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Brazilian Journal of Development 19005

ISSN: 2525-8761

Memes e ciência: uma investigação hodierna

Memes and science: a current investigation


DOI:10.34117/bjdv7n2-512

Recebimento dos originais: 20/12/2020


Aceitação para publicação: 29/01/2021

Isabella Tavares Sozza Moraes


Graduanda em Letras - UNISA
Universidade de Santo Amaro
Endereço: Rua Isabel Schmidt, 349 - Santo Amaro, São Paulo - SP. CEP: 04743-030
E-mail: isabellasozza@gmail.com

RESUMO
Este artigo objetiva analisar e estudar os memes sob suas perspectivas multimodais,
utilizando conceitos das concepções biológicas; linguísticas; tecnológicas e gerais do
tema. Há a pretensão de analisar os memes sob estas perspectivas, pautando-se
principalmente sob a ótica de Charles Sanders Peirce e Richard Dawkins. Busca-se
investigar e compreender os fenômenos provenientes da Internet e observar, pois, usos
dos memes para auxílio em outras áreas, resultante das perspectivas mencionadas. O
artigo demonstra questões pertinentes sobre os memes e a memética que é a ciência que
compreende os memes com a visão científica, porém, hodiernamente pautando-se nos
meios multissemióticos e virtuais.

Palavras-chave: Dawkins, Internet, memes, memética, Peirce.

ABSTRACT
This article aims to analyze and study memes from their multimodal perspectives, using
concepts from biological conceptions; linguistic; technological and general themes. There
is the intention to analyze memes from these perspectives, based mainly on the
perspective of Charles Sanders Peirce and Richard Dawkins. It seeks to investigate and
understand the phenomena originating from the internet and to observe, therefore, the
uses of memes to help in other areas, resulting from the mentioned perspectives. The
article demonstrates pertinent questions about memes and memetics, which is the science
that understands memes with a scientific view, however, today based on multisemiotic
and virtual media.

Keywords: Dawkins, internet, memes, memetics, Peirce.

1 INTRODUÇÃO
Os memes - do grego - mímese, são fenômenos presentes na Internet podem ser
textos, imagens, vídeos, slogans; e têm a intenção - na Internet - de satirizar ou representar
o cotidiano de maneira humorística. Por essa razão, objetiva-se estudar e compreender os

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memes como importante forma de propagação; analisá-los sobre a ótica de Richard


Dawkins, Charles Sanders Peirce e Algirdas Julien Greimas, além de compreender os
fenômenos da Internet. Para que fosse possível a realização do artigo, utilizou-se revisão
bibliográfica de livros e artigos sobre o tema, e também de temas correlatos. Destarte,
como primeiro conceito de os memes de maneira generalizada, inicia a princípio, em
1921, com a publicação de uma imagem, representando como objeto uma representação
pictórica de um homem, que havia como princípio a demonstração da realidade e a
intencionalidade, de maneira humorística, da revista Judge Magazine. Essa relação
imagética, se transpôs para os conceitos de os memes na Internet, pois após esta
publicação, os memes da internet seguiram o mesmo layout e tornaram-se patrimônios
virtuais. Sendo assim, estabelecendo uma interpolação de conceitos, Richard Dawkins,
na obra O gene egoísta (1972), utilizou o termo meme, como parte do estudo genético,
memes para Dawkins, são reprodutores, fazem o processo de replicação cultural. Sendo
assim, estabelecendo a relação de os memes atuais, são tidos como reprodutores culturais,
assim como nos estudos genéticos, pois seguem uma estrutura equivalente e têm o mesmo
princípio: se replicar. Nas redes sociais, os memes sofrem alguns processos para que
sejam replicados, um dos fenômenos presentes é o da viralização, pelas quais o objeto é
replicado para grupos seletos por meio de princípios de sua própria origem de postagem.
Os memes, sob essa ótica, podem ser objetos de grande valor para a replicação de
conteúdos e informações de grande relevância, isso para usos convencionais ou
jornalísticos. Por este conceito, os memes sob as duas óticas têm singularidade quando
se trata de análises e sínteses de suas estruturas e relações culturais. Para que haja essa
análise, é preciso ter o conhecimento do contexto, relações essenciais que compõe,
legendas, cores e formas e também sua influência mediante a sociedade. Seguindo este
princípio, o uso neste artigo de a semiótica de Charles Sanders Peirce, é essencial para
que haja a análise estrutural e cromática, por essa razão, conceitua-se por tríades, e
concerne o signo sob todos os seus aspectos. Como leitura complementar do artigo,
Algirdas Julius Greimas, realiza análises do signo sobre quadrados semióticos, o autor
utiliza de dualidades para obter a significação do signo, além de seu contexto e corpus.
Os memes sob essa ótica, levarão como princípio relevante: o contexto e as antíteses, por
conta do labor teórico do autor. Os memes são transmissores e elementos que fazem
transmissões externas, DAWKINS (1972, p. 114) diz que, “[...]Cada vez que um cientista
ouve uma ideia e transmite-a a outra pessoa ele provavelmente muda-a bastante.”, neste
contexto, os memes são transmitidos também de acordo com o enunciador para o

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enunciatário, por conta disso, observa-se que os memes, tanto da genética, quanto da
Internet, estabelecem mudanças através de transmissões, por isso há a falta de
originalidade. Memes originais, são replicados e as replicações se replicam e o processo
não termina, em todas as replicações, há alguma alteração, sendo da estrutura, do texto,
da imagem, mas a estilística de os memes prossegue, apesar de não haver originalidade.
O autor conceitua, que: “Os memes estão sendo transmitidos a você sob forma alterada.”
(DAWKINS, 1972, p. 114), referindo-se a transmissão dos genes.

2 REPLICAÇÃO E O REPLICADOR
A replicação para Richard Dawkins é um processo que envolve os genes e sua
transmissão cultural, dada essa perspectiva o autor diz que,

O replicador, então, agiria como um modelo não para uma cópia idêntica, mas
para um tipo de "negativo", o qual, por sua vez, refaria uma cópia exata do
positivo original. Para nossos propósitos não importa se o processo de
replicação original era positivo-negativo ou positivo-positivo, embora valha à
pena notar que os equivalentes modernos do primeiro replicador, as moléculas
de DNA.
(DAWKINS, 1972, p. 14)

Sob esse viés, o autor conceitua o termo replicação como parte do estudo do DNA
e conceitos biológicos, sendo assim, o termo meme sob a ótica do autor, iniciou-se por
mímese, foi transformado em mimeme e, por razões de expressividade do autor, ocorreu
o fenômeno da aférese para que se tornasse meme, e estas transformações deram início
aos estudos da replicação do DNA pelo autor, por razões de os genes transmissores,
porém, o termo transformou-se conceptualmente, apesar de ainda ter sob sua estrutura as
questões biológicas. Por conta da questão biológica, o DNA e os estudos que envolvem
essa questão da replicação genética, é um conceito importante para se compreender como
envolve-se a replicação dos memes na Internet, por essa razão, o autor conceitua que:

Uma molécula de DNA é uma longa cadeia de blocos de construção, moléculas


pequenas chamadas nucleotídeos. Da mesma maneira como as moléculas de
proteína são cadeias de aminoácidos, também as moléculas de DNA são
cadeias de nucleotídeos. A molécula de DNA é pequena demais para ser vista,
mas sua forma exata foi engenhosamente decifrada por meios indiretos. Ela
consiste em um par de cadeias de nucleotídeos torcidas juntas, formando uma
espiral elegante, a “dupla hélice”, a “espiral imortal”.
(DAWKINS, 1972, p. 17)

Destarte, Dawkins (1972, p. 23) faz alusão da memética, mediante fenômenos e


ações que envolvem a natureza, para envolver a mimetização, por isso, conceitua que,

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“[...]Outras espécies de borboletas que não têm gosto desagradável, então, se aproveitam.
Mimetizam aquelas de gosto ruim.” Sob essa ótica, Dawkins (1972, p. 23) conceitua o
mimetismo como algo de valor biológico, podendo-se estabelecer por meio deste conceito
a relação com os memes da Internet. Dawkins (1972, p. 55) diz que um gene egoísta não
é apenas um fragmento físico do DNA, mas a representação concreta do meio replicador.
Meme, para Dawkins (1972, p. 112) é: “substantivo que transmita a idéia de uma unidade
de transmissão cultural, ou uma unidade de imitação.” o autor conceitua a palavra meme
como algo análogo à biologia, mas como meio de transmissor cultural, para que tenha-se
o conhecimento do que são os memes de maneira original, prossegue conceituando que:
"Exemplos de memes são melodias, idéias, "slogans", modas do vestuário, maneiras de
fazer potes ou de construir arcos. [...]Se um cientista ouve ou lê uma idéia boa ele a
transmite a seus colegas e alunos.” (DAWKINS, 1972, p. 112). Exemplos cotidianos de
memes dawkinianos, podem ser vistos principalmente por meio do Marketing, faixas e
propagandas são memes, pois transmitem ideias e cultura, é por esta razão que em alguns
momentos as pessoas têm em si uma imagem e se recordam de sua música ou de sua
propaganda, pois os memes se replicaram e tornaram-se imagens acústicas, que são
significantes e significados que compõe o signo e fazem parte da mentalidade do ser
humano e por essa razão, somos capazes de ouvir pensamentos e ver imagens
mentalizadas. Ferdinand de Sausurre(1857-1913), autor que compõe em sua obra essa
relação de imagens acústicas e o signo linguístico, define o signo linguístico como uma
questão de formação que relaciona o conceito e a imagem acústica ou sonora. Para
Sausurre(2006), a audição e a fonação fazem um quadrado representativo em pares, e
dentro deste quadrado há o conceito e a imagem acústica. Sendo assim, o autor conceitua
que:

Esta análise não pretende ser completa; poder-se-iam distinguir ainda: a


sensação acústica pura, a identificação desta sensação com a imagem acústica
latente, a imagem muscular da fonação etc. Não levamos em conta senão os
elementos julgados essenciais; mas nossa figura permite distinguir sem
dificuldades as partes físicas (ondas sonoras) das fisiológicas (fonação e
audição) e psíquicas (imagens verbais e conceitos).
(SAUSURRE, p. 20, 2006)

Por isso, essa relação da memética, imagens acústicas, signo linguísticos, são
essenciais para a compreensão dos memes que posteriormente, tornam-se replicadores
não apenas biológicos, mas virtuais, pois seguem a mesma dinâmica que Dawkins
explicita em sua obra. O sentido da replicação, sendo da concepção biológica ou virtual,

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segue a mesma estrutura, mas se replica por meios diferentes: um por meio do DNA,
outro por meio das redes sociais.

3 O PRIMEIRO MEME PUBLICADO


Como mencionado nas seções anteriores, os memes surgem numa perspectiva
diferenciada do que se tem o conhecimento atualmente, pois era parte do estudo genético
e, destarte, principalmente do DNA. O primeiro meme, na perspectiva tecnológica e das
redes sociais, surge numa revista e transforma-se tempos após à publicação, referência
para a criação dos memes da Internet.

Imagem 1: considerado o primeiro meme publicado

Disponível em: <https://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,tirinha-de-1921-pode-ter-sido-o-


primeiro-meme-na-historia,70002271723>, acesso em 22 dez. 2020

Fazendo uma relação com os memes atuais, postados na Internet, há a mesma


estrutura, porém não em forma de ilustração, mas de imagem. Os memes, após essa
publicação, foram publicados em massa na Internet, toda e qualquer forma de imagem
pragmática, com o uso de legendas era publicado, a partir de 2000. Seguindo a mesma
estrutura da imagem acima, os memes da Internet, denominados como TrollFace’s, foram
os primeiros a viralizarem na Internet, pois além de novidade para os usuários da Internet,
foi uma questão que demonstrou relevância para as redes sociais. Em 2011, por este
motivo, foi criado o MemeDay, um dia para celebrar os memes e comemorar, infelizmente
com o passar dos tempos o dia foi esquecido, mas mesmo assim, ainda alguns grupos de
pessoas dessa geração, recordam e postam imagens a respeito, em suas redes sociais.
Atualmente, toda e qualquer imagem e situação pode ser transformada em meme, porém,

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por conta das teorias de Dawkins, não há como existir memes originais, pois estes sempre
serão replicados e publicados com o mesmo conteúdo, mas com mínimas ou estrondosas
mudanças. Por essa razão, os memes tornam-se veículos culturais e de informação, o que
pode ser útil para a propagação de informações e conteúdos educacionais e de divulgação
científica, como já há em alguns grupos nas redes sociais e também meios educacionais.

3.1 FENÔMENOS DA INTERNET


O meme, sendo pela perspectiva genética ou midiática, sofre mutações. Para que
um meme, na Internet, seja postado, ele deve ser analisado à princípio, por algoritmos
das redes sociais. Estes algoritmos são distintos e seguem os princípios da rede social que
estão incluídos, por exemplo: se numa rede social, um objeto for publicado com a
temática educacional e a rede social apenas permite temáticas humorísticas, com certeza
o objeto não será replicado e talvez até excluído da plataforma por conta de seu conteúdo.
Assim acontecem as replicações dos memes, de maneira parcial, pois quando um meme
é postado numa rede social, de forma generalista, os algoritmos fazem algumas análises
e leva-se em conta a originalidade da postagem, a frequência de postagem do enunciador
do conteúdo, a frequência de reações das pessoas presentes na rede social do enunciador,
a frequência de reações e comentários dos enunciatários tendo ligação ou não com o
enunciador, o horário da postagem, e o tipo de post. Tendo esses aspectos respondidos,
os algoritmos viralizam o objeto, ou seja, replicam para certos grupos, tendo em vista a
rede social, a faixa-etária, as reações e postagens congêneres dos usuários. Os usuários
ao receberem o conteúdo, podem continuar com o processo de viralização, escrevendo
palavras-chave como: UP e AC.
Estes termos são encontrados geralmente em grupos de redes sociais, pelas quais
os usuários comentam repetidas vezes estes termos para haver maior visualização dos
conteúdos para mais usuários. Além disso, quando usuários das redes sociais fazem
comentários repetidas vezes, ou postagens repetidas vezes, os algoritmos das redes sociais
analisam tais atos como spams, o que pode resultar na exclusão da conta do enunciador e
até no banimento do sistema. O mesmo ato acontece quando nos princípios daquela rede
social, não são permitidas certas palavras, os algoritmos analisam e excluem ou banem o
usuário a fim de manter os códigos de ética principiados na rede. A viralização então é
um princípio que ocorre em todas as redes sociais, umas acontecem de maneira explícita,
outras de maneira implícita. Algumas vezes, por erro do sistema ou má programação, os
algoritmos podem agir para que ocorra essa viralização para objetos que agem contra a

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ética e aos direitos humanos, fazendo, por exemplo, que jovens tenham acesso a estes
conteúdos explícitos, prejudicando-os. Ocorre conjuntamente de objetos que envolvem a
criminalidade, a morte explícita de pessoas e animais, também sejam viralizados, porém,
os usuários também participam ativamente desse processo, ao fazerem reações e
comentários. Algoritmo, termo e conceito criado por Ada Lovelace em sua obra
analytical engine (1843), é predominantemente relevante para a compreensão do
funcionamento dos memes nas redes sociais. Por uma questão de retornos biológicos, os
memes seguem certas estruturas e com elas criam-se novos memes, o termo viral que se
tornou de utilidade pública para o ato de replicar-se, torna realidade os retornos aos
conceitos de Richard Dawkins, porém pelo meio computacional. Dawkins, por essa
relação entre o biológico e o computacional, conceitua a respeito do tempo e da memória,
por meio do computador, pois mede-se o tempo por meios controláveis e mutáveis, e a
memória, é escassa podendo haver mudanças, ambos ao programar o computador ou
trocar suas peças. Algo que não ocorre com os genes, pois estes estão constantemente se
replicando, independente da relação do tempo e espaço. Sendo assim, o autor conceitua
que,

Qualquer usuário de um computador digital sabe como são preciosos o tempo


e o espaço de armazenamento de memória de um computador. Em muitos
centros de computação grandes eles são literalmente avaliados em dinheiro; ou
cada usuário poderá receber uma ração de tempo, medida em segundos, e uma
ração de espaço, medida em "palavras". Os computadores nos quais os memes
vivem são os cérebros humanos.
(DAWKINS, 1972, p. 115)

A relação entre o computacional e o biológico, são totalmente agregáveis entre si,


pois um contribui com o outro de maneira estratégica: um possui suas relações lógicas,
algoritmos, hardware e software que trabalham concomitantemente para o
desenvolvimento e funcionamento midiático, tendo em vista os mais variáveis conteúdos
sendo replicados a cada segundo; o outro trabalha exclusivamente na relação de matéria,
fitas presentes no DNA, conteúdos do DNA e, sendo assim, sua função é se replicar,
independente do fenótipo ou genótipo agregado, independente das informações, porém
assim como no computador há falhas, no DNA, ao se replicar, pode desencadear,
igualmente, falhas genéticas, por isso ambos os envolvimentos são tidos como
desencadeadores da replicação, de maneiras diferentes e com propósitos diferentes
relacionados aos conteúdos lançados, mas com a mesma maneira de conceituar-se.

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4 SEMIÓTICA
A semiótica Peirceana, inicia com o raciocínio pautado na tríade de Immanuel
Kant, que tinha como princípio o silogismo e sua lógica de busca pela verdade sob três
variáveis. O autor explica que, “foi Kant quem primeiro observou a existência, na lógica
analítica, das distinções tricotômicas ou tripartidas.” (PEIRCE, 2005, p. 18). Por essa
razão, o autor relaciona as tríades como valores que vão além de uma lógica exata, que é
necessário haver uma análise a partir da terceira proposição em completude com a
segunda e a primeira, podendo, pois, haver mais proposições a partir destes conceitos.
Para haver essa relação triádica na própria teoria de Charles Sanders Peirce, o autor, em
sua obra, inicia com a máxima de que não é possível conceber o objeto analisado como
unidade, mas sim com outros termos: primeiridade, oriência ou originalidade (p. 33),
infere-se que a partir da lógica do autor, não se pode conceber um signo de maneira
exclusa e única, é preciso que haja a relação triádica com seus subtermos, refere-se a estes
termos como categorias ceno-pitagóricas, e prossegue determinando novos termos que
podem ser substituídos para os termos de primeiridade, secundidade e terceiridade.
Refere-se à secundidade como transuasão, pois para o autor, “é a modificação da
primeiridade e da secundidade pela terceiridade” (p. 36). Para haver sentido, é preciso
analisar o objeto, ou seja, os signos de maneira concreta, a partir das categorias que o
autor concerne em sua lógica e obra, por isso para o autor:

[...]um signo é tudo aquilo que está relacionado com uma segunda coisa. Seu
objeto, com respeito a uma qualidade, de modo tal a trazer uma terceira coisa,
seu interpretante, para uma relação com o mesmo objeto e de modo trazer uma
quarta para uma relação com aquele objeto na mesma forma, ad infinitum.
(PEIRCE, 2005, p. 37)

Além da primeiridade, secundidade e terceiridade, o autor nomeia subgrupos


sendo: o índice, o ícone, o objeto, o argumento, o símbolo, e outros. Cada termo possui
sua relevância para estabelecer o signo de com a visão generalista, pois todo o signo tem
uma relação de existência e isso traz o exercício do que são ideias concretas, ou que são
imagens acústicas, essa dualidade esta presente nos signos, pois todo signo tem uma
contextualização, uma relação de existência, uma cor, um princípio, uma relação de
sentido. Signo para o autor, também pode ser representado por representamem, pois
representa-se a partir dele, conceitos, ideias e razões concretas. Conceitua-se também,
que a semiótica Peirceana é denominada de três modos: o fundamento, o objeto e o

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interpretante. Por isso, o autor possui por visão de signo, algo perceptível ou imaginável.
(p. 55). Para o autor, a divisão dos signos se dá a partir de tríades: relações triádicas de
comparação; desempenho e pensamento, pelas quais concebe-se o signo sob todos os seus
aspectos, não se reduzindo a apenas a análise dos grafemas ou fonemas; ou a apenas pela
imagem, objeto; e sim o todo: imagem (acústica e concreta), texto e enunciado, contexto
e existência. O autor então, ao se referir a tais tríades, visa sob o ponto de vista da lógica
a relação triádica entre possibilidade, existência e lei, que mudam conceitos entre si e
demonstram a partir da razão o signo sob seus aspectos próprios mediante a visão
fenomenológica. As leis Peirceanas inferem que ao menos deve haver, no signo, relações
diádicas(leis) existentes e os três grupos principais: primeiridade, secundidade e
terceiridade, representa-se como os subgrupos mencionados e fazem mudanças entre si:
lei, existência e possibilidade, que podem intercalar-se ou apenas existirem de maneira
única e sem misturas.

4.1 RELAÇÃO TRIÁDICA DO SIGNO


Para Charles Sanders Peirce, as tríades podem ser determinadas como grupos
principais, sendo denominadas como: qualissigno, sinsigno e legissigno. O primeiro
como uma qualidade do signo, o segundo como a existência do signo e o terceiro como
uma lei (p. 60). A segunda tricotomia dos signos, são denominadas como ícone, índice e
simbolo. O primeiro é o objeto, o segundo é o fenômeno se referindo ao objeto, e o
terceiro é o sentido e a lei deste objeto (p. 61). A terceira tricotomia dos signos são: rema,
dicente e argumento. O primeiro, refere-se a uma qualidade mediante seu interpretante, o
segundo refere-se ao signo que para seu interpretante é de suma existência, e o terceiro,
é um signo que para seu interpretante é um signo de lei. (p. 62) Sendo assim, o autor tem
em sua obra as dez classes de signos, que são todos os mencionados, porém, que fazem
mudanças entre si e podem agregar mais classes até haver o propósito do interpretante.
São elas: um qualissigno, um sinsigno icônico, um sinsigno indicial remático, um
sinsigno dicente, um legissigno icônico (p. 64), um legissigno indicial remático, um
legissigno indicial dicente, um simbolo remático (p. 65), um simbolo dicente e, por fim,
um argumento. (p. 66). Todos estes aspectos, para Peirce, são segmentados na seguinte
sequência: IV, III, II, I, de maneira horizontal de cima para baixo, por isso, percebe-se
que a partir dessa visão, há uma relação panorâmica de como observar o signo sob seus
aspectos mutáveis. Existem, pois, os signos degenerados que são réplicas dos signos, que
podem ser representados por objetos e seus auxiliares, essa sequência lógica deve ser

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complementado com as dez relações triádicas do signo e observado sob seus aspectos
concretos, outra relação que o autor determina em sua obra, são as tricotomias dos
argumentos, que possuem em suas relações, subdivisões das dez tríades mencionadas,
tem-se por si se há verdade nas deduções ou falsidades, ou se são prováveis ou
improváveis, a partir disso há induções e verificações experimentais do signo, para isso o
signo sofre uma argumentação proveniente de amostras, e por fim, após as questões
determinadas pelo argumento, há uma predição geral, como determina o autor como
abdução. (p. 68). Um ícone, de acordo com o autor, é o “[...]fato de fazer com que se
assemelhem quantidades que mantêm relações análogas com o problema” (p. 75). Infere-
se que para ser um ícone, o signo passa por uma relação triádica e lógica, na seguinte
sequência: ícone + índice = símbolo, ou quaisquer outras relações triádicas, o autor
propõe que essa relação triádica, relacione com relações lógicas e fenomenológicas, para
haver o signo sendo observado sob seus aspectos fundamentais e também constituintes.

4.1.1 Sujeito e predicado


Sujeito e predicado para Charles Sanders Peirce, se relacionam
concomitantemente para poder haver sentido. Para isso, relaciona-se o sujeito como
universal e afirmativo; além de relacionar possibilidades em quartetos, sendo de valor
positivo ou negativo. Destarte, em tríades, há relações para compor e supracitar os
fenômenos e as frases verbais, tendo em vista que o verbo é o princípio das análises
sintáticas, são elas: as relações condicionais: pode ou não, se ou senão; as relações
disjuntivas: pode ou pode; relações excludentes: pode não ou pode não, senão e senão;
relações independenciais: deve ou não pode; relações conjuntivas: deve e deve; relações
terciais: não pode e não pode. Os elementos citados acima, fazem parte dos dois grupos:
hipotéticas particulares negativas; hipotéticas universais afirmativas. (p. 105). Os termos
são repetitivos para os dois próximos grupos, porém, são mais bem elaboradas.
Hipotéticas universais negativas; hipotéticas particulares afirmativas; relações
condicionais: em todo o caso [aconteceria tal fenômeno]; relações disjuntivas: em todo o
caso [ou] [ou]; relações excludentes: em nenhum caso [tanto] [como]; relações
independenciais: pode [ocorrer algo] sem [ocorrer outra coisa]; relações terciais: pode ser
que nem [aconteça algo] nem [outra coisa]. Todas as razões condicionais demonstradas,
são razões que vão além do sintático, é estabelecido a partir de proposições lógicas e ad
argumentum. Para o autor, “os substantivos são originariamente usados para denotar
“perceptos de sentido”, enquanto que orações hipotéticas são comumente usadas para

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denotar situações que às vezes ocorrem” (PEIRCE, 2005, p. 107). Para Peirce, há tipos
de predicado, sendo eles: a predicação analógica, pela qual o sentido empregado é o
sentido da razão; a predicação denominativa: o ser é sujeito e é tomado como sujeito;
predicação dialética: resulta-se num argumento provável, irredutível e nada antecedente.
(p. 113); predicação direta: representa-se a extensão do sujeito pertencente ao predicado.
(p. 114); predicação essencial: o predicado está contido totalmente na essência de sujeito;
predicação exercitada: distinção entre os tipos de predicado, porém exercida de maneira
essencial ou acidental; predicação formal: predicado no conceito de sujeito; predicação
natural - direta, indireta e idêntica - indireta: sujeito relacionado ao predicado. direta:
sujeito e predicado relacionados com um terceiro elemento; idêntica: comparação entre
os sujeitos. Por essa ótica, infere-se que os tipos de sujeito e predicado, na visão de Peirce,
apesar de relacionada com o pensamento lógico da filosofia medieval e moderna,
prossegue de maneiras explícitas na linguagem e nas relações lógicas que existem em
proposições, vinculadas ao discurso, a fala e a escrita. (p. 115). A dedução e indução neste
sentido de sujeito enquanto ser concreto ou não, infere por tais relações lógicas, podendo
variar mediante contextos. O sujeito enquanto ser composto ou simples, pode ser
relacionado pela predicação natural; já o sujeito desinencial, pode ser tido como parte
essencial da predicação formal. As predicações neste sentido mostram variações para que
se possa ter tido o genuíno contexto e uso destes tipos de predicação, embora o fato de
haver diversas predicações não infiram ao sujeito de maneira tendenciosa.

4.2 ANÁLISE DE MEMES COM BASE NAS TRÍADES


Para Charles Sanders Peirce, o signo deve ser analisado a partir de tríades
fundamentais, contendo, pois, seus contextos, suas relações linguísticas e suas
representações por meio do visual e do texto, ou seja, objetos multissemióticos como os
memes são meios facilitadores e com mais elementos para haver essa análise de maneira
totalizada. Para haver a confrontação entre o sistema de Peirce e Greimas, foram
elaboradas análises a partir das tríades de dois memes, de cunho linguístico, para
relacionar ambas as teorias e além de confrontar, observar as diferenças de ambos os
sistemas. Para que haja de maneira concreta essa questão da análise triádica, é preciso
que haja de maneira explícita a primeiridade, secundidade e terceiridade, os três
elementos serão aprofundados com subgrupos triádicos que irão se relacionar entre si para
compor como única análise, além disso, a relação triádica do signo evidencia as questões
de maior importância do objeto analisado.

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Imagem 2: meme sobre a vida acadêmica

Disponível em: <https://br.pinterest.com/pin/537828380476363568/>, acesso em 22 dez. 2020.

Tabela 1: análise do meme com base nas tríades de Peirce


Primeiridade: Secundidade: Terceiridade:
castanho-claro(terciário); castanho- amenidade; efeito de medo; espanto; ironia; falta
escuro(terciário); rosa desespero; espanto e de calma.
amarelado(terciário); amarelo ironia; desconfiança.
manchado(terciário); preto(neutro);
branco(neutro); amarelo-creme(terciário);

quali-signo sin-signo legi-signo


ícone: índice: símbolo:
duas mulheres; cômodas; cama; janela. expressão de desespero da mulheres; cama; expressão
segunda mulher; cores de ambas; cores.
escuras; mulher na cama
com os olhos fechados.
rema: dicente: argumento:
mistura de cores quentes e frias com o falta de paz, desespero, fato ironizado (legenda)
enfoque em cores escuras com poucos ironias, situação mediante a vida
pontos de luz. Cores neutras (branco e desconfortável de morte. acadêmica, pela qual um
preto) representando a antítese de vida e dos requisitos é a
morte. publicação de artigos.

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A partir destes elementos destacados, infere-se que o contexto, apesar de ter sido
mudado para a fundamentação do meme, demonstra questões além do que se observa na
imagem, que podem ser tidas com valor analítico e de conceitos literários, o enfoque tido
no meme é então a relação do mestrando com a publicação de sua tese. Para o ingresso
ao doutorado, muitas vezes é um requisito. Além disso, o desespero mostrado na imagem,
infere que o fato de uma tese ser um elemento-chave e que é dificultoso para fazer,
elaborou o quase óbito da mulher deitada na cama, que como último desejo, pediu que
fosse publicado.

Imagem 3: meme sobre banca de TCC

disponível em: <https://economia.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/reinaldo-polito/2015/08/25/ensaiar-


defesa-de-tese-ajuda-a-vencer-bancas-de-pos-graduacao-veja-dicas.htm>, acesso em 22 dez. 2020.

Tabela 2: análise do meme com base nas tríades de Peirce


Primeiridade: Secundidade: Terceiridade:
preto, cinza e ansiedade; efeito de medo; espanto; falta de calma.
branco(neutras). desespero; efeito de fato
sério; espanto.

quali-signo sin-signo legi-signo


ícone: índice: símbolo:
cinco homens e uma expressão de desespero da homens e mulher, mesa; símbolo antigo
mulher. mulher; cores escuras; em formato de escultura, sala, escuridão.
homens com expressão de
braveza; falta de amenidade.
rema: dicente: argumento:
Apenas cores neutras, falta de paz, desespero, fato ironizado (legenda) mediante a vida
representando falta de situação desconfortável de acadêmica, pela qual um dos requisitos é
alegria e paz, com tom sério morte, espanto. a participação da banca, e no caso, a
mediante o contexto banca dará a resposta de aprovação ou
não, por isso o efeito de espanto.

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Observa-se a partir destas análises, que os conceitos são concretos, diferentemente


de outros sistemas de análise semiótica; de maneira explícita, as tríades relacionam o
objeto de maneira que haja todos os componentes que fazem sentido no signo. Para fazer
a análise de um objeto, é preciso que haja a concordância entre os elementos supracitados,
além da apreensão de seu contexto real ou modificado e sua relação cultural.

4.3 QUADRADOS SEMIÓTICOS


Para Algirdas Julien Greimas, a representação visual cabe aos quadrados
semióticos, neles contêm as informações passíveis de análises e representações
derradeiras de antíteses, é um sistema lógico que determina fenômenos e possíveis
sentimentos por trás do objeto, porém não se limita a estes conceitos. Para haver um
quadrado, é preciso haver linhas retas, ao menos quatro, no esquema de Greimas, todo
início de linha que compõe o quadrado deve possuir estas nomenclaturas (no sistema
básico): s1; s2; -s1; -s2; num primeiro esquema, o s1 e s2 seriam femininos e masculinos,
e o não-s1 e não-s2 seriam a negação destes conceitos. Destas questões, pode haver seis
tipos de linhas: s1 - s2 = eixo contrário; -s1 - -s2 = eixo sub contrário; s1 - -s1 = eixo
positivo; s2 - -s2 = eixo negativo; s1 - -s2 = deixis positiva; s2 - -s1 = deixis negativa.
Todas essas relações, podem ser tidas nas análises dos objetos, tendo em vista o que se
contrapõe, há exemplos de pinturas barrocas, em que se há a contraposição de luz e
sombra; vida e morte e outros conceitos; essas questões devem ser levadas em
consideração ao realizar as análises com base na semiótica greimasiana. Estes termos
positivos, negativos e neutros (s e -s), são denominados por Greimas como termos
sêmicos. De acordo com o autor, a noção interpretante referente aos quadrados
semióticos é tida a partir de a:

[...]substância do conteúdo - exige maior precisão. Entendemos - como já


insistimos ao falar do eixo semântico - que a substância só pode ser
proximizada e captada com a ajuda de uma lexicalização.
(GREIMAS, 1972, p. 21)

Com isso, a noção de substância, de acordo com o autor, é encontrada dentro da


análise do conteúdo utilizado, elabora-se, pois, uma relação de oposição e de
complementação entre significante e significado, pois presencia-se além do plano de
expressão e de conteúdo, tendo em vista que as análises são elaboradas de acordo com a
substância, ou seja, muda-se a maneira de análise, mas não a estrutura. O autor, assim
como Peirce, faz concernemente uma relação triádica do signo, ao relacionar a categoria

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sêmica aos lexemas da língua francesa (p. 22). Prosseguindo de maneira mais concreta,
os quadrados semióticos se relacionam não apenas numa relação de antíteses, mas sim de
categorias positivas e não positivas, negativas e não negativas, Greimas institui em sua
obra, relações de espacialidade; dimensionalidade; verticalidade; horizontalidade;
perspectividade e interalidade do objeto, pela qual os semas e lexemas agem da maneira
declarada anteriormente: a partir de + e -; os valores positivos e negativos do objeto, são
tidos a partir das subcategorias lexêmicas: baut, bas, long, court, large, étrait, vaste e
épais. Todos os lexemas declarados, possuem relação de existência, os significados são
relacionados à qualidades: alto; baixo; comprido; curto; largo; estreito. De maneira
sistêmica, se fosse analisado um objeto, cujo objeto principal seria o retrato de um ser
humano, com expressões faciais de medo, cuja as cores ao seu redor fossem preto e
vermelho-escuro, o quadrado semiótico de Greimas e análises sêmicas ficariam desta
forma: s1(medo) - s2 (não-medo); -s1(masculino - não medo) - s2(masculino - medo);
por dentro deste quadrado, seria retratado de maneira inferente ao quadrado, cortando de
ponta - a - ponta, retratando desta maneira: s - homem; -s - vida; s1 - s2 = homem vivo;
s2 - s1 = homem morto. A essência do conteúdo, seria a temeridade do homem, mediante
o contexto que seria descoberto de acordo com informações complementares, tais como
a data da obra, o título, e o pintor, a partir disso se inferiria ao contexto histórico, a época
literária e artística, além do estilo artístico, no caso do que foi escrito, seria o barroco,
época de antíteses, então infere-se que o contexto seria de alguém que perde-se mediante
sua crença em deus e a carnalidade, deus seria o temor, enquanto a carnalidade seria o
não-temor, sendo assim as cores: preto, vermelho-escuro, demonstrariam primeiro: o
preto como a perdição, a falta de deus ou seja o não-s2, e o vermelho-escuro, seria a
carnalidade, em antítese com a ideia de deus. Todos estes aspectos, aos serem analisados
pela visão de Greimas, inferem algo além das relações dos quadrados, pois o interpretante
deve ter consciência dos fatos históricos, literários, artísticos etc.

4.3.1 Análise de memes com base nos quadrados semióticos


Para haver a melhor visualização dos resultados de análise dos memes mediante
os sistemas linguísticos, além da composição de comparação entre os dois sistemas
semióticos, a partir da visão do autor, analisa-se memes específicos por meio dos
contextos e antíteses. O sistema Greimasiano, permite, a partir de quadrados semióticos,
que haja a substância dos objetos mediante seus contextos, suas antíteses principais, suas
cores e tonalidades e principalmente a relação histórica e análise das legendas com

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determinação concreta nos memes. Memes neste contexto serão utilizados como objeto
de análise com base nos conceitos de Greimas, que neste artigo é leitura complementar e
de confrontação de resultados mediante o autor principal deste artigo: Charles Sanders
Peirce, pois um determina análises mediante quadrados semióticos e outro: a partir de
tríades, compondo a essência do objeto principalmente na relação imagética. Para haver
de maneira totalizada essa questão de análise dos resultados, foram escolhidos dois
memes na área de linguística, que por si inferem conceitos, imagens, objetos, legendas,
contextos etc., partes fundamentais que concernem o signo como detentor de
concretidades.

Imagem 4: meme sobre fonética

disponível em: <http://anacrisprofessora.blogspot.com/2018/01/transformando-conceitos-em-


memes.html>, acesso em 22 dez. 2020.

Figura 1: análise a partir dos quadrados semióticos de Greimas


s1 = fome(querer-ser);
s2 = falta de fome (querer-não ser)
s=senhora(obj.)
não-s1 = não-falta de fome(não-querer-não ser)
não-s2 = não-fome (não-querer-ser)
-s = expressão da senhora/mãos(contexto)

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Neste contexto, demonstra-se uma africação do fonema /o/, representado como


fenômeno fonético. O contexto histórico, seria mediante ao meme, a estilística do meme,
o formato, a qualidade da imagem e a expressão das mãos, inferem ao ano de 2011 a
2014, quando estava se popularizando a criação de memes no Brasil, possivelmente foi
utilizado o APP meme generator, para dispositivos móveis, que facilita a criação de
memes. A expressão das mãos, inferem uma causalidade de elemento pacificador, a
expressão da senhora, demonstra a uma quase não-visão, que é tida quando as pessoas
não têm certeza daquilo que falam. A antítese entre fome e não-fome, representado pela
legenda, ironiza o fato da fonética ser aberta a análises sociolinguísticas, por exemplo,
pois não infere como absoluta verdade a gramática, e sim as formas pluralistas da fala e
a inserção do entendimento, por isso que na fonética há as diferenças entre os fonemas:
/’ʧi/ e o /’ti/ por exemplo, pois depende da fala do falante, então pressupondo que seja
esta a relação do meme, o termo: /’fome/ é a inferência fonética de /ba’Xiga/. As cores
predominantes são: branco; preto; castanho; rosa-amarelado (suave); e castanho-escuro.
O que preconiza uma relação de pacificidade do objeto principal: a senhora.

Imagem 5: meme sobre a semiótica de Peirce

disponível em: <https://memegenerator.net/instance/17962597/willy-wonka-voc-cristo-e-no-acredita-em-


signos-fale-me-mais-sobre-o-porqu-a-semitica-de-charles-sand>, acesso em 22 dez. 2020.

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Figura 2: análise a partir de quadrados semióticos

Neste contexto, observa-se uma expressão de ironização por parte do ator (como
objeto principal), o sorriso demonstra-se genuíno, as posições de mãos inferem como
mera desconfiança, ou ironia por parte dele; a legenda do meme, infere uma ironia e
pragmatismo por parte do conceito de signo, sendo este o sistema da língua ou o sistema
astrológico, pela qual cristão em sua maioria não se sentem confortáveis ao crer. Sendo
assim, a antítese presente em ambos os signos é genuína e semanticamente analisando,
ambos possuem significados diferentes e significantes iguais, o que demonstra com maior
ênfase essa divergência de conceitos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Perfaz-se que os memes, além de meios de replicação, são meios mutáveis e de
extrema importância para a sociedade, principalmente no meio digital. Como são
replicadores, sempre há a replicação de novos memes na internet, e sendo assim, das
informações propagadas. Observou-se neste artigo a grande busca memética e como esse
estudo científico ocorre hodiernamente, apesar de maneira implícita. As relações
biológicas dos memes, desde sua estrutura, até os conteúdos propagados, sempre possuem
similaridade com outros tipos de memes, com outras nomenclaturas e maneiras de
viabilizar o objeto principal. Com o arrecadamento de materiais e estudos
complementares, possuiu-se a visão panorâmica dos memes, e não apenas uma única
perspectiva, sendo assim, se infere que os memes possuem valor cultural, linguístico e
tecnológico e por isso, são extremamente importantes propagadores de conteúdos, por
conta de sua estrutura e também pelo fenômeno da viralização. Os memes, são
ferramentas fundamentais para compreender o funcionamento da internet, para responder
a questionamentos do porquê, por exemplo, correntes são extremamente propagadas, e
também para uso como ferramenta de auxílio educacional, análise linguística e semiótica
como determina a BNCC (2018) e também de divulgação científica, tendo em vista a
linguagem coloquial e imagens chamativas que podem auxiliar o público externo a

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compreender as informações rapidamente. Por essa razão, recursos pedagógicos como


jogos, envolvendo memes científicos e biológicos, com saberes interdisciplinares como
o jogo denominado perguntados das ambientais, presente no artigo ensino de ciências
ambientais: desenvolvendo um recurso pedagógicos a partir do tema gerador água, é de
grande importância para o público infantil e infanto-juvenil, para que possam desenvolver
a criticidade, o envolvimento científico e também maior afinidade com os temas
abordados, isso se tratando do uso dos memes, infere maior domínio por parte dos
jogadores, além de contribuir com a maior propagação dos conceitos científicos.

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<https://www.sciencefocus.com/future-technology/how-ada-lovelaces-notes-on-the-
analytical-engine-created-the-first-computer-program/> acesso em 22 dez. 2020.

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Pinheiro. LIMA, Lillian Natália Ferreira de. ALVES, Sady Salomão da Silva. ALVES,
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desenvolvendo um recurso pedagógico a partir do tema gerador água. Curitiba:
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SAUSURRE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Editora Cultrix,
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