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MANUAL DE APOIO UFCD 4282

PROJETO DE ANIMAÇÃO
SOCIOCULTURAL: AVALIAÇÃO

Formadora: Alexandra Duarte

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Projeto de animação sociocultural - avaliação

ÍNDICE

Introdução.............................................................................. 2
Âmbito do manual...............................................................................................................2

Objetivos...............................................................................................................................2

Conteúdos programáticos................................................................................................2

Carga horária........................................................................................................................3

1.Avaliação............................................................................ 4
1.1.Avaliar os resultados da intervenção com recurso a instrumentos de avaliação que
permitam aferir do impacto do projeto em termos do(s) problema(s) indicado(s) à partida
para ser(em) trabalhado(s).......................................................................................................5

2.Reformulação da intervenção..........................................19
2.1.Reformulação das hipóteses de trabalho, dos objetivos e das ações...............................20

2.2.Concepção de novos projetos de intervenção sociocultural............................................28

3.Relatório final do projeto.................................................42


Bibliografia..........................................................................47
Termos e condições de utilização.......................................48

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Projeto de animação sociocultural - avaliação

Introdução

Âmbito do manual

O presente manual foi concebido como instrumento de apoio à unidade de


formação da UFCD 4282 – Projeto de animação sociocultural - avaliação,
de acordo com o Catálogo Nacional de Qualificações.

Objetivos

 Conceber e utilizar instrumentos de avaliação.


 Reformular a intervenção em função da avaliação efetuada.
 Produzir o relatório final do trabalho de projeto efetuado.
 Conceber e pôr em prática formas de divulgar os resultados.

Conteúdos programáticos

 Avaliação
o Avaliar os resultados da intervenção com recurso a instrumentos
de avaliação que permitam aferir do impacto do projeto em
termos do(s) problema(s) indicado(s) à partida para ser(em)
trabalhado(s)
 Reformulação da intervenção
o Reformulação das hipóteses de trabalho, dos objetivos e das
ações

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Projeto de animação sociocultural - avaliação

o Conceção de novos projetos de intervenção sociocultural


 Relatório final do projeto

Carga horária

 50 horas

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Projeto de animação sociocultural - avaliação

1.Avaliação

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Projeto de animação sociocultural - avaliação

1.1. Avaliar os resultados da intervenção com recurso a


instrumentos de avaliação que permitam aferir do impacto do
projeto em termos do(s) problema(s) indicado(s) à partida para
ser(em) trabalhado(s)

A animação sociocultural é uma tecnologia social ou de planeamento que


concebe, aplica e avalia projetos de intervenção para aplicar em comunidades,
territórios ou grupos determinados.

Por outro lado, a animação sociocultural é também, uma prática social na qual
se inter-relacionam seres humanos que põem em jogo nessa interação os seus
interesses, desejos, expectativas, sonhos e problemas; e que também se
relacionam a partir dos mais diferentes papéis e posições que desempenham
na dinâmica social e nos contextos concretos de interação.

Por outro lado, podemos definir a avaliação como sendo a recolha e análise
sistemática de todas as informações necessárias para determinar o valor ou o
mérito das ações realizadas ou em curso de realização.

Trata-se, portanto, de emitir juízos de valor, de avaliar a atribuição de sentido


às ações, processos, produtos, realidades, etc.

Toda a avaliação é mais do que uma mera descrição ou análise; é


fundamentalmente, uma comparação entre “o que há” e “o que deveria haver”.

A avaliação tem um “porquê” e um “para quê” que contextualizam e


condicionam o “quê”, o “quem”, o “como”, o “quando” e o “onde” dessa
avaliação.

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Projeto de animação sociocultural - avaliação

A avaliação surge como a última etapa do projeto de intervenção em animação


sociocultural, no entanto, ela deve ser transversal a todas as etapas do projeto,
permitindo desta forma uma abordagem reflexiva a cada uma das etapas da
intervenção influenciar uma eventual reformulação do respetivo planeamento
(v. figuras seguintes).

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Projeto de animação sociocultural - avaliação

1. Denominação do Projeto:
- Título do Projeto.

2. Natureza do Projeto:
- Tipo de Projeto.
- Público-Alvo.
- Descrição um pouco mais ampla do que se pretende realizar do que
aquela usada na denominação do projeto.

3. Fundamentação
- Caracterização da Comunidade ou Público-Alvo. Análise social e
prioridades institucionais.
- Conjunto das razões que justifica a sua realização: necessidades e
problemas que estão na sua origem, tendo como ponto de partida o
diagnóstico da realidade. Identificação do problema de partida.
- Motivações pessoais.
- Formulação de hipóteses de intervenção centradas na identificação de
aspetos críticos e oportunidades decorrentes da realização de uma
determinada ação, num determinado contexto e direcionada a um
público específico.
- Fundamentação teórica (conceitos e metodologia).

4. Metas ou Objetivos Gerais:


- Para que finalidades (sociais, educativas, culturais...) contribuirá a
consecução dos objetivos do Projeto? Até onde queremos ir? Quanto
queremos fazer? Para que se faz? É dizer, indicar o destino do projeto
ou as finalidades que se pretendem alcançar com a sua realização.
- As metas refletem a primeira prioridade do projeto.

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Projeto de animação sociocultural - avaliação

- As metas são normalmente definidas como objetivos gerais: o que o projeto


ou a organização alcançarão se o projeto tiver 100% de sucesso.
- Define o porquê da existência do projeto, os seus propósitos e a razão de
existir ou missão.
- Quaisquer que sejam as atividades que decidamos fazer, quaisquer que
sejam as metodologias selecionadas, tudo deve ser compatível com as
metas escolhidas. As metas não podem ser alteradas durante o projeto,
pois isso implicaria alterar o projeto por completo!

5. Localização Física:
- A localização de um projeto consiste em determinar a área onde se
instalará ou integrará; esta localização faz-se a dois níveis:
- MACRO LOCALIZAÇÃO: isto é, a localização geográfica do projeto
dentro de uma área: Região, concelho, freguesia, bairro…
- MICRO LOCALIZAÇÃO, identificando dentro de um conjunto menor,
como uma Instituição, rua, uma casa ou prédio, o local onde se desenvolverá o
projeto.

6. Planificação das Atividades

Atividades Fases/ Equipa Objetivos Recursos Custos Calendarização Monitoriza


Tarefas: Técnica Específicos/ Necessários ção
Resultados
Esperados
Designação 1.

2.

3.

7. Avaliação:
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Projeto de animação sociocultural - avaliação

- A avaliação final pode ser descrita como o processo de reunir informação e


de estabelecer critérios que levem a:
• Uma avaliação do que foi alcançado;
• Uma explicação de como tudo aconteceu; • um melhor planeamento de
projetos futuros.
- A avaliação final de um projeto deve incluir:
• Os resultados alcançados;
• Os objetivos alcançados;
• A gestão financeira;
• O impacto na organização;
• O processo

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PLANEAMENTO

AVALIAÇÃO IMPLEMENTAÇÃO

Existem quatro considerações prévias que devem ser tidas em conta antes de
iniciar qualquer processo de avaliação no âmbito da animação sociocultural:

Uma primeira característica que define a animação sociocultural é a


heterogeneidade dos programas de animação, em termos de objetivos, âmbitos,
atividades, tempo ou participantes.

Isto significa que as atitudes de avaliação a aplicar terão de ser implementadas


atendendo à especificidade concreta do programa ou à realidade que se deseja
avaliar.

Cada processo avaliador é singular, original, ajustado à realidade em que se


implementa.

Uma segunda característica que deve estruturar os processos de avaliação em


animação sociocultural é a flexibilidade.
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A realidade social – onde se desenvolve a intervenção – é móvel, mutável,


dinâmica e complexa.

Qualquer atitude avaliadora deve estar aberta à mudança, à adaptação, ao


ajustamento e às transformações efetuadas na realidade.

A animação produz-se entre pessoas que constroem, diariamente, as realidades


que vivem e estas realidades não são estáticas, mas dinâmicas.

Só atitudes avaliadoras que ofereçam vias alternativas para alcançar os objetivos


propostos e que disponham de muitos pontos de decisão para optar por técnicas e
metodologias que possam adaptar-se ao “aqui e agora” da situação avaliada,
permitem enfrentar o dinamismo essencial dos processos de animação e da própria
realidade social.

Uma terceira característica deriva da função educativa da animação sociocultural, e


tem a ver com a passagem de funções e técnicas do animador para a comunidade.

Se o objetivo final for que a coletividade seja autónoma na planificação, gestão e


avaliação dos seus próprios projetos, também deve ser para os avaliar.

Isto requer que o processo de avaliação em animação sociocultural se transforme


num processo de ensino-aprendizagem.

A quarta característica nasce dessa mesma atitude: o grupo ou comunidade deve


participar ativamente na conceção e execução da avaliação, pois só desta forma se
promove, verdadeiramente, a sua autonomia e gerar-se-á, ao mesmo tempo, uma

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nova cultura que contemple a avaliação como um processo desejável e necessário


á transformação que se espera realizar nas dinâmicas sociais.

Se considerarmos a avaliação nesta perspetiva integrada, isto é, aquele processo


no qual a comunidade participa ativamente, podemos considerara as seguintes
funções da avaliação em projetos de animação sociocultural:

 Comparação entre as diferentes perceções e valorações previstas sobre a


realidade e as posteriores à avaliação;
 Rigor e sistematismo na abordagem das problemáticas pessoais e grupais;
 Aperfeiçoamento da capacidade de tomar decisões e assumir riscos;
 Aquisição e aprendizagem de metodologias, técnicas e instrumentos;
 Relativização de perceções pessoais sobre a realidade;
 Melhor aproveitamento dos recursos pessoais e do ambiente circundante;
 Aprendizagem de dinâmicas interativas;
 Consciência e aperfeiçoamento da inclusão no grupo e no ambiente
circundante;
 Responsabilização pessoal e grupal nas problemáticas do grupo e do
ambiente circundante;
 Motivação para as ações ou projetos do grupo ou da comunidade;
 Função genérica de maturação grupal.

Contudo, e em particular do modo como ele é concebido nos domínios da


investigação e intervenção social, a avaliação assume um conjunto de princípios
orientadores que marcam a sua especificidade:

 Privilegiar-se a exploração de dados qualitativos, tendo em vista uma


análise mais social do que económica ou política dos impactos
conseguidos.

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 Se a medição da adequação real dos impactos conseguidos aos


objetivos inicialmente propostos é importante, importa igualmente um
questionamento sobre o sentido da ação, integrando o inesperado e
conferindo-lhe importância.

 Ao contrário do controlo, que procura decompor analiticamente a


realidade em elementos distintos, a avaliação clarifica os sistemas de
inter-relação de uma realidade social.

 A avaliação é um trabalho de imaginação, com a construção de


referentes e indicadores não estandardizados. Ainda que com o
recurso a procedimentos de base quantitativa (análise estatística de
correlações, análise multivariada, análise de dados estruturais,
procedimentos experimentais), é fundamental o desenvolvimento de
uma análise de carácter qualitativo, baseada em grelhas de análise e
indicadores especificamente adequados à realidade que se pretende
avaliar.

 A avaliação é permanente e interna ao programa, não renunciando


eventualmente ao recurso a peritos externos, desenvolvida em
paralelo com a função de intervenção. É um processo cumulativo e
sempre parcial, uma construção que se vai desenvolvendo ao longo
do processo de implementação.

 O dispositivo de avaliação é essencialmente democrático, centrado


sobre a expressão de todas as partes em presença, com as suas
diferenças, contradições, conflitos, alianças. Poderá conduzir a
significações contraditórias face a uma mesma realidade, impondo
uma negociação entre as partes envolvidas.

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 A avaliação é um processo de “aprendizagem e de cognição”, uma


aquisição de competências e experiências que se vão integrando na
dinâmica da ação, estimulando a reflexão e a criatividade de todos os
intervenientes.

Sob uma mesma designação, e assumindo referenciais genéricos comuns, podem


distinguir-se várias formas de prática avaliativa, desempenhando papéis e funções
distintas entre si.

Sem que haja um consenso na classificação dessas práticas avaliativas, salientam-


se aqui três tipologias que, obedecendo a critérios diferentes, se complementam.

a) Avaliação externa e avaliação interna

O grau de aproximação e participação do avaliador ou equipa de avaliação por


relação à Acão a avaliar marca a distinção entre o carácter interno ou externo
dessa mesma.

Assim, processa-se uma avaliação externa (ou heteroavaliação) quando esta é


levada a cabo por pessoas que não participam diretamente na atividade avaliada,
realizada por pessoas com competência técnica e científica, reforçando uma
capacidade de visão globalizante do programa e da ação.

Contudo, assumem-se alguns riscos e resistências ao nível da possibilidade de


conflitos de interesses entre equipas, de um carácter demasiado “teórico” da
avaliação, de dificuldades de acesso à informação ou de uma confusão entre
avaliação de um programa e avaliação dos indivíduos que nele participam.

Ao contrário da avaliação externa, a avaliação interna é executada por pessoas


que integram as organizações ou grupos avaliados e/ou estreitamente associadas
à ação que é objeto do processo avaliativo.

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b) Avaliação ex-ante, avaliação formativa e avaliação ex-post

Independentemente da divisão entre a avaliação interna e externa, outra distinção


se pode operar entre práticas avaliativas, tendo como tónica diferenciadora os
distintos momentos ("espaço de vida") de um projeto em que ocorrem.

Aplicada no início de um programa de intervenção, a avaliação ex-ante, igualmente


designada por avaliação diagnóstico, desenha o inventário das necessidades, dos
beneficiários e dos recursos disponíveis.

É um tipo de avaliação essencialmente descritivo, de planificação.

Ao inverso, a avaliação ex-post é aplicada no fim de um programa ou após a sua


conclusão.

Tem como objetivo fundamental estabelecer se uma ação produziu os resultados


ou efeitos esperados.

A uma corrente tradicional, privilegiadora de uma prática próxima do controlo,


baseada em procedimentos experimentais e análises de base estatística, tem-se
vindo a substituir uma abordagem que integre igualmente a componente qualitativa,
capaz de uma maior aproximação entre o avaliador e os intervenientes.

A avaliação formativa ocorre durante o desenrolar do programa, interessando-se


não só pela eficácia e eficiência dos mesmos, mas igualmente pela metodologia
desenvolvida.

A componente de formação de competências assume um papel relevante,


procurando-se que os resultados e conclusões obtidos sejam integrados na ação e
que contribuam para a melhoria da eficácia e competência dos atores envolvidos.

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c) Avaliação de desenho e conceptualização, avaliação de processo,


avaliação de eficácia e eficiência

Podendo definir-se um projeto de intervenção como constituído por uma


organização que utiliza certas estratégias, com o objetivo de modificar um contexto
particular, espera-se que a avaliação percorra cada um destes elementos.

Desenvolvem-se assim três categorias de procedimentos avaliativos.

A avaliação de desenho e conceptualização do projeto reporta-se


fundamentalmente ao modelo de organização implementado, julgando-lhe a
pertinência formal e potencial em aspetos como o modelo de planificação e gestão
ou a participação e sistema de autoavaliação.

A avaliação de processo acompanha o modo de funcionamento tanto no global


como em aspetos pontuais.

São objeto de apreciação as estratégias desencadeadas e o seu modo de


operacionalização.

Finalmente, a avaliação de eficácia e eficiência (igualmente designada por


avaliação de impacto), reporta-se aos resultados obtidos na modificação do
contexto em causa.

Decompõe-se em dois níveis fundamentais: a avaliação da eficiência ou


rentabilidade económica, que se centra na análise custo-benefício; e a análise da
eficácia, medindo as distâncias entre os objetivos afixados e os objetivos atingidos:
mudanças efetivamente ocorridas, perceção dos laços entre a intervenção e os
resultados produzidos, definição dos obstáculos ao sucesso.

As tendências mais recentes têm procurado um alargamento desta análise de


eficácia a aspetos como a avaliação dos efeitos sobre as categorias que não são

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beneficiários diretos de um programa ou a avaliação dos possíveis efeitos nefastos


da intervenção, e não apenas dos efeitos positivos ou ausência de efeitos.

Qualquer avaliação deve verificar se as seguintes questões são verdadeiras:

 As atividades do projeto seguiram o plano previsto;


 Os resultados foram atingidos;
 O propósito do projeto foi atingido;
 O projeto contribuiu para a concretização do objetivo geral;
 Os resultados do projeto e a concretização do propósito são sustentáveis.

Seguidamente apresenta-se um exemplo de grelha de avaliação para um projeto:

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Entre os principais critérios de avaliação de um projeto de animação sociocultural,


na ótica de aferir o seu impacto face ao problema previamente identificado na
comunidade, podermos agrupá-los em três ordens diferentes:

 Critérios de identidade;
 Critérios de participação;
 Critérios de comunicação interativa.

CRITÉRIOS DE IDENTIDADE

 Que objetivos do projetos eram conhecidos pelos agentes sociais?


 Que objetivos do projeto foram aceites pelos agentes sociais?
 Os objetivos do projeto foram cumpridos pelos agentes sociais?

CRITÉRIOS DE PARTICIPAÇÃO

 Participação dos agentes sociais nas diferentes atividades


 Participação em ações de expressão da opinião pessoal
 Participação em atividades de debate
 Participação nos diferentes momentos de tomada de decisão
 Participação em ações de execução dos acordos ou conclusões
 Participação em atividades que supõem trabalho cooperativo

CRITÉRIOS DE COMUNICAÇÃO INTERACTIVA

 Existência de redes descentralizadas para a comunicação interativa


 Sentimento de sentir-se escutado e apreciado

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 Elaboração de textos de autoria coletiva

Uma vez elaborado o critério que permita a obtenção de dados observáveis e


mesuráveis é necessário realizar uma formulação operativa da pergunta de forma a
permitir-nos, com a resposta, obter o dado que pretendemos.

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2.Reformulação da intervenção

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2.1.Reformulação das hipóteses de trabalho, dos objetivos e das


ações

A partir da análise de necessidades sabemos porque é que o projeto é importante.

Corresponde a uma tentativa de resposta adequada às necessidades percebidas.

Nesse sentido, o estabelecimento de objetivos é um momento fulcral da


intervenção.

A formulação dos objetivos deve ser simples, clara, e devem ser evitadas
repetições.

Num plano de “intervenção comunitária” não devemos esquecer que “tudo diz
respeito a todos”, daí que é essencial envolver todos os grupos, instituições
(formais e não formais) que terão sempre uma palavra a dizer ou uma ação a
desenvolver sobre algo que lhes diz respeito e contribui para a prossecução dos
objetivos.

No entanto, a sua aproximação ao projeto pode ter graus diferenciados, daí


advindo a necessidade de definir claramente a supervisão e coordenação do
projeto como forma de promover a clareza de processos, a motivação constante e
a clarificação de competências.

Sem avaliação sistemática das tarefas não é possível “ler” o trabalho realizado, não
sendo possível agir retroativamente nem reformular as ações.

Só é possível estabelecer estratégias adequadas se se puder avaliar o trabalho


realizado.

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O tipo de avaliação preconizado deverá estar em perfeita sintonia com o estilo de


ações e com a filosofia do projeto.

Entre os fatores a decidir encontram-se os seguintes:

 Como se verificam os objetivos e ações;


 Que instrumentos se utilizam e com que frequência;
 Quem é avaliado;
 Quem avalia;
 Como serão conhecidos e utilizados os resultados são os elementos
pertinentes a que o projeto tem de atender.

A reformulação de objetivos torna-se necessária quando se verifica que os


objetivos previamente alcançados: ou não foram atingidos, ou foram
incorretamente formulados.

Em qualquer uma destas situações exige-se a adoção de uma metodologia


rigorosa de formulação de objetivos, de forma a conduzir que o projeto, de uma
segunda vez, alcance as expectativas inicialmente previstas.

É importante salientar, em primeira análise, que devemos formular dois tipos


fundamentais de objetivos, distintos embora interdependentes:

 O objetivo geral;
 Os objetivos específicos.

O Objetivo Geral (OG) do projeto diz respeito à grande mudança que se pretende
atingir, deve responder à questão: para que é que vamos fazer o projeto, o que
pretendemos atingir a longo prazo?

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O OG reflete a prioridade do projeto, define o seu propósito e razão de existir.

A lógica de construção de objetivos que apresentamos segue o princípio do


desdobramento.

Assim, os OG são apresentados como um guarda-chuva para os Objetivos


Específicos (OE).

Na sua formulação, para além da grande mudança proposta, o OG deve indicar o


grupo-alvo a quem se dirige o projeto e área geográfica de intervenção.

Não é necessário a este nível indicar datas, ou tipos de atividades a desenvolver.

Se não dispomos objetivamente de dados anteriores ao início projeto, recolhidos de


forma idêntica ou comparável à recolha que faremos aquando da nossa avaliação,
torna-se arriscado propor um aumento que não temos condições de comprovar.

Alcançáveis

Os objetivos não devem ser inatingíveis, naturalmente.

Devem ser realistas. Possíveis de realizar num contexto, num período de tempo e
em condições determinados.

Este atributo dos OE tenta corrigir ou restringir os impulsos de entusiasmo de quem


se dedica de coração a estes projetos e quer “mudar o mundo num minuto”...

No entanto, os objetivos também não devem ser tão facilmente alcançáveis que
não estimulem a mudança, a transformação; por outras palavras, que não
respondam de forma ambiciosa às necessidades e aos problemas que estão na
base da intervenção.

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Quanto à dimensão ALCANÇÁVEL significa que a concretização OE é uma


proposta realista, atendendo às condições em que se desenvolve a intervenção.

Relevantes

Parece novamente, desnecessário indicar como uma característica dos objetivos


específicos que estes sejam relevantes.

E, no entanto...

A verdade é que muitas vezes somos levados à formulação de objetivos a partir


das nossas ideias pré-concebidas do que serão as atividades dos projetos, dos
resultados que estas possam deve de facto referir-se apenas a um aspeto, a uma
dimensão, a uma parte do projeto.

Na realidade, para que cada OE seja específico (do dicionário: “esmiuçar, dizer
separadamente, individualizar) importa propor apenas UMA mudança.

A lógica que procuramos é a do desdobramento do OG em OE.

Por outro lado, OE que refiram por exemplo a “promoção de competências


pessoais e sociais” parecem pouco específicos.

A que competências se referem?

A expressão “competências pessoais e/ou sociais” é um saco amplo onde cabe


muita coisa.

Se pensarmos no exemplo de uma viagem, num OE procuramos aquele afunilar


que faz diferença entre dizer “Vamos para a América do Sul”, ou “Vamos até à
Argentina”.

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Num outro exemplo, é mais específico um objetivo que se refere aos “jovens dos
16 aos 24 anos da nossa freguesia” do que um objetivo que se refere,
genericamente, aos “nossos jovens”.

Mensuráveis

É uma preocupação constante, na formulação de objetivos específicos, a forma de


os medir.

Como aferiremos, depois, se este objetivo foi ou não cumprido, e em que medida?

A dimensão de MENSURABILIDADE remete para a possibilidade de medir.

Voltamos a relembrar que qualquer intervenção se propõe operar uma MUDANÇA


sobre determinado aspeto da realidade, verificável através dos EFEITOS DA
INTERVENÇÃO.

A dimensão da MENSURABILIDADE levanta-nos duas questões:

1ª Podemos avaliar as alterações sobre o aspeto em que queremos intervir?

Noutras palavras: É possível verificar se alcançámos o efeito que pretendíamos


com a intervenção?

2ª Em que medida aconteceu a mudança? Esta sim é a questão que remete para o
nº ou % de beneficiários afetados.

De nada serve pensar na % ou quantidade de beneficiários envolvidos quando o


OE propõe por exemplo “aumentar o sentimento de pertença” se não pensámos em
formas de aceder à expressão do sentimento de pertença.

Outra pista a ter em conta na formulação dos OE é a “Regra dos 6 Qs”.

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Na realidade apenas 4 das questões começam com essa letra, as outras duas, no
entanto, agrupam-se na categoria de questões que devem ficar claras a partir da
leitura de um OE.

A resposta a estas questões ajuda a concretizar as duas primeiras dimensões


SMART.

• O QUÊ? (aquilo que se pretende alcançar)


• QUANTO? (a medida em que se pretende alcançar)
• QUEM? (referência ao grupo-alvo)
• QUANDO? (à semelhança do que tínhamos já referido em relação à
necessidade de delimitar o tempo para a concretização do objetivo)

E ainda:

• COMO? (é possível verificar o cumprimento do objetivo)


• ONDE? (a que lugar se refere a intervenção)

Voltando ao princípio do desdobramento que temos vindo a seguir, recordamos


que a partir do OG, identificado como a grande mudança que pretendemos atingir,
propomos a decomposição em OE.

Na mesma sequência, a partir de cada OE pensamos num conjunto de atividades


que procurem garantir a sua concretização.

Os objetivos são diferentes das atividades.

Os objetivos representam aquilo que se deseja alcançar com o projeto.

As atividades dizem respeito a COMO os objetivos serão atingidos, correspondem


à ESTRATÉGIA ou MEIO para atingir os objetivos.

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MANUAL DE APOIO UFCD 4282PROJETO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL: AVALIAÇÃO

Voltando ao exemplo das viagens, se o objetivo for chegar à Argentina a atividade


pode ser uma viagem de barco, ou uma viagem de avião.

Todas as atividades devem estar orientadas para alcançar um ou mais objetivos e


todos os objetivos devem ser reconhecíveis direta ou indiretamente a partir de uma
ou mais atividades.

Sem querer, desvirtuamos assim a importância e a relevância dos objetivos


específicos.

Recordemo-nos que eles devem derivar dos objetivos gerais, das necessidades
associadas ao projeto, e devem portanto ser formulados de maneira a poder
responder diretamente a estas.

É neste sentido que se mede a relevância do OE. Se o OE contribui, efetiva e


diretamente, para a execução do OG, então é relevante.

Delimitado no Tempo

Por mais difícil (e às vezes inútil) que esta tarefa nos possa parecer, os OE devem
sempre ser delimitados no tempo.

Aquilo que muitas vezes sucede, é que, ao definirmos os objetivos, sabemos que
muitos fatores, dispersos no tempo, vão contribuir para alcançar esse objetivo.

Outras vezes, parece-nos que a execução de um determinado objetivo não é


propriamente enquadrável num tempo delimitado; por exemplo “promover a
autonomia das crianças no seu processo de crescimento”.

Num caso como este, não é a delimitação do tempo o problema, é o próprio OE


que não está bem formulado; não é suficientemente específico.

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MANUAL DE APOIO UFCD 4282PROJETO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL: AVALIAÇÃO

Esta característica dos OE permite-nos também, portanto, verificar a consistência


das anteriores.

Quanto à dimensão de DELIMITAÇÃO NO TEMPO, gostaríamos de reforçar que o


que se pretende é que a formulação refira o intervalo de tempo em que se espera
alcançar o OE.

Encontrámos nos exercícios algumas confusões com a referência ao tempo em


que decorrerão as atividades.

Este tipo de informação é desnecessário, no contexto da formulação de objetivos,


devendo ser remetido para o cronograma das atividades.

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MANUAL DE APOIO UFCD 4282PROJETO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL: AVALIAÇÃO

2.2.Concepção de novos projetos de intervenção sociocultural

A avaliação tem como objetivo principal a tomada de decisão sobre a prática, em


concreto o que poderíamos designar como a ação transformadora da realidade.

A partir dessa análise permanente, a avaliação analisa a realidade, valoriza opções


de transformação e melhora a tomada de decisões de continuidade. Sem a tomada
de decisão não há processo avaliativo.

Mas essa tomada de decisão tem como objetivo a otimização do processo de ação,
isto é, a introdução de melhoras significativas para os distintos agentes
intervenientes.

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MANUAL DE APOIO UFCD 4282PROJETO DE ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL: AVALIAÇÃO

Se um sistema de intervenção conseguir obter dados do desenvolvimento da ação


e dos seus efeitos e for capaz de os incorporar no processo de tomada de
decisões, significa que consegue reestruturar, permanentemente, a ação para
adequar cada vez mais ao problema que se quer resolver e conseguir a máxima
eficácia e eficiência na intervenção.

Neste sentido, a avaliação efetuada sobre os resultados de um determinado projeto


podem implicar a necessidade de conceber novos projetos derivados do primeiro,
se essa solução se revelar capaz para dar uma melhor resposta às problemáticas
fundamentais que estiveram na origem do primeiro projeto.

Metodologia do projeto

O Projeto

A palavra projeto deriva do latim “projectu” que significa lançado, relacionando-se


com o verbo latino “projectare” que se poderá traduzir por lançar para diante.

A partir desta raiz latina, a palavra projeto pode ter vários sentidos: ‘plano para a
realização de um ato; desígnio, tenção; redação provisória de uma medida
qualquer; esboço.

Em qualquer circunstância, podemos referir que “projeto” encerra um conceito


ligado à previsão de algo a que queremos dar forma.

No entanto, tal como os vários sentidos do termo, também o seu conteúdo pode ser
alvo de confusões e indefinições.

A elaboração de qualquer projeto pressupõe um processo que tem como


referências um ponto de partida (situação que se pretende modificar), um ponto de

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chegada (uma ideia do que se pretende modificar) e a previsão do processo de


“construção” (o “como” fazer).

A realização de um projeto exige, na escola como na vida pessoal ou social, que


este se precise através da elaboração de planos que estabelecem quem faz o quê,
quando e quais os recursos necessários.

O plano de um projeto deverá prever a quem são os intervenientes, como se


organizam, as estratégias de ação a desenvolver, os recursos necessários, bem
como as atividades que permitam concretizar o projeto.

Dado que o projeto se centra no desenvolvimento de um processo, existem três


características que o distinguem de um plano, a ver:

Flexibilidade
 o projeto vai-se concretizando através de uma evolução que pode não ser
inteiramente prevista.
 A sua flexibilidade permite a sua adaptação e adequação constante;

Contexto específico de desenvolvimento


 o sentido de um projeto decorre do contexto específico em que se
desenvolve.
 O projeto tem uma dimensão temporal que articula passado, presente e
futuro, num processo evolutivo que se vai construindo;

Empenhamento do grupo
 porque corresponde a um desejo, intenção ou interesse, o projeto é alvo de
uma carga emotiva (empenhamento e compromisso do grupo) que o
distingue da mera realização do plano.

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Nenhum projeto de EC deve iniciar-se sem definir com algum rigor a sua área de
ação/intervenção, quer seja espacial quer seja sectorial.

O primeiro passo consiste em definir e conhecer o local e o ambiente, para tal, é


conveniente reunir um conjunto de informações disponibilizadas quer pelo próprio
grupo alvo, quer através do levantamento informativo em livros, fotografias e outros
documentos que possam ajudar a explicar as características da área. “Posicionar”
um projeto é fundamental para que este seja entendido e apreciado corretamente.

Uma tabela bem organizada pode ajudar a comprimir muitas informações básicas,
e da organização desta informação depende a fiabilidade e qualidade do processo
comunicativo intra e inter parceiros.

Por outro lado, a organização adequada da informação permite identificar e


discernir o conhecimento oficial do conhecimento local, que, por vezes, é
desajustado e incoerente, sendo o conhecimento local, normalmente, mais próximo
da realidade social.

A organização da Informação deve ser cultivada desde o início do projeto de forma


a evitar uma sobrecarga de atividade e uma complexidade desnecessária.

Por outro lado, a existência e a manutenção de arquivos claros e concretos


permite-lhe, posteriormente, “contar a história” do seu projeto.

Elaborar um Projeto

Como referido, o levantamento de problemas e necessidades que precisem de uma


acção integrada e de carácter comunitário terá de ser baseada numa muito eficaz
recolha de dados e informação sobre a área (geográfica e sectorial).

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De um modo geral, a planificação de “gabinete” parte de estudos, inquéritos,


planeamentos logísticos e muitas vezes “esquece” a ligação dos problemas entre
si, os desejos da comunidade, as suas próprias prioridades e os contextos em que
estas necessidades são expressas.

Numa comunidade, perante um conjunto de problemas, haverá, por parte do


planificador, uma opção baseada sobretudo nos recursos disponíveis, na dimensão
do problema e na viabilidade da solução.

No entanto, é fundamental que ele ausculte os grupos sociais sobre as


expectativas ou problemas por eles considerados mais prementes.

Ao estabelecer prioridades considerar-se-á os problemas e eventuais ações de


forma sistemática, evidenciando as relações e os efeitos de um problema sobre os
outros.

Identificar os Problemas

É fundamental rever e discutir os dados apresentados no “caderno” para identificar


os problemas mais prementes.

Para cada problema é necessário identificar os grupos etários mais afetados; os


dados que indicam a existência efetiva de um problema e os recursos disponíveis
para a sua resolução.

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Depois do levantamento mais ou menos exaustivo dos problemas deverá elaborar-


se uma lista de prioridade (p.ex.:1 = muito prioritário), através da utilização de
critérios como: Dimensão do problema, viabilidade da solução, situação quanto às
prioridades de financiamento, outros.

Após o preenchimento da grelha, deverá discutir-se se os problemas detetados a


priori pela equipa do projeto correspondem à apreciação feita inicialmente pelo
grupo.

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Após esta primeira fase, é fundamental estudar exaustivamente as condições


desejáveis para cada uma das situações refletindo sobre os resultados esperados.

Após a seleção de um problema, tendo em conta que esta escolha deverá respeitar
as expectativas da comunidade, procede-se ao levantamento de um conjunto de
ações, distinguindo as estratégias desejáveis das exequíveis.

Definir objetivos

Como já referimos anteriormente, a definição de objetivos de um projeto é a forma


mais eficaz de promover planos de ação adequados, específicos e orientados para
a resolução de problemas.

Numa primeira fase é fundamental listar a as condições da situação atual, como


referido na identificação dos problemas.

Posteriormente discute-se e define-se as “condições desejáveis” (após reflexão


sobre as condições, os recursos e os apoios da comunidade) e estabelece-se um
cronograma para atingir os resultados (normalmente entre 3 a 5 anos).

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Identificar e selecionar ações para atingir os objetivos

Um bom exercício poderá ser o “braimstorming” de ideias, após o qual se fará uma
seleção, bem como uma associação se for caso disso, aperfeiçoando os conceitos
que estão por detrás das boas ideias e focalizá-las diretamente nas condições da
zona de intervenção.

Estabelecer posteriormente um sumário conciso por cada uma das ações


selecionadas e registá-lo é um passo importante para a seleção das melhores (e
mais adequadas) ações.

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De um modo geral o trabalho de planificação peca por excesso de objetivos, por


vezes irrealistas, ou por objetivos demasiado vagos e de difícil operacionalização e
avaliação, para além disto, muitos dos objetivos pressupõem ideias isoladamente,
sem terem em conta a integração das ações.

Cada uma das ações anteriormente descritas deverá ser subdividida em tarefas
que possam ser atribuídas a alguém ou a algum grupo para sua execução.

O tempo necessário para a sua realização deverá também ser registado, bem
como a definição de intervenientes deve definir as funções específicas a
desempenhar e as competências necessárias.

A clareza e especificidade dos objetivos, a identificação de tarefas e a sua


pertinente atribuição a pessoas ou grupos facilitam a eficácia do processo e a
verificação dos resultados.

Metodologias preferenciais

Visando assegurar a unidade entre metodologia e prática (em que a última é


sempre fonte do conhecimento) são procedimentos metodológicos preferenciais a
observação/participação militante.

O postulado fundamental da Educação Comunitária é a necessidade de realizar


uma síntese entre o estudo do processo de mudança social e a participação nesse
mesmo processo.

Ao mesmo tempo observador e militante o pesquisador terá como objetivo fazer


avançar a luta do grupo social rumo ao objetivo proposto (de mudança).

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Outra metodologia fundamental é o seminário, concebido como contexto teórico no


qual se faz a reflexão crítica sobre a prática.

Nesse sentido as questões discutidas no seminário serão os problemas concretos


e as práticas da vida e a experiência quotidiana dos participantes.

O papel do animador ou coordenador do seminário é o de assegurar a existência


de um contexto que propicie ao grupo uma reflexão crítica, ligada à prática, de
forma a tentar estabelecer relações entre consequências e causas e entre
fenómenos parciais e específicos e a realidade global.

Preparação dos planos de trabalho

É conveniente subdividir cada ação selecionada em tarefas isoladas que possam


ser atribuídas a alguém (ou algum grupo) para a sua execução.

É importante definir um calendário para a realização das tarefas (exemplo: usar


uma linha (-----) para indicar a duração das tarefas e um X para as tarefas pontuais.

O Orçamento ou a questão do “Quanto custa?”


Muitas vezes as análises e a reflexão sobre custos e benefícios poderão infletir
políticas de ação e melhorar a organização de recursos financeiros. Com
frequência a única maneira de convencer autoridades, organismos financeiros ou
mesmo as populações é mostrar que é “melhor, embora caro” e “mais barato a
longo prazo”.

Aos custos dos bens, serviços e ações tradicionais deverão acrescentar-se


indicadores como sejam o desgaste dos equipamentos, gastos de deslocação,
formação da equipa, despesas de “marketing”, autofinanciamento, tempos de
adaptação das pessoas ao processo, etc.

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O orçamento é legitimado pelos serviços que o projeto presta à comunidade e pela


grandeza dos problemas que ajuda a resolver.

Os custos/benefício e os custos/eficácia são fundamentais para a exequibilidade e


continuidade do projeto.

Elaboração de um Orçamento:

1. Da lista de tarefas, identificar e listar todos os itens de custos;


2. Para cada um deles, calcular um custo (utilizando “padrões de unidade
de custo”);
3. Depois de todos os itens orçamentados, conclui-se o orçamento global,
assinalando os itens que podem ser cobertos por recursos existentes;
4. Definir itens principais e sintetizar o orçamento pelas rubricas principais.

Como conclusão, fica o registo que a dinâmica decorrente da realização de


projetos pertinentes, a possibilidade da participação dos indivíduos (grupo-alvo) e a
adequação dos resultados às práticas quotidianas, com a natural promoção de
mudanças positivas, alargará o interesse, a curiosidade e a participação das
comunidades o que possibilita o surgimento de outros projetos que poderão ser
encadeados ao longo de um período de tempo maior.

Seguidamente, e em jeito de síntese, apresenta-se um exemplo de grelha a


preencher na etapa de reformulação de um projeto de intervenção sociocultural,
juntamente com a descrição dos respetivos indicadores:

Planificação do projeto

Lógica de Indicadores Fontes de Pressupostos


intervenção Objetivamente comprovação importantes

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comprováveis

Objetivo geral Indicadores para a (12)


para o qual o prossecução do
proj. deverá objetivo geral
contribuir (9)
(1)

Objetivo Indicadores que (13) Para a


específico demonstrem que prossecução
(2) atingimos o objetivo do objetivo
específico geral
(10) (8)

Resultados Indicadores que (14) Para alcançar


(3) comprovam a obtenção o objetivo
dos resultados específico
(11) (7)

Atividades Especificação de (16) Para alcançar


(4) custos/ recursos para os resultados
cada atividade (6)
(15)

(5)

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(1) Objetivo geral, para o qual o projeto deverá contribuir: Formular o objetivo
geral, tendo em consideração os resultados da análise dos objetivos.

(2) Objetivo específico: Contribui para a prossecução d objetivo geral e identifica


o que vamos fazer no projeto.

(3) Resultados: identificar quais os resultados (em quantidade e qualidade) que


têm que ser obtidos para alcançar o efeito esperado (objetivo específico).

(4) Atividades: Atividades a executar/ implementar, para se obterem os resultados


definidos.

(5) Pressupostos importantes ou fatores externos, que são necessários para o


início das atividades.

(6) Pressupostos importantes ou fatores externos, não influenciáveis pelo


projeto, que têm de ocorrer ao nível das atividades para a obtenção dos resultados.

(7) Pressupostos importantes ou fatores externos, não influenciável pelo


projeto, que têm de ocorrer ao nível dos resultados para a obtenção do objetivo do
projeto.

(8) Pressupostos importantes ou fatores externos, não influenciáveis pelo


projeto, que têm de ocorrer ao nível do objetivo específico para a obtenção do
objetivo geral.

(9) Indicadores de prossecução do objetivo geral.

(10) Indicadores que demonstram que o objetivo específico foi atingido.

(11) Indicadores que comprovam a obtenção dos resultados qualitativos e


quantitativos.

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(12) Fontes de comprovação dos indicadores (relatórios/ documentos


elaborados pela Organização ou provenientes de outras fontes) do objetivo geral.

(13) Fontes de comprovação dos indicadores (relatórios/ documentos


elaborados pela ONG ou provenientes de outras fontes) do objetivo específico.

(14) Fontes de comprovação dos indicadores (relatórios/ documentos


elaborados pela ONG ou provenientes de outras fontes) dos resultados.

(15) Especificação de custos e recursos essenciais à implementação das


atividades.
(16) Documentos que comprovam os custos e recursos despendidos.

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3.Relatório final do projeto

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O relatório de avaliação final de um projeto de animação deve ser elaborado tendo


em conta os destinatários.

O relatório pode ser dirigido a diferentes destinatários:

 Técnicos;
 Dirigentes;
 Instituições financiadoras;
 Público-alvo;
 Comunidade.

COMUNIDADE

DIRIGENTES TÉCNICOS
RELATÓRIO
DE
AVALIAÇÃO
DO PROJETO

PÚBLICO-
INSTITUIÇÕES
ALVO

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O formato e a linguagem devem ser adequados aos destinatários, devendo ser


programado em função das necessidades destes.

Se o relatório for dirigido a um público-alvo com baixo nível de instrução, deverá


ser utilizada uma linguagem mais simples, não correndo o risco de entrar numa
linguagem técnica e hermética que as pessoas não vão compreender. Pelo
contrário, se for dirigido a um técnico, a linguagem utilizada deverá ter um cariz
técnico.

Se o relatório for dirigido a chefias, deverá possuir uma estrutura que permita
rapidamente fornecer as conclusões da avaliação, uma vez que, raramente lêem o
relatório completo.

Uma pergunta que se impõe antes de iniciar um relatório de avaliação é: quem vai
ler?

Salvaguardando as devidas adaptações que sejam necessárias elaborar, em


termos técnicos, poder-se-á apresentar um modelo geral para um relatório de
avaliação.

O formato-padrão para a elaboração de um relatório de avaliação deve ser


entendido como uma base de trabalho e de orientação, podendo ser omissas
algumas partes e inseridas outras consideradas pertinentes.

 Capa - Deve conter o título e o nome do projeto, as organizações


responsáveis pela implementação, a data e o local e, se aplicável, os
logótipos da instituição financiadora.

 Primeira página (página de rosto) - Repete a informação da capa e,


adicionalmente, outra informação de relevo, como por exemplo, os contactos
dos proponentes, o nome do(s) autore(s), etc.

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 Índice – O índice de cada item presente no relatório e respetiva paginação;

 Sumário executivo - Deve ser escrito de forma cuidada, clara e objetiva, na


medida em que será a única parte lida por muitos decisores. De forma
sintética e objetiva, numa página, deve fornecer-se uma ideia global do
projeto: o que correu bem, o que correu mal, recomendações acerca da sua
continuação, etc. Não necessita de utilizar uma linguagem excessivamente
técnica.

 Breve descrição da área de intervenção – Neste ponto esboça-se um


enquadramento teórico da área de intervenção central ao projeto (por
exemplo: social, cultural, educativa, etc.)

 Breve história de projetos e intervenções anteriores - Apresentam-se


aqui estudos elaborados anteriormente sobre a mesma temática, junto do
mesmo público-alvo, e de que modo as conclusões destes ajudam a
construir os propósitos do presente projeto;

 Descrição do enquadramento institucional – Descreve-se o


enquadramento das instituições onde terá lugar a execução prática do
projeto;

 Análise das necessidades detetadas – Fundamentação das necessidades


detetadas na comunidade que conduziram à decisão de elaborar um projeto
de intervenção;

 Formulação do problema a ser trabalhado – Com base nas necessidades


detetadas, esboçar o problema central à elaboração do projeto, o qual
consistirá na hipótese de trabalho a ser testada;

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 Objetivo geral – O objetivo geral a que o projeto se propõe alcançar (v.


pontos anteriores);

 Objetivos específicos – Os objetivos específicos, derivados do objetivo


geral, aos quais o projeto se propõe alcançar (v. pontos anteriores);

 Metodologia – Descrição do enfoque metodológico adotado, o qual deriva


na natureza específica do problema a ser trabalhado;

 Plano operacional – Descrição das etapas de intervenção e execução


levadas a cabo;

 Resultados alcançados – Análise crítica dos resultados obtidos com a


execução do projeto. Neste ponto devem ser confrontados os resultados
obtidos com os previstos, se ocorreu a validação das hipóteses inicialmente
levantadas e se o projeto contribuiu para a minimização do problema
detetado. Aqui devem ser feitas considerações sobre a eventual
necessidade de reformulação de objetivos e/ ou a organização de novos
projetos de intervenção;

 Bibliografia - Contém, num formato padronizado, os documentos e a


literatura consultada durante a elaboração da proposta e ainda literatura
adicional acerca da área de intervenção do projeto proposto.

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Bibliografia

 Ander-Egg, Ezequiel Metodologia y pratica de la animación sociocultural, Ed.


Humanitas, 1981

 Vallicrosa, Jaume, “Técnicas de intervenção na animação sociocultural” in


Trilla, Jaume (coord.), Animação sociocultural: teorias, programas e âmbitos,
Lisboa, Instituto Piaget, 2004

 Martínez, Xavier, “A avaliação da animação sociocultural” in Trilla, Jaume


(coord.), Animação sociocultural: teorias, programas e âmbitos, Lisboa,
Instituto Piaget, 2004

Documentos electrónicos

 González, Mario “Evaluación y calidad en educación non formal”, Revista


Praticas de Animação, Ano 3 – Número 2, Outubro de 2009
http://revistapraticasdeanimacao.googlepages.com/Evaluacioycalidad.pdf

 Monteiro, Alcides, “A avaliação nos projetos de intervenção social: Reflexões


a partir de uma prática” – III Congresso Português de Sociologia – Práticas e
processos de mudança social, 1996
http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR492ee22b8d9af_1.pdf

 Santos, Henrique, “Animação comunitária” , 2003

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http://hen2.no.sapo.pt/animacaocomunitaria.pdf

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