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PSICOLOGIA E ÉTICA

INTRODUÇÃO À DISCIPLINA

Objetivo: Introduzir a Psicologia apresentando a sua definição e o seu objeto de estudo. Relações
Humanas, sua aplicação junto aos profissionais de saúde, Grupos, Condições Pessoais, Preparo
das pessoas para viveram em grupo, Estudo da Personalidade, Ajustamento da personalidade,
Níveis de vida mental, Sensação e percepção, Emoção e Sentimento do desenvolvimento
humano.
Trabalhar o discurso ético dentro dos padrões e discussões das temáticas de saúde; a discussão
sobre o que é ético e o não ético e conceito de moralidade. Trabalhando as questões dos
procedimentos bioéticas.

História da Psicologia

Toda e qualquer produção humana — uma cadeira, uma religião, um computador, uma obra de
arte, uma teoria científica — tem por trás de si a contribuição de inúmeros homens, que, num
tempo anterior ao presente, fizeram indagações, realizaram descobertas, inventaram técnicas e
desenvolveram ideias, isto é, por trás de qualquer produção material ou espiritual, existe a
História.
A história da PSICOLOGIA está ligada, em cada momento histórico, às exigências de
conhecimento da humanidade, às demais áreas do conhecimento humano e aos novos desafios
colocados pela realidade econômica e social e pela insaciável necessidade do homem de
compreender a si mesmo.
Os Gregos eram os povos mais evoluídos na época da antiguidade. Construíram cidades,
acumularem riquezas, conquistaram territórios e com isso, crescimento populacional. Desse
modo, surgir à necessidade de soluções práticas para a arquitetura, agricultura e organização
social. Dando origem aos estudos da geografia, física e políticas. Tais avanços permitiram que o
cidadão se ocupasse das coisas do espírito, como a Filosofia e a arte.
A primeira ciência que se conhece desde as épocas mais remotas é a filosofia. Esta ciência tem
por objetivo a reflexão, o questionamento, a crítica, a fim de obter da inteligência a sabedoria. A
psicologia é uma ciência comprovada que tem suas origens na filosofia.
No século XIX, com o desenvolvimento do capitalismo, destaca-se o papel da ciência, e seu
avanço torna-se necessário para dar respostas e soluções práticas no campo da técnica
industrial. O sol passou a ser visto como sendo o centro do universo. O homem deixou de ser o
centro do universo, passando a ser livre e construir do seu futuro.
A partir daí, a psicologia passa a definir seus objetos de estudo, delimitar seu campo, formular
métodos e teorias. Seu status de ciência é obtido à medida que se “liberta” da Filosofia, que
marcou sua história até aqui, e atrai novos estudiosos e pesquisadores.

PRIMEIRAS ESCOLAS DA PSICOLOGIA

FUNDAMENTALISMO: William James (1842-1910): procura compreender como funciona a


consciência através do seu modo de adaptar-se ao meio. Importa responder “o que fazem os
homens” e “por que o fazem”.
ESTRUTURALISMO: Edward Titchner (1867-1927): procura entender a consciência através do
sistema nervoso central. Os conhecimentos psicológicos produzidos são eminentemente
experimentais, isto é, produzidos a partir dos laboratórios.
ASSOCIACIONISMO: Edward L. Thorndike (1874-1949): O termo associacionismo origina-se da
concepção de que a aprendizagem se dá por um processo de associação das ideias — das mais
simples às mais complexas. Formulou a Lei do Efeito, que seria de grande utilidade para a
Psicologia Comportamentalista. De acordo com essa lei, todo comportamento de um organismo
vivo (um homem, um pombo, um rato etc.) tende a se repetir, se nós recompensarmos (efeito) o
organismo assim que este emitir o comportamento. Por outro lado, o comportamento tenderá a
não acontecer, se o organismo for castigado (efeito) após sua ocorrência.

O QUE É CIÊNCIA?
A ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade
(objeto de estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos
devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a
verificação de sua validade.
Objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas, processo
cumulativo do conhecimento, objetividade fazem da ciência uma forma de conhecimento que
supera em muito o conhecimento espontâneo do senso comum. Esse conjunto de características
é o que permite que denominemos científico a um conjunto de conhecimentos.

Ciência e senso comum

Quantas vezes, no nosso dia-a-dia, ouvimos o termo psicologia? Qualquer um entende um pouco
dela. Usamos o termo psicologia, no nosso cotidiano, com vários sentidos. Será essa a psicologia
dos psicólogos? Certamente não. Essa psicologia, usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é
denominada de psicologia do senso comum. Mas nem por isso deixa de ser uma psicologia. O
que estamos querendo dizer é que as pessoas, normalmente, têm um domínio, mesmo que
pequeno e superficial, do conhecimento acumulado pela Psicologia científica, o que lhes permite
sentidos explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um ponto de vista psicológico.
Existe um domínio da vida que pode ser entendido como vida por excelência: é a vida do
cotidiano. É no cotidiano que tudo flui, que as coisas acontecem, que nos sentimos vivos, que
sentimos a realidade.
O que estamos querendo mostrar a você é que o senso comum integra, de um modo precário
(mas é esse o seu modo), o conhecimento humano. É claro que isto não ocorre muito
rapidamente. Leva um certo tempo para que o conhecimento mais sofisticado e especializado
seja absorvido pelo senso comum, e nunca o é totalmente. Quando utilizamos termos como
“rapaz complexado”, “menina histérica”, “ficar neurótico”, estamos usando termos definidos pela
Psicologia científica. Não nos preocupamos em definir as palavras usadas e nem por isso
deixamos de ser entendidos pelo outro. Podemos até estar muito próximos do conceito científico,
mas, na maioria das vezes, nem o sabemos. Esses são exemplos da apropriação que o senso
comum faz da ciência.
As pessoas de alguma forma utilizam a psicologia em seu cotidiano, ou seja, é uma disciplina que
pertence à humanidade, portanto denomina-se psicologia do senso comum, que é o conhecimento
acumulado em nosso dia-a-dia. Ex. o poder de persuasão do vendedor, a jovem que usa seu
poder de sedução para atrair o rapaz, quando procuramos aquele amigo que está sempre
disposto a nos orientar. Esta pessoa tem o conhecimento acumulado que lhes permite explicar e
entender problema ou nos ouvir de um ponto de vista psicológico. Contudo, o conhecimento
herdado, tradicional não é científico nem filosófico, nem possui rigor cientifico.

OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA

Um conhecimento, para ser considerado científico, requer um objeto específico de estudo. Qual é,
então, o objeto específico de estudo da Psicologia? Se dermos a palavra a um psicólogo
comportamentalista, ele dirá: “O objeto de estudo da Psicologia é o comportamento humano”. Se
a palavra for dada a um psicólogo psicanalista, ele dirá: “O objeto de estudo da Psicologia é o
inconsciente”. Outros dirão que é a consciência humana, e outros, ainda, a personalidade.

DIVERSIDADE DE OBJETOS DA PSICOLOGIA

A diversidade de objetos da Psicologia é explicada pelo fato de este campo do conhecimento ter
se constituído como área do conhecimento científico só muito recentemente (final do século 19).
Como a psicologia é uma ciência muito nova, ela não teve tempo ainda de apresentar teorias
acabadas e definitivas, que permitam determinar com maior precisão seu objeto de estudo. Um
outro motivo que contribui para dificultar uma clara definição de objeto da Psicologia é o fato de o
cientista — o pesquisador — confundir-se com o objeto a ser pesquisado. No sentido mais amplo,
o objeto de estudo da Psicologia é o homem, e neste caso o pesquisador está inserido na
categoria a ser estudada.
E por fim, essa diversidade de objetos justifica-se porque os fenômenos psicológicos são tão
diversos, que não podem ser acessíveis ao mesmo nível de observação e, portanto, não podem
ser sujeitos aos mesmos padrões de descrição e interpretação.

SUBJETIVIDADE

A Psicologia se dedica ao estudo da SUBJETIVIDADE:


É a forma particular e específica de contribuição para a compreensão da totalidade da vida
humana. Nossa matéria-prima, portanto, é o homem em todas as suas expressões, as visíveis
(nosso comportamento) e as invisíveis (nossos sentimentos), as singulares (porque somos o que
somos) e as genéricas (porque somos todos assim) — é o homem-corpo, homem-pensamento,
homem afeto, homem-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade.
A subjetividade é a síntese singular e individual. Esta síntese é o mundo de idéias, significados e
emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências
e de sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações afetivas e
comportamentais.

AS PRIMEIRAS TEORIAS DA PSICOLOGIA

• BEHAVIORISMO
• GESTALT
• PSICANÁLISE
• HUMANISTA

BEHAVIORISMO OU COMPORTAMENTALISMO

John Watson criticava o estruturalismo e o funcionalismo se queixando sobre o fato de que os


fatos da consciência não podiam ser testados e reproduzidos por todos os observadores
treinados, pois dependiam das impressões e características de cada pessoa.
Watson sentiu que os psicólogos deviam estudar o comportamento observável e adotar métodos
objetivos. Em 1912, nasceu o behaviorismo e dominou a psicologia americana por trinta anos. Os
psicólogos behavioristas estudavam os eventos ambientais (estímulos), o comportamento
observável (respostas) e como a experiência influenciava o comportamento, as aptidões e os
traços das pessoas mais do que a hereditariedade.
Frederick Skinner vai além do behaviorismo de Watson e com ele nasce o behaviorismo radical
que também considera os eventos ambientais, o comportamento observável (ações do indivíduo),
mas também considera os comportamentos internos ou privados (pensar, sentir, etc). O
behaviorismo dedica-se ao estudo das interações entre o indivíduo e o ambiente, entre as ações
do indivíduo (suas respostas) e o ambiente (as estimulações). Afirma que a única fonte de dados
sobre o ser humano era o seu comportamento, o que as pessoas faziam e o que diziam. O
comportamento deveria ser estudado como função de certas variáveis do meio. Certos estímulos
levam o organismo a dar determinadas respostas e isso ocorre porque os organismos se ajustam
aos seus ambientes por meio de equipamentos hereditários e pela formação de hábitos. Uma área
de aplicação dos conceitos apresentados tem sido a Educação. São conhecidos os métodos de
ensino programado, o controle e a organização das situações de aprendizagem, bem como a
elaboração de uma tecnologia de ensino. Entretanto, outras áreas também têm recebido a
contribuição das técnicas e conceitos desenvolvidos pelo Behaviorismo, como a de treinamento
de empresas, a clínica psicológica, o trabalho educativo de crianças excepcionais, a publicidade e
outras mais. No Brasil, talvez a área clínica seja, hoje, a que mais utiliza os conhecimentos do
Behaviorismo.
GESTALT

A Psicologia da Gestalt pode ser também vista como a Psicologia da forma. Os gestaltistas estão
preocupados em compreender quais os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica,
quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito como uma forma diferente da que ele tem na
realidade.
Max Wertheimer (1880-1943) fundou o movimento da Gestalt. "O todo é diferente da soma das
partes", este é o slogan do movimento da Gestalt. O que a pessoa é (o todo) são junções de
várias características próprias dela (as partes).
Aos gestaltistas interessa muito saber sobre os significados que os seres humanos impõem aos
objetos e acontecimentos de seu mundo, a percepção, a solução de problemas e o pensamento.
Eles iniciaram seus estudos pela percepção e sensação do movimento. Os gestaltistas estavam
preocupados em compreender quais os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica,
quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito como uma forma diferente da que ele tem na
realidade.
A percepção é o ponto de partida e também um dos temas centrais dessa teoria. Entre o estímulo
que o meio fornece e a resposta do indivíduo, encontra-se o processo de percepção. O que o
indivíduo percebe e como percebe são dados importantes para a compreensão do comportamento
humano.
Na visão dos gestaltistas, o comportamento deveria ser estudado nos seus aspectos mais globais,
levando em consideração as condições que alteram a percepção do estímulo. Para justificar essa
postura, eles se baseavam na teoria do isomorfismo, que supunha uma unidade no universo, onde
a parte está sempre relacionada ao todo. Quando eu vejo uma parte de um objeto, ocorre uma
tendência à restauração do equilíbrio da forma, garantindo o entendimento do que estou
percebendo. Esse fenômeno da percepção é norteado pela busca de fechamento, simetria e
regularidade dos pontos que compõem uma figura (objeto).

PSICANÁLISE

É a linha mais conhecida pelo público. Fundada pelo médico Sigmund Freud (1881) era
especialista no tratamento de problemas do sistema nervoso e tinha interesse especial nas
chamadas desordens neuróticas. Seu principal instrumento de trabalho na eliminação dos
sintomas dos distúrbios nervosos passou a ser a sugestão hipnótica. Com o tempo acabou
percebendo que esse método era insatisfatório, pois nem todos os pacientes atingiam um estado
de transe, e a hipnose resultava em curas apenas temporárias. Daí surgir um novo método, a
associação livre, os pacientes relaxaram em um divã e eram estimulados a dizer qualquer coisa
que viesse a mente. O médico realizava a análise do material adquirido, a procura de desejos,
medos, conflitos, impulsos e memórias que estavam além da consciência do paciente.
A teoria psicanalítica revolucionou a concepção e o tratamento de problemas emocionais. Além
disso, despertou interesse em áreas anteriormente negligenciadas: motivação inconsciente,
personalidade, comportamento anormal e desenvolvimento infantil. Esta abordagem explicou o
comportamento humano de forma radicalmente diversa das demais. Pela ausência de
experimentação, costumam ser rejeitadas pelos cientistas de laboratório, mas o clinico tende a
apoiá-la.

HUMANISTA

É um movimento mais recente em psicologia. Enfatiza a necessidade de estudar o homem e não


os animais, os indivíduos normais psicologicamente e não os perturbados. Está relacionada com
os diferentes fatores de natureza política, social, cultural e científica, pois para compreender o ser
humano é necessário conhecer o meio em que ele está inserido, sua problemática, valores,
tradições e história. Não devemos esquecer o fato de que o ser humano está em permanente
movimento e transformação.
A psicologia está inserida nas mais diferentes áreas do saber como a médica, a educacional, a
social, lazer, segurança, trabalho, justiça, comunidade, comunicação, ambiente, etc. têm por
objetivo conhecer o ser humano individualmente e em grupo visando encontrar meios para ele
viver de forma equilibrada nas mais diversas situações, desenvolver seus potenciais, prevenir
possíveis problemas e auxiliando o relacionamento humano.

TEORIA DA HIERARQUIA DAS NECESSIDADES DE ABRAHAM MASLOW

•NECESSIDADES SUBDIVIDIDAS EM GRUPOS OU


NÍVEIS,
•QUE SERÃO TRANSPOSTOS PELAS PESSOAS.
•RIGIDEZ HIERARQUICA;
•A TRANSFERÊNCIA DE UM NÍVEL PARA
O OUTRO OCORRE SOMENTE APÓS
A SATISFAÇÃO DO NÍVEL ANTERIOR.

HEREDITARIEDADE X MEIO AMBIENTE

As pessoas são muito variadas. Diferem quanto ao tamanho, religião, sexo, idade, inteligência e
educação. Diferem ainda quanto às características sociais, econômicas e morais. A
individualidade é o resultado de características biológicas ou herdadas (hereditárias) e é ainda
influenciada pelo meio ambiente onde vivem. Na realidade o que faz uma pessoa ser aquilo que é
resulta da combinação dos fatores herdados e do seu meio ambiente.

Características herdadas:
•Fatores relacionados com a aparência física são geralmente considerados herdados. • A não ser
que haja trauma cefálico ou doença, o intelecto e a altura são determinados biologicamente.
• A não ser que haja tratamento medicamentoso ou raios luminosos externos, a cor da pele
também é predeterminada.
• A não ser que haja ferimento ou operação plástica, a forma do nariz e orelhas é predeterminada.
•Herda-se, enfim, a maioria dos caracteres relacionados a aparência.

Características ambientais:
• O meio ambiente abrange muitas influências.
• O meio químico pré-natal: drogas, nutrição e hormônios
• O meio químico pós-natal: oxigênio e nutrição

As experiências sensoriais constantes: os eventos processados pelos sentidos inevitáveis a


qualquer indivíduo como sons de vozes humanas, contato físico com as pessoas, etc. Todos
passam por essas experiências.
As experiências sensoriais variáveis: eventos processados pelos sentidos e que diferem de um
animal para outro da mesma espécie, dependendo das circunstâncias particulares de cada
indivíduo. Nem todos passam por essas experiências.
O melhor argumento a favor da influência ambiental na formação da personalidade encontra-se no
estudo desenvolvido com gêmeos idênticos, que são criados em lugares diferentes por diferentes
pessoas. Podem ser encontradas diferenças quanto à estatura e seus Q.I., conceito social,
pessoal e metas de trabalho. O meio ambiente desempenha importante papel nessa
diferenciação.
A hereditariedade e o meio interagem continuamente, influenciando o desenvolvimento. A
hereditariedade programa as potencialidades humanas das pessoas, o meio faz essas
potencialidades se desenvolverem ou não, para mais ou para menos.
Não é relevante a discussão a respeito se a hereditariedade ou o meio é mais significativo, pois
ambos são absolutamente essenciais.
Cada ser humano é diferente, pois cada um traz diferentes experiências de vida, e, portanto, é
emocional, intelectual e socialmente diferente dos demais.
Saber como as pessoas desenvolvem as ideias e quais são as suas necessidades é fundamental
para a formação de um bom profissional da área de saúde; mas é igualmente fundamental que
este profissional se conheça muito bem.
O profissional da área de saúde interage com pessoas diferentes umas das outras. A maior
dificuldade em lidar com essas pessoas – médicos, enfermeiras, parentes dos doentes e os
próprios pacientes – está em que nunca duas pessoas reagirão de maneira idêntica.

Qual a solução para esse problema?


A melhor solução é estar bem consciente da própria maneira de agir, como pessoa, da reação dos
outros às suas iniciativas e continuar a ganhar experiência nesses aspectos.

O PACIENTE COMO SER BIOPSICOSSOCIAL

Uma pessoa não pode ou não deve perder sua dignidade e direitos como pessoa porque está
doente. Para May (1977), em Beland e Joyce, o fundamental da Psicologia humanística é
compreender o homem como um ser, ou seja, atingir o aspecto mais íntimo de cada pessoa. E
para que possamos atingir esse aspecto é preciso considerar a pessoa e seu ambiente como
uma unidade composta de fatores interdependentes; é preciso compreender a maneira de
pensar, sentir e fazer que o próprio homem desenvolveu como parte de seu ambiente e ainda ter
consciência de que o bem-estar só é alcançado quando as necessidade estão sendo supridas
satisfatoriamente.
Qualquer doença altera a atuação interpessoal e social do indivíduo e tanto maior será essa
alteração conforme for o valor físico, emocional e intelectual que a doença representa para o
paciente e seus familiares, sem esquecer que o hospital poderá minimizar ou exacerbar tal
alteração.
A base da profissão de um profissional da saúde deve ser a crença no valor da pessoa através do
respeito ao atendimento das necessidades básicas do paciente e, para tanto, é imprescindível
identificar seus problemas tendo amplas e atualizados conhecimentos fisiopatológicos e
psicossociais, sem os quais sua atuação será desnecessária e, muitas vezes, prejudicial.

A PSICANÁLISE

Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico vienense que alterou, radicalmente, o modo de pensar
a vida psíquica.
O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um método de investigação e a uma
prática profissional. Enquanto teoria, caracteriza-se por um conjunto de conhecimentos
sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica.
A Psicanálise, enquanto método de investigação, caracteriza-se pelo método interpretativo, que
busca o significado oculto daquilo que é manifesto por meio de ações e palavras ou pelas
produções imaginárias, como os sonhos, os delírios, as associações livres, os atos falhos. A
prática profissional refere-se à forma de tratamento — a Análise — que busca o
autoconhecimento ou a cura, que ocorre através desse autoconhecimento.

FREUD E A PSICANÁLISE
Interessou-se pelas histéricas de Charcot, e também pela hipnose. Mais tarde abandona a
hipnose e adota um método a que chamou “associações livres”.
Importância histórica da Psicanálise:
•Tentativa de estudar as perturbações psiquiátricas em termos psicológicos; •Modelo que
tentou estabelecer uma continuidade entre comportamento normal e patológico;

EXPLICANDO ALGUNS CONCEITOS


No processo terapêutico, Freud, inicialmente, entendia que todas as cenas relatadas pelos
pacientes tinham de fato ocorrido. Posteriormente, descobriu que poderiam ter sido imaginadas,
mas com a mesma força e consequências de uma situação real. Aquilo que, para o indivíduo,
assume valor de realidade é a realidade psíquica.
O funcionamento psíquico é concebido a partir de três pontos de vista:
O Econômico (existe uma quantidade de energia que “alimenta” os processos psíquicos); O
Tópico (o aparelho psíquico é constituído de sistemas que são diferenciados quanto a sua
natureza e modo de funcionamento, o que permite considerá-lo como “lugar” psíquico) O
Dinâmico (no interior do psiquismo existem forças que entram em conflito e estão,
permanentemente, ativas. A origem dessas forças é a pulsão).
A pulsão refere-se a um estado de tensão que busca, através de um objeto, a supressão deste
estado. Eros é a pulsão de vida e abrange as pulsões sexuais e as de autoconservação. Tanatos é
a pulsão de morte, pode ser autodestrutiva ou estar dirigida para fora e se manifestar como
pulsão agressiva ou destrutiva.
Sintoma, na teoria psicanalítica, é uma produção — quer seja um comportamento, quer seja um
pensamento — resultante de um conflito psíquico entre o desejo e os mecanismos de defesa. O
sintoma, ao mesmo tempo que sinaliza, busca encobrir um conflito, substituir a satisfação do
desejo.

A DESCOBERTA DO INCONSCIENTE

Freud abandonou as perguntas no trabalho


terapêutico com os pacientes e os deixou dar
livre curso às suas ideias, observou que,
muitas vezes, eles ficavam embaraçados,
envergonhados com algumas ideias ou
imagens que lhes ocorriam.
A esta força psíquica que se opunha a tornar
consciente, a revelar um pensamento, Freud
denominou resistência.
E chamou de repressão o processo psíquico
que visa encobrir, fazer desaparecer da
consciência, uma ideia ou representação
insuportável e dolorosa que está na origem
do sintoma. Estes conteúdos psíquicos
“localizam-se” no inconsciente.

A ESTRUTURA DO APARELHO PSÍQUICO - 1º TÓPICA

Em 1900, no livro A interpretação dos sonhos, Freud apresenta a primeira concepção sobre a
estrutura e o funcionamento da personalidade. Essa teoria refere-se à existência de três sistemas
ou instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente e consciente.
•O inconsciente exprime o “conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da
consciência”. É constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré
consciente/consciente, pela ação de censuras internas. Estes conteúdos podem ter sido
conscientes, em algum momento, e ter sido reprimidos, isto é, “foram” para o inconsciente. •O
inconsciente é um sistema do aparelho psíquico regido por leis próprias de funcionamento. Por
exemplo, é atemporal, não existem as noções de passado e presente.
•O pré-consciente refere-se ao sistema onde permanecem aqueles conteúdos acessíveis à
consciência. É aquilo que não está na consciência, neste momento, e no momento seguinte pode
estar.
•O consciente é o sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do
mundo exterior e as do mundo interior. Na consciência, destaca-se o fenômeno da percepção,
principalmente a percepção do mundo exterior, a atenção, o raciocínio.
A DESCOBERTA DA SEXUALIDADE INFANTIL

Em suas investigações na prática clínica sobre as causas e o funcionamento das neuroses,


descobriu que a maioria de pensamentos e desejos reprimidos referiam-se a conflitos de ordem
sexual, localizados nos primeiros anos de vida dos indivíduos.
Na vida infantil estavam as experiências de caráter traumático, reprimidas, que se configuravam
como origem dos sintomas atuais, e confirmava-se, deste modo, as ocorrências neste período da
vida deixam marcas profundas na estruturação da pessoa.
As descobertas sobre a sexualidade, colocam este tema no centro da vida psíquica, e é postulada
a existência da sexualidade infantil.

Os principais aspectos destas descobertas são:


A função sexual existe desde o princípio da vida, logo após o nascimento, e não só a partir da
puberdade como afirmavam as ideias dominantes.
O período de desenvolvimento da sexualidade é longo e complexo até chegar à sexualidade
adulta, onde as funções de reprodução e de obtenção do prazer podem estar associadas, tanto
no homem como na mulher.
Esta afirmação contrariava as ideias predominantes de que o sexo estava associado,
exclusivamente, à reprodução.
A libido, nas palavras de Freud, é “a energia dos instintos sexuais e só deles”. No processo de
desenvolvimento psicossexual, o indivíduo, nos primeiros tempos de vida, tem a função sexual
ligada à sobrevivência, e, portanto, o prazer é encontrado no próprio corpo, logo o corpo é
erógeno. As fases do desenvolvimento sexual como:
•Fase Oral - a zona de erotização é a boca;
•Fase Anal - a zona de erotização é o ânus;
•Fase Fálica - a zona de erotização é o órgão sexual;
•Fase da Latência - que se prolonga até a puberdade e se caracteriza por uma diminuição das
atividades sexuais, isto é, há um “intervalo” na evolução da sexualidade.
•Fase Genital - quando o objeto de erotização ou de desejo não está mais no próprio corpo, mas
era um objeto externo ao indivíduo — o outro.

As fases do desenvolvimento psicossexuais de Freud

1 – O Estágio Oral
Faixa etária: Nascimento – 1 Ano
Zona erógena: Boca
Durante o estágio oral, a fonte primária de interação do lactente ocorre através da boca, de modo
que o enraizamento e reflexo de sucção é especialmente importante. A boca é vital para comer e
a criança obtém prazer da estimulação oral por meio de atividades gratificantes, como degustar e
chupar. A criança é totalmente dependente de cuidadores (que são responsáveis pela alimentação
dela), e também desenvolve um sentimento de confiança e conforto através desta estimulação
oral.
O conflito principal nesta fase é o processo de desmame – a criança deve tornar-se menos
dependente de cuidadores. Se ocorrer a fixação nesta fase, Freud acreditava que o indivíduo teria
problemas com dependência ou agressão. Fixação oral pode resultar em problemas com a
bebida, comer, fumar ou roer as unhas.

2 – O estágio Anal
Faixa Etária: 1 a 3 anos
Zona erógena: Entranhas e controle da bexiga
Durante a fase anal, Freud acreditava que o foco principal da libido estava no controle da bexiga
e evacuações. O grande conflito nesta fase é o treinamento da toalete – a criança tem de
aprender a controlar suas necessidades corporais. Desenvolver esse controle leva a um
sentimento de realização e independência.
De acordo com Freud, o sucesso nesta fase é dependente da maneira com que os pais se
aproximam no treinamento da toalete. Os pais que utilizam elogios e recompensas para usar o
banheiro no momento oportuno incentivam resultados positivos e ajudam as crianças a se sentir
capazes e produtivas. Freud acreditava que experiências positivas durante este estágio servem de
base para que as pessoas se tornem adultos competentes, produtivos e criativos. No entanto,
nem todos os pais fornecem o apoio e encorajamento que as crianças precisam durante este
estágio. Alguns pais vão punir com ridicularização ou vergonha os acidentes das crianças.

3 – A fase fálica
Faixa etária: 3 a 6 anos
Zona erógena: Genitais
Durante a fase fálica, o foco principal da libido é sobre os órgãos genitais. Nessa idade, as
crianças também começam a descobrir as diferenças entre machos e fêmeas.
Freud também acreditava que os meninos começam a ver seus pais como rivais pelo afeto da
mãe. O complexo de Édipo descreve esses sentimentos de querer possuir a mãe e o desejo de
substituir o pai. No entanto, a criança também teme ser punida pelo pai por estes sentimentos, um
medo que Freud denominou de angústia de castração.
O termo complexo de Electra tem sido usado para descrever um conjunto semelhante de
sentimentos vivenciados pelas jovens. Freud, no entanto, acredita que as meninas, em vez disso
experimentam a inveja do pênis.

4 – O período de latência
Faixa etária: 6 anos – puberdade
Zona erógena: sentimentos sexuais são inativos
Durante o período de latência, os interesses da libido são suprimidos. O desenvolvimento do ego
e superego contribuem para este período de calma. O estágio começa na época em que as
crianças entram na escola e tornam-se mais preocupadas com as relações entre colegas, hobbies
e outros interesses.
O período de latência é um tempo de exploração em que a energia sexual ainda está presente,
mas é direcionada para outras áreas, como atividades intelectuais e interações sociais. Esta etapa
é importante para o desenvolvimento de habilidades sociais e de comunicação e autoconfiança.

5 - O Estágio Genital
Faixa etária: Puberdade à Morte
Zona erógena: Amadurecendo de Interesses Sexuais
Durante a fase final de desenvolvimento psicossexual, o indivíduo desenvolve um forte
interesse sexual no sexo oposto. Esta fase começa durante a puberdade, mas passa por todo o
resto da vida de uma pessoa.
Em fases anteriores, o foco foi exclusivamente nas necessidades individuais, porém o interesse
pelo bem estar dos outros cresce durante esta fase. Se as outras etapas foram concluídas com
êxito, o indivíduo deve agora ser bem equilibrado, tenro e carinhoso. O objetivo desta etapa é
estabelecer um equilíbrio entre as diversas áreas da vida.
O MITO DE ÉDIPO REI
Laio, rei da cidade de Tebas e casado com Jocasta, foi advertido pelo oráculo de que não poderia
gerar filhos e, se esse mandamento fosse desobedecido, o mesmo seria morto pelo próprio filho,
que se casaria com a mãe.
O rei de Tebas não acreditou e teve um filho com Jocasta. Depois arrependeu-se do que havia
feito e abandonou a criança numa montanha com os tornozelos furados para que ela morresse.
A ferida que ficou no pé do menino é que deu origem ao nome Édipo, que significa pés inchados.
O menino não morreu e foi encontrado por alguns pastores, que o levaram a Polibo, o rei de
Corinto, este que o criou como filho legítimo.
Já adulto, Édipo também foi até o oráculo de Delfos para saber o seu destino. O oráculo disse que
o seu destino era matar o pai e se casar com a mãe. Espantado, ele deixou Corinto e foi em
direção a Tebas. No meio do caminho, encontrou com Laio que pediu para que ele abrisse
caminho para passar. Édipo não atendeu ao pedido do rei e lutou com ele até matá-lo. Sem saber
que havia matado o próprio pai, Édipo prosseguiu sua viagem para Tebas.
No caminho, encontrou-se com a Esfinge, um monstro metade leão, metade mulher, que
atormentava o povo tebano, pois lançava enigmas e devorava quem não os decifrasse. O enigma
proposto pela esfinge era o seguinte: Qual é o animal que de manhã tem quatro pés, dois ao meio
dia e três à tarde?
Ele disse que era o homem, pois na manhã da vida (infância) engatinha com pés e mãos, ao meio
dia (idade adulta) anda sobre dois pés e à tarde (velhice) precisa das duas pernas e de uma
bengala. A Esfinge ficou furiosa por ter sido decifrada e se matou.
O povo de Tebas saudou Édipo como seu novo rei, e entregou-lhe Jocasta como esposa. Depois
disso, uma violenta peste atingiu a cidade e Édipo foi consultar o oráculo, que respondeu que a
peste não teria fim enquanto o assassino de Laio não fosse castigado. Ao longo das
investigações, a verdade foi esclarecida e Édipo cegou-se e Jocasta enforcou-se.
O complexo de Édipo acontece entre 3 e 5 anos, durante a fase fálica. No complexo de Édipo, a
mãe é o objeto de desejo do menino, e o pai é o rival que impede seu acesso ao objeto desejado.
No caso da menina o objeto de desejo é o pai, e a mãe é vista como uma rival. Ele procura então
ser o pai para “ter” a mãe, escolhendo-o como modelo de comportamento, passando a
internalizar as regras e as normas sociais representadas e impostas pela autoridade paterna.
Posteriormente, por medo da perda do amor do pai, “desiste” da mãe, isto é, a mãe é “trocada”
pela riqueza do mundo social e cultural, e o garoto pode, então, participar do mundo social, pois
tem suas regras básicas internalizadas através da identificação com o pai.

A SEGUNDA TEORIA DO APARELHO PSÍQUICO - 2º TÓPICA

Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do aparelho psíquico e introduz os conceitos de id,
ego e superego para referir-se aos três sistemas da personalidade.
O id constitui o reservatório da energia psíquica, é onde se “localizam” as pulsões: a de vida e a
de morte. As características atribuídas ao sistema inconsciente, na primeira teoria, são, nesta
teoria, atribuídas ao id. É regido pelo princípio do prazer.
O ego é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da
realidade e as “ordens” do superego. Procura “dar conta” dos interesses da pessoa. É regido pelo
princípio da realidade, que, com o princípio do prazer, rege o funcionamento psíquico. É um
regulador, na medida em que altera o princípio do prazer para buscar a satisfação. Neste sentido,
busca o prazer a fim de evitar as situações de desprazer. As funções básicas do ego são:
percepção, memória, sentimentos, pensamento.
O superego origina-se com o complexo de Édipo, a partir da internalização das proibições, dos
limites e da autoridade. A moral e os ideais são funções do superego. O conteúdo do superego
refere-se a exigências sociais e culturais. Para compreender a constituição desta instância é
necessário introduzir a ideia de sentimento de culpa.
ID, EGO e SUPEREGO (impulsividade, da racionalidade e moralidade)
O Id é o componente nato dos indivíduos, ou seja, as pessoas nascem com ele. Consiste nos
desejos, vontades e pulsões primitivas, formado principalmente pelos instintos e desejos
orgânicos pelo prazer. A partir do ID se desenvolvem as outras partes que compõem a
personalidade humana: Ego e Superego.
O Ego surge a partir da interação do ser humano com a sua realidade, adequando os seus
instintos primitivos (o ID) com o ambiente em que vive. O Ego é o mecanismo responsável pelo
equilíbrio da psique, procurando regular os impulsos do ID, ao mesmo tempo que tenta
satisfazê-los de modo menos imediatista e mais realista. Graças ao Ego a pessoa consegue
manter a sanidade da sua personalidade. O Ego começa a se desenvolver já nos primeiros anos
de vida do indivíduo.
O Superego se desenvolve a partir do Ego e consiste na representação dos ideais e valores
morais e culturais do indivíduo. O Superego atua como um “conselheiro” para o Ego, alertando-o
sobre o que é ou não moralmente aceito, de acordo com os princípios que foram absorvidos pela
pessoa ao longo de sua vida. De acordo com Freud, o Superego começa a se desenvolver a
partir do quinto ano de vida, quando o contato com a sociedade começa a se intensificar (através
da escola, por exemplo) e as relações sociais passam a ser melhor interpretadas pelas pessoas.
OS MECANISMOS DE DEFESA DO EGO
São vários os mecanismos que o indivíduo pode usar para realizar esta deformação da realidade.
São processos realizados pelo ego e são inconscientes, isto é, ocorrem independentemente da
vontade do indivíduo.
Para Freud, defesa é a operação pela qual o ego exclui da consciência os conteúdos
indesejáveis, protegendo, o aparelho psíquico.
O ego — uma instância a serviço da realidade externa e sede dos processos defensivos —
mobiliza estes mecanismos, que suprimem ou dissimulam a percepção do perigo interno, em
função de perigos reais ou imaginários localizados no mundo exterior.

Negação

Quando você usa a negação, você simplesmente se recusa a aceitar a verdade ou a realidade de
um fato ou experiência. “Não, eu sou apenas um fumante social,” é um bom exemplo; Da mesma
forma as pessoas podem aplicar o mecanismo de defesa da negação a qualquer mau hábito que
desejam se distanciar incluindo uso excessivo de álcool ou uso de drogas, compras compulsivas
ou jogos de azar, e similares. “Apenas diga não”, neste caso, significa que você vai
proteger a sua autoestima ao não reconhecer o seu próprio comportamento. A negação também
pode ser utilizada por vítimas de traumatismo ou desastres e pode mesmo ser uma resposta
protetora inicial benéfica. No longo prazo, porém, a negação pode impedi-lo de incorporar
informações desagradáveis sobre você e sua vida e ter consequências potencialmente
destrutivas.

Repressão
Um passo acima da negação no esquema de classificação genérica, a repressão envolve
simplesmente esquecer de algo ruim. Você pode esquecer uma experiência desagradável, no
passado, como um acidente de carro no qual você foi culpado.
Você também pode usar a repressão quando você “esquecer” de fazer algo desagradável, como
ir ao dentista ou ao encontro com um conhecido que você realmente não gosta. A repressão,
como a negação, pode ser temporariamente benéfica, especialmente se você se esqueceu de
algo ruim que aconteceu com você, mas como acontece com a negação, se você não vir a
enfrentar a experiência ela pode voltar para assombrá-lo.

Regressão
Da repressão à regressão o “g” faz toda a diferença. Na regressão, você volta a um estado
emocional infantil em que seus medos inconscientes, ansiedades, e “angústia” geral reaparecem.
O indivíduo retorna a etapas anteriores de seu desenvolvimento; é uma passagem para modos de
expressão mais primitivos
Na teoria do desenvolvimento psicossexual de Freud, as pessoas se desenvolvem através de
estágios, como o estágio oral, anal e fálico, e as estruturas básicas da personalidade são
estabelecidas. No entanto, de vez em quando, uma pessoa quer reverter-se para um estado
infantil de desenvolvimento em particular, em condições de tensão.
As pessoas podem mostrar regressão quando retornam a um estado infantil de dependência. Se
encolher sob os cobertores quando você teve um dia ruim é uma instância possível. O problema
com a regressão é que você pode se arrepender de deixar o seu espetáculo infantil de uma forma
autodestrutiva. Recusar-se a falar com as pessoas que fizeram você se sentir mal ou triste pode
eventualmente chegar em problemas piores do que os que você tinha quando começou.

DESLOCAMENTO

No deslocamento você transfere seus sentimentos originais perigosos (geralmente raiva) para
longe da pessoa que é o alvo e para uma vítima mais infeliz e inofensiva. Aqui está o exemplo
clássico de deslocamento: Você teve uma interação muito desagradável com seu chefe ou
professor, mas você não pode mostrar a sua raiva em relação a ele ou ela. Em vez disso, você
chega em casa e, por assim dizer, “chuta o gato” (ou cão).
Toda vez que você mudar seus verdadeiros sentimentos de sua fonte provocadora de ansiedade
original para quem você percebe como menos provável de causar-lhe mal, você está muito
possivelmente usando deslocamento como mecanismo de defesa do ego. Infelizmente, o
deslocamento pode protegê-lo de ser demitido ou expulso da sala de aula, mas não irá proteger
sua mão se você decidir deslocar a sua raiva do verdadeiro alvo em uma janela ou parede.

PROJEÇÃO
O ponto é que ninguém disse nada que na realidade poderia ser interpretado como crítica. Você
está “projetando” suas inseguranças sobre os outros e, no processo, alienando-os (e,
provavelmente, parecendo um pouco bobo também).

INTELECTUALIZAÇÃO
Você também pode neutralizar seus sentimentos de ansiedade, raiva, insegurança ou de uma
forma que é menos provável de levar a momentos embaraçosos do que alguns dos mecanismos
de defesa acima.
Na intelectualização, você se acha afastado de uma reação de emoção ou sentimento que você
não gosta. Por exemplo, em vez de enfrentar o intenso sofrimento e rejeição que se sente depois
que sua esposa decide se mudar, você realiza uma análise financeira detalhada de quanto você
pode gastar, agora que você mora sozinho. Embora você não esteja negando que o evento
ocorreu, você não está pensando sobre suas consequências emocionais.

RACIONALIZAÇÃO
O indivíduo constrói uma argumentação intelectualmente convincente e aceitável, que justifica os
estados “deformados” da consciência.
Isto é, uma defesa que justifica as outras. Portanto, na racionalização, o ego coloca a razão a
serviço do irracional e utiliza para isto o material fornecido pela cultura, ou mesmo pelo saber
científico.
Dois exemplos: o pudor excessivo (formação reativa), justificado com argumentos morais; e as
justificativas ideológicas para os impulsos destrutivos que eclodem na guerra, no preconceito e na
defesa da pena de morte.
O uso destes mecanismos não é, em si, patológico, contudo, distorce a realidade, e só o seu
desvendamento pode nos fazer superar essa falsa consciência, ou melhor, ver a realidade como
ela é.

FORMAÇÃO REATIVA
O ego procura afastar o desejo que vai em determinada direção, e, para isto, o indivíduo adota
uma atitude oposta a este desejo.
Um bom exemplo são as atitudes exageradas — ternura excessiva, superproteção — que
escondem o seu oposto, no caso, um desejo agressivo intenso.

SUBLIMAÇÃO
É o Mecanismo de defesa mais saudável que o Ego utiliza, canalizando ou dirigindo para
atividades socialmente aceitas, impulsos libidinais e agressivos considerados indesejáveis e
perigosos. Um clássico exemplo de sublimação é o de um cirurgião que leva impulsos hostis e
os converte em “cortes” em outras pessoas de uma forma que é perfeitamente aceitável na
sociedade. Este é, talvez, um exemplo que coloca as coisas em termos muito extremos.
Mais realisticamente, sublimação ocorre quando as pessoas transformam suas emoções
conflitantes em estabelecimentos produtivos. Eles dizem que os psicólogos são inerentemente
intrometidos (o que é mentira haha), mas é possível que as pessoas que vão para áreas de
serviços humanos para ajudar os outros estão tentando compensar dificuldades experimentadas
no início de suas vidas.
UNIDADE II

PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE: aspectos conceituais e abordagens teóricas

ORIGEM DO TERMO
Do latim “persona”, nome dado à máscara que os atores do teatro antigo usavam para
representar seus papéis.

O que é personalidade?
Qualidade do que é pessoal, o que determina a individualidade da pessoa;
elemento mais estável da conduta; constitui-se por todas as características cognitivas, afetivas e
volitivas de um indivíduo. (Aurélio, 2009)
É o conjunto de características psicológicas do indivíduo que o diferem dos demais. É como a
pessoa se vê. É a soma total das maneiras de como uma pessoa reage e interage com as demais.
É um conjunto de traços psicológicos com propriedades particulares, relativamente permanentes
e organizadas de forma própria. Se revela na interação do indivíduo com seu meio ambiente e
individualiza a maneira de ser, de pensar, de sentir e de agir de cada pessoa. Os aspectos
internos e externos peculiares relativamente permanentes do caráter de uma pessoa que
influenciam o comportamento em situações diferentes (Schultz & Schultz, 2002).

• Refere-se a padrões relativamente consistentes e duradouros de percepção, pensamento,


sentimentos e comportamento que dão identidade distinta às pessoas.
• A personalidade é formada durante as etapas do desenvolvimento psicoafetivo pelas quais
passa a criança desde a gestação. Para a sua formação incluem tanto os elementos
geneticamente herdados (temperamento) como também o adquirido do meio ambiente no qual a
criança está inserida.
• Compreender os aspectos e a dinâmica da personalidade humana também não é tarefa simples,
visto à complexidade e variedade de elementos que a circunda, gerados por diversos fatores
biológicos, psicológicos e sociais. Com relação aos aspectos sociais, quanto mais complexas e
diferenciadas for à cultura e a organização social em que a pessoa estiver inserida, mais
complexa e diferenciada ela será. Do ponto de vista biológico, a pessoa já traz consigo, em seus
genes, diferentes tendências, interesses e aptidões que também são formados pela combinação
dinâmica entre diversos fatores hereditários e uma infinidade de influências sociopsicológicas que
ela recebe do meio ambiente.

Então, podemos dizer que a personalidade é formada por dois fatores básicos: 1. Hereditários:
são os fatores que estão determinados desde a concepção do bebê. É a estatura, cor dos olhos,
da pele, temperamento, reflexos musculares e vários outros. É aquilo que o bebê recebe de
herança genética de seus pais.
2. Ambientais: São aqueles que também exercem uma grande influência porque dizem respeito à
cultura, hábitos familiares, grupos sociais, escola, responsabilidade, moral e ética, etc. São
experiências vividas pela criança que irão lhe dar suporte e contribuir para a formação de sua
personalidade. Mesmo que alguns traços possam ser parecidos com os de outra pessoa, a
personalidade é única. Ela se apoia em uma estrutura biopsicossocial, é dinâmica, adaptável e
mutável.

1. TEMPERAMENTO: do latim (temperamentum = medida).


É a disposição inata e particular de cada pessoa, pronta a reagir aos estímulos ambientais; é a
maneira interna de ser e agir de uma pessoa, geneticamente determinado; é o aspecto somático
da personalidade.
Transmitido de pais para filhos. Não é aprendido, nem pode ser educado; pode ser refreado, o que
é feito pelo caráter.
4 tipos básicos de temperamento (Hipócrates, a.C):
a. Sangüíneo, típico de pessoas de humor variado;
b. Melancólico, característico de pessoas tristes e sonhadoras;
c. Colérico, peculiar de pessoas cujo humor se caracteriza por um desejo forte e sentimentos
impulsivos;
d. Fleumático, encontrado em pessoas lentas e apáticas, de sangue frio.

A palavra temperamento tem sua origem do latim. Representa a peculiaridade e intensidade


individual dos afetos psíquicos e da estrutura dominante de humor e motivação. Atualmente, o que
mais se aceita a respeito do temperamento é que certas características são decorrentes de
processos fisiológicos do sistema linfático, bem como a ação endócrina de certos hormônios.
Assim, pode-se explicar a genética e a interferência do meio sobre o temperamento de cada
pessoa. Então, poderíamos definir temperamento como sendo uma disposição inata e particular
de cada pessoa, pronta a reagir aos estímulos ambientais; é a maneira de ser e agir da pessoa,
geneticamente determinada; é o aspecto somático da personalidade. O temperamento pode ser
transmitido de pais para filhos, porém, não é aprendido, nem pode ser educado; apenas pode ser
abrandado em sua maneira de ser, o que é feito pelo caráter.

2- CARÁTER
Do grego “charakter” = sinal, marca, ao instrumento que grava.
Padrão de valores da personalidade. É constituído de valores morais e sociais. Adquiri-se o
caráter na família, na escola e na sociedade em geral.
Caráter = componente moral da personalidade, “personalidade valorizada”. O caráter se origina a
partir de fatores como: integridade, fidedignidade e honestidade. De acordo com Reich (1995), o
caráter é o conjunto de reações e hábitos de comportamento que vão sendo adquiridos ao longo
da vida e que especificam o modo individual de cada pessoa. Portanto, o caráter é composto das
atitudes habituais de uma pessoa e de seu padrão consistente de respostas para várias
situações. Incluem aqui as atitudes e valores conscientes, o estilo de comportamento (timidez,
agressividade e assim por diante) e as atitudes físicas (postura, hábitos de manutenção e
movimentação do corpo). É a forma com que a pessoa se mostra ao mundo, com seu
temperamento e sua personalidade. É por meio do caráter que a personalidade do indivíduo se
manifesta. Portanto, conhecer o caráter de uma pessoa significa conhecer os traços essenciais
que determinam o conjunto de seus atos.
Desde o momento da fecundação, todas as informações genéticas do pai e da mãe
passam ao novo bebê, constituindo o seu temperamento. Ainda na gestação, o bebê aprende
todos os estímulos provindos do meio. Sente e sofre com qualquer alteração sofrida pela mãe
durante a gestação e gradativamente, vai incorporando esses estímulos e organizando-os em seu
mundo interno, que já estão contribuindo para a formação de sua personalidade. Os possíveis
comprometimentos que por ventura irá ter ao longo das etapas de desenvolvimento, irão
determinar as suas formas de agir e reagir perante a vida, constituindo assim, o seu caráter.
Então, cada pessoa assumirá uma forma definida de funcionamento, padrão típico de agir frente
às mais inusitadas situações.
1. O temperamento é biologicamente determinado e a personalidade é um produto do ambiente
social.
2. Características temperamentais podem ser identificadas já cedo, na infância, ao passo que a
personalidade é moldada durante os períodos do desenvolvimento infantil. 3. Diferenças
individuais com características temperamentais como ansiedade, extroversão introversão, também
são observados em animais, ao passo que personalidade é a prerrogativa de seres humanos.
4. Ao contrário do temperamento, a personalidade se refere à função de integrativa do
comportamento humano.
PERSONALIDADE
TRAÇOS de personalidade

Para se falar de personalidade é preciso entender o que vem a ser um traço de


personalidade. O traço é um aspecto do comportamento duradouro da pessoa; é a sua tendência
à sociabilidade ou ao isolamento; à desconfiança ou à confiança nos outros. Um exemplo: lavar as
mãos é um hábito, a higiene é um traço, pois implica em manter-se limpo regularmente escovando
os dentes, tomando banho, trocando as roupas, etc. Pode-se dizer que a higiene é um traço da
personalidade de uma pessoa depois que os hábitos de limpeza se arraigaram.
O comportamento final de uma pessoa é o resultado de todos os seus traços de
personalidade. O que diferencia uma pessoa da outra é a amplitude e intensidade com que cada
traço é vivido. Por convenção, o diagnóstico só deve ser dado a adultos, ou no final da
adolescência, pois a personalidade só está completa nessa época, na maioria das vezes. Os
diagnósticos de distúrbios de conduta na adolescência e pré-adolescência são outros.

Personalidade: algumas perspectivas teóricas influentes


▪Teorias psicodinâmicas (Sigmund Freud): Grande importância ao inconsciente e se centram no
funcionamento da personalidade e dos conflitos internos.
▪Teoria dos traços (Allport e Cattel): Tentam identificar que características formam a personalidade
e como se relacionam com o comportamento real.
▪Teorias humanistas (Carl Rogers/ Maslow): Ênfase na subjetividade e no crescimento pessoal.
▪Teorias comportamentais (Skinner): Ressaltam o ambiente externo e os efeitos da aprendizagem
e do condicionamento na personalidade.
▪Teorias da aprendizagem social (Bandura/ Rotter)

Avaliação no estudo da personalidade

Principais métodos de avaliação:


• Inventários auto-relatos – resposta à questões sobre comportamentos e sensações em situações
diversas;
•Testes projetivos – projeção de necessidades pessoais, receios e valores na descrição de um
estímulo ambíguo;
•Entrevistas clínicas – perguntas relevantes sobre a experiências do indivíduo;
•Avaliação comportamental – avaliação de comportamento em determinada situação
•Amostragem de ideias – utilizado com grupos, gravar ideias pra análise posterior.

IMPORTÂNCIA DA VIDA AFETIVA

É preciso falar da vida afetiva porque ela é parte integrante de nossa subjetividade. Nossas
expressões não podem ser compreendidas, se não considerarmos os afetos que as acompanham.
E, mesmo os pensamentos, as fantasias — aquilo que fica contido em nós — só têm sentido se
sabemos o afeto que os acompanham.
Situações, sentimentos e lembranças representam algo diferente para diferentes pessoas, por
causa das nossas diferentes percepções. A perda de um ente querido, por exemplo costuma ser
algo ruim para todos, mas mesmo assim representará algo diferente para cada um. Na verdade
mais importante que a própria realidade é a representação dos fatos dessa realidade.
Pense em quantas vezes você já programou uma forma de agir e, na hora “H”, comportou-se
completamente diferente. Por exemplo, uma jovem soube algo de seu namorado que a aborreceu,
mas ela racionalmente resolveu não criar caso e pensou: “Quando ele chegar, vou ser carinhosa e
não vou deixar transparecer que me aborreci” e, de repente, quando o tem à sua frente, ela se vê
esbravejando, agredindo, enciumada. Seus afetos a traíram. Foi difícil ou, no caso, impossível
contê-los. Tanto nesse exemplo, como em muitas situações de vida, não há a mediação do
pensamento — são os afetos que determinam nosso comportamento. É nesta circunstância que
se ouve aquela frase tão corriqueira: “Como ele é impulsivo!”.
OS AFETOS

• É um conjunto de estímulos que chegam ao nosso mundo interior e recebem significados. Os


dois afetos básicos são: amor e ódio. São nossos afetos que dão colorido a nossa vida e
expressam nossos desejos, sonhos, fantasias, medos. Conflitos, passado, presente e futuro. São
nossos afetos que determinam nosso comportamento.
• Os afetos ajudam-nos a avaliar as situações, servem de critério de valoração positiva ou
negativa para as situações de nossa vida; eles preparam nossas ações, ou seja, participam
ativamente da percepção que temos das situações vividas e do planejamento de nossas reações
ao meio. Essa função é caracterizada como função adaptativa.
• Os afetos também têm uma outra característica — eles estão ligados à consciência, o que nos
permite dizer ao outro o que sentimos, expressando, através da linguagem, nossas emoções.

AS EMOÇÕES

A emoção é um estado de excitação física e psíquica acompanhadas de breves reações


em resposta a um acontecimento inesperado. Elas podem ser positivas e negativas, dependendo
de como ocorre, o momento em que acontecem e o modo como chegam a ser decodificadas de
acordo com as experiências das pessoas. Algumas emoções podem ser vistas como positivas e
negativas como o choro, riso, etc.
Nas emoções é possível observar uma relação entre os afetos e a organização corporal, ou
seja, as reações orgânicas, as modificações que ocorrem no organismo, por exemplo, alteração
dos batimentos cardíacos. Todas as reações apresentadas são importantes descargas de tensão
do organismo emocionado, pois as emoções são momentos de tensão em um organismo, e as
reações orgânicas são descargas emocionais.

OS SENTIMENTOS

Os afetos básicos (amor e ódio), além de manifestarem-se como emoções, podem


expressar-se como sentimentos. Os sentimentos diferem das emoções por serem mais
duradouros, menos “explosivos” e por não virem acompanhados de reações orgânicas intensas.
Assim, consideramos a paixão uma emoção, e o enamoramento, a ternura, a amizade,
consideramos sentimentos, isto é, manifestações do mesmo afeto básico — o amor.

IDENTIDADE

Saber quem é o outro é uma questão aparentemente simples e se constitui desafio em cada novo
encontro e, mesmo nos antigos, porque as pessoas mudam, embora continuem elas mesmas.
Para compreender esse processo de produção do sujeito, que lhe permite apresentar-se ao
mundo e reconhecer-se como alguém único, a Psicologia construiu o conceito de identidade.
Várias correntes da Psicologia (e a Psicanálise, inclusive) nos ensinam que o reconhecimento do
eu se dá no momento em que aprendemos a nos diferenciar do outro. Eu passo a ser alguém
quando descubro o outro e a falta de tal reconhecimento não me permitiria saber quem sou, pois
não teria
elementos de comparação que permitissem ao meu eu destacar-se dos outros eus. Dessa forma,
podemos dizer que a identidade, o igual a si mesmo, depende da sua diferenciação em relação
ao outro.
• Identidade é um processo de construção permanente, em contínua transformação — desde
antes de nascer até a morte! — e, neste processo de mudança, o novo — quem sou, agora —
amalgama se com o velho — quem fui ontem, quando era adolescente, criança! Contudo, há
situações em que esse processo de mudança contínuo ocorre de modo intenso, confuso e,
muitas vezes, angustiante e doloroso. Falamos, então, em crise de identidade.
• Um caso exemplar de crise de identidade, em função inclusive de seu caráter inexorável, e que
pode ser vivida com mais ou menos sofrimento, é a adolescência. Um período de transição entre
a infância e a vida adulta e que se estende dos 13 anos 18 anos. Os adolescentes precisam
organizar as exigências e expectativas conflitantes da família, da comunidade e dos amigos;
desenvolver
percepções das mudanças que se operam no corpo e no leque de necessidades; estabelecer
independência e conceber uma identidade para a vida adulta.
• Embora marcada por intensa “turbulência interna”, essa crise pode significar — e, na maioria das
vezes, o é — um período de “confusão” criadora, em que há o luto da perda do corpo infantil e a
estranheza quanto àquele corpo adulto (ele mesmo!) que o adolescente desconhece e deseja, e
que vai se constituindo, inexoravelmente. Às mudanças do corpo correspondem mudanças em
sua subjetividade. “O novo corpo é habitado por uma nova mente” (José Outeiral, Adolescer —
estudos sobre adolescência, ed. Artes Médicas, Porto Alegre, 1994).
• Novas influências amalgamadas: o grupo de pares; personagens do mundo intelectual, artístico,
esportivo, político; aquele professor fantástico; os pais que, sem dúvida, continuam sendo
importantes figuras de identificação. E, de tudo isso produz-se alguém novo, com rupturas mais ou
menos intensas com a sua história pregressa, mas que, sem dúvida, estará inscrita na sua
biografia e, portanto, será constitutivo de sua identidade tudo o que já viveu.

PROCESSO GRUPAL

• A nossa vida cotidiana é demarcada pela vida em grupo. Estamos o tempo todo nos
relacionando com outras pessoas. Mesmo quando ficamos sozinhos, a referência de nossos
devaneios são os outros. As pessoas precisam combinar algumas regras para viverem juntas. A
esse tipo de regularidade normatizada pela vida em grupo, chamamos de institucionalização.
• Um hábito é constituído quando se estabelece a melhor formar de garantia eficaz de realizar
uma tarefa, e a mesma prática é repetida farias vezes. Um hábito estabelecido por razões
concretas, com o passar do tempo e das gerações, transforma-se em tradição. E o que acontece?
As bases concretas, estabelecidas com o decorrer do tempo, não são mais questionadas. A
tradição se impõe porque é uma herança dos antepassados. Se eles determinaram que essa é a
melhor forma, é porque tinham alguma razão. Quando se passam muitas gerações e a regra
estabelecida perde essa referência de origem (o grupo de antepassados), dizemos, então, que
essa regra social foi institucionalizada.
• As pessoas vivem, em nossa sociedade, em campos institucionalizados. Geralmente moram
com suas famílias, vão à escola, ao emprego, à igreja, ao clube; convivem com grupos informais,
como o grupo de amigos da rua, do bar, do centro acadêmico ou grêmio estudantil etc. Em alguns
casos, a institucionalização nos obriga a conviver com pessoas que não escolhemos.
• Definir-se o grupo como um todo dinâmico (o que significa dizer que ele é mais que a simples
soma de seus membros), e que a mudança no estado de qualquer subparte modifica o estado do
grupo como um todo. O grupo se caracteriza pela reunião de um número de pessoas (que pode
variar bastante) com um determinado objetivo, compartilhado por todos os seus membros, que
podem desempenhar diferentes papéis para a execução desse objetivo.

MORTE e o MORRER

As pessoas parecem temer a morte por uma série de razões: elas se preocupam com o
sofrimento físico e a humilhação; receiam a interrupção de objetivos; ficam pensando naqueles
que vão sobreviver a elas; e ficam pensando também naquilo que as esperam. O medo da morte
parece atingir o auge durante a meia-idade. Os idosos relatam pensar mais na morte do que as
pessoas de outras faixas etárias, porém negam temê-la.

CINCO FASES DA MORTE

Quando as pessoas descobrem que estão morrendo ficam chocadas e tender a passar por
cinco fases até a chegada da aceitação da sentença.
•NEGAÇÃO: a realidade da morte ainda não foi aceita irreal.
•RAIVA: a pessoa frequentemente se volta contra todos ou o mundo em geral, vão aparecer
também sentimento de culpa ou medo nesse estágio.
•BARGANHA: nessa fase a pessoa pede por um trato ou uma recompensa e comentários do tipo
“e se eu fizer isso?”
• DEPRESSÃO: a depressão pode ocorrer com uma reação à mudanças do modo de vida
ocasionada pela perda. A pessoa se sente extremamente triste, desesperançada, inútil e cansada.
• ACEITAÇÃO: a aceitação acontece quando a mudança que a perda trouxe para a pessoa se
estabiliza em um novo estilo de vida.
• NECESSIDADE ESPIRITUAL: Olhar continuamente para o paciente, não para sua necessidade,
mas para a sua coragem, não para a sua dependência, mas para sua dignidade. •
NECESSIDADE FÍSICA: Perda do tônus muscular, cessação do peristaltismo, lentidão da
circulação sanguínea, respiração irregular e perca do sensório.

Unidade III

PSICOLOGIA E ÉTICA

INTRODUÇÃO
Observa-se que a palavra ética passou a fazer parte do vocabulário do homem comum e
está sempre na mídia, demonstrando a vigência de uma preocupação urgente e universal. A este
respeito, Cortina (2003, p. 18) afirma que: “embora a ética esteja na moda, e todo mundo fale
dela, ninguém chega realmente a acreditar que ela seja importante, e mesmo essencial para
viver”.

•Afinal, o que devemos entender por ética?


•Esse não é um assunto tradicional dos filósofos e pensadores?
•O que significa ética hoje?
•Como a ética pode ser útil ou interferir em nossas vidas cotidianas e na prática docente?

Ética e Moral
A ética, hoje, é compreendida como parte da Filosofia, cuja teoria estuda o comportamento
moral e relaciona a moral como uma prática, entendida por Cortella (2007, p. 103) como o
“exercício das condutas”.
Além disso, é entendida como um tipo ou qualidade de conduta que é esperada das
pessoas como resultado do uso de regras morais no comportamento social. O que se entende
por moral? Existe diferença entre ética e moral?
•As duas estão entrelaçadas. A moral é entendida como um conjunto de normas para o agir
específico ou concreto. Assim, constitui-se de valores e preceitos ligados aos grupos sociais e às
diferentes culturas, determinando o que é ou não aceito por este grupo.
•A ética discute os valores que se traduzem em existências humanas mais felizes, mais
realizadas, com mais bem-estar e qualidade de vida. Além disso, busca os valores que
signifiquem dignidade, liberdade, autonomia e cidadania.

Valores éticos: como eles nascem?


Os valores éticos não nascem com a gente, não pertencem ao que se possa chamar de
“natureza humana”.
O ser humano, segundo Saviani (2003), não nasce humano, mas se torna ao ser acolhido no
meio social, no convívio afetivo com outras pessoas.
Ele precisa de cuidados constantes para sobreviver e para adquirir a linguagem (pensamento,
simbolização, imaginação, comunicação verbal ou qualquer outra forma de comunicação),
condição essencial para que construa sua identidade.
A apreensão e a aprendizagem formal dos valores éticos só podem se dar por meio das relações
humanas que o homem precisa estabelecer desde cedo. Muitos dos valores que possuímos são
apreendidos (subjetivamente) na família e na comunidade, principalmente pela observação das
atitudes.

Definição de Ética
O termo ética, deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa).
Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na
sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando
que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as
leis, está relacionada com o sentimento de justiça social. A ética é construída por uma sociedade
com base nos valores históricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência
que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos.

OS PROBLEMAS DA ÉTICA
A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar,
quando alguém pergunta. Tradicionalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão,
científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações
humanas. Mas também chamamos de ética a própria vida, quando conforme aos costumes
considerados corretos. A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode ser a
própria realização de um tipo de comportamento.
Didaticamente, costuma-se separar os problemas teóricos da ética em dois campos: Em um, os
problemas gerais e fundamentais (como liberdade, consciência, bem, valor, lei e outros);
E no segundo, os problemas específicos, de aplicação concreta, como os problemas da ética
profissional, da ética política, de ética sexual, de ética matrimonial, de bioética, etc. É um
procedimento didático ou acadêmico, pois na vida real eles não vêm assim separados.
Uma boa teoria ética deveria atender a pretensão de universalidade, ainda que simultaneamente
capaz de explicar as variações de comportamento, características das diferentes formações
culturais e históricas.

BREVE HISTÓRIA DA ÉTICA

Éticas do ser Sócrates: a excelência humana se revela pela atitude de busca da verdade. Isso
significa abandonar atitudes dogmáticas e céticas e assumir a atitude crítica que só se deixa
convencer pelo melhor argumento. A verdade habita no fundo de nós mesmos e podemos atingi-la
pela introspecção e o diálogo. Embora a verdade encontrada pelo método maiêutico (parto de
ideias) é sempre provisória, ela é um achado que ultrapassa simplesmente as fronteiras da
comunidade que se vive. Sócrates professa o intelectualismo moral, pois quem conhece o bem
sente-se impelido a agir bem e quem age mal é porque é um ignorante.
Platão: propõe uma utopia moral no livro A República.
O Estado perfeito é constituído por diversos estamentos com funções determinadas:
a) os governantes tem a função de administrar, vigiar e organizar a cidade; b) os
guardiães e os defensores (militares), de defender a cidade;
c) os produtores (camponeses, artesãos) desenvolver as atividades econômicas.

Cada estamento tem uma virtude específica:


a) os governantes realizam sua tarefa pela prudência e sabedoria;
b) os guardiães pela fortaleza ou coragem;
c) os produtores, pela moderação ou temperança.

Estes três estamentos correspondem às três espécies ou dimensões da alma: a) a racional que é
o elemento superior e excelso dotada de autonomia e de vida própria, caracterizando-se pela
capacidade de raciocinar;
b) alma irascível que é a sede da decisão e da coragem nos quais predomina à vontade,
fundamentando-se na força interior colocada em ação quando existe conflito entre os instintos e a
razão;
c) apetite ou parte concupiscível que corresponde aos desejos e às paixões.
A virtude correspondente da alma racional é a prudência e a sabedoria; da alma irascível é a
fortaleza e o valor; da parte concupiscível do apetite, a virtude da moderação. A virtude da justiça
harmoniza as diferentes virtudes tanto na cidade quanto na alma.

Aristóteles:
•É o primeiro filósofo a elaborar tratados sistemáticos de ética como a Ética a Nicômaco.
•Ele se pergunta “Qual é o fim último de todas as atividades humanas?”
•Este fim não pode ser outro que a eudaimonia (felicidade como autorrealização), a vida boa e
feliz. A partir daí investiga o que é a felicidade.
a) Ela deve ser um bem perfeito que se busca por si mesmo e não com meio para outra coisa;
b) o fim último deve ser autossuficiente, desejável por si mesmo e que possuindo-o não deseje
outra coisa;
c) deve consistir em alguma atividade peculiar de cunho excelente.

Qual é essa atividade? A felicidade perfeita para o ser humano reside no exercício da inteligência
teórica, isto é, a contemplação e compreensão dos conhecimentos.
•Nesta tarefa, o ser humano tem a ajuda das virtudes capitaneadas pela prudência (sabedoria
prática) que permite obter o equilíbrio entre o excesso e a falta e é a guia de todas outras virtudes.
•Por exemplo, a virtude da coragem é o equilíbrio entre a covardia e a temeridade. Mas uma
pessoa virtuosa precisa viver numa sociedade regida por boas leis, porque o logos não só nos
capacita para a vida intelectual teórica e a vida pessoal prática, mas também para a vida social,
pois a ética não pode desvincular-se da política.

• As Éticas medievais: Os conteúdos da moral antiga são elaborados tendo como referência a
matriz judaico-cristã.
• Agostinho de Tagaste: Para ele, os filósofos gregos estavam certos ao afirmar que a moral
deve ajudar a conseguir uma vida feliz. Mas eles não souberam encontrar a chave da felicidade
humana que se encontra no encontro amoroso com Deus Pai. A felicidade não está em conhecer
como pensavam os gregos, mas em amar, e desfrutar de uma relação amorosa com quem nos
criou como seres livres. A moral é necessária, porque precisamos encontrar o caminho de volta
para a Cidade de Deus da qual nos extraviamos por ceder às tentações egoístas. Para nos libertar
do pecado, Deus nos enviou uma ajuda decisiva, a sabedoria encarnada que é o próprio Jesus
Cristo que, pelos seus ensinamentos e pela sua graça, nos reconduz de volta à Cidade de Deus.
• Tomás de Aquino: Ele tenta conciliar as principais contribuições de Aristóteles com a revelação
judaico-cristã contida na Bíblia. Para Tomás, a felicidade perfeita está em contemplar a verdade
que se identifica com o próprio Deus. Esta verdade divina identifica-se com a lei eterna que rege
providencialmente o universo e se expressa no conteúdo da lei natural. Esta lei contém o primeiro
princípio imperativo: “Faze o bem e evite o mal”. Mas em que consiste o bem e o mal? Em
primeiro lugar nos ditames da Recta ratio, porque ela é a própria lei natural no ser humano. Em
segundo lugar identifica-se com as inclinações naturais que a lei divina colocou na natureza
humana. Aqui entra o papel das virtudes, principalmente a virtude intelectual da prudência em
semelhanças as características de essência e existência

Éticas do movimento socialista


• No início do século XIX, Saint-Simon, Owen e Fourier, defensores do socialismo utópico,
denunciaram as condições de miséria da classe operária, apelando à consciência moral de todas
as pessoas e propondo reformas profundas na maneira de organizar a economia, a política e a
educação.
• Para chegar a uma sociedade justa e próspera necessário aproveitar os avanços da técnica e
eliminar as desigualdades sociais.
• Insistem em abolir ou ao menos restringir a propriedade privada dos meios de produção, mas
não aceitam a rebelião violenta. Reivindicam o diálogo social e o testemunho moral de
experiências justas e, sobretudo, a necessidade de uma educação justa.
• Os socialistas libertários opuseram-se aos socialistas utópicos, defendendo o anarquismo cuja
tese principal é a abolição do estado. É necessário abolir todo tipo de opressão e exploração cuja
fonte é o estado. Defendem uma sociedade solidária, autogestionada e federalista. • O marxismo
quer superar tanto o socialismo utópico como o anárquico, propondo um socialismo científico
(Materialismo dialético e histórico). Apesar de que Marx não quis propor uma ética, o seu legado
principal é moral pela sua provocação em prol da justiça.
• Marxismo prega um progresso moral dependente da superação das contradições sociais e a
mudança das condições históricas. Identifica os interesses morais com os interesses objetivos e
sociais.

Filosofia Moral: Ética e Moral


• A Filosofia Moral distingue entre ética e moral. Ética tem a ver com o "bom": é o conjunto de
valores que aponta qual é a vida boa na concepção de um indivíduo ou de uma comunidade. •
Moral tem a ver com o "justo": é o conjunto de regras que fixam condições equitativas de
convivência com respeito e liberdade.
• Éticas cada qual tem e vive de acordo com a sua; moral é o que torna possível que as diversas
éticas convivam entre si sem se violarem ou se sobreporem umas às outras. Por isso mesmo, a
moral prevalece sobre a ética.
• No terreno da ética estão as noções de felicidade, de caráter e de virtudes. As decisões de qual
propósito dão sentido vida, que tipo de pessoa eu sou e quero vir a ser e qual a melhor maneira
de confrontar situações de medo, de escassez, de solidão, de arrependimento etc. são todas
decisões éticas.
• No terreno da moral estão às noções de justiça, ação, intenção, responsabilidade, respeito,
limites, dever e punição. A moral tem tudo a ver com a questão do exercício do direito de um até
os limites que não violem os direitos do outro.
• As duas coisas, claro, são indispensáveis. Sem moral, a convivência é impossível. Sem ética, é
infeliz e lamentável.
• Por sua vez, a palavra “moral” vem do latim mos, que tanto pode significar “costume” como
“caráter” ou gênero de vida.
• O termo moralis vem de mores (plural de mos), sendo um neologismo criado por Cícero para
traduzir o grego éthika.
• Ao tentar fazer uma filosofia dos costumes (mores), dá-se conta de que lhe falta a palavra
adequada em latim, enriquecendo a língua latina com um novo vocábulo.
• Assim se justifica: “Porque trata dos costumes (moribus), que os gregos chamam ethos, nós, os
romanos, costumamos chamar essa parte da filosofia de moribus. Mas parece-nos conveniente
enriquecer a língua latina chamando de “moral” essa parte da filosofia”
1) Num primeiro sentido refere-se ao conjunto de princípios, preceitos, comandos, sendo a moral
um sistema de conteúdos sobre comportamentos.
2) Num segundo sentido pode referir-se ao código de conduta pessoal de alguém (Fulano tem
uma moral muito rígida ou carece de moral).
3) Num outro sentido compreende as diferentes doutrinas morais ou a ciência que trata do bem
em geral e das ações humanas marcadas pela bondade ou maldade moral. As doutrinas morais
sistematizam um conjunto de conteúdos morais, enquanto que as teorias éticas tentam explicar o
fenômeno moral.
4) Num quarto sentido moral refere-se a uma boa disposição de espírito, ter o moral bem elevado,
estar com o moral alto. Aqui moral não é um saber nem um dever, mas uma atitude ou caráter. 5)
Um último sentido de moral como substantivo compreende a dimensão moral da vida humana
que é a âmbito das ações e das decisões.

O termo “moralidade”.
O termo moral pode também ser usado como adjetivo.
1) Moral no sentido de oposto à imoral, como sinônimos de moralmente correto ou incorreto. 2)
Moral significando o oposto de amoral, isto é, que não tem nenhuma relação com a moralidade.
Embora moralidade refira-se muitas vezes a algum código moral concreto (p. ex. quando se diz
duvido da moralidade de seus atos ou fulano é um defensor da moralidade e dos bons costumes),
o termo pode ter outros significados.
1) Moralidade serve para distinguir de legalidade e de religiosidade, referindo-se à dimensão
moral da vida humana, a essa forma comum das ações humanas para além das diversas morais
concretas, isto é, independente dos conteúdos morais. Por isso existe a distinção em relação à
legalidade referida à lei e à religiosidade referida ao sagrado.
2) Moralidade pode também ser distinguida de esticidade no sentido que será visto mais adiante.

Funções da ética

A ética tem uma tripla função:


1) esclarecer o que é a moral, quais são seus traços específicos;
2) fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são as razões que conferem
sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente;
3) aplicar aos diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas duas primeiras funções,
de maneira que se adote uma moral crítica em vez da subserviência a um código.

Os métodos próprios da ética.


A moral dogmatiza com seus códigos, enquanto que a ética argumento criticamente. Não há
totalitarismo em exigir argumentação, mas é totalitário dogmatismo da mera autoridade, das
pretensas evidências, das emoções e das metáforas.Filosofar é argumentar.
Este é o modo de proceder da filosofia moral. Os métodos par argumentar podem ser muitos:
empírico-racional (Artistóteles), empirista e racionalista (era moderna), transcendental (Kant),
dialético-absoluto (Hegel), dialético-materialista (Marx), genealógico-desconstrutivo (Nietszche),
fenomenológico (Husserl, Scheler), análise da linguagem (Moore, Stevenson, Ayer),
neocontratualista (Rawls).

EM QUE CONSISTE A MORAL?


Diversidade de concepções morais
É necessário distinguir entre a forma comum da moralidade (ética) os conteúdos das
concepções morais (moral). Assim é afirmada a universalidade da moral quanto à forma, ao
passo que os conteúdos estão sujeitos às variações de espaço e de tempo das concepções
morais. Trata-se de examinar critérios para distinguir nas diferentes concepções quais são as que
melhor encarnam a forma moral.

Diferentes maneiras de compreender a moral


Para a filosofia antiga e medieval, centrada no ser, a moralidade era entendida como uma
dimensão do ser humano. A filosofia moderna tem como referência não mais o ser, mas a
consciência e a moralidade é uma forma peculiar de consciência.

Ética Profissional é compromisso social

O que é Ética Profissional?


•É extremamente importante saber diferenciar a Ética da Moral e do Direito. Estas três áreas de
conhecimento se distinguem, porém têm grandes vínculos e até mesmo sobreposições. •Tanto a
Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam estabelecer certa previsibilidade para as
ações humanas. Ambas, porém, se diferenciam.
•A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma de garantir o seu
bem-viver. A Moral independe das fronteiras geográficas e garante uma identidade entre
pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo referencial moral comum.
•O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do
Estado. As leis têm uma base territorial, elas valem apenas para aquela área geográfica onde
uma determinada população ou seus delegados vivem. Alguns autores afirmam que o Direito é
um subconjunto da Moral.
•Esta perspectiva pode gerar a conclusão de que toda a lei é moralmente aceitável. Inúmeras
situações demonstram a existência de conflitos entre a Moral e o Direito.
•A desobediência civil ocorre quando argumentos morais impedem que uma pessoa acate uma
determinada lei. Este é um exemplo de que a Moral e o Direito, apesar de referirem-se a uma
mesma sociedade, podem ter perspectivas discordantes.
•A Ética é o estudo geral do que é bom ou mal, correto ou incorreto, justo ou injusto, adequado
ou inadequado. Um dos objetivos da Ética é a busca de justificativas para as regras propostas
pela Moral e pelo Direito. Ela é diferente de ambos - Moral e Direito - pois não estabelece
regras. Esta reflexão sobre a ação humana é que caracteriza a Ética.

Ética Profissional: Quando se inicia esta reflexão?


•Esta reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma profissão deve iniciar bem antes da
prática profissional.
•A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência muitas vezes, já deve ser permeada
por esta reflexão.
•A escolha por uma profissão é optativa, mas ao escolhê-la, o conjunto de deveres profissionais
passa a ser obrigatório.
•Geralmente, quando você é jovem, escolhe sua carreira sem conhecer o conjunto de deveres que
está prestes ao assumir tornando-se parte daquela categoria que escolheu. •Toda a fase de
formação profissional, o aprendizado das competências e habilidades referentes à prática
específica numa determinada área, deve incluir a reflexão, desde antes do início dos estágios
práticos.
•Ao completar a formação em nível superior, a pessoa faz um juramento, que significa sua adesão
e comprometimento com a categoria profissional onde formalmente ingressa. Isto caracteriza o
aspecto moral da chamada Ética Profissional, esta adesão voluntária a um conjunto de regras
estabelecidas como sendo as mais adequadas para o seu exercício.
A ÉTICA DA VIDA

Conceito da Bioética
•O início da Bioética se deu no começo da década de 1970, com a publicação de duas obras
muito importantes de um pesquisador e professor norte-americano da área de oncologia, Van
Rensselaer Potter.
•Van Potter estava preocupado com a dimensão que os avanços da ciência, principalmente no
âmbito da biotecnologia, estavam adquirindo.
•Assim, propôs um novo ramo do conhecimento que ajudasse as pessoas a pensar nas possíveis
implicações (positivas ou negativas) dos avanços da ciência sobre a vida (humana ou, de
maneira mais ampla, de todos os seres vivos).
•Ele sugeriu que se estabelecesse uma “ponte” entre duas culturas, a científica e a humanística,
guiado pela seguinte frase: “Nem tudo que é cientificamente possível é eticamente aceitável”.
•Um dos conceitos que definem Bioética (“ética da vida”) é que esta é a ciência “que tem como
objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida, identificar os
valores de referência racionalmente proponíveis, denunciar os riscos das possíveis aplicações”
(LEONE; PRIVITERA; CUNHA, 2001).
•Para isso, a Bioética, como área de pesquisa, necessita ser estudada por meio de uma
metodologia interdisciplinar. Isso significa que profissionais de diversas áreas (profissionais da
educação, do direito, da sociologia, da economia, da teologia, da psicologia, da medicina etc.)
devem participar das discussões sobre os temas que envolvem o impacto da tecnologia sobre a
vida. O progresso científico não é um mal, mas a “verdade científica” NÃO pode substituir a ética.
Contexto histórico e as relações assistenciais
Todos nós sofremos influências do ambiente em que vivemos, sejam elas históricas, culturais ou
sociais.

O paternalismo hipocrático
•Um aspecto importante a ser considerado para que possamos construir a reflexão bioética de
maneira adequada é compreender a influência histórica desde a época de Hipócrates. • No
século IV a.C., a sociedade era formada por diversas castas (camadas sociais bem definidas e
separadas entre si) que faziam com que ela fosse “piramidal”.
•Mas o que isso significa? Isso quer dizer que, na base da pirâmide, encontrava-se a maior parte
das pessoas: os escravos e os prisioneiros de guerra, que nem mesmo eram considerados
“pessoas”.
•Logo acima deles, numa camada intermediária (portanto em número menor), estavam os
cidadãos. Os cidadãos eram os soldados, os artesãos, os agricultores, e estes tinham direitos e
deveres. No topo da pirâmide estavam os governantes, os sacerdotes e os MÉDICOS.
•Os médicos, naquela época, eram considerados semideuses, e estavam encarregados de curar
as pessoas “segundo seu poder e entendimento”.
•A importância desse resgate histórico é ressaltar que os médicos daquela época estavam em
uma posição hierárquica superior às das outras pessoas, e essa diferença de posição também
se manifestava em um “desnivelamento de dignidades”. Ao longo da história, a estrutura da
sociedade deixou de ser piramidal, mas essa postura “paternalista”, ou seja, na qual os
profissionais da saúde são considerados “pais”, ou melhores que os seus pacientes, ainda hoje é
percebida com frequência.
•Os profissionais da saúde detêm um conhecimento técnico superior ao dos pacientes, mas não
são mais dignos que seus pacientes, não têm mais valor que eles (como pessoas).

O cartesianismo
•Estabelecido por René Descartes no século XVII, o método cartesiano (ou cartesianismo), ao
propor a fragmentação do saber (com a divisão do “todo” “em partes” para estudá-las
isoladamente), sem dúvida contribuiu para o desenvolvimento da ciência.
•Entretanto, o cartesianismo gerou a superespecialização do saber, entre os quais o saber na área
da saúde.
•Esse fato colaborou para a perda do entendimento de que o paciente é uma pessoa única e que
deve ser considerado em sua totalidade (em todas as suas dimensões), pois nos acostumamos a
estudar apenas aquela parte do corpo humano que vamos tratar.

Contexto cultural e as relações assistenciais


•Além do contexto histórico, devemos entender o contexto cultural e social em que estamos
inseridos antes de enveredar para a discussão bioética.
•Algumas vezes nem percebemos quais são as ideias que nos cercam e que podem dificultar a
adoção de uma postura realista (nesse contexto, adotamos o conceito de que uma postura
realista é aquela que considera todos os aspectos de uma situação ou realidade). Destacamos
três modalidades que exercem atualmente grande influência na reflexão ética: A) o
individualismo,
B) o hedonismo,
C) o utilitarismo.

Individualismo
•O individualismo propõe que a atitude mais importante para tomarmos uma decisão seja a
liberdade, expressa na garantia incondicional dos espaços individuais.
•Obviamente todos concordam que a liberdade é um bem moral que precisa ser defendido. Mas,
nesse caso, trata-se de uma liberdade que se resume à busca de uma independência total.
•Contudo, essa independência não é possível, pois nós somos seres sociais, frutos de relações
familiares e dependentes de vínculos sociais.
•Essas relações determinam limites às liberdades individuais e impõem responsabilidades diante
das consequências dos atos individuais na vida dos outros. Os vínculos nos fortalecem, a
independência nos fragiliza. Não podemos falar de “liberdade” sem considerar a
“responsabilidade” dos nossos atos.
•Muitas vezes, definimos liberdade como na seguinte frase: “Minha liberdade termina quando
começa a liberdade do outro”. Entretanto, ao limitarmos a compreensão do conceito de liberdade
a essa frase, quem for mais “forte” determinará quem será “mais livre”.
•Para que todos tenham o direito de expressar a sua liberdade, é preciso atrelar esse conceito ao
de responsabilidade, pois todos os nossos atos têm alguma consequência para outras pessoas.
Hedonismo
•Na lógica hedonista, a supressão da dor e a extensão do prazer constituem o sentido do agir
moral.
•Falar em suprimir a dor e estender o prazer, em um primeiro momento, parece ser algo positivo.
Então quando começa a distorção?
•Quando essa busca se torna o único referencial para todas as nossas ações. Este é o
hedonismo. •O desejo de felicidade é reduzido a uma perspectiva de nível físico, material,
sensorial (e felicidade é muito mais do que isso!).
•Na reflexão ética, o predomínio dessa lógica hedonista faz com que o conceito de “vida” fique
reduzido a essas expressões sensoriais de dor e prazer.
•A “qualidade de vida” para o hedonismo é interpretada como eficiência econômica, consumismo
desenfreado, beleza e prazer da vida física. Ficam esquecidas as dimensões mais profundas da
existência, como as interpessoais, as espirituais e as religiosas.

Utilitarismo
•Nessa perspectiva, as nossas ações se limitam a uma avaliação de “custos e benefícios”. O
referencial “ético” para as decisões é ser bem-sucedido; o insucesso é considerado um mal. Só o
que é útil tem valor.
•Em princípio, valoriza-se algo positivo: o justo desejo de que nossas ações possam ser frutíferas.
Mas o problema desse raciocínio utilitarista é que, com facilidade, pode-se entender que “só o
que é útil tem valor”.
•Em uma sociedade capitalista, nossas ações são determinadas pelo mercado. Isso significa que
aquelas pessoas consideradas improdutivas, aquelas que representam um custo para a
sociedade, aquelas que perderam (ou que nunca tiveram) condições físicas ou mentais para
participar do sistema de produção de bens e valores de forma eficiente, são classificadas como
“inúteis”.
•Contudo, não é ético que nossas ações fiquem restritas a essa correlação entre custos e
benefícios. Pessoas com necessidades especiais e aquelas consideradas vulneráveis devem ser
consideradas dignas de respeito; são pessoas humanas, e isso é condição suficiente para que
sejam respeitadas.

Fundamentação da Bioética – o valor da vida humana


Existem diversas propostas para estabelecer quais são os critérios (o fundamento, a base) que
devem nos orientar nos processos de decisão com os quais podemos nos deparar na nossa vida
profissional.
Para nós, o fundamento ético é como se fosse a estrutura de um prédio. O nosso fundamento
ético é tão importante quanto a estrutura de um prédio. O fundamento ético será sempre a base
para a nossa tomada de decisão.
Mas qual é esse fundamento?
A pessoa humana
Definir o que é a pessoa pode ser uma tarefa difícil (e que os filósofos costumam estudar
arduamente), porém entender o que é a pessoa é algo que fazemos todo dia quando nos olhamos
no espelho.
Nós conhecemos a “pessoa humana” porque somos “pessoa humana”.
Mas quais são os conceitos que existem na realidade da pessoa dos quais devemos nos lembrar
por serem importantes no enfrentamento das questões bioéticas?

A pessoa é única.
A) Isso significa que as pessoas são diferentes (mesmo os gêmeos idênticos são diferentes), têm
suas características, seus anseios, suas necessidades, e esse patrimônio, essa identidade,
merece ser respeitado (para que as pessoas não sejam tratadas como números).
Reconhecer que “o outro é diferente de mim” não significa que uma pessoa é melhor que a
outra. Uma pessoa não vale mais que a outra. Somos iguais a todos no que se refere à
dignidade. B) A pessoa humana é provida de uma “dignidade”. Isso significa que a pessoa tem
valor pelo simples fato de ser pessoa.
A pessoa é composta de diversas dimensões: dimensão biológica (que as ciências da saúde
estão acostumadas a estudar), dimensão psicológica (que os psicólogos estudam
detalhadamente), dimensão social ou moral (estudada pelas ciências sociais) e dimensão
espiritual (estudada pelas teologias). Por isso, falamos que a pessoa é uma totalidade, pois
todas essas dimensões juntas compõem a pessoa.
Assim, todas as nossas reflexões e ações diante das pessoas (seja em situações de conflitos
éticos ou não) devem ser guiadas pelo respeito a esse fundamento, a pessoa humana (entendida
como um ser único, que é uma totalidade e dotado de dignidade).

O valor da vida humana

Outro conceito importante para construirmos a nossa reflexão ética/bioética é o de vida humana.
Para a Bioética, é fundamental o respeito à vida humana.
Mas o que designamos vida humana?
Segundo os principais livros de Embriologia, a vida humana inicia-se no exato momento da
fecundação, quando o gameta masculino e o gameta feminino se juntam para formar um novo
código genético. Esse código genético não é igual ao do pai nem ao da mãe, mas é composto de
23 cromossomos do pai e de 23 cromossomos da mãe.
Sendo assim, nesse momento, inicia-se uma nova vida, com patrimônio genético próprio, e, a
partir desse momento, essa vida deverá ser respeitada. Este é o primeiro estágio de
desenvolvimento de cada um de nós. A nossa experiência mostra que o desenvolvimento de
todos nós se deu da mesma maneira, ou seja, a partir da união dos gametas do pai e da mãe.
Além disso, a vida é um processo que pode ser:
a) contínuo: porque é ininterrupto na sua duração. Estar vivo representa dizer que não existe
interrupção entre sucessivos fenômenos integrados. Se houver interrupção, haverá a morte. b)
coordenado: significa que o DNA do próprio embrião é responsável pelo gerenciamento das
etapas de seu desenvolvimento. Esse código genético coordena as atividades moleculares e
celulares, o que confere a cada indivíduo uma identidade genética.
c) progressivo: porque a vida apresenta, como propriedade, a gradualidade, na qual o processo de
desenvolvimento leva a uma complexidade cada vez maior da vida em formação. Contudo, o
valor da vida de algumas pessoas, em diferentes épocas, não foi respeitado (e ainda hoje, em
muitos casos, não é). Por exemplo: os escravos no Brasil (até a Abolição da Escravatura, em
1888), com consequente (e ainda frequente) discriminação dos afrodescendentes; os prisioneiros
nos campos de concentração na 2ª Guerra Mundial, dentre tantos outros exemplos.

Os princípios da Bioética

Após a compreensão desse fundamento (o respeito pela pessoa humana), podemos utilizar
“ferramentas” para facilitar o nosso processo de estudo e de decisão sobre os diversos temas de
Bioética.
A essas ferramentas chamamos princípios.
Esses princípios foram propostos primeiro no Relatório Belmont, de 1978, para orientar as
pesquisas com seres humanos e, em 1979, Beauchamps e Childress, em sua obra Principles of
biomedical ethics, estenderam a utilização deles para a prática médica, ou seja, para todos
aqueles que se ocupam da saúde das pessoas.

Beneficência/não maleficência
O primeiro princípio que devemos considerar na nossa prática profissional é o de
beneficência/não maleficência (também conhecido como benefício/não malefício). O benefício
(e o não malefício) do paciente (e da sociedade) sempre foi a principal razão do exercício das
profissões que envolvem a saúde das pessoas (física ou psicológica). Beneficência significa
“fazer o bem”, e não maleficência significa “evitar o mal”. Desse modo, sempre que o profissional
propuser um tratamento a um paciente, ele deverá reconhecer a dignidade do paciente e
considerá-lo em sua totalidade (todas as dimensões do ser humano devem ser consideradas:
física, psicológica, social, espiritual, visando oferecer o melhor tratamento ao seu paciente, tanto
no que diz respeito à técnica quanto no que se refere ao reconhecimento das necessidades do
paciente.

Autonomia
De acordo com esse princípio, as pessoas têm “liberdade de decisão” sobre sua vida. A
autonomia é a capacidade de autodeterminação de uma pessoa, ou seja, o quanto ela pode
gerenciar sua própria vontade, livre da influência de outras pessoas. A Declaração Universal dos
Direitos Humanos, que foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas de 1948, manifesta
logo no seu início que as pessoas são livres. Para que o respeito pela autonomia das pessoas
seja possível, duas condições são fundamentais: a liberdade e a informação. Isso significa que,
em um primeiro momento, a pessoa deve ser livre para decidir. Para isso, ela deve estar livre de
pressões externas, pois qualquer tipo de pressão ou subordinação dificulta a expressão da
autonomia. Em alguns momentos, as pessoas têm dificuldade de expressar sua liberdade.
Nesses casos, dizemos que ela tem sua autonomia limitada.
Vejamos o exemplo das crianças. Em razão de seu desenvolvimento psicomotor, a criança terá
dificuldade de decidir o que é melhor para a saúde dela. Ela terá, ao contrário, uma tendência em
fugir de todo tratamento que julgar desconfortável. A correta informação das pessoas é que
possibilita o estabelecimento de uma relação terapêutica ou a realização de uma pesquisa.
A primeira etapa a ser seguida para minimizar essa limitação é reconhecer os indivíduos
vulneráveis (que têm limitação de autonomia) e incorporá-los ao processo de tomada de decisão
de maneira legítima. Assim, será possível estabelecer uma relação adequada com o paciente e
maximizar sua satisfação com o tratamento. Para permitir o respeito da autonomia das pessoas, o
profissional deverá explicar qual será a proposta de tratamento. Por isso, consideramos que a
informação não se encerra com as explicações do profissional, mas com a compreensão, com a
assimilação das informações pelos pacientes, desde que essas informações sejam retomadas ao
longo do tratamento. A esse processo de informação e compreensão e posterior
comprometimento com o tratamento denominamos consentimento.

Justiça
Este se refere à igualdade de tratamento e à justa distribuição das verbas do Estado para a
saúde, a pesquisa etc. Costumamos acrescentar outro conceito ao de justiça: o conceito de
equidade que representa dar a cada pessoa o que lhe é devido segundo suas necessidades,
ou seja, incorpora-se a ideia de que as pessoas são diferentes e que, portanto, também são
diferentes as suas necessidades. De acordo com o princípio da justiça, é preciso respeitar com
imparcialidade o direito de cada um.
É também a partir desse princípio que se fundamenta a chamada objeção de consciência, que
representa o direito de um profissional de se recusar a realizar um procedimento, aceito pelo
paciente ou mesmo legalizado. Todos esses princípios (insistimos que eles devem ser nossas
“ferramentas” de trabalho) devem ser considerados na ordem em que foram apresentados, pois
existe uma hierarquia entre eles. A Bioética pretende contribuir para que as pessoas estabeleçam
“uma ponte” entre o conhecimento científico e o conhecimento humanístico, a fim de evitar os
impactos negativos que a tecnologia pode ter sobre a vida (afinal, nem tudo o que é
cientificamente possível é eticamente aceitável).
Em razão da influência histórica, cultural e social que sofremos, devemos estar muito atentos;
caso contrário, corremos o risco de perder os parâmetros que devem nos nortear na nossa
atividade profissional para que nossas atitudes sejam éticas. Se esse processo de construção da
reflexão ética/bioética, que parte do entendimento do fundamento bioético e se segue pelo
respeito aos seus princípios, for seguido, as respostas sobre como agir eticamente diante de um
conflito ético, ou de uma situação clínica nova (ou diferente), surgirão naturalmente.

ÉTICA EM SAÚDE

“O homem é o único ser sobre a Terra que tem consciência da sua finitude, o único a saber que
sua passagem neste mundo é transitória e que deve terminar um dia.” (Edna Paciência Vietta)

Eutanásia

“É a boa morte, morte apropriada, o direito de morrer”. É a morte da pessoa, que se


encontra em grave sofrimento decorrente de doença, sem perspectiva de melhora, com o
auxílio de médico, com o consentimento da pessoa;

Elementos:
Intenção:
• Ação (eutanásia ativa): promover a morte mais cedo por motivo de compaixão, ante o sofrimento
insuportável. A provocação da morte de paciente terminal ou portador de doença incurável,
através de ato de terceiro, praticado por sentimento de piedade.
• Omissão (eutanásia passiva): não realização da indicação terapêutica.
Efeito da ação: proporcionar qualidade de vida humana na sua fase final. (morte
digna?) ■ Distanásia
■ Ortotanásia

No meio das duas espécies (EUTANASIA E DISTANASIA) figura a ortotanásia, que


significa a morte "no tempo certo", conceito derivado do grego "orthos" (regular, ordinário).
Em termos práticos, considera-se ortotanásia a conduta omissiva do médico, frente a
paciente com doença incurável, com prognóstico de morte iminente e inevitável ou em
estado clínico irreversível.
Neste caso, em vez de utilizar-se de meios extraordinários para prolongar o estado de
morte já instalado no paciente (que seria a distanásia), o médico deixa de intervir no
desenvolvimento natural e inevitável da morte. Tal conduta é considerada ética, sempre que
a decisão do médico for precedida do consentimento informado do próprio paciente ou de
sua família, quando impossível for a manifestação do doente.
A ortotanásia não se confunde com a chamada eutanásia passiva.

■ Na eutanásia passiva a conduta omissiva do médico que determina o processo de morte,


uma vez que a sua inevitabilidade ainda não está estabelecida. Assim, os recursos médicos
disponíveis ainda são úteis e possíveis de manter a vida, sendo a omissão do profissional,
neste caso, realmente criminosa.

■ Mistanásia / Eutanásia Social: é a morte miserável, fora e antes da hora. Nada tem de boa,
suave ou indolor;
Ocorre em três situações:
•Grande massa de doentes que não chegam a ser pacientes pois não conseguem tratamento.
Questões políticas, sociais e econômicas;
•Pacientes vítimas de erro médico;
•Pacientes vítimas de má-prática no tratamento por motivos econômicos, científicos ou
sociopolíticos.
Diferenças com o suicídio assistido:
•Eutanásia: médico age com ação ou omissão para ter a morte;
•Suicídio assistido: morte não depende diretamente de ação de terceiro, pois ocorre por
ação do próprio paciente, o qual foi orientado, auxiliado ou observado por terceiro; •Em
ambos deve-se ter a vontade do paciente, pois a morte é voluntária.

■ Pelo mundo:
•Na Europa, continente que mais avançou na discussão, a eutanásia é hoje considerada prática
legal na Holanda e na Bélgica.
•Em Luxemburgo, foi legalizado em 2009.
•Holanda e Bélgica agiram em cadeia: a primeira legalizou a eutanásia em abril de 2002 e a
segunda, em setembro do mesmo ano.
•Na Suécia, é autorizada a assistência médica ao suicídio.
•Na Suíça, país que tolera a eutanásia, um médico pode administrar uma dose letal de um
medicamento a um doente terminal que queira morrer, mas é o próprio paciente quem deve tomá
la.
• Já na Alemanha e na Áustria, a eutanásia passiva (o ato de desligar os aparelhos que mantêm
alguém vivo, por exemplo) não é ilegal, contanto que tenha o consentimento do paciente. •A
Europa é o continente mais posicionado em relação à eutanásia, mas é provável que o Uruguai
tenha sido o primeiro país a legislar sobre o assunto. O Código Penal uruguaio, que remete à
década de 1930, livra de penalização todo aquele que praticar “homicídio piedoso”, desde que
conte com “antecedentes honráveis” e que pratique a ação por piedade e mediante “reiteradas
súplicas” da vítima.
•Colômbia – > suicídio piedoso
•EUA: Oregon – 1997
•EUA: Washington, Montana e Vermont -> 2014

NO BRASIL:
■ Aceita-se a distanásia, não há controvérsias; em nosso direito não se considera, neste caso,
a conduta médica ilícita nem culpável.
■ Admite-se, sob condições, a ortotanásia; julga-se a conduta médica lícita do ponto de vista
jurídico, quando não significa a redução do período natural de vida do paciente nem caracteriza
abandono do incapaz.
■ Rejeita-se categoricamente a eutanásia; como conduta típica, ilícita e culpável, ela
caracteriza homicídio, sendo indiferente que o paciente com ela concorde ou mesmo por ela
implore.
■ A eutanásia suscita polêmica pelas mesmas razões que fazem do aborto um motor de
calorosos debates: porque perpassa a bioética e também a moral de cada um. Não há consenso a
respeito da validade da prática nem mesmo entre os médicos, porque não há acordo a respeito do
que sentem e pensam doentes em coma ou em estado vegetativo.

EUTANÁSIA SOB O PONTO DE VISTA RELIGIOSO


As religiões têm um papel muito importante para a humanidade, principalmente quando o
sofrimento e a dor se fazem presentes, oferecendo acolhida e reflexão nestes momentos,
orientando para uma vida responsável, garantindo uma vida plena de felicidades. De uma forma
ou de outra, todas estão relacionadas com o sentido da vida, liberdade, justiça e direcionamento
da consciência.
■ Com exceção do budismo, que considera a vida como um bem precioso, mas não de âmbito
divino, em todas as outras religiões ela é vista como sagrada. Em relação às discussões atuais
sobre a preservação da vida e o avanço tecnológico, as principais religiões se posicionam pela
primeira até seu fim natural, manifestando-se a favor do cuidado aos pacientes com doença
avançada, devendo se preservar a dignidade no adeus à vida, evitando-se o prolongamento
artificial e penoso do processo de morrer.
■ As religiões buscam, também, uma ética de responsabilidade, discutindo as consequências de
certas ações, e também de certas omissões. É aí que cabe a discussão sobre eutanásia. Pessini
(1999) traça um painel sobre as diversas religiões, e como seria seu posicionamento diante da
questão do apressamento da morte - eutanásia ou suicídio. Seguem-se, pois, as peculiaridades
de algumas das principais religiões, atualmente professadas, tal como expostas pelo autor.

Budismo
■ No Budismo, não há uma autoridade central, sendo objetivo de todos budistas a iluminação e,
assim como o próprio Buda buscou o seu caminho, cada pessoa pode traçar o seu. É uma
filosofia de vida, o caminho da sabedoria. A vida é transitória e a morte inevitável, e é importante
deixar que siga seu transcurso natural. Além disso, a morte perturba o processo dos
sobreviventes e não deve ser prolongada indefinidamente quando não houver possibilidade de
recuperação, mas, também, não deve ser apressada. O momento da morte é fundamental, pois o
que governa o renascimento é a consciência e a aprendizagem na hora da morte; por isto, é
importante ter pensamentos apropriados neste momento.
■ Há uma restrição no que concerne aos transplantes, uma vez que a unidade corpo e espírito
continua após a morte. Remover um órgão do cadáver é uma perturbação desta unidade;
pelo mesmo motivo, autópsias também são contraindicadas.
■ Como a morte é uma transição, o suicídio não pode ser visto como escape, portanto, é
condenado. Alguns suicidas foram perdoados por Buda, quando este percebia que não
eram atos egoístas, movidos pelos desejos, mas sim, guiados pelo caminho da iluminação.
Há um reconhecimento da sabedoria das pessoas na determinação do fim desta existência
e a passagem para a seguinte. É importante considerar o momento da morte e a maneira
como vai ocorrer, a sua dignidade.
■ Devemos lembrar que a lei japonesa não incentiva o suicídio, e penaliza aqueles que ajudam
os outros a executá-lo. Entretanto, se no processo de morrer houver sofrimento intolerável,
é permitido o auxílio, é o que se vê no hara kiri quando o samurai, rasgando seu abdômen,
tem um auxiliar que o degola, porque o sofrimento é muito grande e demorado com o corte
abdominal. É importante que a tensão seja diminuída, para que se possa ter paz mental.
■ As drogas usadas para aliviar a dor são permitidas, mesmo que possam matar o paciente.
Entretanto, é necessário verificar se é o caso de administrá-las, garantindo o máximo
possível de lucidez do paciente no momento de sua morte. Por isto, na visão budista, é um
absurdo manter o paciente inconsciente, vivo, quando não há possibilidade de recuperação.
Na tradição budista, valoriza-se muito a decisão pessoal sobre o tempo e a forma da morte.
Todos os atos que dificultem esta decisão, ou que nublem a consciência da pessoa, são
condenados. A vida não é divina e, sim, do homem, e a preocupação é com a evolução da
pessoa, a lei do Karma.

Islamismo
■ Islamismo significa, literalmente, submissão a Deus. A vida humana é sagrada e tudo deve
ser feito para protegê-la; o mesmo vale para o corpo, que não deve ser mutilado em vida ou
depois da morte. É importante lavá-lo e envolvê-lo em pano próprio, orar e depois enterrá
lo.
■ Deus é a suprema força que governa os homens, portanto, o suicídio é considerado como
transgressão. O médico é um instrumento de Deus para salvar pessoas, não pode tirar a
vida de ninguém, nem mesmo por compaixão; mas também não deve prolongá-la a todo
custo, principalmente quando a morte já tomou conta. Os islâmicos são totalmente
contrários aos transplantes, porque provocam mutilação no corpo.

Judaísmo
■ A grande questão para o judaísmo é definir o momento da morte, término da vida. A morte
encefálica é o determinante do momento da morte. Mas, para alguns mais tradicionalistas,
o critério válido de morte é a parada cardíaca e respiratória.
■ Sobre a eutanásia, os rabinos de várias linhagens têm opiniões coincidentes. A morte não
deve ser apressada e o moribundo deve receber os tratamentos dos quais necessita. A
decisão sobre a própria morte não cabe ao sujeito, e sim aos rabinos que, ao interpretar a
Torah, aplicam seus conhecimentos à vida cotidiana. Mesmo não sendo a cura não é
possível, não se deve deixar de cuidar, e a pessoa não deve ser deixada sozinha quando
estiver morrendo. O médico é um servo de Deus para cuidar da vida humana e não deve
apressar a morte. O que deve ser preservado é a vida e não a agonia.

Cristianismo
■ A "Declaração sobre a Eutanásia", de 5 de maio de 1980, da Sagrada Congregação para a
Doutrina da Fé, é o documento mais completo sobre o assunto nesta religião. A eutanásia é
condenada como violação da lei de Deus, ofensa à dignidade humana e um crime contra a
vida. Entretanto, isto não quer dizer que se tenha de preservá-la a todo custo, prolongando
a agonia e o sofrimento. O conflito sobre o que seriam tratamentos ordinários e
extraordinários ainda continua, assim como uma grande preocupação com o sofrimento
durante o processo da morte, e com a velhice indigna. Não é considerada eutanásia a
interrupção de um tratamento, que não oferece cura ou recuperação, e, sobretudo, causa
muita dor e sofrimento. Deixar morrer não significa matar. Esta última ação é que é vedada.

Observando os postulados dos credos religiosos apresentados, a eutanásia é uma transgressão


e, também, assunto fértil para controvérsias, conflitos e discussões. O foco é o questionamento
sobre a autoridade divina e a possibilidade de autodeterminação do ser humano e por isto o
diálogo entre ética e religião é fundamental. A vida não é só biológica, mas também biográfica,
incluindo: estilo de vida, valores, crenças e opções.
•A legalização da eutanásia é a observância do respeito pela autonomia da pessoa? •A pessoa
pode rejeitar terapias e tratamentos ou está obrigada a seguir as orientações médicas quando em
risco de morte?
•Devemos respeitar a vontade da pessoa numa decisão tão fundamental? •Com a legalização da
eutanásia não se pretende apenas eliminar situações de sofrimento intolerável?
• Isso não é uma questão de dignidade?
•Dizem que com a legalização da eutanásia e do suicídio assistido, não se toma qualquer partido
a respeito de concepções sobre o sentido da vida e da morte, e respeita-se, apenas, a vontade e
as concepções sobre o sentido da vida e da morte, de quem solicita tais pedidos. Isso procede?
•Afinal, a medicina está voltada para a proteção da vida humana ou para a proteção da pessoa
humana?
•O que é vida digna?
•Dignidade e vida são conceitos que podem ser separados?
•Que riscos estão em jogo na legalização da eutanásia?
•Como o Biodireito poderia auxiliar nas questões que envolvem a morte digna?

TRANSFUSÃO SANGUÍNEA E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

Histórico – Transfusão Sanguínea


• Ficou no esquecimento entre meados do séc. XVII até o início do séc. XIX; •
Devido a inúmeros relatos de mortes após a reação hemolítica transfusional;
• Séc. XX deixou de ser uma técnica empírica
• Descrição dos grupos sanguíneos (A, B, O e AB); testes de compatibilidade e descoberta do
sistema Rh
• Criação dos Bancos de Sangue
• Descoberta/utilização de anticoagulantes

Ciência x religião - Testemunhas de Jeová


• A indicação médica de transfusão de sangue é das mais polêmicas e
conhecidas • Benefício médico versus Exercício da autonomia individual;
• Aos seus seguidores é imposto restrições a algumas formas de tratamento.
História e algumas características dos Testemunhos de Jeová
•Surgiu em 1870 – Pensilvânia (EUA) – Estudantes da Bíblia;
•Em 1931 passaram a ser chamados de Testemunhas de Jeová;
•Charles Taze Russel – Foi criado como presbiteriano – desapontou-se com esta religião;
•Possuem suas crenças e normas como toda religião;
•Não comemora datas festivas como aniversários;
•Não presta serviço militar;
•A recusa de transfusão sanguínea

Bases religiosas

- No livro do Gênesis (9:3-4) está escrito:


"Todo animal movente que está vivo pode servir-vos de alimento. Como no caso da vegetação
verde, deveras vos dou tudo. Somente a carne com sua alma - seu sangue - não deveis comer."
- No livro de Levítico (17:10): está escrito:
“Quanto qualquer homem da casa de Israel ou algum residente forasteiro que reside no vosso
meio, que comer qualquer espécie de sangue, eu certamente porei minha face contra a alma
que comer o sangue, e deveras o deceparei dentre seu povo.”

Bioética: “Disciplina, a qual combinava os conhecimentos biológicos com o conhecimento dos


sistemas de valores humanos.” (Van Ressenlaer Potter, 1971)
Autonomia: “O princípio da liberdade moral, em que todo ser humano é agente moral autônomo
e como tal deve ser respeitado por todos que mantem posições morais distintas.” (Pessini, 2000)

Conselho Federal de Medicina – CFM

•Resolução 1.021 – 26/09/80: Manifesto específico sobre a questão da transfusão de sangue em


testemunhas de Jeová.
•Artigo 46 - (É vedado ao médico) efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e
o consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo em iminente risco de vida
•Artigo 56 - (É vedado ao médico) desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a
execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo e, caso de iminente risco de vida. •O
Código Penal, no parágrafo 3º, artigo 146, declara: “A intervenção médica ou cirúrgica sem o
consentimento do paciente ou de seu representante legal se justifica por iminente perigo de vida”.
• “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de cultos e suas liturgias”
(inciso VI do artigo 5º da CF/88).
•Artigo 1º do inciso III da CF/88 garante que a realização de um determinado procedimento
médico diagnóstico ou terapêutico, tal como transfusão de hemocomponentes sem a
manifestação da autonomia do paciente, consiste em nítida violação da integridade psicofísica e,
portanto, violação da dignidade humana, podendo sua violação causar dano moral ou
extrapatrimonial.

A autonomia deve ser respeitada


O paciente cujo credo religioso prega que a doação e recepção de órgãos, sangue e seus
derivados inviabiliza a salvação celestial se nega a receber qualquer tratamento que vá contra as
pregações de sua fé. Se tal paciente receber o tratamento terá sua vida terrena salva, porém,
na concepção religiosa, estaria condenado para a eternidade. Levando em consideração as
questões bioéticas, morais e religiosas, como portar-se frente a tal situação? Devemos respeitar
os credos religiosos, mesmo que estes estejam pondo em risco a vida do paciente?
TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS

Obtenção de órgãos:
- Doadores vivos;
- Cadáveres;
- Animais de outras espécies - ainda não aprovada no país, portanto não incorporada à rotina
clínica

Morte encefálica
• 1960 A parada cardiorrespiratória era necessária para atestar morte do paciente •
Esta posição restringia as oportunidades de sucesso dos transplantes.
• O conceito morte encefálica foi adotado
• O número de pacientes na fila de espera se elevava a cada ano;
• Disponibilizar mais e melhores órgãos para transplantes.

- Resolução CFM 1.346/91 tinha como definição de morte encefálica a parada total e irreversível
dessas funções por mais de dois anos. Limitava a doação entre pessoas vivas a parentes até 2º
grau.
- Resolução CFM 1.480/97 adotou critérios e princípios para o diagnóstico de morte encefálica, de
acordo com o conceito estabelecido pela Comunidade Científica Mundial.
Após o diagnóstico de morte encefálica, o médico deve informar a Central de Notificação,
Captação e Distribuição de Órgãos do Estado. Notificação é compulsória.

Morte encefálica

Exigências para atestar morte encefálica:


- Ausência de atividade cerebral;
- Ausência de movimentos induzidos ou espontâneos;
- Ausência de respiração espontânea (sendo necessário o uso do
ventilador); - Ausência de reflexos do tronco encefálico e tendinosos
profundos
- Diagnosticado por meio de anamnese, exame físico e laboratorial
Mesmo que um indivíduo tenha decidido em vida que os seus órgãos seriam doados após a
morte, será que concordaríamos com a retirada dos órgãos quando ainda se apresentam
batimentos cardíacos após confirmada a morte cerebral?

Legislação Brasileira
Incisos I e II, artigo 3º da Lei 8. 489/92
a) A permissão manifestada em vida por meio de documento particular e na falta desse
documento; b) Autorização familiar a fim de que se proceda a retirada e transplante de tecidos,
órgãos ou partes do corpo humano com finalidade terapêutica ou científica.

- A Lei 9.434/97 regulamentada pelo Decreto – Lei 2.268, de 30 de junho de 1997, revogou a
anterior. Todo cidadão passa a ser doador de órgãos Forma de doação é o consentimento
presumido Independente do consentimento da família.

Medida Provisória 1.718/98 revogou a obrigatoriedade de manifestar-se contrário à doação


compulsória. Acrescentou o seguinte dispositivo ao parágrafo 6º do artigo 4º da Lei 9.434 em
vigor: “Na ausência de manifestação da vontade do potencial doador, a família poderá
manifestar-se
contrária à doação o que será obrigatoriamente acatado pelas equipes de transplante e
doação”. A negatividade familiar na retirada dos órgãos atingiu 90%.
Induziu a realização de mudanças.
OS DESAFIOS ENCONTRADOS PELOS PROFISSIONAIS DA ÁREA DE SAÚDE NA
IMPLEMENTAÇÂO DO TRATAMENTO HUMANIZADO

A necessidade da humanização dos cuidados no âmbito hospitalar existe em um contexto


social no qual alguns fatores têm contribuído para a fragmentação do ser humano como alguém
compreendido com necessidades puramente biológicas: a tecnologia, a visão de que é a equipe
de saúde que detém todo o saber e, não ter a percepção da integralidade do Ser Humano são
exemplos destes fatores. O avanço da tecnologia médica, principalmente a partir da segunda
metade do século XX, fez com que, por muitas vezes o cuidado se torne a aplicação de um
procedimento técnico, a fim de cumprir com um objetivo mecanicista, como puncionar um acesso
venoso, aplicar uma medicação ou realizar determinado exame; a fragilização do ser humano na
posição de "paciente" desfavorece o exercício da autonomia quando ocorre a visão paternalista de
que a equipe de saúde detém o poder e o conhecimento, subestimando assim a capacidade do
doente em fazer julgamentos com relação a si e a sua saúde.
Perceber o ser humano como alguém que não se resume meramente a um ser com
necessidades biológicas, mas como um agente biopsicossocial e espiritual, com direitos a serem
respeitados, devendo ser garantida sua dignidade ética, é fundamental para começarmos a
caminhar em direção à humanização dos cuidados de saúde.
Respeitar envolve ouvir o que o outro tem a dizer, buscando interpretar o que ouvimos, ter
compaixão, ser tolerante, honesto, atencioso, é entender a necessidade do autoconhecimento
para poder respeitar a si próprio e, então, respeitar o outro. Embora o conceito de respeito seja
bastante amplo, pode-se pontuar que, ao agir de forma a considerar a individualidade e a
subjetividade do paciente, tratando-o com atenção, consideração e deferência, o enfermeiro
estará agindo de forma respeitosa e, portanto, oferecendo cuidados mais integrais e
humanizados.

Relembrando...
Respeitar o outro na forma de ação inclui também considerar os princípios bioéticos da
autonomia, justiça, beneficência e não-maleficência. Esses princípios são subsidiários à dignidade
humana, tornando-se um componente essencial da qualidade do cuidado. O enfermeiro deve
refletir sobre esses princípios em sua prática profissional, pois a ética profissional envolve
motivação, ações, ideais, valores, princípios e objetivos, além de ser um mecanismo que regula as
relações sociais do homem e garante a coesão social, pois harmoniza os interesses tanto
individuais como coletivos. O respeito pela autonomia implica tratar as pessoas de forma a
capacitá las a agir autonomicamente, enquanto que o desrespeito "envolve atitudes e ações que
ignoram, insultam ou degradam a autonomia dos outros e, portanto, negam a igualdade mínima
entre as pessoas"
O princípio bioético da autonomia é um dos aspectos fundamentais para que possamos agir
com respeito junto ao cliente. Autonomia pode ser entendida como a "capacidade inerente ao
homem de elaborar leis para si mesmo, de agir de acordo com sua própria vontade, a partir de
escolhas ao alcance pessoal, diante de objetivos por ele estabelecidos, sem restrições internas ou
externas"
Em pesquisa sobre a autonomia do doente institucionalizado, encontra-se como resultado
que, embora sabendo dos direitos do paciente, é difícil o enfermeiro permitir a manifestação das
vontades do doente, por que cabe a ele fazer cumprir normas hospitalares. Além disso, o direito a
participação na escolha do tratamento quase sempre é omitido. Em contrapartida, o respeito à
autonomia começa a ser uma preocupação para a Enfermagem, pois o enfermeiro tem
reconhecido que o doente possui direitos que o permite participar nas decisões relativas à
condução de seu tratamento médico. Outra pesquisa, que aborda as possibilidades de
manifestação da autonomia do paciente, conclui que a questão da autonomia precisa ser
trabalhada, sobretudo, no aspecto atinente a liberdade para decidir sobre seu tratamento. Assim,
o cuidado humanizado pode não acontecer quando o paciente tem desrespeitado o seu direito de
exercer sua autonomia.
Também, ser autônomo não é semelhante a ser respeitado como um agente autônomo, ou
seja, apenas saber que o paciente tem autonomia não basta, o enfermeiro deve reconhecer o
direito do paciente de ter suas próprias opiniões, escolher de acordo com elas e agir com base
em valores e crenças pessoais. Se um paciente Testemunha de Jeová recusa tratamento com
sangue ou hemoderivados, por exemplo, devido a crenças pessoais, o enfermeiro, ao respeitá-lo
como um agente moral autônomo levará em conta que existem fatores emocionais envolvidos
nesta questão, antes de prontamente pensar que deve tentar convencê-lo de que esta não é a
forma de tratamento ideal para ele. Ao compreender os fatores que levam alguém a tomar
determinada decisão, o enfermeiro poderá ser o facilitador para a solução de prováveis situações
conflituosas, pois conflitos acontecem quando não partilhamos das mesmas ideias ou
percepções.
O princípio da justiça, quando posto em prática, faz com que o respeito também seja
praticado. Agir com justiça pressupõe a assistência equitativa a todos os pacientes, levando em
consideração suas condições clínicas e sociais. Isso implica que, para ser justo, deve-se entender
as necessidades de cada paciente e direcionar os cuidados tendo em mente essas necessidades.
Assim, ser justo não é tratar igualmente todos os pacientes, já que cada um possui necessidades,
condições clínicas e sociais diferentes.
Os princípios da beneficência e da não-maleficência podem ser analisados juntamente, visto
que a não-maleficência não é apenas o abster-se de prejudicar, mas implica em fazer ativamente
o bem. Uma das definições para "respeitar" é a de "não causar qualquer prejuízo". Assim, ao
aplicar os princípios da beneficência e não maleficência, o enfermeiro respeita o paciente. Neste
sentido, ele o trata com compaixão e bondade, além de agir com altruísmo, amor e humanidade.

Comunicação
Considerando que respeitar envolve agir com respeito, como já mencionado anteriormente,
não se deve desconsiderar que estas ações estão ancoradas na maneira como ocorrem as
relações interpessoais entre o enfermeiro e o paciente e que, portanto, a forma como o enfermeiro
se comunica com ele é um fator primordial quando o componente respeito é analisado nesta
relação. A comunicação sustém discursos de qualidade em cuidado e humanização.

ATENDIMENTO HUMANIZADO
Você já passou por uma situação em que foi mal atendido? Pacientes passam por isso
todos os dias. Desde uma recepcionista que não olha nos olhos até um médico que não presta
atenção em suas queixas, as instituições que trabalham com a saúde das pessoas nem sempre
atentam a estes aspectos básicos. O que elas estão deixando de fazer é o que chamamos de
atendimento humanizado.

Atendimento humanizado é uma forma de aproximação com o paciente, criando laços para
entender suas preocupações de forma afetiva, personalizada e humana. Ser atencioso com
qualquer paciente é importante para que ele se sinta valorizado. Quando ele é idoso, é muito
natural que se sinta mais fragilizado, o que faz com que a carência pelo atendimento humanizado
seja bem maior. Afinal, são muitos os fatores limitadores e dificultantes, dos mais diversos tipos,
inclusive as próprias doenças e enfermidades que são mais frequentes e intensas nesta fase da
vida.
O atendimento aos pacientes deve ser individualizado e personalizado, pois todos são
diferentes e possuem suas particularidades no contexto da humanização.
Salienta-se que o paciente que procura o setor de saúde pode estar passando por algum
processo de descobrimento de patologia e, nessa etapa, o sofrimento físico e mental pode levar a
comportamento de rechaço de aproximação, tanto com os profissionais quanto com sua própria
família. Cabe ao profissional ter discernimento e preparo para entender a etapa de vida pela qual
essa pessoa está passando, e continuar a oferecer um atendimento humanizado, respeitando as
necessidades de cada paciente.

Idosos
Os idosos constituem parcela populacional que mais cresce no mundo, e com o avanço da
idade há aumento no número de doenças crônicas, portanto, são mais vulneráveis à ocorrência de
eventos e reações adversas durante seu cuidado.
Não há quem não se sinta sensibilizado perante as necessidades especiais de um paciente
idoso, mas muita gente se sente paralisada por não saber como agir perante as diferentes
situações com que precisa lidar.
Mas tenha calma. Aliás, ter calma é a primeira regra neste caso. E siga as recomendações
para dar a devida atenção e os cuidados necessários ao paciente idoso.

ALGUMAS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO: As


alterações biológicas tornam o idoso menos capaz de manter a homeostase quando submetido a
estresse fisiológico. Tais modificações, associadas à idade cronológica avançada, determinam
maior susceptibilidade à ação de doenças, crescente vulnerabilidade e maior probabilidade de
morte (PAZ, SANTOS, EIDT, 2006).
A estatura diminui 1cm por década, pela redução dos arcos dos pés, aumento da curvatura
da coluna vertebral, além da diminuição do diâmetro dos discos intervertebrais. Os diâmetros da
caixa torácica e do crânio tendem a aumentar com o envelhecimento. A água corpórea diminui
por perda de água intracelular.
O envelhecimento altera músculos e tendões. No músculo, há perda de massa muscular com
diminuição do peso. A perda de células musculares com a idade depende do grau de atividade
física que o indivíduo exerce, de seu estado nutricional e do aspecto hereditário. Os diferentes
músculos sofrem o processo de atrofia de modo diferente no mesmo indivíduo. É importante
destacar que o declínio muscular é maior nos membros inferiores, o que compromete o equilíbrio,
a marcha e a ortostase (ABREU, SESSO, RAMOS, 1998).
As alterações mais importantes do envelhecimento ocorrem no cérebro. O cérebro diminui de
volume e peso. Nota-se uma redução de 5% aos 70 anos e cerca de 20% aos 90 anos de idade. A
redução da massa encefálica está associada à perda neuronal, que não é uniforme em todas as
áreas cerebrais. Os problemas neurológicos mais comuns são Parkinson, Acidente Vascular
Encefálico (AVE), demências, Mal de Alzheimer e alterações nos padrões de sono (CARDOSO,
2009).

O ATENDIMENTO AO IDOSO CONSIDERANDO SUAS LIMITAÇÕES FÍSICAS ▪ Estamos


falando de acessibilidade. As pessoas idosas têm uma acentuada redução de massa muscular e
aumento de massa adiposa, o que diminui consideravelmente a sua mobilidade. ▪ Dificuldades de
equilíbrio também são bastante comuns em idades avançadas, além de outros tipos de
desconforto que dificultam a permanência em pé ou a movimentação. ▪ Além dessas mudanças,
que são naturais do processo de envelhecimento, muitos idosos possuem outras necessidades
especiais, necessitando do uso de cadeiras de rodas e andadores.
▪ No dia a dia, muito pode ser feito para ajudar os idosos. Retirar tapetes, mesas de centro,
cadeiras e outros móveis e objetos que dificultam a movimentação, por exemplo, já é um ato de
grande valia.
▪ E lembre-se: coisas que são vistas como facilidades pelos mais jovens, como comunicados por
e-mail e soluções por aplicativos de celular, podem ser um verdadeiro tormento para a maioria
dos idosos. É preciso respeitar seus valores, idiossincrasias e limitações, o que nos leva ao
segundo aspecto do bom atendimento a este público

Considerando essas limitações, garantir a prioridade no atendimento é apenas o básico. É


necessário oferecer muito mais:
▪ sinalizar corredores para facilitar a localização;
▪ imprimir exames e outros documentos em letras grandes quando possível;
▪ instalar portas mais largas;
▪ instalar corrimãos em rampas e escadas;
▪ contar com pisos antiderrapantes e fitas de atrito em degraus;
▪ ter camas com regulagem de altura;
▪ disponibilizar objetos como copos, canetas, toalhas descartáveis e talheres de fácil manuseio.

OS ASPECTOS PSICOLÓGICOS NO ATENDIMENTO AO IDOSO

Por essas razões é primordial cultivar uma boa relação, com pequenas atitudes que
fazem grande diferença:
▪ Levante-se para recebê-los, sorria, dê as boas-vindas e faça perguntas cordiais; ▪ Seja
claro nas palavras e use um tom de voz adequado para as suas limitações auditivas; ▪
Deixe o paciente idosos se expressar, concluindo seu raciocínio;
▪ Trate-o com gentileza. Não demonstre impaciência, rispidez e nem seja sarcástico; ▪ Não
deixe que seu cuidado com as palavras faça com que você o trate de forma infantilizada; ▪
Compreenda seus valores e sentimentos;
▪ Explique detalhada e didaticamente os serviços ou processos, esclarecendo todas as dúvidas
e repetindo quantas vezes for necessário;
Até aqui abordamos aspectos abrangentes do atendimento ao idoso. Mas o principal não pode
ser esquecido: o atendimento que diz respeito mais diretamente à sua saúde. ▪ Prontuários de
pacientes idosos precisam de informações complementares como riscos de queda,
esquecimentos, convulsões e instabilidade de humor, entre outras;
▪ Idosos têm direito a acompanhante, que será também o responsável por ele. Caso não seja
possível um familiar ou conhecido acompanhar o paciente, a instituição de saúde deve
providenciar;
▪ O idoso, ainda que com capacidade cognitiva reduzida, tem o direito de decidir sobre os
procedimentos realizados. Cada indivíduo sabe o que lhe causa sofrimento, por isso é
importante que sua vontade seja respeitada;
▪ Por outro lado, o profissional não pode omitir socorro. Caso um procedimento
comprovadamente não cause sofrimento considerável, ele deve convencer o paciente idoso de
sua necessidade;
▪ Se o paciente idoso não tiver condições de tomar decisões, cabe aos familiares decidirem por
ele. Primeiramente o cônjuge, mesmo que também seja idoso. Não sendo possível, a
responsabilidade é dos filhos mais aptos.

BOM ATENDIMENTO AO IDOSO TAMBÉM É LEI


▪ A Lei 10.741, de 2003, também conhecida como Estatuto do Idoso, compila as boas práticas
de atendimento à pessoa idosa.
▪ Ou seja, a satisfação do paciente idoso não é apenas um importante fator de sucesso para sua
instituição, mas também um dever de todos nós.
▪ Faça sempre um acompanhamento frequente e cuidadoso das suas necessidades. Não prive
os do contato com outras pessoas. E faça de tudo para que eles se sintam seguros.

Crianças
Embora algumas doenças vistas em pediatria são as mesmas que em adultos, existem muitas
condições que são vistas apenas em crianças. A especialidade tem que levar em conta a
dinâmica de um corpo crescente, como recém-nascidos e pré-adolescentes, onde os órgãos
seguem os padrões de crescimento e fases. Estes requerem um exame de imagem especializado
e tratamento que é realizado em um hospital infantil, que tem todas as tecnologias necessárias
para tratar as crianças e suas patologias específicas.
O atendimento à criança e à sua família é um desafio para a equipe de saúde, necessitando-se
efetivar o acompanhamento da criança, orientando e dando suporte para que ocorra uma
assistência planejada, individualizada e de qualidade com o recurso socioeconômico da
comunidade a que pertence. O principal objetivo da enfermagem pediátrica é assistir a criança,
atendendo às suas necessidades biológicas, psicológicas, sociais e espirituais, e de sua família,
proporcionando-lhe atendimento individual em sua comunidade.
A saúde das crianças e de suas famílias é em grande parte influenciada pela comunidade onde
vivem, e os enfermeiros podem dar uma contribuição significativa trabalhando com a comunidade
para promover a saúde das crianças. Os enfermeiros que trabalham com as populações
pediátricas na comunidade precisam de um entendimento dos conceitos e processos críticos a
fim de lidar com as preocupações pediátricas por meio de uma perspectiva de saúde de
comunidade

Acolhimento
Comparativamente com os demais princípios da humanização, o acolhimento é o princípio mais
facilmente observado nas relações entre enfermagem, pacientes e acompanhantes, bem como o
seu inverso, ou seja, as situações de não acolhimento.
É possível observar situações em que os profissionais procuraram desenvolver um cuidado
diferenciado para as crianças, respeitando o cuidado da mãe e mantendo uma interação com a
criança durante o banho, a troca de curativos e a administração de dietas.

SOBRE A COMUNICAÇÃO COM A CRIANÇA HOSPITALIZADA

A qualidade da comunicação com a criança é o principal cuidado em saúde mental durante a


internação. Por isso, orientamos familiares, cuidadores e profissionais a:
• Não mentirem sobre o diagnóstico e o tratamento para as crianças e os adolescentes. Todos
têm o direito de saber o que está acontecendo, o que vai acontecer e também de participar
ativamente das escolhas que estiverem ao seu alcance no curso do tratamento. • Manterem
constante contato e comunicação – mesmo que não verbal e por meios de comunicação a
distância – da criança e do adolescente com outras pessoas. O isolamento não pode se
configurar como experiência de abandono, por isso, a ênfase na dimensão lúdica dos
contatos, oportunizando, sempre que possível, alguma forma de brincar. Por exemplo, os EPIs
e espaços podem ser customizados, permitindo identificação e familiaridade com pessoas e
ambientes.
• Reiterarem constantemente às crianças e aos adolescentes que o toque não é possível, mas
que todos estão atentos e preocupados com seu cuidado e bem-estar.
• Proporcionarem condições de manutenção da noção de tempo, de modo a combater o
fenômeno comum da sensação de “eterno presente” na internação. Estabelecer indicadores de
dia e noite, passagem de dias e horas é fundamental para que crianças e adolescentes
possam organizar-se internamente e suportar o processo de hospitalização e manter vivos
seus projetos de retorno à casa.
• Possibilitarem e estimularem crianças e adolescentes a manterem consigo objetos pessoais
(fotos, brinquedos, livros), que cumpram a necessária função de sustentação de suas ligações
com a família, com a casa, com sua própria história.
• Procurarem ativamente fornecer meios para que crianças e adolescentes expressem
pensamentos, sentimentos e percepções relacionados aos acontecimentos que vivenciam. •
Protegerem crianças e adolescentes, garantindo-lhes o direito de viverem seus pesares,
compartilhando com eles o que aconteceu de maneira simples, honesta e adequada à sua
possibilidade de entendimento. Os recursos para lidar com o sentimento de medo se ampliam
quando conseguimos dimensionar os riscos.
• Reassegurarem às crianças e aos adolescentes que eles não têm culpa dos acontecimentos
que levaram à hospitalização.

RECOMENDAÇÕES GERAIS

• Ajude as crianças a encontrar maneiras de expressar sentimentos, tais como atividades


criativas como brincar e desenhar.
• Crianças se beneficiam da rotina e da estrutura: ainda que inicialmente se relaxem as regras
usuais, trate de manter a estrutura e as responsabilidades familiares. Incentive as crianças a
continuarem a brincar e socializar com os outros, mesmo que apenas dentro da família quando
aconselhados a restringir contato físico.
• Situações estressoras e potencialmente traumáticas, como adoecimento e internação, podem
desencadear o surgimento de comportamentos não habituais para a criança, como voltar a
chupar dedo, urinar na cama ou querer dormir com os pais. Essa mudança demonstra que o
sofrimento se prolonga após a experiência, e por isso recomenda-se o acolhimento dessas
manifestações e que os adultos de referência possam falar com a criança ou o adolescente
sobre isso que observam, ofertando caminhos para a elaboração da vivência traumática de
desamparo.

Violência
A violência contra as mulheres é um fenômeno multidimensional que afeta as cidadãs de todas
as classes sociais, raças, etnias e orientações sexuais, que se constitui como uma das
principais formas de violação dos direitos humanos, atingindo as mulheres no seu direito à
vida, à saúde e à integridade física. Um dos grandes desafios para enfrentar essa violência é a
articulação e integração dos serviços e do atendimento de forma a evitar a revitimização destas
mulheres e, acima de tudo, oferecer o atendimento humanizado e integral.
▪ De acordo com pesquisa divulgada pela Radiology Business, vítimas de violência doméstica
passam por até quatro vezes mais exames de imagem do que pessoas que não sofrem
nenhum tipo de abuso.
▪ Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública afirmam que, no ano de 2017, foram
registrados mais de 600 casos de violência doméstica por dia no Brasil. E, como a taxa de
denúncia desse tipo de crime ainda é baixo, estima-se que o número total de casos possa
ultrapassar 500 mil por ano.
▪ Além disso, essas vítimas ainda têm maior probabilidade de sofrer de doenças físicas e
mentais, como a depressão.

Tipos de violência
Os tipos de violência contra as mulheres são vários, mas sabe o que eles têm em comum? São
todos formas de opressão, que causam muito sofrimento e interferem diariamente na vida de cada
uma. Mas como identificá-los? É exatamente isso o que propomos aqui: te ajudar a detectar
quando uma mulher está sofrendo violência baseada em gênero. Vale sempre lembrar que cada
mulher tem uma história e é preciso ter uma escuta singular para cada situação. Vamos lá?

O QUE É VIOLÊNCIA DE GÊNERO?

Primeiro de tudo, é importante que você saiba que este tipo de violência acontece pelo simples
fato da pessoa violentada ser mulher. E pode ser configurado como toda e qualquer conduta de
discriminação, agressão ou coerção, que cause dano, constrangimento, limitação, sofrimento
físico, sexual, moral, psicológico, social, político, econômico, perda patrimonial e mesmo morte.
Tudo isso? Sim! Para você entender melhor, vamos aos tipos:
Violência Doméstica - quando acontece dentro de casa e/ou em uma relação familiar, afetiva,
amorosa. Ex: trancar a residência impedindo a saída da mulher, bater na mulher dentro de
casa, assediar parente mulher etc.
Violência Física - ação que coloca em risco ou cause dano à integridade física da pessoa. Ex:
empurrões, chutes, tapas, socos, amarrar, bater, violentar.
Violência Psicológica - ação que visa degradar ou controlar as ações, comportamentos,
crenças e decisões de outra pessoa ou qualquer outra que prejudique a saúde psicológica.Ex:
humilhar, insultar, perseguir, isolar, ameaçar.
Violência sexual não é só estupro! É uma ação que obriga uma pessoa a manter qualquer
forma de contato ou a participar de relações sexuais com o agressor ou terceiros, por meio de
qualquer mecanismo que anule ou limite a vontade pessoal. Assédio é qualquer atitude que
aconteça sem consentimento. Ex: pressionar, exigir práticas que a mulher não gosta, se negar a
usar preservativo, negar o direito a métodos contraceptivos.
Violência Patrimonial - ação que implica dano, perda, subtração, destruição ou retenção de
objetos, documentos pessoais, bens e valores. Ex: controlar o dinheiro, não permitir certas
compras, não deixar trabalhar, destruir objetos, ocultar bens e propriedades. Violência
Moral - caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação da pessoa. Ex: xingar, rebaixar,
desautorizar, não permitir usar certos tipos de roupa.
Violência Institucional - tipo de violência motivada por desigualdades (de gênero, étnico
raciais, econômicas etc.) que se formalizam e institucionalizam nas diferentes organizações
privadas e serviços públicos. Ex: negar escuta e atendimento nas delegacias da mulher,
minimizar a gravidade do caso.
Violência Obstétrica - consiste na submissão da mulher à dor e sofrimento evitáveis, no âmbito
da saúde. (OMS, 1996). Ex: ameaçar, fazer piadas, gritar, omitir informações, negar a presença
de acompanhantes, negar anestesia, induzir a cesárea ou outro tipo de procedimento à revelia
da vontade da mulher.
Feminicídio - mortes de mulheres, motivadas pelo fato da pessoa ser mulher. É importante
ressaltar que o feminicídio é o estopim da gradual de todas as violências, podendo, dessa forma,
ser evitado. Ex: matar por ciúmes e controle, crimes "passionais" etc.
Discriminação e assédio no trabalho - Diferenças salariais entre homens e mulheres
exercendo a mesma função, obstáculos à ascensão profissional, assédio moral e sexual. Ex:
remunerar cargos iguais com valores diferentes, somente pela diferença de gênero, ameaçar,
fazer piadas com as roupas, usar a autoridade para envergonhar, humilhar e pedir favores.
Violência e Racismo - o racismo é um sistema de opressão que nega oportunidade a grupos
por conta da sua cor de pele, e, somando-o à violência de gênero, torna as mulheres negras um
grupo duplamente vulnerável. 66% das mulheres vítimas de violência doméstica no Brasil são
negras. Ex: humilhar ou promover atendimento diferenciado em serviços públicos (hospitais,
delegacias da mulher etc) devido a cor de pele da pessoa.
Violência contra as mulheres lésbicas, bis e trans - identidade de gênero e orientação sexual
são conceitos muito diferentes. O primeiro se refere ao gênero em que a pessoa se reconhece
(feminino, masculino ou não binário) e o segundo se refere à manifestação do desejo sexual
(homossexual, heterossexual, bissexual etc). Para as mulheres lésbicas, bissexuais, travestis e
pessoas transexuais, a possibilidade da violência, em casa e fora dela, é um dado da existência,
pois o Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo, por conta do preconceito. Ex: crimes de
ódio motivados por preconceito, exposição pública, agressão pelo fato da pessoa ser LBGTI.

Exame Físico
• Explicar para a pessoa examinada a necessidade do exame e da coleta de material;
• Informar os passos do exame, os locais do corpo a serem tocados, explicando os
procedimentos que serão realizados e os materiais que serão coletados;
• Havendo a recusa, a decisão e autonomia da pessoa devem ser respeitadas; • Descrever as
lesões em sua localização, tamanho, número e forma, preferencialmente no sentido
craniocaudal, inclusive as lesões genitais e extragenitais, assinalando-as na Ficha de
Atendimento específica ou fotografando-as, se possível, com o consentimento da pessoa; • O
exame deverá ser realizado pelo(a) médico(a) com a presença de outro(a) profissional de
saúde também habilitado para o atendimento integral às pessoas em situação de violência
sexual.
ATENÇÃO
Quando do atendimento de crianças e adolescentes é obrigatória a comunicação ao Conselho
Tutelar, sem prejuízo de outras providências legais (Lei nº 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do
Adolescente).
Nos casos de violência contra pessoas idosas é obrigatório comunicar a quaisquer dos
seguintes órgãos: autoridade policial, Ministério Público, Conselho Municipal, Estadual ou
Nacional do Idoso (Lei nº 10.741/2003).

Doença mental
▪ A pessoa em sofrimento psíquico, seja qual for a causa, encontra-se sempre em uma situação
de grande vulnerabilidade. A abordagem dessa pessoa deve pautar-se, sobretudo, pela
construção de uma aliança, que é feita por meio de cortesia, sensibilidade e acolhimento.
Afirmações empáticas e compreensivas, que abordem as emoções do paciente de forma direta
e que deixem clara a natureza do contato, são fundamentais.
▪ Para cada situação uma abordagem particular deverá ser adotada, mas estratégias que
abordem o fenômeno psíquico de maneira natural são bastante úteis como medida geral,
facilitando inclusive para orientação/encaminhamento do caso.
▪ Seja qual for o relato, sobretudo nos casos de pacientes com delírios, questionar a pessoa
sobre a irrealidade dos fatos, tem pouco benefício, haja vista que a natureza do fenômeno
psíquico* é definida por uma crença inabalável. Portanto, não se deve confrontar a crença da
pessoa.
▪ De relevância fundamental será identificar, ao longo do contato com o manifestante, quem é a
pessoa mais indicada que poderá ajudar no encaminhamento ou na proteção imediata do
manifestante. Contato prévio ao encaminhamento com o profissional que irá realizar o
atendimento poderá assegurar que a pessoa identificada como tendo um problema grave possa
ser devidamente auxiliada de imediato, como no caso de pacientes no planejamento suicida ou
na procura por atendimento em saúde, como no caso dos pacientes psicóticos.
Nos casos de atendimento de pessoas que falam demasiado, recomenda-se o uso de
perguntas fechadas (que pressupõem resposta “sim” ou “não” ou múltipla escolha). De qualquer
forma, para manifestantes prolixos, taquilálicos (fala rápida) ou grandiosos/narcisistas a
interrupção cordial sempre é um desafio. Fazê-lo, pressupõe invariavelmente um talento
particular, às vezes inato, mas que pode ser aperfeiçoado com algumas técnicas.

Algumas delas são:


▪ interrupção empática, em que se assume um comentário empático para redirecionar a
entrevista: “Consigo perceber que essa situação é realmente muito desafiadora. Mas [pergunta
de redirecionamento]? “;
▪ interrupção educativa, em que se explica que tipos de perguntas estão por vir e explica sobre
as limitações de tempo com que se está trabalhando: “Desculpe, mas tenho que interrompê-lo
novamente. Nos resta 20 minutos e temos que falar sobre o local onde procedeu a ocorrência,
as pessoas que estavam presentes, onde podemos recorrer para ajuda e ao final ainda
revisarmos os termos da manifestação. A senhora me ajudará muito respondendo diretamente
às minhas perguntas sem fugir do assunto central. O que a senhora acha disso? “;
▪ transição suave, na qual aponta-se algo que a pessoa acaba de dizer para introduzir outro
tema: “[manifestante] (...) inclusive meu filho estava comigo e viu tudo. [Atendente]: Em falar no
seu filho, quem da sua família que a senhora acha que poderia acompanhá-la em um local de
ajuda para amenizar essa angústia que a senhora está sentindo?”;
▪ transição referida, em que se utiliza assunto que a pessoa disse no passado: “antes de falar
sobre isso, a senhora me comentou que seu filho estava com você. Que idade ele tem? Ele
costuma ajudá-la quando a senhora precisa de ajuda como ir ao médico, por exemplo? “;
▪ transições introduzidas, em que se apresenta o tema completo antes de iniciá-lo. Quase
sempre esse tipo de abordagem inicia-se por “agora eu gostaria de mudar um pouco de
assunto (...)” ou “agora eu gostaria de fazer algumas perguntas diferentes”.
▪ Certamente o contato com pessoas em sofrimento causará mobilização afetiva do atendente.
Ora, trata-se de duas pessoas e em qualquer relação dessa natureza há uma troca afetiva. E
essa troca pode provocar tanto sentimentos negativos quanto positivos pelo atendente em
relação ao manifestante.
▪ Nunca é fácil manter a compostura quando o que se experimenta é uma emoção negativa.
Nesses casos é fundamental ser compassivo e lutar contra uma tendência natural de defender
se ou reservar-se atrás de uma couraça protetora de indiferença. Procure sempre demonstrar
curiosidade, interesse e disponibilidade para ajudá-lo. O entendimento de que um
comportamento indesejável do manifestante provavelmente é ocasionado pela sua dificuldade
em lidar com sua dor, muito mais do que uma perversão premeditada, ajuda no exercício da
tolerância.
▪ No caso das reações de compaixão (que pode variar desde uma empatia dolorosa até uma
ansiedade muito incômoda por parte do atendente) o primeiro passo é entender que há muitos
significados (e muitos deles não ditos ou sequer reconhecidos conscientemente por quem
sofre) por trás da manifestação de um fenômeno comum como o choro, por exemplo. Por
motivos variados, automaticamente ao ver alguém vulnerável, em situação de sofrimento ou
risco, tendemos a buscar o culpado e atribuir punição ao suposto algoz. Mas é sempre
essencial lembrar que nós nunca conseguiremos acessar a verdade integral pela fala de um
único informante, ainda que seja uma verdade e deva ser validada como tal.
▪ Lidar com os limites da sua função é essencial e provavelmente a tarefa mais difícil nesse
campo. Ainda que não consigamos solucionar o motivo do sofrimento ou que alcancemos um
desfecho favorável, é importante assegurar que tudo o que esteve alcançável pelo atendente
foi feito no sentido de auxiliar o manifestante. Ter a certeza de que tudo que podia ser feito foi
tentado, é o conforto de todos os profissionais que tem em seu campo de trabalho limites
estreitos.
▪ Nunca poderemos deixar de nos contagiar com a dor do outro, mas devemos ter a serenidade
de lidar com a angústia do limite que nos é imposto.
“Você está querendo dizer que estou louco? “ é a pergunta que sempre aparecerá diante da
sugestão para tratamento em equipamento e/ou profissional especializado em saúde mental. ▪ No
nosso caso, um exemplo é explicar que nem tudo que requer ajuda é doença. Entender que o
sofrimento pode ser aliviado com ajuda de um profissional.
▪ Esclarecer que nem os profissionais nem os remédios têm a capacidade de alterar a forma do
pensamento, o temperamento.
▪ Reafirmar que profissionais de saúde têm por vocação a iniciativa para cuidar, muito mais que
colocar em risco a dignidade ou a saúde da pessoa humana, é algo aparentemente
automático, mas que na fantasia de muitas pessoas pode estar presente de forma
equivocada.
▪ Para pessoas com sintomas psicóticos ou com manifestação suicida, recomenda-se fortemente
fazer busca ativa por um familiar do manifestante de forma a notificar a situação observada e
prover suporte, proteção e assegurar os encaminhamentos.
▪ Profissionais que atuam com atendimento entram diariamente em contato com diversas
pessoas, com os mais variados perfis. Precisam interagir com as angústias e apreensões de
quem os procura, bem como com vários casos que requerem acolhimento diferenciado e
soluções específicas – além de muita inteligência emocional para lidar com tudo isso.
▪ Problemas complexos exigem soluções simples. Assim como é possível aprender técnicas
eficientes nos livros e nos artigos, também é oportuno aprender soluções objetivas para o
trabalho no diálogo com colegas e outros profissionais mais experientes. A vida profissional é a
maior escola que uma pessoa pode ter.

ATITUDES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM – CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA

Você é um profissional da área da saúde e, portanto, lidará com pessoas e irá se interagir com o
ser humano. O profissional de saúde deve sentir-se bem consigo mesmo se pretende fazer
alguém sentir-se bem. Ele não é um robô, nem tampouco o são as pessoas com quem trabalham:
pacientes, médicos, supervisores, enfermeiras, auxiliares de enfermagem e familiares dos
pacientes, cada um é um ser humano, semelhante e ao mesmo tempo diferente dos demais seres
humanos. Qualquer pessoa que queira ingressar na área da saúde precisa conhecer as pessoas e
antes de tudo, a si próprio. Não está você ingressando nesta carreira porque se interessa pelas
pessoas e deseja auxiliá-las quando estão doentes?

Qual a importância da psicologia para as profissões?


a. Procurar entender as necessidades do indivíduo e sociedade e estratégias para supri-las e
preveni-las,
b. Estudar o papel da inteligência emocional; Orientar, selecionar e identificar métodos e técnicas
para uma vida melhor,
c. Identificar distúrbios, falhas e procurar meios de saná-los ou
amenizá-los. d. Trabalhar relacionamento intrapessoal e interpessoal,
e. Identificar perfil, potencial, treiná-los e acompanhá-los.
Relação da Psicologia com a Enfermagem
Há duas correntes na área da saúde que se deve conhecer para responder esta questão: a
primeira que trata o doente como um paciente passivo e vê a doença como um fator único que
pode ser retirada com medicamentos e procedimentos e a segunda corrente que percebe que
além de apresentar sintomas da doença, o paciente possui problemas sociais, econômicos,
pessoais, psicológicos que se influenciam e que contribui para o surgimento de novas doenças.
Para melhor compreender a forma de agir, pensar e sentir humano o aparelho psíquico foi
dividido por Freud em sistemas e o conteúdo mental em níveis de consciência, assim como
procurou entender o papel dos sonhos em nossas vidas.
Quando a pessoa está doente há elementos tanto de angústia como de medo, que se
manifestam das mais variadas formas e geralmente iguais àqueles que aprenderam a enfrentar
durante os perigos da vida. Há pacientes que expressam verbalmente seus temores, outros
negam sua existência; alguns reagem com hostilidade, outros choram, e assim por diante.
O profissional de saúde tendo conhecimento de que a reação de uma pessoa é geralmente
resultado de experiências anteriores, deverá identificar suas necessidades, respostas à doença e
tratamento e conservar a identidade pessoal do paciente chamando-o pelo nome. A identificação e
aceitação de seus hábitos e atitudes e esforço para ajudá-lo a adaptar-se a situações que colocam
em perigo sua saúde contribuirão para que conserve sua identidade e mostrando-lhe, dessa
forma, que o respeita como pessoa, fator essencial para que a segurança e a confiança dele
sejam reforçadas.
Possuindo amplos conhecimentos fisiopatológicos e psicossociais, o técnico juntamente
com os outros profissionais de saúde que também cuidam desse paciente num perfeito
entrosamento, será capaz de identificar ideias suicidas dos pacientes sob seus cuidados e tomar
as medidas necessárias.

HABILIDADE PESSOAL
• É a habilidade de se relacionar consigo mesmo. Reconhecer um sentimento enquanto ele
ocorre é a chave da inteligência emocional. A falta de habilidade de reconhecer nossos
verdadeiros sentimentos deixa-nos a mercê de nossas próprias emoções (resultado de como
vemos e julgamos determinados fatos). Cada emoção prepara o corpo para um determinado
tipo de resposta.
• O autoconhecimento emocional é saber reconhecer um sentimento enquanto ele ocorre,
conseguindo assim maior controle de nossas emoções (seremos melhores pilotos de nossas
vidas).
• Dirigir emoções a serviço de um objetivo é essencial para manter-se caminhando sempre
em busca, para manter-se sempre no controle e para manter a mente criativa na busca de
soluções. As pessoas bem sucedidas, pessoal e profissionalmente agem usando as emoções
de forma inteligente, elas conseguem aliar inteligência emocional a inteligência racional.
Sabem colocar em pratica os conhecimentos que adquirem e se relacionam bem com todos.

HABILIDADE INTERPESSOAL
•Reconhecimento de emoções em outras pessoas. A empatia permite que reconheçamos as
necessidades e desejos dos outros, permitindo-lhe relacionamentos mais eficazes. o A arte de
relacionamento é a arte de gerenciar sentimentos em outros. Esta habilidade é base de
sustentação de popularidade, liderança e eficiência pessoal.
o “O homem vale-se de comunicação em todas as experiências de vida, de modo
interpessoal ou dual, em pequenos ou grandes grupos, até quando não está em uma
dessas situações, se refletir um pouco percebera que se encontra sob o impacto ou
influência da comunicação”;
o Assim, acreditamos que em todos os momentos de encontro entre dois ou mais seres
há um momento de interação e percepção. Nesse aspecto, o enfermeiro não pode
fugir da comunicação, pois ele já comunica algo com sua presença.
o O enfermeiro precisa saber que é um elemento nuclear da equipe de saúde, na qual
o paciente se apoia na busca de informação, suporte emocional, satisfação de suas
necessidades básicas, tais como: segurança, higiene, conforto, etc.
o Diante disso, o profissional auxiliar técnico de enfermagem deve trabalhar melhor as
questões do conhecimento interpessoal e intrapessoal a fim de desenvolver
habilidades de comunicação que possa contribuir para o bem estar dele e do
paciente.
o “A imagem é o sinal característico de nossa individualidade, e a impressão extrema
do nosso eu. É através dela que provocamos sentimentos diversos nas pessoas, é
ela que determina a causa principal de nosso sucesso ou é nosso insucesso”.

EMPATIA – COMPREENDENDO A SI PRÓPRIO E AOS OUTROS

Cultivar a habilidade de compreender as pessoas é uma das tarefas mais difíceis que um
homem jamais poderia se propor. Mesmo fazendo o maior esforço, somente é possível
compreender em parte as necessidades sentidas pelo homem; e, menos ainda, os sentimentos da
vida interior. Isto porque a habilidade de compreender abrange mais do que ser capaz de
perceber, entender, identificar e interpretar as comunicações ou expressões captadas pelos
sentidos.
Especificamente no contexto de relacionamento interpessoal, "compreender" é análogo a
"empatizar", termo este que significa:
• A capacidade de identificação com a disposição ou estrutura psicológica de outra
pessoa; • Procurar sentir como se estivesse na situação da outra pessoa;
• Tentar entender as razões e o significado da comunicação verbal e não verbal mais do que a
maneira como esta transparece;
• Compartilhar mutuamente desejos e ideias, mesmo que não se concorde com o comportamento
exibido;
• Ter a habilidade de perceber e acompanhar os sentimentos de outra pessoa, mesmo que sejam
intensos, profundos, destrutivos ou anormais.
• O real significado de empatia está em compreender os outros, apesar de não se concordar,
muitas vezes, com o comportamento destes.
• Procurar ser compreensivo e sentir como a outra pessoa estaria sentindo não significa que se
deva ser sempre permissivo e tolerante frente a certos comportamentos agressivos e destrutivos.
Após analisar tais situações, o técnico deve julgar, muitas vezes, ser preciso estabelecer limites
ou restrições para garantir a segurança do paciente ou das pessoas adjacentes.
• Compreender implica simultaneamente ser capaz de estabelecer limites, quando necessário. O
ato de impor limites poderá gerar ira momentânea no paciente, mas com o tempo o fato será
percebido como uma atitude de ajuda.
Neste pensamento está intrínseco que o cultivo da habilidade de compreender não é obra do
acaso. É a combinação ativa de qualidades e habilidades pessoais de ajustamento emocional,
de amor ao próximo, de possuir senso equilibrado de autoestima e autocrítica, e de avaliar
inteligentemente as necessidades das outras pessoas.
Entretanto, assim como há fatores que influenciam a disposição para ser mais compreensivo, por
outro lado há outros que dificultam igualmente. Um destes é o egocentrismo ou egoísmo pessoal
do profissional, o excesso de preocupação consigo próprio, ou a dificuldade de discernimento do
conceito de que é "certo " ou "errado" que pode bloquear as tentativas de empatizar-se com os
outros.

A COMUNICABILIDADE

A comunicação é o instrumento de expressão de nosso interior; do que pensamos, do que


queremos, do que acreditamos.
• Comunicar é colocar algo em comum, é tornar-se comum com alguém.
• Comunicação são maneiras de receber e transmitir informações.
Para que a comunicação ocorra, é preciso que haja:
A boa comunicação depende da harmonia destes elementos.
POR QUE FALHAM AS COMUNICAÇÕES?
REGRAS PARA FACILITAR A COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL
1. O tom de voz deve ser moderado, nem muito alto, nem muito baixo.
2. A velocidade da fala deve também ter um bom tempo, ritmo e fluência.
3. Evitar erros de sintaxe, linguagem imprópria, palavras ambíguas, inadequadas ou
incorretas. 4. Falar com clareza.
5. Tentar despertar o interesse do paciente.

Escutar atenta e ativamente o paciente, lembrando-se que escutar é mais que


ouvir. • Manter o olhar atento enquanto o paciente fala,
• Não ficar o tempo todo pensando só no que vai ser respondido,
• Mostrar atitude calma e receptiva,
• Fazer com que a comunicação (tanto verbal como não verbal) assegure ao outro que se está
acompanhando o que ele diz,
• Tolerar sem ansiedade os silêncios do paciente,
• Se o silêncio tornar-se embaraçoso para o paciente, procurar reformular a última frase dita,
para que ele possa retomar a conversa,
• Depois de fazer uma pergunta é importante silenciar. Se o paciente não responder de imediato,
é melhor evitar o impulso de preencher o silêncio com comentários. Ele deve ter a oportunidade
de pensar na questão,
• Não interromper para retificar o que o outro está dizendo, mesmo que se discorde do que ele
diz. É melhor esperar que termine o enunciado,
• Não contradizer o que o outro está dizendo por considerar conhecido, desconhecido ou trivial.
Demonstrar respeito e aceitação mesmo que haja grandes diferenças entre você e o seu
paciente.
• Abster-se de fazer julgamentos numa comunicação,
• Admitir que o paciente tenha crenças, ideias e valores diferentes dos seus, • Criar condições
para que o paciente possa expressar suas ideias, seus sentimentos e seus valores. Isso não
significa que se deve concordar com tudo nem impede de dizer que não se compartilha dessas
posturas.
TÉCNICAS BÁSICAS PARA UM BOM ATENDIMENTO AO PACIENTE:
1. Escolha de vocabulário: escolher palavras condizentes com o momento, evitar gírias ou
palavras evasivas.
2. Facilidade de expressão: emitir as palavras de uma forma correta, demonstrando segurança
naquilo que fala.
3. Compreensão: empatia, saber entender o que muitas vezes não é dito de forma explícita. 4.
Cortesia: tato nas relações humanas, ou seja, não ser ofensivo, descortês. Há um ditado popular
que afirma: "A primeira imagem é a que conta" e há grande verdade nisso. Se o primeiro contato
for cordial, alegre, expansivo, este será a imagem que cada um fará do outro. Mas, mesmo isso
sucedendo, se, no futuro, passarmos a adotar um comportamento hostil, grosseiro, mal educado,
com certeza aquela imagem que havíamos construído será destruída.
5. Entusiasmo: irradiar entusiasmo natural, estimulante e contagiante.
6. Imparcialidade: evitar tomar partido, não debater com o paciente, mesmo que certos
comentários não sejam simpáticos a quem quer que seja. Não discutir sexo, política, religião. 7.
Paciência: jamais apressar o paciente ou cortá-lo no meio de um desabafo. 8. Humildade: não ser
o "dono da verdade". Por mais que soubermos e estudarmos sobre um dado assunto, qualquer
que seja, se vivermos 100 anos, ainda haverá uma enormidade de aspectos que
desconhecemos. Ora, como pode o técnico pensar que ele é o mais competente, capaz e dono
da verdade, sem reconhecer os outros colegas de trabalho ou mesmo as informações dos
pacientes. Cada dia pode-se aprender com os diferentes pacientes que passarão pelas mãos de
vocês.
9. Atualização e Desenvolvimento: buscar sempre se manter com um bom nível de conhecimentos
técnicos em raios-X e outros ramos que você possa aprender. Se valorize enquanto técnico. Se
aprimore também a cada dia mais no relacionamento com os seus pacientes, os familiares dos
seus pacientes e com a equipe multiprofissional a qual irá lidar.

O TRABALHO DE EQUIPE

• Uma equipe de trabalho constitui-se de vários profissionais, cada um com o seu saber
especifico, que muitas vezes atendem individualmente sem a necessidade de obter
informações de outros profissionais e em outras situações há profissionais que trabalham
em conjunto para a melhor solução de um problema.
• Na área da saúde é de comprovada importância a utilização dessa segunda equipe para
melhor entender o paciente, sua doença e a forma mais eficientes de tratamento. Equipes
Pluridisciplinares: estudo do mesmo objeto por diferentes disciplinas sem que haja
convergência de conceitos e métodos. Na área da saúde, o paciente é atendido por
deferentes especialistas havendo pouco ou nenhuma troca de informação. Equipes
Transdisciplinares: trabalho coletivo que compartilha conceitos, teorias e abordagens
para tratar problemas em comum. A disciplina em si perde seu sentido e não há limites
precisos na identidade disciplinar. Esta equipe segundo os especialistas deverá ser a
disciplina do futuro.
Equipes Interdisciplinares: há um nível de associação entre as disciplinas onde a
cooperação entre elas provoca intercâmbios reais, trazendo enriquecimentos mútuos.
Ocorre um aprofundamento entre as disciplinas que acaba ou criando uma outra disciplina
ou transferindo o método de uma disciplina para outra.
Equipes Multidisciplinares: nesse caso as várias disciplinas, os diversos profissionais
trocam ideias e informações sobre sua pratica. Debatem pontos de vista e complementam
os entendimentos sobre o problema em questão. É extremamente difícil o trabalho em
equipe. Trabalhar em harmonia e de forma integrada com profissionais de formações
diferentes, mesmo quando exige um objetivo em comum, é muito complicado. Nem sempre
conseguimos abrir mão de nossas vaidades profissionais ou encarar as inseguranças que
temos ao compartilhar com o grupo a nossa forma de atuar. É preciso ter habilidade inter e
intrapessoal para que o trabalho tenha bons resultados.
O PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM NA SOCIEDADE

• O que se observa hoje é um reflexo da forma como foi construindo-se a profissão de


enfermagem. Não é de se estranhar que o contingente de trabalhadores na área de
enfermagem seja ainda feminino.
• Outro fato observável é o grande número de auxiliares em relação a técnicos, já que se levando
em conta o valor diferenciado de salários, é possível a contratação de um maior número de
auxiliares, pois são os que recebem os menores salários. Além disso, são se pode negar o fato de
que em diversos serviços não há uma clara diferenciação entre as atribuições do auxiliar e do
técnico em enfermagem.
• O auxiliar de enfermagem de hoje, não pode ser imaginado como uma pessoa submissa,
cumpridora de escalas, alheio a todo o processo que envolve a doença, o paciente, o hospital, etc.
• Mudou-se o olhar sobre a doença. Hoje se busca a saúde. Assim, o auxiliar de enfermagem
também se desloca de seu local tradicional, o hospital e se faz presente nas escolas, clubes,
empresas, comunidades, etc.
• Dessa forma, pode-se dizer que houve uma flexibilização do papel do auxiliar de enfermagem,
passando a ser um ser crítico, consciente, capaz de refletir sobre os limites de sua ação e de
intervir em prol do cliente de acordo com os recursos existentes. Para isso, espera-se que ele
seja uma pessoa crítica, atenta as transformações do mundo moderno, já que conhecer a
realidade em que está inserido é quesito fundamental para que sua intervenção possa ser
realmente eficaz.
• Deve ainda perceber sua corresponsabilidade social a partir do papel que desempenha papel
esse que não se resume ao de um simples cuidador, mas de alguém que interage e modifica a
realidade através de ações de saúde.

O AUXILIAR DE ENFERMAGEM E A PACIENTE

• De toda a equipe de saúde envolvida, é o auxiliar de enfermagem quem executa a maior parte
das tarefas com o paciente. O corpo do paciente é o objeto de atenção, a quem cabe a tarefa de
cuidado diária.
• A enfermagem detém a permissão social e cultural para tocar o corpo do outro, podendo
desnudar, limpar, amarrar, banhar, secar, alimentar, injetar, raspar, vestir e nesse momento,
mesmo que não se aperceba disso, expressa seu sistema de valores, consequência de sua
cultura, da realidade do mundo ao qual faz parte.
• Assim, também é o corpo. A ideia que temos de corpo também foi sendo construída a partir dos
valores a ele atribuídos. Ele não é experimentado, entendido de modo igual para todos os
indivíduos. A percepção que temos do corpo é resultado da nossa cultura especifica. Ele é na
verdade uma simbolização, ou seja, o corpo é uma representação dos nossos conceitos de
pessoa, sexualidade, dentre outros. A experiência corporal não é universal. O corpo não fala por
si próprio, a cultura vai deixando marcas e atribuindo significados que não são eternos.
• O cuidado do corpo por parte do pessoal de enfermagem inclui uma manipulação do outro
mediante procedimentos e técnicas do ato de cuidar. Além dos sentidos usa-se também a
intuição, a percepção, a sensibilidade criando uma linguagem corporal própria, na qual pela
forma de tocar, olhar, cuidar, são expressos valores, conceitos, receios, preconceitos, temores,
etc.
• Tomar consciência dos próprios temores, preconceitos, duvidas e limites em relação ao seu
próprio corpo e ao do paciente e fundamental para que se estabeleça uma relação na qual esse
corpo se personifique, ganhe uma identidade, deixe de ser apenas um objeto que precisa de
cuidados para pertencer a uma pessoa que tem também seus próprios preconceitos, duvidas,
timidez e vergonha, principalmente no momento de um contato mais íntimo. Devemos tentar
naturalizar a situação hospitalar.
• Do mesmo modo que um bebe é amamentado, a alimentação não é a única necessidade que se
está sendo atendida, mas também através desse contato, o bebe sente-se acariciado, protegido,
desenvolvendo, a partir daí, um sentimento de confiança, etc.
• Desse modo, no ato de prover as necessidades físicas do indivíduo, promovendo o cuidado com
o corpo, algo além do próprio cuidado está em jogo. É possível estabelecer uma relação de
solidariedade, percebendo as dificuldades, duvidas e temores do paciente.
• Há muita insegurança por parte do paciente, no mento da hospitalização e na própria experiência
da doença. Muitas vezes a pessoa não sabe ao certo o que vai lhe acontecer. A ansiedade faz
se presente, principalmente em procedimentos cirúrgicos que representam ameaça à integridade
corporal ou que comprometam a autonomia da pessoa, como nos casos de colostomia,
mastectomia e amputações. É importante compreender que não e simplesmente um simples
membro que vai ser extirpado em troca de melhor prognostico, mas sim uma parte da pessoa
que tem uma função e significados específicos.
• Tal medida requeira um aprendizado para se conviver com a nova situação. Assim, é mais
aconselhável tentar entender a sua tristeza e estar disposto a escutá-lo, ao invés de tentar
reanimá-lo. É compreensível um certo desconforto, uma certa estranheza e, muitas vezes, para
negar essas sensações, se mantem uma distância emocional em relação aos pacientes, por
meio de uma padronização dos mesmos, que são vistos como iguais, no pior sentido que isso
possa ter, no que se refere a perda da identidade.
• Todos nos sentimos medo, vergonha, culpa, tristeza, alegria, amor, etc. Nem tudo pode ser
explicado pela razão. Sentimentos são para ser sentidos, experimentados, respeitados, para
aprendermos a lidar com eles e deforma que possamos nos conhecer e viver melhor.
• Um auxiliar de enfermagem sensível, bom observador, conhecedor de suas próprias emoções,
limites e possibilidades tem maior chance de maior atuação junto aos clientes. • É importante
perceber que cada paciente é único, apesar das tarefas executas serem as mesmas. Isso
entendido pode ser um facilitador para ambas as partes, propiciando ao paciente um tratamento
mais humanizado e ao profissional um melhor desempenho.

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