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José Cassamo
Quelimane
2021
José Cassamo
Quelimane
2021
Índice
Lista de abreviaturas..................................................................................................................iii
Lista de figuras...........................................................................................................................iv
Declaração...................................................................................................................................v
Dedicatória.................................................................................................................................vi
Agradecimentos........................................................................................................................vii
Resumo....................................................................................................................................viii
Abstract......................................................................................................................................ix
INTRODUÇÃO........................................................................................................................10
Delimitação da Pesquisa...........................................................................................................11
Problematização........................................................................................................................11
Justificativa...............................................................................................................................12
Objectivos do trabalho..............................................................................................................13
Objecto geral.............................................................................................................................13
Objectivos específicos...............................................................................................................13
1.3.2. Entrevista....................................................................................................................16
1.5.2.1. Clima.......................................................................................................................18
1.5.2.2. Relevo.....................................................................................................................19
1.5.2.3. Solos.......................................................................................................................19
1.5.3.2. Agricultura..............................................................................................................21
1.5.3.3. Pecuária...................................................................................................................21
2.4. Principais causas das mudanças da cobertura florestal por via de queimadas em
Moçambique.......................................................................................................................25
4. Conclusão...........................................................................................................................38
5. Referências bibliográficas..................................................................................................39
Apêndice...................................................................................................................................42
iii
Lista de abreviaturas
Lista de figuras
Declaração
Declaro que esta monografia científica é resultado da minha investigação e das orientações do
meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas, nos apêndices e na bibliografia final. Declaro ainda que, este
trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau
académico.
Dedicatória
Dedico à minha família, especialmente a minha esposa, Saquita João Almolado, que me
incentivou e me ajudou no meu percurso estudantil.
Agradecimentos
Um agradecimento especial vai ao meu supervisor, Dr. José Mariano Nicumua, pela orientação
e paciência que teve no âmbito da realização da monografia.
Aos meus colegas da carteira pelo apoio que me facultaram durante a formação.
Resumo
Abstract
The accomplishment of the work aimed in general to analyze the socio-environmental impacts
of uncontrolled fires in the locality of Munhonha, thus, for the scope of this, the following
specific objectives were outlined, to identify the causes of uncontrolled burning, to describe the
main socio-environmental problems resulting from uncontrolled burning and to propose
measures that meet the reduction of uncontrolled fires in the locality of Munhonha. The study
focused on the locality of Munhonha, Nicoadala District, Zambézia Province – Mozambique,
which fits into the line of environmental research and sustainable development. However, it
was concluded that the locality of Munhonha has faced several problems that arise from
uncontrolled fires in which for the environment stands out the destruction of vegetation,
erosion, impoverishment of soils, death and migration of fauna. In the same order, for man they
cause the destruction of fields, housing and other material goods, the low agricultural
productivity resulting from the degradation of soils.
INTRODUÇÃO
O interesse na escolha deste tema surge no âmbito de observações realizadas pelo autor
sobre práticas de queimadas descontroladas efectuadas pela população local. Nestas
observações, constatou-se que a população realizava as queimadas sem nenhum conhecimento
das medidas de prevenção e conservação do meio natural nem dos impactos que estas práticas
podiam trazer, tanto para o meio como para o Homem.
No que tange à estrutura, a monografia é constituída por três capítulos, no qual antes da
descrição dos capítulos apresenta-se a introdução, delimitação do tema, a problematização
juntamente a pergunta de partida, objectivos e justificativa. Assim sendo, o capítulo I aborda
sobre os procedimentos metodológicos e descrição da área de estudo. O capítulo II versa sobre
a revisão da literatura. O capítulo III trata da apresentação, análise e interpretação dos dados e,
adiante a apresentação das conclusões, as sugestões e as referências bibliográficas.
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Delimitação da Pesquisa
Problematização
Na perspectiva de Cervo e Bervian (2002, p.87) problema é uma questão que envolve
uma dificuldade teórica ou prática para qual se deve encontrar uma solução.
Justificativa
O estudo apresenta uma grande relevância social devido a sua importância no âmbito
social e ambiental. Neste sentido, a redução das queimadas descontroladas pela população na
localidade de Munhonha, pode apontar para uma melhoria na produtividade do solo e maior
conservação da biodiversidade.
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Objectivos do trabalho
Conforme Bello (2005) os objectivos representam o que o pesquisador quer atingir com a
realização da pesquisa. Para o autor, o objectivo é sinónimo de meta, fim. Nesta perspectiva, o
trabalho apresenta objectivo geral e objectivos específicos, como abaixo se descreve:
Objecto geral
Analisar os impactos sócio-ambientais das queimadas descontroladas na localidade de
Munhonha.
Objectivos específicos
Assim, nesta fase da pesquisa, foram indicadas todas as directrizes com vista a alcançar o
objectivo, partindo da classificação da pesquisa, seguido dos métodos de abordagem e
procedimento e da definição das técnicas e instrumentos de recolha de dados, o universo e
amostra, aspectos éticos e resultados esperados.
No que tange à natureza, a pesquisa é aplicada. Este tipo de pesquisa segundo, Prodonov
e Freitas (2013) “tem como objectivo gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à
solução de problemas específicos, pois envolve, verdades e interesses locais”.
A pesquisa bibliográfica permitiu a busca e análise das diversas obras literárias que
serviram de base para sustentar o assunto em estudos disponíveis em manuais, artigos
científicos, dissertações e relatórios auxiliados pela busca na internet. Paralelamente, em
relação aos dados colectados, baseando-se na confiabilidade destas onde todas foram citadas ao
longo do trabalho e mencionadas nas referências bibliográficas.
Do ponto de vista dos objectivos, a pesquisa é explicativa, conforme Gil (2008, p.47) “a
pesquisa explicativa visa identificar os factores que determinam ou contribuem para a
ocorrência dos fenómenos, aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o
porquê das coisas.”
Com base no pressuposto acima avançado, o método explicativo foi empregue para numa
primeira fase para identificar os impactos sócio-ambientais das queimadas descontroladas. Já
levantados os factores, numa segunda fase como base na pesquisa explicativa fez-se a
identificação das causas que levam a prática de queimadas descontroladas.
Vai contar com levantamento de obras que abordam sobre os impactos das queimadas
descontroladas e entrevista com líderes comunitários e moradores da localidade de Munhonha.
elaborado pelo pesquisador. Sendo assim, neste trabalho usou-se a observação e a entrevista
semi-estruturada.
1.3.1. Observação sistemática
Com base nesta técnica, o autor incorporou-se na comunidade fazendo-se passar como
membro desta, e procurou ver e vivenciar casos concretos de práticas de queimadas
descontroladas.
1.3.2. Entrevista
Para Lakatos e Marconi (2003, p.195), “a entrevista é um encontro entre duas pessoas, a
fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma
conversação de natureza profissional.”
Esta é uma técnica de recolha de dado que estabelece uma interacção entre pesquisador e
o pesquisado. Segundo Selltiz (1967, citado em Gil, 2008), “enquanto técnica de colecta de
dados, a entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as
pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem
como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes” (p.109).
Neste sentido, a opção por esta técnica deveu-se ao facto de esta poder ser utilizada com
todos os segmentos da população: analfabetos ou alfabetizados e oferecer flexibilidade muito
maior, posto que o entrevistador pode esclarecer o significado das perguntas e adaptar mais
facilmente às pessoas e às circunstâncias em que se desenvolve a entrevista.
Para Silva e Menezes (2001, p.32), “população (ou universo da pesquisa) é a totalidade
de indivíduos que possuem as mesmas características definida para um determinado estudo”.
Neste sentido, o universo ou população é representada por todos residentes da localidade de
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Segundo Turato (2003, p.351) a palavra amostra quer dizer uma porção, um pedaço, um,
fragmento, o qual é apresentado para demonstrar propriedade da natureza ou qualidade de algo.
Na linguagem científica das pesquisas com seres humanos, amostra significa uma parcela
seleccionada segundo uma de terminada conveniência, extraída de uma população de sujeito,
consistindo assim num subconjunto do universo.
Assim, para facilitar a colecta de dados foi usada a amostra não probabilística
intencional, conforme o critério proposto por Fachin (2001), pois segundo o autor, este tipo de
amostra selecciona indivíduos que para amostra representem um bom julgamento da
população/universo. Neste sentido, o critério de intencionalidade usado na escolha foi: ser
membro da comunidade entrevistada e depender da floresta para a sua subsistência. A amostra
para esta pesquisa foi de 25 indivíduos, dentre os quais, 22 residentes e 3 líderes locais.
A recolha de informação inerente à prossecução deste trabalho de investigação teve por base
o trabalho de campo na localidade de Munhonha. Nesta secção , faz-se o levantamento da situação
ambiental e socioeconómico que abrange a área de estudo. Assim sendo, a situação ambiental
envolve a descrição do clima, relevo, solo, a fauna e flora, por outro lado, a situação
socioeconómica envolve a cultura e sociedade, agricultura e pecuária.
Por sua vez, o distrito de Nicoadala está localizado a Sudoeste da Província da Zambézia,
fazendo fronteira a Norte com os Distritos de Mocuba e Namacurra, a Oeste com os Distritos
de Morrumbala e Mopeia e a Sul com o Distrito de Inhassunge e Oceano Índico (MAE, 2014).
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total anual da precipitação, sendo o mês de Janeiro o mais chuvoso com precipitação média
mensal de cerca de 280 mm; e um período seco entre Junho a Outubro com médias mensais de
precipitação inferiores a 50 mm.
1.5.2.2. Relevo
Araújo (1999, p.27) aborda que o território moçambicano de acordo com sua estrutura,
cerca da metade (44%) do território moçambicano é constituído pela planície, com altitudes
inferiores a 200m. Esta planície, que se desenvolve ao longo da costa, é uma faixa estreita entre
a foz do rio Rovuma e o delta do Rio Zambeze.
Parafraseando Araújo (1999), o MICOA (2012, p.5) sustenta que Distrito de Nicoadala
situa-se maioritariamente na zona das grandes planícies costeiras do país, com altitudes
inferiores a 200 m e que diminuem suavemente do interior para a costa. A maior parte do
distrito possui, no entanto, cotas inferiores a 100 m (cerca 95% da área total do mesmo) e
apenas pontualmente ocorrem alguns cumes com altitudes compreendidas entre 100 e 500 m.
1.5.2.3. Solos
Solos de aluviões argilosos em diferentes fases (FG) ocorrem também no interior do distrito.
Estes solos apresentam, em geral, fertilidade boa a moderada.
Nesta senda, a flora do distrito de Nicoadala apresenta-se como sendo bastante rica e
diversificada, podendo-se aqui encontrar espécies de alto valor comercial das quais se destacam
a Umbila – Pterocarpusangolensis, Nhacuada - Swatziamadagascariensis, Chanfuta –
Afzeliaquanzensis, Jambire – Milletiastuhlmannii, Umbaua - Khayanyasica, Muanga -
Pericopsisangolensis e Monzo - Combretum imberbe (ibidem, p.2).
O MAE (2014,p.5) afirma que a cultura que envolve o povoado residente na localidade
de Munhonha é caracterizada pela existência de vários grupos que praticam diverso tipo de
danças e cânticos típicos de toda a região. E na juventude, destaca-se a existência de grupos
activistas e associações juvenis que se de dedicam a motivação boas práticas entre os seus
concidadãos. Desta forma, têm sido promovidas várias actividades, nomeadamente a
participação no Festival Nacional de Dança Popular, o fomento do associativismo juvenil e de
grupos culturais, bem como o apoio ao desenvolvimento das artes plásticas, em particular a
escultura.
1.5.3.2. Agricultura
1.5.3.3. Pecuária
Neste capítulo faz-se uma abordagem dos conceitos ligados ao conteúdo que se propôs a
discutir, referentes aos impactos sócio-ambientais das queimadas descontroladas. Pretendendo-
se de certa forma mostrar informações escritas por diferentes autores em volta do tema em
estudo como forma de elucidar determinados conceitos e abordagens.
De uma forma genérica, Borges (1992, p.13) define a queimada descontrolada como
sendo “o uso de fogo sem controlo sobre qualquer forma de vegetação, podendo ser causada de
forma espontânea ou pelas acções e omissões humanas.” Já de forma restrita específica, Mwitu,
(2012, p.36), refere que a “queimada descontrolada consiste em queimar o mato por
negligência ou acidentalmente sem nenhum controlo.” Nesta perspectiva, pode-se perceber que
a queimada descontrolada diz respeito à destruição do mato ou floresta por meio do fogo quer
seja por negligência ou não. Este conceito é restritivo na medida que em limita a queimada
descontrolada apenas ao contexto de mato ou floresta.
Estudos realizados por Saket (1999), MADER (2003) e MICOA (2007) revelam que
cerca de 6 a 15 milhões de hectares (ha) de florestas eram queimados anualmente em Moçambique
e entre 9 a 15 milhões de ha de outras áreas. Geralmente cerca de 90 % das queimadas são
resultados das actividades humanas e as restantes 10 % são geradas por causas naturais e
desconhecidas. Normalmente, mais de 80% dos incêndios ocorrem na época seca, que
corresponde aos meses de Junho a Setembro (Mbanze, 2013).
O sector florestal tem uma contribuição substancial para a economia, emprego e serviço
da sociedade. Como tal, a importância das florestas é caracterizada pelos múltiplos produtos e
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serviços que estas providenciam e são consideradas como a herança dos povos e nações
(Byron, 1996, citado em Matimbe, 2015, p.13).
A FAO (1993) refere que as florestas providenciam múltiplos benefícios a nível local,
nacional e global. Esta organização refere ainda que alguns desses benefícios dependem da
existência das florestas não perturbadas ou as que estão sujeitas à mínima interferência.
Nesta linha de ideia, a FAO (1985) refere que as florestas desempenham um papel vital
na sustentabilidade do ambiente natural e humano, criando condições para o desenvolvimento
de habitat favoráveis à fauna e ajudam a estabilizar outros ecossistemas, dando extrema
contribuição na mudança da biodiversidade. A organização acrescenta ainda que as florestas
são uma fonte imediata de produtos essenciais para as populações rurais e urbanas sendo
importante recurso à economia nacional.
Ainda sobre este assunto Lamprecht (1990) diz que as florestas desempenham diversas
funções relacionada com a agricultura e pecuária, para além destes terem grande vantagem sob
o ponto de vista económico fornecer produtos homogéneos, tanto sob o aspecto das espécies de
madeira como no tocante à distribuição de rendimento. As florestas também proporcionam
vários benefícios ambientais tais como a conservação da biodiversidade, a prevenção da
erosão, o arresto do carbono e a protecção das bacias hidrográficas, e desempenham um papel
importante na mitigação e adaptação perante as mudanças climáticas (Programa Nacional de
apoio ao Sector de Florestas em Moçambique, 2009).
constituem causas naturais os relâmpagos e faíscas, que constituem principais focos, e ocorrem
em locais de vegetação seca devastando áreas extensas. Estes casos registam-se com pouca
frequência em Moçambique. Nesta perspectiva, Mbanze (2013) refere que em todo o mundo,
inclusive Moçambique, o homem é apontado como o principal causador das queimadas
descontroladas. Mesmo para a maior parte das causas, consideradas como desconhecidas,
acredita-se que o homem esteja envolvido.
Ainda de acordo com o autor acima citado, existem causas que estão relacionadas
directamente com a ignição do material combustível e aquelas que indirectamente podem
impactar não somente no surgimento da queimada descontrolada, mas também na sua
severidade, frequência e extensão. Dentre as causas indirectas, destaca-se o crescimento
populacional, que tem como consequência maior pressão no uso e aproveitamento de terra
(FAO, 2007).
De acordo com a FAO (2007), as principais causas que concorrem directamente para a
ocorrência das queimadas descontroladas no continente africano são a limpeza de terra para
agricultura (agricultura de corte e queima), negligencia, caça, colecta de mel, fogueiras
abandonadas por campistas, descuidos na queima prescrita, incendiários (normalmente devido
a conflitos de uso e aproveitamento da terra). Hough (1992 citado em Mbanze 2013), adiciona
a queima para estimular determinados produtos florestais e afugentar animais selvagens em
algumas vilas.
2.4. Principais causas das mudanças da cobertura florestal por via de queimadas em
Moçambique
2.4.1. Exploração de lenha e fabrico de carvão
Marzoli (2007) refere que, a agricultura tem sido indicada várias vezes como uma das
principais causas do desmatamento em Moçambique. Os impactos directos resultam da
conversão directa de florestas para áreas agrícolas permanentes ou agricultura itinerante sobre
queimadas. Os efeitos indirectos sobre a floresta incluem uma fase de transição em que é
extraída a madeira nobre, seguida de extracção de lenha e carvão, que se beneficiam do acesso
aberto pelos caminhos para a exploração madeireira. Estas áreas são mais tarde utilizadas como
áreas agrícolas sugerindo, mais uma vez que a agricultura e a exploração de combustíveis
lenhosos trabalham em combinação sobre a mudança da cobertura florestal.
Actualmente, existe uma forte tendência dos incêndios florestais serem observados
numa perspectiva de agentes causadores de desgraças ao ambiente e ao homem em geral. Pois,
o uso indiscriminado do fogo por populações carentes, aliado a inexistência ou fraca aplicação
de penalidades em muitos países, fez com que os efeitos negativos do fogo superassem os
positivos e o fogo passasse a ser visto como um inimigo da humanidade moderna.
Uma das grandes consequências dos incêndios florestais e a emissão de vários gases e
partículas sólidas, que contribuem para a poluição da atmosfera em nível local, regional e
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global (Mbanze, 2013). No ar, a emissão de gases tóxicos e cancerígenos contribuem para o
efeito estufa, para o aquecimento da terra e alteram o clima e o regime de chuvas. Além disso,
durante a queimada, grandes quantidades de biomassa, particularmente a biomassa herbácea,
arbustos, folhas, ramos e troncos mortos são carbonizados e seus efeitos são desastrosos no
meio ambiente. (Fra, 2010 citado em Matimbe, 2015).
A desflorestação por meio do fogo não apenas traz consequências a nível local, mas
também a níveis regional e internacional, afecta na degradação da terra que resulta numa
diminuição da produtividade da terra, perdas da biodiversidade para além de destruir as bacias
hidrográficas. (Matimbe, 2015, p.8). Ademais, o solo é empobrecido e, por empobrecer o solo,
aumenta a necessidade de adubação química. Para os pássaros e outros animais, significa a
perda do local em que viviam e muitas vezes a sua morte.
Segundo FAO (2007), em algumas regiões cita-se a perda de vidas humanas, tanto na
população civil, como no corpo dos bombeiros. Em várias regiões do mundo descrevem-se os
efeitos de alguns poluentes na saúde do homem e outros animais.
Lodge (2001) refere que, quando grandes áreas de florestas são destruídas, ocorrem
grandes alterações do clima (temperatura, pluviosidade, humidade de ar, velocidade do vento e
evaporação e pureza do ar), estendendo-se para outras zonas ao redor, devido a reflexão da
radiação solar pela área limpa. As chuvas tornam-se irregulares e o seu volume anual chega a
diminuir. Matimbe (2015, p.9) refere que o desmatamento reduz a cobertura vegetal, causando
degradação das paisagens e contribuindo para o desaparecimento de certas espécies animais.
Os efeitos dos aerossóis no clima podem ser directos onde, os aerossóis espalham e
absorvem radiação no visível e infravermelho, efeito total onde verifica-se o resfriamento e os
efeitos indirectos servem como núcleos de condensação de nuvens (NCC), o que significa que,
mais NCC leva a mais cobertura de nuvens por fim os efeitos possíveis incluem mudanças no
albedo da Terra e mudanças no ciclo hidrológico.
De acordo com Mwitu (2012, pp.37-38), para mitigar as queimadas descontroladas deve-
se evitar fazer queimadas em dias quentes e com muita ventania; conhecer a direcção do vento
antes de atear o fogo e manter as chamas sob vigilância; criar comités de gestão de recursos
naturais para disciplinar o exercício desta prática; elaborar um plano de uso do solo por distrito,
posto administrativo, localidade e povoação para facilitar a responsabilização e controle dos
locais com mais prática de queimadas; realizar campanhas de sensibilização e
consciencialização sobre os males provocados pelas queimadas descontroladas nas
comunidades, divulgando experiências bem-sucedidas e adaptando-as para as outras
comunidades; capacitar professores em matérias de queimadas descontroladas para depois as
transmitirem aos alunos; realizar formação a vários níveis, envolvendo as autoridades e
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Nesta senda, Herculano (2015, p.204) refere que Moçambique actualmente tem
promovido várias campanhas de mitigação das queimadas descontroladas a nível de todo país
que de uma forma consistem na consciencialização das populações sobre os procedimentos a
seguir para a prática de queimadas e gestão integrada. Estas campanhas visam:
Estas medidas visam por um lado a conservação das espécies florestais e faunísticas e por
outro lado, visam a conservação do solo em vastas áreas com recurso a proibição de abate a
certas espécies e reposição de espécies.
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Ainda sobre a questão acima, destacam-se alguns comentários que mostram que alguns
membros da comunidade têm feito alguma coisa para parar as queimadas descontroladas, como
por exemplo: o uso da água para debelar o fogo, corte da vegetação em perímetros avançados
como forma de limitar a propagação do fogo. Neste grupo, destaca-se também o comentário de
30
um dos entrevistados que refere que o governo local tem-se envolvido na promoção de
campanhas de mobilização da população para não praticar as queimadas.
intervenção dos produtores de carvão vegetal que também praticam as queimadas quase em
todos períodos do ano.
das vezes o homem tem sido o responsável por este fenómeno. Neste sentido, dentre as causas
humanas apontadas anteriormente, destaca-se a abertura e limpeza de campos agrícolas. A
figura 2 ilustra a abertura de um campo agrícola com base na queimada na localidade de
Munhonha.
Com base nas respostas dos entrevistados, a não delimitação das áreas a serem queimadas
faz com que o fogo alastre-se para áreas circunvizinhas, acabando por assumir proporções
difíceis de controlar o fogo. Esta situação converge com os resultados obtidos por Matimbe
(2015), ao destacar a abertura e limpeza de campos para a agricultura como a principal causa
das queimadas descontroladas.
descontroladas. Conforme os mesmos, quase todos anos tem-se registado ocorrência das
queimadas descontroladas, principalmente nos meses de Setembro e Outubro. Estes dados
reafirmam os resultados dos estudos anteriores como de MADER (2003) e Mbanze (2013) ao
indicar Setembro e Outubro como os meses mais críticos das queimadas descontroladas.
Quando os moradores foram questionados o que haviam feito para parar este fenómeno,
constatou-se que na localidade de Munhonha, a maior parte dos moradores não tem feito nada
para parar ou minimizar este problema. Este facto constitui uma grande preocupação, o que
remete a uma análise do papel das estruturas locais na transmissão de informação sobre o risco
e perigo que as queimadas podem trazer tanto para o ambiente como para a comunidade
envolvida. Nesta senda, a falta de informação pode levar à insensibilidade e negligência.
Portanto, o analfabetismo ambiental acaba se constituído como a maior ameaça à
sustentabilidade sócio-ambiental.
De forma a contornar esta situação, Mbanze (2013) afirma que a educação é a melhor
forma de reduzir a ocorrência de queimadas descontroladas em áreas onde o nível de
analfabetismo das comunidades rurais é alto. Em primeiro lugar, as comunidades devem ser
capacitadas para realizar queimadas controladas e, em seguida, deve aprender como minimizar
os riscos de ocorrência de queimadas descontroladas e, por ultimo, devem aprender como
combater os incêndios florestais de forma segura e eficiente, nos períodos em que os riscos de
ocorrência e propagação dos incêndios florestais são altos.
No que se refere aos problemas que advêm das queimadas descontroladas, os moradores
de Munhonha apontaram os seguintes problemas ambientais: destruição de vegetação com mais
incidência das árvores, erosão e empobrecimento dos solos, morte e migração da fauna que tem
o seu habitat destruído. Além destes problemas, foram indicados alguns problemas humanos
como resultantes das queimadas descontroladas, tais como: a destruição de campos agrícolas,
habitações e outros bens materiais, além de perda de vidas humanas.
Matimbe (2015) encontrou resultados semelhantes dos elencados acima. De acordo com
o mesmo, as queimadas descontroladas têm afectado negativamente a fertilidade dos solos o
que chega a reduzir a produção e produtividade agrícola. Além disso, reduz a área florestal e
tem destruído machambas que contém produtos alimentares que por sua vez servem como
alimento para a população.
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Além dos problemas citados, Fearnside (1993) acrescenta outros impactos ambientais
vindo das queimadas descontroladas, tais como: alterações no equilíbrio dos ecossistemas;
desertificação ambiental; circulação de águas superficiais e subterrâneas; mudança da
temperatura e humidade do solo; manutenção e controlo de fauna e flora; diminuição da
biodiversidade; emissão de gases poluentes; piora a qualidade do ar; contribui para o aumento
da poluição do ar; intensifica o efeito estufa e o aquecimento global.
Em Munhonha o elevado nível de degradação florestal verificado nos últimos anos como
resultado das queimadas contribuiu bastante para a altercação da paisagem e redução de
espécies florestais por causa da destruição de habitat. Esta destruição tem outros efeitos, como
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No que concerne às medidas adoptadas pelos entrevistados para evitar a ocorrência das
queimadas descontroladas, constatou-se uma divisão de opiniões. Por um lado, uma parte dos
entrevistados pratica as queimadas nos dias de pouco vento de modo a evitar a propagação do
fogo e fazem antes um quebra-fogo em volta da machamba sempre que pretendem realizar a
queimada.
Por outro lado, outra parte dos entrevistados limitaram-se apenas a afirmar que não
fazem queimadas descontroladas, sem no entanto, mencionar as medidas de prevenção que tem
adoptado para o efeito. A omissão neste contexto leva a crer que os entrevistados não têm um
conhecimento sólido das medidas de prevenção contra as queimadas descontroladas.
Assim, pode-se concluir que apesar de uma parte da população possuir informações sobre
as medidas de prevenção contra as queimadas descontroladas, estas não abrangem toda a
população. Desse modo, não se pode mitigar as queimadas descontroladas se uma parte da
população não possui informação sobre as medidas de prevenção e os males provocados por
este fenómeno na localidade de Munhonha.
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2.2.8. Sugestões dos moradores de Munhonha para a minimização dos impactos das
queimadas descontroladas
Sobre este assunto Mwitu (2012), de forma genérica, refere que é preciso realizar
campanhas de sensibilização e consciencialização pública sobre os males provocados pelas
Queimadas Descontroladas nas comunidades, divulgando experiências bem-sucedidas e
adaptando-as para as outras comunidades; capacitar professores em matérias de Queimadas
Descontroladas para depois as transmitirem aos alunos; realizar formação a vários níveis,
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Nesta linha de pensamento, MICOA (2008), acrescenta que se deve adoptar práticas
eficientes, rentáveis e sustentáveis de abertura de campos agrícolas e produção de carvão que
evitem as queimadas descontroladas; desenvolver e divulgar outras técnicas sustentáveis de
caça, colecta de mel e de afugentação de animais ferozes que não utilizem necessariamente o
fogo como meio auxiliar; buscar outras fontes alternativas de produção de energia como é o
caso de painéis solares, fogões e fornos melhorados de modo a reduzir a pressão sobre os
recursos florestais.
Além do que foi sugerido acima, seria oportuno que se produzisse um spot radial,
cartazes e panfletos com textos em língua local para facilitar a divulgação de mensagem sobre
as maiores consequências das queimadas descontroladas.
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4. Conclusão
Com base nos resultados deste estudo, conclui-se que na localidade de Munhonha, o
homem é considerado o principal causador das queimadas descontroladas, sendo a queima para
limpeza de campos agrícolas, caça e produção de carvão vegetal as principais causas no
período em estudo. A maior ocorrência das queimadas descontroladas é resultante da falta de
conhecimento das técnicas de prevenção e consequências que estas podem trazer tanto ao meio
ambiente como para o homem.
5. Referências bibliográficas
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Apêndice
Guião de entrevista
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Universidade Licungo
Faculdade de Ciências e Tecnologias
FIM