Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
S ,R F
RAIAM SANTOS
Copyright © 2019 by Kobe Editora.
All Rights Reserved.
Dedico este meu 8o livro aos meus dois pais Francisco e Grant, a minha mãe
Marta, ao psicoterapeuta Akim Rohula Neto, aos Comandantes Sérgio
Siqueira e Tiago Lemos, e aos amigos Patrick Almeida, Kristina Malinova,
Jader Pires, Guilherme Poleto, Norton Nobre, Erik Marçal, João Paulo
Martins e Guilherme Alves.
Junto com isso, esse livro não teria sido o mesmo sem a ajuda dos meus
correspondentes internacionais Andrey Pushkin, Victoria Kom, Ekaterina
Shishkova, Lilia Zelenskaia e Tomer Savoia.
P Q E E E L ?
Quando manifestei aos meus amigos mais próximos o meu desejo de
assistir a Copa da Rússia ao vivo, recebi feedbacks agressivos como:
Г=G
Д=D
Ж=J
П=P
И=I
Л=L
Ю = IÚ (como Yuri)
Я = IA (como Rússia)
З=Z
Agora chegou a hora das letras da confusão. Elas são parecidas com as
nossas mas têm um som diferentão.
B = V (como em vaca)
Н=N
P=R
Y=U
Х = R (como Raiam)
E ainda tem umas letras mais toscas ainda que não têm som.
Ы = Uh (como se você estivesse gemendo durante o sexo)
Ь = sem som
Ъ = sem som
Essas duas últimas só existem para seguir uma regra gramatical que vai ser
muito complicado explicar aqui.
Dito isso, só lembra que elas são praticamente mudas, já é?
Acho que com esse pouquinho de informação, você já consegue ler um
menu de restaurante em Moscou e não morrer de fome.
Se ficou curioso e quiser aprender mais do idioma russo de graça, baixa o
app Duolingo e seja feliz.
De nada!
CAPÍTULO 6.
G P C
Antes da Copa começar, tanto os jornalistas esportivos quantos os próprios
jogadores reclamaram da distância enorme entre as cidades-sede,
especialmente Kaliningrado, Sochi e Yekaterinburg.
O engraçado é que o Comitê Organizador do evento fez questão de
minimizar os problemas logísticos implantando a ideia dos trens gratuitos e
colocando todos os 12 estádios na parte europeia da Rússia, que representa
menos de 25% da extensão territorial do país.
Essa decisão de europeizar a Copa acabou deixando de fora a 3a maior
cidade do país Novosibirsk (1.4 milhões de habitantes) e incluiu Saransk,
apenas a 64a cidade mais populosa da Rússia com uns 300mil gatos
pingados morando lá.
É como se colocassem a Copa do Brasil para ser jogada numa cidade tão
aleatória quanto Santarém no Pará ou em Governador Valadares, Minas
Gerais.
Não sei se você percebeu mas a águia que é símbolo do Brasão de Armas da
Federação Russa tem duas cabeças, uma olhando para a Europa e outra
olhando para a Ásia.
Mas Raiam, como você sabe o que é Ásia e o que é Europa?
Bom, é só procurar os Montes Urais no mapa e traçar um meridiano.
Dentro da Rússia, tudo que fica à esquerda dos Urais é considerado parte da
Europa. O resto é Ásia.
O engraçado é que 100% dos outros 200 e poucos países do mundo
caberiam nesse resto da Rússia aí.
Até o Canadá que é o vice-campeão na Copa do Mundo dos quilômetros
quadrados consegue ser menor que a “Rússia Asiática”.
Sim, a maior parte do território da Rússia fica na Ásia mas eles competem
nas eliminatórias europeias da UEFA e no concurso musical EuroVision.
Em termos futebolísticos, escolher jogar na Europa não foi uma boa ideia,
pelo menos na minha humilde opinião.
Desde que eu comecei a seguir futebol na Copa de Romário 1994, os russos
ficaram fora das copas de 1998, 2006 e 2010 porque apanharam nas
eliminatórias e repescagens.
Tenho plena certeza de que a vida da seleção deles seria muito mais fácil se
eles jogassem as eliminatórias asiáticas competindo contra potências do
esporte como Butão, Nepal e Mongólia ao invés de bater de frente com os
exércitos midiáticos e multimilionários de Cristiano Ronaldo, Harry Kane e
Luka Modric na UEFA.
Diferenças territoriais à parte, a Rússia é grande pra cacete.
Com um território que cobre mais de 17 milhões de km2, a Rússia é
disparadamente o maior país do mundo. O segundo maior, o Canadá, tem
um pouquinho mais que a metade da área da Rússia.
O país é tão grande que se estende por 11 fusos horários.
Para você ter uma ideia, o Brasil Continental tem só 3 horários diferentes:
Brasília (UTC-3), Amazônia (UTC-4) e Acre (UTC-5).
Coloquei “Brasil Continental” ali em cima porque tem o fuso horário do
arquipélago de Fernando de Noronha também (UTC-2).
Vou ilustrar essa diferença de fuso horário na gigantesca Federação Russa
com um exemplo do futebol.
Vamos dizer que você mora em Moscou e vai encontrar com os amigos
depois do trabalho para assistir a final da liga local entre CSKA Moscow e
Zenit San Petersburgo às 22h da noite.
O torcedor do CSKA que mora à beira do Oceano Pacífico em Vladivostok
vai precisar acordar às 5 da manhã para assistir o mesmo jogo, tá ligado?
Isso seria bem normal se Vladivostok e Moscou não fossem no mesmo país
e consumissem os mesmos canais de televisão.
Que merda, né? Imagina se o Silvio Santos aparecesse na tarde de domingo
no Rio de Janeiro e só na manhã de segunda-feira em Brasília?
Falando em Vladivostok, eu não consigo olhar para o mapa da Rússia sem
pensar no meu jogo de tabuleiro favorito na infância: o War.
Se você cresceu no Brasil nos anos 1980 e 1990, eu aposto que você rolou
os dados para conquistar territórios como Moscou, Omsk, Aral, Tchita,
Dudinka, Sibéria e Vladivostok.
Sim, é praticamente tudo Rússia ali.
Além de impulsionar minha paixão por geografia, foi o War que me
inspirou nessa missão de visitar/conquistar todos os países da Europa.
Agora se liga na lista dos 14 países que fazem fronteira com a Rússia:
Azerbaijão, Bielorrússia, China, Estônia, Finlândia, Geórgia, Cazaquistão,
Letônia, Coreia do Norte, Lituânia, Mongólia Noruega, Polônia e Ucrânia.
Apesar de não fazer fronteira com os Estados Unidos, ambos países estão a
apenas 4km de distância.
As ilhas de Little Diomede (EUA) e Big Diomede (Russia) ficam lado à
lado lá no meio do estreito de Behring entre a extremidade leste da Rússia e
a pontinha do Alaska americano.
Falando em Alaska, o mesmo já foi território russo.
Em 1877, os americanos compraram o Alaska inteiro por 7.2M de dólares.
Se atualizarmos esse valor para os dólares atuais, o Alaska inteiro valeu 105
milhões de dólares. Isso é menos da metade do preço da transferência do
menino Neymar entre o Barcelona e o PSG.
Conheço pessoalmente pelo menos umas 50 pessoas que teriam bala na
agulha para pagar essas 100 pratas aí pelo Alaska inteiro. Haja petróleo,
viado!
Será que foi um negócio lucrativo para os americanos? Bom, de acordo com
o U.S. Bureau of Economic Analysis, o Alaska fez quase 53 bilhões de PIB
no ano de 2017.
Tá ruim não...
P 2
ROSTOV-ON-DON
CAPÍTULO 7.
C
Mal pisei na Rússia e já comecei a ter problemas com os locais.
É o seguinte: meu vôo da Pobeda Airlines entre Tivat (Montenegro) e
Rostov-on-Don (Rússia) tinha uma troca de aviões no aeroporto Moscou
Vnukovo.
No primeiro voo, o staff da companhia aérea me cobrou o equivalente a 150
reais pela bagagem de mão.
Querendo ou não, paguei quase o mesmo valor para a taxa de bagagem do
que pela passagem inteira.
Até aí tudo bem. São ossos do ofício que acontece com todo nômade
digital.
O problema é que o staff da Pobeda em Moscou queria me cobrar os 150
reais de novo para o próximo voo. Aí já é sacanagem, né?
O pior de tudo: ninguém ali no guichê da companhia falava inglês e eles
tiveram que chamar um funcionário no outro terminal para me explicar o
que estava acontecendo.
Tá aí outro grande problema que identifiquei na Rússia: as pessoas não
falam inglês.
O engraçado é que eles são meio cabeça-dura e tentam falar russo com
você. E ficam bem putos e frustrados quando veem que você não tá
entendendo porra nenhuma.
Eles nunca tiveram muito contato com estrangeiros então, na mentalidade
deles, todo mundo é obrigado a falar russo.
Em países como Montenegro ou qualquer outro lugar dos Bálcãs, os locais,
quando veem que você não fala o idioma deles, tentam se expressar ao
máximo no inglês.
Na Rússia não.
Pensa comigo: como é que um funcionário da indústria do turismo num
aeroporto internacional em plena Copa do Mundo não fala inglês?
Faz sentido! Até bem pouco tempo atrás, Moscou era o centro do mundo
deles.
Os peões do Tadjiquistão que vinham trabalhar como pedreiros em Moscou
falavam russo, os georgianos também, assim como os armenos, os
chechenos, os tártaros e também os estudantes de países socialistas como os
angolanos, os vietnamitas e os cubanos que popularam as salas de aula de
Moscou durante décadas e décadas.
Na mentalidade deles, é o mundo que tem que se adaptar à Rússia e não o
contrário. Meio parecido com o que acontece com os Estados Unidos hoje
em dia.
Para piorar a situação, os funcionários da empresa foram extremamente mal
educados comigo.
Só que tem um detalhe que não tem nada a ver com o caráter do cidadão
russo: descobri que a Pobeda é a companhia aérea mais lixo do país e seus
funcionários são treinados para serem escrotos com os passageiros.
O racional é o seguinte:
Tenho amigos de etnia russa que morrem de medo dos Kavkaz (Кавказ ) ,
nome dado pelos locais para essa galera de traços árabes que veio ali das
montanhas do Cáucaso.
Por que isso? Porque eles têm fama de porradeiros.
Não sei se no Brasil temos um grupo assim mas acredito que chega perto do
“cabra macho” do Ceará que não tem medo de nada e de ninguém.
O mais engraçado de tudo é que os kavkaz lembram muito fisicamente a
família do meu avô Gonçalo lá do sertão do Ceará.
Aparentemente, o pessoal do Cáucaso é criado para saber se defender de
qualquer maneira.
Enquanto a criança brasileira de hoje em dia chora para papai e mamãe
quando sofre bullying na escola, o menino do Cáucaso é educado para
resolver tudo na base da porrada e não levar nada pra casa.
Apanhou na rua? A última coisa que você pode fazer é voltar para casa
chorando.
O resultado desse fenômeno cultural é a hegemonia histórica do russo-
caucasiano na luta olímpica.
Segura essa estatística aqui: a Rússia papou 66% das medalhas em
campeonatos mundiais e Olimpíadas nas modalidades luta livre e greco-
romana entre 1997 e 2010.
Não preciso nem dizer que quase 100% das medalhas vieram de atletas do
sul do país.
Agora pega aí os principais lutadores russos do MMA da atualidade:
Rustam Khabilov e Khabib “The Eagle” Nurmagomedov.
Com esse nome de Khabib já dá para sentir que o cara tem um background
muçulmano, né?
Pois bem... ambos são kavkaz com origem em Makhachkala (em português
Mar-rá-ti-ca-lá), uma das principais cidades da República do Daguestão.
Falando em Khabib, depois coloca lá no Google “Khabib Nurmagomedov
fights a bear” e tire suas próprias conclusões.
Situada na extremidade sul da Rússia perto da fronteira com a Geórgia e
banhada pelo Mar Cáspio, o Daguestão é uma república muçulmana que faz
parte da Federação Russa na atualidade mas que lutou pela independência
no final dos anos 1990 junto com a Chechênia.
Vale lembrar que o nome oficial do país-tema desse humilde livro é
Federação Russa.
Dentro da Federação Russa, existem 22 repúblicas autônomas. Essas
repúblicas têm língua oficial própria, constituição própria mas não são
totalmente independentes porque quem tem a palavra final em tudo é o
senhor Vladimir Putin.
Daguestão, Chechênia e Crimeia são exemplos dessas repúblicas autônomas
dentro da Federação Russa.
Falando nisso, entre todos os países da Europa filiados a UEFA, a Rússia é
o país com maior número de habitantes muçulmanos.
Para você ter uma ideia, o número de muçulmanos em território russo
supera o número total de habitantes em Portugal.
Antes de pisar na Rússia e conhecer o cara do avião, eu não tinha a mínima
noção dessa influência muçulmana dentro do país.
Dito isso, cada dia que eu passava em território russo, mais sinais eu via da
influência do povo de Maomé na cultura loira e de olhos azuis do país que
dá nome a esse humilde livro.
Tomar chá no jantar, comer döner kebab, fumar narguilé na noitada são
alguns dos sinais que me fizeram lembrar dos meus tempos de Turquia.
Não sei se você lembra mas, no início da década de 2010, tinha um time do
Daguestão chamado Anzhi Makhachkala que era patrocinado pelo
bilionário muçulmano-russo do setor do petróleo Suleyman Kerimov.
Teve uma temporada que o Anzhi saiu comprando vários jogadores do
primeiro nível do futebol mundial.
Vale lembrar que a Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do
mundo, só perdendo para a Arábia Saudita.
Boa parte dessa riqueza mineral está enterrada ali na região do Cáucaso.
Lá pelos idos de 2011, O Anzhi botou os petrodólares (e petrorublos) para
jogo e tirou o camaronês Samuel Eto’o da Inter de Milão, o nosso ponta-
direita Willian do Shakhtar Donetsk, além de trazer a principal estrela russa
da época, Yuri Zhirkov.
Fora essa galera aí, Kerimov também trouxe para o Daguestão o nosso
lateral Roberto Carlos, o ex-Real Madrid Lassana Diarra, o Golden Boy
local Aleksandr Kokorin, o lendário técnico holandês Guus Hiddink... e
ainda construiu um estádio supermoderno às margens do Mar Cáspio em
Makhachkala.
Para você ter uma ideia, o Anzhi transformou o Eto’o, que já tava bem
velho com seus 30 e muitos anos, no jogador mais bem pago do mundo com
um salário anual de 21 milhões de euros.
Sim, o Eto’o quase quarentão ganhava mais do que o Messi em seu auge...
tudo por causa dos muçulmanos dos petrorublos).
No câmbio de hoje, isso aí corresponde a mais de 8 milhões de reais por
mês. Por mês, mano! Brabo, né?
Sim, tem dinheiro (e petróleo) pra cacete ali no Cáucaso.
Só que a queda brusca no preço do barril de petróleo e algumas
instabilidades políticas na Chechênia e no Daguestão fizeram com que a
fonte secasse e o Anzhi dos galáticos praticamente acabou.
A situação estava tão braba em Makhachkala que, antes do quebra-quebra,
os jogadores tinham que morar, treinar e jogar sem torcida na longínqua
Moscou, a quase 2mil quilômetros da base.
Voltando ao assunto do avião. Acabou que a Pobeda venceu a batalha
apesar da ajuda dos meus advogados russos ali da fila.
A única funcionária que falava inglês fechou a cara e jogou bem aberto
comigo:
É! Em 58 foi Pelé
Em 62 foi o Mané
Em 70 o Esquadrão
Primeiro a ser tricampeão
Ôôô 94 Romariô
2002 Fenomenô
Primeiro tetracampeão
Unico penta é o Brasilzão
Com uma exibição apática da nossa Seleção e alguns erros de arbitragem, a
Suíça acabou empatando aquele jogo e a galera de amarelo voltou da
Rostov Arena com cara de bunda.
Depois de Rostov-on-Don, as 50 pessoas do Movimento Verde e Amarelo
viraram dezenas de milhares nos estádios e FanFests da Rússia e alguns
milhões no Brasil.
CAPÍTULO 10.
O ESPÍRITO DE CATARINA
Por se tratar de um evento praticamente masculino, eu diria que é muito
difícil pegar alguém durante qualquer Copa do Mundo.
Pensa comigo: mulher gosta de paisagens, de fazer compras e de visitar
lugares com arquitetura bonita.
São pouquíssimas mulheres que são loucas suficientes para juntar as
amigas, gastar dinheiro visitando cidades cinzentas no meio da Rússia e
pagar 800 reais para assistir um único jogo de futebol.
Essa Copa teve um agravante: as mulheres ocidentais ficaram com medo de
viajar sozinhas por causa da má imagem que a Rússia tem do lado de cá do
mundo.
Lembra que eu falei no início do livro? Pelo menos na Europa Ocidental, a
Rússia tem fama de país misógino, machista, homofóbico e perigoso.
As poucas torcedoras estrangeiras que eu vi pelas ruas da Rússia estavam
ali viajando com seus respectivos maridos e namorados.
As pouquíssimas viajantes solteiras fizeram a festa.
Fica a dica para a mulherada: se você quiser se sentir como a Gisele
Bündchen, vá para uma Copa do Mundo. É papo de 10 homens para cada
mulher.
Além de ficar com a auto estima lá em cima, você só vai encontrar homem
intelectual, rico e pré-selecionado.
Afinal, não é qualquer zé ruela que consegue parar o trabalho e ficar um
mês inteiro viajando para assistir futebol.
Após o jogo Brasil x Suíça, a galera foi para uma balada local à beira do
Rio Don chamada Red Burger. Só que tinha uns 800 homens e 20
mulheres... quase todas acompanhadas.
Cientes da desvantagem numérica, alguns brasileiros que eu conheci no
albergue combinaram de ir para a zona para afogar as mágoas e relaxar um
pouquinho após aquele amargo empate.
Ao contrário do nosso querido e amado Brasil, prostituição é uma atividade
ilegal em território russo.
E é aí que entra a lei mais poderosa do mundo: a lei da oferta e da procura.
Com a altíssima demanda gerada pelo público masculino da Copa do
Mundo, as poucas profissionais de Rostov-on-Don estavam cobrando em
torno de 25mil rublos (R$1.500) pelo programa de 1 hora.
Para você ter uma ideia, uma profissional de engenharia recém-formada
ganha uns 20mil rublos para trabalhar o mês inteiro (e ainda tem que pagar
imposto).
O engraçado é que eu escutei falar que jovens garotas “normais” das
cidades-sede fizeram bico de prostitutas e conseguiram comprar
apartamentos depois de 1 mês lucrando com o fluxo gringo da Copa.
Top né? Isso que eu chamo de relações internacionais.
Quem fica em hostel para economizar dinheiro com acomodação não vai
pagar R$1.500 para uma simples aliviada, né?
Não preciso nem dizer que os caras voltaram para o hostel de barriga vazia
e reclamando horrores da vida noturna daquela cidade do sul da Rússia.
Uma das minhas principais virtudes é aprender com meus próprios erros e,
mais ainda, com o erro dos outros.
No dia seguinte, minha estratégia foi um pouquinho diferente.
Primeiro de tudo: usei a tática do lobo solitário.
Quanto menos brasileiros por perto, mais atraente e mais exclusivo você
fica.
Segundo elemento: larguei o albergue e reservei um AirBnb um pouquinho
mais afastado do centro da cidade.
Por ser uma noite pós-jogo, a demanda estava baixa e o preço da
acomodação havia caído uns 70%.
Afinal, boa parte dos brasileiros já havia partido para a cidade do jogo
contra a Costa Rica, São Petersburgo.
Como eu já sabia que teria problemas de números se eu saísse para a
noitada em Rostov com milhares de machos brasileiros na cidade, resolvi
investir pesado no Tinder e convidei uma gata local para um programa bem
comportado: assistir o jogo da noite na Fifa FanFest de Rostov.
Eis que me aparece um mulherão de quase 1,80, cabelo na cintura e pinta de
modelo Victoria’s Secret.
Geralmente a internet engana, né?
Só que, em Rostov, minha crush era muito mais atraente em pessoa do que
nas fotos.
Por regras da FIFA, as FanFests da Rússia só estavam autorizadas a vender
cerveja Klinskoye e Budweiser.
Fora isso, só água, refrigerante e suco de garrafa.
Ofereci cerveja para a gata mas ela preferiu ficar na Coca Cola.
Foi aí que eu descobri dois elementos interessantes da cultura local: em
geral, a mulher russa não bebe cerveja e nem vodka.
Falando nisso, a vodka está para os russos assim como a cachaça está para
nós brasileiros: uma bebida famosa no mundo todo... mas que, no quintal de
casa, é coisa de mendigo e bebum de classe baixa.
Ou você nunca percebeu que, em lugares VIP como o Leblon do Rio de
Janeiro ou o Itaim Bibi de São Paulo, as patricinhas locais preferem
caipivodka e rejeitam a caipirinha original de cachaça 51 Pirassununga e
Velho Barreiro.
Quando o cara quer ostentar numa balada no Brasil, ele coloca um garrafão
de vodka Absolut ou Grey Goose na mesa.
Lá na Rússia, isso não funciona não.
Falando nisso, a garrafa de vodka na balada chique de Rostov custava o
equivalente a uns 80 reais.
As locais preferem beber vinho, champanhe e drinks coloridos. Pelo menos
na Copa, deu para perceber a preferência das gatas pelo Aperol Spritz e
pelo tubo de narguilé com sabor de frutas.
Tem dinheiro e quer ostentar na Rússia? Desce champagne e coloca um
shisha (narguilé) na mesa.
Acabou o jogo da FanFest e a gata me levou para um restaurante
chiquezinho perto do Red Burger à beira do rio Don.
Paguei uma taça vinho para ela e ficamos conversando e andando de mãos
dadas estilo namoradinho até as 3 da manhã.
Rolou beijo, Raiam?
Que nada! Fui recusado pelo menos umas cinco vezes.
Não é muito comum nem socialmente aceitável beijar em público...
especialmente quando você está com um estrangeiro.
Assim como em outros países do norte da Europa, se você beija alguém é
quase que 100% garantido que vai rolar algo a mais depois.
Não, não é que nem no Brasil.
Acho que foi ali que percebi a primeira gota de preconceito em 4 dias de
Rússia. Não diria que se tratava de racismo. Acho que era mais inveja
mesmo.
Alguns carros passavam por nós e gritavam várias gracinhas em russo para
ela. Segundo ela, eram machistas mal-educados do Cáucaso.
Ela me explicou que casal de namorado até se beija em público mas não é
aquele beijaço desentupidor de pia à la Brasil que a gente vê nos paredões
das baladas do Rio e de São Paulo.
Depois de muita insistência e pouquíssimo contato físico, eu finalmente
consegui convencê-la a “tomar um vinho e assistir Netflix” lá no
apartamento AirBnB que havia alugado.
Cataplei!
Vou ser bem sincero com você: nunca vi nada parecido.
Vou pular a parte gráfica porque, apesar da palavra “sexo” no subtítulo
desse humilde livro, Negro na Rússia não é um uma obra de contos
eróticos.
Dito isso, meu amigo o que foi aquilo?!
Não sei se você percebeu mas o nome do capítulo é Espírito de Catarina,
em homenagem a imperadora da Rússia do século XVIII e uma das
mulheres mais poderosas da história da humanidade, Catarina A Grande.
Segundo a lenda, Catarina gostava muito da coisa.
Para piorar a situação, seu marido o Imperador Pedro III, era brocha.
Um casamento entre um brocha e uma ninfomaníaca não pode dar muito
certo, né?
Para saciar sua vontade incontrolável, Catarina tinha um processo seletivo
bem desenvolvido para escolher seu line-up de amantes.
Junto disso, tinha um quartinho no palácio exclusivamente dedicado ao
vuco-vuco com os plebeus da cidade.
Top né? Se ficou curioso sobre a vida sexual da imperadora, procura sobre
as Lendas de Catarina aí no Google.
Depois de uma noite inesquecível e suada, a gata foi embora para casa de
Uber às 5 da manhã e eu caí no sono.
Ela não podia ficar porque tinha um casting em sua agência de modelos às 9
e precisava pegar seu book, seu kit de maquiagem e suas roupas.
Depois do casting, ela partiria para seu outro trabalho numa loja de roupas
de luxo num shopping do centro de Rostov.
Como na Rússia praticamente toda mulher é muito bonita, as modelos não
ganham muito bem e precisam de outro trabalho para complementar a
renda.
Quem ganha bem são as modelos russas que vão trabalhar em outros países.
E a grande maioria delas vêm dos cafundós mais isolados e aleatórios da
Sibéria.
Lá pras 10 da manhã, eis que sou acordado pelo barulho do interfone.
Pensei:
“Fora do comum!”
Amigo 4
O cara respondeu:
Só isso?
E eu:
“E isso aqui?”
Sim, esqueci que tinha 200 dólares ali.
Querendo ou não, aquilo ali era metade do salário mensal de muitos
trabalhadores daquele galpão da polícia russa.
Imagina se fosse no Brasil, hein?!
O intérprete da polícia subiu tanto no meu conceito que virou até meu
amigo no Instagram.
Ele até pediu para bater uma foto comigo. Depois que ele fez isso, o galpão
inteiro entrou na fila para tirar também.
Tenho quase certeza de que aquela galera ali nunca havia conversado com
um negro na vida.
E mais importante de tudo: ao contrário do que dizem por aí sobre a
corrupção do governo e da polícia russa, o policial não pediu nenhuma
fração daqueles 200 dólares como um agrado.
Ponto pra Rússia!
CAPÍTULO 15.
N P
Não sei se já deu para perceber mas a Rússia é um país diferente de tudo
que eu já vi no mundo.
Um exemplo? Enquanto o mundo todo faz campanha para estimular o uso
de preservativos e para prevenir doenças sexualmente transmissíveis, a
Rússia faz o caminho inverso.
Como assim, Raiam?
Antes de tomar bolo da gata do wakeboard no D.O.M. na noite anterior, eu
passei numa farmácia local para comprar um pacote de camisinha.
Tem que estar sempre preparado, né? Vai que acontece alguma coisa...
Lembra que eu falei que o custo de vida na Rússia é extremamente baixo
comparado à Europa Ocidental, aos Estados Unidos e até ao nosso Brasil?
Bom, isso não se aplica para camisinha.
Irmão, camisinha é extremamente cara na Rússia.
São mil rublos pelo pacote com 12 camisinhas, 83 rublos para cada uma.
Isso dá mais que 1 euro e uns 5 reais por cada camisinha.
Se isso já é caro para mim, imagina para o adolescente russo em idade
universitária?
Para medir isso em termos relativos, vou pegar isso como porcentagem do
salário mínimo.
No Brasil, a camisinha custa R$1 e o salário mínimo 1.000. Isso significa
que o cidadão macho brasileira gasta 0,1% do seu salário em uma única
gozada.
Isso sem falar nas camisinhas gratuitas que são distribuídas no carnaval e
nos postos de saúde.
Agora vamos para a Rússia.
Uma camisinha custa 83 rublos e o salário mínimo é 9.489 rublos. A
proporção sobe para 0,9%.
Em termos relativos, é 9x mais caro transar de maneira segura na Rússia do
que no Brasil.
Não tenho essa informação aqui mas aposto contigo que os postos de saúde
da Rússia não distribuem camisinha de graça que nem o SUS.
Conclusão: dói muito mais no bolso do cidadão russo normal... e nego
acaba não usando.
Eu fazia parte de um grupo de Whatsapp com outros amigos brasileiros e
solteiros que estavam se aventurando pela Rússia assim como eu.
Quando levantei essa questão da (falta de) camisinha, foi meio que um
consenso geral ali que as russas não gostavam e não estavam acostumadas a
transar com proteção.
Foda, né?
Perguntei a muitos locais a razão da camisinha ser tão cara.
A grande maioria deles respondeu que não sabia.
Outros contaram que era apenas uma herança soviética. Praticamente não
existia camisinha em território russo na época do regime né?
Alguns outros disseram que era porque a Rússia não produzia camisinhas
internamente e eles tinham que importar tudo da Europa.
Minha versão: por causa daquele “Efeito Vodka” que eu descrevi no
capítulo de Rostov, o governo lasca imposto em qualquer tipo de
mecanismo que segure as taxas de natalidade do país.
Outra coisa que é extremamente cara em território russo é a pílula do dia
seguinte.
Pelo menos os governantes de lá pensam no longo prazo, né?
O engraçado é que o imposto em cima do álcool é baixíssimo.
Já viajei por quase 90 países e ainda não conheço um lugar onde goró é
mais barato do que na Rússia, especialmente o goró pesadão com alto teor
etílico.
Isso me lembra um fenômeno que acontece hoje em dia na Venezuela da
hiperinflação.
Já viu o preço da camisinha e do papel higiênico em relação ao salário
mínimo da Venezuela?
O negócio é tão caro mas tão caro... que ninguém usa.
Na Rússia, o preço alto da camisinha parece ser uma mensagem subliminar
de Vladimir Putin para os habitantes:
O Di María
O Mascherano
O Messi tchau, Messi tchau
Messi tchau, tchau, tchau
E os argentinos
Estão chorando
Porque essa Copa
Eu vou ganhar
Para quem só tinha uma música na Copa de 2014, já dava para gravar um
álbum inteiro só com música para zoar argentino:
Se você é argentino
Então diz como é que é?
Ter apenas duas Copas
Uma menos que o Pelé
Se você é argentino
Então vai tomar no cu
Tem apenas duas Copas
Igualzinho ao Cafú
Tinha também uma clássica que restou da Copa de 2014. Sob a melodia de
Luz de Tieta do célebre Caetano Veloso:
Eta Eta Eta Eta
Messi não tem Copa
Quem tem Copa é o Vampeta
E tinha mais uma outra composição do Movimento Verde Amarelo que
também caiu na boca da nossa torcida. Na melodia de Pelados em Santos
dos Mamonas Assassinas, tinha:
Brasil!
Nós estamos contigo
Somos uma nação
Não importa o que digam
Sempre levarei comigo
A camisa amarela
Cinco taças na mão
Essa Copa é nossa
Vai começar a festa
Sim, elas ligam muito para aparências externas e têm a auto estima lá
embaixo.
Para corrigir isso, é só colocar o espírito de uma carioca dentro do corpo de
uma russa. Uma coisa que a mulher carioca tem de sobra é auto estima.
É impressionante como a própria mulher russa acaba sendo misógina!
Conheci mulheres russas maravilhosamente lindas e inteligentíssimas que
parariam qualquer quarteirão no Rio de Janeiro. O problema é que elas têm
a auto estima baixa e se acham feias.
É por essas e outras que você vê mulheres belíssimas com russos feios,
gordos e carrancudos pra cima e pra baixo.
A misoginia e o patriarcado estão tão intrínsecos na cultura deles que a
própria mulher se coloca na posição de inferioridade.
Vamos pegar o exemplo da própria Lilia.
A Lilia deixou muito claro que condena o feminismo e que seus valores
pessoais são muito mais soviéticos do que ocidentais.
Ela é filha de um diretor de uma empresa multinacional na Rússia. Família
tradicional e extremamente endinheirada, mesmo para os padrões russos.
Além disso, ela estudou nas melhores escolas de São Petersburgo, nas
melhores universidades da Rússia inteira, ela ganha bem como professora e
ganha melhor ainda como guia turística nos fins de semana.
Independent woman na veia!
Hmmm, não!
Ela disse que não passa pela cabeça dela gastar um centavo quando está
saindo com o homem.
E isso me traz a umas das frases mais marcantes do livro do Peter
Pomerantsev que eu citei algumas vezes ao longo desse humilde livro.
Perguntada sobre essa misoginia que eu critiquei ali em cima, uma
entrevistada do Peter soltou essa pérola:
“Ao invés de tentar mudar os homens (o que vai levar uns 200 anos anos),
nós temos que tirar o máximo deles agora”
Voltando ao caso da Lilia.
Taxi? É ele que tem que pagar.
Jantar? É ele que tem que pagar.
Drinks? É ele que tem que pagar.
Mas Lilia, você tem seu próprio dinheiro! Pra quê isso?
Na Rússia, o homem tem que tomar as rédeas da relação e pagar tudo.
Mas e quando o homem que você gosta não tem dinheiro para bancar isso
tudo?
No Brasil (e principalmente na Europa Ocidental) não é muito incomum
encontrar mulheres ricas e bem sucedidas com maridos que ganham menos
que elas.
Para mim, isso é a coisa mais normal do mundo. Eu mesmo sempre brinco
que minha esposa será mais rica e mais inteligente que eu.
Não só a Lilia de São Petersburgo mas aquela outra minha amiga trintona
de Moscou deixaram escapar que mulher russa não sai com homem que
ganha menos que ela. Isso é praticamente uma regra da sociedade local.
O próprio Tomer do “Ahuyenna Bratan” contou uma história que me deixou
levemente boquiaberto.
Ele estava quase namorando com uma russa de Moscou e foi encontrá-la
num restaurante chique do centro da cidade.
Sua crush havia jantado com uma amiga, o Tomer chegou umas duas horas
depois e pediu uma Coca Cola.
Na hora de pedir a conta, a russa ficou extremamente chateada porque
Tomer não quis pagar a conta inteira.
Como assim você não vai pagar a conta?
Ué? Mas vocês duas fizeram uma refeição completa. Eu cheguei duas horas
depois e só tomei uma Coca Cola.
Discute daqui, discute dali, eles decidiram dividir a conta mas sua gata saiu
bem triste.
Estranho isso né?
CAPÍTULO 23.
LEI DE GIL
Quando eu tinha uns 12 anos de idade, o Corinthians tinha um camisa 10
chamado Gil.
Um belo dia, Gil foi dar uma entrevista à beira do gramado para um
repórter de uma rádio evangélica.
Na saída do campo, o repórter perguntou para ele:
Falando nisso, os russos em geral são muito mais letradas do que nós
brasileiros. Talvez por uma herança soviética, eles lêem mais e discutem
mais sobre literatura, mesmo em conversas descontraídas de bar com
amigos.
Enquanto as minhas conversas de amigos lá no Brasil giram em torno de
dinheiro, sexo, mulher e futebol, eu juro para você que fiquei boiando
algumas vezes quando jovens russos citaram certas obras de ficção para
mim.
“Ué, cara. Mas você é escritor. Como é que você não conhece esse livro?!
Quer vergonha, cara”
Segundo estatísticas do NOP World Culture Score Index, o cidadão russo
passa 7 horas e 6 minutos da sua semana lendo alguma coisa.
Entre os 30 países da pesquisa, a Rússia ficou em 6o lugar. No outro lado da
tabela, mais precisamente na posição de número 26, está o nosso Brasil com
5 horas e 12 minutos de leitura por semana.
Vou até parar aqui para te elogiar. Você é brasileiro e está lendo um livro.
Parabéns, você é mais inteligente que 98% da nossa população.
CAPÍTULO 28.
M C ÉV
Dentre todas as cidades-sede daquela Copa do Mundo, Moscou era, com
certeza, a mais bombada.
Muitos torcedores adotaram a estratégia de alugar um apartamento em
Moscou e transformar a cidade em uma espécie de base.
Com isso, eles se deslocavam para as cidades-satélite apenas no dia anterior
aos jogos e economizavam uma grana legal de hotel.
Por causa desse fenômeno, a cidade estava entupida de gente mesmo em
dias que não tinham jogos no Luzhniki Stadium e nem no Spartak Stadium.
O epicentro de todo fervo de Moscou e, por que não, da Rússia inteira foi
numa rua de pedestres ao lado da Praça Vermelha: a Nikolskaya Ulitsa.
Não sei se você lembra mas Nikolskaya era a famosa Rua das Luzes, o
mesmo lugar daquela polêmica do “buceta rosa” no início da Copa.
Com 13 milhões de habitantes, Moscou é a maior cidade da Europa inteira.
Na verdade, se classificarmos Istanbul como Europa, Moscou passa para o
vice-campeonato.
Mas isso depende muito da interpretação da pessoa já que a maior parte da
capital turca fica na Ásia, do outro lado do Estreito de Bósforo.
Não consigo andar pelas ruas do centro de Moscou e pela Praça Vermelha
sem pensar nos cenários dos filmes do agente secreto James Bond 007.
Uma parada que me dá tela azul é que, assim como o Brasil é 055 e os EUA
é 001, o código internacional dos telefones da Rússia é 007.
007? Que ironia, né?
Minha família é fã #1 dos filmes do James Bond.
Meus tios passaram a juventude deles vibrando com a porradaria de Sean
Connery e Roger Moore e batendo várias bronhas para as Bond Girls
maravilhosas dos anos 1960 e 1970.
Influenciado por eles, eu joguei centenas e centenas de horas do clássico
game 007 Goldeneye para Nintendo 64 quando era menor.
Minha mãe proibia jogo de violência na minha casa mas eu ia para a casa
do meu primo Gustavo e me divertia distribuindo headshots nos
bonequinhos rivais.
Não sei se você lembra do jogo mas a grande maioria das missões do jogo
consistia em invadir bunkers soviéticos da KGB, lidar com mensagens
criptografadas e matar todo soldado e cientista soviético que a gente via
pelo caminho.
Quase 20 anos depois da época de jogador de Nintendo 64, lá estava eu na
terra dos inimigos do meu herói 007.
Falando em Praça Vermelha, uma surpresa que eu tive foi que o nome do
lugar não tem nada a ver com a cor vermelha do comunismo.
Sério eu jurava que, por ser o epicentro da União Soviética, a praça era
vermelha por causa do vermelho da bandeira comunista.
Como eu estava enganado?!
No idioma local, Praça Vermelha é Krasnaya Ploschad. Krasnaya significa
“vermelha” e Ploschad, “praça”.
Até aí tudo bem.
Só que Krasnaya também pode ser um derivado da palavra Krasnyi, que
também pode significar “bonito”.
Dito isso, a tal Praça Vermelha que a gente cresceu pensando que era uma
praça feita para o comunismo de Lênin na verdade é apenas uma praça
bonita.
Uma evidência disso é que o lugar recebeu o nome de Krasnaya Ploschad
em 1661... e o comunismo só foi aparecer quase 300 anos mais tarde com a
Revolução de Outubro de 1917.
Raiam é cultura, safado!
Outra curiosidade que eu encontrei em Moscou foi a presença de várias
bandeiras vermelhas com São Jorge, o Santo Guerreiro, matando um
dragão.
Quando vi aquilo, já lembrei dos terreiros lá do Rio de Janeiro, das
procissões do bairro de Quintino, das feijoadas do feriado de 23 de abril e
das rodas de samba de Zeca Pagodinho.
Descobri que, apesar de ser uma cidade de maioria cristã ortodoxa e que foi
oficialmente ateia durante as 7 décadas do socialismo soviético, Moscou
tem o Santo Guerreiro Ogum como seu padroeiro.
Agora segura outra aí: o que as bandeiras da Inglaterra, do FC Barcelona e
da República da Geórgia têm em comum?
Sim, a cruz vermelha de São Jorge.
Além de ser padroeiro de Moscow, o Santo Guerreiro também é padroeiro
da Inglaterra e da cidade de Barcelona. Mais além, a ex-república soviética
da Geórgia tem esse nome em homenagem a ele.
Salve Jorge! Ogunhê!
CAPÍTULO 29.
USA! USA! USA!
Meu contato na CBF já havia dito que, por ser em Moscou, uma cidade de
fácil acesso para brasileiros, estava extremamente difícil de conseguir
ingresso para ele mesmo... que dirá pra mim.
Com a mensagem do comandante Sérgio, já cortei aquela alternativa do
meu leque de opções.
Daí eu tive a brilhantíssima ideia de criar um cartaz com as inscrições “I
NEED A TICKET – БИЛЕТ”.
Essa estratégia já havia funcionado algumas vezes comigo, especialmente
nas Olimpíadas de Londres 6 anos antes e eu depositei todas as minhas
fichas em encontrar uma boa alma na porta do estádio que estivesse com
ingresso sobrando.
Para você ter uma ideia, no mercado secundário e nos grupos de Whatsapp,
as poucas pessoas com ingresso sobrando estavam vendendo eles por
US$800-US$1.000 sendo que o preço de face dos ingressos de categoria 3
para aquele jogo beirava os US$180.
Antes de ir ao estádio, convenci ao João a passar no esquenta da torcida
brasileira num bar lá no centro de Moscou.
Naquela altura do campeonato, o Movimento Verde Amarelo já estava
extremamente consolidado, tinha uns 10 grupos oficiais no Whatsapp e
tinha conseguido fazer a música do “58 foi Pelé” viralizar em terras
brasileiras também.
Depois da concentração dos torcedores no bar, cobrimos os 2km entre o
local e a estação do metrô num bloco como se estivéssemos seguindo um
trio elétrico no carnaval de Salvador.
Chutaria que tinha umas 3mil pessoas de verde e amarelo cantando ali na
rua.
Saporra entrou pra história, tá ligado? Se você é brasileiro, você com
certeza viu vídeos da invasão verde e amarela no metrô de Moscou.
Foi coisa de outro mundo. Dá arrepio só de lembrar daquele momento.
Vale lembrar que 9 milhões de pessoas usam o metrô de Moscou
diariamente. Isso é mais gente do que o metrô de Nova York e Londres
juntos. Ninguém ali tinha visto nada igual.
Uma coisa que vale frisar aqui: os russos não sorriem em público.
Se você anda pelas ruas com um sorriso no rosto, vão pensar que você é
idiota.
É sério isso! Tive a leve impressão de que sorrir sem razão significa
estupidez (ou que você é um torcedor brasileiro).
Segundo minha amiga Ekaterina de Moscou, o sorriso é parte da sua alma.
Pra quê você compartilharia sua alma com um estranho.
Ela contou de um dia que tinha conseguido o Diploma Vermelho (que é a
mais alta condecoração dentro de uma universidade russa) e queria sorrir
abertamente mas fez de tudo para não fazê-lo.
O negócio é tão sério que, se você sorrir para uma pessoa do sexo oposto,
ela vai pensar que você está flertando com ela.
Estranho né?
É impressionante como os moscovitas ficaram abismados de ver tanta gente
sorrindo ao mesmo tempo dentro do metrô.
João e eu entramos no vagão junto com a bateria e cobrimos os 20 minutos
do bar até o estádio cantando clássicos da resenha brasileira como “Se Essa
Porra Não Virar Olê Olê Olá”, “Barata da Vizinha” e “Vou Festejar”.
Assim que saí do metrô, fui recebido por um choque de realidade.
Num raio de 100 metros da estação, tinha pelo menos umas 200 pessoas
que tiveram a mesma ideia que eu de levar um cartaz para a porta do
estádio.
Quando vi aquilo, me despedi do João Hashtag e já comecei a procurar
algum bar com televisão ali naquela zona do Otkritie Arena.
Minha decepção pré-jogo deu lugar a uma euforia sem limites quando
escutei, numa rodinha de torcedores brasileiros na porta do estádio, que a
Coreia do Sul havia acabado de meter o gol contra a Alemanha.
Com aquele resultado, o Brasil não só escapava do nosso carrasco do 7 x 1
mas os caras seriam eliminados da Copa do Mundo na primeira fase.
Caralho, que emoção!
Para você ter uma ideia, a última vez que a Alemanha rodou na fase de
grupos de uma Copa do Mundo havia sido em na Copa da Itália em 1938,
um ano antes do início oficial da Segunda Guerra Mundial.
O entorno do estádio explodiu de alegria quando recebemos a notícia de
mais um gol da Coreia do Sul.
É, meus irmãos! Definitivamente, os alemães não têm muita sorte em
território russo não.
Na Segunda Guerra Mundial, as tropas de Hitler praticamente morreram de
frio no caminho para Moscou. Esses dias eu vi uma estatística que a Rússia
foi responsável por 95% das mortes do exército alemão entre 1941 e 1945.
Em resumo, os caras ganharam em praticamente todo lugar da Europa...
menos na Rússia.
Com a derrota da Alemanha para os coreanos, o sentimento era de que o
Brasil tinha passe livre para a final do Luzhniki Stadium no dia 15 de julho
em Moscou.
A verdade é que o caminho até lá não parecia ser tão difícil.
México em Samara? Tranquilo, o México nunca passa das oitavas de final
mesmo.
Depois Bélgica ou Japão em Kazan? Tranquilo. Os japoneses aprenderam a
jogar futebol com a gente na época do Zico e a tão promissora Geração
Belga sempre ficava na promessa.
A semifinal de São Petersburgo ia dar um pouquinho mais de trabalho.
Entre nossos possíveis adversários, estavam a França de Griezmann, a
Argentina de Messi, o Uruguai de Luis Suárez e Portugal de CR7.
Apesar da qualidade dos rivais, a confiança do torcedor brasileiro estava
mais alta do que nunca depois daquela derrota história dos alemães.
A impressão que ficou ali fora do Spartak Stadium (também conhecido com
o naming rights Otkritie Arena em tempos não copeiros) era que a Copa já
era do Brasil e que já era hora de reservar hotel e passagem de volta para
Moscou dali a 2 semanas.
O engraçado é que havia uma possibilidade muito real de nós sermos
eliminados logo ali.
Bastava a Sérvia ganhar da gente e a Suíça empatar contra a eliminada
Costa Rica a alguns quilômetros do Spartak Stadium na cidade de Nizhny
Novgorod.
Depois de mapear todas as minhas rotas de fuga, fiquei mais uma hora na
porta do estádio segurando meu cartaz e nada. Só dor no braço mesmo... e
litros e mais litros de inveja da galera que ia entrando no estádio e passando
os guichês de segurança.
Sabe quando todos os seus amiguinhos da escola são convidados para uma
festa e você foi o único que ficou de fora? O sentimento era esse aí. Tão
perto mas tão longe.
Uma coisa que arrancou um sorriso do meu rosto naquela situação semi-
dramática foi quando encontrei o Celso Portioli no meio daquele povão
vestido de verde e amarelo.
Olha o efeito Primeira Classe aí de novo.
Para quem não sabe, o Celso Portiolli é um apresentador do SBT.
Minha avó Jorgina é muito fã dele e não perde um programa do Celso há
quase 30 anos, desde que ele começou na TV com o Passa ou Repassa.
Tive que tietar.
Não por mim mas pela minha avó. Afinal, não há ninguém que eu amo mais
no mundo do que ela.
E não é que o cara foi humilde suficiente para atender meu pedido e
mandou um beijo pra ela no vídeo?
Não só isso! Ele gravou um outro vídeo no dia seguinte direto do aeroporto
mandando um outro beijo para minha avó.
Apesar da felicidade instantânea de conhecer pessoalmente um dos ídolos
da minha avó, eu continuava sem ingresso e o horário do jogo se
aproximava cada vez mais.
Faltando uns 20 minutos para o jogo terminar, eis que meu celular vibra.
Quem era? Comandante Siqueira.
Muito ruim! Você é uma vergonha para o nosso país, especialmente se você
for mulher e tiver mais de 25 anos.
Fez um filho?
Ruim! Você é um mau cidadão e está contribuindo para o declínio
populacional do nosso país.
Fez dois filhos?
Médio! Com dois filhos por família, a população do país ficaria estável no
médio prazo.
Fez três filhos?
Parabéns! Não há nada mais patriótico do que contribuir para que nossa
população cresça e que possamos povoar as áreas remotas da Sibéria.
Vamos te encher de benefícios!
Agora se liga na lista de regalias que a Katherine tem:
- cesta básica de 1 a 3 vezes por ano
- estacionamento gratuito nas ruas de Moscou
- Desconto considerável no IPVA do carro da família
- Colônia de férias gratuita para os três filhos
- Transporte urbano (metrô e ônibus) gratuito para os 4 membros
da família
- Dinheiro para comprar uniforme escolar para as crianças
Fora isso, ela ainda recebia um benefício extra por ser filha de mãe solteira
e também uma pequena mesada de 3.500 rublos do governo por seu
excelente desempenho acadêmico na Universidade de Moscou.
O engraçado é que eu liguei para a Katherine de novo na hora de preparar
esse livro.
Ela disse que, por causa do dinheiro excessivo que saiu dos cofres públicos
do país por causa da Copa do Mundo, grande parte desses benefícios já
foram cortados.
Já vi esse filme em algum lugar, hein?
Junto disso, o governo aproveitou o nível altíssimo de histeria provocada
pela goleada de 5 x 0 da Rússia contra a Arábia Saudita no jogo de abertura
da Copa para subir em dois anos a idade mínima de aposentadoria de todo
mundo.
Lembra que eu falei de uma música que a Leningrad fez no meio da Copa
em homenagem à Seleção Russa? Eles aproveitaram para ironizar esse fato
da aposentadoria na letra da música.
Com a nova lei, os homens, que antes se aposentavam com 60, agora têm
que trabalhar até os 65.
O engraçado é que a expectativa média de vida do homem russo é de
apenas 63 anos.
Com isso, o INSS russo não vai precisar gastar tanto dinheiro assim com as
aposentadorias, né?
Pelo menos estaticamente, nego bate as botas antes de se aposentar mesmo.
Para você ter ideia, esse número é mais baixo na Rússia do que em países
“fudidos” e menos desenvolvidos como o Iraque e a Coreia do Norte.
Comparei a Rússia aos países “fudidos” pelo simples fato de que, em
termos absolutos, a terra de Putin é o 12o entre mais de 200 nações no
ranking de Produto Interno Bruto do World Bank.
Ter uma expectativa de vida dessa é um sinal muito gritante de que tem
alguma coisa muito errada ali.
Vodka neles!
As mulheres tiveram uma mudança bem significativa. Antes da Copa, elas
podiam se aposentar aos 55. Agora, a idade-corte subiu para os 63.
Imagina se tua mãe faz aniversário de 55 anos em agosto e está toda feliz
que vai se aposentar.
Daí, na surdina da Copa do Mundo enquanto o país inteiro está celebrando,
ela descobre que tem que trabalhar mais 8 anos.
Foda, né?
Pão e circo, meus amigos! Pão e circo!
Parte 6
SAMARA
CAPÍTULO 34.
M
Na última noite de Moscou, João e eu ganhamos mais um companheiro para
torcer pelo Brasil Rússia afora.
Ao longo das duas primeiras semanas da Copa, consegui convencer meu
amigo goiano Erik a participar daquela zueira inesquecível.
Depois de muita insistência, Erik comprou um voo só de ida da Ural
Airlines entre Barcelona e Moscou e nos encontrou na Praça Vermelha.
Para quem começou a Copa completamente sozinho, ter convencido dois de
seus melhores amigos a te encontrar na Rússia para assistir o resto da Copa
ao seu lado foi uma senhora vitória.
Além do fator companhia e do fator zueira, viajar em três facilita muito a
logística de acomodação.
Estando em grupo, ficaria muito mais tranquilo de alugar um apartamento
em dia de jogo e dividir o custo.
Fora isso, minhas chances de me dar bem na Rússia aumentariam
consideravelmente.
Afinal, eu não estaria mais compartilhando beliche e banheiro com 20
negos que nem nos albergues que eu havia ficado em Rostov e Moscou.
Já que nosso voo para Samara era às 6 da manhã e o Erik só chegou em
Moscou perto de 22h da noite, decidimos passar a noite em claro e ir direto
para a Gypsy, balada chiquezinha na ilha fluvial de Balchug, à beira do rio
que dá nome a cidade.
O problema era que, algumas horas antes, Dinamarca e França haviam
jogado no Luzhniki Stadium de Moscou.
Resultado? Dez homens para cada mulher naquela que era conhecida como
uma das melhores baladas de uma das melhores cidades do mundo para sair
para a night.
Depois de algumas cervejas e algumas tentativas frustradas, João, Erik e eu
saímos da Gypsy, paramos o taxi em frente o hostel para pegar as malas e
fomos direto para o terminal de Domodedovo.
Por se tratar de uma mega-cidade de 13 milhões de habitantes, a Grande
Moscou precisa de quatro aeroportos para suprir a demanda dos moradores
de um país com dimensões gigantescas.
Moscou-Domodedovo está localizado a uns 40km ao sul da Praça Vermelha
e é o segundo aeroporto mais movimentado de Moscou.
Uma parada legal é que Domodedovo é o único que não é administrado
pelo poder público.
No norte da cidade, está Moscou-Sheremetyevo.
Com 40 milhões de passageiros servidos no ano de 2017, Sheremetyevo é o
principal aeroporto não só de Moscou mas de todas as repúblicas da antiga
União Soviética.
O medalha de bronze é o aeroporto de Moscou-Vnukovo, que atende pouco
menos da metade do seu primo-rico Sheremetyevo e é hub para algumas
companhias low-cost como a horrível Pobeda Airlines que eu citei alguns
capítulos pra trás.
Fora esse três grandes terminais, tem também o Moscou-Zhukovsky, um
aeroporto menorzinho que funciona como hub da mesma Ural Airlines
daquele meu vôo entre Sochi e São Petersburgo.
Por havermos saído da night no 0 x 0 e relativamente cedo, João, Erik e eu
tivemos que esperar mais umas 2 horas até nosso vôo da S7 Airlines até a
cidade de Samara.
Passamos o checkpoint de segurança e, no caminho para o nosso portão,
escutamos umas batidas bem fortes de música latina.
Andamos mais um pouquinho e vimos um grupo de 4 mexicanos
visivelmente alterados carregando uma daquelas caixas de som da JBL e
fazendo um passinho bem caribenho.
É claro que viramos amigos dos caras.
Eu até hoje não conheço um país que reverencia tanto o nosso Brasil quanto
o México.
Digo isso porque morei 2 anos da minha vida na fronteira entre a cidade
mexicana de Tijuana e a americana San Diego e, com isso, fiz grandes
amigos no país de Chaves, Chapolín e Carlos Slim.
Pelo menos lá na Califórnia, só o fato de dizer que eu era brasileiro já fazia
com que todos os mexicanos me adorassem.
Acho que essa amizade entre os dois países começou quando o esquadrão
de Pelé e Cia ganhou a Copa de 1970 no Estádio Azteca da Cidade do
México.
A recíproca é verdadeira.
Nas Copas do Mundo, o México é sempre o meu segundo time. Nessa
edição da Copa, ele caiu para 4a posição no meu coração por causa da
raríssima presença do Peruzão e da minha conexão afetiva com a própria
Rússia.
Meu amigo Erik é outro que também é mexicano de coração.
Ele tem casa em Los Angeles e, mesmo antes de mudar para Hollywood,
ele teve muito contato com o povo mexicano ao longo da sua vida.
Dois de seus melhores amigos, Jonathan e Giovani dos Santos, haviam sido
convocados para a mesma Seleção Mexicana que jogaria contra Neymar e
cia no dia seguinte.
Com todo seu conhecimento de networking internacional e uma inteligência
social fora de série, Erik chegou junto dos caras e soltou uma frase
moralizadora que balançou as estruturas dos quatro mexicanos bêbados:
Ahuyenna, bratan!
Foi em Samara que nós descobrimos um pedaço de informação que vai
beneficiar todo leitor macho deste livro: nós, brasileiros de pele mais
escura, somos os padrão de beleza para as russas.
Sim, senhor!
Assim como os loirões de olhos azuis fazem muito sucesso em qualquer
lugar do Brasil, o homem latino é o sonho de consumo das jovens russas.
O engraçado é que teve um meme na internet russa que zoava os homens
kavkaz que fingiam ser italianos para se darem bem com as loiras.
Vale lembrar que a Itália nem se classificou para a Copa.
Antes da Copa, uma frase de uma deputada da Rússia viralizou na internet e
também na mídia ocidental:
“Não façam sexo com estrangeiros na Copa!”
Segundo a parlamentar Tamara Pletnyova, transar com estrangeiros negros
aumenta o risco de que as russas se tornem mães solteiras de filhos
mestiços.
Sua afirmação estava baseada no que aconteceu nas Olimpíadas de 1980 em
Moscou. Ela queria evitar um fenômeno que ficou conhecido como “Filhos
da Olimpíada”.
Do nada, apareceram várias crianças neguinhas na cidade nascidas no início
de 1981. Por que será, hein?
Como não havia camisinha nem métodos anticoncepcionais na União
Soviética dos Jogos Olímpicos de 1980, os torcedores e atletas fizeram a
festa... e cuspiram dentro.
Resultado? Isso “manchou” um pouco a cidade na década de 1980 e ela não
queria repetir o erro em 2018.
Pelo andar da carruagem, uma coisa eu te garanto: as palavras da Sra.
Pletnyova não tinham muita moral com a mulherada local não,
especialmente as de Samara.
CAPÍTULO 37.
MACACO
Todo esse papo de racismo me leva a um dos principais capítulos desse
livro e um ponto de inflexão na minha vida pessoal e profissional.
Sim, eu fui alvo de racismo na Rússia.
Só que, por incrível que pareça, o agressor não foi um russo.
E nem um ucraniano. E nem um bielorrusso. E nem um alemão. E nem um
polonês. E nem um norte-americano do Texas.
Posso ficar a tarde toda enumerando os países mais racistas do mundo e
você não vai adivinhar que a agressão veio do México.
Logo o México?!
O México, cara!
O mesmo México de alguns dos meus melhores amigos da minha
adolescência em Tijuana e San Diego, o mesmo México que sempre foi
apaixonado pelo nosso futebol brasileiro, o mesmo México de Seu Barriga,
Seu Madruga, Chaves, Chiquinha e Chapolin Colorado.
Brasil e México na Cosmos Arena foi um dos jogos mais nervosos da
minha vida.
Se você tiver um tempinho, pega os melhores momentos daquelas oitavas
de final da Copa da Rússia e você vai lembrar que os mexicanos dominaram
o jogo e tiveram pelo menos umas 3 chances de balanças as redes do
Allison.
Vale lembrar que, 6 verões mais cedo, eu presenciei a derrota da nossa
Seleção para os mesmos mexicanos direto de de Wembley na final
Olímpica de Londres 2012.
Nosso time olímpico de 2012 era praticamente um copy-paste da Seleção
principal e tinha recorrido o torneio inteiro passando o cerol nas seleções
sub-23 dos adversários cheias de jogadores inexperientes e desconhecidos.
Aquele time de 2012 tinha Neymar, Oscar, Marcelo, Lucas Moura, Hulk,
Thiago Silva, Alex Sandro, Neto, Ganso, Pato... todos perto do auge de suas
respectivas carreiras.
Os rivais mexicanos tinham um Giovani dos Santos suspenso e um atacante
matador chamado Oribe Peralta que, aos 40 segundos de jogo, aproveitou
um vacilo do lateral Rafael do Manchester United e não perdou.
Aquela final acabou 2 x 1 pros mexicanos e eu fiquei com uma dor de corno
do caralho.
Agora avança o filme para 2018.
Aquela pressão fudida da Seleção Mexicana em cima da gente tava me
fazendo ter os piores flashbacks possíveis das Olimpíadas de Londres.
Para você ter uma ideia, os mexicanos da Cosmos Arena de Samara
começaram a gritar “Olé! Olé! Olé” com menos de 10 minutos de jogo.
Juro pra você que me deu um vergonha do caramba.
Não sei se foi vergonha pura ou vergonha alheia... mas não tava legal não.
De um lado, uma vergonha de ser brasileiro e ter visto Romário, Ronaldo e
Rivaldo levantando taças na minha infância para, alguns anos depois, tomar
olé de mexicano num jogo de mata-mata da Copa do Mundo.
Do outro, uma vergonha alheia dos mexicanos gritando olé com o jogo 0 x
0 e com o histórico de serem eliminados nas oitavas de final durante 24
anos seguidos de Copas do Mundo.
Segura essa informação aí sobre a zica dos nossos amigos mexicanos em
oitavas de final de Copas do Mundo:
Estados Unidos 1994? Perdeu pra Bulgária de Stoichkov nos pênaltis.
França 1998? Perdeu pra Alemanha com gol de Bierhoff no finalzinho.
Coréia e Japão 2002? Perdeu pro seu rival histórico Estados Unidos, mesmo
sendo franco favorito pra passar.
Alemanha 2006? Perdeu pra Argentina. Falando nisso, depois abre o
YouTube e dá uma olhada no passe do Sorín e no gol que Maxi Rodriguez
da Argentina meteu na prorrogação desse jogo contra o México.
Eu juro pra você que não lembro de ter visto um gol tão decisivo e tão
bonito.
Continuando.... África do Sul 2010? México rodou pra Argentina de novo
nas oitavas.
Brasil 2014? México rodou para a Holanda com uma virada no finalzinho
depois de ter dominado o jogo todo.
Em Samara 2018, meu cu piscava cada vez que o atacante Hirving Lozano
pegava na bola e partia pra cima do Filipe Luis na esquerda. Só dava
México e parecia que a gente ia pra casa mais cedo.
Fora isso, os caras tavam descendo a porrada no Neymar e o menino já
estava saindo do sério.
Nas arquibancadas, também só dava México. Eles eram maioria numérica e
dominaram o estádio com suas musiquinhas à la Chaves e Chapolin.
Como eu falei no início do livro, os mexicanos viajaram em massa para a
Rússia.
Me arrisco a dizer que estavam entre os turistas mais endinheirados entre as
32 seleções da Copa. Por quê?
Porque a grande maioria daquela galera de camisa verde morava nos
Estados Unidos e ganhava em dólar, né?
Querendo ou não, se tu parar pra pensar e contar as crianças e os ilegais,
quase metade da população dos Estados Unidos é mexicana.
Junto a isso, existem pouquíssimos países mundo afora onde os salários são
mais altos do que na América.
Aos 5 minutos do segundo tempo, Willian fez jogada pela esquerda, chutou
cruzado e o menino Neymar balançou as redes.
A torcida brasileira que, durante todo o primeiro tempo, estava calanda,
roendo unha e administrando as piscadas de cu, estourou de alegria.
Aí, irmão! Em Copa do Mundo, ninguém é amigo.
Eu parei até de ver o jogo. O foco da galera de amarelo que estava sentada
na Categoria 1 era descontar todo o nervosismo do primeiro tempo nos
mexicanos que gritaram olé e desrespeitaram as 5 estrelas do único
pentacampeão do mundo.
Daí começou a cantoria:
“O Seu Barriga
O Seu Madruga
O Chaves tchau! Chaves tchau!
Chaves tchau tchau tchau!
Os mexicanos
Estão chorando
Porque essa Copa eu vou ganhar”
Começamos a pegar um pouco mais pesado:
“Ihhh o muro vai subir! O muro vai subir! O muro vai subir, ih!
E também:
Donald Trumpê! Donald Trumpê!
Aos 42 do segundo tempo, Neymar partiu na esquerda, deu um toquinho
pro meio da área e o Firmino só empurrou pra dentro.
Fim de sofrimento.
Que maravilha era olhar para aquele mar de camisetas verdes com cara de
cu. As mesmas camisetas verdes que, alguns minutos antes, estavam
gritando olé e fazendo a festa enquanto sofríamos calados.
Eu amo futebol.
Como eu não sou santo, meus reflexos provocadores de suburbano da Vila
da Penha frequentador de Maracanã aos domingos acabou falando mais
alto.
Esse segundo gol do Firmino eu comemorei olhando pra trás, tapando uma
narina e fingindo que estava cheirando cocaína.
“Volta pra Sinaloa! Respeita as 5 estrelas e vai traficar cocaína! Essa é a
única coisa que vocês sabem fazer”
Pronto!
Como eu sou viciado em rede sociais, eu peguei o telefone para documentar
aquele momento.
Por uma sorte do caramba, eu consegui pegar o mexicano que mais me
atazanou durante o jogo imitando um macaco para mim e seu amigo
fazendo o gesto de nazismo de Hitler com o braço esticado.
Coitado! Mexeu com o cara errado.
Na época, eu já tinha uns 70mil seguidores no Instagram e aquele vídeo do
mexicano imitando um macaco pra cima de mim viralizou rapidamente
mundo afora.
Como eu vivo de imagem, sofrer racismo do mexicano do estádio foi uma
das melhores coisas que podiam ter me acontecido na Copa.
Desde criança, sou especialista na arte da antifragilidade. Pego qualquer
situação negativo e consigo revertê-la para meu bem.
Dessa vez, não foi diferente.
Mandei meia dúzia de mensagens no Whatsapp e pimba!
No dia seguinte, lá estava o escritor Raiam na capa do Globo.com, Folha de
São Paulo, O Dia, R7, além dos diários espanhóis Marca e As.
Juro pra você que nunca tinha vendido tanto livro como no dia pós-macaco.
Junto disso, eu ganhei a tão cobiçada bolinha azul de perfil verificado do
Instagram.
Como sempre, transformando limão em limonada.
O engraçado é que a mídia mexicana abafou o caso. Minha interpretação
era que o racista tinha algum tipo de influência no México.
Querendo ou não, estávamos na Categoria 1 e tínhamos os ingressos mais
caros do estádio. Pobre ele não era.
O mais legal de tudo foi que a mídia esquerdista me pintou como um pobre-
coitadinho que sofreu racismo na Rússia e usou meu caso como “garoto
propaganda do vitimismo”.
Quando eu vi aquilo, tomei outra das melhores decisões da minha vida.
Notei que os movimentos negros, ativistas e instituições da esquerda
queriam me entrevistar e se aproximarem de mim depois da história do
racismo com o mexicano.
Para afastar aquela galera de uma vez por todas, peguei meu telefone e
gravei um vídeo dizendo que eu atazanei a vida dos mexicanos no estádio,
que eu mandei todo mundo tomar no cu e voltar a cheirar cocaína em
Tijuana.
Viralizou de novo.
Não sou santo.
CAPÍTULO 39.
MÁQUINA DE MEMES
Esse capítulo vai ser o mais curto e talvez o mais inesquecível do livro.
Entre nesse link ou vá nos destaques do Instagram, role as bolinhas para a
direita, clique em “Rússia dos Memes” e invista 4 minutos da sua vida
nisso.
Se você não rir, você tem sérios problemas de saúde.
Vale lembrar que tudo isso aconteceu numa única tarde na praia de Samara,
às margens do Rio Volga.
CAPÍTULO 40.
M X
Um dos livros que mais marcaram a minha vida até hoje foi a Autobiografia
de Malcom X.
Para você que não sabe, Malcolm X foi um ativista dos direitos dos
afroamericanos nos Estados Unidos. Ao contrário do seu contemporâneo
Martin Luther King, X pregava o uso da força “por qualquer meio
necessário”.
Enquanto Luther King pregava a paz, X levantava a bandeira do ódio e da
violência contra o dominador branco.
Sua história mudou em 1964 depois que ele se converteu ao islamismo e fez
a peregrinação do Hajj até a cidade sagrada de Mecca, na Arábia Saudita.
Lá, ele teve uma epifania que acabou mudando para sempre a sua história e
o viés do movimento negro americano.
Durante sua passagem pela Arábia Saudita, Malcolm viu muçulmanos de
pele clara, olhos azuis e cabelos louros.
Ué?
Depois de Mecca, ele voltou pros Estados Unidos tão manso quanto Nelson
Mandela e Madre Teresa de Calcutá. Quem te viu, quem te vê, negão?!
Sua conclusão foi simples: chega de raiva e separatismo, somos todos
irmãos.
Agora pega essa história de Malcolm X e transporta para 60 e poucos anos
mais tarde.
Meu Hajj foi a Copa do Mundo.
Apesar de ter tido boas experiências em Rostov, Sochi, São Petersburgo e
Moscow, Samara foi o grande divisor de águas dessa história.
A Rússia é legal pra caramba e os russos são os brasileiros da Europa.
Lembro que o jogador do Manchester City Yaya Touré ameaçou a boicotar
a Copa da Rússia pela maneira que os torcedores locais tratavam os
jogadores negros.
Menos, Yaya... menos!
Na verdade, ele nem precisou se preocupar com boicote nenhum pois sua
Costa do Marfim perdeu de 2-0 para o Marrocos e ficou fora da Copa da
Rússia.
O peixe morre pela boca, né?
Por que eu contei essa história toda?
No dia seguinte de Brasil x México, os anfitriões russos jogaram contra a
Espanha em Moscou pelas oitavas de final.
Devia ter umas 50 mil pessoas na FanFest de Samara, todos com os olhos
vidrados no telão à espera de um milagre.
Afinal, mais favoritos que os espanhóis, impossível.
Eles foram bicampeões da Eurocopa e campeões do mundo em 2010 com
praticamente o mesmo time que foi pra Rússia em 2018.
Jogo duro por 90 minutos. Prorrogação. Pênaltis.
Depois de algumas horas de nervosismo sob o sol de Samara, brilhou a
estrela de Igor Akinfeev, que havia fechado o gol no tempo normal e acabou
pegando um pênalti do camisa #8 Koke, meio campo do poderoso Atlético
de Madri.
Juro pra você que nunca vi tanta felicidade num lugar só. Algo comparado à
manhã daquele domingo 12 de julho de 2002 quando o Brasil ganhou a
Copa.
Se você parar para pensar, os russos de Samara não tinham muito o que
festejar em suas vidas.
A cidade é meio isolada, não tem muito que fazer, os salários são baixos e
Samara não deu sorte com São Pedro.
Para você ter uma ideia, a cidade pega 40 graus negativos de frio no inverno
e 45 graus de calor seco no verão. Nunca vi igual.
Aquela vitória sofrida nos pênaltis contra a toda-poderosa Espanha liberou
tudo de bom que há no cidadão russo.
Deu pra ver que, por trás da casca de durão, da cara enfezada e dos litros de
vodka, os tiozões da Rússia no fundo são ursinhos super tranquilos e gente-
boa.
Racismo? Só no México mesmo.
Se já estava difícil andar pelas ruas de Samara num dia normal, imagina
quando a cidade inteira estava feliz e com o coração aberto.
Devo ter tirado umas 300 fotos com russos e russas nas duas horas que
seguiram o jogo.
Chegou a hora de tirar uma casquinha da fama.... continua lendo aí.
CAPÍTULO 41.
AM I H
A melhor invenção da história chama-se Google Translate.
Com esse simples aplicativo, eu garanto para você que a linguagem do
amor é universal.
Não vou dizer quem foi porque esse livro vai ser lido por centenas de
milhares de pessoas e esse meu amigo pode se comprometer.
Mas aí... tenho um camarada que desenrolou com uma russa linda
maravilhosa direto da FanFest para o quarto sem trocar uma única palavra
com ela.
No silêncio mesmo, cara!
Como assim, negão?
Bom, os níveis de endorfina e adrenalina de todo mundo estavam em alta,
especialmente ali na FanFest de Samara depois da vitória histórica da
Seleção Russa.
Mal comparando, o país não teve uma noite tão feliz desde o dia em que foi
declarada a vitória dos soviéticos na Segunda Guerra Mundial (reza a lenda
que acabou a vodka no país inteiro).
Acabou que fizemos amizade com um grupo de 4 universitárias russas que
haviam vindo pedir foto pra gente depois do jogo.
Brasileiro não é bobo, né?!
Apenas uma delas falava inglês e nos comunicávamos com as outras com as
poucas palavras que havíamos aprendido durante aquelas primeiras duas
semanas de Copa: priviet, kak dilá, spasiba, krasivaya, ahuyena, harashó e
potzelui.
Não conseguíamos entender muito bem o que elas falavam mas ficou meio
óbvio que duas delas estavam brigando por esse amigo meu.
Uma coisa que eu aprendi ao longo desses últimos 12 meses frequentando a
Rússia e os países vizinhos da antiga Uniao Soviética é que o que as russas
têm de bonitas, de educadas e de doces, elas têm de ciumentas.
Sem querer querendo, ele aplicou a melhor tática para conquistar uma
mulher soviética: se fazer de bobo e colocar uma com ciúme da outra.
A FanFest fechou e seguimos para uma baladinha perto do rio Volga, uma
das principais atrações turísticas de Samara. Éramos 8, quatro russas e
quatro BR’s.
Acabou que uma delas não estava com os documentos e tivemos que
explorar um Plano B.
Supermercado? Todos fechados!
Outras baladas? Apesar de ser Copa Do Mundo, era uma domingo e não
tinha muita opção na cidade.
Depois de quase 1 hora procurando algo aberto, acabou que encontramos
um karaokê soviético e, com meu russo limitadíssimo, consegui desenrolar
uma garrafa de vodka para que tivéssemos pelo menos um pretexto para
migrar aquela enrolação ali pra nossa casa.
E aí que eu te apresento o maior erro que você pode cometer tanto na
Rússia quanto na União Soviética.
Juro para você, eu poderia ter levado garrafa de qualquer coisa. Com minha
mentalidade de brasileiro, eu acabei fazendo a pior escolha que eu poderia
ter feito: vodka.
Aviso aos navegantes: não peça vodka, especialmente quando você quer
impressionar uma mina na noitada.
Agora pensa comigo: você já viu alguém pedindo combo de cachaça na
noitada no Brasil?
Touché! Mulher russa não bebe vodka, caralho!
Apesar de ser uma das maiores embaixadoras do país mundo afora, a vodka
tem uma imagem bem negativa na cultura local.
Ela é associada aos tiozões bêbados, aos problemas familiares, à violência
doméstica, ao machismo exagerado e também as doenças que colocam a
expectativa de vida do homem russo na parte debaixo dos rankings
mundiais.
Falei isso no início do livro e vale ressaltar aqui: se quiser ficar doidão com
alguma russa, prefira vinho rosé, champagne, Aperol Spritz, rum,
conhaque... até whisky é mais feminino do que a vodka.
Vale lembrar que, no dia do jogo do Brasil, havíamos dado uma sorte e
conseguido um apartamento legal na beira do Rio Volga.
Conseguimos convencer as quatro para subir lá no nosso apê na esperança
de você sabe o que, né?!
Uma coisa interessante na Rússia é que as mulheres são muito formais e fria
na rua.
Mesmo quando você vai sair num date com a gata que você acabou de
conhecer, é muito comum ela não segurar sua mão, não beber álcool e nem
te beijar em público.
É por isso que você tem que ter teu próprio apartamento.
Impressionante como as quatro gatas se transformaram em mulheres
ocidentais de cabeça aberta assim que sentiram que não eram vigiadas pela
opinião alheia nem pelas câmeras de Vladimir Putin.
Apesar do que eu escrevi no parágrafo acima, acabou que só o amigo do
Google Translate atingiu a felicidade soviética no quarto.
Repito: todo desenrolo desse meu camarada foi em total silêncio.
Ele escrevia no telefone, apertava translate e mostrava para ela.
Ela ria, apagava a frase, trocava o teclado para o alfabeto russo e escrevia a
resposta.
Agora repita esse processo umas 400 vezes entre as 6 da tarde e as 2 da
manhã.
Depois de quase horas e mais horas de amizade com o grupinho, eu juro pra
você que só ouvi a voz da menina depois que meu amigo fechou a porta do
quarto e fez o trabalho dele.
Enquanto isso, nós da cozinha colocamos o funk para rolar, apelamos para a
velocidade 5 da Dança do Créu.
Vou até abrir um parêntese aqui, a Dança do Créu é a verdadeira dança do
acasalamento. Durante minha vida ativa com mulheres estrangeiras, nunca
teve um game-changer maior do que o Créu.
Pelo menos dessa vez não teve jeito: festinha no apê sem a presença do bom
e velho álcool não dá liga. Nem o Créu salvou.
O tão esperado 4 x 4 terminou apenas em 1 x 1.
Meu camarada que se fez de bobão se deu bem. Os outros 3 não. E o pior é
que tivemos que ouvir toda a sonoplastia do ato... sem conseguir fazer nada
para mudar nossa situação.
Coloquei a culpa na vodka e fui dormir com aquela sensação de dever não-
cumprido que todo homem já passou pelo menos 200 vezes na vida.
Parte 6
KAZAN
CAPÍTULO 42.
U Q E
Depois de eliminarmos o México na Cosmos Arena, a próxima parada da
caravana verde e amarela seria em Kazan, umas 6 horas de estrada ao norte
de Samara, subindo o rio Volga.
Chegamos na rodoviária de Kazan e demos de cara com um placa enorme
que dizia:
“Welcome to the Republico of Tatarstan”
De todas as cidades da Copa, Kazan acabou com aquela ideia que a gente
tinha de que os russos são loiros e têm olhos claros.
Sim, o russo pode ser loiro, pode ter cara de turco/árabe e também pode ter
cara de chinês com olho puxado.
Vou confessar que não conheço um outro país tão heterogêneo como a
Rússia, pelo menos dentro da Europa.
Mas Raiam, já foi à Paris? Tem lugar em Paris que não tem branco, cara.
Sim, mas as grandes cidades da Europa Ocidental são heterogêneas por
causa do fator imigração.
No caso da Rússia, os povos de aparência diferentes que você vê pela rua
em Kazan, Moscou e São Petersburgo são da Rússia mesmo.
Afinal, são mais de 120 grupos étnicos e mais de 100 línguas faladas dentro
de um mesmo país.
Enquanto o Brasil tem 27 estados, a Rússia tem 85 divisões federais.
Essas 85 divisões federais estão repartidas entre 46 oblasts, 22 repúblicas, 9
krais, 4 okrugs autônomos, 3 cidades federais e 1 oblast autônomo.
Não vou entrar em detalhes sobre a diferença entre uma república, um krai,
um okrug e um oblast. Se quiser, dá uma pesquisada no Google depois. Em
nome da fluência desse livro, vamos defini-los como se fossem apenas
estados.
Vale lembrar que duas dessas subdivisões ainda são internacionalmente
reconhecidas como parte da Ucrânia. Não sei se você lembra mas, em 2014,
a Rússia afanou a Crimeia de Ucrânia e deixou o mundo inteiro de queixo
caído.
Agora, antes de entrar no assunto da República do Tatarstão, acho que vale
a pena falar um pouco de geografia russa.
Apesar de ser um país gigantesco que ocupa praticamente dois continentes
quase que inteiros, a Rússia tem um problema estratégico com suas saídas
para o mar.
Sim, a Rússia tem acesso para o oceano atlântico, para o Oceano Pacífico e
também para o Ártico.
O problema é que grande parte de seus principais portos congelam no
inverno. E o inverno sub-zero da Rússia dura 9-10 meses, né?
Sim, existem navios com tecnologia para quebrar o gelo desses portos frios
mas é uma porcentagem muito pequena da frota que move mercadorias pelo
mundo, especialmente daqueles que saem da China e das Américas.
Na época do comunismo, o acesso ao mar era muito mais tranquilo porque
o império soviético contava com as repúblicas bálticas da Estônia, Letônia e
Lituânia.
Desde 2004, as três fazem parte da União Europeia... e da inimiga OTAN!
O outro problema estratégico tem tudo a ver com a perda dessas três
repúblicas: o caminho marítimo para a Rússia está sempre cercado de
inimigos.
Para um navio chegar ao porto de São Petersburgo pelo Oceano Atlântico,
ele tem que passar pelo estreito da Dinamarca.
A Dinamarca faz parte da OTAN.
Outro porto importante da Rússia é o de Vladivostok no Oceano Pacífico.
Para chegar em Vladivostok, você tem que passar pelo Mar do Japão.
O Japão é parte da OTAN.
Um outro grande porto da Rússia, e um dos únicos que não congelam no
inverno, é o porto de Novorossisk no Mar Negro. O problema é que
Novorossisk não tem calado para suportar os grandes navios Post-Panamax
e só recebe embarcação de médio porte pra baixo.
Com a anexação da Crimeia depois da guerra contra a Ucrânia em 2014, a
Rússia ganhou mais um porto descongelado: o porto de Sevastopol.
Mas agora é que são elas.
Para chegar em Novorossisk ou em Sevastopol, seu navio precisa cruzar o
estreito de Bósforo em Istanbul, na Turquia.
A Turquia é parte da OTAN.
Fiz questão de frisar que Dinamarca, Japão e Turquia são membros da
OTAN por causa de um pacto de defesa mútua entre os países da tal
Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Se a Rússia inventar de atacar um membro, ela vai apanhar de todos eles.
A regra é clara: mexeu com um, mexeu com todos.
Além disso, Dinamarca, Japão e Turquia podem fechar o acesso para navios
da Rússia, ela acaba perdendo o acesso ao mar e sua população corre o risco
de ficar sem comida.
Não é segredo nenhum que ter acesso ao mar é um componente
importantíssimo para o desenvolvimento de um país.
Pega as 18 maiores economias do mundo em termos de PIB absoluto e você
vai ver que nenhuma delas é “landlocked” sem acesso ao mar.
Entendeu o quão grave é a parada ali?
Mas tem um pequeno porém: metade dos países da OTAN não consegue
sobreviver sem a Rússia.
Sim, a invasão da Crimeia foi um tapa na cara imenso da União Europeia.
Vale lembrar que, nas últimas décadas e no campo das relações
internacionais, a Ucrânia tem ficado cada vez mais perto da União Europeia
e cada vez mais longe da Mãe Rússia.
A Europa depende da Rússia. E a Rússia tem um dos líderes de estado mais
inteligentes, frios e calculistas da história da política internacional.
Não tô exagerando não. O Putin é um gênio, cara.
Os dutos que levam o gás natural que brota do solo russo são responsáveis
por 40% do consumo da União Europeia.
Se der merda com a OTAN, a Rússia vai ficar sem acesso ao mar... mas a
União Europeia vai morrer de frio.
Ou você não sabia que o principal insumo dos sistemas de calefação dos
países frios é o gás natural?
Para você ter uma ideia, Bulgária, Lituânia, Finlândia e Estônia são
praticamente 100% dependentes do gás natural russo, especialmente
durante os invernos rigorosíssimos.
Um exemplo dessa dependência energética são os casos de Alemanha e
Inglaterra.
Apesar de estarem no mesmo bloco político, econômico e militar,
Alemanha e Inglaterra têm uma posição muito diferente sobre a Rússia.
Enquanto volta e meia tem uma treta entre Londres e Moscou na televisão,
você não vê a Angela Merkel e seus comparsas germânicos alfinetando o
Putin em público.
A Alemanha é esperta e sabe onde o calo dela aperta né?
O Reino Unido não depende da matriz energética russa.
O gás e o petróleo que abastecem a Inglaterra vêm de outra fonte então eles
estão pouco se fudendo com a causa russa a ponto de expulsarem mais de
50 diplomatas do país por um escândalo de espionagem alguns meses antes
da Copa.
Na Alemanha, o buraco é mais embaixo...
Além do próprio gás natural, a Alemanha também depende do petróleo
russo para tocar suas fábricas e manter suas autobahns ativas.
A outra alternativa para a Alemanha seria o uso do LNG (liquified natural
gas), ou gás natural liquefeito.
O problema é que esse tipo de gás natural é muito mais caro, sua logística é
muito mais fudido já que ele é transportado através de navios e não de
dutos.
Conclusão: sem a energia russa, a Alemanha estaria em péssimos lençóis.
Em 2014, a União Europeia e os Estados Unidos lascaram umas sanções
econômicas na Rússia em resposta à anexação da Crimeia.
Elas não duraram muito tempo.
Afinal, quem tem cu tem medo.
CAPÍTULO 43.
K ... T
Kazan me lembra Kazantip.
Kazantip me lembra Crimeia.
Crimeia me lembra guerra.
Continua lendo aí que eu vou conectar os três daqui a pouco.
Como bem aprendemos com nossos professores, Rússia e Ucrânia foram
membros-fundadores da União Soviética e, pelo menos histórica e
culturalmente, sempre mantiveram uma grande proximidade.
O problema é que os dois passaram a última se matando na Crimeia e, mais
recentemente, na região de Donetsk.
Moscou é uma das cidades mais bem-conectadas do mundo. Se você mora
em Moscou, você pode ir para qualquer um dos quatro grandes aeroportos
da cidade e pegar um vôo direto para praticamente qualquer capital do
hemisfério norte.
Agora experimenta pegar um vôo para a República da Ucrânia?
Não tem, cara.
Se você está na Rússia, você precisa conectar em cidades como Minsk
(Bielorússia), Riga (Letônia) ou Istanbul (Turquia) para chegar na Ucrânia.
Quando eu morei em Kiev, tinha uma namoradinha que morava em Sochi.
Ela veio me visitar na Ucrânia mas ficou retida por horas e horas na
imigração. Razão? Sua nacionalidade russa.
O bagulho tá bem louco hoje em dia, tá ligado?!
Tudo por causa da tal de Crimeia.
A Crimeia foi parte da Rússia até 1954.
De acordo com as estatísticas, uns 70% da população da Crimeia tem o
russo (e não o ucraniano) como língua materna.
Na vida real, pode colocar um número mais perto de 100%.
Vou te mandar a real: até em Kiev, capital da “inimiga” Ucrânia, todo
mundo prefere falar russo sobre o ucraniano.
As placas na rua estão no idioma ucraniano mas as pessoas meio que
ignoram a ordem governamental de “desrussializar” o país e tocam o pau no
idioma dos imperialistas russos mesmo.
Naquele verão de 2014, Putin orquestrou o retorno da Crimeia para a Mãe
Rússia patrocinando um referendo dentro do território.
Resultado? Apenas 96% dos locais queriam largar a Ucrânia e voltar para a
Rússia.
Vale lembrar que, na época, o próprio presidente da Ucrânia havia
abandonado o barco e deixado o país após a Revolução Ucraniana da Praça
Maidan.
Quem tem cu, tem medo. A capital Kiev virou palco de uma guerra civil e
ele não aguentou a pressão.
Falando nisso, se você gosta de política internacional, recomendo assistir o
documentário Winter on Fire sobre a Revolução Ucraniana de 2014.
O pau comeu na principal praça do país, as forças governamentais
acabaram matando vários civis que estavam protestando, a situação ficou
insustentável e o presidente teve que renunciar e sair vazado no meio da
noite.
Agora pesquisa aí para onde o presidente ucraniano Viktor Yanukovych
fugiu e onde ele mora hoje em dia?
Moscou!
Esse problema da Crimeia aí trouxe umas consequênciaszinhas aí para nós.
Primeiro de tudo: os jovens da Europa ficaram órfãos um dos maiores
festivais de música eletrônica e free-sex do mundo.
Se você gosta de uma putariazinha, procura no Google a palavra Kazantip.
O Kazantip reunia centenas de milhares de pessoas da Europa inteira nas
praias da Crimeia todo mês de julho.
Depois da guerra, o negócio passou para a Geórgia mas não durou muito
tempo porque a Igreja Ortodoxa bloqueou toda aquela putaria ao livre.
Ano passado, o festival foi realizado em Antalya na Turquia mas parece que
perdeu grande parte da sua popularidade da época de Ucrânia.
A realidade é que a treta Rússia – Ucrânia foi uma das paradas mais
aleatórias que apareceram no cenário geopolítico nos últimos anos.
É como se o Brasil e a Bolívia, dois países que são amigos há séculos,
decidissem tretar.
É claro que o Brasil ia ganhar, né? É maior, mais rico e mais populoso.
Mesmo com todo apoio da OTAN, dos Estados Unidos e da União
Europeia, Vladimir Putin se impôs, a Rússia tomou a Crimeia pra si e, 5
anos depois, quase não se fala mais nisso na mídia internacional.
O pior é que, se essa moda pegar, a Ucrânia vai perder ainda mais territórios
pros russos, hein?
O povo na Ucrânia parece que tem uma reverência à Rússia.
Esses dias, eu tirei uns dias de folga e desci para Odessa.
Odessa é uma cidade litorânea no Sul da Ucrânia, banhada pelo Mar Negro.
Pegando a estrada, Odessa fica a uns 300km da Crimea e adivinha? Nego lá
também não gosta de falar o idioma ucraniano não.
Ali todo mundo fala russo e quer ser parte da Rússia.
Vale lembrar que, na época da União Soviética, o governo central forçava o
idioma russo goela abaixo da galera, jogando para escanteio as línguas
secundárias como o ucraniano, o bielorusso, o lituano, o letão e o
georgiano.
A ideia era gerar um sentimento de união: aqui não tem lituano, nem
ucraniano nem georgiano. Nós somos todos soviéticos e nosso idioma é o
russo.
O outro caso eu falei de leve aqui no livro: a região mineira de Donbass no
nordeste da Ucrânia, perto da cidade russa de Rostov-on-Don.
No albergue de Rostov, eu conheci um menino de 11 anos muito gente boa
e com um domínio sensacional da língua inglesa.
Uma coisa que me impressionou nele era que, apesar da idade, ele era meio
brabo, meio valentão e altivo, tá ligado?
Seu nome era Artem e seus pais o haviam enviado para Rostov porque
julgavam que a cidade de Donestsk era pouco segura para criar um filho.
Daí ele mudou com a professora de inglês dele para a Rússia enquanto seus
pais continuaram em Donetsk no meio da guerra civil.
Outros que tiveram que mudar por causa da Guerra “Civil” Russo-
Ucraniana foram os membros da diáspora brasileira do Shakhtar Donetsk.
Coloca aí nesse bolo o ex-corintiano Dentinho, sua esposa ex-panicat
Mulher Samambaia, o jogador mais contestado da seleção de Tite em 2018,
Taison, entre outros.
Depois pega a listagem dos jogadores do Shakhtar e você vai ver que
metade do time é brasileiro.
Por causa da guerra, o time inteiro se “refugiou” na capital Kiev e manda
seus jogos numa terceira cidade que não tem porra nenhuma a ver com as
duas primeiras, Lviv.
Ninguém pisa na moderníssima Donbass Arena, palco da semifinal da
Eurocopa 2012 e um dos estádios mais modernos do planeta, desde 2014.
Sei lá quando você vai estar lendo esse livro mas, até a conclusão dessa
edição do Negro na Rússia, o pau continua quebrando lá no leste da
Ucrânia.
CAPÍTULO 44.
OT
No capítulo anterior, falei um pouco das divisões federais da Rússia krais,
oblasts, repúblicas.
No caso das repúblicas, apesar de estarem dentro da Federação Russa e
terem Vladimir Putin como o chefão-mor, elas têm seu próprio líder de
estado e sua própria constituição.
Não sei se você lembra lá no início do livro mas eu já mencionei duas das
mais famosas repúblicas em território russo: a República da Chechênia e a
República do Daguestão.
Agora é a vez de falar um pouquinho da República do Tatarstão e de sua
capital Kazan.
Em dezenas de edições da Copa do Mundo, Kazan foi a primeira cidade de
maioria muçulmana a sediar um jogo de Copa do Mundo.
Top né?
Uma das principais características que transformaram Kazan numa das
cidades mais surpreendentes que eu já fui é que a população local falava
inglês fluente.
Estranho, né?
Minha expectativa era que, por se tratarem de cidades grandes e turísticas,
Moscou e São Petersburgo tivessem muitos mais russos bilíngues.
Estava totalmente enganado.
Por causa da indústria do petróleo, Kazan recebeu muitos expatriados do
setor de óleo e gás.
Querendo ou não, para conseguir um emprego top em Kazan, o jovem local
precisa falar inglês fluente.
Fora isso, Kazan é um grande polo esportivo dentro da Rússia.
Além de receber a Universíade de 2013 e o Campeonato Mundial de
Natação de 2015, Kazan tem um time de futebol que volta e meia joga
contra os grandes da Europa na Champions League (Rubin Kazan) e uma
equipe de basquete que também compete nas cabeças (BC UNICS).
Cheguei para aquele amigo checheno que conheci e perguntei pra ele por
que Kazan era tão liberal e tão cosmopolita, especialmente na questão do
idioma inglês. Ele respondeu:
“Raiam, as cidades que vivem de petróleo e não estão dominadas pelas
minorias étnicas são mais abertas”
Ao contrário do pessoal do Daguistão e da Chechênia, os tártaros são
orgulhosos de fazerem parte da Federação Russa e não se envolvem em
brigas de independência que nem seus compatriotas muçulmanos do
Cáucaso.
Acabou que Kazan virou a cidade favorita de muitos jovens brasileiros
dentro da Federação Russa.
Continua lendo que você vai entender o porquê.
CAPÍTULO 45.
- O FIM –
Q A R 2H ?
Bom, notei que esse livro deixou a galera bem interessada e curiosa sobre a
Rússia e o idioma dos caras.
Sabendo disso, eu criei um mini-curso online chamado “RUSSO EM 2
HORAS”.
Você vai ficar fluente em russo em 2 horas? Claro que não!
Mas eu te garanto que você vai sair lendo tudo. O foco do material é em te
fazer dominar o alfabeto cirílico e fazer conexões das palavras russas com
as nossas.
Dá para tirar uma onda federal, cara!
Quantos dos seus amigos consegue bater no peito de dizer que sabe ler em
russo?
Bom, o curso custa R$197, dá para dividir em 12 vezes e o link é esse aqui:
Com o idioma russo, você consegue sobreviver da Croácia até Vladivostok.
Querendo ou não, por causa da influência da União Soviética do lado de lá
do mundo, você pode usar o idioma em dezenas e dezenas de países do
planeta.
De quebra: Rússia, Estônia, Letônia, Lituânia, Bielorrússia, Ucrânia,
Moldávia, Geórgia, Azerbaijão, Armênia, Turcomenistão, Tadjiquistão,
Quirguistão, Cazaquistão e Uzbequistão.
Mas não para por aí. Por se tratar de um idioma de raízes eslavas, sabendo o
básico de russo, você nunca vai morrer de fome em lugares como a
República Tcheca, a Eslovênia, a Croácia, a Bósnia, a Sérvia, a Bulgária, a
Macedônia, Montenegro e Polônia.
Se você é macho, tem um agravante bem positivo. As mulheres mais
bonitas do mundo falam russo... ou algum derivado do idioma russo como o
sérvio, o croata e o polonês.
Bom, é isso! Se estiver interessado, acesse:
J ...
Se você gostou desse livro, eu ficaria muito feliz se você escrevesse um
review lá no site do Amazon. Um feedbackzinho lá ajuda a dar mais
visibilidade ao livro e faz uma grande diferença para mim.
Pô, eu fico até emocionado quando alguém deixa um comentário.
Se eu te convenci a deixar um review, tudo o que você precisa fazer é clicar
nesse link aqui embaixo. Tamo junto!
https://amzn.to/2P7p6zQ
Quer trocar ideia comigo? Manda um inbox no @raiam.
Tenho mais de 1 milhão de seguidores mas eu faço questão de responder
todo mundo no direct lá.
Muito obrigado pela ajuda. ;)
Tamo junto!