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PENAL - PARTE 1 - REVISÃO DE TEORIA DO CRIME

1) Os crimes podem ser classificados em:

1.1) Culposos e dolosos (intenção de matar)

Crimes culposos - não há intenção do agente em matar, ele não quer o resultado.
“ De acordo com o art. 18, II, do CP, diz-se culposo o crime “quando o agente deu causa ao
resultado por imprudência, negligência ou imperícia”.

Imprudência é quando o agente não observa um dever de cuidado objetivo e FAZ uma
conduta errada. Ex: excesso de velocidade no veículo automotor/ Ultrapassar em local
proibido.

Negligência é quando o agente NÃO FAZ UM CUIDADO ÓBVIO, que deveria ser feito.
Ex: mãe que esquece o bebê no carro

Imperícia é quando o agente não possui habilidade técnica para tal e erra. Ex: caso do
piloto do Salo, acreditou que tinha uma habilidade, não tinha e aconteceu o acidente,
matando diversas pessoas.

● Culpa inconsciente - O agente não quer o resultado e não o prevê. Ex: Mãe
esquece o bebê no carro e ele morre (nesse caso ela iria responder por
homicídio doloso)

● Culpa consciente - O agente até prevê o resultado, mas acredita


genuinamente que não irá acontecer. Ex:
Ex: entendimento inicial do delegado no caso do menino Miguel - a Sari até
poderia pensar que um menino no elevador poderia acontecer alguma coisa,
mas não imaginou que fosse ocorrer.

OBS: Crimes de trânsito - por conta da divergência doutrinária e


jurisprudencial, é legislação específica NÃO entra o Código Penal.

Crimes dolosos : são aqueles em que há vontade do agente, ele quer / aceita o
resultado.

Dolo direto - Agente quer o resultado e o aceita.

Dolo indireto - Agente não quer o resultado, mas o aceita. Aqui entra o dolo eventual
(Lei do foda-se)
MACETE DA BIA: Todo crime é doloso,a culpa é só na hipótese prevista
em LEI. DOLO É REGRA, A CULPA É A EXCEÇÃO. - Se a questão não diz
nada, dolo.

1.3) Crimes comissivos e omissivos


É uma classificação relacionada ao fazer e não fazer.

Crimes comissivos: São aqueles em que o agente FAZ uma ação que gera o resultado.
Ex: crime de homicídio, crime de instigação ao suícidio, crime de contaminação de
doença venérea.

Crimes omissivos: São aqueles em que o agente NÃO faz uma ação e esse não fazer
gera um crime. Ex: babá que deveria olhar a criança, não olha e ela se joga do último
andar e morre.

Crimes omissivos próprios: Aqui o agente é um qualquer que não faz alguma coisa e
responde apenas por omissão. A norma é mandamental, ou seja, traz um
comportamento, o agente deixa ele de lado e responde por ter deixado ele de lado. -
Ex: omissão de socorro.

Greco: “ Assim, nos crimes omissivos próprios, a norma contida nos tipos penais que
preveem essa modalidade de omissão será sempre mandamental. O tipo penal narrará
um comportamento que, se for deixado de lado, importará na responsabilidade penal
daquele que estava obrigado, pelo tipo penal, a fazer alguma coisa”

Crimes omissivos impróprios: Aqui o agente NÃO é um qualquer, ele é um agente


garantidor que tem a obrigação de fazer alguma coisa, não faz e responde como se
tivesse feito. A norma é proibitiva, prevê um comportamento comissivo em que o
agente AGE para fazer X, mas ele não age - omitindo e cometendo um crime por NÃO
agir.

Greco: “ Neles, a norma constante do tipo penal é de natureza proibitiva, ou seja,


contém uma proibição, prevê um comportamento comissivo. Entretanto, em
virtude de o agente gozar do status de garantidor, aplica-se a norma de extensão
prevista no § 2º do art. 13 do Código Penal, respondendo o agente pela sua inação,
como se tivesse feito alguma coisa. Por essa razão, o crime é também reconhecido
como comissivo por omissão.”

QUESTÃO: Um pai deixa o filho com uma menina na piscina e vai ao banheiro, durante
esse tempo a criança se afoga e a menina, flertando com o salva vidas, nada faz. Qual é a
conduta de cada um ??

PAI - Não responde por nada

Menina - responde por crime omissivo próprio (OAB entende que não teria função
garantidora)
Salva- vidas - crime omissivo impróprio (obrigação de salvar)

OBS: Conduta mista

1.5 ) Crimes hediondos e qualificados pelo resultado

São crimes e circunstâncias que, por conta da sua gravidade e grau de crueldade,
foram punidas pelo legislador com maiores penas.

1.5.1) Crimes qualificados pelo resultado (possuem majorantes previstas em


lei que qualificam o resultado - aumenta a pena)

1.5.2) Crimes hediondos: São crimes de caráter mais grave previstos em lei (Lei
dos Crimes Hediondos)

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido
por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX);

I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art.
129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V); (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)

b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de
arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º); (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou
morte (art. 158, § 3º); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);
(Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de 1994)

V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); (Redação dada pela Lei nº
12.015, de 2009)

VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de
1994)
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos
ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho
de 1998). (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998)

VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou


adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). (Incluído pela Lei nº 12.978, de 2014)

IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum
(art. 155, § 4º-A). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados: (Redação dada


pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº
10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da


Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou


equiparado.

1.6) Crime comum, crimes próprios ou de mão - própria (aborto).

Aqui a classificação é de acordo com o sujeito, alguns crimes precisam de sujeito


específico para acontecer.

- Crime comum : é aquele que pode ser praticado por qualquer sujeito, não
precisa de alguém específico. A vítima também pode ser qualquer um. Ex:
homicídio, instigação ao suicídio, exposição ao perigo, etc.

- Crime próprio: é aquele em que o tipo pede uma condição especial ou


qualidade do sujeito para realizar o crime.Ex: crime de infanticídio (precisa da
participação da mãe), crime de aborto

- Crime de mão-própria: é aquele em que só pode ser realizado por UMA


pessoa específica, é algo personalíssimo, que não pode ter participe. Ex:
falso testemunho (só a pessoa que prestou pode realizar não dá para
terceirizar). OBS: infanticídio (mãe pode colocar veneno na mamadeira e
pedir para a enfermeira dar para o bebê, por isso é próprio)
1.7) Crimes unisubsistentes ou plurisubsistentes

Unissubsistentes - basta uma conduta para ocorrer. Não há fracionamento de atos.


Ex: injúria

Plurissubsistentes - mais de uma conduta para ocorrer. Há fases: planejamento,


execução, etc
Ex: instigação ao suicídio, homicídio,etc.

1.8) Crimes tentados e consumados

Aqui a classificação é de acordo com o resultado, se o agente conseguiu realizar o


crime ou não.

Crimes consumados - reúne TODOS os elementos da sua definição legal (art. 14,
inciso I). HÁ O RESULTADO.

Crimes tentados - O agente inicia a execução, mas por circunstâncias alheias a


sua vontade, ela não se concretiza. (art. 14 do Código Penal, inciso II)

OBS: Alguns crimes NÃO ADMITEM TENTATIVA.

● Crimes culposos (se não há intenção, não pode ser tentado)


● Crimes peterdolosos (são aqueles em que há dolo na conduta e culpa no
resultado. Se há culpa, não há vontade e não há tentativa)
● Crimes unisubsistentes (são aqueles que ocorrem em um único momento
ou com uma só conduta) Ex: crimes contra a honra, indução ao suícidio,
etc.
● Crimes omissivos
● Crimes habituais
● Contravenções penais

OBS: Aborto (há tentativa de aborto ??? - Olhar doutrina !!)

OBS: Desistência voluntária - ele inicia o crime e desiste - NÃO RESPONDE !


- Se houver arrependimento eficaz (faz, se arrepende e faz de tudo para evitar o
resultado) a pena é atenuada.

OBS 3 : Casos de crime impossível


Crimes impossíveis ocorrem quando o MEIO do agente não é capaz de
provocar o resultado - logo, ele não responde por tentativa nem por nada.
Ex: Para matar Polidoro, Bia coloca o que acredita ser veneno. Entretanto o
“veneno” era uma vitamina, que deixou Polidoro ainda mais saudável - Bia NÃO
responde por homicídio, pois é um crime impossível.

Ex: Rose, querendo abortar, ingere uma vitamina que acredita ser capaz de matar o
feto. Mas, como é uma vitamina, ele nasceu lindo, gordo e saudável. Rose responde
por tentativa de aborto ??

R: NÃO, pois se trata de crime impossível - a vitamina não é capaz de abortar.

1.8.1) Casos de erro de tipo


Erro de tipo - o agente pensa uma coisa e comete outra sem querer.

- Pode ser:
- erro de tipo invencível : não pode ser evitado pelo agente e naquela
situação, qualquer pessoa faria o mesmo. Ex: no escuro, o caçador vê
um vulto, acredita ser um animal e atira - mas era uma pessoa e ela
morreu. Nesse caso, ele NÃO responde por homicídio (entende-se
que não há cuidado objetivo, não dava para prever)

- Erro de tipo vencível: É aquele em que, caso o indivíduo observasse


um cuidado objetivo, ele poderia ter evitado o crime. Ex: de manhã, na
claridade, um caçador vê algo se movendo, acredita ser um animal e
atira - mas era uma pessoa e ela morre.
Circunstância - Se ele observasse com atenção, veria que é uma
pessoa e não atiraria. Logo, ele responde por homicídio culposo.

1.9) Crimes monossubjetivos e crimes plurissubjetivos

Crimes monossubjetivos - em regra, só vai ser feito por uma pessoa. Ex:
instigação ao suícidio. (MAS E O JOGO DA BALEIA ?? Nessa hipótese
caberia concurso de pessoas e coautoria)
- Mas a lei pode admitir partícipe e coautor (concurso de pessoas).
- Ex: furto (art.155, tem uma qualificadora para quando ocorre
concurso de pessoas)

- Plurissubjetivos - precisa necessariamente de mais de uma pessoa


para ser executado.

2) Crimes conexos
São aqueles que estão interligados, possuem uma relação na tipicidade. Ex:
Marcia bate em Tássio, após isso ele pega uma ambulância, a mesma capota
e ele morre. Marcia responderá por homicídio ou por lesão ??

- Os crimes conexos dão a resposta. Se a causa for absolutamente


independente, ela responde de acordo com a sua intenção (LESÃO
CORPORAL), se a causa for relativamente independente, de acordo com o
resultado (LESÃO CORPORAL COM RESULTADO EM MORTE - DOLO NA
LESÃO E CULPA NO HOMICÍDIO)

- Recapitulando….

- Causas absolutamente independentes: São aquelas em que uma não


depende da outra (se eu tirar a outra, ainda existiria crime) há 3 espécies
desse tipo de causa:

● Causas ab.indep. pré-existentes: indivíduo tem câncer (isso vai o matar de


qualquer jeito) + Livia querendo matar dá um susto na pessoa, ela tem um
ataque cardíaco e morre

Sem susto ele já morreria, por conta disso. Lívia responde por conduta,
homicídio doloso

● Causas ab.indep. concomitantes: eu atiro em Julia querendo matá-la + Bia


tbm atira em Julia querendo matá-la e consegue. Eu respondo por tentativa
de homicídio e Bia por homicídio doloso. (Ex tbm serve para lesão
corporal)

● Causas absolutamente independentes supervenientes: eu enveneno Bia + Bia


saindo do escritório é assaltada e leva um tiro = Eu respondo por tentativa
de homicídio + Assaltante por homicídio.

- Causas relativamente independentes: São aquelas em que uma depende


da outra (se eu tirar a outra,não haveria crime) há 3 espécies desse tipo de
causa:

● Causas rel. pré-existentes: indivíduo tem hemofilia (isso vai o matar de


qualquer jeito) + facada = RESULTADO - lesão corporal com morte (se não
houvesse a facada, ele não morreria)

● Causas rel.concomitantes: Luiza coloca 0,5 veneno no copo de Julia + Bia


coloca 0,5 veneno no copo de Julia (sem saber que Luiza colocou) =
RESULTADO - lesão corporal com resultado morte.
Justificativa: Só a 0,5 dose de Bia não seria suficiente para matar,
matou pq Luiza colocou tbm. Então, as duas respondem.

Ex: Mário dá um soco em Mévio. Mévio cai na hora, bate a cabeça em um


poste e morre. Mário responde pelo oq ??

R: Lesão corporal com resultado morte. É uma hipótese de causas


concomitantes. Mévio só morreu por conta do soco, sem o soco ele não teria
caído na hora, batido a cabeça e morrido.

● Causas rel. supervenientes: Monica enche Cebolinha de porrada +


ambulância que socorreu Cebolinha cai e capota = Mônica responde apenas
por lesão corporal
Justificativa: Tirando o soco, só a ambulância capotar já seria suficiente
para matar Cebolinha, ele não morreu pelo soco. Morreu pq uma coisa
capaz disso aconteceu.

3) Concurso de crimes
Autor : é quem faz o crime, executa planeja.

Co-autor: é quem faz o crime junto com o autor, executa um micropedaço. AJUDA NA
EXECUÇÃO.

EX: Infanticídio - mãe, influenciada pela estado puerperal, mata o filho. Enfermeiro
ajuda na execução, cortando a criança - mãe é autora, enfermeiro coautor.

Ex: Homicídio por motivo torpe - João pede para Bia matar Ângela e como
recompensa ganhar o apartamento, Bia vai lá e dá o tiro. João responde por autor de
homicídio qualificado por motivo torpe, e Bia entra como co-autora.

Partícipe: ajuda no crime, mas não faz o ato típico em SI.

EX: Infanticídio - mãe, influenciada pela estado puerperal, mata o filho. Enfermeiro
ajuda na execução, dando os elementos cortantes e ensinando a cortar- mãe é autora,
enfermeiro partícipe.

Ex: No exemplo anterior, Luiza dá a arma para Bia dar o tiro e as duas dividirem o
apartamento. - João é o autor do crime, Bia coautora, e Luiza partícipe.
PARTE II - CRIMES CONTRA A VIDA

1)Homicídio

1.1) Conceito: “matar alguém” - art. 121 do Código Penal

Ex: A atira em B

1.2) Elementos do homicídio.

- Sujeito passivo
- Para o homicídio ocorrer precisa de um sujeito passivo, uma vítima com
vida.

Obs 1 : vida extrauterina - pode ser durante ou logo após o parto. Ou seja, se
durante o parto o médico mata a criança ele responde por homicídio. Se for
antes do parto, responde por aborto.

Obs 2: Casos de erro de tipo


Erro de tipo - o agente pensa uma coisa e comete outra sem querer.

- Pode ser:
- erro de tipo invencível : não pode ser evitado pelo agente e naquela
situação, qualquer pessoa faria o mesmo. Ex: no escuro, o caçador vê
um vulto, acredita ser um animal e atira - mas era uma pessoa e ela
morreu. Nesse caso, ele NÃO responde por homicídio (entende-se
que não há cuidado objetivo, não dava para prever)

- Erro de tipo vencível: É aquele em que, caso o indivíduo observasse


um cuidado objetivo, ele poderia ter evitado o crime. Ex: de manhã, na
claridade, um caçador vê algo se movendo, acredita ser um animal e
atira - mas era uma pessoa e ela morre.
Circunstância - Se ele observasse com atenção, veria que é uma
pessoa e não atiraria. Logo, ele responde por homicídio culposo.

- Sujeito ativo
- Para o homicídio ocorrer precisa de um ou mais sujeitos cometendo o
crime. (Além disso, também pode ser um crime unissubsistente ou
plurisubsistente - Concurso de pessoas)

Ex: Para matar Julia, Bia tranca a baia e a amarra na cadeira e Luiza
dá o tiro. - Ambas respondem por homicídio, Luiza como autora e Bia
como coautora (ajudou Luiza a realizar o crime, fazendo uma parte um
micropedaço)

Ex: Dirigindo o carro, Luiza ouve Bia dizer que quer matar Polidoro
quando chegar ao escritório. Quando chega ao escritório, Bia o mata -
Bia responde por homicídio e Luiza entra como partícipe no crime de
Bia.

- OBS: As majorantes podem incidir para as duas ??

- Consumação

Ocorre quando há a produção de resultado morte (Lei dos Transplantes


definiu que morte é quando há morte encefálica)

OBS: O homicídio pode ser tentado - Ex: Luiza dá 3 tiros em Julia e após
acabar as balas, desiste. - responde por tentativa de homicídio.

OBS: Se o crime for impossível , usar o meio inadequado e NÃO tiver


resultado, ele não responde por nada. Ex: Para matar Polidoro, Bia coloca o
que acredita ser veneno. Entretanto o “veneno” era uma vitamina, que deixou
Polidoro ainda mais saudável - Bia NÃO responde por homicídio, pois é um
crime impossível.

- Tipo objetivo
-
- Tipo subjetivo
Podem ocorrer com dolo ou culpa.
OBS: Não existe homicídio culposo preterdoloso, pq se agiu com
culpa é pq não teve vontade.

- Homicídio culposo:

1.3) Tipos de homicídio.


1.3.1) Simples: é aquele que está no artigo 121 do Código Penal
(matar alguém)

1.3.2) Privilegiado: Quando o homicídio ocorre sob violenta emoção ou injusta


provocação, entra a minorante subjetiva (que diz respeito ao sujeito) de homicídio
privilegiado e ele tem a pena reduzida (parágrafo 1 do art.121)

Art. 121. Matar alguem:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Caso de diminuição de pena

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral,
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

● O tipo do homicídio privilegiado

a) Motivo de relevante valor social ou moral :

Motivo de relevante valor social engloba motivos de interesse social, coletivo -


mata por valores nobres, importantes para a sociedade e de considerável
peso. Ex: mata por amor à pátria, por amor paterno.

Motivo de relevante valor moral - é um pouco mais subjetivo, se encerra no


indivíduo - que munido de valores éticos dominantes, sob a moral do que a
sociedade considera como errado, comete um crime - até mesmo por
piedade, justiça. Ex: eutanásia, suícidio assistido (dou remédio para o
outro morrer).

- OBS: Esses motivos de relevante valor social e moral estão elencados


também no art.65, inciso III do CP - na aplicação da pena ou entra como
privilegiado ou como atenuantes, sob pena de bis in idem.

b) Domínio de violenta emoção logo após injusta provocação da


vítima
Violenta emoção: Aqui é importante diferenciar a violenta emoção da paixão.
Na violenta emoção, o indivíduo é dominado por uma emoção que é tão
forte, tão absurda, que ele perde seus sentidos, seu controle e comete
um crime. A paixão é mais duradoura e não entra aqui !

OBS 1: Se ele estiver apenas influenciado por forte emoção, ele responde
pelo 65 inciso III (IMP: Esse inciso não precisa ser logo após o ato
injusto)

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

(....)

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de


autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da
vítima;

OBS 2 : Se o estado emocional for sintoma de doença mental, isso afasta a


culpabilidade e o agente não responde por crime privilegiado.

Logo após injusta provocação da vítima: Além de estar sob domínio de forte
emoção, a vítima precisa incitar, provocar o ato injustamente. Esse ato, não
é qualquer ato, mas algo fora da lei, ilícito.

Bittencourt: “ além da violência emocional, é fundamental que a


provocação tenha partido da própria vítima e seja injusta, o que não
significa, necessariamente, antijurídica, mas quer dizer não justificada, não
permitida, não autorizada por lei, ou, em outros termos, ilícita. A injustiça da
provocação deve ser de tal ordem que justifique, de acordo com o consenso
geral, a repulsa do agente, a sua indignação.”

- Exemplos: atos que ferem a honra subjetiva e objetiva, bullying. - Caso


da legítima da defesa da honra: ia nessa lógica, mas NÃO é mais
aceito.
- OBS: Traição pode entrar em privilegiado ??
- A questão da traição é assunto de divergências doutrinárias. Alguns
autores, como o Japiassu, acreditam que poderia entrar no privilegiado
pois entra em valor moral, uma forte emoção que o domina a tal ponto
que ele mata alguém. Há quem defenda que não, que entraria em
motivo fútil, e há quem defenda que entraria não em homicídio
privilegiado, mas na atenuante do artigo 65 de relevante valor moral
(defendido pelo professor)
- Na traição vai precisar olhar o caso concreto.
IMP: Injusta provocação é diferente de injusta agressão - na injusta agressão,
entra a legítima defesa (mato pois o outro estava tentando me matar ou
agredir) - A mesma lógica vale para lesão corporal.

OBS 2 : O crime precisa ser cometido logo após a injusta provocação da


vítima, ou seja, NÃO pode existir um espaço de tempo muito grande entre o
momento do crime e a provocação. Apenas um espaço para reagir, ainda sob o
domínio de forte emoção.

Bittencourt: “ Contudo, sustentamos que a expressão “logo em seguida” deve ser


analisada com certa parcimônia e admitida quando a ação ocorrer em breve espaço
de tempo e perdurar o estado emocional dominador. Logo, deve-se reconhecer a
privilegiadora quando o agente reagir logo depois, sem demora, em breve espaço
temporal, ou seja, enquanto perdurar o “domínio da violenta emoção”, pois inúmeras
razões podem ter impedido a reação imediata, sem, contudo, abastar ou eliminar o
estado emocional dominador”

- Por conta disso, crimes premeditados ou por vingança não entram aqui.

● Características dos homicídios privilegiados

● Podem ser homicídios qualificados privilegiados ! O fato de


ocorrerem sob domínio de forte emoção (que é uma qualificadora
subjetiva) não impede do mesmo ocorrer com uma execução cruel
- uma qualificadora de natureza objetiva (que diz respeito ao meio).
Entretanto, NÃO pode concorrer com uma qualificadora de
natureza subjetiva (aqui entraria em conflito de agravante
subjetiva + atenuante subjetiva - oq NÃO pode ocorrer)

STF: “as privilegiadoras e as qualificadoras objetivas podem coexistir


pacificamente; mas o fundamento dessa interpretação residiria na
prevalência das privilegiadoras subjetivas sobre as qualificadoras
objetivas, seguindo, por analogia, a orientação contida no art. 67 do
Código Penal, que assegura a preponderância dos motivos
determinantes do crime.”

Doutrina: Concorrer as duas, fere até mesmo a motivação do próprio


crime. É impossível um crime ser motivado por razão fútil, e por
exemplo, ser motivado sob violenta emoção - são condutas
incompatíveis.
“Temos sustentado que as privilegiadoras são incompatíveis com as qualificadoras
subjetivas. Essas privilegiadoras não podem concorrer com as qualificadoras
subjetivas por absoluta incompatibilidade da intersubjetividade motivadora,
proveniente do choque de motivos nobres, relevantes, moral e socialmente, que
caracterizam aquelas (privilegiadoras), com a imoralidade ou antissocialidade
(futilidade ou torpeza) da motivação que, invariavelmente, caracterizam estas
(qualificadoras)”

● Por conta de ocorreram sob domínio de forte emoção, não podem ser
planejados ou por vingança.
● Também não podem admitir concurso de pessoas.
● Podem admitir dolo eventual: STJ -

1.3.3) Qualificado

- Aqui, o crime tem certas circunstâncias objetivas e subjetivas que


agravam o crime, majorando a pena.

- OBS: Diferença entre circunstâncias e elementares.


- Elementares - são dados que constituem uma conduta criminosa. Estão
no tipo: Ex: matar alguém
- Circunstâncias - são fatores que se agregam ao tipo, para aumentar a
pena. São as majorantes e minorantes.

OBS 2 : HOMICÍDIO QUALIFICADO É CRIME HEDIONDO ! No entanto, o


homicídio qualificado privilegiado NÃO entra em crime hediondo, pois
isso seria estender a punibilidade.

a) Subjetivas

- I - Mediante paga promessa de recompensa ou por motivo


torpe (art.121, parágrafo 2, inciso I)
- Ex: Matador de aluguel - Rainha má oferece dinheiro ao caçador
para que ele mate Branca de Neve. A rainha má responde como
autora (arquitetou e planejou o crime) e o caçador como coautor
por homicídio qualificado (ou também como autor ??).

- OBS: Na doutrina, há o debate de que se a recompensa


NÃO for em dinheiro (ex: favor sexual ou emprego. O crime
não entra no motivo torpe - isso seria uma extensão da
punibilidade)
- II - Por motivo fútil (art.121, parágrafo 2, inciso II)

Doutrina: motivo fútil é todo motivo desproporcional ao


crime cometido. Ex: Não gosto de bolsonaristas e mato por
conta da posição política. Ex: matar o chefe pq pediu
muitas tarefas.

- OBS: Questões dos ciúmes - NEM sempre ciúme vai


entrar em motivo fútil, é um sentimento que pode ser
avassalador e pertubador, entrando um fator
psicológico. - A aplicação deve ser analisada de
acordo com o caso concreto.

Japiassu: Sobre o ciúme – tido como motivador de inúmeros


homicídios –, releva salientar que ele não pode ser
considerado, de forma isolada, motivo fútil. Isso porque, em geral, o
crime praticado sob este selo decorre de um sentimento de
insegurança ou de possessão para com outra pessoa, obviamente
injusto e reprovável. No entanto, dependendo da hipótese fática, o
ciúme pode guardar certo relevo psicológico – afastando, assim,
a futilidade – ou restar estribado em um doentio sentimento de amor
e posse, antagônicos, pois, da torpeza. Na mesma esteira, os nossos
julgados assinalam: “O ciúme não configura a qualificadora do motivo
fútil no crime de homicídio, pois ainda que seja um motivo egoístico
na essência, trata-se de sentimento profundo e arrebatador, contrário
à banalidade. “O ciúme, embora injusto e moralmente reprovável, é
um sentimento forte e arrebatador, que pode gerar descontrole
emocional e impulsionar o agente ao crime, não consubstanciando
em motivo fútil.” (Japiassu)

- OBS 2: SE O CRIME OFENDER A HONRA - COMO NO


BULLYING PODE SER PRIVILEGIADO, e não como
qualificadora pois não é uma simples ofensa.

b) Objetivas

III - Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro


meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum.

- Aqui o legislador pune pela crueldade, que merece maior repulsa.

- Tortura
- Quando se fala de tortura e Direito Penal há duas hipóteses
- I - Tortura que resulta em morte - indivíduo responde pela lei da
tortura.
- Ideia de que é um crime preterdoloso, o objetivo da tortura era apenas
obter informações, e não matar. Há dolo na tortura e culpa na morte.
Por isso, responde Lei de tortura/ Lei 9455/07

II - Morte com tortura - aqui a pessoa responde por homicídio


qualificado.

Ex: Com ódio de César, Cleópatra resolve torturá-lo para depois


matá-lo. Amarra-o em uma cadeira, joga ratos, corta-o, depois mata-o.
Nesse exemplo, ela usou a tortura apenas para matá-lo - responde por
homicídio qualificado.

- Que possa resultar de perigo comum


- Aqui vai entrar qualquer meio que resulte em uma ameaça não só ao
homicida, mas também a outras pessoas no geral.
- Ex: Querendo matar Polidoro, Bia coloca uma bomba na baia - entra
em qualificado pq a bomba ameaça todos os estagiários do escritório,
põe em risco não só o Polidoro, mas todos.

IV- À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que


dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;

- Aqui o legislador pune o MODO de execução. O homicídio é tão ruim ou cruel


que é impossível da vítima prever a sua ocorrência ou se defender durante a
mesma.

- Traição
- Para matar, o indivíduo esconde as suas verdadeiras intenções, se faz de
amigo e depois é desleal, matando a pessoa.
- Ex: Henrique, querendo matar Luiza, se reaproxima e depois atira nela pelas
costas.
- OBS: Se tiver tempo da vítima fugir, NÃO entra aqui. Se ela pressentir a
intenção do agente também (se pressente, não há surpresa)

A traição pode ser por emboscada (conhece os horários a vida da vítima e se


aproveita disso) ou por dissimulação (se faz de amigo para depois dar a
facada final - Ex de cima)

- Emboscada (se esconde para depois matar a vítima)


- Ex: Com raiva de Bia por ter ido mal em Penal, Luiza se esconde no ponto de
táxi às 20h para matá-la quando sair do estágio. (Obs: nesse exemplo, Luiza
responderia com 2 majorantes: motivo fútil e emboscada)

- ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;


- Aqui pode ser qualquer meio com SURPRESA, que acabe se
equivalendo

V- para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de


outro crime.

Aqui o autor pratica uma ação para assegurar a produção de um crime. Ex: Lupan,
querendo matar Hubert Pellegrini , começa a namorar Juliette para matá-lo e
ninguém desconfiar.

Feminicídio
Com a entrada da Lei nº 13.104, de 2015) - Lei do feminicídio, os crimes de
ódio a mulher, nos quais o homem mata apenas por razões de gênero,
passam a ser todos homicídios qualificados !! - Ideia: punir para diminuir a
violência contra a mulher ( o mesmo ocorreu na lesão corporal com a Lei
Maria da Penha)

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº
13.104, de 2015)

OBS 1: Todo crime contra a mulher vai ser feminicídio ??

- R: NÃO ! Para ser feminicídio, precisa ter razões de condição de sexo


feminino - Isso a lei define como : a) situações de violência doméstica
- b) situações de menosprezo ou discriminação pela condição de mulher.

§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime


envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104,


de 2015)
Ex: Se João, traficante, mata Maria, usuária de drogas, por ela estar devendo
dinheiro a ele, ele não responde por feminicídio

a) Violência doméstica e familiar


- Para ser feminicídio precisa morar na mesma casa e ter grau de
parentesco. Entretanto, tal assunto é passível de divergências
doutrinárias, alguns consideram só doméstica outros precisa ser da
família, etc.
b) Menosprezo à condição de mulher
- Aqui é a ideia de superioridade masculina, machismo. O homem mata
por conta da mulher ser frágil, indefesa. (Aqui entra ciúmes, a antiga
defesa da honra)
- Ex: caso do goleiro Bruno e da Elisa Samudio - matou por ser mulher e
ele não queria pagar a pensão.
- Ex: ex que não aceita o término e, com ciúmes, mata a
ex-companheira.

OBS 2 : Matar mulher trans entra como feminicídio ??

- Para parte da doutrina, sim. A ideia do femincídio não é só o sexo


biológico, mas também social (a mulher é mais frágil, indefesa
socialmente) - Entendimento reiterado pelo STF

OBS 3 : QUALIFICADORA DE AUMENTAR A PENA DA MULHER GRÁVIDA NO


FEMINICÍDIO E DO ABORTO !!

Clara, em seu intercâmbio na Suíça, engravida de Tomás. Tomás, com raiva,


mata-a e, consequentemente, mata o bebê. Tomás responde por feminicídio
com a majorante do inciso I ou por aborto ? Qual é o crime cometido por
Tomás ??

R: Tomás responde por feminicídio sem a majorante do parágrafo 7 e por


aborto em concurso de crimes. IMP ! Motivo fútil não entra pq se entrasse seria
bis in idem !

- Outras formas de homicídio qualificado:


- VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição - só se for por conta do cargo ou da função
- VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido:

2)Instigação ao suicídio

1.1) Conceito: “Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar


automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça.” - art. 122 do
Código Penal

Ex: A vê B olhando para baixo do topo da cobertura, e diz: - vai se joga aí,
você não serve para nada mesmo.

- Induzir: eu coloco a ideia na cabeça da pessoa.


- Instigar: a pessoa já tem a ideia e eu estimulo.
- Auxílio material: dou a arma para que a pessoa se mate. Ex: Tício
sabendo do plano de Mévio de se enforcar em casa, dá a corda.

OBS 1 : A lei pune o incentivo de 3 ao suicídio e a própria automutilação.


- O bem jurídico tutelado não é só a vida, é a integridade física !!

Bittencourt: “O ordenamento jurídico vê no suicídio e na própria automutilação


um fato imoral e socialmente danoso, que deixa de ser penalmente indiferente
quando concorre – em qualquer dos dois fatos — com a atividade da vítima
outra energia individual provinda da manifestação da vontade de outro ser
humano.”

OBS 2 : A lei fala em prestar auxílio material para que o faça. Logo, se eu
dou a arma, sabendo que fulano vai se matar, eu respondo.

1.2) Características

1.2.1) Sujeito ativo


É um crime comum (qualquer um pode praticá-lo)

1.2.2) Sujeito passivo


Pode ser qualquer um que seja instigado a cometer suicídio.
- OBS 1: Se esse alguém for alguém incapaz, ele responde por
homicídio!

1.2.2) É um crime de conduta e resultado (crime material)


- Mesmo que o indivíduo não venha a se matar, só de eu, agir com
DOLO, instigá-lo a isso. Eu posso responder pelo artigo 122. Não é
passível de tentativa.
- Ex: Julia instiga Giovanna a se jogar da janela do quinto andar, mas
Giovanna pensou nos pais e desistiu - Julia responde mesmo assim no
122.

OBS !!! Para matar Hércules, Mégara coage-o e o obriga a tomar um cálice
envenenado, se não, ela mataria seu pai. Mégara responde por instigação ao
suicídio ??

R: NÃO ! Como ela o ameaçou, forçou-o a se suicidar. Ela não entra no


artigo 122, responde por homicídio. Só seria instigação, se a coação for
resistível.

OBS: Caso a pessoa venha a se matar ou tentando tirar a própria vida


tenha lesões corporais graves, entram as majorantes !!! - classificação
dele como plurissubsistente.

- Lesão corporal:
- § 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave
ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei nº
13.968, de 2019)
- Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos

- Morte: § 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: (Incluído


pela Lei nº 13.968, de 2019)
- Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

1.2.3) É um crime que precisa de um sujeito determinado para ocorrer


- O artigo 122, traz “induzir ALGUÉM (...)”, ou seja, precisa ser contra
uma pessoa - ou mais - em específico. Se eu escrevo por exemplo
uma obra literária instigando os leitores a cometerem suicídio eu
NÃO respondo penalmente.
- Ex: Livro do jovem Werther - causou milhões de mortes e o autor não
respondeu.

- Questão do facebook: criar um grupo com técnicas eficazes para se


matar, constitui crime de instigar o suicídio ?? - NÃO ! PQ NÃO TEM
SUJEITO ESPECÍFICO.

- OBS 1: Se esse alguém for alguém incapaz, ele responde por


homicídio!

1.2.4) É um crime monossubjetivo/unissubjetivo

- Precisa só de um autor para acontecer. No entanto, isso não impede


que seja feito por mais de um sujeito ou que haja concurso de pessoas

OBS: Caso do jogo da baleia - todos que incentivaram o colega a se


matar, responde por induzir ao suicídio.

Ex: Tatiana instiga Bia a auxiliar Luiza a se matar - Tatiana responde por
instigação ao suicídio e Bia como coautora.

1.2.5) É um crime passível de omissão ??

Divergência doutrinária: duas correntes. - dúvida: qual é a certa?

1 corrente (Damásio de Jesus e STF): defende que a instigação ao suicídio


ao trazer “instigar”, “induzir”, pressupõe necessariamente uma conduta
COMISSIVA e não é passível de omissão. A única hipótese omissão nesse
crime, seria omissão de socorro. Ex: A se joga do prédio, B assiste e não
liga para a ambulância.

2 corrente (Nelson Hungria) : Pode, desde que a omissão seja feita por
um agente garantidor e tenha o dever jurídico de impedir o suicídio. Ex:
pai que, propositalmente, deixa que o filho menor, acusado de fato desonroso,
ponha termo à vida (sabe do plano de se matar e não faz nada para impedir)

2) Casos importantes

2.1) Suicídio coletivo !!

Entra a proteção do art.122 para quem participou (Quem teve a ideia entra
como induzidor, os outros como instigadores.) Quem executa - entra como
homicida ou tentativa de homicídio (se fez algum ato da execução -
coautor)

EX: Helena, Virgílio e Laerte fazem um pacto de suicídio coletivo com gás. Laerte
executa o crime, fechando as janelas e colocando o gás. Mas uma janela fica aberta,
Laerte acaba não morrendo. Helena e Virgílio sim. Laerte cometeu crime ?

R: Sim, Laerte responde por homicídio, pois foi ele quem induziu e
EXECUTOU.

- E se apenas Helena morresse ?

EX: Laerte - homicídio ; Virgílio - instigação ao suicídio.

- E se todos sobrevivem com lesões corporais graves ?


- Laerte: homicídio
- Helena e Virgílio: instigação ao suicídio.

OBS: se todos tivessem executado, todos responderiam por


tentativa de homicídio.

2.2) Impede o suicídio com constrangimento ilegal !!

Ex: Para impedir que Mévio se mate se jogando do 8 andar da UERJ,


Tico tranca-o em casa. Tico, por mais que tenha feito por um motivo
nobre, para impedir o suicídio pode responder por constragimento ilegal
- art. 146 do CP.

3)Infanticídio
1.1) Conceito: “ Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante
o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos.”- art. 123 do Código
Penal

Ex: Rose, não queria ter filhos, engravidou por acidente. Alterada no estado
puerperal mata a filha Kate. - responde por infanticídio.

- Aqui esse crime traz a ideia de proteger a mãe, que no estado


puerperal fica muito alterada por conta dos hormônios, e acaba
matando o próprio filho.

1.2) Características

1.2.1) É um crime próprio

Precisa da figura da mãe para ocorrer, mas pode ter concurso de pessoas. A
mãe pode instigar terceiro a cometer infanticídio.

Ex: Mari querendo matar seu filho, coloca veneno na mamadeira e pede para
a enfermeira, que não sabia de nada, alimentar a criança.

Mari responde por infanticídio. A enfermeira, tem afastada a tipicidade por


erro invencível (não dava para prever que a mãe ia querer matar o próprio
filho)

1.2.2) É um crime monossubjetivo/ unisubjetivo

Só precisa da mãe para acontecer, mas aceita concurso de pessoas.

OBS 1: Concurso de pessoas no infanticídio

1 - Mãe influenciada pelo estado puerperal decide matar o filho, o


enfermeiro/pai contribui fornecendo as ferramentas.

Doutrina admite três correntes, sendo a 1 e a 2 as principais :


1 corrente (Nelson Hungria) - Entende que o tipo traz um caráter
personalíssimo, o estado puerperal da mãe é uma elementar que só cabe a
mãe, por conta disso: mãe entra como autora de infanticídio, o enfermeiro
responderia como partícipe em homicídio. (Obs: NÃO entra como co autor
pois só influenciou deu as ferramentas, NÃO ATUOU JUNTO NA
EXECUÇÃO, NÃO FEZ O MICRO PEDAÇO. Se tivesse feito, ajudado na
execução, poderia entrar como coautor)

2 corrente (Monismo): Entende que não faz sentido o tipo ser aplicável
apenas a mãe, pois não é um crime de mão-própria. Admite que a elementar
não tem caráter personalíssimo e adotando isso, a pena ficaria
desproporcional (quando o enfermeiro/pai ajuda a mãe, ele vê seu estado
puerperal e decide dividir o crime com ela) - ADOTA-SE O MONISMO, MÃE
RESPONDE COMO AUTORA E ENFERMEIRO COMO PARTÍCIPE POR
INFANTICÍDIO. - Tese mais aceita, inclusive em projeto de lei em
tramitação no Senado.

- E se o enfermeiro executa, cortando a criança ? Entra como


coautor em infanticídio !

3 corrente (Posição intermediária): “a solução da questão dependeria da


constatação do caráter acessório da ação do concorrente, isto é, saber
se ele figurou como partícipe ou coautor do infanticídio.”

OBS 2: Pegadinha - Concurso de pessoas no infanticídio

- Alex, médico, vê Rose, após ter o parto de Kate, alterada com o estado
puerperal. Convence-a a matar Kate. Alex executa o crime e Rose o
ajuda. Quem responderia pelo o que ??

- Alex: responde por homicídio - entendimento da jurisprudência que é


um terceiro que NÃO estava influenciado pelo estado puerperal e
ELE executou - por conta disso, art.121 - Homicídio.

- Rose: responde como partícipe em infanticídio. A jurisprudência


entende que Rose, ajudou pq estava influenciada pelo estado
puerperal, algo que abranda a sua conduta - por isso enquadra-a
como partícipe em infanticídio (mesmo o autor tendo cometido
homicídio)
1.2.3) “Durante o parto ou logo após o mesmo”

Como a ideia do infanticídio é proteger a mãe, por conta do estado puerperal


alterá-la, ela fica protegida nesse crime enquanto durar o estado
puerperal. O intervalo de tempo não necessariamente precisa ser
pequeno.

- Se for provado pela perícia que ela ainda estava no estado


puerperal, ela entra em infanticídio.
- Se não, por homicídio.
- Se matou por problemas mentais, não há crime.

1.2.4) Consumação: se dá com a morte da criança. Mas é um crime


passível de tentativa (aqui entra também hipótese de erro invencível e de
crime impossível)
OBS: Se no exemplo anterior, Rose tivesse se confundido e matado o
bebê de outra mãe. Teria sido consumado o crime de infanticídio ??

R: Sim. Rose responderia por participação em infanticídio (ideia da


proteção da mãe, ela acreditava ser o bebê dela) e Alex continuaria com
homicídio.

4)Aborto

1.1) Introdução de coisas importantes

- Bem jurídico tutelado: É a vida.


- Debate: - quando começa a vida ??
- STF: quando ocorre a nidação e o zigoto cola no útero.
- Daí que vem a discussão sobre legalização do aborto.
- Dworkin: defende que só há de se falar em crime de aborto a partir do 3 mês
de gestação.
- STF: tem um HC que adota a posição de Dworkin, mas é pouco relevante
pois é só um HC.
- Obs: na prática, por conta do sigilo médico, é muito difícil encontrarmos casos
de aborto - Destaque para a Lei 12.845 que traz atendimento obrigatório e
proteção da mulher em casos de violência sexual - KIT estupro

1.2) Conceito: “ Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho


provoque: (Vide ADPF 54) - Pena - detenção, de um a três anos -” art. 124
do Código Penal

Ex: Rose engravida de Kate e vai em uma clínica clandestina tentar abortar.

1.2) Características

1.2.1) O sujeito passivo e ativo é o mesmo (a própria mulher)

1.2.2) É um crime Monosubjetivo/ Unisubjetivo

- Só precisa de um agente para acontecer, mas pode admitir concurso de


pessoas.

- OBS ! Concurso de pessoas no crime de aborto

- A pessoa que ajudar a gestante a abortar, fornecendo


ferramentas, ajudando na execução para a produção do
resultado irá responder pelo crime de aborto.

“ Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)
Pena - reclusão, de um a quatro anos.”

Ex: caso clássico do médico: Gestante vai na clínica clandestina abortar, a


gestante responde pelo art.124 e o médico pelo art.126 !! OBS: Rompe
com o monismo e a pena é maior (a gestante que aborta é mais
vulnerável que o médico que executa esse crime).

Ex : Rose, em sua festa de formatura engravida de Bryan Chorão, e por


conta do bebê não pode ir mais estudar em Boston com Alex, seu
melhor amigo. Alex, ao descobrir a notícia fica transtornado e influencia
Rose a abortar, levando-a até uma clínica. Alex responde pelo artigo 126
?

R: NÃO ! O tipo do artigo 126, traz a conduta “provocar” , o agente


precisa atuar na execução de forma física, induzindo o corpo da
gestante a perder o feto. Contudo, Alex pode responder como
partícipe pelo artigo 124, ele AJUDOU Rose a abortar, estimulou-a a
fazer isso e inclusive, prestou um auxílio (ele levou ela até a clínica)
- caracterizando uma participação acessória no crime.

- E se Alex ajudasse o médico a abortar ? Fornecendo


instrumentos ? partícipe do 126 (se ajudasse na própria
execução - coautor do 126)

- E se Alex, não conseguisse uma clínica que topasse realizar o


aborto e convencesse o médico a realizar tal fato. Induzindo Rose
a abortar (no art.124) e o médico a realizar o aborto de Rose ?

- Aqui teríamos uma hipótese de participação bifronte, e a doutrina


diverge.

Japiassu: “Discute-se a situação jurídica daquele que tem participação bifronte. Isso quer dizer, o
concorrente que, v.g., no mesmo contexto, induz tanto a mulher ao autoaborto e, em paralelo, o
terceiro a realizar o aborto com consentimento, responderá como partícipe por qual dos dois delitos?
Acerca da questão, há duas correntes. Para a primeira, quem participa do fato, ainda que com
participação bifronte, responderá sempre pelo art. 126, do CP, por se tratar de crime mais
grave, consoante o princípio da consunção ou absorção. Para a segunda corrente, deve-se
verificar a postura do participante, vale dizer, se ele se restringir a concorrer à ação da
gestante ou se também concorre com a ação do terceiro que efetuará o aborto. Conforme dito
por Damásio de Jesus, “se se limita a induzir/instigar a gestante a prestar seu consentimento
na provocação do aborto, responde pelo delito do art. 124, 2ª parte. Se, entretanto, emprestar
qualquer auxílio na provocação do aborto, será partícipe do fato descrito no art. 126.” - na
segunda só se ele fizer.

1.2.3) É um crime que admite forma qualificada

Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço,
se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre
lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe
sobrevém a morte.
OBS: Aqui nesse artigo 127, admite-se a tentativa de aborto. Contudo, no 124 a
doutrina diverge em relação à hipótese de tentativa.

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