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ECONOMIA
E SOCIEDADE
Fundamentos da
sociologia compreensiva
VOLUME 2
Tradução de
Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa
Revisão técnica de .
Gabriel Cohn
EDITORA
E:jEJ Iimprensaoficial
UnB
Seção 7
Pode-se tentar definir "cidade" de formas muito diversas. Apenas uma coisa
têm em comum todas as definições: que se trata, em todo caso, de um assenta-
mento fechado (pelo menos relativamente), um "povoado", e não de uma ou
várias moradias isoladas. Ao contrário, nas cidades (mas não apenas nestas) cos-
tumam as casas encontrar-se muito perto uma da outra, hoje em dia, em regra,
geminadas. A idéia corrente associa também com a palavra "cidade" característi-
cas puramente quantitativas: é um povoado grande. A característica em si não é
imprecisa. Do ponto de vista sociológico, significaria o seguinte: um povoado,
isto é, um assentamento com casas contíguas, as quais representam um conjunto
tão extenso que falta o conhecimento pessoal mútuo dos habitantes, específico
da associação de vizinhos. Segundo isto, somente povoados relativamente gran-
des seriam cidades, e depende das condições culturais gerais a partir de que
tamanho, mais ou menos, se aplica esta característica. Àqueles assentamentos
que no passado tinham o caráter jurídico de cidades, esta característica não se
ECO~OMIA E SOCIEDADE 409
aplicava na maioria dos casos. E na Rússia atual há "aldeias" que, com vanos
milhares de habitantes, são bem maiores do que algumas "cidades" antigas (por
exemplo, no território polonês colonizado do Leste alemão), as quais contavam
com apenas algumas centenas de habitantes. Em todo caso, o decisivo não é
apenas o tamanho. Se se tenta definir a cidade do ponto de vista puramente
econômico, seria um povoado cujos habitantes, em sua grande maioria, não vi-
vem do produto da agricultura, mas sim da indústria ou do comércio. Mas não
seria conveniente chamar todos os assentamentos deste tipo de "cidade". Aquele
tipo de povoados que se compôem de membros de um único clã, com um único
empreendimento industrial, de fato hereditário - as "aldeias industriais" da Ásia
e da Rússia - , não pode ser incluído no conceito de "cidade". Deve-se acrescen-
tar, como outra característica, a de certa "variedade" das indústrias exercidas. Mas
também esta característica em si não parece apropriada para constituir, somente
ela, uma característica decisiva. Em princípio, uma cidade pode basear-se em dois
fundamentos. Estes são: a) a existência de uma sede senhorial-territorial, sobretu-
do uma sede principesca, como centro, para cujas necessidades econômicas ou
políticas trabalham as indústrias, com especialização da produção, e o comércio
adquire bens. Mas um oikos senhorial-territorial ou principesco, mesmo acompa-
nhado de um povoado muito grande de artesãos e pequenos comerciantes obri-
gados a serviços e tributos, não se costuma chamar de "cidade", se bem que
historicamente uma parcela muito grande das cidades mais importantes tenha sua
origem nesse tipo de povoado, e a produção para uma corte principesca tenha
permanecido para muitas delas (as cidades principescas) uma fonte de renda
sumamente importante, muitas vezes a mais importante, dos habitantes. A segun-
da característica que se tem que acrescentar para se poder falar de uma "cidade"
é b) a realização de uma troca de bens não apenas ocasional mas regular, na
localidade, como componente essencial das atividades aquisitivas e da satisfação
das necessidades dos moradores: a existência de um mercado. Mas nem todo
"mercado" transforma o lugar em que se realiza em uma "cidade". As feiras peri-
ódicas e aquelas do comércio a distância (feiras anuais), nas quais se reúnem em
determinados momentos comerciantes que vêm de fora, para vender suas merca-
dorias em grandes ou pequenas quantidades entre si ou aos consumidores, ocor-
riam muitas vezes em localidades que chamamos de "aldeias". Somente queremos
falar de "cidade" no sentido econômico, tratando-se de um lugar onde a popula-
ção local satisfaz no mercado local uma parte economicamente essencial de suas
necessidades cotidianas, e isto principalmente com produtos que a população
local e dos arredores produziu ou adquiriu para a venda no mercado. Toda cida-
de no sentido aqui adotado da palavra é "localidade de mercado", isto é, tem um
mercado local como centro econômico do povoado, mercado no qual, em virtude
da existente especialização da produção econômica, também a população não-
urbana satisfaz suas necessidades de produtos industriais ou artigos mercantis ou
de ambos, e, como é natural, também os próprios moradores da cidade trocam
entre si os produtos especiais e satisfazem as necessidades de consumo de suas
economias. Originalmente, era normal que a cidade, onde se apresentava como
complexo distinto do campo, fosse ao mesmo tempo sede de um senhor territorial
ou príncipe e localidade de mercado, possuindo centros econômicos de ambos
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cipescas e das outras, encontram-se aquelas cidades nas quais a capacidade aqui-
sitiva de outros grandes consumidores, isto é, dos rentistas, determina decisiva-
mente as oportunidades aquisitivas dos artesãos e comerciantes locais. Estes gran-
des consumidores podem pertencer a tipos muito diversos, dependendo da for-
ma e da origem de suas receitas. Podem ser 1) funcionários que gastam ali suas
receitas legais ou ilegais ou 2) senhores territoriais e detentores de poder político
que fazem isto com as rendas obtidas de suas terras situadas fora da cidade ou
com outras receitas, em especial as politicamente condicionadas. Em ambos os
casos, a cidade está muito próxima do tipo da cidade principesca: fundamenta-se
em receitas patrimoniais e políticas como base da capacidade aquisitiva dos gran-
des consumidores (um exemplo da cidade de funcionários é Pequim, e da cidade
de rentistas, Moscou antes da abolição da servidão). Destes casos cabe diferenci-
ar, em princípio, o caso aparentemente semelhante, em que rendas do solo urba-
nas, condicionadas pelo monopólio da "localização favorável ao tráfico" dos ter-
renos urbanos, tendo sua fonte, portanto, indiretamente no artesanato e comér-
cio urbanos, se concentram nas mãos de uma aristocracia urbana (muito freqüen-
te em todos os tempos, especialmente na Antiguidade, desde seus primórdios até
a época bizantina, e também na Idade Média). Do ponto de vista econômico, esta
cidade não é cidade de rentistas, mas sim, dependendo do caso, cidade de co-
merciantes ou de artesãos, sendo aquelas rendas o tributo pago pelos economi-
camente ati vos aos proprietários dos prédios. A separação conceítual entre este
caso e aquele das rendas não-condicionadas pela obrigação tributária dos artesãos
e comerciantes urbanos, mas sim por propriedades situadas fora da cidade, não
pode impedir que na realidade ambos os casos, muitas vezes, se interpenetrassem
no passado. Os grandes consumidores podem também ser rentistas que conso-
mem na cidade receitas de negócios, hoje em dia sobretudo juros provenientes
de títulos e valores, dividendos e participações no lucro: a capacidade aquisitiva
baseia-se, neste caso, principalmente, em fontes de renda condicionadas pela
economia monetária, sobretudo a capitalista (exemplo: Arnhern), ou então baseia-se
ela em pensões estatais, pagas em dinheiro, ou outras rendas públicas (por exem-
plo, uma "pensionópolis", como Wiesbaden). Em todos estes casos e em muitos
semelhantes, a cidade é, em grau maior ou menor, cidade de consumidores, pois
para as oportunidades aquisitivas dos artesãos e comerciantes é decisivo que
residam em sua cidade aqueles grandes consumidores, pertencentes a categorias
económicas variadas. Pode acontecer também o contrário: a cidade é cidade de
produtores, baseando-se o crescimento de sua população e da capacidade aquisi-
tiva desta no fato de que - como ocorre em Essen ou Bochum - nela se encon-
tram fábricas, manufaturas ou indústrias caseiras que abastecem regiões situadas
fora da cidade: há o tipo moderno e o asiático, antigo ou medieval, no qual
existem no local indústrias artesanais cujos produtos são enviados para fora da
cidade. Os consumidores do mercado local recrutam-se, em parte, como grandes
consumidores, da camada dos empresários - caso residam no local, o que nem
sempre é o caso - , em parte e principalmente, como grande massa de consumi-
dores, das camadas dos trabalhadores e artesãos e, parcialmente como grandes
consumidores, da camada dos comerciantes e rentistas, indiretamente alimenta-
dos pelos primeiros. Do mesmo modo que esta cidade industrial se opõe à cida-
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dispõem de terras de cultivo que guardem uma proporção razoável com suas
necessidades alimentares e estejam reservadas para a produção de alimentos,
nem têm o direito, na maioria dos casos, a uma utilização suficiente e exclusiva
de pastos e florestas, tal como oferece a "aldeia".
A maior cidade alemã da Idade Média, Colõnia, carecia, por exemplo, quase
por completo e evidentemente desde o começo, de um terreno comunitário, que
não faltava em nenhuma aldeia normal daquela época. No entanto, outras cida-
des alemãs e estrangeiras da Idade Média tinham pelo menos extensos pastos e
florestas que estavam à disposição dos seus cidadãos como tais. E quanto mais
descendemos ao sul e voltamos à Antiguidade, tanto maior a freqüência com que
encontramos nos arredores das cidades extensas terras de cultivo que faziam
parte delas. Enquanto hoje em dia consideramos, quase sempre com razão, o
"citadino" típico de uma pessoa que não satisfaz suas necessidades alimentares
no próprio solo, aplica-se à grande maioria das cidades típicas (poleis) da Antigui-
dade precisamente o contrário. Veremos que o cidadão urbano da Antiguidade
com plenos direitos, em oposição àquele da Idade Média, se caracterizava origi-
nalmente pelo fato de possuir um kleros, fundus (entre israelitas: chelek), um lote
que o alimentava: o cidadão pleno da Antiguidade é um "cidadão agricultor".
E muito mais ainda encontravam-se propriedades agrícolas nas mãos das
camadas de grandes comerciantes das cidades, tanto na Idade Média - mas tam-
bém nesta época mais no Sul do que no Norte - quanto na Antiguidade. Propri-
edades agrícolas, às vezes de tamanho exorbitante, às vezes dispersas aqui e ali,
encontramos nas cidades-estados medievais e da Antiguidade, sob a dominação
política ou senhorial-territorial das autoridades de cidades poderosas ou incorpo-
radas à propriedade fundiária de cidadãos nobres individuais: exemplos são o
domínio de Milcíades em Quersoneso ou as propriedades políticas e senhoriais-
territoriais de famílias da nobreza urbana da Idade Média, como as ultramarinas e
na Provença dos Grimaldi genoveses. No entanto, estas propriedades e direitos
senhoriais interlocais de cidadãos urbanos individuais não eram, em regra, obje-
to da política económica urbana como tal, apesar de surgir uma peculiar situação
mista onde objetivamente a propriedade é garantida aos indivíduos pela cidade,
na qual figuram entre os honoratiores mais poderosos, onde é adquirida e defen-
dida com a ajuda indireta do poder urbano e onde a cidade participa em sua
exploração económica ou política - o que era muito freqüente no passado.
A relação entre a cidade, como portadora da indústria e do comércio, e o
campo, como fornecedor dos alimentos, constitui apenas uma parte de um com-
plexo de fenómenos que se denominou "economia urbana" e se diferenciou,
como "etapa económica" especial, por um lado, da "economia própria" e, por
outro, da "economia nacional" (ou de uma pluralidade de etapas estabelecidas de
modo semelhante). Mas neste conceito misturam-se medidas da política econõ-
mica com categorias puramente económicas. A razão disso se encontra na cir-
cunstância de que o mero fato da concentração local de comerciantes e artesãos
e a satisfação regular das necessidades cotidianas no mercado em si não definem
suficientemente o conceito de "cidade". Onde isso se dá, onde, portanto, dentro
dos povoados fechados somente a proporção entre a satisfação própria das neces-
sidades pela agricultura e as atividades aquisitivas não-agrícolas e a existência e
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ção planejada de serviços e tributos e associadas ao oikos, que, por uma vez, se
baseia na acumulação e cooperação na propriedade senhorial, mas sem intercâmbio
interno; e que a regulação das relações de troca e produção na cidade constitui um
contraste diante da organização das contribuições das economias reunidas no oikos.
O fato de que estávamos obrigados a falar nestas observações de uma "po-
lítica econômica urbana", um "território urbano" e "autoridades urbanas" já indica
que o conceito de "cidade" ainda pode e deve ser incluído em outra série de
conceitos, além das categorias econômicas até agora mencionadas exclusivamen-
te - a saber, nas categorias políticas. Verdade que o portador da política econô-
mica urbana pode ser também um príncipe, de cujo território politicamente domi-
nado fazem parte, como objetos, a cidade e seus habitantes. Neste caso, a política
econôrníca da cidade é realizada, quando o é, para a cidade e seus habitantes, e
não por ela. Mas não precisa ser assim. E mesmo que o seja, a cidade deveria ser
considerada uma associação autônoma, em algum grau uma "comuna" com insti-
tuições políticas e administrativas especiais.
Em todo caso, cabe ter em conta que se deve distinguir o conceito econômico
da cidade, até agora considerado, do conceito político-administrativo. No senti-
do político-administrativo, pode-se considerar cidade uma localidade que não
teria direito a esta denominação do ponto de vista econômico. Na Idade Média,
havia "cidades", no sentido jurídico, cujos habitantes, nove décimos ou mais, em
todo caso uma proporção bem maior do que em muitas localidades consideradas
juridicamente "aldeias", viviam exclusivamente da agricultura própria. Natural-
mente, é totalmente impreciso o limite entre semelhante "cidade de agricultores"
e a cidade de consumidores, de produtores ou mercantil. Só que todo povoado
que, do ponto de vista administrativo, é diferente da aldeia e considerado cidade
costuma distinguir-se, em um aspecto, da situação no campo: a maneira como se
regula a situação dos bens de raiz é diferente da constituição fundiária rural. Nas
cidades, no sentido econômico da palavra, isto está condicionado pela natureza
especial da base da rentabilidade que oferecem os bens de raiz urbanos: a propri-
edade consiste em prédios, sendo o terreno apenas um acessório. Do ponto de
vista administrativo, porém, a situação especial dos bens de raiz urbanos explica-
se, sobretudo, pelos princípios tributários diferentes, e na maioria das vezes tam-
bém por uma característica decisiva para o conceito político-administrativo da
cidade, a saber, pelo fato de que a cidade do passado, da Antiguidade e da Idade
Média, tanto dentro quanto fora da Europa, era um tipo especial de fortaleza e
guarnição. Na atualidade, esta característica perdeu-se completamente. Mas tam-
bém no passado não existiu por toda parte. Assim, por exemplo, não se apresen-
tou quase nunca no Japão. Do ponto de vista administrativo, pode-se, portanto,
dar razão a Rathgen e duvidar da existência de "cidades" nesse país. Na China, ao
contrário, cada cidade estava cercada por muros gigantescos. Mas ali também
parece terem possuído muros, desde sempre, povoados que, do ponto de vista
econômico, tinham caráter puramente rural e nem sob aspectos administrativos
são cidades, isto é (conforme será exposto mais adiante), não são sede de auto-
ridades estatais. Em algumas regiões mediterrâneas, por exemplo na Sicília, quase
não se conhecia uma pessoa que residisse fora dos muros da cidade, nem haven-
do trabalhadores agrícolas que morassem no campo: conseqüência de longos
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era todo clã que contava com um sberif entre os antepassados. O sherif, por sua
vez, pertencia, desde o ano 1200, à família Katadâs, descendente de All, e tinha
que ser nomeado, segundo o direito oficial, pelo governador do califa (que mui-
tas vezes era um homem não-livre, sendo um deles, sob Hârún ar-Rashid, um
escravo berbere), mas de fato era determinado um membro da família qualifica-
da, mediante eleição dos chefes dos deuii's, residente em Meca. Por isso, e por-
que a residência em Meca oferecia a oportunidade de participar na exploração
dos peregrinos, os chefes dos clãs (ernfres) residiam na cidade. Entre eles havia
"alianças", isto é, acordos sobre a conservação da paz e a repartição daquelas
oportunidades lucrativas. Mas estes acordos eram revogáveis a cada momento, e
sua revogação significava o começo da luta dentro e fora da cidade, para a qual
eles se serviam de suas tropas de escravos. Os vencidos tinham que evitar a
cidade, mas havia a cortesia, em virtude da comunidade de interesses em relação
a estranhos, todavia existente entre as linhagens inimigas e observada sob pena
da revolta geral também dos próprios partidários, de poupar os bens e a vida das
famílias dos exilados, bem como os de seus clientes. Na cidade de Meca existiam,
na Época Moderna, as seguintes autoridades oficiais: 1) somente no papel, o
conselho administrativo colegial estabelecido pelos turcos Cmedsblts): 2) como
autoridade efetiva, o governador turco, que exercia a função de "senhor prote-
tor" (antigamente exercida quase sempre pelo soberano do Egito); 3) os quatro
cádis dos ritos ortodoxos, sempre cidadãos distintos de Meca, provindo o mais
distinto (o cbâfi'ita), durante séculos, da mesma família, nomeado pelo sherif ou
indicado pelo senhor protetor; 4) o sherif, ao mesmo tempo chefe da corporação
da aristocracia urbana; 5) as corporações, sobretudo a dos guias de peregrinos,
além daquelas dos açougueiros, comerciantes de cereais, etc.; 6) os bairros com
seus anciões. Estas autoridades competiam em vários aspectos entre si, sem ter
competências fixas. A parte queixosa num processo escolhia a autoridade que
lhe parecia a mais favorável e cujo poder parecia ser mais eficaz diante da parte
acusada. O governador não podia impedir o apelo ao cádi, que competia com ele
em todas as causas que envolviam o direito eclesiástico. Os habitantes considera-
vam o sherif a verdadeira autoridade; de sua boa vontade dependia o governa-
dor, especialmente em todas as questões que diziam respeito aos beduínos e às
caravanas dos peregrinos, e a corporação da nobreza desempenhava, como tam-
bém em outras regiões árabes, um papel decisivo, particularmente nas cidades.
Um desenvolvimento que lembra a situação no Ocidente revela-se no fato de
que, no século IX, na luta entre os tülúmidas e os sbafâridas em Meca, tornou-se
decisiva a opinião das corporações mais ricas, dos açougueiros e dos comercian-
tes de cereais, enquanto ainda no tempo de Maomé teria contado, sem reservas,
somente a opinião das linhagens nobres quraisbitas, em assuntos militares e
políticos. Mas nunca chegou a surgir um regime corporativo: as tropas de escra-
vos, sustentadas com as participações lucrativas das linhagens urbanas, parecem
sempre ter defendido a posição decisiva destas últimas, à semelhança do Ociden-
te medieval, onde o poder efetivo nas cidades italianas sempre de novo tendia a
passar às mãos das linhagens cavaleirosas, como portadoras do poder militar.
Faltava em Meca qualquer associação que pudesse transformar a cidade
numa unidade corporativa, e nisto reside a diferença característica em relação ao
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§ 2. A cidade do Ocidente