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A divisão regional brasileira m= uma revisão

bibliográfica
Angélica Alves Magnago*

Introdução A divisão regional, entretanto, tável e que o território brasileiro


é também uma tarefa executada vem passando por processos mui-
O símbolo da geografia unitária - para subsidiar o planejamento, to intensos de transformação, que
aquela que não 1epara o físico do especialmente ao que se refere à precisam ser identificados em suas
social, o natural do humano, o definição de uma base territorial particularidades, parece oportuna
ecológico do cultural - é a região institucionalizada para levanta- uma revisão dos conceitos e do
Ora, o conceito de região foi vendido mento e divulgação de dados es- modelo de divisão até agora pro-
como sendo um edifício estável tatísticos. Essa característica leva postos para o País
Só que não é a que os planejadores busquem
Portanto, é objetivo desse tra-
um modelo de divisão regional
(Entrevista concedida por balho analisar os diferentes recor-
onde as unidades identificadas
Milton Santos à revista Veja, tes regionais elaborados para o
tenham coerência interna e um
em 16/1111994). espaço brasileiro, em diferentes
certo grau de permanência de seus
épocas, procurando situá-los em
A divisão do espaço geográfico elementos/atributos constitutivos
relação à evolução do pensamen-
brasileiro em regiões é uma tarefa Só que o conceito de região, con-
to geográfico no País, bem como
de caráter científico ditada tanto forme afirma Santos, não é um
em relação às transformações da
por interesses acadêmicos, quanto "edifício estável"
sociedade em sua dimensão espa-
por necessidades do planejamen- No caso brasileiro, as primeiras ço-temporal
to e da gestão do território tentativas de criação de modelos
Como atividade científica aca- de recortes regionais datam do iní-
dêmica, a divisão regional é um cio do Século XX. Desde esse O marco inicial da
exercício de discussão e elabora- período, realizaram-se muitos estu-
dos de cunho regional, tendo sido
divisão regional
ção de conceitos, teorias e méto-
dos que levem a um determinado elaboradas várias propostas de brasileira
modelo. Esse deve ter como ob- identificação de regiões, em dife-
A definição do conceito de re-
jetivo a ampliação do conheci- rentes escalas espaciais.
gião, assim como a formulação de
mento científico sobre o Território Considerando-se que o concei- uma metodologia capaz de iden-
Nacional. to de região não é um edifício es- tificar, delimitar, descrever e in-

*Geógrafa do Departamento de Geografia- DEGEO- da Diretoria de Geociências do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- DGC/IBGE
R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 67-94, 1995
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terpretar sua forma e conteúdo, é Santo, Rio de Janeiro, Distrito Fe- economia e a política nacionais, po-
preocupação presente na pesquisa deral e Minas Gerais; 4-Brasil Me- dendo vir a se tornarem estados in-
geográfica, desde o Século XIX 1 ridional (São Paulo, Paraná, Santa dependentes, como foi o caso da
Nos estudos geográficos produ- Catarina e Rio Grande do Sul); e tentativa de São Paulo Ao senti-
zidos no Brasil, a questão regio- 5-Brasil Central (Goiás e Mato mento de regionalismo, Vianna an-
nal começa a ganhar consistência Grosso) (Mapa 1). tepunha o de nacionalismo,
teórica a partir do início do Sécu- Esse quadro regional, embora ela- revelando o lado ideológico de sua
lo XX, com a obra de Delgado de borado visando ao ensino de geogra- proposta
Carvalho, onde é introduzido o fia, teve grande influência nos O resultado final de sua divisão
conceito de região natural. A estudos e pesquisas elaborados até territorial seria a fragmentação do
obra desse autor, no que concerne os anos 30, quando novos conceitos espaço nacional em 67 unidades
à questão regional, pode, assim, foram, então, introduzidos na análise administrativas, identificadas a par-
ser apontada como um marco ini- regional tir de apenas um critério: a popula-
cial, não apenas na tentativa de ção residente.
conceituação, mas na prática de
divisão regional. O primeiro modelo Além de Vianna, também se des-
tacaram, nesse período, as propos-
Delgado de Carvalho, com forte tas de divisão territorial dos políticos
influência da Escola Possibilista Os anos 30 e as Teixeira de Freitas e Everardo
francesa, reconhecia a ação do ho- tentativas de divisão Backheuzer
mem sobre a natureza. Entretanto,
em sua proposta de divisão regio- territorial e regional A discussão sobre a organização
nal, elaborada em 1913, com fins do espaço brasileiro, diante do es-
As transformações na organiza-
didáticos, enfatizava a correlação de forço do governo em modernizar e
ção do espaço brasileiro, após a
elementos do meio físico, privile- integrar o País, 3 levantou, também,
Revolução de 1930 e a instaura-
giando, assim, a visão da Escola as questões do planejamento e da
ção do Estado Novo, deram en-
Determinista Ambiental na compre- administração, deixando clara a ne-
sejo a uma ampla discussão, nos
ensão do espaço geográfico. cessidade de um maior e mais apro-
meios militares e acadêmicos, so-
bre a questão de divisão territori- fundado conhecimento sobre o
Esse autor apoiava-se na pre-
al e divisão regional Território Nacional. É dentro desse
missa de que uma divisão regio-
espírito de "redescobrimento" do
nal deveria ter caráter duradouro, No que se refere à territoriali- País que foram criados o O Con-
o que não poderia ser obtido atra- dade, já no ano de 1933, o major selho Nacional de Estatística
vés da análise de "fatores huma- João Segadas Vianna 2 chamava a (1936) e o Conselho Nacional de
nos", muito dinâmicos e mutáveis atenção do poder público para a Geografia (1937), ligados, efetiva-
Dessa forma, a divisão proposta necessidade de rever a forma de mente, em 1938, para a formação
por Delgado de Carvalho basea- organização territorial do País, do IBGE 4 .
va-se apenas em elementos do demonstrando grande preocupa-
meio físico, especialmente o rele- ção com a formação de blocos Já como resultado da ação desse
vo, o clima e a vegetação, defi- políticos de resistência em algu- órgão, é elaborado o Decreto-Lei no
nindo cinco grandes unidades mas Unidades da Federação, es- 311, considerado uma Lei Geográ-
naturais, a saber: 1-Brasil Seten- pecialmente em São Paulo, Minas fica, que dispunha sobre a divisão
trional ou Amazônico (Acre, Gerais e Rio Grande do Sul. Se- territorial do País Através desse de-
Amazonas e Pará); 2-Brasil Nor- gundo esse militar, seria funda- creto, definia-se, então, a base ter-
te-Oriental (Maranhão, Piauí, Ce- mental dividir Unidades da Federação ritorial para a organização do poder
ará, Rio Grande do Norte, Paraíba, para melhor administrá-las, pois do Estado Novo.
Pernambuco e Alagoas), 3-Brasil os estados mais populosos e de Concomitantemente ao debate
Oriental (Sergipe, Bahia, Espírito maior área vinham dominando a sobre a divisão territorial, desenvol-

1
Ver a respeito da evolução do conceito da região em: CORREA, Roberto Lobato Região e organização espacial São Paulo: Ática, 1987
2
VIANNA, João Segadas Divisão territorial do Brasil Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 2, n 3, p 372·406, jul 1940
' Ver a respeito em DUARTE Aluizio Capdeville Transformação na divisão territorial do Brasil após 1940, e a produção do espaço geográfico: Relatório de
pesquisa 1984 Rio de Janeiro: IBGE, 1984 82 p
4
Penha Eli Alves· A criação do IBGE no contexto da centralização política do Estado Novo Rio de Janeiro: IBGE, 1993 124 p (Documentos para disseminação
Memória Institucional, n 4)
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Mapal

REGIÕES DO BRASIL
SEGUNDO VÁRIOS AUTORES

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MOACIR SILVA I
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Fonte: Guimarães, Fábio M S Divisão regional do Brasil Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 3, n 2 p 344, abr /jun 1941
68 R bras Geogr,RiodeJaneiro,v 57,n 4,pl-163,out/dez 1995

veram-se estudos, especialmente a 4-Sul - Rio de Janeiro, Distrito Fe- Delgado de Carvalho Nessa divi-
partir do final dos anos 30, que pro- deral, São Paulo, Paraná, Santa são, que já vinha sendo utilizada para
curavam entender as transforma- Catarina e Rio Grande do Sul, e fins didáticos, seriam introduzidas
ções do espaço brasileiro, pequenas modificações na nomen-
5-Centro - Mato Grosso, Goiás e
identificando e descrevendo zonas clatura e algumas subdivisões.
Minas Gerais.
específicas ou regiões geográficas
A proposta apresentada por Fábio
(Mapa 1). No caso de estudos com É, entretanto, apenas no início
de Macedo Soares Guimarães, de
delimitação de zonas específicas, da década de 40 que a questão da
modo semelhante à de Delgado de
com fins de utilização por órgãos divisão regional ganha novas con-
Carvalho, servia-se da posição
públicos e/ou privados, pode-sedes- tribuições teóricas e metodológi-
geográfica para nomear as Grandes
tacar, entre outros: o zoneamento de cas, responsáveis pela elaboração
Regiões e encontrava, também, o
Hugo Hamann, sobre a fisionomia da primeira divisão oficial doBra-
embasamento para definir as mes-
econômica brasileira, realizado em sil em Grandes Regiões.
mas nas condições naturais do terri-
1939; o zoneamento do Brasil de
tório. Prevalecia, dentro de um quadro
acordo com os tipos regionais de ali-
mentos, realizado em 1937 por Josué A divisão oficial - 1942 de inter-relações das condições
físicas, principalmente do clima, da
de Castro; e o zoneamento geoeco- No final da década de 30 e prin-
nômico, realizado pelo Conselho Téc- vegetação e do relevo, a noção de
cípios da década de 40, o IBGE, fator dominante - a chamada nota
nico de Economia e Finanças, em através de seu órgão especializa- característica da região. 5
1939 do, o Conselho Nacional de Geo-
Esses zoneamentos, com objeti- grafia -CNG- encetou uma cam- Elogiada por não desmembrar as
vos específicos, não avançaram, panha no sentido de que fosse ado- unidades políticas, a proposta de
contudo, em questões conceituais tada, para fins práticos e, sobre- Fábio M. S. Guimarães, ainda de
e metodológicas, capazes de le- tudo, estatísticos, uma única di- modo análogo à de Carvalho, ajus-
var ao conhecimento mais apro- visão regional para o País, exceto tava-se às necessidades da adminis-
fundado sobre a organização do para alguns casos muito específi- tração pública em geral. Abre-se um
espaço brasileiro. Na mesma si- cos. Tal campanha encerrou-se parêntesis para ressaltar que ambos
tuação encontravam-se, também, com a Circular no 1 de 31 de janeiro os autores reconheciam que tais li-
os estudos sobre região que, nes- de 1942 da Secretaria da mites não tinham existência real na
se período, ainda enfatizavam as- Presidência da República, deter- natureza.
pectos vinculados ao meio físico. minando que fosse adotada em O presidente da República, de
todos os ministérios a divisão re- posse da proposta de divisão re-
Nesse contexto de controvertidas
gional definida pelo IBGE. gional apresentada pelo IBGE,
"divisões" do espaço brasileiro,
segundo critérios muito diversificados, Procede, aqui, uma sucinta re- solicitou ao Conselho Técnico de
e pressionado pela necessidade de trospectiva a respeito dessa pri- Economia e Finanças um parecer
elaboração do Anuário Estatístico meira divisão oficial do País. O sobre a mesma, que concluiu pela
Brasileiro, o Conselho Nacional de engenheiro Fábio de Macedo adoção da proposta do CNG, uma
Estatística adota, em 1938, a Soares Guimarães, chefe da Di- vez que "foi moldada em princí-
divisão regional em uso no visão de Geografia, unidade res- pios científico-geográficos, apre-
Ministério da Agricultura. De ponsável, no CNG, pelo referido sentando a grande vantagem de
acordo com esse órgão público, a projeto, após estudos minuciosos ser mais estável" (esta estabilida-
divisão do Brasil em regiões se daria e análise das diferentes propostas de da divisão proposta devia-se ao
da seguinte forma: de divisão regional já apresenta- fato de a mesma ter-se apoiado,
l-Norte - Acre, Amazonas, Pará, das por órgãos públicos ou priva- como já foi explicitado, nos fatores
Maranhão e Piauí; dos e por cientistas isolados, naturais). É bom ressaltar que o
2-Nordeste- Ceará, Rio Grande do respaldado nos reconhecimentos já Conselho Técnico de Economia e
Norte, Paraíba, Pernambuco e realizados pelos geógrafos do CNG Finanças havia elaborado, anterior-
Alagoas; ao longo do Território Nacional, pre- mente, uma divisão regional doBra-
3-Este - Sergipe, Bahia e Espírito parou um parecer optando pela di- sil em regiões geoeconômicas, em
Santo; visão regional realizada em 1913 por número de cinco, tendo em vista a

5
Ver a respeito do conceito em: GALVÃO, Marília Veloso; Faissol, Speridião Divisão regional do Brasil Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro
v 31, n 4, p 179-218, out/dez 1969 '
R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995 69

necessidade de se estabelecer um Região Centro-Oeste. Estados ram originadas 79 sub-regiões


plano racional de estudos para a de Mato Grosso e Goiás (e, a partir que foram, finalmente, subdivi-
Conferência N acionai de Economia. de 1960, o Distrito Federal). didas em 228 pequenas áreas,
Assim, agruparam os estados cujos denominadas zonas fisiográfi-
Esta primeira divisão regional
problemas econômico-administrati- cas (Mapa 3).
oficial pode ser considerada, sob
vos dependessem de solução co- o ponto de vista da abordagem A opção técnica pela divisão do
mum. metodológica, como empirista, Brasil em regiões a partir de as-
A primeira divisão regional ofici- visto ter sido o conhecimento do pectos físicos do território apoia-
al (Mapa 2) sofreria duas altera- real, do objeto, no caso, o Terri- va-se, como já explicitado, na pre-
ções, devido às modificações tório N acionai, que serviu de base missa de que esses elementos te-
ocorridas na divisão territorial do para a referida divisão riam maior estabilidade de compor-
País. A primeira, em 1942/1943, Os geógrafos do então Conse- tamento, permitindo a comparação
ocorreu com a criação de novas uni- lho Nacional de Geografia já dis- de dados estatísticos, coletados
dades político-administrativas - os punham de um conhecimento para esses espaços, ao longo do
territórios federais - que passaram empírico do Território Nacional, tempo. Entretanto, a metodologia
a fazer parte da União Território de adquirido através de várias ex- adotada na identificação das unida-
Fernando de Noronha (1942), inclu- cursões de reconhecimento às des espaciais sofreu algumas críti-
ído na Região Nordeste; Guaporé, suas diferentes regiões e, assim cas, especialmente no que se refe-
Rio Branco e Amapá (1943), inclu- sendo, segundo Galvão e Faissol· re ao caráter de permanência, já que
ídos na Região Norte; Iguaçu "havia uma consciência de dife- as zonas fisiográficas, definidas a
(1943), incluído na Região Sul; e renciações regionais, no País, já partir de aspectos socioeconômicos,
Ponta Porã (1943 ), incluído na suficientemente importantes para estariam sujeitas a constantes
Região Centro-Oeste A segunda que fossem feitos estudos dos transformações, dependendo do
modificação ocorreu em 1946, com problemas brasileiros, por re- desenrolar do processo social.
a extinção dos Territórios Federais gião, e para que se divulgassem Outra crítica relevante à Divisão
de Iguaçu e Ponta Porã. estatísticas, segundo estas mes- adotada diz respeito à fragilidade dos
Assim, após essas alterações mas unidades regionais" 6 limites das zonas fisiográficas, uma
realizadas por determinação A metodologia empregada ba- vez que possíveis
constitucional, em 1943 e 1946, a seava-se no princípio da divisão, desmembramentos municipais
divisão regional assim se apresentava isto é, partia do "todo" - o Terri- poderiam alterar os recortes inici-
· Região Norte: Estados do Ama- tório Nacional - que sucessiva- ais, comprometendo a malha es-
zonas e Pará, Territórios do Acre, mente se dividia e se subdividia pacial proposta.
Amapá, Rio Branco e Guaporé; em unidades cada vez menores. Em relação aos aspectos con-
Desta forma, identificaram-se, pri- ceituais, a Di visão de 1942 foi,
Região Nordeste: Ocidental -
meiramente, cinco Grandes Re- igualmente, alvo de críticas. Se-
Estados do Maranhão e Piauí;
Oriental - Estados do Ceará, Rio giões que, correspondendo aos gundo Corrêa8 , quando se tratava
Grande do Norte, Paraíba, Pernam- espaços mais abrangentes, carac- das unidades de maior extensão, ou
buco e Alagoas e Território de terizavam-se "pela dominância de seja, das Grandes Regiões, regiões
Fernando de Noronha; um certo número de traços co- e sub-regiões, eram utilizados con-
muns, que as tornaram bem dis- ceitos filtrados do determinismo
· Região Leste: Setentrional -
tintas umas das outras" 7 • ambiental, enquanto nas unidades
Estados de Sergipe e Bahia; Meridi-
onal - Estados de Minas Gerais, Esses espaços foram, então, de menor hierarquia consideravam-
Espírito Santo, Rio de Janeiro e Distrito se aspectos socioeconômicos, os
subdivididos em 30 regiões que,
Federal (a partir de 1960, transformado quais transformaram as zonas fisio-
seguindo a metodologia adotada, gráficas em verdadeiras regiões ge-
em Estado da Guanabara); apresentavam características ho- ográficas dos possibilistas (no
· Região Sul: Estados de São mogêneas quanto aos aspectos do possibilismo, a região geográfica
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio meio físico. Na continuidade do abrange uma paisagem e sua exten-
Grande do Sul; e procedimento metodológico, fo- são territorial, onde se entrelaçam,
6
ibid' p 181
7
ATLAS Nacional do Brasil Rio de Janeiro: IBGE, 1966 122 p
• Corrêa, op cit , p 26-27
70 R bras Geogr,RiodeJaneiro,v 57,n 4,p1-163,out/dez 1995

Mapa2

DIVISÃO REGIONAL DO BRASIL


1942

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Fonte: Guimarães, Fábio M S Divisão regional do Brasil Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 4, n 1, p 152,jan /mar 1942
Nota: Cartograma da divisão regional do Brasil para fins práticos, aprovado pelo Conselho Nacional de Geografia
R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995 71

Mapa3

DIVISÃO REGIONAL DO BRASIL


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EM MACRORREGIOES E ZONAS FISIOGRAFICAS
1950

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Fonte: IBGE, Diretoria de Geociências, Departamento de Cartografia


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de modo harmonioso, componentes transformação de sua economia, área complexa, com agrupamento
humanos e natureza) 9 • antes apoiada em atividades rurais, ou combinação de elementos físicos
A Divisão Regional de 1942, para um contexto urbano-industrial estáticos ou mesmo elementos
conforme se observou, constituiu um Essas alterações, evidentemente, humanos; e, na terceira, assumindo
primeiro modelo, de caráter oficial, ocasionaram transformações na que a região seria uma área
de uma base territorial para fins organização do espaço, quer em sua intrinsecamente constituída de
práticos de divulgação de dados divisão territoriaP 1 , quer na forma elementos reais, dinâmicos e
estatísticos. Apresentava, contudo, de se apreender tal espaço. interdependentes.
fragilidades quanto aos aspectos Nesse contexto, os estudos regi- A partir dessas definições, Zarur
teórico-metodológicos adotados apresentava, nesse seu artigo, o
onais mostravam uma tendência à
Segundo Galvão, "este processo de conceito de região como sendo:
revisão teórico-metodológica,
divisão continha, assim, em sua " ... uma área concreta, na qual a
passando os autores a trabalhar com
estrutura, uma contradição com o combinação dos fatores ambientais
o conceito de região geográfica
princípio da lógica, segundo o qual e demográficos criaram uma
Alterava-se, conseqüentemente, o
uma divisão deve seguir, em todos estrutura econômica e social
próprio método de identificação, de-
os escalões ou níveis, o mesmo cri- homogênea".
limitação e compreensão do espaço
tério, apenas com diferentes graus
regional Nota-se que esse conceito dife-
de generalização" 10
ria bastante daquele predominante
Entre os estudos que procuraram
nas décadas anteriores, ou seja, a
O segundo modelo fazer revisão conceitual, merecem
"região natural", especialmente no
destaque os realizados pelo Prof.
Contribuições teórico-metodológi- que dizia respeito à ênfase dada aos
Jorge Zarur, ainda na década de 40,
cas à revisão da divisão regional -da aspectos socioeconômicos. Outra di-
os de Orlando Valverde, nos anos ferença marcante refere-se ao des-
década de 40 ao início dos anos 60. 50 e os de Fábio Guimarães e Pedro taque dado ao dinamismo regional, o
O período compreendido entre a Geiger, já na década de 60. que se opunha, na época, à visão da
divisão regional adotada oficialmen- região como algo estático, ou pelo me-
Apoiado em estudos de autores
te em 1942 e a sua alteração, com a nos com maior grau de permanência
como Hartshome, Sauer, Bowmann,
proposição de um novo modelo, ao do que uma "região humana".
Odum e Whittlesey, Jorge Zarur
final dos anos 60, foi marcado por
apresentou, em 1946, um Zarur fornecia, ainda, nesse arti-
poucos estudos que avançassem na
interessante trabalho sobre análise go, subsídios à análise regional,
discussão teórico-metodológica cabendo destacar a definição de um
regional 12
sobre o assunto plano de análise que, embora desse
Conforme analisado anteriormen- Segundo esse autor, na história do idéia de um receituário, com regras
te, os estudos regionais no Brasil regionalismo a expressão "região" fixas, avançava na discussão do
achavam-se amplamente apoiados teria duas interpretações: na primeira papel das atividades econômicas e
na influência de autores europeus, ela seria uma sistematização regional, instituições na caracterização dos
especialmente das Escolas um meio para se conseguir controle espaços regionais. Chamando a
Determinista Ambiental e - região como uma entidade atenção para a identificação de pro-
possibilista, que trabalharam com o abstrata - e, na segunda, uma área blemas regionais e para a proposi-
conceito de "região natural". Essa com certos atributos definidos, ou ção de soluções para os mesmos, o
influência foi decisiva na divisão re- seja, uma entidade real e concreta. autor, por fim, revelava uma preo-
gional do Brasil, oficializada em Ainda no que se refere ao aspecto cupação com o planejamento regio-
1942. Outras tendências, entretanto, conceitual, Zarur apresentou, no ar- nal - fato pouco comum nos estudos
viriam a se fazer sentir a partir da tigo citado, três definições de região: geográficos daquele período.
segunda metade da década de 40 a primeira, com sentido geral, Já na década de 50, entre outros
Os anos 40 e 50, como se sabe, significando uma área qualquer na estudos, pode-se destacar aqueles
foram marcados por uma política de superfície da terra; a segunda efetuados pelo Prof. Orlando Vai-
redemocratização do País e pela apontando para o sentido de uma verde, adotando, também, o con-

9
op cit, p 28
10
op cit , 182
11
Ver Duarte, op cit
12
ZARUR, Jorge Análises regionais-Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 8, n 2, p 177-188, abr /jun 1946
R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995 73

ceito de região geográfica. Em seus critérios seguidos e com os Outra contribuição de Guimarães,
artigos de natureza regional 13 , Vai- objetivos que têm em vista". no artigo em questão, referia-se ao
verde, apesar de utilizar preferen- problema da escolha da
Diante desse novo referencial,
cialmente elementos do meio físico nomenclatura regional Segundo o
Guimarães discutia alguns problemas
na identificação e delimitação dare- autor, o ideal seria dar à região o
clássicos da geografia regional,
gião, dava muito destaque ao papel nome de sua característica princi-
dentre eles a divisão, a delimitação
do povoamento, privilegiando a aná- pal, individualizadora. Reconhecia,
e a nomenclatura das áreas. Em
lise da evolução da estrutura eco- entretanto, que a tendência, nos
relação à divisão regional, admitia
nômica na caracterização de regi- estudos regionais, era a de se adotar
que grandes áreas poderiam ser
ões. Observa-se que as regiões por uma nomenclatura popular, já
subdivididas, tanto pela prática do
ele identificadas, segundo o pensa- consolidada.
parcelamento (método dedutivo),
mento possibilista de Vidal de la quanto pelo agrupamento (método Da análise do pensamento de
Blache, correspondiam ao concei- indutivo). Afirmava que a divisão Guimarães, no início da década de
to de paisagens, ou seja, entida- regional não deveria subordinar-se 60, pode-se retirar algumas questões
des concretas, com certo grau às divisões político-administrativas. importantes para a revisão do mo-
de homogeneidade, podendo ser Criticava o método clássico de de- delo de divisão regional então vigen-
descritas e entendidas como com- marcação, através da superposição te, a saber: a mudança no conceito
binações específicas de elementos de regiões elementares, propondo de região "natural" para "geográfi-
físicos e humanos. ca", o reconhecimento do caráter
que grandes áreas fossem divididas,
dinâmico das regiões, a assunção da
Apesar dos acréscimos de conhe- supondo uniformidade quanto a
região como uma construção men-
cimento que estudos como os de alguns aspectos importantes: "Quan-
tal; o uso preferencial do método
Zarur, Valverde, Guerra, entre outros, to maiores as regiões, maior será o dedutivo de subdivisões sucessivas
trouxeram nesse período, foi somente grau de generalização, de para a identificação de regiões e a
nos anos 60 que o conceito de região esquematização, e o critério para defesa do uso de leading factors
geográfica passou a merecer maior sua individualização que está re- na identificação e demarcação de
atenção e aprofundamento. lacionado à escolha de uns poucos unidades regionais.
aspectos, considerados importantes
Como referencial teórico para a Apesar do avanço teórico repre-
para defini -las". A esse fator
questão regional, na década de 60, sentado por esses estudos, a divisão
decisivo denominava nota caracte-
pode-se, inicialmente, reconhecer os regional do Brasil permanecia prati-
rística ou leading factor.
conceitos desenvolvidos por Fábio camente inalterada, ocorrendo ape-
de Macedo Soares Guimarães 14 No tocante à questão da deli- nas mudanças na composição inter-
mitação, Guimarães sustentava na das regiões, como as ocorridas
Embora não superando totalmen-
que· "O problema principal não é o em 1960, com a mudança do Distri-
te o modelo deterrninista/possibilis-
da delimitação, mas sim o da to Federal para a Região Centro-
ta de região, Guimarães defendia Oeste e a criação do Estado da
conceitos bastante diferentes daque- determinação das próprias regiões".
"Não é o continente, mas o conteúdo", Guanabara, na Região Leste.
les que preconizara na década de
40. Nessa etapa de seus estudos, em afirmava E propunha: "Uma vez Cabe lembrar que tanto os dados
1963 especificamente, ele conside- resolvida a individualização de uma do Censo Demográfico 1950, quanto
rava que: " ... as regiões não são ob- região e das suas vizinhas, passa-se os de 1960, foram divulgados a partir
jetos concretos, encontrados na face a marcá-las no mapa, separando-as da divisão regional de 1946, utilizan-
da Terra; de fato não passam de por linhas que se limitam esquema- do-se, igualmente, para esse fim, as
ticamente. O traçado dessas linhas, subdivisões das regiões em zonas fi-
"construções mentais" de esquemas
necessariamente, tem muito de arbi- siográficas, elaboradas também de
delineados pelos geógrafos, para
acordo com o paradigma possibilista.
ajudar a compreender a realidade" trário, mas poderá apoiar-se num ou
Dessa forma, "os quadros regionais mais elementos característicos, as Outras contribuições ao debate
são construções subjetivas ... não têm "notas características" ou leading regional vieram a ocorrer a partir
caráter absoluto e variarão com os factors a que nos referimos". da segunda metade dos anos 60.

13
Ver, por exemplo, o artigo de: VALVERDE, Orlando Estudo regional da Zona da Mata de Minas Gerais Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 20, n
1, p 3-82, jan /mar , 1958
14
GUIMARÃES, Fábio Macedo Soares Observações sobre o problema da divisão regional Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 25, n 3, p 289·
311, jul/set 1963
74 R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995

Com as mudanças na sociedade entre as regiões geográficas de um regiões polarizadas e homogê-


brasileira, desencadeadas após a país, a tendência à fragmentação neas se combinariam a fim de
instalação, no poder, do regime mi- da unidade política será grande". atender às finalidades de ordem
litar de 1964, havia a necessidade prática Sugeria, por fim, a
Começaram, assim, a surgir no-
de se repensar alguns conceitos que identificação de unidades regionais
vas tendências no estudo regional,
já não davam conta da explicação hierarquizadas.
que viriam a ser decisivas na elabo-
da realidade brasileira. A centrali-
ração de um novo modelo de divi- Essa Resolução do CNG, na re-
zação do poder, a ideologia da
são regional para o País. alidade, vinha ao encontro não ape-
integração nacional, e a necessi-
nas das necessidades de gestão do
dade de modificação na divisão
territorial do trabalho, passaram a Espaços homogêneos, território, mas também do meio
técnico-científico, que já trabalha-
ser elementos importantes na funcionais e polarizados - va com novos conceitos desde o
gestão do território, pelo governo
militar, com grandes repercussões
subsídios ao planejamento início dos anos 60. O modelo de
na organização do espaço na segunda metade da região natural, entronizado pela
Escola Determinista Ambiental e
A pesquisa de caráter regional, década de 60 ampliado pelos possibilistas para
após 1964, em resposta à nova Solicitado a colaborar na elabo- região geográfica, estava defini-
ordem social, econômica e política ração do Plano Decenal, que tivamente superado
vigente no País, passa então a nortearia o planejamento nos anos
privilegiar alguns temas, entre os As novas tendências no pensa-
60, o IBGE envolveu-se novamen- mento regional, muito voltadas
quais podem ser destacados o pró- te com a questão regional. Le-
prio conceito de região, o plane- para a questão do planejamen-
vando-se em conta que duas dé- to, estavam inseridas no conjunto
jamento regional e os conceitos
cadas já haviam transconido desde de transformações socioeconômi-
de desenvolvimento e desigual-
a aprovação da primeira divisão re- cas desencadeadas após a li
dades regionais.
gional e que não só o Tenitório Guena Mundial. A maneira como
Entre os geógrafos que traba- Nacional já se achava mais conhe- vinha-se dando a expansão capi-
lharam com esses temas pode-se cido, como também novas aborda- talista, desde o final daquele con-
citar Guerra 15 (1964) que discu- gens metodológicas já estavam flito, com suas inevitáveis conse-
tia o conceito de região e sua im- sendo utilizadas, o IBGE concluiu qüências na produção de novas for-
portância para o poder nacional. que uma nova divisão regional te- mas de organização do espaço bra-
Segundo esse autor, as regiões ria que ser elaborada.
geográficas seriam áreas indivi- sileiro, acentuava a necessidade de
dualizadas pelo complexo de fato- Na Resolução que o CNG enca- reformulação do modelo de divi-
res fisiográficos e culturais, de in- minhava à sua Secretaria 16 , ficava são regional do País.
teresse para o poder nacional. "Os claro que o órgão considerava que Segundo Conêa 17 " ••• não se tra-
fundamentos geográficos do Poder o modelo antigo de divisão regional ta mais de uma expansão marcada
Nacional são as grandes regiões não satisfazia mais aos propósitos pela conquista territorial, como ocor-
geo-gráficas, e os fatores são os a que se destinara, tanto para fins reu no final do século passado; ela
diferentes elementos caracteriza- práticos (base para levantamento se dá de outra maneira e traz enor-
dores dessas regiões". de dados), quanto para fins mes conseqüências, afetando tanto
Guena chamava a atenção para técnico-científicos (conhecimento a organização social como as for-
a importância de se diferenciar re- da realidade do País). O CNG re- mas espaciais criadas pelo homem.
giões tendo com base fatores conhecia a importância de se aten-
socioeconômicos: "Assim, as diver- der a uma crescente demanda por Uma nova divisão social e territo-
sificações regionais são da maior uma divisão revisada, segundo cri- rial do trabalho é posta em ação,
importância para o Poder Nacional. térios e normas atualizados, reco- envolvendo introdução e difusão de
Todavia, se houver desequilíbrios mendando a adoção de um "crité- novas culturas, industrialização, urba-
socioeconômicos muito grandes rio eclético", onde os conceitos de nização e outras relações espaciais ...

15
GUERRA, Antônio Teixeira A região geográfica e sua importância para o poder nacional Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 26, n 3, p 459-
463, jul lset 1964
16
BRASIL Resolução n 595 de 17 de junho de 1966 Encarrega a Secretaria Geral de estabelecer as normas para uma nova divisão regional do Brasil Boletim
de Serviço [do] IBGE, Rio de Janeiro, ano 14, n 732, p 5, 15 jul 1966
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Trata-se de uma mudança tanto no Com grande influência de A caracterização de uma região
conteúdo como nos limites regionais, Rochefort, procurava-se, nesses - "espaço diferenciado da superfí-
ou seja, no arranjo espacial criado estudos, entender e aplicar os con- cie terrestre" - seria feita a partir
pelo homem". ceitos de homogeneidade e pola- de fenômenos de massa, que po-
rização ao caso brasileiro. Nesse dem ser quantificados através da
Dado o novo contexto político- sentido, foi realizado um estudo correlação de diversos fenôme-
econômico do País e consideran- preliminar procurando identificar nos". No tocante à aplicação des-
do a ampliação do conhecimento os diferentes espaços funcionais se conceito, Geiger afirmava: " ...
teórico-metodológico, os estudio- do País, divididos em regiões de ao se realizar uma divisão regio-
sos da questão regional, fortemen- nível superior e de segundo ní- nal do país, caberá verificar, para
te influenciados pelas teorias de vel, tendo sido reconhecidos nove cada região, qual o elemento mais
localização de Christaller e dos pólos de desenvolvimento (São dinâmico no sentido da organiza-
Pólos de Desenvolvimento de Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizon- ção da vida regional, e o que mais
Perroux e Baudeville, passam a te, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, interfere na evolução de outros
utilizar novos conceitos vinculados Recife, Fortaleza e Belém) e 66 fenômenos geográficos".
à dimensão espacial do desenvol- centros secundários. O método
Geiger procurava, nesse estudo,
vimento econômico. Essa tendên- introduzido (Rochefort- Autreux),
articular, em nível de regiões, os con-
cia fica muito clara no Congres- adaptado ao caso brasileiro,
ceitos de espaços homogêneos e
so de Integração Nacional, re- compreendia os seguintes passos:
espaços polarizados, mostrando que
alizado na cidade de Salvador, em 1º-analisar o equipamento terciário tais espaços nem sempre formari-
1966. Nesse Congresso, alguns polarizador e estudar sua distribui- am "regiões". Chamava a atenção
geógrafos apresentaram um infor- ção pelos centros urbanos; para o fato de que, em espaços me-
me sobre os estudos básicos ela- nos desenvolvidos, poderiam formar-
2º - estabelecer a relação entre o
borados, no IBGE, para definição se regiões mais homogêneas, com
poder de polarização e a ação
de pólos de desenvolvimento no vida de relações em tomo da produ-
polarizadora; e
Brasil , onde eram discutidas as ção, enquanto que em espaços mais
novas abordagens regionais 18 3º - classificar as cidades segundo desenvolvidos, a vida de relações
o grau de polaridade medido atra- seria mais intensa, com variedade de
Segundo Pereira et ai. (1967),
vés de notas (scores) atribuídas ao unidades internas diferenciadas e
para a elaboração de políticas gover- equipamento de categorias de ativi-
namentais havia a necessidade de fenômenos de polarização presidin-
dades terciárias. do a regionalização.
reconhecimento de dois níveis
regionais básicos: o primeiro, mais Outro conceito bastante discuti- Considerando os diferentes tipos
amplo, seria composto por sistemas do, no final dos anos 60, referia-se à de "regiões", decorrentes de for-
espaciais (compreendendo as "homogeneidade de elementos mas diferenciadas de organização
ou fatores no espaço" Geiger 19 , do espaço, Geiger finalmente
macrorregiões) e, o segundo, por
em estudo preliminar de 1967, propunha que, na realização de
regiões (abrangendo as microrregi-
procurava não apenas entender esse estudos sobre divisão regional, fossem
ões, as bacias e as áreas metropoli-
conceito, mas aplicá-lo à divisão utilizados tanto os critérios de homo-
tanas, entre outras). Além da regional do Brasil, atendendo, assim,
preocupação com as questões de geneidade, quanto os de polaridade,
às solicitações da Resolução 595, do
escala espacial, havia a busca da que deveriam ser confrontados e com-
CNG. Nesse texto, o autor afirma-
compreensão da funcionalidade binados, definindo-se níveis
ra inicialmente que "no estudo da
dos locais, bem como procurava-se hierarquizados.
superfície terrestre, a geografia
entender as relações entre a descreve extensões diferenciadas Os aspectos teóricos e metodo-
cidade e sua região. Assumia-se do espaço, como reflexos dos fe- lógicos da regionalização foram,
que urna cidade dominaria uma região nômenos cuja qualificação decor- mais tarde, aprofundados por
através de suas atividades de enqua- re de determinadas expressões Geiger. Em um de seus artigos 20 ,
dramento terciário. quantitativas". publicado em 1969, o autor ressal-
17
op cit , p 17
18
Ver a respeito em: PEREIRA, Rubens de Mattos e! ai Estudos básicos para definição de pólos de desenvolvimento no Brasil Revista Brasileira de Geografia,
RiodeJaneiro,v 29,n 1,p 82-101,jan/mar 1967
19
GEIGER, Pedro Pinchas Esboço preliminar da divisão do Brasil nas chamadas regiões homogêneas Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 29,
n 2, p 59-64,abr~un 1967
20
GEIGER, Pedro Pinchas Regionalização Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 31, n 1, p 5-25, jan /mar 1969
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tava a relação existente entre a for- Da análise crítica dos estudos ela- fenômenos de interação e da vida
ma de organização do espaço terri- borados por Geiger, nesse período, de relação" 22 •
torial e o grau de desenvolvimento assim como aos de outros autores a
A primeira visava a ser empre-
do País, afirmando que uma região ele contemporâneos, como
é" ... uma forma geográfica que sur- Davidovich, Santos, Becker, Keller gada para fins estatísticos e a se-
ge apenas em determinada fase his- e Faissol, entre outros, pode-se ve- gunda, apoiando-se em estudos de
tórica de um território". Rompia, rificar que foram expressivas as centralidade e áreas de influência
dessa forma, definitivamente com o contribuições teórico-metodológicas dos núcleos urbanos, objetivava, de
modelo anterior de região ("natural") dadas à área da geografia regional. alguma forma, fim da descentraliza-
e assumia que o processo de regio- Com influência de autores estran- ção. Uma terceira divisão ainda era
nalização estava intimamente corre- geiros, como Friedman e Alonso, pretendida, através de uma combi-
lacionado ao desenvolvimento indus- esses geógrafos brasileiros, ao final nação das duas primeiras (esta vi-
trial de um país "Não há regionali- dos anos 60, passaram a conceituar saria a fornecer informações bási-
zação sem desenvolvimento indus- região como "um espaço organiza- cas às políticas de desenvolvimento
trial", afirmava do pelo homem", privilegiando, em econômico).
seus estudos, a compreensão da
Geiger apregoava, ainda nesse Em 8 de maio de 1969, a Resolu-
evolução de estruturas econômi-
artigo, que o processo de regio- cas e sociais e a análise dos flu- ção nº 1 da Comissão Nacional de
nalização estava vinculado à xos (mercadorias, pessoas ou capi- Planejamento e Normas Geográfi-
homogeneização do País, consi- tal) regionais. co-Cartográficas, considerando que
derando, porém, que o desenvol- a Divisão Regional então em vigor
vimento capitalista traria consigo Estava, portanto, superado, em não mais satisfazia tanto para fins
especialização de regiões em de- nível teórico, o modelo anterior de de tabulações estatísticas, quanto
terminadas produções ou ativida- análise regional. Na prática, essa para fins didáticos, resolveu aprovar
des Baseado, portanto, no reconhe- superação se traduziria na amplia- uma nova di visão regional (em 1967
cimento da importância da divisão ção do conhecimento sobre o havia sido realizada a mesma, em
territorial do trabalho que, em sua Território Nacional, respondendo, caráter preliminar; a seguir, foi re-
opinião, homogeneizaria e, ao mesmo assim, à necessidade de mudança vista e oficializada, em 1969). O mo-
tempo, diversificaria o espaço terri- no modelo de divisão regional delo oficializado identificava cinco
torial brasileiro, o autor propôs uma adotado no País novas Grandes Regiões (especial-
nova abordagem para a identifica- mente para fins didáticos) e unida-
ção de regiões no País·" . a divisão O novo modelo • 1969/ des menores, as microrregiões ho-
de maior hierarquia corresponde à mogêneas (para tabulações dos da-
distinção de enormes extensões ter-
1970 dos e estratos de amostragem do
ritoriais, grandes espaços econômi- Tornada premente a reformula- sistema estatístico, agrupadas por
cos, diferenciados por nível de de- ção da divisão regional do País, os estados), ficando os níveis interme-
senvolvimento" técnicos da Divisão de Geografia do diários para posterior aprovação
IBGE, então responsável por tal (Decreto nº 67.647, de 23.11.1970,
Segundo esse conceito, Geiger publicado no Diário Oficial de
identificava três macrorregiões, no tarefa, julgaram que uma só divisão
regional seria insuficiente, dado que 24.11.1970 e retificado no de
BrasiJ21 : a Amazônia, o Nordeste e 04.12.1970)
o Centro-sul ( Mapa 4). Esses "a compreensão da organização
grandes espaços, por sua vez, espacial de um país, do ponto de vista O artigo 1ºdo Decreto no 67.647,
seriam subdivididos em regiões me- geográfico, implica a análise das assim explícita: é estabelecida para
nores, através da análise histórica de duas ordens de fenômenos fins estatísticos a seguinte Divisão
alguns elementos, tais como: recur- essenciais de uniformidade do Regional:
sos naturais e seu aproveitamento, espaço: regiões homogêneas,
1 - Região Norte.
movimentos da população; objetivos tratadas como a forma de
da produção; estrutura social e ba- organização em torno da produção, Estados do Acre, Amazonas e Pará;
lanços comerciais e de pagamentos e regiões funcionais ou áreas e Territórios de Rondônia, Roraima
inter-regionais. distintas, analisadas segundo os e Amapá.

2
'Cabe lembrar que essa divisão havia sido elaborada por Geiger, em 1964, e vinha sendo adotada por alguns técnicos, especialmente geógrafos, em seus
estudos sobre a organização do espaço brasileiro
22
Ver GALVÃO, M V, FAISSOL, S op cit, p 189-190
R bras Geogr,RiodeJaneiro,v 57,n 4,pl-163,out/dez 1995 77

Mapa4

DIVISÃO REGIONAL DO BRASIL


PROPOSTA POR PEtJRO GElGER-1964

CENTRO SUL

SOOESTE OOmENTIU.
{~illo O~Wet;<mJ'iid<! 41í>li1Mlf!U!'Iti<l A~rrifrul

SJJOOSTE Of.ltfNTAL
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Fonte: Geiger, Pedro Pinchas Organização regional do Brasil Revista Geográfica, Rio de Janeiro, n 61, p 51, jul /dez 1964
78 R bras Geogr,RiodeJaneiro,v 57,n 4,pl-163,out!dez 1995

2 - Região Nordeste: se refere aos aspectos quantitativos Pelas denominações atribuídas aos
Estados do Maranhão, Piauí, Cea- e dinâmicos); c) nas regiões agríco- macroespaços já se percebe uma mo-
rá, Rio Grande do Norte, Paraíba, las (obtidas através da análise da dificação na delimitação dos mesmos
Pernambuco, Alagoas, Sergipe e estrutura agrária, da forma de utili- A mais expressiva foi o desapareci-
Bahia, e Território de Fernando de zação da terra e da produção agrí- mento da Grande Região Leste,
Noronha cola), d) nas atividades industriais surgindo em seu lugar a Macrorregião
(através do exame da sua evolução Sudeste. Assim, os Estados de Sergipe
3 - Região Sudeste:
segundo os gêneros de indústria, sua e Bahia, que formavam o Leste Seten-
Estados de Minas Gerais, Espírito associação, as formas das empre- trional, passaram a pertencer à Macror-
Santo, Rio de Janeiro, Guanabara e sas e as dimensões dos estabeleci- região Nordeste; os Estados de Minas
São Paulo. mentos); e) na infra-estrutura dos Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e
transportes (as áreas foram classi- Guanabara (transformado em Municí-
4 - Região Sul:
ficadas segundo a maior ou menor pio do Rio de Janeiro, pertencente ao
Estados do Paraná, Santa Catarina acessibilidade aos modernos meios Estado do Rio de Janeiro, em 1975),
e Rio Grande do Sul. de transporte); e, ainda, f) nas ativi- juntamente com o Estado de São
dades terciárias não polarizadoras Paulo (até então pertencente à Re-
5 - Região Centro-Oeste·
(portuárias, turísticas, militares, etc.) gião Sul), passaram a formar um
Estados de Goiás, Mato Grosso e novo espaço regional - o Sudeste.
Distrito Federal. Foram individualizadas áreas
que se identificam por certa for- Será bom registrar que a criação desta
Ainda nesse decreto, ficou de- nova região - o Sudeste - tomava-se
ma de combinação dos elementos
finido que, para as unidades me- imperiosa, visto que a SUDENE, órgão
geográficos, sempre dentro de
nores, "a noção fundamental é a criado em 1959 pelo Governo Federal
determinado nível de generaliza-
da uniformidade do espaço, ba- visando ao desenvolvimento da Região
ção; desde que mudava substan-
seada nas características socioeco- cialmente um dos elementos, mu- Nordeste, já considerava os Estados da
nômicas que os dados estatísticos dava a combinação e passava-se Bahia e de Sergipe como pertencen-
devem espelhar, espaços estes que à outra unidade. tes ao Nordeste. O mesmo acontecia
deverão sofrer modificação, toda com outros órgãos governamentais.
vez que uma alteração substancial Os espaços homogêneos resul-
desta uniformidade for afetada pelo tantes, em número de 361 unida-
processo de desenvolvimento eco- des, que passaram a ser denomi- Região e
nadas de microrregiões homo-
nômico". Esta seria, portanto, uma
classificação indutiva, fundamentada gêneas, apareciam distribuídos da
regionalização na
no conhecimento da realidade a par- maneira como se segue, através década de70
tir de uma trajetória ascendente, do das Grandes Regiões, que passa-
indivíduo para o todo, através de téc- ram a se denominar de Macrorre-
nica de agrupamento. giões (Mapa 5). Os conceitos ligados à
Nessa divisão regional, a ser ado-
Teoria Geral dos
tada nos anos 70, o conceito de es- 1
i
Macrorregiões Microrregiões (n~) Sistemas e ao Modelo
paço homogêneo foi definido como Norte 28 Centro - periferia
forma de organização da produ- Nordeste 128
ção, tendo servido de embasamento Sudeste 111 A produção científica, no início da
Sul 64 década de 70, foi profundamente
para a identificação dessas unida- Centro-Oeste 30
des as análises efetuadas: a) nos marcada pelo difícil período históri-
domínios ecológicos (como estes co por que passava a sociedade
atuam nas atividades e formas de Tais recortes foram usados já brasileira. Os estudos de cunho
organização humana); b) na distri- no Censo de 1970 para a tabulação regional, conduzidos principalmente
buição espacial da população (espa- dos dados estatísticos, donde se con- por geógrafos, encontravam-se na
ços caracterizados pelo mesmo clui que estas substituíram as anti- mesma situação vivenciada em
comportamento demográfico no que gas zonas fisiográficas. outras áreas do conhecimento cientí-
R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995 79

MapaS

DIVISÃO REGIONAL DO BRASIL


- A
EM MICRORREGIOES HOMOGENEAS
1980

Forte: IBGE, Diretoria de Geociências, Departamento de Cartografia.

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80 R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, outJdez 1995

fico, ou seja, retraídos na quantida- riféricas, definidas por suas rela- tro em elaboração (Porto Alegre),
de de trabalho produzido e/ou a ções de dependência com a core circundados por regiões dinâmicas
perda de crítica e criatividade, com- region" (ibid.). (grande parte das Regiões Sudeste
prometendo a qualidade dos estudos e Sul);
Conforme pode-se observar, os
elaborados.
conceitos emitidos pela autora refle- Regiões periféricas em lento
Apesar das dificuldades na con- tiam o momento político vivenciado,
dução da pesquisa científica, algu- crescimento, correspondendo a
em que o autoritarismo e o
mas instituições e alguns profissio- áreas à retaguarda da região dinâ-
centralismo eram pontos de sus-
nais destacaram-se, nesse período, mica, englobando boa parte da
tentação do estado.
pela produção e divulgação de região de influência do Rio de
pesquisas voltadas para a Assim, definia-se a estrutura Janeiro e a área pastoril que contor-
compreensão da organização espa- espacial como resultante de rela- naria a periferia dinâmica;
cial brasileira. Entre os profissionais ções de autoridade e dependên-
que tiveram trabalhos divulgados por cia, sendo a cidade "foco" inicial Regiões periféricas deprimi-
importantes publicações, como a de inovações, ou seja, o grande das, correspondendo à faixada lito-
Revista Brasileira de Geografia e o centro seria local de poder, na me- rânea, Leste e Nordeste do País,
Boletim de Geografia Teorética, dida em que controlaria o desenvol- englobando áreas agrícolas tradici-
merece inicialmente destaque a vimento. Os conceitos adotados es- onais, e
geógrafa Bertha Becker, por sua tavam ainda impregnados de outra Regiões de fronteira de re-
produção científica voltada para a característica marcante do período,
compreensão das relações entre o cursos ou regiões de novas opor-
ou seja, a preocupação com a inte- tunidades, compreendendo áreas
crescimento econômico e a estrutu- gração nacional - estratégia utili-
ra espacial brasileira. A análise de "avanço de frentes pioneiras
zada pelo governo militar para a ar-
crítica de seus artigos, do início da ativas sobre terras despovoadas e
ticulação econômica do espaço bra-
década de 70, permite não apenas matas por desbravar", aí incluída
sileiro, sob a ideologia desenvolvi-
conhecer as tendências teórico-con- a Amazônia como uma periferia
mentista.
ceituais sobre região/regionalização, não integrada.
"O aparecimento de novos centros
mas também entender o enquadra-
na periferia, superando o padrão de Os diferentes tipos de regiões
mento político do pensamento geo-
gráfico naquele período. desequihbrio estrutural dos países em definidos pela autora, através da uti-
desenvolvimento, revela a tendência lização dos conceitos da Teoria Cen-
Como contribuição teórica à para o padrão de integração tro-Periferia, revelam, conforme
compreensão da estrutura espacial nacional característico dos países enfatizado anteriormente, a preocu-
brasileira, Becker, em pesquisa desenvolvidos" 24
divulgada em 1972 23 , a partir de pação com a clara definição de con-
conceitos vinculados à Teoria Geral Reconhecendo que, nos aspec- ceitos capazes de dar um cunho ci-
dos Sistemas e ao Modelo tos sociais, "a dinamização do sis- entífico à análise geográfica. Essa
Centro-Periferia, afirmava: "O tema não acompanhou o ritmo tendência pode ser observada em
sistema espacial se integra através apresentado pelo setor econômi- muitos autores que produziram es-
de uma estrutura de relações de co", a autora identificava, segun- tudos geográficos nesse período,
autoridade-dependência exercidas a do o modelo "Centro-Periferia", sendo determinante, por exemplo,
partir de grandes cidades, foco inicial a seguinte estrutura espacial até mesmo na linha editorial de al-
das inovações" (p. 101). (Mapa 6): gumas publicações científicas 25
Considera, ainda, que "desenvol-
Regiões periféricas dinâmicas Nesse contexto, e interessados na
vimento é inovação" (ibid.), sendo
que " ... os centros inovadores ou em desenvolvimento, que com- compreensão da organização do
constituem core regions ou cen- preenderiam as core regions (São espaço, pode-se, também, destacar os
tros" e que "todas as outras áreas Paulo e Rio de Janeiro), um centro se- geógrafos Geiger e Davidovich que,
do sistema espacial são regiões pe- cundário (Belo Horizonte) e um cen- em 1974, escreveram um importante

23
BECKER, Bertha K Crescimento econômico e estrutura espacial do Brasil Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 34, n 4, p 101-116, out /dez 1972
24
ibid p 114
25
Em Rio Claro (SP), foi lançado o periódico "Boletim de Geografia Teorética" que, em seu segundo número, apresentava artigos como "Modelo e paradigmas
em geografia" de José Alexandre Diniz, e "Teoria dos sistemas" de Antônio Christofoletti Já em 1974, o IBGE publicou "Urbanização e regionalização: relações
com o desenvolvimento econômico"- uma coletânea de textos, selecionada por Speridião Faissol, de diversos autores estrangeiros, tais como: Brian Berry,
François Perroux, Gunnar Olsson, A Brown/John Holmes, entre outros, que difundiam novos conceitos e/ou teorias
R bras Geogr , Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995 81

Mapa6

BRASIL
TIPOS DE REGIÕES SEGUNDO INTERAÇÕES ESPACiAtS

FkOM'I'ElkA ti(' ftl;C~fii:$0S 00 RE61ÃO


00 NOVAS OPORfUNID4DES

FR€J'ffE PlúNf:tRtl. EM Am;:A$ ~ MAtÁ$


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t . ·t ..
DíR.tÇÜit$ PfflNCWAH> OA FM1i:NTE PIONCHitA

A t;~PLOMç;Ão MINERAL

Fonte: BECKER, Bertha K Crescimento econômico e estrutura espacial do Brasil Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 34,
n 4, p 105, out/dez 1972
Nota: Organizado por Bertha K Becker
82 R bras Geogr,RiodeJaneiro,v 57,n 4,pl-163,out/dez 1995

artigo sobre os efeitos da urbanização Técnicas quantitativas ores, defmidas segundo associações
na estrutura espacial do País 26 . funcionais. Na identificação desses
na análise regional espaços seria utilizado outro tipo de
Tendo como objetivo geral repen-
Outro autor importante para o matriz, onde se analisariam pares de
sar a aplicação da Teoria Centro-
entendimento dos conceitos de re- lugares e seu relacionamento fun-
Periferia ao caso brasileiro, os auto-
gião e regionalização utilizados nos cional
res procuraram demonstrar que a
organização espacial daquele perío- anos 70 é Speridião Faissol Pro- Sob a influência da Teoria! Geral
fessor universitário e pesquisador do dos Sistemas e seguindo os modelos
do representava o reflexo de um sis-
IBGE, com vários trabalhos publi- estatísticos de classificação de
tema de relações entre uma econo-
cados na Revista Brasileira de lugares difundidos por Faissol e
mia industrial e um poder oficial que
Geografia, ele exerceu grande influ- outros geógrafos, vários estudos
sustentavam o desenvolvimento de
ência nos rumos da pesquisa daque- foram produzidos, destacando-se os
formas capitalistas de produção.
les anos. Apoiado na Teoria Geral de Divisão do Brasil em Regiões
Como uma grande contribuição te- dos Sistemas, foi um dos principais
órica, esse artigo apontava fatores Funcionais Urbanas e Mesorregiões
responsáveis pela introdução de Homogêneas
de reelaboração da estrutura espa- técnicas quantitativas na análise
cial do País. regional, entre elas a correlação, a
Além da economia industrial e da regressão e a análise fatorial As regiões funcionais
atuação política federal incorpora- Através dessas técnicas, funda- urbanas · 1972
dora de interesses econômicos, ou- mentadas no positivismo lógico, e
subsidiado pela Teoria Geral dos Seguindo os modelos teórico-me-
tros elementos eram utilizados na
Sistemas, Faissol procurava identi- todológicos descritos anteriormente,
identificação da nova estrutura es-
ficar modelos espaciais, definindo técnicos do IBGE definiram, em
pacial, tais como o papel dos trans-
portes, o processo histórico de cada região 27 como:" .. um conjunto de 1972, as regiões funcionais urba-
lugares caracterizados por um ele- nas29 como·
região e a posição das mesmas em
vado grau de similaridade ou "... um sistema hierarquizado
relação à área considerada "centro",
homogeneidade, homogeneidade de divisões territoriais e de ci-
ou seja, o Sudeste. Os autores cha-
esta definida em termos de um cri- dades que podem servir de mo-
maram a atenção para um elemen-
tério específico" (p. 155). delo tanto para uma política
to pouco analisado nos estudos do
início dos anos 70, ou seja, a repre- Para o autor em questão, " .. re- regionalizada de desenvolvimen-
sentatividade e a participação do gionalização e tipologia são con- to, como para orientar a raciona-
empresariado regional na estrutura- ceitos semelhantes, sendo a dife- lização no suprimento de serviços
ção do espaço Em suas críticas ao rença essencial apenas a contigüi- de infra-estrutura urbana através
dade territorial" (ibid.) da distribuição mais adequada".
modelo Centro-Periferia, discutiam,
para o caso brasileiro, a existência Em artigo 28 apresentado em 1973 A metodologia adotada no estu-
de um "centro", espacialmente re- na CONFEGE, Faissol diferenciaria do, subsidiada por questionários es-
lacionado a uma única área geográ- regiões homogêneas e regiões funcio- pecíficos, aplicados em 1966, con-
fica e ligado a periferias, hierarqui- nais. A primeira seria definida como sistia, em síntese, na contagem de
camente dependentes dele. Valori- um agregado de unidades espaciais, relacionamentos ou vínculos
zando o histórico da ocupação do formando unidades maiores, segundo mantidos entre os centros urba-
Território Nacional, os autores pro- critérios que definiriam atributos para nos através de setores de ativida-
punham um novo modelo de análise, os lugares considerados. Para a iden- de Procurava-se medir os fluxos
com ênfase no conhecimento dos tificação desse tipo de região sugeria o agrícolas e fluxos de distribuição
processos de litoralização e inte- uso da matriz geográfica (lugar/atribu- de bens e serviços, utilizando-se
riorização que, segundo eles, respon- to). Já as regiões funcionais seriam de- como indicadores a rede viária e os
deriam melhor à compreensão da finidas como agregados de unidades locais de distribuição de bens e
estruturação do espaço brasileiro. espaciais, que formariam unidades mai- serviços.

26
GEIGER, Pedro Pinchas, Davidovich, Fany Rachei Reflexões sobre a evolução da estrutura espacial do Brasil, sob o efeito da industrialização Revista
Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 36, n 3, p 3-29, jul /set 1974
27
FAISSOL, S Teorização e quantificação na geografia Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v 34, n 1, p 145-164, jan /mar 1972
28
lbid Um mo.delo de análise regional para fins de planejamento econômico: integração de sistemas de regiões formais e funcionais Revista Brasileira de
Geografia, R1o de Jane1ro, v 35, n 1, p 71-85, jan /mar 1973
R bras Geogr, Rio de Janeiro, v. 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995 83

Como resultado dessa pesquisa censitários, sem perigo de individua- discutidos o processo de expansão
que pretendia ser" ... modelo de Di- lização de informações, como forma do capitalismo e as diferentes
visão Regional do Brasil para fins de subsidiar as políticas de planeja- formas espaciais que dele resultam
de ação administrativa, foram mento, então em vigor. a partir de conceitos oriundos da
hierarquizados 718 centros urbanos, Teoria Marxista.
Definidas como unidades territori-
sendo identificados. Nesse contexto, cabe destacar a
ais resultantes da agregação de
.10 centros metropolitanos, aí en- microrregiões, as mesorregiões se- contribuição teórica, sem dúvida
globados a grande metrópole naci- guiram a mesma linha conceitual decisiva, dada por Milton Santos,
onal, a metrópole nacional, os adotada no estudo daqueles espa- a partir do final da década de 70
centros metropolitanos regionais e ços homogêneos, em 1969/1970. Em 1978, esse autor publicou o livro
os centros macrorregionais; "Por uma Geografia Nova" 30
Utilizou-se, portanto, o critério da
que, como o próprio subtítulo afir-
• 66 centros regionais, subdivididos homogeneidade intragrupos, defi-
mava, ia "da Crítica da Geografia
em centros de duas hierarquias (2a nido segundo os setores básicos das
a uma Geografia Crítica". Tal obra
e 2b), atividades econômicas e indicado-
pode ser considerada um marco
• 172 centros sub-regionais, subdivi- res de desenvolvimento urbano e para os estudos geográficos
didos em centros de duas hierar- rural. Os conceitos utilizados gera- produzidos no Brasil, pois, além de
quias (3a e 3b); e ram um amplo conjunto de variáveis apresentar uma revisão crítica do
que, trabalhado quantitativamente por pensamento geográfico até aquele
.470 centros locais, subdivididos em
análise fatorial, de agrupamento e momento, introduzia novos concei-
centros de duas hierarquias (4a e 4b).
multidiscrirninatória, deu origem a 87 tos e teorias. A partir da discussão
As regiões funcionais urbanas unidades espaciais em nível mesorre- de um novo paradigma (a natureza
foram alvo de uma reavaliação em gional. "definida como o conjunto de todas
1976, mas somente foram revistas as coisas existentes ou, em outras
e republicadas em 1987, com o títu-
lo de Região de Influência das
A abordagem regional palavras, a realidade em sua totali-
dade") 31 e apoiado em uma clara
Cidades. na década de 80 definição do objeto de estudo da
Geografia (o espaço social), Santos
As mesorregiões Região e regionalização introduzia conceitos fundamentados
no marxismo, tais como: totalidade,
homogêneas - 1976 segundo o materialismo modo de produção, formação social
Igualmente apoiado na Teoria histórico e dialética do espaço, entre outros
Geral dos Sistemas e em métodos Os anos 80 foram marcados por Para esse autor, "o espaço, espa-
de análise quantitativos e tendo como grandes transformações na ço paisagem, é o testemunho de um
objetivo geral "... dar maior sociedade brasileira, decorrentes, momento do modo de produção nes-
flexibilidade na escolha de unidades principalmente, do processo de tas suas manifestações concretas, o
observacionais, que fossem ao mes- abertura política iniciado neste testemunho de um momento do
mo tempo adequadas para o objetivo período O meio acadêmico, os mundo 32 •
de um determinado estudo e para o profissionais que trabalhavam no
qual os dados necessários para o de- Como categorias fundamentais
planejamento e os que elaboravam
senvolvimento do trabalho fossem desse espaço identificava a totalida-
pesquisas sobre a realidade do País
significativos", o IBGE definiu, em de e o tempo, reconhecendo que
procuravam entender esse novo
1976, um novo conjunto de regiões "como o acontecer sobre o espaço
contexto à luz de enfoques bastante
brasileiras - as mesorregiões ho- não é homogêneo, a noção de lugar
diversificados.
mogêneas. Tais unidades espaciais, e de área se impõe, impondo ao
em escala intermediária entre as No que se refere aos estudos mesmo tempo a categoria de escala,
micros e as macrorregiões, visavam geográficos e, em particular, à isto é, a fração de espaço dentro do
a aprimorar a divulgação de dados questão regional, passam a ser muito espaço total" 33 •

29DUARTE, A C et ai Proposição metodológica para revisão da divisão do Brasil em regiões funcionais urbanas Revista Brasileira de Geografia, Rio de
Janeiro, v 38, n 2, p 100-129, abr /jun 1976
30
SANTOS, Milton Por uma geografia nova São Paulo: Hucitec: Ed da USP, 1978
31
ibid' p 158
32
ibid' p 138
33
ibid' p 176
84 R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995

Os conceitos discutidos por como um produto da sociedade. Esta Ainda na linha de abordagem
Santos traziam, portanto, uma nova é teorizada como uma totalidade, marxista aos estudos regionais, pode-
abordagem para a Geografia, sendo expressa sob os conceitos do ma- se destacar, na década de 80, a
que, para os estudiosos da questão terialismo histórico e investigada atuação do Núcleo de Estudos Re-
regional, o conceito de Totalidade pelo método dialético. Dois con- gionais da UNICAMP. Baseado na
abria novas possibilidades de análise. ceitos são fundamentais nessa con- discussão realizada na mesa redonda
Para Milton Santos, a noção de cepção, o de modo de produção e o
totalidade seria inseparável da noção "A Questão Regional é Relevante
de formação social. Dessa forma, a para as Ciências Sociais?", no IX
de estrutura, sendo ambas apoiadas nova abordagem conceitual de regi-
na realidade social· Encontro Anual de 1985, o NER
onalização está relacionada à tota-
publicou uma série de artigos sobre
"A totalidade espacial, que é uma lidade social. Como tal está implí-
região e regionalidade de autores como
dessas estruturas da sociedade, tam- cito que a região é analisada como
Ademir Gebara, Paulo H. N. Martins
bém deve ser tratada em termos de um reflexo espacial daquela to-
e Héctor H. Bruit 39 •
subestruturas (são subestruturas talidade" 36 •
para a sociedade como um todo, Muitas outras contribuições teó-
Duarte discutia, ainda nesse arti-
para a totalidade espacial são sim- ricas, na década de 80, foram fun-
go, a influência de alguns autores,
plesmente estruturas). Aqui cabe damentais para o avanço do conhe-
não geógrafos, na formação desse
falar dos lugares e dos subespaços, cimento regional do País. Além do
novo referencial teórico para estu-
áreas que na linguagem tradicional
dos regionais, destacando os estu- já citado trabalho de Francisco de
dos geógrafos chamam-se, mais fre-
dos de Lipietz 37 (1979)e de Olivei- Oliveira, baseado na experiência
qüentemente, regiões" 34•
ra 38 (1977). nordestina do autor, a SUDENE
Seguindo essa mesma linha de publicava em 1984 a obra "Desi-
O primeiro desses dois autores de-
pensamento na compreensão da gualdades Regionais do Desenvol-
fendia a noção de que a estrutura
organização do espaço, deve-se des- vimento Brasileiro", do grupo
do espaço seria resultante da ar-
tacar a contribuição teórico-metodo-
ticulação de modos de produção e PIMES, onde o recente processo
lógica de outro geógrafo: Aluizio
que a região seria a dimensão es- de expansão capitalista era anali-
Capdeville Duarte. Este , em 1980,
pacial de relações sociais contra- sado em relação ao todo do País e
publicou um importante artigo, onde
ditórias. Já Oliveira conceituava a cada região, em particular.
fazia várias considerações metodo-
região como um espaço onde a
lógicas sobre o processo de regio- A sistematização do conhecimen-
reprodução do capital se proces-
nalização 35 • to regional, na década de 80, teve ain-
saria de maneira específica, geran-
A partir de uma revisão concei- do uma forma específica de luta de da uma grande contribuição através
tual, o autor identificava, nesse es- classe onde o econômico e o polí- de Corrêa, já citado anteriormente,
tudo, quatro tipos principais de tico se fusionariam, assumindo uma com a publicação do livro "Região
abordagem regional, segundo dife- forma especial de aparecer no produto e Organização Espacial". Nessa
rentes fases: a regionalização como social e nos pressupostos da reposição. obra, o autor, além de fazer, à seme-
diferenciação de áreas; a regiona- lhança de Santos, uma revisão das
Embora esses dois autores traba-
lização como classificação; a regi- correntes do pensamento geográfico,
lhassem com definições diferentes de
onalização como instrumento de
região, nota-se que a abordagem é avançava na definição dos conceitos
ação, e a regionalização como pro-
semelhante, com ênfase ora em aspec- de região e de organização espacial.
cesso Identificava, entretanto, na-
tos econômicos, ora em elementos
quele início de década, um outro Região e identidade regional foram,
político-ideológicos. A região é
movimento teórico no sentido da ainda, alvo de discussão por Costa 4D,
analisada não como um espaço defini-
compreensão da região como uma que realizou, em 1988, estudos tendo
do por atributos ou relações internas,
totalidade social: como área de observação o Estado
mas sim pelo resultado de processos
"A nova abordagem regional está abrangentes que atuam sobre a totali- do Rio Grande do Sul. Este autor, ba-
relacionada ao conceito de espaço dade espaço-social. seado no conceito de totalidade soei-

34
ibid' p 171
35
DUARTE, Aluizio Capdeville Regionalização: considerações metodológicas Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v 1 O, n 20, 1980
36
1bid,p 17
37
LIPIETZ, A E! capital e su espacio México: Síglo Vienteuno, 1979
38
OLIVEIRA, Francisco Elegia para uma re(li)gião Rio deJaneiro: Paz e Terra, 1977
39
GEBARA, Ademir et ai História regional: uma discussão Campinas: Ed Unicamp, Núcleo de Estudos Regionais, 1987
4
°COSTA, Rogério Haesbaent da Latifúndio e identidade regional Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988
R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995 85

al, defendido por Duarte, definia re- As Microrregiões e am a ser publicados em 1990 -
gião como: utilizaram uma base conceitual que
Mesorregiões afirmava:
" .. um espaço (não institucionali-
zado como Estado-Nação) de identi-
Geográficas - 1989/1990 "A dinâmica do processo de
dade ideológico-cultural e representa- No final da década de 80, encon- desenvolvimento capitalista, em nos-
tividade política, articulado em função trava-se o Brasil com uma estrutu- so País, pode ser traduzida pela ine-
de interesses específicos, geralmente ra espacial muito diferente daquela vitável desigualdade na organização
econômicos, por uma fração ou bloco que serviu de referência para a espacial que comporta diferentes
"regional" de classe que nele reconhe- formas de subordinação do traba-
Divisão Regional realizada em 1970.
ce sua base territorial de reprodução" 41 •
Entretanto, ainda era essa a divisão lho ao capital e pela atuação cres-
Segundo sua concepção, regio- macrorregional oficialmente cente do papel do Estado naquele
nalismo definia-se como adotada, apesar de existir uma pre- processo" 44 •
" . um processo de criação e sus- ocupação, nos meios acadêmicos e Diferentemente do modelo ante-
tentação de determinados significa- nos órgãos de pesquisa, quanto a sua rior que partira da agregação de áre-
dos sociais, relacionados sempre a validade como modelo que as segundo critérios de homogenei-
um dado território, através dos quais espelhasse a realidade brasileira. dade, a metodologia adotada nesses
uma fração de classe, hegemônica estudos apoiava-se na noção de to-
ou portadora de alguma bandeira Na impossibilidade de se redefi- talidade nacional, tomando as Uni-
autonomista, procura valer de seus nir, naquele momento, o modelo dades da Federação como universo
interesses- de natureza político-eco- macrorregional, o Departamento de de análise Através do método de
nômica e/ou identidade cultural (que Geografia do IBGE passou, em divisão sucessiva desses espaços -
também não pode ser separada de 1988, a rever as divisões dos espa- as UFs - identificaram-se, posteri-
uma fragmentação política)- frente ços intermediários, ou seja, as me- ormente, as mesorregiões e mi-
aos interesses da classe dominante sorregiões e microrregiões homogê- crorregiões que passaram, então,
em nível de Estado-Nação" 42 • neas, à luz de conceitos diferentes a ter denominação de geográficas,
daqueles usados na década anterior. em lugar de homogêneas.
Os dois conceitos (região e regi-
onalismo) se articulariam, ainda se- Partia-se da premissa que o de- Como mesorregião geográfica
gundo Costa, no que este denomi- senvolvimento capitalista de produ- passou-se a denominar uma área
nou processo social. individualizada, em uma Unidade da
ção teria afetado de maneira
Federação, que apresentasse for-
" ... modo como as regiões se arti- diferenciada o Território Nacional,
mas do espaço geográfico definidas
culam ou se dissipam, a dialética en- com algumas áreas sofrendo pelas seguintes dimensões·" ... o pro-
tre regionalismo e espaço, ou seja, o grandes mudanças institucionais e cesso social, como determinante, o
processo histórico de sua origem, afrr- avançossocioeconômicos,enquan- quadro natural, como condicionante,
mação e dissolução, que pode ter dis- to outras se manteriam estáveis ou a rede de comunicação e de luga-
tintas características, de acordo com
apresentariam problemas acentuados. res, como elemento de articulação
as diferentes formas de manifestação
Reconhecia-se o papel das condições espacial" 45 •
da identidade regional" 43 •
naturais na orientação das formas
Na análise dos principais concei- Já as microrregiões geográfi-
de ocupação e produção agrárias,
tos apresentados acima, pode-se cas, consideradas como partes das
bem como identificavam-se os
constatar que, embora com nuances mesorregiões, foram definidas por
processos de metropolização e in-
diferentes, a base teórica utilizada suas especificidades quanto à estru-
dustrialização como elementos
pelos diversos autores é a mesma, tura da produção agropecuária, in-
estruturadores do espaço.
podendo-se afirmar que essa tendên- dustrial, extrativa mineral e pesquei-
cia de pensamento, fundamentada no Assim, os estudos realizados para ra. Para a compreensão das
materialismo histórico, marcou os a nova divisão do Brasil em especificidades da estrutura produ-
estudos regionais da década de 80. subespaços regionais - que só viri- tiva, utilizaram-se, também, informa-

"lbid' p 10
42
lbid' p 26
43
lbid' p 27
44
DIVISÃO Regional do Brasil em mesorregiões e microrregiões geográficas: Rio de Janeiro: IBGE, 1990, v 1: Brasil
45
Op cit, p 8
86 R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, ouUdez 1995

ções sobre o quadro natural e sobre te nos estudos geográficos. Passan- regionais Como exceção a essa
relações sociais e econômicas do por períodos importantes da regra, deve-se mencionar a criação,
particulares, compondo a vida de história recente do País, foram vári- em 1988, do Estado do Tocantins
relações locais. as as contribuições teórico-metodo- que, formado pela agregação de
O novo modelo de mesorregiões lógicas, indo desde o determinismo alguns municípios goianos, portanto
e microrregiões geográficas resultou ambiental até o materialismo histó- da Região Centro-Oeste, passou a
em um quadro final bastante rico, para o processo de identifica- pertencer a outro bloco regional, no
diferente daquele definido em 1968, ção e delimitação de recortes regi- caso, a Região Norte
apresentando um número maior onais, em diferentes escalas.
tanto de unidades de menor área Em relação aos espaços meno-
quanto de espaços intermediários Apesar dessa variedade de en- res - as micros e mesorregiões -
Tabela 1). foques, verificou-se um certo grau observou-se que, contra\riamente ao
de permanência das divisões que sucedeu com as Grandes
Em termos de divisão regional, de
macrorregionais, que, desde 1913, Regiões, as diferentes concepções
caráter oficial, para fins de levan-
passaram por poucas alterações em teóricas vêm alterando significativa-
tamento e divulgação de dados
estatísticos, as mesorregiões e as suas concepções. De fato, os mente as divisões regionais,
microrregiões geográficas constituem recortes macrorregionais ocasionando tanto mudança no
o último modelo, estando em vigor oficialmente adotados sempre foram número de unidades identificadas,
até os dias de hoje (Mapa 7) em número de cinco grandes áreas, quanto na forma de se apreender o
sendo que apenas algumas Unidades conteúdo interno das mesmas Essa
No que se refere à divisão
da Federação (MA, PI, BA, SE e situação, entretanto, não é decorren-
macrorregional, continua prevalecen-
SP) alternaram, ao longo do tempo, te apenas da evolução do pensamen-
do a estrutura regional identificada em
1970, o que sugere uma urgência em sua inclusão nos blocos regionais A to geográfico. A própria dinâmica
sua revisão. preferência por uma nomenclatura político-econômica do País requer uma
baseada na posição geográfica das constante atualização da malha
áreas é outra característica das microrregional e, conseqüentemente,
Considerações finais divisões regionais adotadas, tendo sido da mesorregional, uma vez que são
Esse estudo, que ora chega ao marcante a utilização de elementos freqüentes os processos de emanei-
final, teve como objetivo fazer uma do quadro físico na identificação e de- pação de distritos, passando a formar
revisão dos diferentes modelos da limitação das mesmas, apesar da evo- novos municípios, bem como alteram-
divisão regional brasileira, lução teórica já referida. se, com o tempo, as próprias carac-
procurando situá-los em relação à terísticas definidoras das áreas
Outra constatação sobre a divisão
evolução do pensamento geográfi-
co, desde o início do Século XX até regional brasileira refere-se a seu Nesse quadro de grandes trans-
o começo da década de 90. Como sentido utilitário, já que as regiões vêm formações na organização do espa-
é inevitável, nesse tipo de revisão, sendo oficialmente adotadas como ço brasileiro, verifica-se que as
deixou-se de abordar algumas base territorial para levantamento e últimas alterações na divisão regi-
questões importantes relativas ao divulgação de dados estatísticos onal institucionalizada datam de
assunto, bem como não foram Em função desse fato, a delimi- 1990. Seria esse modelo capaz ain-
analisados vários autores que tação das regiões segue os limites da de expressar a realidade brasilei-
elaboraram trabalhos sobre região/ político-administrativos de suas uni- ra ao final do Século XX? As novas
regionalização. Apesar dessas dades componentes, ou seja, dos discussões teóricas vêm trazendo ao
limitações, o estudo realizado estados e dos municípios. Altera- debate o papel do lugar, do local
procurou fornecer uma visão geral diante do processo de globaliza-
ções em uma dessas unidades podem
do assunto, o que permitiu elaborar ção/mundialização que envolve
ocasionar, portanto, modificação no
um quadro final sobre os principais toda a sociedade, todos os países. Sob
traçado das regiões. No caso dos
aspectos abordados, trazendo algu- esse novo paradigma, seria possível
espaços maiores, as alterações pro-
mas conclusões sobre a questão da ainda pensar o regional? Como se
cessadas, ao longo do tempo, de-
divisão regional brasileira (Anexo- definiria uma região? Esse é um novo
correram, principalmente, da
Quadro-Resumo) desafio, mas, igualmente, uma
criação de novos estados e da
Em primeiro lugar, foi possível passagem de alguns territórios para instigante tarefa, para aqueles que
observar que a preocupação com o a categoria de estados, sem procuram entender, geograficamen-
tema região sempre esteve presen- modificação quanto aos limites te, o espaço brasileiro.
R b1as Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995 87

Tabela 1 • Divisão do Brasil em Mesorregiões e Microrregiões

Divisão Regional Mesorregião Microrregião

Numero Variação Numero Variação


Unidades da
Federação
Homogêneas I Geográficas Numero I % Homogêneas
1 Geográficas Numero I %

Brasil 92 137 45 49 370 558 188 51

Região Norte

Rondônia 2 2 4 8 4 100
Acre 2 100 2 5 3 150
Amazonas 2 4 2 100 7 13 6 85
Roraima 2 100 4 3 300
Pará 3 6 3 100 15 22 7 47
Amapá 2 100 2 4 2 100
Tocantins 2 100 5 8 3 60

Região Nordeste

Maranhão 4 5 25 16 21 5 31
Piauí 3 4 33 11 15 4 36
Ceará 4 7 3 75 23 33 10 44
Rio Grande do Norte 3 4 33 10 19 9 90
Paraíba 3 4 33 12 13 11 92
Pernambuco 4 5 25 12 19 7 58
Alagoas 3 3 9 13 4 44
Se1gipe 2 3 50 8 13 5 44
Bahia 5 7 2 40 26 32 6 23

Região Sudeste

Minas Gerais 8 12 4 50 46 66 20 44
Espírito Santo 2 4 2 100 8 13 5 63
Rio de Janeiro 5 6 20 14 18 4 29
São Paulo 9 15 6 67 43 63 20 47

Região Sul

Paraná 4 10 6 150 24 39 15 63
Santa Catarina 4 6 2 50 16 20 4 25
Rio Grande do Sul 6 7 17 24 36 12 50

Região Centro-Oeste

Mato Grosso do Sul 4 4 9 11 2 22


Mato Grosso 4 5 25 11 21 10 90
Goiás 4 5 25 16 18 2 13
Distrito Federal

Fontes Censo Demográfico 1980 Dados gerais, migração, instrução, fecundidade, mortalidade Rio de Janeiro IBGE, v 1, t 4, n 1, 1983, Divisão do Brasil em
mesorregiões e microrregiões geográficas Rio de Janeiro IBGE, 1990 V 1 Brasil
88 R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995

Mapa7

DIVISAO REGIONAL DO BRASIL


EM MACRORREGIÕES E MICRORREGIÕES GEOGRÁFICAS
1989

U!«.l>lll
~: :~ .~ ~.S:):{t ~{t%~
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Fonte: IBGE, Diretoria de Geociências, Departamento de Cartografia


R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995 89

Bibliografia
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BRASIL. Decreto-lei n 67 647, de 24 de novembro de 1970. Estabelece nova divisão regional do país para fins estatísticos. Diário
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__ Resolução n 595, de 17 de junho de 1966 Encarrega a Secretaria Geral de estabelecer as normas para uma nova divisão
regional do Brasil BoletimdeServiço[do]/BGE, ano 14,n 732,p 5, 15jul 1966

CENSO DEMOGRÁFICO 1980 Brasil Dados gerais, migração, instrução, fecundidade, mortalidade Rio de Janeiro IBGE, v
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Resumo
No caso brasileiro, as primeiras tentativas de criação de modelos de recortes regionais datam do início do Século XX Desde
esse período, realizaram-se muitos estudos de cunho regional, tendo sido elaboradas várias propostas de identificação de regiões,
em diferentes escalas espaciais Considerando-se que o conceito de região não é imutável e que o território brasileiro vem passando
por processos muito intensos de transformação, que precisam ser identificados em suas particularidades, parece oportuna uma
revisão dos conceitos e do modelo de divisão até agora propostos para o País Portanto, é objetivo desse trabalho analisar os
diferentes recortes regionais elaborados para o espaço brasileiro, em diferentes épocas, procurando situá-los em relação à evolução
do pensamento geográfico no País, bem como em relação às transformações da sociedade em sua dimensão espaço-temporal

Abstract
In Brazil, first efforts to c reate regional areas ocurred in the beginning of the 20th century Since then, severa! studies
with d(fferent methodologies andspace seales have been proposed By taking into account the fact that the concept of"region"
is not fixed and that Brazilian territory has been through a process of intense transformation, it is important to considera
revision of the concepts and division models used up to now. This work aims to analyze dif.ferent regional are as proposed
to the Brazilian terrítmy in dijferent historical phases and in relation with the evolution of geographical thought prominent
in the country, as well as the transformation of Brazilian society in space-time dimension
R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995 91

Anexo -A Divisão Regional do Brasil - Quadro-Resumo

(continua)

Referencial Conceitos
Anos Escala/Tipo Composição Metodologia Observações Gerais
Teórico Principais

-Baseada em
1 Brasil setentrional ou amazônico elementos do
(AC,AMePA) quadro físico
2 Brasil norte-oriental (relevo, clima e
Macrorregional Escola - Elaborada para
(MA, Pl, CE, RN, PB, PE e AL) vegetação)
1913 Regiões Determinista Regiões naturais fins didáticos por
3 Brasil oriental (SE, BA e -Unidades espaciais
Naturais) Ambiental Delgado de Carvalho
ES, RJ, DF e MG) identificadas por
4 Brasil meridional (SP, PN, SC e RS) superposição de
5 Brasil central (GO e MT) elementos através
da divisão

- Divisão elaborada
pelo Ministério da
1 Norte (AC, AM, PA, MA e Pl)
Agricultura e adotada
2 Nordeste (CE, RN, PB, PE e AL)
pelo Conselho
1938 Macrorregional 3 Este (SE, BA e ES)
Nacional de Estatística
4 Sul (RJ, DF, SP, PN e RS)
para a elaboração do
5 Centro (MG, GO e MG)
Anuário Estatístico
Brasileiro de 1938

1 Norte (AMe PA e Territórios do - Elaborada pela Divisão


- Baseada em elementos
AC, AP, Rio Branco e Guaporé) de Geografia do IBGE,
do quadro físico
1942 2 Nordeste - ocidental (MA e PE) - Região natural sob a direção de Fábio
- Utilização da posição
Com Macrorregional oriental (CE, RN, PB, PE e ALe Escola -Fator dominante de Macedo Soares,
geográfica para nomear
revisão (Grandes Territ de Fernando de Noronha) Determinista - Nota caracteris- com fins práticos
as regiões
em 1943 Regiões) 3 Leste -setentrional (SE e BA) Ambiental tica da região sobretudo estatísticos
-Abordagem empirista
e 1946 meridional (MG, ES, RS e DF) - Grandes regiões - Divisão utilizada na
utilizando processo
4 Sul (SP, PN, SC e RS) divulgação dos Censos
de divisão
5 Centro-Oeste (MT e GO) Demográficos 1950 e 1960

Macrorregional
- Unidades espaciais iden- -As grandes regiões foram
(Grandes
- Espaços fun- tificadas por processo definidas pelo IBGE para
Regiões) 1 Norte (AC, AMe PA e Territórios de
cionais indutivo de classificação - fins didáticos, enquanto
RO, RReAP)
- Espaços polari- agrupamento as microrregiões homo-
2 Nordeste (MA, Pl, CE, RN, PB, PE, -Teoria dos lugares
1969 zados -Indicadores utilizados: gêneas foram conce-
AL, SE, BA e Territ de FN) centrais
Oficia li- -Regiões homo- Domínios ecológicos bídas para servirem de
3 Sudeste (MG, ES, RJ, GB e SP) -Teoria dos pólos de
zada gêneas, segun- Distribuição espacial da base para tabulação de
4 Sul (PR, SC e RS) desenvolvimento
em 1970 do formas de população dados e estratos de
5 Centro-Oeste (MT e GO)
organização da Atividades econômicas: amostragem do sistema
produção Transporte/acessibilidade, estatístico nacional
Mícrorregional 361 unidades
atividades não -divisão utilizada nos
(Microrregiões
polarizadoras Censos de 1970 e 1980
Homogêneas)
92 R bras Geogr, Rio de Janeiro, v 57, n 4, p 1-163, out/dez 1995

Anexo ·A Divisão Regional do Brasil· Quadro-Resumo

(conclusão)

Referencial Conceitos
Anos Escala/Típo Composição Metodologia Observações Gerais
Teórico Principais

- Contagem de relaciona-
mentes ou vínculos entre - Divisão elaborada
centros urbanos, atividade pelo IBGE para fins
- 718 Centros urbanos
de setores de atividade administrativos
Regiões 1OCentros metropolitanos - Polarização
-Teoria dos lugares -Indicadores utilizados: -A divisão viria a ser
1972 Funcionais 66 Centros regionais -Hierarquia de
centrais Fluxos agrícolas revista e publicada
Urbanas 172 Centros sub-regionais centros urbanos
Fluxos de bens e serviços em 1987, sob o título
470 Centros locais
Rede viária de regiões de influência
Locais de distribuição das cidades
de bens e serviços

1 Regiões periféricas dinâmicas


Core regions (SP e RJ)
Centro secundário (BH)
Centro em elaboração
(P Alegre) circundados -Análise de estrutura
por regiões dinâmicas espacial a partir das
- Divisão regional de
2 Regiões periféricas em lento -Teoria geral dos - Core regions relações de autori-
Macrorregional caráter acadêmico
crescimento, Região de influência sistemas -Periferias dade-<Jependência
1972 (Core regions e para fins didáticos,
do Rio de Janeiro e área pastoril -Teoria -Difusão de exercidas a partir
Periferias) realizada por Bertha K
que contornaria a periferia dinâmica centro-periferia inovações das grandes cidades
Becker, da UFRJ
3 Regiões periféricas deprimidas - - Preocupação com
fachada litorânea, leste e processos
nordeste do BR
4 Regiões de fronteira
de recursos - áreas de avanço de
frentes pioneiras ativas (amazônia)

- Unidades espaciais
definidas a partir de
agregação de
microrregiões - Divisão regional
- Indicadores elaborada pelo IBGE,
-Regiões utilizados: com o objetivo de dar
Mesorregional homogêneas Setores básicos das maior flexibilidade na
1976 (Mesorregiões - 87 unidades espaciais -Teoria geral dos
- Homogeneidade atividades econômicas escolha de unidades
sistemas
Homogêneas) intragrupos - Desenvolvimento observacionais
urbano e rural - - Divisão utilizada nas
utilização de tabulações do Censo
análise fatorial, de Demográfico 1980
I agrupamento e
multidiscriminatória
- Matriz lugar/atributo

Mesorregional - Unidades espaciais


(Mesorregiões - 137 unidades iden@cadas por
-Totalidade social - Divisão regional
Geográficas) processo dedutivo de
- Modo de produção elaborada pelo
divisão a partir das UFs
1989, - Processo social Departamento de
- Materialismo - Indicadores utilizados:
Publicada -Regiões Geografia do IBGE
histórico Processo social
em 1990 geográficas - Divisão utilizada
Quadro natural
- Metropolização/ nas tabulações do Censo
Microrregional Rede de comunicação
industrialização Demográfico 1991
(Microrregiões -558 unidades Rede de lugares
Geográficas) Estrutura da produção

Recebido para publicação em 18 de setembro de 1997

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