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Jebelli, Joseph
Em busca da memória / Joseph Jebelli; tradução de
Luis Reyes Gil. - São Paulo: Planeta, 2018.
2018
Todos os direitos desta edição reservados à
EDITORA PLANETA DO BRASIL LTDA.
Rua Padre João Manoel, 100 – 21o andar
Ed. Horsa II – Cerqueira César
01411-000 – São Paulo-SP
www.planetadelivros.com.br
atendimento@editoraplaneta.com.br
SUMÁRIO
PARTE I – ORIGENS
1. O PSIQUIATRA DO MICROSCÓPIO
2. COMPREENDER UMA EPIDEMIA
3. UM REMÉDIO PARA A MEMÓRIA
PARTE II – PESQUISA
4. DIAGNÓSTICO
5. O GENE DO ALZHEIMER
6. A CIÊNCIA POR TRÁS DAS MANCHETES
7. O SEGUNDO CÉREBRO
8. PODER CEREBRAL SUECO
PARTE V – DESCOBERTA
19. ATÉ OS CONFINS DA TERRA
20. INSIGHTS DA ÍNDIA
21. PISTAS DA COLÔMBIA
22. O LEGADO DO ALZHEIMER
EPÍLOGO
RECURSOS
AGRADECIMENTOS
NOTAS
BIBLIOGRAFIA
ÍNDICE
PREFÁCIO:
“UMA DOENÇA PECULIAR”
O PSIQUIATRA DO
MICROSCÓPIO
COMPREENDER
UMA EPIDEMIA
UM REMÉDIO PARA
A MEMÓRIA
DIAGNÓSTICO
O GENE DO ALZHEIMER
Três tias, um tio e agora o pai dela. Com isso, Carol Jennings,
professora, 30 anos de idade, de Nottingham, tomou a
decisão. Em 11 de abril de 1986, foi até sua mesa, pegou uma
folha de papel e começou.
“Caro senhor”, escreveu ela em tinta azul-escura. “Fiquei
muito interessada ao ler sua pesquisa no Alzheimer’s Disease
Society News e acho que minha família poderia ser útil.” Numa
folha separada, Carol anotou uma árvore genealógica com
parentes tanto da geração do pai quanto da geração do avô.
“Na realidade, sou filha de Walter”, continuou ela, “que,
conforme o senhor pode ver na árvore genealógica, tem 63
anos e sofre de Alzheimer, assim como a irmã dele, Audrey. O
irmão, Arthur, talvez também tenha a doença… Por favor,
entre em contato comigo no endereço acima se achar que
podemos ser-lhe úteis”.
A carta foi endereçada ao Hospital St. Mary em Londres,
no qual um grupo de pesquisadores seguia uma direção que
muitos consideravam um tiro no escuro: o Alzheimer poderia
ser uma doença genética?
Essa ideia radical começara a ganhar corpo quando
Leonard Heston, médico de Minnesota, publicou algumas
observações impressionantes em outubro de 1981.[1] Usando
amostras do cérebro de mais de 2 mil autópsias realizadas em
hospitais públicos de Minnesota, ele descobriu que parentes
de pacientes com Alzheimer de meia-idade ou com a
“manifestação precoce” da doença tinham maior
probabilidade de desenvolvê-la ao chegar à meia-idade.
Mesmo quem tinha ignorância confessa sobre genética via
nisso os sinais da hereditariedade; de fato, Heston não era o
primeiro a sugerir o vínculo: médicos na Suécia e na Suíça, na
década de 1950, haviam identificado a tendência examinando
registros de hospital de famílias com histórico de demência.
Nessa época, os genes eram encarados como entidades
responsáveis apenas por aspectos básicos da biologia humana,
como a altura, a constituição física e a cor dos olhos.
Certamente não se acreditava que tivessem muita (se é que
tinham alguma) relação com as intrincadas complexidades da
mente. De qualquer modo, os genes ainda eram moléculas
inacessíveis e, portanto, os médicos estavam mais
interessados nas bases químicas da doença.
Na década de 1980, porém, a dupla hélice do DNA
começava a se tornar familiar, e a tecnologia do
sequenciamento genético já estava implantada. George
Glenner, patologista molecular do Instituto Nacional do
Envelhecimento dos Estados Unidos, aproveitou os resultados
de Heston.
Quieto e reservado, formal e arredio, com cabelo prateado
ondulado e um olhar despretensioso, Glenner não conhecia
muito a respeito do cérebro quando começou a trabalhar com
Alzheimer, em 1983. Era considerado um intruso por muitos
neurocientistas. Depois de um tempo na Universidade Johns
Hopkins, logo ficou fascinado com a maneira pela qual as
doenças se desenvolvem em nível celular e decidiu
especializar-se em patologia. Em particular, Glenner ficou
intrigado com os amiloides – que ele chamou de “raio de uma
substância safada”[2] – e logo se empenhou para descobrir do
que se tratava realmente.
A missão de Glenner reflete bem a confiança de que a
melhor aposta da medicina seria colocar as placas como alvo.
Ninguém sabia se de fato elas eram as causadoras da doença
nem se elas se formavam antes ou depois de os neurônios
começarem a morrer. E ninguém sabia se eram mais ou
menos culpadas que os emaranhados detectados dentro dos
neurônios. Mesmo assim, sua prolongada presença pedia
respostas; contestar sua importância tornou-se tão imperativo
quanto prová-la. Tendo acesso a congeladores cheios de
cérebros doados – um dos primeiros “bancos de cérebros” de
Alzheimer –, Glenner começou a trabalhar, fatiando e
triturando mecanicamente cada um deles, extraindo vasos
sanguíneos, separando tecido conectivo e pulverizando
quimicamente o que havia restado até não sobrar nada a não
ser amiloide. Depois de um ano – em maio de 1984 –,
finalmente extraiu a proteína que formava o cerne das placas
e apelidou-a de beta-amiloide, termo que ressoaria entre os
neurocientistas pelos trinta anos seguintes.[3]
Glenner, então, realizou um salto quântico. No estudo de
Heston, tinha-se observado que muitos parentes de pacientes
com Alzheimer apresentavam alta incidência de síndrome de
Down na família. Além disso, os médicos perceberam que
quase todos os que tinham síndrome de Down e chegavam à
meia-idade morriam com uma forma de demência
estranhamente similar ao Alzheimer. As doenças tinham
alguma espécie de conexão, mas qual?
A síndrome de Down, anomalia genética que se
desenvolve a partir de uma cópia extra do cromossomo 21, era
a única outra condição conhecida em que vastos depósitos de
amiloide saturam o cérebro. Quando Glenner começou a
examinar o amiloide dos pacientes de síndrome de Down,
percebeu que era feito da mesma proteína encontrada nos
cérebros dos pacientes com Alzheimer.[4] Isso sugeria algo
totalmente inesperado. Talvez em algumas pessoas houvesse
um gene para Alzheimer – à espreita em algum lugar dentro
do cromossomo 21.
Assim que os resultados de Glenner foram divulgados,
cientistas começaram a reunir amostras de DNA de famílias
com sinais de uma forma herdada de Alzheimer, que passou a
ser chamada de mal de Alzheimer “familiar”. Uma das
amostras vinha de uma grande família de canadenses de
origem britânica, cujos ancestrais haviam emigrado para o
Canadá em 1837; em apenas oito gerações, foram relatados
nada menos que 54 casos de Alzheimer. Uma família alemã
tinha vinte casos em seis gerações. Outra, russa, apresentou
23 casos em seis gerações. Uma grande família italiana, cujos
membros haviam se espalhado pela França e pelos Estados
Unidos, tivera 48 casos em oito gerações.
O Alzheimer familiar parecia idêntico à versão mais
comum, não herdada; a única diferença digna de nota era a
idade da manifestação: seus sintomas apareciam muito antes,
em geral aos 50 anos, ou aos 40 e até mesmo no fim dos 30. A
descoberta do Alzheimer familiar foi revolucionária não só
porque provou que o mal podia ser genético, mas também
porque sua origem genética oferecia aos cientistas a primeira
pista real sobre como a doença predominante, de
manifestação tardia, aparecia. Com um gene como ponto de
partida, os cientistas puderam investigar outras moléculas
com as quais ele interagia e, assim, costurar uma rede
bioquímica de causas. Era como pregar num mural a foto de
um mafioso para que os detetives mapeassem a organização
criminosa inteira.
Por volta de 1986, a partir dos achados de Glenner, vários
grupos americanos conseguiram sucesso em decodificar a
sequência do DNA da beta-amiloide.[5] Eles batizaram o gene
como APP (de amyloid precursor protein, ou “proteína
precursora do amiloide”). Isso deu aos cientistas-detetives
um suspeito. Mas APP por si só não era suficiente. Eles
precisavam saber se o gene era culpado e, portanto, tinham
que descobrir se havia sido permanentemente alterado em
relação ao que era o normal. Para isso, precisavam encontrar
uma mutação.
“Minha avó teve quinze filhos. Quer dizer, não dá nem para
imaginar isso, não é?”, disse Carol, com um riso baixinho e
meneando a cabeça. Era o início de tarde do dia 18 de
setembro de 2015. Eu estava sentado na sala de estar de uma
casa pequena, numa estreita alameda arborizada de Coventry,
na Inglaterra, conversando com Carol e o marido dela, Stuart.
— Estou tentando lembrar quem mais teve — disse
Stuart, enquanto me passava uma xícara de chá. Era um
homem de 59 anos de idade, capelão e historiador da
universidade, com olhos fundos e um rosto suave, angelical.
— Vamos pensar, Carol. Sua tia Aunty teve. Seu tio também.
Kath está tendo agora, mas acho que é Alzheimer relacionado
à idade.
— Sim, é verdade — disse Carol, num tom de voz baixo,
carregado de compaixão. — E você sabia, minha avó teve
quinze filhos. Não dá nem para imaginar, não é?
Carol foi diagnosticada em dezembro de 2012. Estava com
58 anos: a mesma idade em que o pai dela, Walter, começou a
apresentar sintomas. Stuart conta que vêm ocorrendo lapsos
perceptíveis na memória dela desde 2008. “Não dá para você
viver com alguém durante trinta anos e não notar mudanças
leves, sutis.” Carol com frequência esquecia o que tinha ido
fazer num quarto, por exemplo, conta ele. Depois começou a
guardar peças de roupa, inexplicavelmente, debaixo do
travesseiro. Na época, não pareciam ser erros tão graves.
“Carol dizia para mim que ‘o problema com você é o que fica
tentando achar’. Mas as coisas não estavam bem.” No
trabalho, ela começou a ficar desorganizada, o que não era
típico, deixava de cumprir prazos e esquecia de arquivar
papéis. De novo, pequenas coisas. Isso foi só no começo –
depois, houve lento acúmulo, levando a mente dela de modo
gradual, mas irrevogável, à desconcertante doença que afetara
o seu pai.
Enquanto nós três conversávamos, Carol apontou para
uma foto em preto e branco de Walter descansando numa
salinha contígua, revestida de madeira. Ele tinha um rosto
magro, sulcado, usava óculos retangulares de aro grosso e
estava bem-vestido, com uma camisa de listras brancas e
gravata. Perguntei se ela lembrava o que a fizera escrever a
carta ao St. Mary tantos anos atrás.
— Havia alguma coisa… — refletiu ela, franzindo o cenho.
— Por um tempo as coisas estavam caminhando… um pouco
desconjuntadas… havia alguma coisa, tenho certeza, que era…
um pouquinho… estranha.
Enquanto estava ali, ouvindo com atenção, vendo como
um escorregão em apenas um gene se expressa nas
vicissitudes da condição de uma pessoa, fiquei chocado ao
perceber como Carol se tornara agudamente inconsciente do
Alzheimer. Ali, à frente, estava uma mulher que havia
transformado nossa compreensão da doença, uma mulher que
havia dedicado a maior parte de sua vida ampliando a
consciência a respeito dela. Agora, mal conseguia dizer seu
nome.
Então, ela riu.
— Ou seja, a avó da família teve… Quantos filhos foram
mesmo? Quinze, não foi isso?
— Sua avó, sim, isso mesmo — respondeu Stuart. Disse
isso num tom calmo, desapaixonado – não com impaciência
ou mesmo com paciência –, apenas do jeito com que ele
sempre falara com a mulher. Ele não deixaria que a doença
mudasse isso.
Terminamos nosso chá e fomos fazer um lanche.
Comemos no conforto da sala, contando casos e levando a
conversa a temas engraçados, e Carol, naturalmente,
manteve-se quase sempre em silêncio, mas sorrindo. Depois,
foi até o andar de cima ver a mãe, de 90 anos de idade, Joyce,
que vivia com o casal e que então, por incrível que parecesse,
ajudava a cuidar de Carol. Joyce era bem saudável para a
idade, segundo Stuart, e, é claro, sabia bem o que era a doença
depois de ter cuidado de Walter trinta anos antes.
Agora a sós com Stuart, pedi que me dissesse com
franqueza: como estava lidando com a situação? Explicou que
oscilava entre o estoicismo e o desespero. Disse que conhecera
uma mulher que ia de avião a Berna, Barcelona e Buenos
Aires, uma mulher que viajara o mundo para falar em
conferências diante de neurocientistas e do público em geral.
Mas, agora, ele não confiaria em deixá-la ir até o mercadinho
da esquina. Stuart está lutando para salvar Carol; o casal vai a
Londres regularmente para testar os mais recentes
tratamentos experimentais. Ainda assim, Carol está indo
embora, e ele sabe.
— Acho que é tarde demais para Carol — confessou
Stuart. — É pelos filhos que estamos lutando agora.
O SEGUNDO CÉREBRO
ESTRESSE
DIETA
EXERCÍCIO
TREINO DO CÉREBRO
SONO
REGENERAÇÃO
É claro que tudo isso chegou tarde demais para Victoria. Mas
ela aceitou a situação com notável determinação e altruísmo
inabalável. “Eu sei o que vai acontecer… mas não há nada que
eu possa… fazer… a respeito…” Passaram-se oito meses desde
minha primeira visita, e ela estava pior, sem dúvida: menos
animada, mais introvertida, fazendo força para verbalizar os
pensamentos. “Por isso, simplesmente espero que… eles
descubram alguma coisa… para outras pessoas.” Sua memória
tinha sofrido uma queda brusca, disse Martin. Ela agora
esquecia o que estava fazendo de um instante para o outro. As
horas, as datas e as tarefas do dia a dia, como ir às compras
ou fazer um passeio, logo se tornaram incompreensíveis. Um
dia, Martin descobriu que ela havia jogado talheres no lixo;
dias depois, encontrou-a histérica, procurando o celular que
ela segurava o tempo todo. Martin, agora um poço de
paciência e bravura, adaptou-se; ele está “simplesmente
levando”, disse.
A par das condições de Victoria, fiquei impressionado em
saber que ela havia recentemente retomado o antigo trabalho.
Em intervalos de poucas semanas, ela é levada para ver uma
velha amiga, Iris, que sofre de Alzheimer. Victoria conheceu
Iris há mais de dez anos, quando trabalhava como cuidadora.
Ela cuidava da filha de Iris, que tinha síndrome de Down, e
agora fazia o possível para ver a mãe, uma senhora de 91 anos
de idade, nos estágios finais de um destino que ela sabia que
também a aguardava. Ela me contou que se entediava ficando
em casa, que queria manter sua mente em atividade. “Eu
sempre estive nessa história de cuidar dos outros”, disse, com
orgulho, “mas… é claro… sei que não posso cometer…
nenhum erro… e eu…”. Ela perdeu o fio da meada, e Martin
preencheu as lacunas. Para ele, a questão não era tanto
manter Victoria ocupada, mas dar a ela alguma companhia
enquanto ele estivesse trabalhando. Sua intuição tem
fundamento: estudos mostram que permanecer socialmente
ativo alivia a ansiedade e a depressão na demência.
Querendo oferecer alguma coisa, o que quer que fosse,
relatei alguns dos trabalhos impressionantes que vinham
sendo feitos com as células dela no laboratório – tornados
possíveis graças a sua contribuição. Para mim, ainda era
difícil digerir o fato de que, enquanto a mente de Victoria
estava sendo aos poucos desconstruída, era silenciosamente
reconstruída sob o nariz de Wray e outros cientistas, criando
um portal para algum lugar que nenhum exame de imagem
do cérebro consegue acessar. Difícil dizer quando a
expectativa vai se encontrar com a realidade no caso das
células iPS. Há um imenso fator sorte na pesquisa biológica.
Tomemos como exemplo Louis Pasteur, o pioneiro francês da
vacinação. Sua descoberta da vacina contra a cólera aviária se
deu quando ele abandonou o experimento, frustrado, e saiu de
férias, descobrindo ao voltar que o fato de ter deixado o caldo
de cultura descansar era justamente o que se fazia necessário
para “atenuar” ou enfraquecer as bactérias a ponto de se
tornarem uma vacina. Esse tipo de coisa acontece o tempo
todo nos laboratórios de hoje. Vem da total falta de leis da
biologia, a “mais desregrada das três ciências básicas”,
escreveu o biólogo oncologista Siddhartha Mukherjee. “Para
começar, há poucas regras, e menos ainda regras
universais.”[12]
Em nenhuma área isso é mais verdadeiro que na biologia
celular. Podemos imaginar células como microcosmos de
megacidades modernas – entidades em constante mutação,
sempre gerando novas e inovadoras tendências de
comportamento. Com as células iPS, é como descobrir uma
cidade em outro planeta. E assim, por enquanto, as minúcias
de como elas de fato funcionam são um enigma completo. Os
cientistas, basicamente, descobrem à medida que avançam.
No entanto, estão surgindo desenvolvimentos práticos
estimulantes. Nesses dez anos desde que foram descobertas
por Yamanaka, as células iPS têm sido produzidas a partir de
folículos capilares e até mesmo de urina. Os pesquisadores
vislumbram a criação de “bancos” de células iPS, que
estoquem variedades compatíveis com a população em geral.
Isso despertou o interesse do Departamento de Defesa dos
Estados Unidos, que agora financia pesquisa para criar bancos
de células vermelhas do sangue autorregenerantes para
soldados feridos em combate; segundo uma estimativa,
seriam necessários apenas quarenta doadores de diversos
tipos de sangue para suprir a população geral,
indefinidamente.[13] Esse procedimento serve também para
surtos de infecções tropicais, como de zika. Pesquisadores da
Universidade Johns Hopkins de Baltimore, em Maryland,
recentemente usaram células iPS para determinar de que
modo a infecção por zika em grávidas pode causar
microcefalia, malformação que faz que bebês nasçam com a
cabeça menor que a usual.[14] No futuro, podemos imaginar
aplicações de alcance ainda maior. Como um especialista disse
a Megan Scudellari, na Nature, em junho de 2016: “O mundo
está na expectativa…”.[15]
SANGUE JOVEM
SEMENTES DA DEMÊNCIA
INSIGHTS DA ÍNDIA
Essa história fala de uma verdade mais elevada, que não foi
suficientemente enfatizada. A ciência não busca provar
hipóteses; procura refutá-las. Todo achado tem outros
inúmeros achados anteriores, intimamente relacionados com
ele, e cada um foi refutado, aprimorando a narrativa
científica. Mesmo descobertas completamente novas têm que
ser falíveis em algum aspecto, prontas para ser atualizadas
quando surgir uma ideia melhor. A ciência orbita a verdade,
mas não reside nela. O filósofo do século XX Karl Popper
compreendeu isso melhor que ninguém. Ele é famoso por ter
proclamado que uma descoberta “deve ser refutável – e, na
medida em que não for refutável, não estará falando da
realidade”.[10] Eusempre preferi outra coisa que ele disse: “A
ciência deve começar com mitos e com a crítica dos mitos”.
Será que a sensação de que o estilo de vida de Chand e dos
outros idosos é um fator de proteção contra o Alzheimer não
passa de uma sensação, uma especulação, um mito?
Possivelmente. Apenas quando Ganguli e outros tiverem
refutado e criticado o suficiente é que teremos certeza. O fato
de os cientistas agora vasculharem o mundo atrás de
respostas me enche de esperança. Mostra como estamos
dispostos a ir longe.
21
PISTAS DA COLÔMBIA
Quando seu pai lhe comunicou o seu pavor por ter-se esquecido
até dos fatos mais impressionantes da sua infância, Aureliano
lhe explicou o seu método, e José Arcadio Buendía o pôs em
prática para toda a casa e mais tarde o impôs a todo o povoado.
Com um pincel cheio de tinta, marcou cada coisa com o seu
nome: mesa, cadeira, relógio, porta, parede, cama, panela. Foi ao
curral e marcou os animais e as plantas: vaca, cabrito, porco,
galinha, aipim, taioba, bananeira. Pouco a pouco, estudando as
infinitas possibilidades do esquecimento, percebeu que podia
chegar um dia em que se reconhecessem as coisas pelas suas
inscrições, mas não se recordasse a sua utilidade. Então foi mais
explícito. O letreiro que pendurou no cachaço da vaca era uma
amostra exemplar da forma pela qual os habitantes de Macondo
estavam dispostos a lutar contra o esquecimento: Esta é a vaca,
tem-se que ordenhá-la todas as manhãs para que produza o
leite e é preciso ferver para misturá-lo com o café e fazer café
com leite. Assim, continuaram vivendo numa realidade
escorregadia, momentaneamente capturada pelas palavras, mas
que fugiria sem remédio quando esquecessem os valores da letra
escrita.*
O LEGADO DO ALZHEIMER
Capítulo 4: Diagnóstico
1. PRINCE, WIMO et al., “World Alzheimer Report 2015”.
2. Departamento de Saúde do Reino Unido, Dementia, p. 6.
3. PRINCE, BRYCE e FERRI, “The Benefits of Early Diagnosis and
Intervention”.
Capítulo 9: Estresse
1. MCEWEN e GIANAROS, “Stress-and Allostasis-Induced Brain
Plasticity”; MARCELLO, GARDONI, DI LUCA, “Alzheimer’s Disease and
Modern Lifestyle”.
2. MCEWEN e GIANAROS, “Central Role of the Brain in Stress and
Adaptation”.
3. GANZEL, KIM et al., “Resilience after 9/11”.
4. YAFFE, VITTINGHOFF et al., “Post-Traumatic Stress Disorder and
Risk of Dementia among U.S. Veterans”.
5. CSERNANSKY, DONG et al., “Plasma Cortisol and Progression of
Dementia in Subjects with Alzheimer-Type Dementia”.
6. WILSON, BARNES et al., “Proneness to Psychological Distress and
Risk of Alzheimer Disease in a Biracial Community”.
7. WILSON, ARNOLD et al., “Chronic Psychological Distress and Risk of
Alzheimer’s Disease in Old Age”.
8. BAGLIETTO-VARGAS, CHEN et al., “Short-Term Modern Life-Like
Stress Exacerbates Abeta-Pathology and Synapse Loss in 3XTG-AD
Mice”.
9. SELYE, The Stress of Life, p. 247.
E-Lilly 239
“E4tristas” 98, 186
EEB (encefalopatia espongiforme bovina) 197-8, 201
efeito do observador 147
efeito Hawthorne 147
“Efeito Avó” 237
Eisai 240-1
Elan 110-1
emaranhados: células-tronco 162;
curcumina 251-2;
descoberta 10, 21, 29;
estrutura 10, 21, 29;
formação 10, 21, 29, 33, 37-9, 41;
hipótese da deficiência mitocondrial 98;
ponto de vista de Summers 53-4;
processo normal de envelhecimento 27, 39, 236;
TAU 99, 171;
ver também beta-amiloide
emoção: córtex cerebral 46-7;
exercício 126;
memória 49, 219
Emperor of All Maladies, The (Mukherjee) 9
encefalopatia espongiforme bovina (EEB) 197-8, 201
encefalopatia traumática crônica 120
England’s Saracens (rúgbi) 120
envelhecimento: ampliar a abrangência da saúde 187;
DA como forma acelerada 236-7;
encolhimento normal do cérebro 10, 39, 142;
modelos animais 170-1;
qualidade de vida 124, 187;
teoria grega 178
envelhecimento da população 9-10, 12, 42, 146
enzimas: BACE 239-41;
Cas9 273
eotaxina 181
epidemiologia 143, 268
epilepsia 204, 259
escala de neuroticismo 134-5
esclerose múltipla 104
“escolha de Hobson” 83
escopolamina 48-51
escrita: “distúrbio amnésico de escrita” 27
esfregaço 232
espiroquetas 139
esquecimentos: processo normal de envelhecimento 39-40
Esquirol, Jean-Étienne 23
esquizofrenia 236
Estados Unidos: comparações populacionais 243-4;
Lei da Pesquisa sobre o Envelhecimento 48
estatinas 225
esterilização de instrumentos 105, 198-9
estresse 13-5, 131-40, 156, 238
ética 257, 274
eugenia 30
European Medicines Agency (EMA) 110
European Prevention of Alzheimer’s Disease (EPAD) 272
evidências episódicas 188
evolução 236, 260, 270
exames de sangue 68
exercício 22, 132, 141-4, 150, 156
expectativa de vida: abrangência da saúde 187;
aumento 7-8;
Índia 248;
Suécia 124
Halabja, Curdistão 52
Hallett, Penelope 172-3
Hardy, John 92-5, 99-101, 108-9, 113-4, 167, 234
Hartley, David 23
Harvard University 172, 178-9, 190
Heston, Leonard 77-9
hipertensão 141
hipocampo: astrócitos 103-4;
barreira hematoencefálica 138;
BDNF 142;
células-tronco neurais (CTNs) 181;
condicionamento do medo 220;
diagnóstico da DA 71;
estresse 134;
exercício 142;
gene SEMA3C 209;
giro denteado 180;
localização 46;
memória 10, 46, 49, 66, 134, 138, 173, 180, 207, 209, 259;
mutação Paisa 255, 259;
placas 10;
teoria do príon 192
Hipócrates 137
hipotálamo 46
hipótese da deficiência mitocondrial 98
hipótese ou modelo de potenciação de longo prazo (LTP) 49-
50, 180-1, 236
hipótese TAU 100-1
hipotireoidismo 53
HIV 106-7, 198-9, 271
Hoche, Alfred 29-30
Hock, Christopher 112
Holstein, Judy 126
Holtzman, David 154-6
home care 146
hóquei 119-20
hormônio de crescimento da pituitária 195-6
Horton, Richard 200
Hospital Bicêtre (Paris) 23
Hospital Mental de Frankfurt 20, 24, 27
Hospital Mölndal (Gotemburgo) 117-8
Hospital Nacional de Neurologia e Neurocirurgia (Londres)
268
Hospital para Insanos e Epilépticos de Frankfurt 20, 24-7, 193
Hospital St. Mary (Londres) 77, 81, 85-7
Huntley, Victoria 166-8, 170-1, 174-5, 183, 219, 241
Hussein, Saddam 53
Hutchings, Richard 35
Sobre o autor
Joseph Jebelli fez doutorado em Neurobiologia na University
College London. Ele mora na Inglaterra e o foco de sua pesquisa
continua sendo o Alzheimer.
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