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1.

Sobre a concepção e os procedimentos de leitura

Pode-se dizer que um dos primeiros entraves para a compreensão da significância

de um texto pelo leitor é a ausência de referencialidade no que tange à sua leitura, ou

seja, o texto se apresenta para ele como um objeto estranho. Daí a importância de valorizar

o repertório de referências que os alunos possuem, visto que os níveis de leitura variam

conforme a experiência do leitor. Não podemos nos esquecer de que a leitura deve ser

um processo associativo e que, assim sendo, o professor, como mediador desse

processo, deve conduzir os alunos a relacionarem o que estão lendo com o que já leram

ou viveram antes, e mesmo com o que estão lendo ou vivendo. Para tanto, devem ser

oferecidos às crianças desde o início da sua escolaridade textos que tenham sentido

para elas e que revelem a importância e a funcionalidade da leitura e da escrita na

sociedade em que vivem.

Outro aspecto importante a ser considerado durante as aulas de leitura “é o exercício

permanente da oralidade, acompanhado do olhar amigo e confiante do professor

estimulando o aluno a expressar-se, sem medo da reprovação alheia, (...) num clima de

confiança e companheirismo1

.” Nesse propósito, a criança é estimulada para o diálogo

com o professor e os demais colegas, ao mesmo tempo que tem a oportunidade de

testar e reformular as suas hipóteses, se necessário. Além disso, o que de mais

significativo acontece nesse movimento da leitura é a ampliação do seu universo de

referência, ou seja, leitor e texto já não são os mesmos após as relações estabelecidas

no ato da leitura.

Nesse sentido, Ângela Kleiman2 defende a importância de o professor criar uma

expectativa prévia sobre o texto a ser lido. Segundo ela, isso pode ser feito na medida

em que o professor mostra à criança que quanto mais ela previr o conteúdo do texto,
maior será a sua compreensão.

De acordo com a autora, é relevante a utilização de múltiplas fontes de conhecimento:

lingüísticas, discursivas, enciclopédicas.

Pode-se, ainda, iniciar o trabalho de interpretação a partir dos indicadores textuais,

isto é, refletindo com as crianças sobre o título do texto, ilustrações (se houver), a fonte

de onde foi retirado o texto, frases-guias, entre outros elementos que favoreçam a

antecipação da leitura e o levantamento de hipóteses sobre o conteúdo textual.

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Secretaria de Estado da Educação do Paraná / Departamento de Ensino Fundamental

O aprofundamento da leitura e, conseqüentemente, da visão de mundo do leitor

depende da habilidade do professor em tornar evidentes certos aspectos do conjunto

dos textos que fogem à percepção dos alunos. Os procedimentos de leitura que os alunos

utilizam são, muitas vezes, resultado das práticas de leitura coletiva na sala de aula.

Assim sendo, é fundamental que o professor, ao planejar a sua aula, tenha em vista a

escolha do texto, considerando o contexto (níveis de aprendizagem da turma),

principalmente, em se tratando de alunos com defasagem em leitura, e que leve ainda

em conta experiências anteriores com a leitura e o horizonte de expectativas dos alunos.

É necessário, também, levar em consideração as seguintes questões:

Qual a finalidade para leitura?

Como ler determinado texto?

Qual é a profundidade?

O que podemos entender a partir das pistas que o texto nos dá?

O que o texto diz para mim? E como diz?

Como fazer a reelaboração do conteúdo do texto?

Essas estratégias de preparação favorecem a interação no espaço da sala de


aula: tanto do aluno com o próprio texto, quanto a interação que se dá a partir do diálogo

estabelecido com a turma no ato da leitura. Dessa forma, os alunos vivenciam essa prática

de forma dinâmica e ativa à medida que, coletivamente, lêem, interpretam e, no decorrer

do processo, tornam-se capazes de atribuir e construir significados. Como afirma Magda

Soares, “ler é a interação verbal entre indivíduos, e indivíduos socialmente determinados:

o leitor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com o mundo e os

outros; entre os dois, enunciação e diálogo.”3

A prática de análise coletiva, nesse sentido, é importante pelas diferentes leituras

que cada aluno faz, visto que as experiências e as condições emocionais dos leitores

são distintas. Desse modo, além dos diferentes questionamentos e das diversas

respostas sobre o texto, mais importante que dar a resposta certa é a reflexão que se

promove em torno da leitura de cada um.

O ato de ler, portanto, extrapola o texto escrito. Assim sendo, é necessário considerar

elementos que orientem para uma noção de leitura que transcenda o conteúdo presente

no texto verbal. Com isso, efetiva-se o papel dinâmico que a leitura deve exercer na vida

dos alunos. Ou seja, o de permitir a eles o conhecimento das diferentes linguagens, bem

como o das diversas fontes de conhecimento que constituem o universo da leitura. Com

esse propósito, o professor efetivamente estará investindo na formação de leitores ativos

e críticos, capazes de interagir com os diferentes textos presentes no mundo

contemporâne

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