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Curso de Psicologia
“[...] percebi que todas aquelas perguntas eram a minha busca pelas respostas que
trariam uma certa segurança sobre aquele mundo em que eu acabava de entrar.
Disse a mim mesma: “Calma, você quer entender o mundo de alguém em apenas
alguns minutos? Não tenha pressa”” (Bilbao,2007) p. 33
Sendo assim, esse aspecto fica evidente quando Angela se questiona sobre o tipo
de abordagem que deve seguir como psicóloga, ela refletiu sobre como os outros
profissionais se referiam a seus pacientes de uma forma determinista e faziam suas
análises elaborando conceitos e estratégias, e observando que os pacientes são
vistos como diagnósticos, resultados e não como um ser com possibilidade de
mudança e de fato responsável por sua existência. Como verificamos nos trechos:
“[...] J.R. era esquizofrênico , mas essa nomenclatura não revelava para mim quais
eram seus medos, qual a sua forma de ser-no-mundo, qual sua compreensão de si
mesmo, e portanto, eu pensava que era preciso ir além dos conceitos e da
descrição de psicopatologia para compreender realmente o outro” (Bilbao,2007)
p.20
Assim como o trecho em que questiona: “Para quem realmente servia tudo aquilo
que eu tinha aprendido?” (Bilbao,2007) p.19, como forma de entender a
necessidade de moldar a dinâmica psicoterápica de acordo com a pessoa que está
naquele processo.
Como também cita Feijoó (2011) Heidegger retira a ideia de consciência, mantendo
apenas a intencionalidade como o espaço onde a existência acontece, o Dasein.
Esse aspecto é observado no livro quando Angela analisa a forma negativa como
J.R é descrito, ela diz que alguém é aquilo que faz de si mesmo, que ele deve ser
visto como um ser de possibilidades produto e produtor do mundo. Ao lado do texto
do livro tem uma frase que se completa com a afirmação de Feijó e Angela:
Assim como os trechos retirados do livros que também reiteram e ilustram a ideia de
Intencionalidade:
“[...] E se nós fôssemos, antes de mais nada, o produto de nossa própria produção?
Caberia a nós mudar, caberia a nós reconhecer a responsabilidade pelo que
fizemos de nós e pelo que faremos por nós dali em diante. As possibilidades
abrem-se e, novamente, o ser humano põe-se em movimento” (Bilbao,2007) p.23
Já no que tange o tema Epoché tem se que, de acordo com Husserl (1859- 1938) é
necessário suspender os pressupostos, processo de epoché, para alcançar os
fenômenos e poder analisá-los corretamente sem a prioris e julgamentos, a
ausência desse processo é observado no livro quando Ângela chega a primeira vez
na casa de Zabine e a mesma não abre a porta, Angela senta na calçada e faz
vários questionamentos e reflexões sobre a paciente e o porquê dela não ter aberto
a porta, assim como a situação de sua casa, levando a acompanhante a firmar
posteriormente estar ouvindo seus próprios pensamentos e suposições e não o
fenômeno de fato, como podemos confirmar no trecho :
“Eu estava ouvindo apenas os outros e minhas próprias suposições, mas, afinal,
quem era Zabine? O que ela diria?” (Bilbao,2007) p.30
“A essa altura, supus que algo em Zabine havia morrido, [...]. Por vezes, vinham-me
à mente imagens de um lugar arrasado por um vento incontrolável ou uma imensa
tempestade.” (Bilbao,2007) p.38
“Eu pensava que, para entendê-la realmente, era preciso mergulhar na sua
experiência e não conseguiria fazê-lo estando repleta de preconceitos e
pressupostos teóricos ou pessoais” (Bilbao,2007) p.60
Angela ressalta seu entendimento sobre importância desse processo ao ouvir uma
história incompleta em significados e palavras de sua acompanhada e dizer: “Eu
sabia que existia um significado particular em tudo aquilo, mas não podia terminar a
história com minhas próprias conjecturas porque elas poderiam ser falsas”
(Bilbao,2007) p.58
[...] Heidegger se apropria disso para formular a abertura [...] como uma
apreensão, mas uma apreensão como pura possibilidade em oposição a apreensão
aristotélica [...]. A abertura, assim, sai do âmbito teórico (consciência) para o âmbito
fático, é uma apreensão das possibilidades de acordo com o mundo, o que lhe
confere o caráter dinâmico em oposição ao caráter estático da apreensão da pura
realidade.
“[...] o terapeuta deve manter sempre uma abertura para compreender o paciente
segundo seus próprios parâmetros. Isso não é uma tarefa fácil, pois exige certo grau
de humildade e de confiança para lidar com o estranho” (Bilbao,2007) p.56
“[...] viver com os outros sem tabelas e conceitos preestabelecidos, sem saber se
era possível, sem saber se eu suportaria a angústia desse horizonte aberto à minha
frente.” (Bilbao,2007) p.23
“[...] estava disposta a mergulhar naquele mundo estranho, compreender o que ela
pensava e sentia e, para isso, não podia ter pressa.” p.32
“A doença é, muitas vezes, uma compreensão limitada de uma existência que traz
múltiplos significados” (Bilbao,2007) p.34
“Com a doença, ela não tinha mais controle, nem liberdade para escolher e nem
responsabilidade sobre si mesma” p.50
Para dar encerramento à análise de Anjos de Zabine vale entender Zabine, assim
como todos nós seres em adoecimento ou não, como ser-no-mundo, ou seja
devemos nos entender e ser entendidos dentro de nossas próprias experiências,
devemos ser analisados e compreendidos com parâmetro em nós mesmos e não
em teorias e postulados em que devemos nos encaixar jogando as sobras fora.
Assim como devemos ser vistos como ser de possibilidade, trazendo a
responsabilidade e liberdade para viver e vivenciar nossas experiências, fazendo
com que tenhamos propriedade sobre o que de fato nos pertence e compromisso
com a forma que lidamos com o mundo.
Referências:
- Bilbao, Giuliana. Os Anjos de Zabine: um ensaio psicoterapêutico. Campinas, SP;
Editora Alinea, 2007.