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Universidade de Brasília – UnB

Instituto de Política – IPOL

Matéria: Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais

Aluno/matrícula: Pedro Henrique T. Lourenço/190036524

AVALIAÇÃO 01

Brasília, 2022
Introdução

Sabe-se que ao se analisar a história do desenvolvimento dos partidos políticos e


sua significativa influência nos partidos políticos contemporâneos (e suas respectivas
influências em suas formas eleitorais), encontram-se várias contradições, que são
decorrentes do conflito presente entre o abstrato e o concreto; da teoria e da prática; de
como deve ser e de como é. Assim, pode-se traçar uma linha tênue, pontuando a história
de reviravoltas políticas; decorrentes de uma abstrata democracia -e de seus
instrumentos e meios; que gera um emaranhado de lutas pelo poder, tanto de povos
dominantes que lutam entre si, quanto de povos dominados contra os dominadores.
Dentro dessa complexa rede, a existência da estrutura partidária gera um estudo
estrutural que é de vital importância para a compreensão do cenário político como um
todo; dessa forma, decorre a diferença existente na terminologia entre facções e
partidos; e também a diferença presente nas tipologias dos partidos (focalizando-se no
desenvolvimento histórico e tendo como base, o partido de massa como objeto
analisado). Além disso, será apresentado como esse desenvolvimento no campo político
gerou a necessidade do surgimento de novas formas partidárias além é claro, de como
esse processo gerou mudanças no sistema de representação; que toca no ponto
importante da noção de governo representativo presente nas culturas contemporâneas.

Desenvolvimento
Em primeiro lugar, ressalta-se a distinção -além da relação/influência- presente
entre a terminologia de partido em contrapartida a de facção; na gênese da noção de
partido; ou em literaturas sobre o assunto, as primeiras formas de organizações que se
reuniram visando deter o poder foram chamadas de facções, então historicamente, as
lutas travadas pelas facções pelo controle do poder político de uma determinada região
carregavam o peso de guerra, conflito, desestabilidade; é daí que parte a noção
depreciativa do termo (SARTORI, 1982). Assim, em contrapartida, o termo “partido”
vem com essa ideia de substituir o termo depreciativo, já que em sua terminologia,
partido possuí um significado de “parte” e tal significado se aproxima mais de “seita”
(SARTORI, 1982); assim, desde sua criação o termo “partido” possui uma conotação
menos negativa do que a de facção, porém, mesmo não sendo um termo pejorativo, as
duas palavras continuam sendo sinônimos próximos e assim, associáveis (SARTORI,
1982).
Além de que a maioria dos autores modernos, tiveram dificuldade de montar tal
distinção entre os dois termos, destaca-se que são coisas distintas por definição; pois
pode-se entender o surgimento dos partidos como pré-moldado pela estrutura das
facções no sentindo de ser algo à parte do todo; dos membros, terem algum tipo de
ideologia comum; mas no sentido geral da estrutura, entende-se que para a forma
depreciativa é característico ela ser desorganizada e em contrapartida, a forma não
depreciativa -o partido em si- é caracterizada por ser organizada em sua estrutura
(DURVERGER, 1970). Tendo isto em mente, pode-se entender, os caprichos e arranjos
da singularização presente na origem dos partidos políticos.
Deste modo, destaca-se que em 1850 nenhum país do mundo compreendia os
partidos políticos da forma que compreende se hoje, entretanto, de 1850 até 1950 o
avanço do desenvolvimento do conceito de partido ou ser partidário -no que confere o
inconsciente coletivo das massas- é de súbita importância para o entendimento da
origem dos tipos de partidos (e de seus respectivos modelos políticos, estratégias,
adeptos/membros, e líderes). Assim, é importante ressaltar que, incialmente o voto não
era universal; ele possuía a característica de ser restrito e que, dentro dessa ótica elitista
os parlamentos reinavam, com a presença de pessoas, que no entendimento das classes
operárias e dependentes eram tidos como ilustres/notáveis pois por serem de famílias
com boa condição socioeconômica (além do prestígio social), tinham direito ao estudo e
exerciam os principais cargos públicos e assim, se firmam os primeiros partidos de
quadro (DURVERGER, 1970). Em tais partidos, pode-se apontar que “correspondem
aos partidos de comitês” (DURVERGER, 1970, P.106) e esses possuem a característica
de serem decentralizados e fracamente articulados em comparação com os partidos de
massa, pois, por conta da corrupção presente no sistema parlamentarista e
principalmente pela mudança ocasionada pelo sufrágio universal; os partidos de quadro
(que foram culminados por questões de proximidade regional e prestígio social)
perderam a vez para os partidos de massa (MICHELS, 1984).
Após o advento da Industrialização e Urbanização, o mundo viu surgir novas
elites que vieram para derrubar as arcaicas elites que detinham o poder político até então
(MICHELS, 1984); dessa forma, a classe burguesa e seus partidos políticos do tipo
parlamentaristas com as consequências do desenvolvimento social do período, ou pelo
menos, a sua elite; viu surgir com a ocorrência do voto universal uma nova forma de
governo representativo surgindo, tal governo era fincado nos partidos e neles, as pessoas
normais, encontravam-se com a representação política por uma ligação de origem
identitária (MANIN, 1995),entretanto antes da emergência dos partidos de massa, tal
identificação das pessoas com os notáveis civis era de caráter mais pessoal -já que,
naquele tempo, a localização regional tornava alguma pessoa com poder
socioeconômico de influência, um deputado, já que este possuía mérito em detrimento
aos outros (DURVERGER, 1970). Ademais, o desenvolvimento dos partidos está ligado
a democracia e cada partido possui sua gênese própria e em tal gênese é que se encontra
a origem de cada partido, de forma, que um membro de um partido X não pode ser o
mesmo membro de um partido Y; tal gênese se encontra sendo formada na exterioridade
(que é o caráter mais comum entre os partidos) (DURVERGER, 1970); assim, pode se
apontar que cada partido possui elementos únicos, estes são variados mas se resumem
em: estruturas diretas ou indiretas; articulação forte ou fraca; ligação vertical (presença
de hierarquias) ou horizontal (principio de igualdade entre os membros)
(DURVERGER, 1970). Além de que, com o fim do parlamentarismo, o governo dos
partidos trouxe como símbolo máximo de exemplificação os partidos de massa
(socialistas, fascistas e comunistas) pois estes possuíam uma forte identidade de grupo,
que favorecia uma maior institucionalização, e por consequência, uma maior autonomia
no que diz respeito das coalizões políticas e dependências financeiras em comparação
aos partidos burgueses/de quadro (PANEBIANCO, 1990).
Assim, quando acontece essa mudança de foco, de partido de quadro (regime
carismático liberal) para partido de massa, as pessoas tendiam a enxergarem tal
transformação como uma crise de representação; pois como já foi dito, no
parlamentarismo tinha se um contato pessoal entre representante e eleitor; algo que
muda com o apogeu dos partidos de massa, representação aqui, encontra-se vinculada
ao partido; e sua ideologia que junta membros sociais por visão de mundo parecidas
(MANIN, 1995); isso ocorreu paralelamente ao processo de institucionalização dos
partidos políticos, já que, tal institucionalização está associada a ideia de maior
autonomia e também de maior organização interna do partido (programa político,
compromisso com os eleitores; algo que foi característico dos primeiros partidos de
massa, já que, o eleitor começou a votar nas ideias do partido e não nos candidatos)
(PANEBIANCO, 1990); fazendo assim, o eleitor ser dependente da vontade do partido;
característica democrática relacionada a vontade da maioria de Rousseau) (MANIN,
1995). Dessa forma pode-se definir que a representação política ainda estava salva, por
conta do caráter democrático, além de que ao institucionalizar-se um partido, este passa
de ser um mero instrumento e começa a ser valorizado por suas características
intrínsecas pois seus membros desenvolvem uma forte identidade social com seus
iguais, no âmbito do partido (PANEBIANCO, 1990); assim, associa-se que os partidos
que são mais institucionalizados são os de massa, pois a institucionalização diz respeito
a origem do partido, de forma que, aquele mais próximo de suas ideias tendo autonomia
e tendo sobrevivido por longo tempo e se mantido ativo é fruto de sua formação, como
um conjunto da sociedade política (PANEBIANCO, 1990).
Finalmente, tendo tudo que já foi dito em mente, pode-se apontar que mais uma
vez a representação política se apresenta em crise pois com o término da hegemonia dos
partidos de massa e de sua influência nos demais partidos de quadro (em relação a
tentativa de se aproximar de sua estrutura), pode-se entender que atualmente, muitos
eleitores não mais se identificam com os partidos; mas sim, com os seus representantes -
como ocorria no parlamentarismo- isso ocorre por conta dos desenvolvimentos
produzidos pela influencia politica dos partidos de massa, já que, estes (no caso, mais à
esquerda) foram responsáveis por uma série de evoluções no âmbito das politicas
públicas; e assim, o estado de bem-estar reinou nessa época em países da Europa, assim,
houveram mudanças do ponto de vista revolucionário, revolução essa presente na
palavra de partidários de partidos de massa, esfriou-se (democraticamente falando, por
meio de votos); assim, partidos cuja a identidade ideológica é fraca, buscou de outros
artifícios para formular novas formas de estruturas partidárias (MANIN, 1995); assim,
surgiram os partidos do tipo catch-all e cartel; os primeiros estão preocupados em
buscar uma base eleitoral ampla e usam de todos os artifícios legais para isso, quando
dar certo, acontece um fenômeno de diluição das diferenças ideológicas e isso afeta
diretamente o sistema e gera uma crise de representação política, pois se uma sociedade
não possui entidades que a representem, o caráter representativo de governo torna-se
contraditório, tendo em vista que as pessoas começam a votar não mais por um vínculo
pessoal; nem por um vínculo subjetivo relacionado a uma identidade social-ideológica;
mas por simplesmente se atenuar a personalidade do candidato -personalidade essa que
não tem muito a ver com programa político (MANIN, 1995). Assim, a eleição dos
representantes atualmente se encontra na figura do comunicador (influencia dos meios
de comunicação em massa, que deixam o eleitor “cara a cara” com o político; pessoa
confiável; cuja a personalidade é a primeira conexão com o eleitor; assim, a imagem de
tal candidato determina a escolha do líder e por isso que o eleitor atual se encontra como
um ator politico flutuante; pois ao escolher pela imagem o conteúdo político fica em
segundo plano; ao desiludir-se o eleitor, tende a buscar outro; sem se ater ao programa
político, sintoma de uma crise de representação.

Conclusão
Entende-se que, tendo como panorama geral o caso dos partidos de massa, que
esses foram responsáveis pelo fim do parlamentarismo clássico, porque em sua estrutura
tinha-se alguma motriz forte que durante seu nascimento possuía forte identidade social
entre os membros, uma alta organização interna e por consequência uma posterior forte
institucionalização que gerava maior autonomia e identidade e que por isso, tal modelo
influenciou os partidos de quadro, que engendraram-se numa cópia imperfeita dos
partidos de massa, que com o fim do Século XX, se transformaram em novas formas de
partidos e trouxeram o fim da era dos partidos de massa como modelo de partido
contemporâneo. Além de que por conta disso, a representação política após a hegemonia
dos partidos de massa, encontra-se diluída e fermentada de variáveis subjetivas que
pouco conteúdo político apresenta, principalmente, pelo advento das novas formas de
partidos, que geram uma diluição das diferenças ideológicas além de uma queda nos
níveis de participação que refletem em uma crise de representação.

BIBLIOGRAFIA
SARTORI, Giovanni. “Da facção ao partido”. Partidos e sistemas partidários. Rio de
Janeiro: Zahar; Brasília: Ed. UnB, 1982 [1976], p. 23-33.
DUVERGER, Maurice. “Introdução: a origem dos partidos”. In: Os partidos políticos.
2. ed. Rio de Janeiro: Zahar; Brasília: UnB, 1980 [1951], p. 19-38.
MICHELS, Robert. “Os chefes nas organizações democráticas”. Sociologia dos partidos
políticos. Brasília: Ed. UnB, 1982 [1914], p. 15 – 57.
DUVERGER, Maurice. “Os Membros dos Partidos”. Os partidos políticos. 2. ed. Rio de
Janeiro: Zahar; Rio de Janeiro, 1970 [1951], pp. 97-107.
Panebianco, Angelo, and Mario Trinidad. Modelos de partido: organización y poder en
los partidos políticos. Madrid: Alianza editorial, 1990. (Capítulo 4- La
Institucionalización).
Panebianco, Angelo, and Mario Trinidad. Modelos de partido: organización y poder en
los partidos políticos. Madrid: Alianza editorial, 1990. (Capítulo 11 - La Organización y
su Entorno).
Manin, Bernard. “As metamorfoses do governo representativo”. Revista Brasileira de
Ciências Sociais, v. 10, 1995.

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