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Rubem C. P. Paz
Psicó logo Clínico Junguiano
Watts 051995268858
2.CONCLUSÃO
Quando cultivamos a horta podemos perceber que estamos também
cultivando a nossa Alma, movimento que acontece em pleno silêncio. O cultivo da
alma é o cultivo das imagens é ficar na alma e isto também acontece de maneira
silenciosa, onde fazem parte deste ato, deuses, analista e o paciente, em um
mundo misterioso. Hillman nos fala desse sentido de Cultivo de Alma, quando
diz: "Quando os Deuses vêm ao palco, tudo silencia e as pá lpebras cerram-se.
Mergulhados em olvido por essa experiência, emergimos sem saber exatamente
o que aconteceu; sabemos apenas que fomos transformados". (Hillman,1993).
Atualmente percebemos a importâ ncia dos quintais, cada vez mais
desaparecidos e, com isso, também as nossas raízes.
Finalizo este trabalho com o texto de Rubem Alves que nos parece
expressar uma parte desse sentimento.
“E a terra. Nã o, nã o é sujeira. Terra preta com esterco: ali a vida está
acontecendo, invisivelmente. Meu destino. Um dia serei terra, de mim a vida
poderá nascer de novo. As crianças, sem que ninguém as ensine, sabem dessas
coisas. Somos nó s que dizemos que terra é sujeira, porque preferimos os
carpetes assépticos e mortos e os pisos vitrificados onde mã o nenhuma pode
penetrar. Brincar com a terra, conquistar sua dureza, misturar o esterco
esfarelado, senti-la leve e solta, esguichar a á gua. Ali, diante dos nossos olhos,
uma metamorfose vai acontecendo, e a terra, de coisa estéril, dura, virgem, é
agora mulher em cio, pedindo as sementes. Vamos abrindo os sulcos, canteiros, e
neles colocamos a vida que o nosso desejo escolheu. Coisa gostosa. Estamos
muito pró ximos de nossas origens. Nossos pensamentos ficam diferentes.
Deixam de perambular pelos desertos de ansiedade e ficam cada vez mais
pró ximos, colados à mã o, colados à terra. Os pensamentos fantasmas voltam ao
aqui e ao agora do corpo, passam a ser coisas amigas e alegres.
Segundo filó sofos de outros tempos, tudo o que existe se reduz a quatro
elementos: a terra, a á gua, o vento e o fogo. E ali estamos nó s, mã os na terra,
terra molhada, e a brisa sopra. Horta, pedaço de nó s mesmos, mã e. Se
compreendermos que ela é nã o só a nossa origem como também nosso destino, e
se a amarmos, entã o estaremos amando a nó s mesmos, como seremos. Nã o, nã o
tenho uma horta para economizar na feira. Tenho uma horta porque preciso
dela, como preciso de alguém a quem amo.”
3.REFERÊNCIAS
EIGENHEER, E. Lixo, Vanitas e morte: consideraçõ es de um observador de
resíduos. Niteró i: EDUFF, 2003.
EDINGER, E. F. Anatomia da Psique. Sã o Paulo: Cultrix, 2006.
HILLMAN, J. A experiência da morte. In: _____. Suicídio e alma. Cap. IV. Petró polis,
RJ: Vozes, 2009.
JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. O.C. Vol. IX/1. Petró polis, RJ:
Vozes, 2000.
RODRIGUES, J. C. Higiene e ilusã o. Rio de Janeiro: Nau, 1995.
ALVES, RUBEM. A Mú sica da Natureza. Sã o Paulo: Papirus, 2004.