas em
Moçambique
2.4.1. Exploração de lenha e fabrico de carvão

A produção de carvão vegetal está associada a um maior impacto ambiental do que a de


lenha, especialmente em áreas peri-urbanas e tem sido referida como uma das principais causas
do desmatamento na África. As causas da elevada procura por lenha e carvão estão associadas
a várias questões, entre elas o baixo poder de compra e a falta de fontes alternativas viáveis de
energias nas zonas urbanas (Cuvilas et al. 2010).

A ligação especial da colecta de lenha e produção de carvão com o desmatamento ou


degradação florestal foi bastante estudada em Moçambique. De acordo Pereira et al. (2001)
revelam elevada pressão sobre os recursos florestais no entorno das grandes cidades (Maputo,
Matola, Beira e Nampula) e nas províncias circunvizinhas, particularmente Gaza e Inhambane,
onde a procura de energia lenhosa é elevada.

2.4.2. Agricultura comercial e de subsistência

Marzoli (2007) refere que, a agricultura tem sido indicada várias vezes como uma das
principais causas do desmatamento em Moçambique. Os impactos directos resultam da
conversão directa de florestas para áreas agrícolas permanentes ou agricultura itinerante sobre
queimadas. Os efeitos indirectos sobre a floresta incluem uma fase de transição em que é
extraída a madeira nobre, seguida de extracção de lenha e carvão, que se beneficiam do acesso
aberto pelos caminhos para a exploração madeireira. Estas áreas são mais tarde utilizadas como
áreas agrícolas sugerindo, mais uma vez que a agricultura e a exploração de combustíveis
lenhosos trabalham em combinação sobre a mudança da cobertura florestal.

2.5. Impactos Sócio-ambientais das Queimadas Descontroladas

Actualmente, existe uma forte tendência dos incêndios florestais serem observados
numa perspectiva de agentes causadores de desgraças ao ambiente e ao homem em geral. Pois,
o uso indiscriminado do fogo por populações carentes, aliado a inexistência ou fraca aplicação
de penalidades em muitos países, fez com que os efeitos negativos do fogo superassem os
positivos e o fogo passasse a ser visto como um inimigo da humanidade moderna.
Uma das grandes consequências dos incêndios florestais e a emissão de vários gases e
partículas sólidas, que contribuem para a poluição da atmosfera em nível local, regional e
26

global (Mbanze, 2013). No ar, a emissão de gases tóxicos e cancerígenos contribuem para o
efeito estufa, para o aquecimento da terra e alteram o clima e o regime de chuvas. Além disso,
durante a queimada, grandes quantidades de biomassa, particularmente a biomassa herbácea,
arbustos, folhas, ramos e troncos mortos são carbonizados e seus efeitos são desastrosos no
meio ambiente. (Fra, 2010 citado em Matimbe, 2015).

Neste sentido, os impactos negativos das queimadas descontroladas passaram a constituir


preocupação nacional e internacional por serem não só fontes de emissões de gases com o
efeito estufa que contribuem para as mudanças do clima global, mas também fontes de
degradação dos recursos naturais.

A desflorestação por meio do fogo não apenas traz consequências a nível local, mas
também a níveis regional e internacional, afecta na degradação da terra que resulta numa
diminuição da produtividade da terra, perdas da biodiversidade para além de destruir as bacias
hidrográficas. (Matimbe, 2015, p.8). Ademais, o solo é empobrecido e, por empobrecer o solo,
aumenta a necessidade de adubação química. Para os pássaros e outros animais, significa a
perda do local em que viviam e muitas vezes a sua morte.

Segundo FAO (2007), em algumas regiões cita-se a perda de vidas humanas, tanto na
população civil, como no corpo dos bombeiros. Em várias regiões do mundo descrevem-se os
efeitos de alguns poluentes na saúde do homem e outros animais.

Lodge (2001) refere que, quando grandes áreas de florestas são destruídas, ocorrem
grandes alterações do clima (temperatura, pluviosidade, humidade de ar, velocidade do vento e
evaporação e pureza do ar), estendendo-se para outras zonas ao redor, devido a reflexão da
radiação solar pela área limpa. As chuvas tornam-se irregulares e o seu volume anual chega a
diminuir. Matimbe (2015, p.9) refere que o desmatamento reduz a cobertura vegetal, causando
degradação das paisagens e contribuindo para o desaparecimento de certas espécies animais.

2.6. Influência das queimadas descontroladas no clima

As projecções sobre as mudanças climáticas e seus impactos sobre os ecossistemas no


geral e sobre as florestas em particular dão uma imagem desoladora atendendo à dependência
da maior parte da população rural (85%) e às actuais taxas (5.6%) de desflorestamento,
conversão de usos de terra e as queimadas descontroladas (Marzoli, 2007).
27

As queimadas interferem directamente na qualidade do ar, dos solos (alteram sua


constituição física, química e biológica), impactam directamente à vegetação e a fauna e podem
comprometer a qualidade dos recursos hídricos. As queimadas variam com o tipo de vegetação,
podendo uma pastagem adubada gerar mais gases (como os óxidos nítricos) do que uma
pastagem que não recebeu fertilizantes. As condições meteorológicas, o relevo e a hora da
queimada são condicionantes da temperatura atingida pelo fogo e do tempo necessário para a
queima total do material vegetal disponível. As queimadas são também associadas ao
desmatamento.

Um aumento significativo de conteúdos de aerossol sobre a região da Inhaca, ao sul de


Moçambique durante os meses de Agosto a Outubro, período da estação seca e de maior
ocorrência de queimadas descontroladas sugerindo que a biomassa queimada representa uma
forte contribuição no conteúdo em aerossol. As queimadas descontroladas nas zonas rurais do
país constituem uma das fontes principais de emissões de poluentes para a atmosfera causando
poluição do ar observando que a queima de biomassa é a principal fonte de partículas
(aerossol) na atmosfera seguida de actividades industriais (Queface, 2003).

Os efeitos dos aerossóis no clima podem ser directos onde, os aerossóis espalham e
absorvem radiação no visível e infravermelho, efeito total onde verifica-se o resfriamento e os
efeitos indirectos servem como núcleos de condensação de nuvens (NCC), o que significa que,
mais NCC leva a mais cobertura de nuvens por fim os efeitos possíveis incluem mudanças no
albedo da Terra e mudanças no ciclo hidrológico.

2.7. Medidas de mitigação das queimadas de]scontroladas

De acordo com Mwitu (2012, pp.37-38), para mitigar as queimadas descontroladas deve-
se evitar fazer queimadas em dias quentes e com muita ventania; conhecer a direcção do vento
antes de atear o fogo e manter as chamas sob vigilância; criar comités de gestão de recursos
naturais para disciplinar o exercício desta prática; elaborar um plano de uso do solo por distrito,
posto administrativo, localidade e povoação para facilitar a responsabilização e controle dos
locais com mais prática de queimadas; realizar campanhas de sensibilização e
consciencialização sobre os males provocados pelas queimadas descontroladas nas
comunidades, divulgando experiências bem-sucedidas e adaptando-as para as outras
comunidades; capacitar professores em matérias de queimadas descontroladas para depois as
transmitirem aos alunos; realizar formação a vários níveis, envolvendo as autoridades e
28

comunidades locais na fiscalização das queimadas descontroladas; criar procedimentos locais


de responsabilização para os infractores.

Nesta senda, Herculano (2015, p.204) refere que Moçambique actualmente tem
promovido várias campanhas de mitigação das queimadas descontroladas a nível de todo país
que de uma forma consistem na consciencialização das populações sobre os procedimentos a
seguir para a prática de queimadas e gestão integrada. Estas campanhas visam:

 Envolver monitores comunitários na realização de palestras sobre a lei de florestas e


fauna bravia, lei do ambiente e a lei de Terra;
 Envolver os agentes comunitários e fiscais no controle e registo de ocorrência de
queimadas e furto de espécies florestais e faunísticas;
 Criar viveiros comunitários para a promoção de actividades de reflorestamento das
árvores afectadas pelas queimadas e o desenvolvimento de espaços verdes.

Estas medidas visam por um lado a conservação das espécies florestais e faunísticas e por
outro lado, visam a conservação do solo em vastas áreas com recurso a proibição de abate a
certas espécies e reposição de espécies.
29

CAPITULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Neste capítulo, faz-se a apresentação, análise e interpretação dos dados, começando da


apresentação dos dados conforme as respostas obtidas por meio do questionário e para terminar
a análise e interpretação que segue com a apresentação de possíveis conclusões obtidas.

3.1. Apresentação dos Resultados

A primeira questão da entrevista estava relacionada ao conceito de queimadas


descontroladas. Com esta questão, tencionava-se saber se os participantes tinham noção do
conceito de queimada descontrolada. Neste sentido, quando foram questionados se já haviam
ouvido falar sobre as queimadas descontroladas, os participantes foram unânimes ao declarar
que sim. Na sequência, quando se procurou saber o que era a queimada descontrolada. Estes
definir como sendo o sistema de queimar sem controlo do fogo.

A segunda questão estava ligada às causas das queimadas descontroladas na localidade


de Munhonha. Com a questão, buscava-se identificar as causas da ocorrência das queimadas
descontroladas naquela localidade. Como resposta, foram apontadas, de um lado, as causas
humanas como a abertura dos campos para a prática da agricultura, caça furtiva e produção do
carvão vegetal. Por outro lado, formam indicadas causas naturais como as descargas eléctricas
(relâmpado).

A terceira questão referia-se a presença ou não dos entrevistados numa situação de


queimada descontrolada. Com a pergunta, pretendia-se averiguar se os participantes já haviam
presenciado uma situação de queimada descontrolada naquela localidade do distrito de
Nicoadala e confirmar a ocorrência de queimada descontrolada naquela localidade. Em caso
afirmativo, procurou-se saber o que o entrevistado havia feito para parar esse fenómeno. Em
relação a essa pergunta, os entrevistados afirmaram que já haviam presenciado a ocorrência de
queimadas descontroladas, todavia alguns não fizeram nada para parar as queimadas, pois das
vezes que presenciaram o fogo era tão intenso que estes sentiram-se impotentes em prestar
apoio com intuito de parar as queimadas.

Ainda sobre a questão acima, destacam-se alguns comentários que mostram que alguns
membros da comunidade têm feito alguma coisa para parar as queimadas descontroladas, como
por exemplo: o uso da água para debelar o fogo, corte da vegetação em perímetros avançados
como forma de limitar a propagação do fogo. Neste grupo, destaca-se também o comentário de
30

um dos entrevistados que refere que o governo local tem-se envolvido na promoção de
campanhas de mobilização da população para não praticar as queimadas.

A quarta questão inclinava-se aos problemas advindos das queimadas descontroladas.


Nesta questão, buscava-se apurar os principais impactos que advinham das queimadas
descontroladas tanto para o ambiente como para o Homem na localidade de Munhonha. Como
resposta, os entrevistados asseveraram que para o meio ambiente as queimadas destroem
árvores, vegetação, causam mortes e migração dos animais para outro habitat, desastres
naturais (erosão e empobrecimento dos solos). Para o Homem, as queimadas destroem
machambas e quando a chama se alastra até a comunidade chega a destruir casas, criando desta
forma muitos danos materiais e até humanos.

A quinta estava relacionada ao nível de degradação florestal devido às queimadas. Aqui


pretendia-se conhecer qual era o nível de degradação da floresta na localidade de Munhonha
devido às queimadas. Nesta pergunta, os entrevistados sem quantificar referiram que as
queimadas têm causado muitos estragos, dentre os quais salientaram a diminuição de muitas
árvores, redução da área florestal e morte de muitas espécies florestais.

A sexta questão focalizava as medidas de prevenção das queimadas descontroladas.


Nesta questão, procurava-se verificar as medidas que os membros da comunidade utilizavam
para evitar as queimadas descontroladas. Diante da questão, os entrevistados declararam que:
evitam queimar a vegetação nos dias de ventos fortes para evitar a propagação do fogo; nos
dias de limpeza das machambas fazem quebra fogo em volta e depois queimam apenas a parte
que precisam de modo a evitar que o fogo atinja as machambas dos vizinhos. Com base nas
respostas de alguns entrevistados, constatou-se apelos que a queimada não poderia ser vista
como uma prática sustentável.

A sétima questão referia-se ao nível de participação da comunidade na redução das


queimadas. Com esta questão pretendia-se saber, de uma forma geral, qual era o nível de
participação da comunidade na redução das queimadas descontroladas. Nesta questão,
constatou-se que a maior parte da comunidade não tem feito nada para a redução das
queimadas descontroladas. Justificam que este fenómeno parte da iniciativa de todos cidadãos,
pois a maioria tem a agricultura como base de sobrevivência e a queimada constitui um método
padrão usado por estes para abertura e limpeza de machambas. Além destes ressaltam ainda a
31

intervenção dos produtores de carvão vegetal que também praticam as queimadas quase em
todos períodos do ano.

A última questão estava relacionada às sugestões para minimizar os impactos das


queimadas descontroladas. Pretendia-se com a questão fazer um levantamento das propostas da
comunidade para estancar as queimadas descontroladas naquela comunidade. Nesta senda, os
entrevistados propuseram algumas recomendações que se resumem na escolha de outros
métodos para abertura dos campos, a prática das queimadas em tempos de pouco vento e com o
espaço devidamente delimitado.

3.2. Análise e Interpretação dos Resultados

3.2.1. Concepções dos moradores de Munhonha sobre queimadas descontroladas.

Na primeira questão levantada, relacionada ao conceito das queimadas descontroladas,


constatou-se que os moradores já haviam ouvido falar acerca das queimadas descontroladas e
definiram como sendo o sistema de queimar sem controlo do fogo. Este conceito assemelha-se
ao proposto por Borges (1992, p.13), segundo o qual “as queimadas descontroladas consistem
no uso de fogo sem controlo sobre qualquer forma de vegetação, podendo ser causada de forma
espontânea ou pelas acções e omissões humanas.” Nesta linha de pensamento, depreende-se
que a população tem noção do que são queimadas descontroladas.

A definição fornecida pela comunidade é essencialmente prática e, em decorrência,


potencialmente polémica, pelo facto de associar a queimada descontrolada ao conceito de uso
do fogo sem controlo, conceito esse atribuído pelo homem. No entanto, esta visão prática é
importante, principalmente ao analisar as medidas de prevenção e controlo para a redução das
queimadas descontroladas.

3.2.2. Causas das queimadas descontroladas na localidade de Munhonha

No que tange às causas das queimadas descontroladas na localidade de Munhonha, os


entrevistados apontaram como sendo as principais causas: a abertura e limpeza dos campos
para a prática da agricultura, a caça, queima das árvores para produção do carvão vegetal e os
relâmpagos.

Assim, deduz-se que na localidade de Munhonha, as queimadas descontroladas provêm


de duas fontes principais, a saber: as naturais e humanas. Contudo, vale salientar que na
localidade de Munhonha raramente ocorrem as queimadas por causas naturais, pois, na maioria
32

das vezes o homem tem sido o responsável por este fenómeno. Neste sentido, dentre as causas
humanas apontadas anteriormente, destaca-se a abertura e limpeza de campos agrícolas. A
figura 2 ilustra a abertura de um campo agrícola com base na queimada na localidade de
Munhonha.

Figura 2:Abertura de campos agrícola com base na queimada em Munhonha.

Fonte: Autor, 2021.

Com base nas respostas dos entrevistados, a não delimitação das áreas a serem queimadas
faz com que o fogo alastre-se para áreas circunvizinhas, acabando por assumir proporções
difíceis de controlar o fogo. Esta situação converge com os resultados obtidos por Matimbe
(2015), ao destacar a abertura e limpeza de campos para a agricultura como a principal causa
das queimadas descontroladas.

O destaque da abertura e limpeza de campos agrícola como a principal causa da


ocorrência da queimada descontrolada neste estudo, provavelmente esteja associada ao facto
desta zona ser potencialmente agrícola, onde predomina agricultura de sequeiro, praticada num
regime de corte e queimada. Além disso, de acordo com Mbanze (2013), esta causa pode estar
relacionado ao facto de que em áreas onde a vegetação do Miombo é a mais predominante,
culturalmente o fogo tem sido usado como a forma mais barata e eficiente na abertura de terras
para cultivo agrícola e outras actividades.

3.2.3. Frequência das queimadas descontroladas e atitudes dos moradores de Munhonha

Em relação à frequência das queimadas descontroladas, os dados fornecidos pelos


entrevistados indicam que a localidade de Munhonha tem sido alvo de queimadas
33

descontroladas. Conforme os mesmos, quase todos anos tem-se registado ocorrência das
queimadas descontroladas, principalmente nos meses de Setembro e Outubro. Estes dados
reafirmam os resultados dos estudos anteriores como de MADER (2003) e Mbanze (2013) ao
indicar Setembro e Outubro como os meses mais críticos das queimadas descontroladas.

Quando os moradores foram questionados o que haviam feito para parar este fenómeno,
constatou-se que na localidade de Munhonha, a maior parte dos moradores não tem feito nada
para parar ou minimizar este problema. Este facto constitui uma grande preocupação, o que
remete a uma análise do papel das estruturas locais na transmissão de informação sobre o risco
e perigo que as queimadas podem trazer tanto para o ambiente como para a comunidade
envolvida. Nesta senda, a falta de informação pode levar à insensibilidade e negligência.
Portanto, o analfabetismo ambiental acaba se constituído como a maior ameaça à
sustentabilidade sócio-ambiental.

De forma a contornar esta situação, Mbanze (2013) afirma que a educação é a melhor
forma de reduzir a ocorrência de queimadas descontroladas em áreas onde o nível de
analfabetismo das comunidades rurais é alto. Em primeiro lugar, as comunidades devem ser
capacitadas para realizar queimadas controladas e, em seguida, deve aprender como minimizar
os riscos de ocorrência de queimadas descontroladas e, por ultimo, devem aprender como
combater os incêndios florestais de forma segura e eficiente, nos períodos em que os riscos de
ocorrência e propagação dos incêndios florestais são altos.

3.2.4. Impactos das queimadas descontroladas na localidade de Munhonha

No que se refere aos problemas que advêm das queimadas descontroladas, os moradores
de Munhonha apontaram os seguintes problemas ambientais: destruição de vegetação com mais
incidência das árvores, erosão e empobrecimento dos solos, morte e migração da fauna que tem
o seu habitat destruído. Além destes problemas, foram indicados alguns problemas humanos
como resultantes das queimadas descontroladas, tais como: a destruição de campos agrícolas,
habitações e outros bens materiais, além de perda de vidas humanas.

Matimbe (2015) encontrou resultados semelhantes dos elencados acima. De acordo com
o mesmo, as queimadas descontroladas têm afectado negativamente a fertilidade dos solos o
que chega a reduzir a produção e produtividade agrícola. Além disso, reduz a área florestal e
tem destruído machambas que contém produtos alimentares que por sua vez servem como
alimento para a população.
34

Além dos problemas citados, Fearnside (1993) acrescenta outros impactos ambientais
vindo das queimadas descontroladas, tais como: alterações no equilíbrio dos ecossistemas;
desertificação ambiental; circulação de águas superficiais e subterrâneas; mudança da
temperatura e humidade do solo; manutenção e controlo de fauna e flora; diminuição da
biodiversidade; emissão de gases poluentes; piora a qualidade do ar; contribui para o aumento
da poluição do ar; intensifica o efeito estufa e o aquecimento global.

Daí que é imperioso a mudança de atitude da comunidade de Munhonha para contornar a


situação, pois uso indiscriminado do fogo nos últimos anos vem não somente provocando
danos ao ambiente e a qualidade de vida, mas também pode comprometer a sustentabilidade
das futuras gerações.

2.2.5. Nível de Degradação Florestal devido às Queimadas

No tocante ao nível de degradação florestal devido às queimadas descontroladas, não foi


possível estimar o nível de degradação de forma quantitativa, mas os dados fornecidos
permitem notar a degradação da floresta devido às queimadas. Como se pode visualizar na
figura abaixo:

Figura 3:Degradação da paisagem e dos recursos após ocorrência da queimada na


localidade de Munhonha

Fonte: Autor, 2021

Em Munhonha o elevado nível de degradação florestal verificado nos últimos anos como
resultado das queimadas contribuiu bastante para a altercação da paisagem e redução de
espécies florestais por causa da destruição de habitat. Esta destruição tem outros efeitos, como
35

por exemplo a extinção de espécies que coexistem ou dependem da existência de outras


espécies, o que resulta no colapso de todo um ecossistema. (Mwitu, 2012).

A semelhança da Localidade de Munhonha, o país em si conforme versa Hatton e


Oglethorpe (2001) a área florestal tende a diminuir a um ritmo relativamente acelerado, não só
pelo aumento de áreas de assentamentos humanos, derruba para fins agro-pecuários, mas
também devido à prática de queimadas descontroladas. O autor acrescenta ainda entre 6 a 10
milhões de hectares de florestas são queimadas anualmente, em Moçambique, o equivalente a 7
e 12% do território nacional; entre 9 a 15 milhões de outras áreas são queimadas anualmente, o
equivalente de 11,2% e 18,7% do território nacional.

2.2.6. Medidas de prevenção das queimadas adoptadas pelos moradores de Munhonha

No que concerne às medidas adoptadas pelos entrevistados para evitar a ocorrência das
queimadas descontroladas, constatou-se uma divisão de opiniões. Por um lado, uma parte dos
entrevistados pratica as queimadas nos dias de pouco vento de modo a evitar a propagação do
fogo e fazem antes um quebra-fogo em volta da machamba sempre que pretendem realizar a
queimada.

Nesta perspectiva, percebe-se que as medidas indicadas por estes moradores da


localidade de Munhonha coincidem com as medidas previstas por Mwitu (2012, p.37), ao
firmar que “não se deve fazer queimadas em dias quentes e com muita ventania; e que é
necessário conhecer a direcção do vento antes de atear o fogo e manter as chamas sob
vigilância.” Assim, este grupo de entrevistados demonstrou ter conhecimentos sobre as técnicas
de prevenção contra as queimadas descontroladas.

Por outro lado, outra parte dos entrevistados limitaram-se apenas a afirmar que não
fazem queimadas descontroladas, sem no entanto, mencionar as medidas de prevenção que tem
adoptado para o efeito. A omissão neste contexto leva a crer que os entrevistados não têm um
conhecimento sólido das medidas de prevenção contra as queimadas descontroladas.

Assim, pode-se concluir que apesar de uma parte da população possuir informações sobre
as medidas de prevenção contra as queimadas descontroladas, estas não abrangem toda a
população. Desse modo, não se pode mitigar as queimadas descontroladas se uma parte da
população não possui informação sobre as medidas de prevenção e os males provocados por
este fenómeno na localidade de Munhonha.
36

2.2.6. Nível de participação da comunidade na redução de queimadas descontroladas

Quanto ao nível de participação da comunidade na redução de queimadas


descontroladas, os dados fornecidos pelos entrevistados demonstram uma fraca participação da
comunidade, visto que estes não têm ajudado na mitigação das queimadas descontroladas. Este
facto pode estar relacionado ao baixo nível de disseminação de informação e falta de
conhecimento sobre os impactos deste fenómeno, como foi referenciado anteriormente.

Entretanto, é consensualmente reconhecida a relevância da participação da comunidade


para implementação do plano de acção de prevenção e controlo às queimadas descontroladas a
curto prazo na localidade pesquisada, como bem recomenda MICOA (2008) ao reconhecer que
é necessário envolver as autoridades locais e as comunidades nas acções de formação e
fiscalização sobre queimadas, visto que a participação da comunidade é um ingrediente
essencial para a implementação com sucesso das acções desenhadas.

Portanto, nota-se aqui a necessidade de haver uma gestão participativa e inclusiva


reduzindo assim, o elevado índice de queimadas descontroladas na localidade de Munhonha.

2.2.8. Sugestões dos moradores de Munhonha para a minimização dos impactos das
queimadas descontroladas

Quando questionados os moradores de Munhonha sobre o que sugeriam ou


recomendariam para as pessoas que praticavam as queimadas descontroladas, estes limitaram-
se a afirmar apenas que gostariam que todas as pessoas daquela localidade não praticassem
queimadas descontroladas, ou seja, que evitassem queimar de forma descontrolada, sem no
entanto apontar uma estratégia ou técnica específica de prevenção contra as queimadas
descontroladas. Nesta perspectiva, o facto dos membros das comunidade não indicarem uma
sugestão específica de como fazer para parar os praticantes das queimadas descontroladas, leva
a crer que estes embora almejem fazer com que os membros da comunidade parem de praticar
as queimadas eles não sabem o que tem de se fazer especificamente.

Sobre este assunto Mwitu (2012), de forma genérica, refere que é preciso realizar
campanhas de sensibilização e consciencialização pública sobre os males provocados pelas
Queimadas Descontroladas nas comunidades, divulgando experiências bem-sucedidas e
adaptando-as para as outras comunidades; capacitar professores em matérias de Queimadas
Descontroladas para depois as transmitirem aos alunos; realizar formação a vários níveis,
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envolvendo as autoridades e comunidades locais na fiscalização das Queimadas


Descontroladas e criar procedimentos locais de responsabilização para os infractores.

Nesta linha de pensamento, MICOA (2008), acrescenta que se deve adoptar práticas
eficientes, rentáveis e sustentáveis de abertura de campos agrícolas e produção de carvão que
evitem as queimadas descontroladas; desenvolver e divulgar outras técnicas sustentáveis de
caça, colecta de mel e de afugentação de animais ferozes que não utilizem necessariamente o
fogo como meio auxiliar; buscar outras fontes alternativas de produção de energia como é o
caso de painéis solares, fogões e fornos melhorados de modo a reduzir a pressão sobre os
recursos florestais.

Além do que foi sugerido acima, seria oportuno que se produzisse um spot radial,
cartazes e panfletos com textos em língua local para facilitar a divulgação de mensagem sobre
as maiores consequências das queimadas descontroladas.
38

4. Conclusão

Chegado ao término do estudo, concluiu-se que Moçambique não possui dados


sistematizados sobre queimadas florestais, mas se sabe que todo o ano vastas áreas com
potencial florestal e faunístico são consumidos pelo fogo devido a factores naturais e humanos.

As queimadas descontroladas constituem um problema que provém de várias causas que


vão desde as naturais até as que resultam da actividade humana. Desta forma, as consequências
e/ou impactos negativos das queimadas descontroladas constituem preocupação nacional e
internacional por serem não só fontes de emissões de gases com o efeito estufa que contribuem
para as mudanças do clima global, mas também fontes de degradação dos recursos naturais.

Com base nos resultados deste estudo, conclui-se que na localidade de Munhonha, o
homem é considerado o principal causador das queimadas descontroladas, sendo a queima para
limpeza de campos agrícolas, caça e produção de carvão vegetal as principais causas no
período em estudo. A maior ocorrência das queimadas descontroladas é resultante da falta de
conhecimento das técnicas de prevenção e consequências que estas podem trazer tanto ao meio
ambiente como para o homem.

Como impacto das queimadas descontroladas na localidade de Munhonha destaca-se a


nível ambiental: a destruição de vegetação, erosão, empobrecimento dos solos, morte e
migração da fauna e, mudança da temperatura. Por outro lado, na mesma área de estudo, a
queimadas proporcionam problemas ao homem na medida em que condicionam a destruição de
campos agrícolas, habitações e outros bens materiais, a baixa produtividade agrícola resultante
da degradação de solos.
39

5. Referências bibliográficas

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42

Apêndice

 Guião de entrevista
43

Universidade Licungo
Faculdade de Ciências e Tecnologias

O presente questionário refere-se à realização de um projecto intitulado: Impactos socioambientais das


queimadas descontroladas: caso da localidade de Munhonha, distrito de Nicoadala (2020-2021) com
vista realização de uma Monografia Científica que envolve a comunidade de Munhonha. Desta forma,
apela-se ao caro entrevistado que responda com veracidade, pois as respostas serão de carácter
fidedigno e confidencial.

Apêndice 01: Guião de Entrevista Dirigido a População Residente na Localidade de


Munhonha

1. Já ouviu falar sobre as queimadas descontroladas? Se sim o que é?


2. Quais são as causas das queimadas descontroladas?
3. Já presenciaste a ocorrência das queimadas descontroladas na sua localidade? Se sim, o que
tem feito para parar este fenómeno?
4. Na sua visão, quais são os problemas que podem advir das queimadas descontroladas, para
o meio ambiente e para o homem?
5. Quais são os níveis de degradação florestal por via de queimadas descontroladas que a
localidade de Munhonha apresenta.
6. Que medidas têm tomado para evitar a ocorrência das queimadas descontroladas?
7. Qual é o nível da participação da comunidade na redução das queimadas descontroladas?
8. O que sugerias ou recomendarias para as pessoas que praticam as queimadas
descontroladas de modo a parar com este fenómeno.

FIM

Obrigado pela atenção dispensada!

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