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PARA A GEOGRAFIA
Resumo
Abstract
The present contribution aims to present the theoretical framework approach based on Critical
Realism and to discuss its relevance to the process of construction of geographic scientific
knowledge, as well as to broaden its potentialities. It will deal with its epistemological implications,
its theory of agency-structure relation, and how it approaches causation phenomena. It will defend
its pertinence to treat analytical categories and key conceptual frameworks developed in the
pertinent literature, especially in locational problems. Under such an approach, research is guided
by attention in characterizing structural elements, conditions, and relationships - and the formative
constitution of these relationships. It also explores epistemological bridges between "Human
Geography" and "Physical Geography".
1
Doutorando em Geografia pelo Instituto de Estudos Socioambientais da UFG. Membro do
Grupo de Estudos e Pesquisas Trabalho, Território e Políticas Públicas – TRAPPU.
climatológicos, ecológicos, econômicos, históricos, políticos e sociológicos.
Caracteriza-se expressivamente pela preocupação locacional, tanto no sentido
de distribuição quanto de posicionamento dos fenômenos, objetos, processos e
estruturas. Explora-se questionamentos acerca de onde/aonde algo está/ocorre;
por quê nesta localização; como é esta localização, como pode ser delineada e
se há algo próprio dela afetando ou conferindo particularidades ao
acontecimento, à manifestação. Busca-se expedientes para localizar, comunicar
a localização, descrevê-la, representá-la, precisá-la, mensurar variáveis
constituintes da/ou constituídas/associadas com a propriedade locacional.
Analisa-se e constrói possibilidades e arcabouços interpretativos.
A presente contribuição visa apresentar a abordagem teórica a partir do
Realismo Crítico, discutindo sua relevância para o processo de construção do
conhecimento geográfico, bem como ampliar suas potencialidades. Propõe-se a
realizar uma pesquisa teórica, exploratória e bibliográfica.
O Realismo Crítico ainda é relativamente ausente da geografia no
Brasil. Não sendo o espaço para um amplo balanço da repercussão e estado da
arte de seus aportes de profundo alcance em diferentes disciplinas, tratará
concisamente de suas implicações epistemológicas, sua teoria da relação
agência-estrutura, aproximação das relações de causação, além do subsídio
para pontes entre dimensões da chamada “Geografia Humana” para com a
“Geografia Física”. Sob tal abordagem, as pesquisas orientam-se pela atenção
em caracterizar elementos, condições e relações estruturais – e a constituição
formadora destas relações – compreendidas nos problemas de pesquisa. Dentre
contribuições, consta sua denúncia da “falácia epistemológica” em que algumas
orientações podem ocorrer.
2 - Desenvolvimento e discussão
2
1) When this mechanism is activated under appropriate circunmstances or contingencies, will
the proposed phenomenon occur?
2) Can this phenomenon be caused by other mechanisms? If yes, the proposition cannot be a
generative mechanism because it is not exclusive (YEUNG, 1997, p.59).
Carolan (2005) produz uma discussão com a qual propicia uma tipologia
conceitual que pode oferecer recursos oportunos à preocupação de construir
pontes entre as chamadas geografias “humana” e “física”. Desagrega o que seria
a “realidade natural” em três categorias fluidas de ordem crescente de
“profundidade ecológica”: “natureza”, natureza e Natureza. Descortina a partir
disso possibilidades intelectuais para a compreensão da interrelação dinâmica
entre os “domínios social e natural”. O autor argui que as três categorias
representam “fronteiras híbridas” entre si – relativas a cadeias de associações
de significantes biofísicos e sociais - e analiticamente diferenciadas uma da
outra. A primeira categoria, “natureza”, diz respeito a um “conceito
sociodiscursivo” (CAROLAN, 2005, p.402).
A natureza – sem aspas – é a dos campos, florestas, ventos, energia
solar, organismos, bacias hidrográficas, aterros, do DDT. Ubiquamente, nela se
sobrepõem os domínios sociocultural e biofísico, onde expressões explicativas
da ação social não se cingem do ambiente físico onde ocorrem – que molda em
extensões variáveis a construção de significado, especialmente o senso
locacional. A ecologia desempenha papel mesmo na formação de padrões
sociais e sociopsicológicos no contexto das relações e conflitos geopolíticos.
A Natureza seria a categoria de fenômenos mais profundos, porém
abertos. É o domínio da causalidade física, de influxos permanentes; da
gravidade, da termodinâmica, das dinâmicas ecossistêmicas (que estariam em
nível menor de profundidade em relação à gravidade, à termodinâmica). Mas
estas “camadas” de profundidade retroagem-se e podem participar de dinâmicas
interdependentes com os domínios das duas categorias menos profundas.
Propõe-se inquirir e destacar quantos estratos seriam necessários para
proporcinar uma estrutura conceitual discursiva às dinâmicas sociobiofísicas
mutáveis.
Ainda no arcabouço compreensivo do quadro de referência, Bhaskar
(2014, p.34) argui, a respeito do dilema agência/estrutura, que a estrutura foi
sempre necessária para a agência, ao mesmo tempo a agência reproduziu ou
transformou estruturas (BHASKAR, 2013, p. 276). Archer (2000, p. 465),
propugna que as estruturas sociais são ordinariamente dependentes de
sincronismos de interações e, os efeitos causais das estruturas sociais, sempre
mediados pelas práticas humanas (agência). Jessop (2005) propõe uma
abordagem “estratégico-relacional” na qual a relação agência-estrutura é
pensada em termos de propriedades emergentes, incluindo, além de
coordenadas espaço-temporais, propriedades relativas a padrões seletivos de
restrições, oportunidades e horizontes de ação espaço-temporais.
O Realismo Crítico argui também pelo princípio do “relativismo
epistemológico”, que pondera que mesmo com o comprometimento das
pesquisas a partir do assentimento com a existência – relativamente - autônoma
da realidade que pode ser pensada, dotada de sua natureza particular que arbitra
o emprego metodológico, as possibilidades de conhecimento condicionam-se na
transitoriedade histórica onde se dão descrições particulares. Implica na
falibilidade dos relatos sobre a realidade, o perspectivismo dos critérios de
racionalidade das representações da realidade. Pries (2005, p. 176.Tradução
nossa) assinala que uma perspectiva relativística aplicada à visão geográfica
permite uma melhor discussão sobre mudanças de alcance e escopo,
contemplando “aglomerações pluri-locais, densas e duradouras de práticas
sociais, símbolos e artefatos”3.
3 - Considerações finais
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“allowing for the formation of pluri-local, dense and durable agglomerations of
societal practices, symbols, and artifacts” (PRIES, 2005, p.176).
que correspondam a ambientes de controle ou simulação correspondem em
baixo grau ao que se pode encontrar na realidade complexa. Também no
domínio da geografia, em sistemas abertos, padrões de regularidades,
dependendo da integração de seus elementos no espaço-tempo que não são
causalmente indiferentes entre si, são transitórios e locacionalmente
circunscritos.
Desta forma, ao invés de dirigir a atenção para as regularidades dos
fenômenos, o Realismo Crítico procura pelos mecanismos e poderes causais,
seu modo de operação e condições de ativação, a natureza da estrutura que
faculta aos mecanismos existirem. A abordagem geográfica encontra uma
profícua oportunidade como campo epistêmico para aproximar-se e situar este
desafio investigativo.
Os fenômenos são compreendidos indagando-se pelas suas causas e
analisados no bojo dos processos em que se desencadeiam e desenvolvem.
Busca-se identificar as estruturas e daí suas potencialidades - as quais norteiam
o curso dos eventos -, bem como a forma característica do funcionamento destas
estruturas e, a partir daí, elucidar os modos de atuação.
Um fenômeno ou conjunto de fenômenos pode ser resultado de ação de
mais de um poder causal, por vezes contraditórios; por sua vez, um poder causal
pode interagir com tendências diferentes levando a fenômenos variados.
Todavia, não se coíbe uma possível referência a uma prioridade causal, dado
que algumas estruturas são mais importantes do que outras em moldar
resultados particulares; o que é mais central ou importante vai depender de quais
objetos do conhecimento está se tentando explicar.
O Realismo Crítico apresenta uma percepção de níveis ontologicamente
estratificados, com camadas diversamente profundas e/ou diversamente amplas
da realidade. O princípio da transitividade do conhecimento possível acerca de
objetos empíricos e fenômenos admite que a apreensão cognitiva da natureza
só é possível por descrições que são, inerentes, social e historicamente
variáveis. Constituem-se como construções epistêmicas expressadas
intersubjetivamente, implicando em nuances de sobreposição das
representações do “natural” e do “sociocultural”. A posição não-reducionista
aborda fenômenos ecológicos enquanto fenômenos sistêmicos abertos,
compreendidos em interrelações estruturais complexas transitivas entre si.
Discutiu-se a abordagem do Realismo Crítico no intuito de permitir
interfaces metodológicas relativas às múltiplas dimensões e facetas que um
problema de pesquisa suscita, situadas numa esfera abrangente, mas coerente
e estruturada de aproximações e tratamentos do problema sob um prisma
geográfico compreensivo.
4 - Referências