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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitora: Sandra Regina Goulart Almeida
Vice-reitor: Alessandro Fernandes Moreira
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Diretora: Daisy Moreira Cunha
Vice-diretor: Wagner Ahmad Auarek
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II SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CULTURA ESCRITA DIGITAL –
(RE)CONFIGURANDO O LETRAMENTO NA CULTURA DIGITAL
COORDENAÇÃO GERAL
Mônica Daisy Vieira Araújo (NEPCED/CEALE/UFMG)
Isabel Cristina Alves da Silva Frade (NEPCED/CEALE/UFMG)
COMITÊ ORGANIZADOR
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INSTITUIÇÃO ORGANIZADORA
Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Cultura Escrita Digital (NEPCED)
Centro de Alfabetização Leitura e Escrita (CEALE)
Faculdade de Educação da UFMG
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Eixo Temático 5: Tecnologias emergentes na cultura escrita digital
Resumo:
A internet é um espaço que permite aos seus usuários o contato com a escrita digital, através
de redes sociais digitais, blogs, sites, noticiários, plataformas virtuais de interação, dentre
outros, sendo perceptível como estes ambientes são grandes veículos de produção de escrita
e leitura. Por tal razão, buscando observar o funcionamento da língua em uso nos atuais
recursos tecnológicos empregados como suporte de mediação para o ensino, este trabalho
objetiva analisar o tópico discursivo em conversações no chat de aulas remotas de língua
portuguesa ministradas na plataforma do Google Meet para alunos do Ensino Médio. Os
pressupostos teóricos foram baseados na noção de Tópico Discursivo apresentada pelos
Cadernos de Estudos Linguísticos organizados por Jubran (2006). Em relação à metodologia,
este trabalho se trata de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo e interpretativo.
Desse ambiente de interação, foram coletadas conversações durante duas aulas de língua
portuguesa realizadas na plataforma de videoconferência com interação síncrona,
consistindo em diálogos em tempo real. O corpus é constituído por interações geradas
através do chat no decorrer de duas aulas. Ao realizar a análise desse corpus, observa-se que,
durante as conversações, os tópicos discursivos mudam progressivamente de acordo com os
estímulos da professora, provocados pelo tema da aula, mas também sobre assunto de cunho
pessoal dos alunos que tangenciam ou até fogem absolutamente ao tema da aula.
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Eixo Temático 5: Tecnologias emergentes na cultura escrita
Introdução
A popularização da internet afetou a forma como os seus usuários se relacionam socialmente,
porque permitiu novas possibilidades de interação através da máquina, assim como o
surgimento de novos modos específicos de se comunicar, o que supôs o emprego de uma
linguagem digital. Nas redes sociais digitais, por exemplo, os usuários têm contato direto com
uma diversidade de textos típicos daquele espaço, caracterizados, sobretudo, pelo hibridismo
de linguagens (isto é, pela multissemiose).
120 Mestranda em Ensino pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino (POSENSINO), da associação ampla entre a Universidade Federal Rural
do Semi-Árido, a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte. Membra do Grupo de Pesquisa em Estudos Linguísticos do Texto (GPELT). E-mail: amanda17aparecida@gmail.com
121 Doutor em Estudos da Linguagem. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ensino (POSENSINO), da associação ampla entre a
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e o Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte. Líder do Grupo de Pesquisa em Estudos Linguísticos do Texto (GPELT). E-mail:
ananias.silva@ufersa.edu.br
122 Mestranda em Ensino pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino (POSENSINO), da associação ampla entre a Universidade Federal Rural
do Semi-Árido, a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte. Membra do Grupo de Pesquisa em Estudos Linguísticos do Texto (GPELT). E-mail: gabriellythiciane@gmail.com
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Talvez pelo fato de os sujeitos não estarem em presença física uns dos outros, parece não
haver forte monitoramento das escolhas linguísticas realizadas pelos usuários, resultando em
um estilo de linguagem informal. Como bem mostra Hilgert (2001, p. 24), a interação via chat
“acontece por escrito, por força das características do meio eletrônico usado, mas os
interlocutores sentem-se numa interação falada”, dada a informalidade da situação. As
interações que se desenvolvem nessas ferramentas, como no chat do Google Meet, assim
como os inúmeros gêneros que surgiram no ambiente digital, têm sido objeto de interesse
de estudo da Linguística Textual, disciplina cujo objeto de estudo é o texto.
123 No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou estado de pandemia causado pelo novo coronavírus Sars
Cov 2, que provoca uma infecção respiratória chamada de Covid-19, altamente contagiosa. No Brasil, até o dia 13 de junho de 2021, o número
de mortos pela doença já alcançava o número de 487.476.
124 O Ensino Remoto Emergencial (ERE) é uma modalidade autorizada temporariamente pelo Ministério da Educação a fim de cumprir o
cronograma de aulas presenciais, no período da pandemia, em modo on-line e se difere da Educação à Distância (EaD), tendo em vista que
este modelo é realizado de forma programada, com cumprimento total ou parcial da carga horária de um curso com apoio de tutores,
professores e recursos tecnológicos.
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A noção de tópico recobre duas frentes de trabalho nos estudos linguísticos distinguidas a
partir do adjetivo caracterizador. Fala-se de tópico frasal (ou sentencial) e tópico discursivo.
A distinção entre esses dois termos sinaliza abordagens de análise distintas, conforme
observa Marcuschi (2006). O autor explica que a primeira noção, de natureza eminentemente
sintática, tem sido trabalhada em uma perspectiva funcionalista e se refere ao conceito de
tema, ou seja, o dado sobre o qual se fala em uma frase, que se opõe ao rema, o comentário
que se faz do tema na frase. Já o tópico discursivo corresponde a uma noção mais ampla, de
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Para Pinheiro (2006), o tópico tem característica interacional e se adequa aos seus usuários.
Segundo o autor,
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Esses três traços observados pela autora são importantes, porque permitem compreender o
funcionamento da propriedade de centração e, por extensão, da própria categoria do tópico
discursivo.
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- Ruptura tópica: ocorre quando um tópico em curso é interrompido pela introdução de novo
tópico, de forma que o anterior não seja mais retomado;
De acordo com Koch & Penna (2006), para que o texto tenha coerência é necessário que
apresente centração, ou seja, é preciso que a progressão tópica aconteça sem rupturas do
tema em desenvolvimento, mantendo a coerência textual, ficando clara a importância da
centração para a manutenção tópica. Em relação a articulação de enunciados e de tópicos,
Pinheiro (2003) afirma que o segmento tópico ocorre por meio do encadeamento dos termos
de referenciação no texto. Costa Val (2006, p. 22) diz que “avaliar a continuidade de um texto
é verificar, no plano conceitual, se há elementos que percorrem todo o seu desenvolvimento,
conferindo-lhe unidade; e, no plano linguístico, se esses elementos são retomados
convenientemente”. A partir dessa compreensão, é preciso conferir como os elementos
percorrem o desenvolvimento textual.
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Para exemplificar o que foi até aqui exposto, bem como para atingir o objetivo pretendido
no trabalho, apresentam-se, abaixo, arranjos textuais compostos por trechos de aula de
Língua Portuguesa de uma escola pública ocorrida no Google Meet. A coleta de dados ocorreu
através do recurso Print Screen, tecla disposta nos teclados de computadores que captura a
imagem em exibição na tela. A situação de interação tem início com a apresentação inicial
da professora na plataforma de videoconferência, cumprimentando os participantes e, como
resposta, o início do diálogo no chat.
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Esse exemplo apresenta um trecho inicial da interação escrita desenvolvida no chat da aula,
motivada, especialmente, pela fala da professora na videoconferência. A docente iniciou a
aula tratando sobre a realização de leitura crítica de imagens com alunos de uma 1ª série do
Ensino Médio. Para isso, foram compartilhados slides com textos verbais e imagéticos como
apoio visual para o público em questão. Assim sendo, há uma integração entre o texto
oralizado pela professora no vídeo e as conversas desenvolvidas no chat, que é um ambiente
onde os usuários sintetizam as respostas e raciocinam rapidamente para ler as mensagens,
configurando quase que uma única situação de interação multimodal.
No que diz respeito à propriedade do tópico discursivo centração, é possível identificar que
os interlocutores contribuem para uma conversação convergente ao tópico central
apresentado pela professora que é compreendido como “Introdução à reunião”. Isso fica
evidenciado nas interações dos alunos, especialmente quando interagem com uma possível
música que está sendo compartilhada no início da interação, quando falam “gostei da música
kk".
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Os demais tópicos se referem ao tópico central e são elencados pelas falas "gostei da música
kk","professora otaku, meu maior orgulho", "Bom diaaaaa", sugerindo uma relação
convergente entre o tópico central e os subtópicos desta conversação.
Neste recorte, embora o texto seja escrito, ele apresenta características do texto oral. É
possível observar que a interação via chat “acontece por escrito, por força das características
do meio eletrônico usado, mas os interlocutores sentem-se como numa interação falada”
(HILGERT, 2001), como se vê exemplificado em “Bom diaaaaa”, “tô morrendo” e “Simm” com
intuito de marcar uma expressiva entonação da fala oral.
Para Koch (2006a), a continuidade tópica é imprescindível para a coerência textual. Já Costa
Val (1994) considera a continuidade como fator de textualidade. Segundo essa autora, uma
sequência que trate a cada passo de um assunto diferente certamente não será aceita como
texto (COSTA VAL, p. 21, 1994). Discordamos dessa autora e preferimos concordar com Koch
(2006). No caso do gênero chat, podemos perceber que há uma sequência de falas na qual,
ainda que se possa tratar de subtópicos distintos, a confluência de todos eles constitui um
único texto.
Seguindo essa lógica, no chat, são comuns desvios inesperados do assunto sem que isso
cause tanto estranhamento ao texto. Diante disso, na conversação analisada, os tópicos
“saudações iniciais da reunião”, “interações com a música”, “informações pessoais sobre os
alunos”, “justificativa do atraso”, “condição física do aluno”, “problemas de compreensão da
aula” e “dificuldade com a redação e a disciplina português” surgem de forma espontânea no
decorrer da interação. Isto significa que essa descontinuidade tópica, ou seja, os problemas
de continuidade não comprometem, necessariamente, o texto desse gênero.
É preciso considerar que nem sempre um texto apresenta um único tópico central.
Dependendo do gênero a que ele pertença, do grau de formalidade, dos propósitos
comunicativos e de outros fatores, pode haver mais de um tópico (CAVALCANTE, 2018). Tal
variação de tópico ocorre na conversação analisada, quando os interlocutores passam a
interagir com outros elementos da situação como, por exemplo, a música e as declarações
sobre o estado pessoal de alguns sujeitos, mas compondo o todo textual que é a conversação
contínua ocorrida no chat.
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No plano linear, o aluno volta ao subtópico “Início da reunião” através de saudações “Bom
diaaaaa”, “Bom dia” indicando a apresentação do aluno no ambiente virtual onde ocorre o
início da aula. No subtópico 2 “Informações pessoais sobre os alunos” os discentes interagem
com informações referentes a situações vividas fora da aula, através das falas “cheguei agora
da escola/tô morrendo”, “tbm tô muito ofegante” representando novos tópicos na conversa
que são a “Justificativa do atraso” e “Condição física do aluno”. Já no subtópico “Problemas
de compreensão da aula”, representado pelas falas “tenho grandes problemas com redação
kkkk” e “português é a matéria q destrói me minha alma e mente”, os alunos revelam
dificuldades em relação à disciplina português, gerando falas em consonância com o
conteúdo da aula. Portanto, percebe-se que no gênero chat, que tem como função
comunicativa promover interação em tempo real à distância, não apresentando exigência de
um nível de formalidade, o texto se organiza em subtópicos diferentes, mas mantém o
propósito comunicativo a cada mudança de tópico.
Considerações finais
A não linearidade textual, por exemplo, se tipifica pela descontinuidade tópica com assuntos
diferenciados dos que estão sendo abordados no decorrer da aula, ou seja, acontece um
desvio da sequência lógica textual. No entanto, com os estímulos da professora no decorrer
da aula, a organização sequencial vai reordenando.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
COSTA VAL, M. G. Redação e textualidade. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 133.
_______. Tópico discursivo. Em: Clélia Cândida Abreu Spinardi Jubran e Ingedore Grunfeld
Villaça Koch (Orgs.). Gramática do Português Culto Falado no Brasil. Campinas: Editora da
UNICAMP, vol. I – Construção do texto falado, (2006).
MARCUSCHI, L. A. Repetição. Em: Clélia Cândida Abreu Spinardi Jubran e Ingedore Grunfeld
Villaça Koch (Orgs.). Gramática do Português Culto Falado no Brasil. Campinas: Editora da
UNICAMP, vol. I – Construção do texto falado, (2006).
PRETI, D. (Org.) Análise de textos orais. apud FÁVERO, L. L. O tópico discursivo. 4. Ed. São
Paulo: Humanitas, 1999. p. 33-54.
______. A fala e a escrita em questão. apud HILGERT, J. G. A construção do texto ‘falado’ por
escrito: a conversação na internet. 2 ed. São Paulo: Humanitas. SFLCH/USP, 2001. pp. 17-55.
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