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O start sem o up

Uma análise crítica sobre o Marco Legal das


Startups
SUMÁRIO
1- Introdução - p.5

2 - Os objetivos do Marco Legal das Startups- p.9

3- Os princípios do Marco Legal das Startups - p.10


4- As mudanças do Marco Legal das Startups

4.1 - A definição de startup - p.18

4.2 - A definição de investidor anjo - p.24

4.3 - A mudança na lei das S.A e a regulação específica da


CVM para startups- p.29

4.4 - O sandbox regulatório - p.39


5 - Os desafios ainda restantes e o up que ficou faltando

5.1- Na esfera trabalhista- p.43

5.2 - Na esfera tributária-p.45

6 - Conclusão -p.46

7- Bibliografia -p.47
1.INTRODUÇÃO
A Globalização de mercado e seus impactos
econômicos

Globalização de Maior competitividade entre


mercado as empresas e necessidade
(diminuição de em desenvolver produtos mais
fronteiras e inovadores para o mercado.
transações globais) (STARTUPS)
Essa necessidade de inovação gera as startups

"startup é um grupo de pessoas à procura de um


modelo de negócios repetível e escalável,
trabalhando em condições de extrema incerteza."
(SEBRAE)

Startups buscam desenvolver



produtos e tecnologia
inovadores e depois, vender a companhia para empresas
milionárias - movimentando o mercado.
Hoje as startups são responsáveis por boa parte do
comércio brasileiro.

O Brasil é o país que concentra 77%


do mercado de startups latino-
americano, e das 10 startups que
receberam os maiores investimentos
mundias, 7 eram brasileiras.
(SLING HUB)
Visando regular esse mercado, em setembro de 2021
entrou em vigor a Lei Complementar 182 - O Marco
Legal das Startups, que trouxe inúmeras mudanças
para o setor.

" Institui o marco legal das startups e do


empreendedorismo inovador; e altera a
Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de
1976, e a Lei Complementar nº 123, de
14 de dezembro de 2006" (Lei
complementar 182)
2. Objetivo do Marco Legal
das startups
Fomentar a inovação e o empreendedorismo no Brasil,
construindo um ambiente favorável aos novos negócios e
à criação de tecnologia.
3. Princípios do Marco Legal
das Startups
" reconhecimento do empreendedorismo inovador como
vetor de desenvolvimento econômico, social e ambiental."
(artigo 3)
"incentivo à constituição de ambientes favoráveis ao
empreendedorismo inovador, com valorização da
segurança jurídica e da liberdade contratual como
premissas para a promoção do investimento e do
aumento da oferta de capital direcionado a iniciativas
inovadoras;" (art.3)
"Importância das empresas como agentes centrais do
impulso inovador em contexto de livre mercado;"(art.3)

" Modernização do ambiente de negócios brasileiro, à


luz dos modelos de negócios emergentes;"(art.3)

"Fomento ao empreendedorismo inovador como meio


de promoção da produtividade e da competitividade
da economia brasileira e de geração de postos de
trabalho qualificado." (art.3)
"Aperfeiçoamento das políticas públicas e dos
instrumentos de fomento ao empreendedorismo
inovador;" (art.3)

"Promoção da cooperação e da interação entre os entes


públicos, entre os setores público e privado e entre
empresas, como relações fundamentais para a
conformação de ecossistema de empreendedorismo
inovador efetivo;"(art.3)
" Incentivo à contratação, pela administração pública, de
soluções inovadoras elaboradas ou desenvolvidas por
startups, reconhecidos o papel do Estado no fomento à
inovação e as potenciais oportunidades de
economicidade, de benefício e de solução de problemas
públicos com soluções inovadoras; " (art.3)

"Promoção da competitividade das empresas brasileiras


e da internacionalização e da atração de investimentos
estrangeiros. " (art.3)
4. Mudanças do Marco legal
das Startups
Buscando esse desenvolvimento do empreendedorismo
inovador, a Lei Complementar 182 realizou importantes
mudanças no que diz respeito à definição das startups,
tipos societários,etc.
4.1) A definição de startups

Antes do marco as startups eram conceituadas pela Lei


Complementar 167/19, que as definia como:

"uma empresa de caráter inovador que visa a aperfeiçoar


sistemas, métodos ou modelos de negócio, de produção, de
serviços ou de produtos e que se desenvolvem em ambientes
de extrema incerteza." (PUGA, Bruna)
Problema dessa definição : IMPRECISÃO

Não havia regras Diversas empresas


sobre tamanho da poderiam se encaixar
empresa, sobre como startup, sendo
faturamento, etc. difícil regular e trazer
benefícios para as
mesmas.
Marco Legal das startups, põe fim a essa incerteza,
trazendo que as startups devem possuir alguns
requisitos, conforme expresso em seu artigo 4 § 1º.

I - possuir até R$ 16.000.000,oo de receita bruta ano-


calendário anterior ou de R$ 1.333.334,00 (um milhão,
trezentos e trinta e três mil trezentos e trinta e quatro reais)
multiplicado pelo número de meses de atividade no ano-
calendário anterior, quando inferior a 12 (doze) meses,
independentemente da forma societária adotada.
II - Possuir até 10 (dez) anos de inscrição no Cadastro
Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) da Secretaria Especial da
Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia.

III - Possuir declaração em seu ato constitutivo ou alterador e


utilização de modelos de negócios inovadores para a geração
de produtos ou serviços, nos termos do inciso IV do caput do
art. 2º da Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004.
IV- Se enquadrar no regime especial Inova Simples, nos
termos do art. 65-A da Lei Complementar nº 123, de 14 de
dezembro de 2006.

Além da definição de startup, buscando criar um


ambiente de estímulo ao venture capital, o Marco trouxe
a definição jurídica de investidor anjo.
4.2) A definição de investidor anjo

Informalmente, podemos dizer que o investidor anjo é


a pessoa física que aporta dinheiro na startup,
contribuindo no seu capital social, e tendo como
recompensa uma participação temporária na
sociedade. Esse investidor pode dar conselhos na
atividade da administração, mas NÃO se confunde
com a figura do administrador ou sócio.
SÓCIO ADMINISTRADOR Investidor anjo

Possui quotas Responde Contribui no capital


ou ações que juridicamente pela social, possuindo
consitutem o empresa, fazendo como recompensa
capital social parte do seu dia a dia. quotas ou ações
da empresa. temporárias.
Podem ser sócios ou não.
Consta no Não consta no
contrato Contrato Social.
Consta no Contrato Social.
social.
Não pode escolher o
Pode escolher o administrador, ou participar
administrador ou da administração, sendo um
sê-lo. mero mentor.
Antes do Marco Legal das startups entrar em vigor, não
havia correspondência jurídica na figura do investidor anjo.
Por conta disso, muitos juízes o confundiam com a figura
do sócio e do administrador.

Problema disso: investidor anjo tinha


responsabilidade em caso de má administração da
empresa, tendo penhora de bens em ações
trabalhistas,etc. Isso afastava o investidor das startups.
O Marco Legal das Startups, ao trazer a definição de
investidor anjo em seu artigo 2, incisio I, separa a figura do
investidor anjo do sócio e do administrador.

" I - investidor-anjo: investidor que não é considerado


sócio nem tem qualquer direito a gerência ou a voto na
administração da empresa, não responde por qualquer
obrigação da empresa e é remunerado por seus aportes"
(artigo 2 da Lei Complementar 182)
Com isso, garante-se maior segurança jurídica e cria-se um
ambiente de negócios mais favorável para investimentos de
capital de alto risco e de inovação.
4.3) A mudança na Lei das S.A
Além das definições, o Marco buscando alavancar o
empreendedorismo e a inovação no mercado brasileiro,
realizou importantes mudanças para a entrada de startups
como S.A no mercado de capitais.

Sucintamente, quando se fala de tipos societários temos : a


sociedade limitada, que funciona para sociedades menos
complexas, e a sociedade anônima, que funciona para
estruturas maiores, típicas do mercado de capitais.
SOCIEDADE SOCIEDADE ANÔNIMA
LIMITADA
Capital aberto. Sócios possuem ações.
Capital fechado. Podem emitir debêntures de forma
Sócios possuem pública (mercado de ações) ou
quotas. privada (Private Equity).

Estrutura societária mais Estrutura societária mais complexa.


simples. Há apenas os Há a diretoria - que deve ter pelo
sócios e o diretor - que é menos 2 diretores respondendo pela
escolhido pelos sócios e sociedade - e o Conselho de
responde judicialmente pela Administração ( composto por ... e
sociedade. obrigatório em Companhias abertas e
de Capital autorizado).
LIMITADA Sociedade Anônima
A,B,C,D,E,F,G,H,
A E B POSSUEM
I,J,K,L E M
QUOTAS Conselho de
POSSUEM
Administração
AÇÕES (eleito em
ADM Assembléia)
Representada
(responde
Sociedade pela sociedade
sociedade) Eleita

Representada
Diretoria
SOCIEDADE SOCIEDADE ANÔNIMA
LIMITADA
A compra e venda de As partes negociam mais
participação pode ocorrer por livremente a compra e venda
cessão de quotas. Não estão de ações no mercado de
no mercado de capitais. capitais (mais fácil de receber
investimentos).

Sócio majoritário não têm


A partir de 51%, o acionista já tem
poder completo. Necessita de
o poder e pode aprovar
75% de quórum para
mudanças na sociedade.
aprovação de qualquer
mudança no Estatuto Social.
SOCIEDADE SOCIEDADE ANÔNIMA
LIMITADA

Não há obrigatoriedade de Demonstrações financeiras são


demonstrações financeiras públicas e obrigatórias.
públicas. As demonstrações
financeiras são realizadas para
os sócios apenas antes de
reunião que aprovará as
contas.
Os sócios e suas participações
Os sócios constam no
são informações privadas, não
Contrato Social, qualquer um
pode solicitar e conferir na ficam registrados no Contrato
junta Comercial. Social.
Pelo o observado no quadro, a sociedade anônima, por
permitir a entrada no mercado de capitais e a captação de
mais investimentos, é o ideal para as startups. No entanto,
por conta de determinadas complexidades, essa estrutura é
pouco utilizada.

Tendo isso em vista, o Marco Legal das Startups modificou a


Lei das S.A, realizando uma série de mudanças e facilitando
a sua entrada no mercado de capitais.
I- Diminuição do mínimo exigido de (2 para 1) de membros do
Conselho de Administração.

II - Inclusão da possibilidade de estabelecer livremente em


assembleia, em caso de omissão do estatuto, sobre a
distribuição de dividendos.

III- Companhias fechadas com receita bruta de até 78 milhões


de reais poderão realizar publicações de forma eletrônica e
substituir os livros por registros mecanizados ou eletrônicos.
IV- Companhias de menor porte, com receita bruta inferior
à R$ 500.000.000,00 anual poderão ser S.A e ingressar no
mercado de capitais.

Regulação específica da CVM para companhias de menor


porte - como a retirada da obrigatoriedade de conselho
fiscal nas companhias abertas.
4.4) O sandbox regulatório das
startups

Além da facilitação da entrada de Startups como S.A, o


Marco também consolidou a parceria de startups com o
setor público, regularizando e incentivando o sandbox
regulatório. As startups que quiserem, terão o processo
de licitação facilitado, de acordo com os limites
estabelecidos pela entidade reguladora.
" Art. 2º Para os efeitos desta Lei Complementar, considera-se:
(...) II - ambiente regulatório experimental ( sandbox
regulatório): conjunto de condições especiais simplificadas
para que as pessoas jurídicas participantes possam receber
autorização temporária dos órgãos ou das entidades
com competência de regulamentação setorial para
desenvolver modelos de negócios inovadores e testar
técnicas e tecnologias experimentais, mediante o
cumprimento de critérios e de limites previamente
estabelecidos pelo órgão ou entidade reguladora e por meio
de procedimento facilitado."
Isso estimula o desenvolvimento de iniciativas
inovadoras dentro do setor público, podendo o tornar
mais eficiente. A expectativa é que com essa
regularização, setores públicos se modernizem - como o
Banco do Brasil que apresenta uma fintech.
5.Problemas do Marco
Legal das Startups
O Marco Legal das startups trouxe importantes mudanças
para as startups - sobretudo no que diz respeito ao mercado
de capitais e ao sandbox regulatório - e iniciou debates
importantes sobre o setor. No entanto, a legislação não teve
o seu up compelto: questões trabalhistas e tributárias
importantes para o setor foram deixadas de lado.
5.1) Questões trabalhistas

A maior parte das startups tem recursos escassos e não


consegue contratar seus funcionários através da CLT,
contratando- os como MEI.

O MEI é um regime que não oferece um alto ganho financeiro


e não garante benfícios, o que dificulta a atração de mão de
obra qualificada para as startups, prejudicando o seu
desenvolvimento.
5.1) Questões trabalhistas

Uma das pautas que o setor luta é a possibilidade de


oferecendo uma participação societária (stock option) para
funcionários interessados a fim de atrair mão de obra
qualificada. No entanto, isso não foi abordado pelo Marco
Legal das Startups.
5.1) Questões tributárias

As startups ainda apresentam altas taxas de tributos a serem


pagas e a sua inserção nos regimes tributários mais simples,
dificulta a sua possível entrada no mercado de capitais. No
entanto, a Lei Complementar 182 pouco trabalhou a questão
tributária. As startups ainda estõa sujeitas a uma alta carga
de tributos para ingressarem no mercado de capitais.
6.Conclusão
O Marco Legal das startups trouxe o start que as startups
precisavam para se desenvolver no Brasil. A definição de
startup e investidor anjo, as mudanças na lei das S.A e o
sandbox regulatório foram importantes passos para a
construção de um ambiente inovador no Brasil. No entanto,
comparando principalmente com países europeus, a
legislação ainda é fraca e necessita de um up - trazendo
inovações na parte trabalhista e tributária, que permitam o
desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil.
7.Referências bibliográficas
BORBA, TAVARES. Direito Societário. 18 ed. São Paulo,2020.

MONTEIRO,FELIPE. Marco Legal das Startups - conquistas e decepções.


Migalhas, São Paulo, 9 de jun de 2021. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/depeso/349132/marco-legal-das-startups-
conquistas-e-decepcoes. Acesso em: 28 de fev. de 2022
7.Referências bibliográficas
PUGA,BRUNA. Análise do Marco Legal das startups- pl 249-20. Jus Brasil.
São Paulo, 19 de jan.2021. Disponível em:
https://brunapuga.jusbrasil.com.br/artigos/1110792999/analise-do-marco-
legal-das-startups-pl-249-20. Acesso em: 28 de fev. de 2022.
BRASIL. Lei Complementar Nº 182, de 1º de junho de 2021. Institui o
marco legal das startupse do empreendedorismo inovador; e altera a Lei nº
6.404, de 15 de dezembro de 1976, e a Lei Complementar nº 123, de 14 de
dezembro de 2006. Brasília: atos do poder Legislativo, 2021. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp182.htm. Acesso em: 28 de
fev.de 2022
Obrigada pela atenção, espero vê-
los na próxima etapa do processo
seletivo !

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