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MAIO .

2015

Febre Zika– ZIKA-V


QUE É IMPORTANTE SABER
Detectada pela primeira vez a circulação do vírus Zika (ZIKA-V) no Brasil e América Latina.
No dia 29 de abril de 2015 foi emitido alerta no Promed-mail (programa da International So-ciety for
Infectious Diseases) sobre pesquisa realizada no Instituto de Biologia da Universidade Federal da
Bahia (UFBA) que resultou na identificação, pela primeira vez no Brasil e América Latina, do ZIKA-V.
A pesquisa foi realizada em amostras coletadas de pacientes procedentes do município de
Camaçari, na região metropolitana de Salvador.1 Os resultados da pesquisa ainda não foram
oficialmente divulgados e de acordo com informação publicadas no site da
UFBA:https://www.ufba.br/noticias/reitoria-recebe-pesquisadores-que-identificaram-o-zika -v
%C3%ADrus, estes serão publicados brevemente como artigo científico em revista de rele-vância
internacional.
O Ministério da Saúde no dia 14/05/2015 foi comunicado, pelo Laboratório de Referência Na-cional,
Instituto Evandro Chagas, sobre a confirmação diagnóstica do Zika vírus no Brasil. Esta confirmação
ratifica os achados realizados em laboratórios diferentes evidenciando que este vírus foi introduzido
no país e pode justificar parte dos casos de doença exantemática de causa desconhecida que estão
ocorrendo no Brasil, principalmente, nos Estados da Região Nor-deste.2 Foram confirmados 16 casos
até o dia 09/05/15 sendo 08 de pessoas procedentes do município de Camaçari-BA e 08 de Natal-
RN.
DADOS EPIDEMIOLÓGICOS
O Zika vírus foi isolado pela primeira vez a partir de soro de macacos na floresta Zika, na Uganda, em
1947. Em 1954 foi identificado o primeiro caso humano na Nigéria. Evidência de infecção humana
também foi relatada em outros países africanos, como Uganda, Tanzânia, Egito, República Centro
Africana, Serra Leoa e Gabão e em partes da Ásia como Índia, Malásia, Filipinas, Tailândia, Vietnã e
Indonésia.3
Em 2007, ocorreu um surto na ilha Yap dos Estados Federados da Micronésia no Pacífico. Foi a
primeira transmissão documentada fora da tradicional área endêmica na África e Ásia. 4
Na Europa, o primeiro caso confirmado laboratorialmente ocorreu no ano de 2013, em Ham-burgo,
Alemanha, em um alemão que havia viajado para a Tailândia.5
Não existia até o momento relato da identificação do vírus na América Latina. 2
CARACTERÍSTICAS DO VÍRUS E FORMA DE TRASMISSÃO
O ZIKA-V é um vírus RNA pertencente à família Flaviviridae que causa quadro clínico semelhante à
dengue. A principal de via de transmissão é vetorial, por meio da picada do mosquito Aedes aegypti.
PERÍODO DE INCUBAÇÃO
3 a 6 dias após a picada do mosquito infectado.4
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Os sinais e sintomas mais comuns são exantema, febre, artralgia, mialgia, cefaleia e conjunti-vite. O
exantema é frequentemente maculopapular. Ocasionalmente podem ocorrer edema, dor de
garganta, tosse, vômitos e diarreia. Apesar do quadro semelhante à dengue, a evolução costuma ser
mais benigna, sem relato de casos graves. Os sinais e sintomas são autolimitados com duração de 3
a 6 dias.4,5
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS
Pode raramente causar plaquetopenia e alterações de transaminases.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico confirmatório pode ser feito através do RT-PCR ou pesquisa de anticorpos IgM e IgG,
dependendo do período de duração da doença. O isolamento viral é dificultado pela baixa viremia
apresentada.
No momento, não há disponibilidade de testes comerciais para ZIKA-V no mundo. No Brasil os
exames foram realizados na forma de pesquisa, portanto ainda não há definição do período de
evolução dos sinais e sintomas para coleta dos exames, bem como da meto-dologia que será
utilizada.
QUANDO SUSPEITAR
O Ministério da Saúde estabelecerá na próxima semana os critérios de definição de casos sus-peitos.
Para busca retrospectiva de casos na investigação realizada pelo Ministério da Saúde nos es-tados
do Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba, estão sendo utilizados os seguintes crité-rios:
Presença de exantema e febre baixa ou afebril em pacientes com quadros clínicos quenão se
enquadram nas definições de dengue, chikungunya, sarampo e rubéola.
Vínculo epidemiológico com outros casos suspeitos.

Diante de um caso suspeito, é necessário descartar outras arboviroses, como dengue, chikun-gunya,
febre do oeste do Nilo, encefalite de Saint Louis, e talvez no Brasil, principalmente em residentes ou
procedentes da região amazônica, o vírus Mayaro e Oiapoche. Também se deve descartar rubéola e
sarampo.3
O QUE FAZER DIANTE DE UM CASO SUSPEITO
Se em Belo Horizonte, notificar imediatamente ao CIEVS-BH pelo telefone 8835 3120 e em Betim ou
Contagem notificar o CIEVS Minas pelo telefone 9744 6983.
Notificar o caso na FICHA DE NOTIFICAÇÃO/CONCLUSÃO do SINAN, disponível em:
http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/novo/Documentos/SinanNet/fichas/Ficha_conclu-sao.pdf
Se houver por parte do CIEVS-BH ou CIEVS Minas confirmação de suspeita diagnóstica, poderá ser
coletado soro para envio a Fundação Ezequiel Dias – FUNED, que fará o encaminhamento ao
Instituto Nacional Evandro Chagas.
ESTA NOTA SERÁ ATUALIZADA A MEDIDA QUE O MINISTÉRIO DA SAÚDE ATUALIZAR SEUS DA-DOS E
ESTABELECER CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO CLÍNICO E LABORATORIAL.
REFERÊNCIAS
1. Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas: Rede PROMEDMAIL. www.promed.mail.org acesso
em 08/05/2015.

2. Ministério da Saúde – CIEVS Nacional - Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Sa-úde -


Nota Informativa 07/2015 – Evento de Saúde Pública (ESP) relacionado a casos de síndrome
exantemática em estados da Região Nordeste do Brasil em 2015 – atualização 2.

3. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. CIEVS MINAS – Centro de Informações Estratégi-cas
em Vigilância em Saúde de Minas Gerais. Nota Técnica sobre Zika virus (ZIKV).

4. Tappe D, Rissland J, Gabriel M, Emmerich P, Günther S, Held G, Smola S, Schmidt-Chanasit J. First case
of laboratory-confirmed Zika virus infection imported intoEurope, November 2013. Euro Sur-veill.
2014;19(4):pii=20685. Available online: http://www.eurosurveillance.org/ViewArticle.aspx?
ArticleId=20685.

5. Lanciotti RS, Kosoy OL, Laven JJ, Velez JO, Lambert AJ, Johnson AJ, et al. Genetic and serologic
properties of Zika virus associated with an epidemic, Yap State, Micronesia, 2007. Emerg Infect Dis.
2008;14(8):1232-9. http://dx.doi. org/10.3201/eid1408.080287.

Revista Brasileira de Epidemiologia

On-line version ISSN 1980-5497

Rev. bras. epidemiol. vol.18 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2015 Epub Mar 2015

http://dx.doi.org/10.1590/1980-5497201500010022

Chikungunya no Brasil: um desafio emergente


Maria Rita Donalisio I , André Ricardo Ribas Freitas II

IDepartamento de Saúde Pública/Faculdade de Medicina/Unicamp, Campinas (SP), Brazil

IIFaculdade São Leopoldo Mandic, Campinas (SP), Brazil

CONTEXTO

Pela primeira vez na história, foi documentada a transmissão autóctone da febre do Chikungunya nas
Américas no Caribe em 2013. A seguir, foi confirmada, no Oiapoque, a ocorrência no Brasil. Até outubro
de 2014, foram registrados 828 casos no país, sendo somente 39 vindos do exterior. Curiosamente,
parece ter havido duas introduções virais diferentes nas Américas, pois o genótipo viral que foi isolado
no Oiapoque e no Caribe não é o mesmo que o estudado na Bahia.

HISTÓRIA

O Chikungunya (CHIKV) é um RNA vírus da família Togaviridae do gênero Alphavirus, descrito pela
primeira vez em 1950 na região que hoje corresponde à Tanzânia durante um surto atribuído
inicialmente ao vírus Dengue. Após as primeiras descrições, dois padrões de transmissão distintos foram
descritos: um silvestre e periurbano na África (Aedes ssp) e outro urbano na Ásia (A. aegypti). Além
disso, três genótipos diferentes circulando em regiões do planeta (África Central, Sul e Leste - ECSA,
África Ocidental - WA e Ásia) foram relatados. Até então, poucos casos clínicos graves e nenhum óbito
haviam sido associados a infecções por este vírus1.

A partir de 2005, pequenas mutações na proteína E1 do envelope viral na variante ECSA permitiram
melhor adaptação viral a um novo vetor cosmopolita (Aedes albopictus). Isto contribuiu para uma
grande expansão da doença para o Oceano Índico e, posteriormente, Ásia e Europa. Ainda em 2005, o
vírus chegou às Ilhas Reunião após um surto ocorrido no Quênia. Nesta epidemia que atingiu cerca de
40% da população, muitos casos graves foram documentados e confirmados laboratorialmente, com
letalidade de estimada em 1/1.000 casos2.

CARACTERÍSTICAS

A Chikungunya se caracteriza por quadros de febre associados à dor articular intensa e debilitante,
cefaleia e mialgia. Embora possua sintomas semelhantes ao da dengue, chama a atenção a
poliartrite/artralgia simétrica (principalmente punhos, tornozelos e cotovelos), que, em geral, melhora
após 10 dias, mas que pode durar meses após o quadro febril. A proporção de casos crônicos variou em
diferentes epidemias na França, África Sul e ilhas do oceano Índico, de 4 a 63%. O nome Chikungunya
significa "aquele que se curva" na língua Makonde, falada em várias regiões da África Oriental, razão da
posição antálgica que os pacientes adquiriam durante o período de doença2.
Embora quadros severos não sejam comuns e não ocorram choque ou hemorragias importantes como
na dengue, manifestações neurológicas (encefalite, meningoencefalite, mielite, síndrome Guillain Barré),
cutâneas bolhosas e miocardite podem trazer gravidade aos casos; principalmente, em bebês e idosos2.

CHIKUNGUNYA E A DENGUE

Ao se comparar com a dengue, a Chikungunya apresenta características que amplificam a disseminação


da doença e aumentam a possibilidade de grandes e explosivas epidemias. Entre estas características
estão a maior proporção de casos sintomáticos (> 90%), menor tempo de incubação intrínseca (de 2 a 7
dias), maior período de viremia (2 antes e 10 depois da febre) e menor período de incubação extrínseca
(no mosquito). A replicação viral no mosquito Aedes albopictus além do A. aegypti aumenta a extensão
geográfica das regiões com potencial de circulação viral.

Existe, ainda, o risco de estabelecimento de um ciclo enzoótico da Chikungunya macaco-mosquito no


Brasil impossibilitando a erradicação da doença no país.

DESAFIO

Um grande desafio se apresenta ao país. A inclusão da doença entre os diagnósticos clínicos diferenciais
de síndrome dengue-like (doenças próximas à dengue) implica em intensa divulgação do agravo entre as
equipes de saúde em todo o Brasil. A ocorrência de epidemias simultâneas dificulta o manejo clínico em
razão de peculiaridades da dengue e da febre do Chikungunya.

A ausência de vacina e de medicação específica deixa para as equipes de controle de vetores, a tarefa de
prevenir a transmissão. O Ministério da Saúde aponta também para a identificação precoce de casos em
área indene, ampliação da retaguarda diagnóstica e o treinamento de equipes de saúde. Cabe à
comunidade científica, junto aos serviços de saúde, acompanhar o quadro epidemiológico, identificar os
padrões de transmissão no Brasil, o impacto da doença e, principalmente, contribuir com a proposição
de medidas de enfrentamento deste grande desafio emergente.

REFERÊNCIAS

1. Weaver SC. Arrival of chikungunya virus in the new world: prospects for spread and impact on public
health. PLoS neglected tropical diseases, 2014; 8(6), e2921.

2. Powers AM, Logue CH. Changing patterns of chikungunya virus: re-emergence of a zoonotic arbovirus.
Journal of General Virology, 2007; 88(9), 2363-2377.

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