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M otor De Stirling

Armando Gonçalves1 , Inês Martins2 , Miguel Lameiras3


1
Aluno número 100290 do curso LEFT no Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa
2
Aluna número 100315 do curso LEFT no Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa
3
Aluno número 100354 do curso LEFT no Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa

Laboratório de Fı́sica Experimental k Grupo D k Segunda − f eira

Abstract
The Stirling engine was developed in 1816 by Robert Stirling and his brother. Because it operates silently with low
emissions, there has recently been a resurgence of interest around the engine. The present work aims to analyze the
operation of the Stirling engine both as heat pump and heat engine, as well as determining the efficiency of the machine
and respective net powers. For this we will measure various quantities, such as the water flow used in the system, pressure
inside the engine’s cylinder, water temperature at the inlet and outlet, volume enclosed by its piston, voltage and current
of the heating resistor. We will also use a Prony brake to calculate the net power, measuring the force to be applied at
the end of the bars needed to keep them in a horizontal position. For the data processing we’ll be using the open-access
online platform fitteia.org (Fitteia).

Keywords: Stirling engine, Heat pump, Heat machine, Stirling cycle

I Introdução Teórica Temperaturas de Entrada e Saı́da da água (Tin e


Tout , sendo ∆T = Tout − Tin ) e o Caudal da água
I.1 Ciclo de Stirling ( ∆m
∆t ).

Dispositivos como o motor de Stirling têm como base o Ciclo Este motor será adaptado para uma MT, com a resistência
de Stirling, o qual pode ser descrito como um ciclo termo- a comportar-se como a Fonte Quente (FQ) e o sistema de
dinâmico reversı́vel que um fluı́do (um gás ideal) realiza. refrigeração como a Fonte Fria (FF). Para funcionar como
uma BC, a resistência passa a FF e o sistema de refrigeração
Este ciclo está carcterizado por qua- a FQ.
tro processos distintos:
I.3 Máquina Térmica
• 1 e 3, respetivamente,
Expansão e Compressão Para o caso da Máquina Térmica, em que ciclo de Striling
Isotérmica (T constante e se realiza no sentido direto, pretende-se determinar a Potência
δU = 0) mecânica fornecida pelo motor, bem como o seu rendimento,
nas suas diferentes formas (rendimento real, corrigido, e de
• 2 e 4, respetivamente, Arrefeci- Carnot).
Figura 1: Diagrama de mento e Aquecimento Isocórico O trabalho mecânico, W , (e consequentemente a Potência
pV do ciclo de stirling (V constante e δW = 0) do motor, Pmotor ) é gerado através da diferença de tempera-
turas entre a FQ e a FF. O Calor fornecido pela FQ, Qh ,
Este ciclo pode ser associado tanto a uma Máquina Térmica (ou a Potência da FQ, PF Q ) em conjunto com o trabalho do
(MT), realizando-se no sentido direto, como a uma Bomba motor, servirá de base para a determinação do Rendimento
de Calor (BC), no sentido inverso. do Motor não corrigido, η.
W Pmotor
I.2 Funcionamento do Motor (1) η = (2) η =
Qh PF Q
Na nossa experiência, a configuração do motor que utiliza- Estas Potências, poderão ser facilmente obtidas através de
mos é de tipo Beta, (beta), o que se traduz no facto de ser simples medições. Para o calculo da Potência do motor é ne-
constituı́do por um único cilindro, separado por um desloca- cessário conhecer a frequência do motor, f , (ou o seu perı́odo,
dor com um regenerador embutido, de forma a separar o ar ∆t) bem como o comprimento do braço do travão de Prony,
(fluı́do utilizado) quente do frio. b e a força aplicada no dinamómetro, F .
Para gerar estas regiões térmicas (Th e Tl ), utiliza-se: 2π
(3) Pmotor = 2πf bF (4) Pmotor = bF
• uma resistência ligada a uma fonte de alimentação (con- ∆t
tinua para a BC ou alternada para a MT). Daqui reti- No entanto, este tipo de cálculos tem por base um motor
ramos dados como a Tensão, VR , a Corrente forne- ideal, onde não há dissipação energética. Assim, de forma a
cidas à resistência, IR , e a Temperatura da Re- termos resultados mais exatos, temos de considerar essas per-
sistência, TR ; das. Para tal, é necessário sabermos a Potência da FF, PF F ,
e a da FQ, que podemos calcular com as seguintes equações:
• um sistema de refrigeração (baseado numa bomba de ∆m
circulação de água). Daqui retiramos dados como as (5) PF Q = PR = VR IR (6) PF F = PSR = Cágua ∆T
1 ∆t
A partir daqui calculamos a Potência Total de Perdas
(Pperdas−totais ) e consequentemente o Rendimento Corri- Legenda:
gido (ηcorrigido ): B1 - Bomba de Cir-
culação
(7) Pperdas−totais = PF Q − PF F − Pmotor E1 - Fonte de Ali-
mentação
A1 - Amperı́metro
Pmotor Pmotor
(8) ηcorrigido = = V1 - Voltı́metro
PF Q − Pperdas−totais PF F + Pmotor Des1 - Deslocador (com
Figura 2: Montagem da MT regenerador)
Temos de considerar também o efeito do regenerador, cujo P ist1 - Pistão trabalho
Fator de Idealidade (α) terá valores de 0 ≤ α ≤ 1, sendo R1 - Resistência
que para α = 1 não há regenenrador, e para α = 0 temos um TR - Sensor de temp. da
regenerador perfeito. Sendo assim, os novos redimentos são: resistência
Tin - Sensor de temp. da
TF F 1
(9) ηcα = (1 − ) C TF F
água que entra
TF Q 1 + α Rln(V /V ) (1 −
v
TF Q ) Tout - Sensor de temp. da
2 1

água que sai


TF F P1 - Sensor de Pressão
(10) ηcarnot = 1 − para α = 0 S1 - Sensor de Volume
TF Q
D1 - Dinamómetro
VD - Voltı́metro do di-
I.4 Bomba de Calor Figura 3: Montagem da BC namómetro

No caso da Bomba de Calor, o ciclo de Striling realiza-se no


sentido oposto, e o nosso objetivo é determinar sua eficiência II.1 Procedimento da Máquina Térmica
(real, corrigida, e de Carnot), a potência de refrigeração e as
perdas energéticas. Primeiro, verificamos se o sistema de arrefecimento está ativo
e se o fluı́do (água) cobre as pás da bomba na totalidade, antes
Neste caso, em vez de geramos trabalho através de uma di-
de a ligarmos.Com o travão retirado, fornecemos uma tensão
ferença de temperatura, estamos a criar uma transferência de
(em corrente alternada) da ordem dos 16V à resistência de
Calor da FF para a FQ ao execermos trabalho sobre o fluı́do.
aquecimento. Com a resistência ao rubro, arrancamos o mo-
Assim, para encontrarmos a Eficiência não Corrigida , ε,
tor, esperando alguns minutos até a sua velocidade de rotação
calculamos:
estabilizar.
Qh PF Q Ajustamos agora o travão de Prony, apertando cuidadosa-
(11) ε = (12) ε = mente os parafusos, de forma que a diminuição da velocidade
W Pmotor
seja percetı́vel, mas sem que esta desça abaixo das 3 rotações
Novamente, as perdas energéticas têm de ser tidas em por segundo.
conta e as potências das FF e FQ encontradas. Estas últimas Ajusta-se o dinamómetro de forma que as barras do
já calculamos nas equações (5) e (6), com a única diferença de travão fiquem horizontais, para se registarem as grandezas
que agora PF F = PR e PF Q = PSR . Desta forma a Potência necessárias aos cálculos (TR , Tin , Tout , VR , IR e ∆m
∆t ). Para
total de perdas e, consequentemente, a Eficiência Corri- determinar o Caudal do sistema de arrefecimento, medimos
gida, εcorrigida , serão: com um cronómetro o tempo necessário para encher uma pro-
veta até à marca dos 50ml.
(13) Pperdas−totais = PF F − PF Q + Pmotor Num computador programado para tal, registamos
também os gráficos da Pressão, P (t), e de Deslocamento do
gás, S(t), em função do tempo. É a partir destes dados que
PF Q + Pmotor PF F + Pmotor conseguiremos encontrar o Perı́odo de Rotação do Motor,
(14) εcorrigido = =
Pperdas−totais Pmotor T, bem como a sua Velocidade de Rotação, ω = 2π T .
Este processo é repetido em mais dois ensaios, alterando
Considerando novamente o efeito do regenerador e do α apenas os valores de tensão no transformador, para 14V e
de forma a chegarmos Eficiência com Regenerador Im- 18V.
perfeito, εcα , e a sua Eficiência de Carnot, εcarnot :

TF Q CV II.2 Procedimento Bomba de Calor


(15) εcα = −α
TF Q − TF F Rln(V2 /V1 ) Para que o motor de Stirling funcione como uma Bomba de
Calor, posiciona-se uma correia que ligará um motor elétrico
TF Q exterior ao volante do Motor de Stirling de forma que este
(16) εcarnot = para α = 0 rode no sentido horário a uma velocidade de 5 rotações por
TF Q − TF F
segundo.
Com a resistência desligada, deixamos o motor a funcionar
por cerca de 15 minutos, até que esta atinja uma temperatura
II Montagem e Procedimento Expe- 15ºC inferior à ambiente. Começamos agora por aplicar uma
rimental tensão (em corrente contı́nua) à resistência de cerca de 4V,
fazendo-a variar cuidadosamente de forma que a temperatura
Para esta experiência, vamos ter uma montagem para a MT desta chegue a um equilibrio a 5ºC abaixo da temperatura
(fig. 2) e outra para a BC (fig. 3). ambiente.
2
Atingida esta situação, registamos os valores de III.1.1 Determinação das taxas de transferência de
TR , Tin , Tout , VR , IR e ∆m
∆t , bem com as funções de P (t) Energia
e de S(t), tal como no caso da Máquina Térmica.
Sendo PF F a potência fornecida pela fonte de alimentação,
II.3 Calibração do Dinamómetro PF Q a potência cedida à fonte quente , PW gás a potência
mecânica fornecida pelo gás ao êmbolo e Pmotor a potência
Para a calibração do Dinamómetro servimo-nos de um con- mecânica fornecido pelo motor exterior, procedeu-se então ao
junto de massas bem definidas, de forma a obtermos uma re- cálculo da PF F e da PF Q pelas fórmulas (5) e (6).
gressão linear que relaciona a Força aplicada no dinamómetro
e a tensão no voltı́metro a ele associado.
PF F (W) PF Q (W)
13.06 ± 0.04 15.9 ± 0.4
III Análise de Dados
III.1 Bomba de Calor O cálculo da PW gás foi calculado dividindo Wgás pelo
perı́odo de oscilação do êmbolo:
Através da análise direta dos dados referentes à variação da
pressão e volume dentro da unidade do motor de sterling
em ordem ao tempo obtemos o valor de (412 ± 1)ms para (18) PW Gás = Wgás /T
o perı́odo de oscilação do êmbolo. A representação gráfica
destes dados encontra-se abaixo (fig. 4). Obtivémos um valor de (-10.7 ± 0.5 )W para PW gás .
A Pmotor pode ser calculada pela diferença entre a
Patritointerno e a PW gás . A Pmotor poderia ter sido medida
experimentalmente utilizando o travão de Prony no volante
e medindo a Força aplicada no dinamómetro provocada pelo
motor elétrico externo em rotação, no entanto, para que fun-
cionasse seria necessário que o volante do motor de sterling es-
tivesse desacoplado de ambos os pistôes. Como aproximação,
utilizou-se a média dos valores obtidos na máquina térmica
para Pmotor com recurso à equação(3).

Tensão na Resistência (V) Perı́odo (ms) Pmotor (W)


14.48 ± 0.01 315 ± 1 2.00 ± 0.07
16.17 ± 0.01 250 ± 1 4.33 ± 0.11
17.92 ± 0.01 245 ± 1 5.20 ± 0.14
Figura 4: Gráfico da Pressão (kPa)(vermelho) e desloca-
mento do gás (mm)(azul) ao longo do tempo
Obtemos então, por aproximação, um valor para Pmotor
igual a (4.91 ± 0.11)W.

III.1.2 Determinação das eficiências e potências de


perdas

Utilizando as equaçoes (13), (2), (14), (15) e (16) podemos


calcular, respetivamente, Pperdas−totais , ε, εcorrigido , εc(α=1)
e εcarnot .
Por desconhecer-mos o valor de α, o rendimento da
máquina com regenerador perfeito (εcα ) foi calculado utili-
zando α = 1, ou seja, a situação limite. Na conclusão abor-
daremos as razões para o termos feito.

Pperdas−totais (W) 2.37 ± 0.55


Figura 5: Diagrama P-V ε 3.18 ± ? 0.05
εcorrigido 16.9 ± 0.2
εc(α=1) 43.35 ± 0.02
Através do Fitteia pudémos calcular o Integral do gráfico εcarnot 45.61 ± 0.02
acima que se traduz na área do mesmo. Pela área do gráfico
é possı́vel calcular o valor do trabalho executado pelo gás so-
bre o êmbolo pela fórmula abaixo. Sabendo que o diâmetro O valor que obtivémos para a eficiência da nossa bomba de
do êmbolo é de 6 cm, O valor do Integral calculado foi de calor (ε) é cerca de 5.2% da eficiência de uma bomba de calor
-1550.76 ± 0.01. ideal (εcarnot ), o que nos indica que existe bastante energia
2 a ser dissipada durante o funcionamento da bomba de calor.
(17) WGás = (ÁreaGráf ico )πRêmbolo
Considerando perdas por atrito na máquina (εcorrigido ), o ren-
Obtivémos um valor de (-4.4 ± 0.2) Joules para o trabalho dimento continua a ser relativamente baixo, cerca de 34,7%
executado pelo gás. do rendimento da máquina ideal.
3
III.2 Calibração do Dinamómetro

Devido à atividade laboratorial ter sido realizada em dois dias


distintos foi necessário realizar duas calibrações, uma por dia,
por forma a minimizar possı́veis variações de calibração que
tenham ocorrido no intervalo da experiência.
Para o cálculo da força exercida no dinamómetro pelos pe-
sos utilizados para a sua calibração , foi utilizada a segunda
lei de Newton na forma descrita abaixo, sendo g a aceleração
gravı́tica à superfı́ce terrestre (9.80665 ms−2 ), mcesta a massa
Figura 8: Perı́odo de Os-
da cesta acoplada ao dinamómetro (4.7 ± 0.1)g e mpesos a Figura 9: Diagrama P-V
cilação - 14V
massa dos pesos de calibração utilizados.

(19) FDin = (mcesta + mpesos )g

Para se obter os parâmetros de ajuste para os dados recolhi-


dos em laboratório foi utilizado o Fitteia (fig. 6 e 7).

Figura 10: Perı́odo de Os- Figura 11: Diagrama P-V


cilação - 16V

Figura 6: Reta de Segunda- Figura 7: Reta de Terça-


Feira Feira

A partir da função linear de ajuste obtida podemos cal-


cular a Força exercida pelo travão de Prony sobre o di-
namómetro. A função de ajuste é da forma:

(20) FDin = aVDin + b Figura 12: Perı́odo de Os-


Figura 13: Diagrama P-V
cilação - 18V
Os valores obtidos foram os seguintes: Novamente, pela equação (17) obteve-se o trabalho reali-
zado pelo gás.

Tensão na Tensão no Tensão na


Força (N) Wgás (J)
Resistência (V) Dinamómetro (mV) Resistência (V)
14.48 ± 0.01 85.8 ± 0.1 0.405 ± 0.005 14.48 ± 0.01 6.2 ± 0.2
16.17 ± 0.01 170.1 ± 0.1 0.694 ± 0.004 16.17 ± 0.01 6.4 ± 0.2
17.92 ± 0.01 169.7 ± 0.1 0.818 ± 0.005 17.92 ± 0.01 7.5 ± 0.3

III.3.1 Determinação das taxas de transferência de


Energia
III.3 Máquina Térmica
PF F , PF Q e PW gás foram calculados através das equações 5,6
Procedeu-se de forma idêntica ao método da bomba de ca- e 18, tal como realizado anteriormente para bomba de calor.
lor para calcular o perı́odo de oscilação do êmbolo e a área
Tensão na
do gráfico PV. Os valores obtidos e a representação gráfica PF F (W) PF Q (W) PW gás (W)
Resistência (V)
das medições encontram-se abaixo. Nos gráficos referentes
ao perı́odo de oscilação a pressão encoontra-se represetada a 14.48 ± 0.01 34.7 ± 1.6 174 ± 1 19.6 ± 0.7
vermelho em quiloPascal e o deslocamento do gás a azul em 16.17 ± 0.01 63.1 ± 1.8 241 ± 1 25.4± 0.9
milimetros. 17.92 ± 0.01 46.4 ± 2.0 281 ± 1 30.6 ± 1.4

III.3.2 Determinação das rendimentos e potências de


Tensão na
perdas
Resistência (V)
Perı́odo (ms) Área
Utilizando as equações (13), (2), (14) e (16) podemos calcular,
14.48 ± 0.01 315 ± 1 2185.57 ± 0.01 respetivamente, Pperdas−totais (Ppt na tabela),Pperdas−atrito
16.17 ± 0.01 250 ± 1 2248.59 ± 0.01 (Ppa na tabela), η, ηcorrigido e ηcarnot . O Rendimento do ci-
17.92 ± 0.01 245 ± 1 2648.66 ± 0.01 clo de Stirling com regenerador Imperfeito (ηcα ) foi calculado
4
pela equação (9). O valor de α utilizado foi ”1”, ou seja, o Quanto ao motor Tipo Gama, a sua configuração é
valor limite de alpha. também mais simples que a do Beta, tendo os pistões sepa-
rados, em vez de alinhados, permitindo a separação entre a
região onde se varia a temperatura e a onde se aplica o tra-
14.48 V 16.17 V 17.92 V balho ao gás, na sua compressão e expansão.Desta forma, a
Ppt (W) 137 ± 3 174 ± 3 230 ± 3 recolha de dados, como a taxa de compressão e incremento
Ppa (W) 17.6 ± 0.8 21.1 ± 1.0 25.4 ± 1.5 da àrea de transferência de calor.
η1 0.012 ± 0.001 0.018 ± 0.001 0.0189 ± 0.001 No entanto, esta organização dos pistões promove o sur-
η2 0.055 ± 0.004 0.064 ± 0.003 0.101 ± 0.006 gimento de maiores volumes mortos, além de uma redução
η3 0.36 ± 0.02 0.29 ± 0.01 0.40 ± 0.02 da potência de saı́da. Isto acontece porque parte do processo
ηc(α=1) 0.578 ± 0.002 0.523 ± 0.001 0.615 ± 0.001 de expansão ocorre no espaço de compressão, enquanto que
ηcarnot 0.601 ± 0.004 0.644 ± 0.004 0.656 ± 0.004 no motor do tipo Beta, a sobreposição dos pistões torna o
motor mais compacto, pelo que obtemos uma maior taxa de
A tabela seguinte compara os rendimentos que obtivémos compressão, daı́ a potência ser superior.
(η1 , η2 , η3 ) com o rendimento da máquina ideal ηcarnot para Podemos assim, concluir que os motores do tipo beta são
cada uma das 3 tensões experimentadas. O cálculo é feito de realmente os mais eficazes para a realização deste procedi-
acordo com a equação também abaixo descrita. mento experimental.

ηn
(21) % =
ηcarnot IV Conclusões e considerações finais
14.48 V 16.17 V 17.92 V O presente estudo pretendeu estudar o motor de Stirling
como bomba de calor e máquina térmica, e determinar os
η1 1.91 % 2.78 % 2.82 %
rendimentos, eficiências e as potências fornecidas nas duas
η2 9.07 % 10.00 % 15.39 %
situações. Pode dizer-se que o objetivo foi concluı́do com
η3 60.10 % 44.64 % 60.60 %
sucesso.

III.4 Comparações com Outros Tipos de Mo- Na bomba de calor, verificou-se que a potência de perdas
tores é diferente de zero, o que quer dizer que está a haver de facto
perdas energéticas. O facto de o cilindro não ser termo iso-
Como já vimos anteriormente, as perdas energéticas no mo- lado, permitindo trocas de calor para o exterior, e a ausência
tor de Stirling influenciam o rendimento da MT e a eficiência de lubrificação do motor no começo da experiência, são fato-
da Bc. Um dos aspetos que pode influenciar estas perdas res que podem explicar esta dissipação de trabalho. Detetou-
energéticas é o tipo motor que utilizamos no procedimento se igualmente que a eficiência do refrigerador em estudo não
experimental. Além do motor tipo Beta (β) que utilizamos se encontra no intervalo delimitado pelas eficiências do re-
no laboratório, temos também motores do Alfa (α) e do tipo generador perfeito e do regenerador ausente teóricos, como
Gama (γ), os quais podemos ver na fig. 14. seria de esperar de um regenerador imperfeito. Ao invés, a
eficiência atinge valores mais baixos, que apontam para dois
cenários: ou o valor do coeficiente de regenerador (α) associ-
ado à máquina é elevado (α > 1), ou o valor do coeficiente
de regenerador está entre 0 e 1 como seria de esperar para
uma máquina imperfeita, mas houve perdas de energia muito
significativas. É de salientar, além da falta de isolamento e
lubrificação, a pequena fuga que havia na saı́da de água do
motor de Stirling usado, por onde saı́a água durante a re-
alização da experiência. Este é mais um fator que permite
Figura 14: Motores (a) tipo Alfa, (b) tipo Beta e (c) tipo explicar perdas energéticas.
Gama O funcionamento da máquina térmica pode ser resumido
de uma forma muito sintética e por alto; o motor de Stirling
Os motores do tipo Alfa são constituı́dos por dois pistões, consiste num cilindro com duas zonas a temperaturas dife-
um de compressão e outro de expansão, desfasados de 90º, rentes, que aquecem ou arrefecem, dependendo da zona do
enquanto que os de tipo Gama, tal como os de tipo Beta, são cilindro, um gás (normalmente o ar ou hélio). O ar quente
motores de deslocamento, em que temos tanto um pistão de ao aquecer expande e empurra um deslocador ligado a um
trabalho (para a expansão e compressão do gás) e um pistão volante, fazendo-o mover. Este tem ligado a si o desloca-
de deslocamento (para mover os espaços de alta e baixa tem- dor, mas também um pistão de trabalho. Este pistão de
peratura). A diferença entre o Gama e o Beta é que estes trabalho empurra o ar frio em direção à zona quente onde
pistões no Gama estão em cilindros separados. o ciclo se repete, provocando expansões e contrações cı́clicas
Apesar de não termos acesso aos outros dois tipos de mo- que fazem mover sucessivamente o volante. Este tipo de mo-
tores, podemos fazer algumas comparações gerais sobre quais tor funciona em 4 fases: compressão isotérmica, aquecimento
as vantagens e desvantagens em termos energéticos existem isocórico, expansão isotérmica e arrefecimento isocórico. Este
entre os motores. é o ciclo termodinâmico ideal (válido para gases perfeitos,
Relativamente ao motor Alfa, a sua configuração mais fig. 1), que diverge do ciclo real obtido para esta experiência.
simples dos pistões pode ser considerada uma vantagem na É percetı́vel que existem ligeiras diferenças entre os diagra-
montagem, mas esse facto vem com a desvantagem de ser mas P-V experimentais (fig. 9, 11, 13) quando comparados
necessário o dobro da vedação para conter o fluı́do de tra- com o diagrama teórico (fig. 1), nomeadamente no aqueci-
balho no interior, o que promoverá mais potenciais perdas mento e arrefecimento isocórico. Este facto vem corrobo-
energéticas, face ao motor do tipo Beta. rar aquilo que já foi dito sobre perdas energéticas. Note-
5
se também que o gás presente dentro do cilindro do motor Deixa-se, para reproduções futuras desta experiência, a
não é um gás ideal, e, portanto, o ciclo ideal não passa sugestão de se revestir o cilindro do motor com um material
de uma aproximação, assim como as fórmulas matemáticas isolante ou refletor, bem como a lubrificação do motor imedi-
usadas ao longo da experiência que assumem o gás como atamente antes do começo da atividade.
ideal. Olhando para os rendimentos, constata-se que no ge-
ral η1 < η2 < η3 < ηc(α=1) < ηcarnot , onde η1 corresponde ao
rendimento real não corrigido, η2 ao rendimento corrigido por Referências
perdas totais, η3 ao rendimento corrigido descontando as per-
das da fonte quente diretamente para o exterior e as perdas [1] Fábio Ferreira, IST, acessado a 17 outubro 2021,
de atrito interno, ηc(α=1) ao rendimento do ciclo de Stirling http://web.ist.utl.pt/fabio.ferreira/material/mo/
com regenerador perfeito e finalmente ηcarnot ao rendimento CONSTANTES.pdf
da máquina ideal. Constatou-se também que, para a bomba
de calor, ε < εcorrigido < εc(α=1) < εcarnot sendo ε a eficiência [2] Wikipedia, acessado a 17 outubro 2021, https:
real da bomba, εcorrigido a eficiência corrigida por perdas to- //pt.wikipedia.org/wiki/Lei_dos_gases_ideais
tais, εc(α=1) a eficiência da bomba com regenerador perfeito
e por fim εcarnot a eficiência da máquina ideal. Eram estes os [3] Lereno de Sousa, acessado a 17 outubro 2021,
resultados expectáveis. https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/2043/
A terminar, é importante destacar alguns pontos que 2/Mestrado.pdf
ainda não foram referidos. Os gráficos responsáveis pela cali-
bração do dinamómetro (fig. 6,7) apresentam valores do coe- [4] Figueirinhas, J.L., Sebastião, P.J., Crespo, R., Ribeiro,
ficiente de determinação (R2 ) relativamente baixos, podendo I.C.A.C (2021). Laboratório de Fı́sica Experimental (LFE):
ser explicados pela dificuldade que existiu no laboratório de Guia dos Trabalhos
manter a tensão lida no voltı́metro estável. As oscilações na
leitura do voltı́metro podem ser atribuı́das à dificuldade em [5] Sebastião, P.J. (2014). Eur. J. Phys. 35, 015017, The
estabilizar a cesta com os pesos que se encontrava acoplada art of model fitting to experimental results
ao dinamómetro. Um outro fator que poderá ter gerado erros
aleatórios foi a falta de estabilidade na medição das tempera- [6] Israel Urieli, Ohio Edu, acessado a 17 outubro 2021,
turas, nomeadamente a temperatura da resistência de aqueci- https://www.ohio.edu/mechanical/stirling/simple/
mento e a diferença de temperatura entre a água que entrava regen_simple.html
no motor e a água que saı́a. Regista-se também a dificuldade
que houve, na máquina térmica, de diminuir a velocidade do [7] Wikipedia, acessado a 17 outubro 2021, https://pt.
motor sem de facto pará-lo. wikipedia.org/wiki/Motor_Stirling#Funcionamento

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