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Introdução

Desde que nasce a criança encontra-se em constante processo de desenvolvimento e sua


interacção com o meio físico e social possibilita que adquira conhecimentos que são aceitos pela
sociedade na qual está inserida. Esta apropriação de conhecimento se dá tanto pelas relações
estabelecidas no ambiente familiar, escolar e na sociedade como um todo.

Através das diversas experiências a criança vai se apropriando das normas e valores presentes na
sociedade, formando assim a sua consciência ou juízo moral. Não se trata de um acontecimento
imediato, mas de um processo que vai ocorrendo durante toda a fase da infância. Dessa forma, é
importante conhecer como se dá esse processo de construção da moralidade e como tem
acontecido na prática no contexto da educação escolar, conforme será apresentado na sequência
deste trabalho.

A Formação do Juízo Moral

O ingresso da criança no universo moral se dá pela aprendizagem de diversos valores e deveres a


eles impostos tanto pelos pais quanto por adultos em geral. Não mentir, não pegar as coisas dos
outros, não agredir fisicamente nem oralmente. Num segundo momento tal imposição é possível
na fase da heteronomia da criança.

De fato, a moralidade humana é o palco por excelência onde a afectividade e a razão se


encontram sob a forma de conjunto. Em 1932, no início de sua carreira de epistemologia e de
psicologia, Jean Piaget, publicou Le Jugemente Moral Chez L`infant. Nele não se encontram
conclusões definitivas, reflexões completas, conceitos lapidados, mas retoma uma mesma idéia,
procurando dar-lhe um contorno significativo sobre juízo moral. Para Piaget apud La Taille
(1992), toda a moralidade, deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por regras. O
autor refere-se aos jogos colectivos de regras responsáveis paradigmática para a moralidade
humana.

Ao nascer, a criança age em função do seu ritmo interno, sob o forte comando das necessidades
básicas do seu corpo e impõe ao meio as suas regularidades de sono, alimentação e mesmo de
companhia e afecto. O organismo humano, como o de todos os seres vivos, orienta-se na busca
de uma adaptação a esse meio, efectuando trocas, acomodando-se às situações e objectos,
assimilando o real enquanto constrói sua personalidade, sua forma de relacionar-se com o
exterior, regulando seus impulsos às exigências dos que o rodeiam.
Os sentimentos e as necessidades das crianças são inibidos inúmeras vezes e, cada vez mais, em
função das preferências dos outros, pela aprovação e reprovação do meio circundante: “Desde o
berço é submetida a múltiplas disciplinas e, antes de falar, toma consciência de certas
obrigações.”
A personalidade se constrói pela busca de adaptação, de um lado pela estrutura cognitiva
que se vai formando em estágios cada vez mais abrangentes e elaborados e, de outro, pelo
julgamento do bem e do mal, do justo e do injusto que lhe dá não somente parte do seu
dinamismo, mas todo o sentido de sua orientação. “É o julgamento de valor que unifica a
personalidade, com vistas à sua formação.“
Nem o bem, nem o mal são dados à priori. A decisão de como agir vai depender da capacidade e
responsabilidade de cada um em responder, por si mesmo, aos desafios da vida em comum, da
sua coragem e determinação em enfrentar a si mesmo e ao problema moral da sociedade.
Freitag (1992) estudando a questão moral, conclui que não há um princípio de acção inequívoco,
racional, transparente, que nos diga para todo o sempre como agir, como julgar e interpretar as
acções alheias e as nossas, “a harmonia da consciência moral humana simplesmente inexiste.

Aliás, a questão “Como agir?” acompanha a história humana em toda a sua


existência, pois “tudo que é humano põe então, cedo ou tarde, por um lado ou por
outro, sob uma forma ou outra, um problema moral. “No decorrer dos tempos, o
homem atribuiu valores às situações sociais e definiu regras que constituíram um
sistema, ao qual deve obediência e que é aprendido pelas crianças desde pequenas.

Piaget explicou a forma de assimilação das regras sociais pela criança.

Na obra “O Juízo Moral na Criança”, publicada pela primeira vez em 1932, Piaget
traz a proposta de tentar compreender o juízo moral do ponto de vista da criança, e
descreve as regras morais que se estabelecem durante seu desenvolvimento.

O estudo da moralidade é uma parte da obra piagetiana na qual o autor não


aprofundou suas pesquisas. As razões podem ser várias: tempo e objetivo
despendido pelo pesquisador com o problema epistemológico, preferência pessoal,
ou até razões políticas, ligadas à delicada posição que ocupava no Instituto Jean
Jacques Rousseau. Estudiosos piagetianos reconhecem que as ideias presentes em
“Juízo Moral na Criança” permearam toda a obra de Piaget e já existiam desde
1916 ou 1917, quando escreveu Recherche: “um livro em parte autobiográfico, em
parte um ensaio de elaboração de suas leituras (...) sob a forma de romance
filosófico (...) para não se comprometer no campo da ciência” (Freitas, 1997, pp.
66-67). Em “Juízo Moral na Criança”, traçou estratégias para estudar o jogo de
bolinhas de gude, comum entre os meninos da região pesquisada, e os jogos de
pique e amarelinha com as meninas, procurando comprovar a relação entre respeito
e moralidade. Formulou às crianças de 6 a 12 anos questões morais em forma de
dilemas ou perguntando-lhes livremente sobre o tema. É fundamental esclarecer
que Piaget achava importantíssimo o inquérito que se seguia ao teste.

Para demonstrar como observou e comprovou a construção dessa moralidade,


vamos seguir os passos de Piaget em “Juízo Moral na Criança”.

Os Estágios e Regras na Prática do Jogo de Bolinhas de Gude

Quanto ao estudo das regras do jogo de bolinhas de gude, Variação do quadrado


(“traça-se no chão um quadrado, dentro do qual se colocam algumas bolinhas; o
jogo consiste em atingi-las de longe e fazê-las sair desse quadrado”( Piaget,
1932/1994, p. 5), Piaget chegou à conclusão de que há quatro estágios, do ponto de
vista da prática das regras. 1° estágio (até os 2 anos): motor e individual, quando a
criança simplesmente manipula as bolinhas para sua própria exploração e utiliza-as
como objectos diversos para estabelecer alguma ritualização, processo de
adaptação efectiva. 2° estágio (entre 2 e 5, 6 anos): caracterizado pelo
egocentrismo infantil. A criança aceita as regras que recebe do exterior, dos adultos
ou dos meninos mais velhos (no caso do jogo). Considera as regras sagradas e
imutáveis e é completamente avessa à sua alteração. Há uma característica que
deve ser detalhada: é o fato de haver uma desorganização da memória da criança
aproximadamente até os 7 anos de idade, quando ela crê que sempre soube o que
acabou de aprender. Assim, quando Piaget joga com as crianças, logo que modifica
as regras, elas não aceitam, para, em seguida, concordar. Segundo Piaget, elas não
se apercebem da mudança. Jogam com os outros, imitando-os. Crêem que estejam
em interacção com os demais, enquanto jogam só para si e modificam as regras
sem perceber. 3° estágio (entre 7, 8 anos e 11, 12 anos): caracterizado por uma
cooperação que começa a surgir; a criança já conhece as regras e já aceita suas
mudanças, desde que o grupo esteja de acordo com elas. No entanto, o que o
observador.

Considerações Finais

Este trabalho buscou algumas contribuições para que os educadores pudessem


reflectir e melhor entender como se dá o processo de desenvolvimento do juízo
moral em seus alunos.

Tendo esta compreensão, os professores têm a possibilidade de durante a sua


actuação em sala de aula, dar a oportunidade para que as crianças desenvolvam
uma autonomia de modo a contribuir na vida própria e na vida social,
desenvolvendo a consciência activa para saber agir em todos os momentos da vida.

Através do presente estudo, foi possível perceber que durante o desenvolvimento


do juízo moral a criança desenvolve-se por etapas, que são: a anomia sendo a
primeira etapa onde a criança é completamente dependente do adulto e não segue
regras colectivas, o momento de inserção de regras compreensíveis e a questão da
pré-adolescência, quando o individuo passa a possuir a sua autonomia, mesmo que
dependendo em alguns momentos de supervisão a atenção de sujeitos da vida
adulta.

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