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Recife 2017
à Diogo, que deslizou para o mar,
como todo castelo de areia
Agradecimentos
1. Introdução .10
4. Justiicativa .13
5. Metodologia .13
9. Legislação .36
11
2. Objetivo Geral
Esse trabalho possui um objetivo duplo: ajudar a fortalecer a
literatura cientíica sobre o potencial do uso do bambu como material
de construção no mercado brasileiro, e, baseado nisso, propor um
projeto que contenha soluções aplicáveis no contexto local. Para
delimitar o escopo do trabalho, foi deinida a seguinte pergunta de
pesquisa:
3. Objetivos Específicos
Para alcançar o acima proposto, uma problemática teve que
ser desenvolvida, lidando tanto com os aspectos investigativos quanto
os projetuais. Assim, buscou-se analisar a viabilidade econômica
e ambiental da cadeia produtiva do bambu como material de
construção através da pesquisa sobre a possibilidade do plantio de
espécies adequadas para construção em solo nordestino, seguida
do levantamento dos aspectos econômicos e administrativos de
experiências relevantes no cenário nacional e estrangeiro. Completando
a análise de viabilidade, procurou-se levantar a legislação estrangeira e
brasileira existente sobre o assunto e identiicar os produtos passíveis
de serem criados em escala industrial utilizando a planta.
No projeto, buscou-se uma arquitetura de linguagem
12
contemporânea, que permita um equilíbrio entre baixo custo,
facilidade de execução, baixo impacto ambiental, conforto humano
e expressividade estética. Para isso foi necessário visar a minimização
da quantidade de material utilizado na construção, buscando soluções
que diminuam ou eliminem a necessidade de processamento das varas
in situ, utilizando módulos que permitam o transporte do material a
qualquer local e adotando as formas de tratamento documentadas na
literatura mais adequadas a realidade local.
4. Justificativa
Já utilizado em grande escala em regiões de clima similar e
possuindo uma boa quantidade de literatura cientíica descrevendo
suas vantagens, existem indícios de que o bambu é uma opção viável
de material de construção alternativo aos utilizados atualmente, com
possibilidade de suprir demandas da indústria de maneira sustentável
tanto economicamente quanto ambientalmente. Ao explorar essa
questão, o trabalho serve como um agregador de diferentes fontes
com um foco pouco explorado na literatura cientíica nacional,
contribuindo para a crescente literatura sobre o bambu como material
de construção.
5. Metodologia
Primeiramente, foi importante deinir claramente o escopo
do trabalho para deinir a metodologia. Nos primeiros momentos da
pesquisa chegou-se a pergunta principal apresentada, mas apesar de
especiicar o objeto, a indústria e a região, o tema ainda mostrou
certa complexidade, com a diiculdade em sua abordagem agravada
pelas limitações de meu ferramental teórico, recursos e dados
disponíveis. Esse nível de complexidade fez necessário o uso de uma
metodologia que permitisse a análise de dados de diversas fontes de
maneira interpretativa, mas permitindo chegar a direcionamentos
bem estruturados.
Assim, o trabalho se baseia no realismo crítico para utilizar
a triangulação de fontes, investigadores e métodos, na deinição de
DENZIN (2012), como forma de chegar à uma resposta de melhor
13
acurácia e usabilidade. A triangulação é deinida como o cruzamento
de dados de fontes com diferentes características de forma a aumentar
a validade dos resultados (MATHISON, 2014) ao revelar diferentes
aspectos da mesma sem a assunção de exaustividade (DOWNWARD;
MEARMAN, 2005). Neste trabalho, isso se deu pela escolha de fontes
de diferentes setores sociais (academia, poder público e iniciativa
privada), autores de diferentes lugares e de diferentes métodos (dados
quantitativos e qualitativos, tanto obtidos diretamente quanto através
da literatura).
É importante salientar que a mesma abordagem foi utilizada
no desenvolvimento dos projetos, que foram construídos tanto com
base na literatura quanto nas experiências práticas e nos modelos
desenvolvidos para a pesquisa.
Para melhor direcionar a pesquisa, foi criada uma problemática
deinida a partir da pergunta principal. Essa problemática é formada
por cinco (5) questões que buscam, conforme o conceito de
triangulação, explorar alguns das diferentes facetas do uso de um
material na construção civil. Elas são as seguintes:
14
6. Características das espécies
Bambu é o termo popular para tratar das plantas pertencentes
à subfamília Bambusoideae, que contém 1482 espécies descritas. Duas
maiores tribos incluídas nesta subfamília são Olyreae, que contém as
espécies de bambus herbáceos, e Bambuseae, que contém os bambus
lenhosos e que serão relevantes ao trabalho presente (LEANDRO
et al., 2016). É importante notar que o bambu é da mesma família
que a cana-de-açúcar (Poaceae), estando mais próximo desta planta
tradicionalmente cultivada no Nordeste brasileiro do que de fontes
mais tradicionais de madeira para construção.
Reino Plantae
Filo Magnoliophyta
Classe Liliopsida
Subclasse Commelinidae
Ordem Poales
Família Poaceae
Subfamília Bambusoideae
Tribo Bambuseae
15
nascendo próximos uns dos outros, e os alastrantes (ou leptomorfos)
são provenientes de regiões temperadas e são caracterizados por um
rizoma mais espalhado (HIDALGO, 2003). Os bambus mais comuns
em terras sul-americanas são entouceirantes, incluindo as espécies
do gênero nativo Guadua e as exóticas dos gêneros Bambusa e
Dendrocalamus. No entanto, também é possível encontrar espécimes
alastrantes, do gênero Phyllostachys (LIMA, 2011).
Guadua angustifolia
Este é um bambu simpodial e grande, com colmos alcançando 30m,
de cor verde-escura, faixas brancas em seus nós, diâmetro de até 20cm
e folhas de tamanho médio. É considerado excepcional em estatura,
com propriedades mecânicas e durabilidade de colmos superiores.
Possui um papel importante na economia rural e na construção de
casas ou edifícios.
Distribuição: Original da América do Sul. Bem distribuído nas
Américas Central e do Sul. Introduzido em vários outros países.
Clima e solos: Cresce em solos ricos ou médios, especialmente ao
longo de rios e em terrenos acidentados. Tolera -2ºC.
Pesquisa atual: Pesquisas atuais se limitam a estudos sobre a preservação
do colmo e a determinar suas propriedades físicas.
Potencial não aproveitado: Valioso em terrenos inclinados e para
conservação do solo.
Estado da conservação: desconhecido.
Usos: Bambu estrutural, grande, forte, qualidade superior, é um
bambu com múltiplas funções. Embora seja mais utilizado como
material de construção para residências de baixo custo ou até grandes
construções, possui vários outros usos em comunidades rurais,
incluindo mobiliários em geral e artesanato. Bambu mais popular
na América Central. Casas e outros edifícios construídos com esse
bambu sobreviveram terremotos. Plantações comerciais estão em
crescimento.
Dendrocalamus giganteus
Nome popular: Bambu gigante
É um bambu muito grande com altura variando entre 24 e 60m,
de coloração verde a verde-escuro e internos com 40-50cm de
comprimento por 10-20cm de diâmetro e espessura de 2.5cm
(podendo varias de acordo com a altura). Suas folhas possuem
entre 20 e 40cm de comprimento por de 3 a 7cm de largura. Sua
inlorescência tem de 4 a 5 cm com pequenos espinhos. Sua fruta tem
forma oblonga com 7-8 mm de comprimento e pelos. Os métodos
de propagação vegetativa utilizados são corte de colmo, plantação do
rizoma, corte de galho, estratiicação, alporquia ou proliferação de
sementes. Propagação também possível por meio de cultura de tecido.
Distribuição: Nativo do Mianmar do Sul, tendo sido introduzido e
cultivado em vários países como Índia, Sri Lanka, Bangladesh, Nepal,
Tailândia, Vietnam, China, Indonésia, Peninsula Malai e Filipinas.
Clima e solos: D. giganteus cresce em clima tropical húmido e regiões
subtropicais, geralmente em solos ricos, em altitudes de até 1200m.
Tolera -2ºC.
Pesquisa atual: Uma variedade de informações básicas como
propriedades físico-químicas e mecânicas estão disponíveis. Cultura
de tecidos feita, coleta de germoplasma na Índia e em Bangladesh,
plantas superiores identiicadas. Citologia 2n=72, hexaploide.
Potencial não aproveitado: Produção de brotos pode ser melhorada e
uso na indústria de tábuas de bambu pode ser expandida.
Estado de conservação: Precisa ser investigada em diferentes países,
especialmente em Mianmar e no noroeste da Tailândia.
Usos: Madeira estrutural de qualidade superior, usada principalmente
para construção ou fabricação de tábuas de bambu. Também é útil
para fabricação de polpa e itens domésticos e mobiliário de qualidade.
18
Brotos podem ser comidos e enlatados.
Pesquisas necessárias: Seleção e melhoramento genético, levantamento
da diversidade da população, métodos de cultivo.
7. Impacto ambiental
Essa seção tratará da segunda pergunta da pesquisa:
Qual a dimensão do impacto ambiental da cadeia produtiva do
bambu para construção civil? Como se compara com outros
materiais de uso semelhante?
Ao tratar da viabilidade do uso de um material na construção
no século XXI, não é mais possível ignorar o aspecto ambiental
envolvido. A preocupação com os efeitos das atividades humanas
sobre o ambiente natural, crescente desde os anos 90, é ainda mais
importante quando analisando uma indústria que representa 5,6%
do VAB (Valor Adicionado Bruto) e emprega 8,67% da população
ocupada total. No caso do Nordeste brasileiro os valores são ainda mais
altos, representando 7,9% do VAB (IBGE, 2017). Com o crescimento
da população e da economia brasileira, o consumo de recursos naturais
para a construção deve aumentar proporcionalmente, agravando
20
problemas relacionados às mudanças climáticas, lixo e abastecimento.
Para diminuir o impacto que a indústria da construção tem
sobre o meio ambiente existem caminhos que lidam com diferentes
fases do processo construtivo, desde a produção dos materiais até a
demolição dos edifícios. Um desses caminhos é o da escolha cuidadosa
dos materiais, seguindo os seguinte critérios: menor consumo de
água e energia na produção, menor demanda de área ocupada,
menor demanda por transporte, menor uso de produtos danosos ao
ecossistema e à saúde humana e menor geração de gás carbônico.
Um dos meios de avaliar o grau em que um material cumpre
esses critérios é através da ACV (Avaliação de Ciclo de Vida), que
inclui em seu método a análise da matéria-prima utilizada, o processo
pelo qual é submetida, o transporte dos produtos, eiciência energética
e os resíduos gerados. No entanto, esse tipo de avaliação esbarra na
diiculdade em encontrar dados coniáveis e na falta de lexibilidade
do método (SOARES et al, 2006), o que pode ser o motivo de não
haverem avaliações do tipo para produtos de bambu no Brasil.
Já fora do país, foi demonstrado utilizando a ACV que a
produção de produtos de bambu para construção são carbono-
negativo, ou seja, considerando seu ciclo de vida total, absorvem mais
carbono do que liberam na atmosfera (LUGT et al, 2014). O estudo
em questão foi feito com base em uma empresa européia, mas seus
resultados mostram motivos para otimismo quanto à sustentabilidade
do material no Brasil: o resultado positivo se deu apesar do produto
ter sido transportado por longas distâncias na China (país de origem
da matéria-prima) até a sede da empresa na Holanda. Os autores
chamam a atenção ao fato de que o colmo em seu estado natural teria
resultados ainda mais positivos, chegando a dizer que é “potencialmente
o material de construção mais ecologicamente correto disponível”,
por precisar de pouco processamento.
O Gráico 1 compara a pegada de carbono deixada por diversos
materiais de construção ao longo de seu ciclo de vida. Nele é possível
ver com clareza a diferença gritante entre o impacto dos materiais
mais comuns hoje em dia em comparação com derivados do bambu.
A comparação com o aço é particularmente pertinente para o escopo
deste trabalho, já que este é o material mais comumente usado em
estruturas efêmeras de produção industrial no mercado atual.
21
Pegada de carbono durante ciclo de vida(CO2eq/m3)
32423
11429
2904
-523 4 554
-148 -381 -23 -334
2500
2082
2000
1500
1102
1000
500
0
Bambu e terra-estabilizada Utilizando Eco-materiais Sistemas convencionais
29
8.1.1 Terra
30
Figura 2: Plantação de bambu em Palmares -PE
Fonte: PEREIRA apud PADOVAN, 2010
8.1.2 Trabalho
8.1.3 Capital
33
Ambiente Institucional Leis, Cultura, Tradição, Costumes e Meio Ambiente
Fonte: Elaborado pelo autor, basedo em (DANTAS, 2005)
Bambuserias
Madereiras
34
Fornecedores
Transportadoras
Auto-construção
Construtoras
Associações, Cooperativas, Infra-estrutura, Informações,
Ambiente Organizacional Financiamento, Pesquisa e Desenvolimento Tecnológico
Figura 3: Faca radial
Fonte: SANTOS et al, 2014
35
situação tem sido abordada em outros países a partir de iniciativas da
academia, com a criação de laboratórios especializados e inclusão do
tema em seus currículos (PUC-RIO, UNESP, UFAL no Brasil), e da
iniciativa privada, através de cursos (TIBÁ, Pindorama, BioEngenharia,
EbioBambu, Bambuzeria Cruzeiro do Sul, no Brasil). Outra forma de
contornar essa limitação tem sido através da criação de empresas ou
grupos que abrangem toda a cadeia do bambu, desde a plantação até
a criação do produto (construção, móvel, utensílio, etc). Hoje elas
existem em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Minas Gerais e Bahia.
A Figura 4 apresenta o modelo da cadeia produtiva do bambu
em forma de diagrama. Nela são apresentadas as etapas necessárias
até alcançar o mercado, que neste caso especíico é o da construção
civil. Construído a partir do esquema proposto por (DANTAS apud
MANHÃES, 2008), o modelo ilustra os atores que podem desenvolver
para cada fase do processo, baseado nas informações levantadas neste
capítulo.
9. Legislação
36
9.1 Legislação Federal e Estadual
37
Latina e África. O texto trata do controle da construção com colmos,
tiras, BLaC ou painéis, compreendendo desde o controle de qualidade
da matéria-prima até aspectos do cálculo estrutural.
A partir da publicação das ISOs sobre bambu em 2004, vários
países também criaram normas especíicas para construção com
bambu. As normas nacionais em geral utilizaram a internacional como
referência, mas a expandem, pela necessidade de atualizar os métodos
de caracterização do material e os novos produtos estruturais criados
(GATÓO et al, 2014). A Figura 5 ilustra os anos de publicação das
normas até 2014.
9.4 Conclusões
38
esse passo já está sendo dado, na forma de um corrente processo de
aprovação de uma NBR cobrindo o projeto de estruturas de bambu
e a determinação de suas qualidades físico-mecânicas (KORTE apud
SNA, 2016). O projeto atual para a norma cobre todos os aspectos
importantes para a garantia da segurança de um projeto com colmos
de bambu, tratando do controle de qualidade das peças usadas e das
características próprias de uma estrutura do tipo (BERALDO, 2017;
ROCHA, 2017). Aprovada essa NBR, o processo de capacitação de
mão-de-obra técnica (engenheiros, arquitetos e tecnólogos) com
aptidão a desenhar com bambu seria facilitado e abriria-se espaço
para a utilização legal do material como estrutura nos mercados mais
robustos das capitais. Essa abertura de mercado seria um incentivo
signiicativo para produtores investirem na cultura.
A política de incentivo já aprovada pelo Governo Federal,
se aplicada, pode ser uma ferramenta importante para que a
indústria vença as barreiras iniciais e entre em um estado de auto-
sustentabilidade econômica. Os incentivos previstos poderiam vir na
forma de programas de capacitação, que seriam fundamentais na
viabilização da demanda, e do já previsto crédito rural, como forma
de subsidiar a introdução de uma cultura que demora alguns anos
para dar retorno de forma sustentável.
39
no Brasil e na América Latina, além de um levantamento dos serviços
oferecidos por empresas brasileiras da área. A partir desse estudo de
casos recentes, será discutida a possibilidade de seguir estes exemplos
no contexto do Nordeste brasileiro.
No âmbito da construção civil, os produtos de bambu variam
em função e nível de processamento necessário. Existem técnicas para
a criação de pisos, painéis de vedação, telhas, Bambu Laminado Colado
e esquadrias, além da comercialização das próprias varas para uso
como estruturas de diversos propósitos. Dentre as indústrias nas quais
o bambu pode ser utilizado como matéria-prima, a dos produtos para
construção civil é a que demanda mais processamento, na forma de
tratamento, planiicação, corte e montagem, o que cria a necessidade
de empresas com foco exclusivo na sua produção(STAMM, 2016). No
entanto, a forma desse processamento varia de produto para produto,
deixando possibilidades para empresas de diferentes tamanhos e níveis
de capital competirem em mercados de escalas regional, nacional ou
internacional, dependendo da competitividade do produto. Seguimos
abaixo com uma visão mais aprofundada de cada um desses produtos,
a partir da deinição de seus métodos de produção, exemplos
contemporâneos e comparação com as alternativas já exploradas pela
indústria.
Pisos
40
Figura 6: Piso de bambu Mossô
Fonte: Hawa Bamboo
41
Corte em tiras
Tratamento
Carbonização
Seleção
Secamento
Fabricação
Acabamento
Figura 7: Processo de fabricação de pisos de bambu
Fonte: BuildDirect, Ambient Bamboo Flooring
Telhas
42
Figura 8: Telhado capa-canal na Malásia
Fonte: http://www.my-rainforest-adventures.com/
43
Figura 9: Telha corrugada de bambu
Fonte: Guadua Bamboo S.A.
Varas tratadas
46
Figura 11: Estrutura de BLaC
Fonte: Lamboo Inc.
47
Corte em tiras
Tratamento
Secagem
Prensagem
Corte
Acabamento
Controle de qualidade
Figura 12: Processo de produção do BLaC
Fonte: LIMA, 2013
48
francês Marc-Antoine Laugier, o princípio da arquitetura é descrito
como o abrigo criado com paus e folhas encontrados ao redor do
homem primitivo. Para o autor, as características básicas da arquitetura
- a coluna, o entablamento e o pedimento - são expressados nessa
cabana primordial e posteriormente serviria de modelo para o
desenvolvimento da arquitetura grega.
O arquiteto alemão Gottfried Semper deine as parte
constituintes do objeto arquitetônico diferentemente, dividindo-a
em teto, dique, cerca e a lareira. No trabalho “Os Quatro Elementos
da Arquitetura”, publicado em 1860, o teórico cita a tenda móvel
como a morada do homem que precisava se preocupar apenas em
se proteger do clima, fazendo com o que a coberta fosse o elemento
mais importante da obra.
No Brasil pré-colonial povos indígenas como os ianomâmis
construíam suas aldeias para durarem apenas dois anos, para depois
serem queimadas enquanto a tribo se muda para outro local. Isso
se dava pelo própria degradação das ediicações feitas de matéria
orgânica, com o acúmulo de insetos na estrutura de madeira e
apodrecimento das folhas da cobertura (WEIMER, 2012). Dessa forma,
o método construtivo e os materiais disponíveis para serem usados
na construção ajudaram a contribuir para culturas que não vêem o
espaço construído como algo que deva durar décadas ou séculos,
como na tradição européia que viria a dominar o país posteriormente.
Com a mudança para a sociedade agrária e o consequente
abandono das práticas nômades, esse tipo de construção deixou de
ser o paradigma principal da maioria das sociedades, dando espaço
para materiais e técnicas mais duráveis. No entanto, nunca deixou de
ser praticada. Hoje em dia, a arquitetura efêmera existe na forma de
mercados, barracas, tendas, moradias temporárias e estruturas para
eventos de diversas escalas. Sua relevância cresceu nos últimos anos
em conjunto com a discussão sobre a sustentabilidade do mercado da
construção civil, que gerou uma maior preocupação com seu impacto
no espaço urbano e no meio ambiente.
A partir dessa crescente relevância, esforços acadêmicos para
a deinição de um arcabouço conceitual tem sido importante para
melhor estruturar o entendimento da disciplina sobre esse tipo de
fenômeno, sobre qual pouco contribuía até meados do século XX.
Tanto PAZ(2008) quanto CHAPPEL(2010) deinem a arquitetura
49
efêmera apenas como a construção que é retirada do lugar (através
de transporte, desmontagem ou demolição) em uma escala de
tempo curta. Apesar de ambos autores chamarem a atenção para
a importância de não atrelar o conceito à aspectos tecnológicos,
trazem no desenvolvimento de seus trabalhos considerações
importante sobre as particularidades presentes ao campo, estas
estando comumente atreladas a certos tipos de soluções e abordagens
projetuais. Quando o edifício já é concebido para ser demolido ou
movido, o lado posterior e menos considerado de seu ciclo de vida
ganha importância fundamental na concepção do projeto. O desenho
deste tipo de arquitetura ganha complexidade quando incorpora esse
aspecto transformativo, havendo de abranger não só a qualidade do
funcionamento e a viabilidade da execução, mas também na facilidade
da desmontagem e a capacidade de remontagem.
Arquitetos participam na produção de arquitetura efêmera
não só durante o processo de projeto das soluções construtivas, mas
também do planejamento dos eventos. O arquiteto Guilherme Cabral,
que participou de projetos temporários feitos para as Olimpíadas do
Rio de Janeiro de 2016, chamou a atenção, em entrevista, para a
presença de colegas de proissão tanto no projeto de espaços como
alojamentos, quanto na concepção dos palcos da abertura. Esse
processo envolveu o diálogo entre os responsáveis pelo planejamento
do evento e as empresas vencedoras das concorrências, com arquitetos
presentes desde as primeiras fases do planejamento até o desenho
dos detalhes executivos. Cabral também apontou que a arquitetura
temporária pode permitir mais liberdade ao projetista justamente
pela sua efemeridade, além do fato de normalmente estar associada a
programas com menos exigências funcionais.
11.1 Conclusões
12.1 Bambutec
54
13. Projetos
55
Figura 16: Barraca do Carnaval olindense
Fonte: Prefeitura de Olinda
56
Figura 17: Mapa das inclinações da região da cidade alta, em
Olinda Fonte: Elaborado pelo autor
57
plataforma mais alta que o nível do chão e uma cobertura para
proteger o agente do sol. Estes requisitos estão presentes na torre
atualmente utilizada, mas ela apresenta as mesmas limitações do
quiosque ao não funcionar em terreno desnivelado. Tal limitação
pode ser problemática no que pode inviabilizar o socorro de algum
folião caso necessário, por conta da própria diiculdade em identiicar
emergências rapidamente.
No projeto, propõe-se um posto de observação menor e com
capacidade de adaptação ao relevo, assim dando mais opções durante
o planejamento do controle urbano da festa.
58
suas peças podem ser utilizadas novamente muitas vezes, montadas
e desmontadas para formar estruturas do tamanho necessário.
No entanto, a estrutura utilizada para tal é extremamente pesada,
criando uma necessidade do uso de mais mão-de-obra e maquinário
e portanto aumentando o custo de montagem e transporte. Também
é possível uma melhora do ponto de vista da sustentabilidade, já que
a estrutura é muito mais forte do que o necessário para sustentar as
leves cobertas de utilizadas.
59
da proposta foi o aspecto estético, que pesou na criação de estruturas
que fogem à ortogonalidade das atualmente utilizadas.
61
Projeto
Quiosque
Isométrica Explodida Vistas
Coberta
Varas de bambu 2,2m x2
Corda 60cm x4
Abraçadeira x6
Lona 2,1 x 2,6m x1
Vigas
Varas de bambu 3,5m x2
Corda 60cm x4
Suportes Contraventamento
Varas de bambu 3,5m x8 Varas de Bambu 3,5m x2
Corda 60cm x6 Corda 60cm x4
Montagem Montagem
1. Pré-montagem da coberta
a. São ixadas as vigas em ângulos de 90º,
utilizando as amarrações indicadas.
b. A lona é presa nos bambus com
abraçadeiras. 4. Amarração da cobertura
a. São posicionados os suportes
b. É colocado a coberta sobre o suporte
c. As varas são amarradas aos suportes
0,9m
Posto de
observação
Isométrica Explodida Vistas
Colunas laterais
Varas de bambu 3,5m x2
Corda 60cm x2
Juntas cônicas x2
Sapatas x2
Base
Piso de madeira 1,2m x 1,2m
Barras de aço 80cm x2
Cintas de borracha 10cm x8
1. Pré-montagem da escada
a. São montados os degraus nas peças 4. Fixação da base
principais. a. A base de madeira é encaixada na
b. São montados os suportes da base. estrutura
c. São montados os contraventamentos b. As hastes de aço são presas à
diagonais, com as curvaturas para dentro base.
d. As peças são travadas com porcas
Palco
Isométrica Explodida Vistas
Coberta
Faixas de lona 151 m²
Corda 30cm x70
Haste principal
Tubos de aço 2,5m 15cmØ x5
Tubos articulados 2,5m 8cmØ x14
Cintas metálicas x14
Colunas
Varas de bambu 104,7m
Juntas cônicas x14
Cabos de aço x6
Sapatas x15
Montagem Montagem
1. Transporte
a. O tamanho máximo das varas de bambu é de 12m
b. A haste principal deve ser composta por partes menores para facilitar 3. Montagem das varas e coberta
seu descarregamento no local de instalação a. A sapata da haste é posicionada
c. As varas de bambu podem ser transportadas inteiras. Uma vara de 12m b. A primeira peça é ixada na sapata
de comprimento pesa aproximadamente 106 kg. c. O resto da haste é montada
d. Os braços são colocados um para cada
lado
12m
2,5m
2. Montagem da haste
a. A sapata da haste é posicionada
b. A primeira peça é ixada na sapata
c. O resto da haste é montada
d. Os braços são colocados um para cada
4. Sapatas e cabos
a. Levanta-se a haste principal pela ponta solta
lado
b. São ixadas as sapatas das colunas
c. São presos os cabos tencionados
d. É montado o tablado e demais estruturas
Cais da Alfândega
Marco Zero
14. Conclusão
86
primário do bambu existem poucas barreiras para o estabelecimento
de uma cadeia produtiva. A planta é pouco exigente quanto ao solo e
clima, permite o aproveitamento de terreno em declive e já é cultivada na
zona litorânea. Os produtos mais simples, como mobiliário, artesanato
e varas para construção exigem pouco processamento e ferramentas
acessíveis, diminuindo o investimento inicial necessário. Todavia, a
mão de obra local (como pedreiros, engenheiros e arquitetos) não está
familiarizada com o material, causando dois problemas signiicativos:
a falta de capacidade de projetar e executar projetos com bambu e a
falta de demanda pelo material. Assim sendo, esforços para capacitar
trabalhadores da indústria nas técnicas de construção com bambu,
como os já feitos pelo INBAMBU e que se iniciam na UFPB, são
fundamentais para viabilizar a cadeia produtiva da gramínea.
88
15. Bibliografia
93
Disponível em: <http://sna.agr.br/potencial-do-bambu-desperta-
interesse-economico/>. Acesso em: 7 jun. 2017.
94
YU, D.; TAN, H.; RUAN, Y. A future bamboo-structure residential
building prototype in China: Life cycle assessment of energy use and
carbon emission. Energy and Buildings, v. 43, n. 10, p. 2638–2646,
2011.
Entrevistas e correspondência
95