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RESENHA

FREITAS, Edmar Checon de. Dos reis cabeludos ao rei santo: monarquia e religião na Gália
merovíngia, p. 65-80, 2007.

LEGITIMIDADE, FORÇA E FÉ:

A IMPORTÂNCIA DA RELIGIOSIDADE PARA A ORDEM DA GÁLIA

Caio Brollo Fernandes

A conversão de Clóvis traria para o mundo ocidental uma estabilidade política na qual não era
bem conhecida. As guerras eram contínuas tanto antes de Clóvis quanto após sua morte, tendo somente
no final de seu reinado, em 509, certa paz política e social. Com isso, Checon traz um texto carregado de
perspectivas religiosas a respeito da monarquia merovíngia datadas por Gregório de Tours a fim de
expor a religiosidade do rei como pilar fundamental no sucesso de seu reinado.

“Dos reis cabeludos ao rei santo: monarquia e religião na Gália merovíngia” é um texto
de autoria de Edmar Checon de Freitas, professor Associado do Departamento de História e do
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense.. Checon é formado pela
UFES, com mestrado e doutorado pela UFF. Seus estudos são voltados para a área da História
Medieval, atuando principalmente nos seguintes temas: Gália merovíngia, cristianismo, Gregório de
Tours, Martinho de Tours, monarquismo cristão e hagiografia medieval. Como dito anteriormente, o
tema do artigo é analisar, segundo o historiador, os relatos de Gregório de Tours acerca da função do
cristianismo na duração e legitimação do reinado de um determinado rei.

De início, somos apresentados á parte do texto em que é discutido o reinado de Clóvis. É


mostrado que o rei franco não se diferenciava dos demais líderes que já estiveram no seu lugar. Até o
momento em que é introduzido o episódio do casamento de Clóvis e Clotilde, que marca a
temporalidade do monarca. Sendo o casamento em 493 o início da empreitada religiosa que o
historiador assinala, inclusive, o separando em quatro fases: a evangelização doméstica levada a
cabo por Clotilde; o compromisso de fé no campo de batalha; o aprendizado junto a Remígio
de Reims e o batismo.
Checon, ao analisar a conversão de Clóvis pontua que a história da Gália sofreria uma
mudança drástica, pois não se tratava somente da orientação religiosa do monarca, mas sim do
alinhamento por completo de seu reinado á corrente cristianizada evidenciada na aristocracia
galo-romana. Clóvis, assim, rompia com o paganismo. O batismo do rei se tornou um símbolo
político que é tratado por Gregório como uma peça que faltava, ou seja, fazia parte do plano
de Deus para a perpetuação do cristianismo na Gália, que precisavam de um salvador, que
enfim apareceu.

Com isso, é fechado o arco de Clóvis ao descrever todas as atitudes positivas do rei franco
perante á Igreja. Ao rezar antes da batalha, agradecer a proteção de Deus após a batalha, preservar locais
sagrados e externando tal fidelidade por meio de atitudes agradáveis ao Senhor, que por sua vez, o
presentava com a extensão de seus domínios. Principalmente na passagem: “Sinais do céu acompanham
o rei, especialmente associados aos santos Hílário de Poitiers e Martinho de Tours, campeões na luta
contra o arianismo”. Martinho de Tours era a grande face de luta contra essa heresia em ascensão, com
isso, o fato do franco lutar firmemente para purificar o território da Gália desses hereges, fez com que
Gregório, segundo Checon, colocasse Clóvis em um pedestal no quesito modelo de reinado em que os
seus sucessores tinham que atingir.

Após a morte do rei franco, é relatado pelo historiador que Gregório sempre busca apresentar os
motivos em suas obras que fez o reinado de Clóvis ir do caos á ordem, como dito, um modelo a ser
seguido. Esses motivos são a conduta religiosa e a competência de batalha. Algo que os descendentes de
Clóvis falhavam em possuir, levando a Gália ao caos novamente. Atribuindo a falta da conservação
dessa ordem cristã ao fracasso de alguns filhos de Clóvis, Gregório expõe a penalização de Deus sobre a
Gália. Somente Clotário é louvado por depositar a confiança em Deus e respeitar o bispado e suas
ramificações. O bom tratamento ao clero era de suma importância como data Checon, para a
estabilidade do reino. Gontrão é ressaltado por Gregório como santidade. Assim como Clóvis, confiara
em Deus para travar suas batalhas. Não somente, liderava seu povo em vigílias e jejuns, o que leva a ser
colocado em um plano religioso importante. Era caracterizado por suas virtudes e não de sua condição
de rei, mostrado dessa forma no texto: “Um rei santo á testa do povo, mas não santo por ser rei”.

Para finalizar, tanto Clotário quanto Gontrão não são mostrados a todo tempo como padrão a ser
seguido. Na verdade, são mostrados cometendo crimes, seja matando pessoas ou desrespeitando o
comportamento cristão. Contudo, a virtude atribuída á eles é de acordo com a sua rendição perante o
Deus todo poderoso mudaria sua conduta de reinado. Como Clotário indo em peregrinação á basílica de
São Martinho de Tours e Gontrão, que foi penalizado em perder todos seus filhos, reconhece seus erros e
pecados, passando a se comportar de uma maneira piedosa e justa, tentando buscar a paz entre os reis
merovíngios. Sendo assim, o único jeito de governar legitimamente e com sucesso, era seguindo a fé
cristã corretamente. Com a reincidência de pecados sendo cometida, a probabilidade do reinado desse rei
pecador ir a ruína era grande. Mostrando o contraste de Clotário, que continuou pecando, e Gontrão que
atinge a glória da santidade, o historiador conclui seu texto dizendo que a nobreza e a linhagem poderosa
não era o suficiente para se legitimar no poder de líder da Gália. Os reis, de acordo com a análise de
Checon, deveriam buscar manter a ordem e a conduta católica, principalmente propagando a identidade
cristã.

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