IESDE BRASIL
2020
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7 Gabarito 144
APRESENTAÇÃO
Estudar a linguagem é uma atividade fascinante, pois é por meio dela
que conhecemos o mundo, o outro e nós mesmos. Para o(a) educador(a)
que se propõe a trabalhar com crianças na educação infantil, quando a
língua oral está em desenvolvimento, e no ensino fundamental, momento
de aprendizagem da leitura e da escrita, isso se dá de modo especial.
Esta obra visa despertar o interesse pela área da linguagem e apresentar
propostas metodológicas para o ensino e para a aprendizagem de Língua
Portuguesa, alinhadas às mais recentes teorias linguísticas, bem como às
orientações curriculares para a educação nacional.
Por essa razão, no primeiro capítulo, tratamos das diferentes concepções
de linguagem ao longo da história. Esse conhecimento permite que o
professor tenha clareza sobre o embasamento teórico adotado para o ensino
e aprendizagem de língua materna na escola. Abordamos, ainda, a fala e a
escrita, contando brevemente suas origens e ressaltando a necessidade da
prática pedagógica com essas duas modalidades da língua, que são diferentes,
porém, complementares.
O segundo capítulo apresenta a interessante e polêmica aquisição
da linguagem pela criança, com base nas hipóteses behaviorista, inatista,
construtivista e interacionista. Dentre essas teorias, destacamos a última,
pois foi propagada por dois grandes estudiosos do desenvolvimento
infantil: Piaget e Vygotsky.
O terceiro capítulo propõe reflexões acerca das mudanças pelas quais
passou o ensino de Língua Portuguesa no Brasil. Além disso, o tema das
variedades linguísticas é exposto com o principal objetivo de esclarecer
as concepções de “certo” e “errado” na língua, de modo a combater o
preconceito linguístico.
Assim, o quarto capítulo, ao discorrer sobre a Língua Portuguesa
na escola, distingue dois posicionamentos em relação ao ensino e à
aprendizagem desse componente curricular: o ensino de gramática e a
educação linguística. É com base na segunda visão que os documentos
nacionais orientam as práticas escolares de linguagem, por meio dos
quatro eixos: leitura, escuta, oralidade e escrita, com vistas a promover o
letramento dos estudantes da educação básica.
Partindo desse contexto, o quinto capítulo versa sobre o encaminhamento
para o ensino e para a aprendizagem de Língua Portuguesa na atualidade,
com base nas quatro habilidades da língua: falar, escutar, ler e escrever. Essas
habilidades são focadas no trabalho com textos em sala de aula, que também
são objetos de reflexão nos momentos de análise linguística.
Por fim, o sexto capítulo aprofunda a análise das práticas discursivas de
uso efetivo da língua, que acontecem por meio do trabalho com gêneros
textuais. Para isso, sugerimos o emprego de sequências didáticas em sala
de aula, buscando proporcionar aos estudantes o domínio das habilidades
necessárias para interagir socialmente com eficácia e adequação a cada
situação comunicativa.
Bons estudos!
1
Diferentes concepções
de linguagem
A capacidade de usarmos a linguagem é tão fantástica e ao mes-
mo tempo parece tão natural, não é mesmo? Talvez, por essa ra-
zão, poucas vezes paramos para refletir sobre como a adquirimos.
Sabemos que, desde bebês, ao entrarmos em contato com falan-
tes mais experientes que nós, vamos aprendendo a falar nossa lín-
gua materna, de um modo geral, sem grandes dificuldades.
No entanto, quando vamos à escola, a fim de aprendermos a ler
e a escrever, as coisas não parecem tão fáceis assim! Provavelmen-
te você não se lembre bem de como decifrou uma palavra escrita
ou conseguiu escrever uma frase pela primeira vez. Tampouco se
recorde qual método foi utilizado para alfabetizá-lo. Depois de do-
minarmos a fala e, mais tarde, a leitura e a escrita, dificilmente pen-
samos em como esse processo ocorreu; qual concepção de língua
fundamentava a prática pedagógica do professor ou da escola;
quais métodos foram usados para o ensino de Língua Portuguesa
ou outras questões que envolvam a linguagem.
Se estamos dispostos a aprender sobre linguagem para de-
pois ensiná-la aos nossos alunos e alunas, precisamos conhecer
as concepções que embasam o ensino e a aprendizagem de língua
materna. Essas concepções não foram sempre as mesmas, ao lon-
go da história dos estudos sobre linguagem. Cada época, com seus
recursos, possibilidades e limites, por meio de estudiosos da área,
traz diferentes formas de compreensão sobre como é o funciona-
mento da linguagem, como ela deve ser estudada e tomada como
objeto de ensino e aprendizagem, principalmente na educação for-
mal, ou seja, na escola.
Neste primeiro capítulo, então, vamos conhecer as diferentes
concepções de linguagem ao longo da história e identificar os com-
ponentes que constituem os estudos da língua, ou seja, como a
ventada pelo ser humano é conhecer como ela vem sendo compreendida O texto O que se entende
por língua e linguagem, do
pelas pessoas que se interessaram em estudá-la. A linguagem sempre foi grande linguista brasileiro
objeto de fascínio humano em todos os tempos, pois está relacionada a o Ataliba de Castilho pode ser
lido no link a seguir e na en-
que e como mulheres e homens pensam; de que modo expressam seus trada do Museu da Língua
desejos; falam sobre si e sobre o mundo; relatam experiências, transmi- Portuguesa, na Estação da
Luz, em São Paulo. O autor,
tindo-as aos seus descendentes; formulam ideias do que poderá existir ou em tom de brincadeira,
até mesmo daquilo que jamais poderá ocorrer. diz que há várias coisas
óbvias sobre a língua, por
Mas antes de continuarmos, vale a pena distinguirmos basicamente exemplo, que ela caracte-
riza o ser humano, que ela
o que é linguagem e o que é língua. Linguagem pode ser definida como serve para a comunicação,
toda maneira de expressão em que haja sinais, por meio dos quais que não seríamos nada
sem ela. Mas a principal
possa haver comunicação. Portanto, as placas de trânsito, as notas mu- característica definidora da
sicais, os gestos, os desenhos, a fala, a escrita e tantos outros sistemas língua é que sem ela não
poderíamos formular o
de comunicação e interação podem ser considerados linguagem. nosso pensamento.
Marcuschi (2005) contribui com essa diferenciação, afirmando Disponível em: http://
museudalinguaportuguesa.org.br/
que a linguagem é a capacidade humana de usar signos com objeti- wp-content/uploads/2017/09/O-
vos cognitivos. A língua, por sua vez, é uma manifestação particular, que-se-entende-por-
li%CC%81ngua-e-linguagem.pdf.
histórica, social e sistemática de comunicação humana. Ela não serve Acesso em: 20 fev. 2020.
apenas para a comunicação, mas é essencialmente uma atividade inte-
rativa (dialógica) de natureza sociocognitiva e histórica.
Além disso, dizemos que existe linguagem verbal e não verbal, como
mostra a Figura 1.
star/Shutt
M a ng o erst
ock
Figura 1
Tipos de linguagem
fizkes
/S hut
te rst
oc
k
Linguagem Pro
sto
ck
-s
verbal tu
dio
/S
hu t
ters
tock
Diz respeito à
fala (língua oral)
e à escrita
(Continua)
Rawpixel.com
/Sh
utt
e rst
oc
k
Linguagem
pau
não verbal l ap
h
ot
o/
Sh
ut
ters
tock
É caracterizada
por desenhos,
imagens e
símbolos.
Leitura
Tepjinda/Shutterstock
Laboratório de Estudos Experimentais em
Linguagem, da UFRN, sobre o simbolismo
sonoro – que é a relação entre o som e o
sentido da palavra assim como Sócrates
já apontava. Alguns resultados desses es-
tudos indicam que as pessoas associam
sons à noção de tamanho. Com base
nisso, estudiosos fizeram uma pesquisa
com japoneses e brasileiros para verificar
se dariam nomes a Pokémon antes e de-
pois de evoluírem (e se tornarem maiores
e mais fortes) utilizando simbolismos sonoros associados à noção de tamanho. Quer saber o re-
sultado dessa pesquisa? Leia o texto Sócrates, Pokémon e simbolismo sonoro, de Mahayana Godoy,
publicado no blog #Linguística.
Shakko/Wikimedia Commons
las ideias de Leonard Bloomfield, apoia-se na psicologia behaviorista
de comportamento humano, apresentada principalmente pelo psi-
cólogo Burrhus Frederic Skinner. Segundo essa teoria, a linguagem
decorre da “exposição do indivíduo ao meio e da aplicação de me-
canismos comportamentais como reforço, estímulo e resposta”
(DIAS; GOMES, 2015, p. 170).
Roman Jakobson (1896-1982)
Na segunda metade do século XX, o linguista norte-americano Noam
Um dos principais nomes da
Chomsky postulou que toda língua possui uma estrutura com um nú- Escola de Praga foi o linguista
mero finito de sons ou letras, mesmo que haja uma quantidade infinita russo Roman Jakobson, famoso
de possibilidades para a construção de sentenças. Para o estudioso, por desenvolver um modelo
de comunicação funcionalista,
essa estrutura é demasiadamente complexa, abstrata e específica e, baseado em componentes estru-
por isso, seria improvável ser aprendida “partindo do nada” por uma turais (emissor, receptor, código,
mensagem, canal, referente) e
criança na fase de aquisição da linguagem. Assim, Chomsky acredita
nas funções da linguagem (emo-
que a linguagem é uma capacidade inata, transmitida geneticamente tiva, referencial, poética, fática,
(PETTER, 2010). Essa concepção deu origem ao gerativismo, corrente metalinguística, conativa).
de estudos da linguagem, por meio da qual as línguas passam a ser
analisadas como uma faculdade mental natural, pois, para Chomsky,
a capacidade humana de falar e de entender uma língua (pelo
menos), isto é, o comportamento linguístico dos indivíduos, deve
ser compreendida como o resultado de um dispositivo inato,
uma capacidade genética e, portanto, interna ao organismo
humano [...] a qual deve estar fincada na biologia do cérebro/
mente da espécie e é destinada a construir a competência lin-
guística de um falante. Essa disposição inata para a competência
linguística é o que ficou conhecido como faculdade da linguagem.
(KENEDY, 2008, p. 129, grifo do original)
menin + a + s
designa que significa
pertence ao mais de uma
gênero feminino menina
Figura 2
Características das línguas oral e escrita
Heterogeneidade Historicidade
Variam histórica, social, Modificam-se ao longo do
dialetalmente etc. tempo.
Interatividade
Sistematicidade
As línguas são atividades
Há regras definidas,
interpessoais que ocorrem
mesmo que variáveis.
socialmente.
Situacionalidade Cognoscibilidade
Ocorrem sempre em contextos; São sistemas cognitivos que
os enunciados são sempre servem para construção e
situados. compreensão do mundo mental.
Cagliari (1998) costuma contar uma história que pode ilustrar como
ocorreu a criação da escrita, apesar de ser fictícia, e que, provavelmen-
te, iniciou a partir de situações cotidianas como esta:
Ron Leishman/Shutterstock
nhos. Ele começou a explicar os desenhos,
o que eles significavam e assim por diante.
Figura 3
Papiro
Andrey_Kuzmin/Shutterstock
Zinaida Zaiko/Shutterstock
Figura 4 Figura 5
Escrita cuneiforme Silabário cuneiforme
Alejo Miranda/Shutterstock
Co
up
er
fie
ld
/Sh
ut ters
tock
Cagliari (1998) garante que o princípio acrofônico foi uma das me-
lhores ideias que surgiram nos sistemas de escrita, pois reduziu o nú-
mero de letras e simplificou a aprendizagem da leitura e da escrita.
Figura 7
Evolução do alfabeto
AndreyO/Shutterstock
Fenício
AlexTois/Shutterstock
Grego clássico
Niakris6/Shutterstock
Grego atual
Flipser/Shutterstock
Romano
Ouça a música Língua, composta e interpretada por Caetano Veloso, e preste atenção nas palavras
que formam os versos da letra. O refrão diz “Flor do Lácio / Sambódromo / Lusamérica / latim”. Você
sabe o porquê? Porque a língua portuguesa ficou conhecida como “a última flor do Lácio” (região
onde se falava o latim). E como essa denominação chegou até nós? Leia o poema Língua Portugue-
sa, de Olavo Bilac, e descubra!
[...]
No Império Romano (27 a.C. a 395 d.C.), o idioma oficial era o la-
tim clássico (usado pelas pessoas cultas, da classe dominante) e vulgar
(usado pelo povo). O português originou-se do latim vulgar, levado pe-
los conquistadores romanos à Península Ibérica, região europeia que
compreende principalmente Portugal e Espanha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo da linguagem é muito amplo, não é mesmo? Vai muito além
do simples fato de caracterizar mulheres e homens como seres huma-
nos. Por meio da linguagem nos comunicamos e interagimos com os ou-
tros e com o mundo: pensamos, contamos histórias, expressamos nossa
cultura e memória, aprendemos, ensinamos, trocamos experiências, de-
fendemos nossos direitos e construímos nosso futuro.
Tudo isso pode ser feito por meio da fala e da escrita, graças aos
nossos antepassados, que desenvolveram tecnologias específicas para
esse fim. E hoje, com a ciência cada vez mais avançada, os estudos sobre
a linguagem humana também avançam, principalmente para auxiliar os
profissionais da educação a buscar novas práticas para o trabalho com
a língua materna na escola.
ATIVIDADES
1. Explique a diferença entre língua e linguagem e defina os dois tipos de
linguagem, apresentando exemplos.
Século
IV a.C.
Grécia
Antiga
(Continua)
Idade
Média
Século
XVI
Séculos
XVII e
XVIII
Século
XIX
Primeira
metade
do séc.
XX
Segunda
metade
do séc.
XX
2.1 Behaviorismo
Vídeo O behaviorismo é uma abordagem psicológica, iniciada em 1913, por
Watson (Figura 1), psicólogo americano; todavia, as ideias centrais dessa
vertente são anteriores a esse estudioso. A palavra de origem inglesa
behavior significa comportamento, e essa abordagem empírica propõe o
estudo dos fatos objetivos e observáveis do comportamento.
Figura 2
B. Frederic Skinner (1904-1990)
Quadro 1
Reforços positivo e negativo
Vídeo
Assista ao vídeo Exemplos de reforço positivo Exemplos de reforço negativo
Behaviorismo (1):
Metodológico e Radical, Ficar sem jogar videogame se tirar notas
Ganhar presentes se tirar notas boas.
publicado pelo canal baixas.
Didatics, para saber mais
sobre o behaviorismo e Ganhar uma “estrelinha” de bom com- Ficar sentado na “cadeirinha do pensamen-
as principais diferenças portamento. to” se não tiver um bom comportamento.
entre as ideias de Watson
e Skinner. Ter sua foto no quadro de “funcionário
Não ganhar sobremesa se não comer tudo.
do mês”.
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=ipHFpXAg- Ganhar um carro se passar no vestibular. Perder o recreio porque não fez a tarefa.
jiA. Acesso em: 6 mar. 2020.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Maia, 2017, p. 29-30.
Figura 3
Perspectiva behaviorista da aquisição da linguagem
A linguagem (a fala)
para o
behaviorismo
segundo
uma
palavra dita são dadas a
por exemplo
Skinner pela criança
respostas
é definida
como condicionadas fatores
o mesmo que (operante condicionado) externos
comportamento
estímulos
operante
condicionados que são
(operante verbal) depende de
(condicionamento
operante)
por exemplo
se realizam por
ocorrem
meio de conforme
enunciados
que
linguísticos
interação
reforço
a criança
com o input ouve
pode ser
promovido
positivo negativo pelo
ambiente
que busca
favorece o banir
como determinado
comportamento
dizer comportamento
desejado
como
“Muito bem!”
corrigir a criança
Vídeo
Há uma série de vídeos sobre o behaviorismo, publicados pelo canal Didatics, que apre-
senta o histórico dessa teoria, os principais estudiosos e os conceitos desenvolvidos por
eles. Há, inclusive, trechos de entrevistas com Skinner. São seis vídeos que, com certeza,
complementarão seus estudos.
https://www.youtube.com/watch?v=VW7_24SwG7M
https://www.youtube.com/watch?v=ycN8bqJ7T4k
https://www.youtube.com/watch?v=QO9SSrYZjW0
https://www.youtube.com/watch?v=-19AF7ocYEE
https://www.youtube.com/watch?v=51EuK9kOD_U
https://www.youtube.com/watch?v=3FKjukvcY1o
Acesso em: 5 mar. 2020.
Atenção
Curiosidade
O fato de toda criança normal adquirir uma língua sem esforço e sem instrução explícita é apresentado Além de Chomsky ser
por Grolla e Silva (2014) como conceito de universalidade da linguagem. um dos mais respeita-
dos estudiosos da área
Chomsky não concorda com os princípios do behaviorismo por- da linguística, é ativista
político. No filme Capitão
que considera que a criança não poderia, apenas pelo processo de Fantástico, ele é o herói do
estímulo-resposta-reforço, dado pelo ambiente, tão rapidamente protagonista, que substitui
a comemoração de Natal
aprender a estrutura complexa de uma língua. Além disso, conforme pela data de aniversário
Parot (1978), Chomsky acredita que o fato de as crianças criarem enun- de Chomsky. Para saber
mais, leia a reportagem
ciados totalmente novos, nunca ouvidos, depende de sua capacidade Vai assistir a Capitão Fan-
inata, chamada por ele de competência. tástico? Então você precisa
saber isto antes, escrita por
Outra questão é o fato de que, segundo Quadros (2007), as teorias Ricardo Sabbag.
podem prever um tipo de comportamento, porém, não podem atestar Disponível em: https://www.
de que modo esse comportamento ocorrerá com as pessoas. gazetadopovo.com.br/caderno-g/
cinema/vai-assistir-a-capitao-fan-
Dessa forma, para a abordagem gerativista, baseada na hipótese tasticoentao-voce-precisa-saber-is-
to-antes-epfss0fgqfn1d5oacwmde-
inatista de linguagem: qh1c/. Acesso em: 6 mar. 2020.
Figura 5
Estágios de aquisição da linguagem
Em torno de 10 meses
Em torno de 6 meses
Primeiros meses de vida
(Continua)
42 Metodologia do ensino de Língua Portuguesa
Mais de 3 anos
Entre 2 e 3 anos
k
rstoc
palavras. Tem um vocabulário de 400 palavras,
t te
aproximadamente. No início, não usa artigos (o, a,
/Shu
uma etc.) e preposições (de, para, em etc.), mas
nina assim que o vocabulário aumenta (cerca de 700
Zele
Ao redor de 1 ano
e 6 meses
Ao redor de 1 ano
s
Fonte: Elaborada pela autora com base em Grolla e Silva, 2014, p. 64-69.
que estuda o conhecimento). Buscando respostas sobre o que é o Disponível em: https://www.you-
tube.com/watch?v=TL-_LCvtaPg.
conhecimento, Piaget afirma que a epistemologia genética se preo- Acesso em: 5 mar. 2020.
cupa com mecanismos e processos, por meio dos quais é possível
progredir de etapas em que se tem menor conhecimento àquelas
com maior conhecimento (MAIA, 2017).
Sensório-motor
(de 0 a 2 anos)
Quadro 2
Estágios de desenvolvimento da linguagem
Psicologia ingênua
(a partir dos dois anos)
(Continua)
Crescimento interior
(após 6 anos)
Fonte: Elaborado pela autora com base em Vygotsky, 1999, p. 50-51; Palangana, 2015, p. 83-89; Santos, 2010, p. 223-224.
contexto escolar, já que o educador é capaz de fornecer media- LA TAILLE, Y.; OLIVEIRA, M. K. de.
ção qualitativa aos estudantes, de modo a ativar os processos de DANTAS, H. 28. ed. São Paulo:
Sumus, 2019.
desenvolvimento e as capacidades cognitivas, propiciando a inter-
nalização do conhecimento partilhado socialmente.
ATIVIDADES
1. Complete o quadro-síntese a seguir com as principais informações
sobre a aquisição da linguagem pela criança, considerando as
hipóteses estudadas neste capítulo.
Behaviorismo Skinner
Inatismo Chomsky
(Continua)
Piaget
Interacionismo
Vygotsky
Em torno de 6 meses
Em torno de 10 meses
Ao redor de 1 ano
Ao redor de 1 ano e 6
meses
Entre 2 e 3 anos
Mais de 3 anos
O sabiá e o gavião
Ilustrações: bproject7/Shutterstock
Mas vejo que o mundo tem
Gente que não sabe amá,
Não sabe fazê carinho,
Não qué bem a passarinho,
Não gosta dos animá.
Artigo
http://www.letramagna.com/artigos_20/artigo7_20.pdf
rentes-formas-de-falar-do-brasilei-
tter
s
Mimosa Mexerica
toc
Bergamota Tangerina
Mo
reV
ec
to
r/S
hu
tter
s
Mandioca
toc
Aipim
k
Macaxeira Castelinha
(Continua)
hu
tter
s
Moleque Menino
toc
k
Piá Guri
Rodolfo Ilari e Renato
Basso, no livro O português
da gente: a língua que
estudamos, a língua que
falamos, apresentam uma
hipótese sobre o fato de Há, ainda, os diferentes sotaques, relacionados aos aspectos so-
os moradores do Rio de
Janeiro pronunciarem o “s” noros da língua, que também caracterizam as variações linguísticas
chiante no final da sílaba. geográficas, interferindo na pronúncia de cada palavra, dependen-
Isso se deve ao grande
número de imigrantes do da região onde o falante vive.
portugueses, ao todo 15
mil, trazidos ao Brasil por A variação sociocultural e a geográfica, portanto, fazem parte do dia
D. João VI, em 1808, ao a dia de todos os falantes de uma determinada língua. Todos nós te-
instalar a Corte portugue-
sa no Rio de Janeiro. mos um jeito de falar próprio da comunidade da qual fazemos parte,
do local onde vivemos e de acordo com nosso grau de escolaridade.
Sendo assim, não há uma variedade melhor do que a outra; o que há
são modos diferentes de uso da língua.
tas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam
longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva
e ir pregar em outra freguesia. [...] Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde
ao cinematógrafo, chupando balas de alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os
quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não
admira que dessem com os burros n’água. [...]
(ANDRADE, 2016, p. 86)
De acordo com Pessoa (2019), quando uma variante passa a ser usa-
da por um grande grupo é porque, anteriormente, foi empregada por As gírias são utilizadas em
um grupo pequeno. É desse modo que ocorre o processo de mudança, grupos sociais específi-
cos, mas, se forem aceitas
lentamente. Normalmente, a variante antiga continua na fala dos mais pelos falantes de um
idosos e, algum tempo depois, é substituída pela nova, até ser legitima- modo geral, podem ser
incorporadas ao vocabu-
da pela escrita. Pode haver mudança de grafia ou de significado de uma lário de certa língua. Elas
palavra, alteração da estrutura das frases ou criação de novos termos. variam historicamente e
deixam de existir quando
O uso de tecnologias digitais, cada vez mais crescente, fez com não são mais usadas.
Você sabia que as gírias
que incorporássemos palavras novas à nossa língua, chamadas de estão presentes em
neologismos, especialmente emprestadas da língua inglesa, como todas as línguas e exis-
tem até dicionários de
é o caso de deletar, que pode ser encontrada em dicionários de gírias, como o Dicionário
Língua Portuguesa com o significado de eliminar, suprimir, apagar de Gírias Michaelis
Inglês-Português? Esse
(FERREIRA, 2010). Esse fato se configura também como um tipo de dicionário contém mais
variação histórica, pois os estrangeirismos passam a fazer parte do vo- de 2000 gírias do inglês
americano, britânico,
cabulário de determinada comunidade linguística pelo uso frequente australiano e canadense,
que o falante faz deles. assim como traduções e
termos equivalentes do
Em relação à variação situacional (também conhecida por de português, variações de
uso e exemplos.
contexto), vamos pensar no seguinte caso: uma mulher de 40 anos,
NASH, M. G.; FERREIRA, W. R. São
doutora em educação, professora universitária, que vive em um
Paulo: Melhoramentos, 2016.
centro urbano e pertence à classe média, participa de duas situa-
ções de comunicação: na primeira, apresentando um trabalho em
um congresso internacional de educação literária, em um auditório
de uma universidade, para outros professores e pesquisadores da
área; na segunda, conversando com sua família em um almoço no
Matej Kastelic/Shutterstock
Figura 1
Fatores envolvidos no processo de variação situacional
Contexto:
situação particular
de comunicação
formado por
tema
social
como como
interlocutores
tipo de
profissional
relação
o discurso local
pessoal
O estudo da gramática de
qualquer língua é complexo.
Nenhuma língua é
falada do mesmo jeito em
todos os lugares.
Os estudos gramaticais
são posteriores à escrita de
grandes obras literárias.
Fonte: Elaborada pela autora com base em Bagno, 2000, p. 35-39, 52-61 e 62- 68.
Materialscientist/Wikimedia Commons
‘diferente’ dos livros. Como quase todos os
livros para crianças que há no Brasil são
muito sem graça, cheios de termos do
tempo do Onça ou só usados em Portugal,
a boa velha lia traduzindo aquele português
de defunto em língua do Brasil de hoje.
Onde estava, por exemplo, ‘lume’, lia ‘fogo’;
onde estava ‘lareira’, lia ‘varanda’. E sempre
que dava com um ‘botou-o’ ou ‘comeu-o’, lia
‘botou ele’, ‘comeu ele’ – e ficava o dobro mais interessante” (LOBATO, 2007).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É realmente difícil saber como equilibrar a diversidade com a qual nos
deparamos em sala de aula, levando em conta todos os fatores, em espe-
cial o linguístico, e o ensino da língua padrão na escola.
É possível aceitar todas as variedades como legítimas e, ao mesmo
tempo, ensinar que há uma norma-padrão e que, em algum momento, o
estudante precisará dela para interagir em situações formais?
Respeitar as variedades linguísticas e combater o preconceito em re-
lação a elas é, acima de tudo, permitir o acesso pleno do sujeito à cidada-
nia, pois documentos oficiais, discursos públicos, livros (em sua maioria)
e outros materiais são produzidos no português padrão. Não podemos,
portanto, negar aos alunos que leiam e interpretem esses textos escritos/
orais e saibam se expressar em situações formais de interação.
Variação sociocultural
Variação situacional
REFERÊNCIAS
ANDRADE, C. D. de. Antigamente. In: ANDRADE, C. D. de. Caminhos de João Brandão. São
Paulo: Companhia das Letras, 2016.
ASSARÉ, P. de. O sabiá e o gavião. In: ASSARÉ, P. de. Cante lá que eu canto cá: filosofia de um
trovador nordestino. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 5. ed. São Paulo: Loyola, 2000.
BRASIL. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Guia de pesquisa
e documentação para o INDL: patrimônio cultural e diversidade linguística. Brasília, DF:
IPHAN, 2016. v. 1. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br//uploads/publicacao/indl_
guia_vol1.pdf. Acesso em: 11 mar. 2020.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf.
Acesso em: 11 mar. 2020.
— [...] Há certos gramáticos que querem fazer a língua parar num certo
ponto, e acham que é erro dizermos de modo diferente do que diziam
os clássicos.
— Que vem a ser clássicos? – perguntou a menina.
— Os entendidos chamam clássicos aos escritores antigos [...]. Para
os carranças, quem não escreve como eles está errado. Mas isso é
curteza de vistas. Esses homens foram bons escritores no seu tempo. Se
aparecessem agora seriam os primeiros a mudar ou adotar a língua de
hoje, para serem entendidos.
(LOBATO, 1992, p. 45-46)
Leia o texto:
A cigarra e as formigas
Resolva:
Primitivojumento/Wikimedia Commons
carregados de diferentes vozes,
ou seja, nunca um enunciado
falado por alguém é comple-
tamente novo; ele é, segundo
Bakhtin (2000, p. 316), um “elo
na cadeia de comunicação verbal
de uma dada esfera [...], está
repleto dos ecos e lembranças de
outros enunciados”. Além disso,
sempre construímos nossos
discursos em vista do outro,
tendo nosso interlocutor como
alvo. Por isso, o ato de interação
verbal é sempre dialógico,
histórico e ideológico.
Bakhtin se dedicou a estudar várias áreas relacionadas à linguagem, literatura e arte e ficou
conhecido por sua notável produção em companhia de outros pesquisadores do Círculo de Bakhtin.
É autônoma,
Baseia-se em um
estudada de
conjunto de regras
modo isolado.
de boa formação,
previamente
Língua determinadas.
em uma
Trata-se de um
concepção
produto pronto
abstrata Reduz-se à norma
e acabado.
culta e à gramática
(da frase isolada)
É estável, e supervaloriza a
invariável e fixa. escrita.
É atividade
sociocognitiva
É possível estudar e histórica; é
sua estrutura processo e
cientificamente. produto.
Língua
em uma Ocorre na
concepção interação humana,
concreta Não pode ser manifestando-se
estudada de modo em textos orais e
Tem aspectos escritos.
autônomo, e sim
estáveis e
nos contextos de
instáveis, é
uso.
variável e
indeterminada.
Quadro 1
Variantes de grau de formalismo em língua falada e escrita
Variedades de modo
Oratório: muito elaborado; usado por especia- Hiperformal: usado em poemas épicos e textos
listas em situações extremamente formais. literários, como os de Machado de Assis.
Íntimo (familiar): particular, pessoal; linguagem Pessoal: escritas para uso próprio: bilhete, lista de
afetiva. compras.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Bowen, 1972 apud Travaglia, 2006, p. 53-55.
(Continua)
USO
REFLEXÃO USO
Destaca-se que esse processo é cíclico e seu objetivo não é determi- Disponível em: http://portal.mec.
gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.
nar o planejamento do professor, mas propor que em todas as aulas de pdf. Acesso em: 19 mar. 2020.
Língua Portuguesa haja uso da língua e reflexão sobre ela.
Quadro 2
Práticas de linguagem na educação infantil
Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 1998, p. 131, 133, 135, 137, 138, 139, 142.
Figura 3
Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento
da linguagem na educação infantil
Olga1818/Shutterstock
Reconhecer o seu nome Dialogar e expressar desejos, Expressar suas ideias por
e o das pessoas com sentimentos, opiniões. desenhos, escrita espontânea,
quem convive. fotos etc.
(Continua)
mayrum/Shutterstock
Práticas com ou sem
contato face a face.
Sistema de escrita/
Envolve norma-padrão.
conhecimentos
Textuais, discursivos,
linguísticos modos de organização,
elementos de outras
semioses.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2018, p. 102-103, p. 114-115.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Refletir sobre o encaminhamento do trabalho pedagógico com o compo-
nente curricular Língua Portuguesa, na escola, exige um olhar crítico e inovador.
É necessário repensar antigas práticas voltadas exclusivamente para o en-
sino da gramática, em que a memorização de regras da língua padrão ou a
cópia de palavras, frases ou textos serviam para dominar a ortografia correta.
As orientações para o ensino e a aprendizagem atual de Língua Portuguesa,
dadas pelos documentos nacionais que encaminham a educação escolar no
país, são bem mais amplas e complexas do que há algumas décadas.
Ensinar e aprender língua na escola sob uma perspectiva
discursivo-enunciativa é realmente um desafio, porque exige que deixe-
mos de reproduzir antigos modelos, em que a língua era considerada ob-
jeto abstrato, distante de nós, como uma entidade praticamente inatingível
e que somente os grandes escritores ou gramáticos conseguiam dominar.
ATIVIDADES
1. A alfabetização e o letramento são práticas complementares, no
entanto, possuem conceitos distintos. Discorra sobre cada um
desses termos.
REFERÊNCIAS
BAGNO, M. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola
Editorial, 2002.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=79601-
anexo-texto-bncc-reexportado-pdf-2&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192.
Acesso em: 19 mar. 2020.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.
htm. Acesso em: 19 mar. 2020.
BRASIL. Referencial curricular para a educação infantil. Brasília, DF: Ministério da Educação e
do Desporto; Secretaria de Educação Fundamental, 1998. v. 3. Disponível em: http://portal.
mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf. Acesso em: 19 mar. 2020.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua
Portuguesa – 1º e 2º ciclos. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://portal.mec.
gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf. Acesso em: 19 mar. 2020.
COSTA-HÜBES, T. da C. (coord.) Sequência Didática: uma proposta para o ensino da Língua
Portuguesa nas séries iniciais. Caderno pedagógico 1. Associação dos Municípios do
Estado do Paraná; Departamento de Educação. Cascavel, PR: Assoeste, 2007.
ESOPO. Fábulas completas. Trad. de Neide Smolka. São Paulo: Moderna, 1994.
HALLIDAY, M. K. A; MCINTOSH, A.; STREVENS, P. As ciências linguísticas e o ensino de línguas.
Petrópolis: Vozes, 1974.
LOBATO, J. B. M. Emília no país da gramática. 36. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992.
Quadro 1
Dimensões da linguagem oral, objetivos e sugestões de trabalho
Dimensões da
Objetivos/justificativa da abordagem Sugestões de trabalho
linguagem oral
• Pesquisa, na comunidade, de recei-
• A linguagem oral é fundamental na ma- tas culinárias, contos de assombra-
Valorização de tex- nutenção das expressões culturais. ção, brincadeiras, receitas de remé-
tos de tradição oral • Por meio da fala, há transmissão de co- dios caseiros etc.
nhecimentos. • Trabalho com cantigas, parlendas,
trava-línguas etc.
• Desenvolver a fluência da leitura e de
habilidades típicas da comunicação • Leitura em voz alta, recitação de
Oralização do texto
oral, como altura de voz, velocidade, poemas, dramatização de textos,
escrito
pausas, atenção dos ouvintes, uso de teatro, jornal falado (TV, rádio) etc.
gestos, postura, olhar etc.
• Realizar descrições de diferentes for-
mas dialetais e refletir sobre os fatores
responsáveis por essas diferenças.
• Comparar textos orais e escritos,
• Combater o preconceito linguístico. como instruções orais e escritas de
• Compreender que a língua padrão não jogos, contos orais e escritos, recla-
Variação linguística e é a única forma correta de uso da lin- mações orais e cartas de reclama-
relações entre fala e guagem. ção etc.
escrita • Perceber que fala e escrita são impor- • Propor retextualizações, como pro-
tantes e que a primeira também é regi- duzir entrevistas escritas com base
da por regularidades. no registro oral.
• Refletir sobre a utilização de textos
escritos como apoio ao oral; por
exemplo: notas para um debate,
slides para um seminário etc.
(Continua)
Fonte: Elaborado pela autora com base em Leal; Brandão; Lima, 2012, p. 16-21. Glossário
Os PCN (BRASIL, 1997), ao abordarem a linguagem oral, expõem gêneros textuais: são
qual tipo de fala cabe à escola ensinar, visto que as crianças a apren- manifestações orais, escritas
ou multissemióticas que se
dem em seu ambiente familiar, mesmo as que frequentam muito cedo
materializam como textos
a escola. Assim, o documento aponta a necessidade de considerar as nas práticas sociais, nas mais
variedades linguísticas e combater o preconceito linguístico, já que não variadas formas, como contos,
receitas, conversas, romances,
há uma única forma correta de falar. É importante “saber qual forma
bulas, bilhetes, mensagens via
de fala utilizar, considerando as características do contexto de comuni- celular, e-mail, atestados, rótu-
cação, ou seja, saber adequar o registro às diferentes situações comu- los, anúncios, artigos de opinião,
telefonemas, seminários, his-
nicativas” (BRASIL, 1997, p. 26). Vejamos um exemplo que poderia ser tórias em quadrinhos, manuais
trabalhado em uma turma de 5º ano do ensino fundamental. de instrução, declarações, atas,
resenhas, textos dramáticos,
Figura 1 cartas, podcasts, planos de aula,
Situação comunicativa de produção de texto oral poemas etc.
Compreensão
dos efeitos
de sentidos
provocados
Condições de
Compreensão Relação entre Produção de pelos usos
produção dos
de textos orais fala e escrita textos orais de recursos
textos orais
linguísticos e
multissemióticos
em textos orais
5.2 Leitura
Vídeo Das funções que a escola tem na condição de promotora de conhe-
cimentos, o ensino da leitura talvez seja um de seus compromissos
mais necessários e, ao mesmo tempo, de difícil concretização. Não nos
referimos apenas à aprendizagem da decodificação, ou seja, transfor-
mar letras em sons, que também é um processo complexo, mas sobre-
tudo à leitura como prática permanente, na escola e fora dela.
Quadro 2
Objetivos de leitura
Fonte: Elaborado pela autora com base em Costa, 2007, p. 25-26; Solé, 1998, p. 22; Lerner, 2002, p. 80.
http://revistaalabe.com/index/alabe/article/viewFile/87/61
TRIBUNA DO VALE
Terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
Beijo inoportuno
A bancária Regina Beatriz de Souza, ex-funcionária do
Banco Agrotec, em Salinas do Sul (PR), foi demitida do em-
prego porque, apesar de advertida e alertada pelo gerente, in-
sistiu em beijar o namorado na presença da clientela. Segundo
o gerente, um funcionário não pode constranger os clientes,
obrigando-os a ficar na fila até que termine a sessão de beijos.
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Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2018, p. 80, 82,- 83.
Glossário
Percebe-se que a atividade de análise linguística é bem mais ampla
aspectos notacionais:
do que o trabalho com a gramática normativa, pois não se trata apenas
referem-se à compreensão do
de ensinar a estrutura da língua, mas de valorizar os aspectos enun- sistema de escrita, principal-
ciativos dos textos, a fim de compreender como esses são construídos mente ao domínio da escrita
alfabética e às normas ortográfi-
e quais formas são usadas para atingir cada propósito comunicativo.
cas da língua.
É importante destacar que, metodologicamente, na análise linguís-
tica, partimos da observação da situação de uso que se pretende ex-
plorar para tirar conclusões sobre as regularidades ou irregularidades
da língua. Em outras palavras, o aluno deverá ser capaz de induzir re-
gras, com base na observação e reflexão sobre determinados aspectos
do texto. Vamos ver um exemplo.
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é apresentada a prática peda-
gógica no 4º ano com textos Certa vez, um rei convocou os nobres da corte e declarou que era uma vaca.
multissemióticos. Vale a pena Os nobres ficaram assustados. O soberano disse mais: desejava ser morto e
conferir. ter sua carne cortada e distribuída ao povo.
Disponível em: https://www. Achando que o rei havia enlouquecido, os nobres convocaram os principais
youtube.com/watch?v=kRvtnR- médicos do reino. [...]
Dlh6A. Acesso em: 13 abr. 2020. (AZEVEDO, 2008)
Situação 1 Situação 2
Quadro 4
Questões relacionadas ao gênero textual conto popular
Não têm uma origem definida, mas se sabe que os povos, em todas as
Função social e condições de épocas, narravam suas histórias anônimas, preservadas pela tradição,
produção: Qual a origem dos mantendo valores e costumes de diferentes regiões.
contos populares? Quem os
São recolhidos e registrados por diversos autores, que os adaptam de
escreve? Com que intenção?
acordo com a época e o público-alvo.
Quem os lê? Por que são li-
dos? A principal finalidade é o divertimento de pessoas de todas as idades
e classes.
(Continua)
Sequência lógica de ideias, Contém situação inicial, conflito, clímax (pode apresentar) e desfecho.
paragrafação, coesão, pon- Uso de sinônimos, pronomes, elipse, pontuação etc. para garantir a coe-
tuação são.
Questões que abordam compreensão do texto; unidade temática (do
Compreensão textual que trata o texto?); ampliação vocabular (palavras novas, uso de dicio-
nário); inferências; humor do texto etc.
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que aconteceu? Quem estava envolvi-
do? Quando aconteceu? Onde acon-
Características
composicionais do teceu? Por que aconteceu? Como
gênero aconteceu? Releia a notícia Beijo
inoportuno e identifique esses ele-
mentos no texto.
Proposta: prática
real de uso da Agora é sua vez! Escreva uma notícia sobre a Semana de Jogos que
língua
aconteceu na escola este mês, para ser publicada no site da escola, com o Tema do texto
objetivo de divulgar o fato ocorrido. Lembre:
- Seu texto deve apresentar os itens citados acima, essenciais para uma
Propósito
notícia (o quê, quem, por quê, onde, quando e como aconteceu o fato); Características
comunicativo
composicionais do
- Você deve dar um título para a sua notícia;
gênero
- O texto deve ser escrito em terceira pessoa;
Conto popular
No final do conto, o rei passa a se alimentar e, aos
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Para quem o texto será - Eles escolherão qual novo final ficou mais engraçado ou inusitado. Situação real de
produzido (público-alvo)? uso da língua
Figura 2
Competências linguísticas para a produção de textos
Elaborar o
texto utilizando Observar
linguagem os aspectos
adequada (variedade notacionais, como
linguística, vocabulário, convenções ortográficas,
estilo, recursos da língua, concordância, regência
nível de linguagem etc., quando o
Saber selecionar etc.) ao público-alvo Escrever
contexto exigir uso Revisar e reescrever
o gênero textual e à intenção observando a
da língua padrão. seu texto, observando
adequado ao que se comunicativa. clareza, a coesão, a
o que precisa ser
pretende dizer, de acordo coerência, entre outros
melhorado para garantir a
com o propósito fatores de
compreensão por parte
comunicativo. Recorrer textualidade.
do leitor.
adequadamente a Utilizar pontuação
outros textos quando adequada, conforme
necessitar de fontes para convenções e efeitos de
sua própria produção. sentido desejados.
Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 1997, p. 47-48; 2018, p. 77-78.
Fonte: Elaborada pela autora com base em Hartman; Santarosa, 2012, p. 70-72 e 77.
Coerência, por sua vez, é definida por Koch e Travaglia (1989, p. 11) como:
algo que se estabelece na interação, na interlocução, numa si-
tuação comunicativa entre dois usuários. Ela é o que faz com que
o texto faça sentido para os usuários, devendo ser vista, pois,
como um princípio de interpretabilidade do texto. Assim, ela
pode ser vista também como ligada à inteligibilidade do texto
numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor
do texto (que o interpreta para compreendê-lo) tem para calcular
o seu sentido. A coerência seria a possibilidade de estabelecer,
no texto, alguma forma de unidade ou relação. Essa unidade é
sempre apresentada como uma unidade de sentido no texto,
o que caracteriza a coerência como global, isto é, referente ao
texto como um todo.
“Chinelo, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, [...] toalha. Creme para cabelo,
pente. Cueca, camisa, [...] calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, [...] chaves [...]. Jornal. Mesa,
cadeiras, xícara e pires, prato [...]. Pasta, carro. Mesa e poltrona, cadeira, papéis, telefone, agenda [...].”
(RAMOS, 1978, p. 21)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante compreender que os eixos/práticas aqui apresentados
(oralidade, leitura, análise linguística/semiótica e escrita) não ocorrem de
modo separado no ensino e na aprendizagem de língua. Foram assim
organizados neste capítulo somente por uma questão didática, mas são
complementares. Do mesmo modo, os fatores de textualidade não de-
vem ser compreendidos isoladamente.
Para que se tenha uma noção do todo, é pertinente recorrer nova-
mente aos PCN, em razão de sua proposta de USO REFLEXÃO
USO. Nessas três etapas estão presentes leitura, oralidade e escrita de
textos, configurando-se como uso da língua. A reflexão, também deno-
minada análise linguística, permeia as práticas de uso, pois ler, falar/ouvir
e produzir textos só serão práticas efetivas se forem objeto de reflexão.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, I. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2005.
AZEVEDO, R. O rei que virou vaca. In: AZEVEDO, R. Papagaio come milho, periquito leva fama.
São Paulo: Moderna, 2008.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua
Portuguesa - 1º e 2º ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.
br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf. Acesso em: 13 abr. 2020.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.
mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 13 abr. 2020.
COSTA, M. M. da. Metodologia do ensino da literatura infantil. Curitiba: Ibpex, 2007.
DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B.; HALLER, S. O oral como texto: como construir um objeto de
ensino. In: SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. de Roxane Rojo
e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004.
Para aprofundar os estudos sobre esse tema, vamos pensar nos jor-
nais escritos que, atualmente, circulam na internet. Em um jornal pode
haver notícias, reportagens, crônicas, anúncios publicitários, entrevis-
tas, tiras (história em quadrinhos), charges, sinopses etc.
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A carta pessoal, por exemplo, foi criada e muito utilizada
quando a comunicação a distância era difícil. Hoje, praticamente
não fazemos uso desse gênero, nem mesmo da carta comercial;
ela precisou sofrer alterações para atender às necessidades de um
mundo globalizado e tecnológico. Foram criados outros gêneros
com funções semelhantes à da antiga carta, como e-mail, chats,
mensagens via smartphone, via rede sociais etc.
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de cada um deles poder variar, mesmo sendo específica. Mas o que seria
essa estrutura ou, como Bakhtin (2000) nomeia, construção composicio-
nal dos gêneros? Para facilitar a compreensão, vamos observar o texto a
seguir e tentar descobrir de que gênero se trata.
Avocade-Sauce
1 große Avocado
1 Essl Meerrettich (gerieben)
4 Essl Schlagsahne
1 Teel sherry
Salz
frisch gemahlener Pfeffer
— Memórias são a história da vida da gente, com tudo o que aconte- Exposição
ce desde o dia do nascimento até o dia da morte. [...]
Injunção — Visconde – disse ela –, venha ser meu secretário. Veja papel, pena
e tinta. Vou começar as minhas Memórias. [...]
(LOBATO, 2007)
• Conto
• Poema
• Parlenda
• Trava-língua
• Expositivo
• Notícia Na educação infantil, a
• HQ oralidade/escuta e a leitura
• Bilhete ganham maior atenção,
RCN • Carta embora as crianças tenham
• Canção contato com a escrita, em
• Cantiga ambientes letrados.
• Rótulo
• Anúncio
• Lenda
• Fábula
• Adivinhas
(Continua)
Fonte: BRASIL, 1997, p. 72 e 82; 1998, p. 140, 154, 157; 2018, p. 68, 73, 78, 79, 108, 110, 118, 122.
Figura 2
Sequência didática com gêneros textuais
Apresentação Reconhecimento
da situação do gênero
Produção
textual
Fonte: Elaborada pela autora com base em Dolz, Noverraz e Schneuwly, 2004, p. 98 e Costa-Hübes, 2007, p. 17.
Quadro 1
Sequência didática – gênero fábula
Artigo
https://revistas.ufpr.br/letras/article/download/19338/12634
(Continua)
Fonte: Elaborado pela autora com base em Rangel, 2005, p. 19; Marcuschi 2005a, p. 57; Marcuschi 2005b, p. 32; Reinaldo, 2005, p. 100.
Figura 3
Critérios para avaliação em Língua Portuguesa
Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 1997, p. 85-86; 2018, p. 95.
Era uma vez um carro que se chama Jeckie e ele tinha uma
carrera muito bonbada, ele era modelo ele era uma Lamborguine
vermelha.
O Jeckie ele tinha um amigo que se chama Crow é ele é uber
e ele não para de levar gente para lá e para cá ele cansa muito
ele é um fusca.
Em dia era encontro dos carros do bairro, e nenhum carro
pudia chegar atrasado e só o Crow chegou e chegou suando muito,
e dai no dia seguinte o Jackie chegou na casa do Crow e falou -
bora da uma volta - e o Crow respondeu - não posso, daqui 15
min tenho que buscar uma pessoa - há - disse o Jackie - então a
gente combina outro dia - não posso nenhum dia disse ele.
Quadro 3
Encaminhamento para reescrita de texto
ATIVIDADES
1. Complete o quadro a seguir com as informações sobre os gêneros
textuais.
O que são? Como se caracterizam? Exemplos
REFERÊNCIAS
AMARAL, H. Questão de gênero: o gênero textual crônica. Na ponta do lápis, ano IV, n.
10, dez. 2008. Disponível em: https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/biblioteca/
nossas-publicacoes/revista/artigos/artigo/1235/questao-de-genero-o-genero-textual-
cronica. Acesso em: 15 abr. 2020.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BARBOSA, J. P. Do professor suposto pelo PCN ao real de Língua Portuguesa: são os PCNs
praticáveis? In: ROJO, R. (org.). A prática de linguagem em sala de aula: praticando os PCNs.
São Paulo: Educ, 2000.
BATISTA, A. A. G. A avaliação dos livros didáticos: para entender o Programa Nacional
do Livro Didático (PNLD). In: ROJO, R.; BATISTA, A. A. G. (orgs.). Livro didático de Língua
Portuguesa, letramento e cultura escrita. Campinas: Mercado de Letras, 2003.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua
Portuguesa – 1º e 2º ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.
br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf. Acesso em: 15 abr. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil. Vol. 3. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf. Acesso em: 15 abr. 2020.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 15 abr. 2020.
COSTA-HÜBES, T. da C. (coord.) Sequência Didática: uma proposta para o ensino da Língua
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Estado do Paraná. Departamento de Educação. Cascavel: Assoeste, 2007.
DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Sequências didáticas para o oral e a escrita:
apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. et al. Gêneros orais e
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Letras, 2004.
FERREIRA, A. I. B.; LEAL, T. F. Avaliação na escola e ensino da língua portuguesa: introdução
ao tema. In: MARCUSCHI, B.; SUASSUNA, L. (orgs.). Avaliação em língua portuguesa:
contribuições para a prática pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
LOBATO, M. Memórias de Emília. São Paulo: Globo, 2007.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.;
MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (orgs.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna,
2002.
MARCUSCHI, L. A. Compreensão de texto: algumas reflexões. In: DIONÍSIO, A. P.; BEZERRA,
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MARCUSCHI, L. A. Oralidade e ensino de Língua Portuguesa: uma questão pouco “falada”.
In: DIONÍSIO, A. P.; BEZERRA, M. A. (orgs.). O livro didático de Português: múltiplos olhares.
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MARCUSCHI, B. O texto escolar: um olhar sobre a avaliação. In: MARCUSCHI, B. SUASSUNA,
L. (orgs.). Avaliação em língua portuguesa: contribuições para a prática pedagógica. Belo
Horizonte: Autêntica, 2007.
2.
• Século IV a.C. – os primeiros registros de estudos sobre a língua
são dos hindus.
• Grécia Antiga – Platão e Sócrates procuravam a razão para
o nome das coisas. Aristóteles dizia que o pensamento era
anterior à criação das palavras.
• Roma Antiga – Varrão considerava a gramática como ciência e arte.
• Idade Média – os modistas acreditavam que a estrutura
gramatical das línguas era única e universal.
• Século XVI – na época da Reforma, os livros sagrados foram
traduzidos em várias línguas. Os viajantes e comerciantes
conheceram línguas até então desconhecidas pelos europeus.
• Séculos XVII e XVIII – acreditava-se ainda que os estudos
gramaticais serviam para todas as línguas. A Gramática de Port
Royal foi escrita com a ideia de que a linguagem é a imagem do
pensamento, influenciando outras gramáticas da época.
• Século XIX – iniciam-se os estudos comparativos sobre as línguas
vivas, o que influenciou os estudos contemporâneos. Surgiu a
Linguística Histórica.
• Primeira metade do século XX – a Linguística passou a ser
reconhecida como campo de estudo científico, a partir
de Saussure. Surgiu o estruturalismo: europeu e norte-
americano. No segundo, destacou-se Bloomfield, que se
baseava no behaviorismo.
(Continua)
Gabarito 145
Hipótese Teórico Como ocorre a aquisição da linguagem?
• Faz parte do desenvolvimento da inteligência.
• As estruturas cognitivas se desenvolvem
antes da linguagem (elas preparam a crian-
ça para a fala).
• Por meio de processos contínuos de assi-
Piaget milação e acomodação, que levam à equili-
bração.
• Entre o estágio sensório-motor e
pré-operatório.
• Com o desenvolvimento do pensamento re-
presentativo; dá permanência do objeto.
Gabarito 147
2. Costumamos reproduzir a frase “português é difícil” porque as aulas
de Língua Portuguesa, normalmente, não levam em consideração
as práticas reais de uso da língua. O ensino é, em grande parte das
vezes, focado na gramática, por isso achamos difícil. Essa afirmação
não é verdade, porque todas as línguas são fáceis e, ao mesmo tempo,
complexas. São fáceis porque são adquiridas naturalmente pelas
crianças em fase de aquisição da linguagem, sem muito esforço e sem
necessitar de ensino sistematizado. Então, todo falante nativo sabe sua
língua. Por outro lado, todas as línguas são complexas no que se refere
ao estudo de sua estrutura gramatical, e não somente o português.
Desafio:
A gramática, para o eu lírico, nas aulas de Português, era “esquipática”
(esquisita e antipática, neologismo criado pelo autor) e deixava-o
confuso, porque a língua ensinada na escola (em sua forma padrão)
era muito diferente da língua usada em casa (a não padrão). O eu lírico
chega a esquecer a língua usada em casa, em razão da imposição da
língua padrão como variante “correta”, que deveria ser dominada por
ele. O poema finaliza com o verso “O português são dois”; o primeiro é
o coloquial, o que o eu lírico domina; o segundo se refere ao português
padrão, tão diferente e distante da língua que o sujeito já conhecia,
portanto, um mistério.
Gabarito 149
2. As atividades de análise linguística devem ser planejadas por meio da
observação da situação de uso da língua que se pretende explorar,
abordando aspectos discursivos e gramaticais. Os primeiros se
relacionam às condições de produção dos textos, como função social
e características composicionais dos gêneros textuais; já os aspectos
gramaticais se diferem do ensino tradicional da gramática normativa
porque favorecem a reflexão sobre as regularidades ou irregularidades
da língua, por meio da indução de regras. Por exemplo, se o professor
estiver trabalhando com um conto em que há uso recorrente de
adjetivos para a descrição das personagens, deve alertar os alunos a
observarem esse fato no contexto em questão, levando-os a perceber a
importância do uso dessa classe gramatical nas sequências descritivas.
Gabarito 151
Estudar a linguagem é uma atividade fascinante,
pois é por meio dela que conhecemos o mundo,
o outro e nós mesmos. Para o(a) educador(a)
que se propõe a trabalhar com crianças na
educação infantil, quando a língua oral está
em desenvolvimento, e no ensino fundamental,
momento de aprendizagem da leitura e da
escrita, isso se dá de modo especial.
Esta obra visa despertar o interesse pela área da
linguagem e apresentar propostas metodológicas
para o ensino e para a aprendizagem de Língua
Portuguesa, alinhadas às mais recentes
teorias linguísticas, bem como às orientações
curriculares para a educação nacional.