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MINISTÉRIO PÚBLICO DE C ONTAS DO DISTRITO FEDERAL

SEGUNDA PROCURADORIA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DO


DISTRITO FEDERAL

Representação nº 002/2016 – CF

O Ministério Público que atua junto a esse Tribunal, no desempenho de


sua missão institucional de defender a ordem jurídica, o regime democrático, a guarda
da Lei e fiscalizar sua execução, no âmbito das contas do Distrito Federal,
fundamentado no texto do artigo 85 da Lei Orgânica do Distrito Federal - LODF; dos
artigos 1º, inciso XIV e § 3º, e 76 da Lei Complementar n.º 1/94 - LOTCDF; e do artigo
99, inciso I, da Resolução n.º 38/90 - RITCDF, vem oferecer a seguinte

Representação

para que o Tribunal de Contas do Distrito Federal examine os fatos a


seguir descritos.

Tem sido recorrente o oferecimento de representações pelo MPC/DF e o


ajuizamento de ações de improbidade pelo MPDFT, visando responsabilizar agentes
políticos e públicos pela compra antieconômica de equipamentos, mormente na área
da saúde pública, que ficam encaixotados e sem uso, causando elevados prejuízos,
seja porque representam gasto de dinheiro púbico inútil; seja porque além do valor
despendido, o Poder Público, muitas vezes, é obrigado a se valer da rede privada para
a contratação de serviços que poderiam estar sendo prestados pelo equipamento em
desuso e seja porque, nessas condições, o prejuízo ao cidadão, que não usufrui do
bem, é visível. São exemplos a compra de aparelho Pet-CT (Representação 19/2015 -
Processo 11.754/2015e); a compra de solução robótica (Representação 34/2014 -
Processo 30.240/2014); a compra de equipamento de telemedicina (Representação
36/2014 – Processo 30.215/2014); compra de máquinas I-Stat e AQT (Representação
24/2015 – Processo 19.208/2015e), dentre outras.
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Em alguns casos, o MPDFT conseguiu impedir aquisições sem justa


causa, como as milionárias mantas térmicas 1 (Recomendação 4/2015 - MPDFT) ou
tecnologia microchip2, para aquecimento de pacientes (Recomendação 8/2014 –
MPDFT), etc.

Mas em outros, não se alcança bom êxito. Recente Representação do


MPC/DF, 31/2015-CF (Processo 35.025/2015e), dá conta de um galpão inteiro com
macas, equipamentos de escritório e outros sem uso.

Há situações outras, também gravosas, quando se verifica que, após a


aquisição de equipamentos, a SES/DF é obrigada a adquirir posteriormente insumos
em valores exagerados, muitas vezes bem superiores ao valor da aquisição (kits e
reagentes) e sempre da mesma empresa. Ademais, a Secretaria de Saúde é, ainda,
obrigada a arcar com os pesados custos de manutenção dessas mesmas
máquinas.

Visando precatar o interesse público, o MPDFT expediu a Recomendação


5/2015, a fim de que a rede só compre equipamentos plenamente funcionais,
atentando para o custo de reagentes e para as obras que irão abrigar os citados bens.
De conseguinte, a SES/DF publicou a Portaria 232, de 15.9.2015.

Nessas condições, a atuação do TCDF, preventiva, pode ser


extremamente relevante, pois na Corte são analisados editais de aquisição desses
bens, insumos ou contratos de manutenção.

De fato, é preciso atentar para a economicidade das aquisições em


tela (compra do bem, insumos e contratos de manutenção). Não é incomum, por
isso, a localização de vários editais de licitação em outras esferas da federação,
prevendo apenas a aquisição de kits para diagnóstico, por exemplo, com o
fornecimento de equipamentos em comodato. As justificativas favoráveis são de que
a contratada se responsabiliza pela manutenção do equipamento operante e que,
muitas vezes, esses se tornam defasados rapidamente. As justificativas contrárias
versam muitas vezes em razão da aquisição “casada”, que leva o poder público a
privilegiar fornecedores, etc.

Seja como for, há vários estudos no TCU a respeito da vantajosidade ou


não do comodato, contrato bilateral e gratuito de entrega a outrem para uso temporário
de coisa certa a ser depois restituída (artigos 579 a 585 do Código Civil). Vejamos:

1.5.4. não inclua nos objetos de suas licitações e/ou contratações a concessão
de equipamentos em regime de comodato, máxime quando se tratar de
equipamentos de elevado valor, devendo realizar a locação ou compra dos
equipamentos, preferencialmente, antes da licitação para fornecimento dos
insumos, os quais deverão ser compatíveis com os equipamentos
comprados/alugados, ampliando a concorrência e estabelecendo custos
unitários de todos os itens envolvidos na contratação, conforme preceitua o
caput do art. 3º, c/c com o art. 7º, § 2º, inciso II, da Lei nº 8.666/1993;

(...)

1 Valor de R$ 16.500.000,00.
2 Valor de R$ 7.000.000,00.
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17.2.10. Tendo em vista que não consta dos autos estudo de custo-benefício
comprobatório de que a estratégia de contratação de empresa com locação
de seu equipamento foi a mais vantajosa para a Administração, nem
justificativas plausíveis para a adoção do procedimento, entende-se
inobservados os princípios da economicidade e eficiência e, por conseguinte, o
descumprimento da determinação do item 1.5.4 do Acórdão nº 2.981/2009-TCU-
Plenário (TC 032.382/2010-3).

“A auditoria (relatório nº 72/2010, fls. 144-150) foi realizada pela SES/DF visando
avaliar o processo de contratação de serviços de fornecimento de kits e bolsas
de afluente para TRS para rede de saúde do DF. Visando a consolidação dos
trabalhos da auditoria, um memorando (nº 93/2010) foi encaminhado à Diretoria
de Assistência Especializada DIASE/SAS/SES/DF, onde foi solicitado Parecer
Técnico a respeito dos seguintes questionamentos: verificar se é vantajoso
para SES/DF à aquisição desses kits e bolsas de TRS e verificar se as
máquinas em regime de comodato são mais vantajosas para SES/DF, do
que efetuar as aquisições das mesmas ou celebrar contrato de manutenção
das já existentes.

(..)

O relatório de auditoria constatou que o Contrato nº 56/2010 firmado entre a


SES/DF e a IMUNOTECH, para aquisição das máquinas de TRS na forma de
comodato e na aquisição dos kits e bolsas, não é vantajoso, uma vez que o
regime de comodato não se coaduna com esse tipo de aquisição de materiais,
visto que imputa a contratação de quantidade pré-definida de materiais que não
são possíveis de serem estimados. Adicionalmente, foi disposto no relatório que
houve favorecimento à empresa em questão, pois a cotação dos preços e o
edital licitatório foram baseados na proposta elaborada pela empresa vencedora
do pleito. Processo nº TC 023.460/2010-5.

Cabe ainda destacar que o TCDF, por meio da Decisão 5945/2010


(Processo 26.310/2010), se manifestou sobre comodato em processo da Fundação
Hemocentro, alertando-a de que o empréstimo de equipamentos em regime de
comodato, na forma estabelecida no edital do Pregão Eletrônico 653/2010, não se
mostra, "prima facie", compatível com o art. 579 do Código Civil. Isso porque citado
empréstimo era feito com ônus, diversamente do comodato, e, por isso, se tratava de
um aluguel.

De semelhante modo, envolvendo também a FHB, há os Processos


41.020/2009, 1.946/2012 e 2.721/2012. Nesses nota-se que houve análise em face do
percentual do bem locado em relação à aquisição (11 e 7%), para cu mprimento da
Decisão Normativa 1/2011.

Além disso, é preciso exigir o cumprimento da Lei 12.401/2011, que


dispõe sobre a incorporação de tecnologia no SUS, sendo extremamente rígida, a
exigir evidência científica, avaliação econômica antes da tomada de decisão, etc.

Assim, ao ser analisado pela Corte um edital para compra de


equipamento, insumos ou contratos de manutenção é necessário perscrutar acerca de
todos esses requisitos de legalidade, inclusive, a obediência aos princípios da
eficiência, da economicidade e da legitimidade da despesa pública.
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Posto isso, é a presente Representação para que a Corte, à semelhança


dos autos do Processo 6.199/2008 (Decisão Normativa 1/2011 - adota metodologia
para análise dos estudos de viabilidade da opção de locação frente à opção de
aquisição de bens), que estabeleceu valioso estudo acerca da vantajosidade entre a
locação e a aquisição de bens, possa, do mesmo modo, manifestar-se a respeito dos
contratos de aquisição frente aos de “comodato” e/ou locação de equipamentos
com oferecimento de insumos e de manutenção, na área da saúde, em razão de
seus altos valores, monetários e finalísticos, pois o gasto ineficiente nesse
campo implica em prejuízos vitais para a população.

Brasília, 13 de janeiro de 2016.

Claudia Fernanda de Oliveira Pereira


Procuradora - MPC/DF

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