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Prof.

José Maria
DIREÇÃO FINAL – Língua Portuguesa p/ PRF em 2 aulas Aula 00

Aula 01
Aula 09 – Tipologia Textual e
DIREÇÃO FINAL – LÍNGUA PORTUGUESA
Significação
P/ PRF
de Palavras
Língua Portuguesa
Prof. José Maria C.p/Torres
IBGE
Prof. José Maria C. Torres
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Aula 09

Olá, meus amigos!


Prontos para mais uma aula?

Moçada, estamos pertinho do final de nosso curso de Português!


Os assuntos que vêm a seguir são, de certa forma, leves. Trata-se de Tipologia Textual e Noções de
Semântica. Peço que vocês privilegiem os exercícios, para que esses conteúdos sejam mais facilmente
assimiláveis.

É a reta final, moçada! Não vamos fraquejar justamente agora, hein?


Vamos que vamos!
Uma excelente aula a todos! Bom proveito!

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Sumário
SUMÁRIO.......................................................................................................................................................3

RECONHECIMENTO DE TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS. .................................................................................. 4

TIPO NARRATIVO........................................................................................................................................................ 5
Elementos da Narrativa ........................................................................................................................................ 5
Principais Gêneros Narrativos .............................................................................................................................. 10
Tipos de Discurso ................................................................................................................................................ 13
TIPO DESCRITIVO...................................................................................................................................................... 17
TIPO DISSERTATIVO-EXPOSITIVO ............................................................................................................................... 18
TIPO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO ....................................................................................................................... 19
Principais Gêneros Argumentativos ..................................................................................................................... 21
TIPO INJUNTIVO ....................................................................................................................................................... 23

SEMÂNTICA – SIGNIFICAÇÃO DE PALAVRAS ................................................................................................ 26

Sinonímia e Antonímia ........................................................................................................................................ 26


Polissemia .......................................................................................................................................................... 29
Significação Contextual....................................................................................................................................... 29
Significação literal x não literal ............................................................................................................................ 30
Efeito de Sentido ................................................................................................................................................. 30
Pressupostos ...................................................................................................................................................... 30
Subentendidos .................................................................................................................................................... 31
Compatibilidade e Incompatibilidade Semântica .................................................................................................. 31
Hipônimos e Hiperônimos .................................................................................................................................... 32

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................... 33

LISTA DE QUESTÕES ................................................................................................................................... 67

GABARITO ................................................................................................................................................... 91

RESUMO DIRECIONADO .............................................................................................................................. 92

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Reconhecimento de Tipos e Gêneros Textuais.


No processo de comunicação, há diversos padrões textuais, cada um com sua peculiaridade. E a criação
desses padrões se dá de forma contínua. Há pouco tempo, por exemplo, não existia o tuíte, nome dado a um
microtexto com limitante de caracteres, cuja principal característica é a concisão (capacidade de sintetizar). Dessa
forma, a lista de textos existentes ou ainda por vir não se exaure. Textos nascem e morrem num processo dinâmico.
Embora em número incalculável, é possível reunir os vários textos existentes em TIPOS, que nada mais são
que agrupamentos de textos que possuem características associadas à linguagem e à estrutura em comum.

Como assim, professor?


Vou dar um exemplo para vocês! O que uma fábula, uma notícia, uma crônica ou um conto possuem em
comum? Ora, todos eles contam uma história, possuem personagens, situam-se em um tempo e em um espaço e
apresentam uma sucessão de fatos. Esses elementos comuns fazem com que reunamos esses textos no TIPO
TEXTUAL NARRATIVO (a ser detalhado a seguir).
Cada TIPO TEXTUAL reúne vários GÊNEROS TEXTUAIS.
O que seriam GÊNEROS, professor?

Os GÊNEROS são especificidades encontradas dentro de cada TIPO, que particularizam aquele padrão de
texto. Por exemplo, a fábula é um texto do TIPO NARRATIVO. Difere-se dos demais textos narrativos, por
apresentar algumas especificidades: seus protagonistas são bichos personificados e seu desfecho tem finalidade
moralizante, ou seja, tem por objetivo transmitir um aprendizado.

No mundo dos concursos, esse assunto é cobrado de forma tímida, ocupando uma ou outra questão da nossa
prova. Como não abrimos mão de nenhuma questão, é dever nosso mapear mais esse assunto. Mas acalmo todos
vocês, já cansados dessa longa jornada: trata-se de um assunto leve, de fácil assimilação, vocês vão ver.

As provas, no geral, concentram sua atenção no TIPO TEXTUAL, mais precisamente em sua identificação e
caracterização. Isso posto, vamos detalhar cada um deles a seguir.

Podemos listar 5(cinco) tipos de texto principais, a saber:


- Texto Narrativo;

- Texto Descritivo;

- Texto Dissertativo - Expositivo ou Argumentativo;

- Texto Injuntivo – Instrucional ou Prescritivo

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Tipo Narrativo
Trata-se de tipo textual em que se conta um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e
lugar, envolvendo personagens e um narrador. Há uma relação de anterioridade e posterioridade nesse tipo
texto, principal característica desse tipo textual.
Por meio dessa definição, é possível listar os componentes de um texto narrativo. É o que faremos a seguir.

Elementos da Narrativa

Enredo

Trata-se do desenrolar dos acontecimentos. As narrativas apresentam, em geral, uma situação inicial
harmoniosa e equilibrada. Num determinado momento, o equilíbrio será quebrado e aparecerá o CONFLITO. O
ponto culminante desse “desequilíbrio” é chamado CLÍMAX. Quando os acontecimentos não se desenrolam do
modo como se esperava, frustrando a expectativa do leitor, temos um ANTICLÍMAX. O enredo pode ser LINEAR,
quando obedece a uma ordem cronológica (início – meio - fim), ou NÃO LINEAR, quando a ordem dos fatos é
quebrada, ocorrendo saltos ao longo da narrativa.

Ambiente ou Espaço

É o cenário onde se desenrolam os acontecimentos.

Personagens:

São os seres que atuam, que vivem o enredo; definem-se por PROTAGONISTAS os personagens principais
da história, e por PERSONAGENS SECUNDÁRIOS os demais. Há ainda a figura do ANTAGONISTA, elemento
que se opõe ao protagonista.

IMPORTANTE
Para ser personagem, é preciso que o elemento se comporte como persona, ou seja, que ele seja personificado
com ações e comportamentos humanos. Não precisa ser obrigatoriamente um humano, mas deve se comportar
como tal.

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Tempo

A sucessão dos fatos e acontecimentos numa narrativa pode ser organizada de duas formas: cronológica,
seguindo a ordem natural dos acontecimentos, e acronológica, invertendo a ordem de apresentação dos fatos.
Assim, o tempo na narrativa pode seguir ou não a sequência dos fatos narrados ou ainda criar recuos de memória,
como o flashback, com o intuito de enfatizar algumas ações do texto. Além disso, do ponto de vista dos
acontecimentos, podemos distinguir dois tipos de tempo:
a) Tempo Cronológico ou Exterior

É o marcado pelo relógio. É o espaço de tempo em que os acontecimentos desenrolam e os personagens


realizam suas ações. Trata-se do tempo da própria narrativa.
b) Tempo Psicológico ou Interior
Não pode ser medido como o tempo cronológico, pois se refere à vivência dos personagens, ao seu mundo
interior (sonho, lembrança, devaneio, etc.). É o tempo não da narrativa, mas sim o tempo que se passa na
cabeça do personagem.
Professor, não entendi a diferença de tempo cronológico e tempo psicológico?
Vou tentar explicar essa diferença com um exemplo bem familiar.

Imagine uma aula num preparatório para concursos em plena sexta à noite! Moçada, ninguém é de ferro,
não é mesmo? É muito provável que o tempo da narrativa – no caso, o tempo em que se desenvolve a aula – não
coincida, algumas vezes, com o tempo dos personagens alunos. O professor está falando sobre um determinado
assunto (tempo cronológico), mas, na cabeça do aluno, este já está se imaginando tomando aquela merecida
cervejinha do “SEXTOU!” (tempo psicológico).
Deu para perceber a diferença entre tempo cronológico e psicológico agora?
Quantas vezes uma pessoa fala conosco e nosso pensamento está longe, não é mesmo? É nessas situações
em que ocorre o descasamento entre o cronológico e o psicológico.
Vejamos a seguinte questão:

Caiu em prova!
Não sou de choro fácil a não ser quando descubro qualquer coisa muito interessante sobre ácido
desoxirribonucleico. Ou quando acho uma carta que fale sobre a descoberta de um novo modelo para a estrutura
do ácido desoxirribonucleico, uma carta que termine com “Muito amor, papai”. Francis Crick descobriu o desenho
do DNA e escreveu a seu filho só para dizer que “nossa estrutura é muito bonita”. Estrutura, foi o que ele falou.
Antes de despedir-se ainda disse: “Quando chegar em casa, vou te mostrar o modelo”. Não esqueça os dois
pacotes de leite, passe para comprar pão, guarde o resto do dinheiro para seus caramelos e, quando chegar, eu
mostro a você o mecanismo copiador básico a partir do qual a vida vem da vida.
Não sou de choro fácil, mas um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções genéticas que
coordenam o desenvolvimento e o funcionamento de todos os seres vivos me comove. Cromossomas me animam,
ribossomas me espantam. A divisão celular não me deixa dormir, e olha que eu moro bem no meio das montanhas.

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De vez em quando vejo passarem os aviões, mas isso nunca acontece de madrugada — a noite se guarda toda para
o infinito silêncio.

Acho que uma palavra é muito mais bonita do que uma carabina, mas não sei se vem ao caso. Nenhuma palavra
quer ferir outras palavras: nem desoxirribonucleico, nem montanha, nem canção. Todos esses conceitos têm os
seus sinônimos, veja só, ácido desoxirribonucleico e DNA são exatamente a mesma coisa, e os do resto das
palavras você acha. É tudo uma questão de amor e prisma, por favor não abra os canhões. Que coisa mais linda
esse ácido despenteado, caramba. Olhei com mais atenção o desenho da estrutura e descobri: a raça humana é
toda brilho.
Matilde Campilho. Notícias escrevinhadas na beira da estrada. In: Jóquei. São Paulo: Editora 34, 2015, p. 26-7 (com
adaptações).

Julgue o item, a seguir, com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto, no qual a autora Matilde
Campilho aborda a descoberta, em 1953, da estrutura da molécula do DNA, correalizada pelos cientistas James
Watson e Francis Crick.

Pode-se inferir da ausência de aspas e do estilo característico do texto que a passagem “Não esqueça os dois
pacotes de leite (...) a partir do qual a vida vem da vida” é uma extrapolação imaginativa da autora a partir da
carta escrita por Francis Crick a seu filho.
( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO:
Note que a autora, no início do texto, faz menção a uma carta enviada ao filho pelo cientista que descobriu a
estrutura do DNA. Reproduz passagens do texto dessa carta entre aspas, como “Muito amor, papai”, “nossa
estrutura é muito bonita” e “Quando chegar em casa, vou te mostrar o modelo”.
A autora demonstra admiração com o tom informal e familiar com que é reportada uma das maiores descobertas
do século, numa conversa comum entre pai e filho.
Na sequência, a autora, em tom bem-humorado, imagina a continuidade da carta, fazendo referência a possíveis
falas do cientista para seu filho. Fica bem claro que se trata de um devaneio da autora (tempo psicológico), e não
de uma citação, pois o trecho em destaque, diferentemente das citações anteriores, não está isolado por aspas. É
a pista que nos permite concluir que a passagem “Não esqueça os dois pacotes de leite (...) a partir do qual a vida
vem da vida” é uma extrapolação da imaginação da autora.

Resposta: CERTO

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Narrador

Um dos elementos fundamentais da narrativa é o FOCO NARRATIVO, que pode aparecer em PRIMEIRA
OU TERCEIRA PESSOA. O narrador em PRIMEIRA PESSOA participa da história, por isso é chamado de
NARRADOR-PERSONAGEM; o de TERCEIRA, por outro lado, não faz parte do enredo como personagem, sendo,
portanto, um NARRADOR-OBSERVADOR.
Nas narrativas em terceira pessoa, é importante observar que há diferentes formas de o narrador apresentar
os fatos. Muitas vezes, ele pode ter conhecimento de toda a história, das ações, pensamentos e intenções de seus
personagens, chegando até a emitir juízos de valor e a discutir conceitos, ou seja, está em toda parte, a todo
momento. Nem sempre, entretanto, o narrador dispõe de todas as informações, ou até mesmo pode não querer
transmiti-las ao leitor. No primeiro caso, o narrador é ONISCIENTE, enquanto no segundo, é denominado apenas
OBSERVADOR.

Por ser personagem da história que conta, o narrador de PRIMEIRA PESSOA nos apresenta a sua versão dos
fatos, isto é, NÃO É UM NARRADOR ONISCIENTE, já que sua visão dos fatos é parcial.

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Exemplo de Texto Narrativo

O casal chegou à cidade tarde da noite. Estavam cansados da viagem; ela, grávida, não se sentia bem. Foram
procurar um lugar onde passar a noite. Hotel, hospedaria, qualquer coisa serviria, desde que não fosse muito caro.
Não seria muito fácil, como eles logo descobriram. No primeiro hotel, o gerente, homem de maus modos, foi logo
dizendo que não havia lugar. No segundo, o encarregado da portaria olhou com desconfiança o casal e resolveu pedir
documentos. O homem disse que não tinha; na pressa da viagem esquecera os documentos.
O viajante tomou a esposa pelo braço e seguiu adiante. No terceiro hotel também não havia vagas. No quarto –
que era mais uma modesta hospedaria – havia, mas o dono desconfiou do casal e resolveu dizer que o estabelecimento
estava lotado. No hotel seguinte também não havia vaga, e o gerente, metido a engraçado, disse para hospedarem-
se ali perto numa manjedoura, pois, apesar de não ser confortável, não pagariam diária. Para surpresa do gerente, o
viajante achou a ideia boa e até agradeceu.
Não demorou muito, apareceram os três reis magos, perguntando sobre um casal de forasteiros. E foi aí que o
gerente começou a achar que talvez tivesse perdido os hóspedes mais importantes já chegados a Belém de Nazaré.
(SCLIAR, Moacyr. A massagista japonesa. Porto Alegre: L&PM, 1984, p. 49-50 )

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COMENTÁRIOS: Observe que ocorre uma sucessão de fatos no texto acima, marcando uma relação de
anterioridade e posterioridade, principal característica dos textos de caráter narrativo.

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Veja a seguir uma inusitada sequência de acontecimentos fictícios, apresentados de forma linear. Note a
presença de um ANTICLÍMAX em seu desfecho! ;-(

Caiu em prova!
Eis que se inicia então uma das fases mais intensas na vida de Geraldo Viramundo: sua troca de correspondência
com os estudantes, julgando estar a se corresponder com sua amada. E eis que passo pela rama nesta fase de meu
relato, já que me é impossível dar a exata medida do grau de maluquice que inspiraram tais cartas: infelizmente se
perderam e de nenhuma encontrei paradeiro, por maiores que tenham sido os meus esforços em rebuscar
coleções, arquivos e alfarrábios em minha terra. Sou forçado, pois, a limitar-me aos elementos de que disponho,
encerrando em desventuras as aventuras de Viramundo em Ouro Preto, e dando viço às suas peregrinações.
Fernando Sabino. O grande mentecapto. 62.ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.

A presença de um narrador é um dos elementos textuais que permitem classificar o texto como narrativo.
( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:

De fato! O texto traz um narrador- personagem – foco narrativo em 1ª pessoa.

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Além do elemento narrador, é possível identificar personagens (Geraldo Viramundo e o próprio narrador),
tempo (uma das fases mais intensas na vida de Geraldo Viramundo), espaço (Ouro Preto) e enredo (as aventuras
de Viramundo em Ouro Preto).
Resposta: CERTO

Principais Gêneros Narrativos


São vários os gêneros narrativos, cada um com suas peculiaridades. Como dito, as provas focam atenção no
reconhecimento dos tipos, e não dos gêneros. Portanto, apenas registremos as principais características dos
principais gêneros narrativos:

Conto

A característica maior do conto é produzir em quem o lê um efeito de impacto. Esse efeito tanto pode
resultar da natureza insólita do que foi contado, da feição surpreendente do episódio ou do modo como foi
contado. A surpresa e o incomum estão presentes no conto, o que lhe dá, muitas vezes, um caráter ficcional.

Crônica

A crônica trata de fatos do cotidiano com o objetivo de despertar no leitor uma reflexão. Ironia, sarcasmo,
crítica e, algumas vezes, humor são ingredientes desse texto. Os fatos cotidianos alvos da crônica podem ser
extraídos do noticiário e da vida comum das pessoas, o que confere a esse gênero um tom de realidade, diferindo-
a, assim, do conto. No entanto, esse retrato não é fiel, pois é carregado de subjetividade. Trata-se de uma visão
subjetiva da realidade.

Exemplo de Crônica
Aquele era meu primeiro dia num novo apartamento, eu havia pedido folga no trabalho e, durante toda a manhã,
arrumei meus móveis e objetos. O cansaço e a dor nas costas me tomaram todo o ânimo que tinha para preparar o
jantar. Decidi pedir uma pizza e, enquanto esperava, fui observar o mundo através da janela do meu quarto.
Deparei-me com uma situação que revelava os contrastes de nosso país entre ricos e pobres, entre pequenos e
grandes, mas principalmente entre miseráveis e ambiciosos. Por trás do prédio onde morava, havia uma rua não muito
movimentada, não existiam muitas casas, talvez umas três ou quatro, apenas. Havia um imenso condomínio, posso
dizer que de classe alta, onde entravam e saíam pessoas da elite do Rio de Janeiro.
Um pouco afastada do prédio, havia uma casa de aparência humilde. Até que um homem, que se vestia de forma
maltrapilha, saiu daquele lugar e foi em direção à porta do condomínio. Não estava entendendo, até que um carro de
luxo entrou na rua e seguiu até a porta do condomínio, buzinando e esperando que o portão fosse aberto. O homem
aproximou-se daquele automóvel e estendeu as mãos. O portão se abriu e o carro entrou. Aquela situação repetiu-se
várias vezes.
Depois de quase meia hora, aquele pobre senhor voltou à sua casa sem nada nas mãos, mas, mesmo assim,
colocou um sorriso no rosto ao ver sua esposa com uma criança nos braços sorrindo. Ambos entraram. Percebi, então,
que as desigualdades de nosso país vão muito além dos meios de comunicação. A campainha tocou. A pizza acabara
de chegar e eu havia perdido a fome.

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Notícia

A notícia é um texto narrativo que tem como objetivo relatar fatos de forma objetiva, impessoal e imparcial.
Não há interpretação ou questionamento de fatos, e sim sua simples exposição. O autor não se posiciona
diante de um assunto nem emite juízos de valor. Pelo menos, não deveria.

Apresenta alguns elementos estruturais que a particularizam, como a manchete – que corresponde ao título
e deve ser o mais objetivo possível, de preferência uma frase simples, com uma única oração – e a lide (do inglês lead)
– que corresponde ao primeiro parágrafo do texto e consiste nas respostas às seguintes perguntas: quê, quem, onde,
quando, como e por quê?
Na notícia, o relato deve ser linear (começo, meio e fim, nessa ordem) a pessoa gramatical empregada deve
ser a 3ª pessoa, adquirindo o narrador a função de mero observador, não sendo permitido seu relato como
personagem da narrativa, o que impediria o texto de ser impessoal.

Fábula

A fábula é uma narrativa em que os personagens são animais personificados, isto é, comportam-se como
humanos nos atos e na maneira de pensar. Assim, os animais, nas fábulas, tornam-se exemplos para o ser humano.
Cada bicho simboliza algum aspecto ou qualidade do homem. O leão, por exemplo, representa a força; a raposa,
a astúcia; a formiga, o trabalho, etc.

Muito se utiliza a fábula para fins educacionais, dado o seu caráter didático. Esse caráter está ligado a um
ensinamento (uma lição) presente na conclusão do texto. É a chamada MORAL, que pode se apresentar explícita
ou implícita.

Exemplo de Fábula
Os Três Leões
Numa determinada floresta havia 3 leões. Um dia o macaco, representante eleito dos animais súditos, fez uma
reunião com toda a bicharada da floresta e disse:
- Nós, os animais, sabemos que o leão é o rei dos animais, mas há uma dúvida no ar: existem 3 leões fortes. Ora,
a qual deles nós devemos prestar homenagem? Quem, dentre eles, deverá ser o nosso rei?

Os 3 leões souberam da reunião e comentaram entre si:


- É verdade, a preocupação da bicharada faz sentido, uma floresta não pode ter 3 reis, precisamos saber qual de
nós será o escolhido. Mas como descobrir?
Essa era a grande questão: lutar entre si eles não queriam, pois eram muito amigos. O impasse estava formado.
De novo, todos os animais se reuniram para discutir uma solução para o caso. Depois de muito tempo eles tiveram uma
ideia excelente.
O macaco se encontrou com os 3 felinos e contou o que eles decidiram:

- Bem, senhores leões, encontramos uma solução desafiadora para o problema. A solução está na Montanha
Difícil.
- Montanha Difícil ? Como assim ?

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- É simples, ponderou o macaco. Decidimos que vocês 3 deverão escalar a Montanha Difícil. O que atingir o pico
primeiro será consagrado o rei dos reis.

A Montanha Difícil era a mais alta entre todas naquela imensa floresta. O desafio foi aceito. No dia combinado,
milhares de animais cercaram a Montanha para assistir a grande escalada.
O primeiro tentou. Não conseguiu. Foi derrotado.
O segundo tentou. Não conseguiu. Foi derrotado.

O terceiro tentou. Não conseguiu. Foi derrotado.


Os animais estavam curiosos e impacientes, afinal, qual deles seria o rei, uma vez que os 3 foram derrotados? Foi
nesse momento que uma águia sábia, idosa na idade e grande em sabedoria, pediu a palavra:
- Eu sei quem deve ser o rei. Todos os animais fizeram um silêncio de grande expectativa.

Todos gritaram para a Águia:


- A senhora sabe, mas como sabe?
- É simples... eu estava voando entre eles, bem de perto e, quando eles voltaram fracassados para o vale, eu
escutei o que cada um deles disse para a montanha.
O primeiro leão disse:
- Montanha, você me venceu!
O segundo leão disse:

- Montanha, você me venceu!


O terceiro leão também disse que foi vencido, mas, com uma diferença. Ele olhou para sua dificuldade e disse:
- Montanha, você me venceu, por enquanto! Mas você, montanha, já atingiu seu tamanho final, e eu ainda estou
crescendo.
E calmamente a águia completou:
- A diferença é que o terceiro leão teve uma atitude de vencedor diante da derrota e quem pensa assim é maior
que seu problema: é rei de si mesmo, está preparado para ser rei dos outros!

Os animais da floresta aplaudiram entusiasticamente ao terceiro leão que foi coroado rei entre os reis.

Apólogo

O apólogo é uma narrativa breve como a fábula que contém um ensinamento ou crítica a determinado
comportamento humano. No entanto seus personagens não são animais, e sim objetos inanimados aos quais se
atribuem qualidades humanas.
A literatura brasileira possui "Um Apólogo" célebre, escrito por Machado de Assis, em que uma agulha
discute com uma linha sobre qual das duas é mais importante na vida. No fim, a agulha descobre que só abre
caminho para a linha passar e escuta o conselho irônico de um alfinete: "Faze como eu, que não abro caminho para
ninguém. Onde me espetam, fico".

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Parábola

A parábola faz comparações entre realidades aparentemente diferentes para explicar uma ideia. Apresenta
situações vividas por seres humanos, de natureza moral e religiosa.
As doutrinas religiosas utilizam-se muito desta forma figurada para passar seus ensinamentos. São célebres
as parábolas com que Jesus Cristo se comunica com o povo e com seus apóstolos, no Novo Testamento, em
especial nos Evangelhos de São Mateus e São Marcos.

Exemplo de Parábola
O MONGE MORDIDO
Um monge e seus discípulos iam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo
arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o bichinho na mão. Quando o
trazia para fora do rio o escorpião o picou.
Devido à dor, o monge deixou-o cair novamente no rio. Foi então à margem, pegou um ramo de árvore, voltou
outra vez a correr pela margem, entrou no rio, resgatou o escorpião e o salvou. Em seguida, juntou-se aos seus
discípulos na estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.
— Mestre, o Senhor deve estar muito doente! Por que foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse!
Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda: picou a mão que o salvava! Não merecia sua compaixão!

O monge ouviu tranquilamente os comentários e respondeu: — Ele agiu conforme sua natureza e eu, de acordo
com a minha.

Tipos de Discurso

O discurso é o recurso narrativo utilizado para exprimir o pensamento das personagens.


No DISCURSO DIRETO, o narrador dá a palavra à personagem através dos chamados verbos de elocução
ou dicendi: dizer, perguntar, responder, concordar, exclamar, entre outros.
Exemplo:
Fabio, sentado à mesa para o jantar, gritava:
– Nunca comerei alface!

Atente para a utilização dos sinais gráficos próprios do discurso direto: os dois-pontos, o travessão e as
aspas.
Já no DISCURSO INDIRETO, o narrador toma a palavra para reproduzir a fala de suas personagens.
Exemplo:

Sentado à mesa para o jantar, Fabio gritava QUE jamais comeria alface.
Observe que, na mudança do discurso direto para o indireto, houve alteração do tempo verbal, recurso
necessário para que haja uma melhor correspondência entre as frases. Além disso, fizemos uso da conjunção
integrante QUE para introduzir o discurso.

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Isso significa que, na transcrição indireta do discurso, há modificações em algumas estruturas gramaticais,
como no tempo verbal (quero, queria; roubei, tinha roubado), nos pronomes (deste, daquele), etc. As questões,
muitas vezes, solicitam para o aluno a correspondente frase convertida do discurso direto para o indireto. Para
fazer isso, devemos mapear as mudanças que se fazem necessárias. Confira a tabela a seguir:

DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO


Enunciado em primeira ou em segunda Enunciado em terceira pessoa:
pessoa: O detento disse que (ele) não confiava mais
"Eu não confio mais na Justiça"; "Delegado, na Justiça; Logo depois, perguntou ao
o senhor vai me prender?" delegado se ele ia prendê-lo.

DISCURSO INDIRETO
DISCURSO DIRETO
Verbo no pretérito imperfeito do
Verbo no presente: indicativo:
"Eu não confio mais na Justiça." O detento disse que não confiava mais na
Justiça.

DISCURSO INDIRETO
DISCURSO DIRETO Verbo no pretérito mais-que-perfeito
Verbo no pretérito perfeito: composto ou no pretérito mais-que-
perfeito simples:
"Eu não roubei nada"
O acusado defendeu-se, dizendo que não
tinha roubado (que não roubara) nada

DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO


Verbo no futuro do presente: Verbo no futuro do pretérito:
"Faremos justiça de qualquer maneira" Declararam que fariam justiça de qualquer
maneira.

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DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO


Verbo no imperativo: Verbo no pretérito imperfeito do
subjuntivo:
"Saia da delegacia", disse o delegado ao
promotor. O delegado ordenou ao promotor que saísse
da delegacia.

DISCURSO DIRETO
DISCURSO INDIRETO
Pronomes este, esta, isto, esse, essa,
isso: Pronomes aquele, aquela, aquilo:
"Estou aproveitando este momento", disse o O artilheiro do time disse que estava
artilheiro do time. aproveitando aquele momento.

DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO


Advérbio aqui: Advérbio ali:
"Eu voltei para ficar, pois aqui é o meu lugar", Roberto Carlos disse em sua famosa canção
disse Roberto Carlos em sua famosa canção. que tinha voltado para ficar, pois ali era o seu
lugar.

Caiu em prova!
Em Knoxville, Tennessee, um policial relatou: “Estou com um homem cujo carro foi roubado. Ele viu uma fibra vermelha
no banco traseiro e quer que eu descubra de onde ela veio, em que loja foi comprada e qual cartão de crédito foi usado”.
Considere que o delegado de polícia tivesse de relatar o acontecimento acima mencionado em documento
destinado ao Ministério Público. Nesse caso, o policial deveria incluir no documento o seguinte trecho, que
mantém a correção gramatical e os sentidos originais do texto: O policial relatou que estava com um homem
cujo carro fora roubado e que tal homem, tendo visto uma fibra vermelha no banco traseiro, queria que ele, o
policial, descobrisse de onde a fibra havia vindo, em que loja havia sido comprada e qual cartão de crédito havia
sido usado na compra.

( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
Destaquemos o seguinte fragmento de texto:
“Estou com um homem cujo carro foi roubado. Ele viu uma fibra vermelha no banco traseiro e quer que eu descubra de
onde ela veio, em que loja foi comprada e qual cartão de crédito foi usado”.

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Esse trecho está reproduzido em discurso direto. Ao redigir o documento, o delegado deve reproduzir esse trecho
em discurso indireto, relatando ao Ministério Público o que ocorrera.

Lembremo-nos de que, no discurso direto, são reproduzidas fielmente as falas dos personagens e estas são
identificadas no texto por meio de sinais de pontuação, como travessões, aspas, dois pontos e pelos chamados
verbos dicendi (verbos que introduzem falas), como “dizer”, “falar”, etc.
Já no discurso indireto, as falas dos personagens são reproduzidas pelo narrador, que diz com suas palavras o que
os personagens disseram.
Devem-se observar as seguintes alterações na conversão do discurso direto para o indireto:
1) Deve-se iniciar a frase com "O policial relatou que", observando-se a inserção da conjunção integrante "que" e
do verbo “relatar” na forma pretérita;

2) A 1a pessoa do singular "Eu", presente no discurso direto, converte-se na 3a pessoa "Ele", no discurso indireto;
3) O presente do indicativo "estou" e “quer”, presente no discurso direto, converte-se no pretérito imperfeito do
indicativo "estava" e “queria”, no discurso indireto;

4) O pretérito perfeito do indicativo "foi", presente no discurso direto, converte-se no pretérito mais que perfeito
"fora" ou "havia/tinha sido";
5) O presente do subjuntivo "descubra”, presente no discurso direto, converte-se no pretérito imperfeito do
subjuntivo "descobrisse", no discurso indireto;

Observemos as transformações ocorridas:


Discurso Direto:
Estou com um homem cujo carro foi roubado. Ele viu uma fibra vermelha no banco traseiro e quer que eu descubra de
onde ela veio, em que loja foi comprada e qual cartão de crédito foi usado”.
Discurso Indireto:
O policial relatou que estava com um homem cujo carro fora roubado e que tal homem, tendo visto uma fibra vermelha
no banco traseiro, queria que ele, o policial, descobrisse de onde a fibra havia vindo, em que loja havia sido comprada
e qual cartão de crédito havia sido usado na compra.
Resposta: CERTO

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Tipo Descritivo
Um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe
de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa abordagem mais
abstrata, pode-se até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterioridade,
diferentemente do texto narrativo.

Há basicamente dois tipos de descrição: a objetiva e a subjetiva.


Descrição denotativa: acontece quando a exposição da pessoa, objeto ou lugar é realizada de maneira
objetiva, direta, sem uso de metáforas ou de linguagem figurada. As palavras surgem no seu sentido literal,
do dicionário. Este tipo de descrição é comum em textos científicos, em livros didáticos, nas bulas de remédio ou
manuais de instrução. É chamada também de objetiva.
Descrição conotativa: acontece quando as palavras são empregadas no seu sentido simbólico, figurado. A
pessoa, objeto ou lugar não é descrito de forma como é na realidade, mas em uma pseudorrealidade. O uso da
imaginação é evidenciado! É conhecida também como subjetiva.
Geralmente, a descrição está presente em uma narração, sendo um de seus elementos.
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Exemplo de Texto Descritivo

“Ali naquela casa de muitas janelas e bandeiras coloridas vivia Rosalina. Casa de gente de casta, segundo eles
antigamente. Ainda conserva a imponência e o porte senhorial, o ar solarengo que o tempo de todo não comeu. As
cores das janelas e da porta estão lavadas de velhas, o reboco caído em alguns trechos como grandes placas de ferida,
mostra mesmo as pedras e os tijolos e as taipas de sua carne e ossos, feitos para durar toda a vida; vidros quebrados
nas vidraças, resultado do ataque da meninada nos dias de reinação, quando vinham provocar Rosalina ( não de
propósito e ruindade, mas sem-que-fazer de menino ), escondida detrás das cortinas e reposteiros; nos peitoris das
sacadas de ferro rendilhado, formando flores estilizadas, setas, volutas, esses e gregas, faltam muitas das pinhas de
cristal facetado cor-de-vinho que arrematavam nas cantoneiras a leveza daqueles balcões.”
(DOURADO, Autran. Ópera dos mortos. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 1975, p. 1-2. )
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Tipo Dissertativo-Expositivo
Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto dissertativo
pertence ao grupo dos textos expositivos, juntamente com o texto de apresentação científica, o relatório, o texto
didático, o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto dissertativo não está preocupado com a persuasão e sim,
com a transmissão de conhecimento, sendo, portanto, um texto informativo. Quando o texto, além de explicar,
também persuade o interlocutor e modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo-argumentativo.

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Exemplo de Texto Expositivo

A história do celular é recente, mas remonta ao passado –– e às telas de cinema. A mãe do telefone móvel é a
austríaca Hedwig Kiesler (mais conhecida pelo nome artístico Hedy Lamaar), uma atriz de Hollywood que estrelou o
clássico Sansão e Dalila (1949).
Hedy tinha tudo para virar celebridade, mas pela inteligência. Ela foi casada com um austríaco nazista fabricante
de armas. O que sobrou de uma relação desgastante foi o interesse pela tecnologia.
Já nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial, ela soube que alguns torpedos teleguiados da
Marinha haviam sido interceptados por inimigos. Ela ficou intrigada com isso, e teve a ideia: um sistema no qual duas
pessoas podiam se comunicar mudando o canal, para que a conversa não fosse interrompida. Era a base dos celulares,
patenteada em 1940.
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COMENTÁRIOS: Observe que o objetivo principal do texto é simplesmente discorrer acerca do celular, expondo
as mais diversas informações sobre ele. O texto não tem caráter persuasivo.

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Tipo Dissertativo-Argumentativo
Esse texto tem a função de persuadir o leitor, convencendo-o de aceitar uma ideia imposta pelo texto. É um
tipo textual muito presente no texto jornalístico: artigo de opinião, editorial, etc. Geralmente, esse texto mostra
fatos para embasar a argumentação, o que caracteriza o texto como dissertativo-argumentativo.
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Exemplo de Texto Argumentativo

A televisão tem uma grande influência na formação pessoal e social das crianças e dos jovens. Funciona como
um estímulo que condiciona os comportamentos, positiva ou negativamente.
A televisão difunde programas educativos edificantes, tais como o Zig Zag, os documentários sobre História,
Ciências, informação sobre a atualidade, divulgação de novos produtos…
Todavia, a televisão exerce também uma influência negativa, ao exibir modelos, cujas características são
inatingíveis pelas crianças e jovens em geral. As suas qualidades físicas são amplificadas, os defeitos esbatidos,
criando-se a imagem do herói / heroína perfeitos. Esta construção produz sentimentos de insatisfação do eu consigo
mesmo e de menosprezo pelo outro.
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COMENTÁRIOS: Observe que esse texto traz consigo uma tese, ou seja, um ponto de vista. Afirma o autor do
texto que a televisão tem uma grande influência na formação pessoal e social das crianças e dos jovens. Essa
afirmação é defendida ao longo do texto por meio de fatos e dados, que constituem seus argumentos
(justificativas).

IMPORTANTE
Nem todo texto que apresenta argumentos é necessariamente argumentativo.

O texto pode discorrer sobre um determinado tema, trazendo para conhecimento dos leitores os diversos
argumentos e pontos de vista acerca do assunto. Dessa forma, apenas expondo as opiniões, sem tomar partido de
nenhuma, o texto não será argumentativo, mas apenas expositivo.
Portanto, para ser argumentativo, é necessário identificar no texto uma tese, ou seja, um ponto de vista
próprio.

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Caiu em prova!

No que se refere à tipologia e aos sentidos do texto, julgue os próximos itens.


O texto apresentado é predominantemente descritivo, já que exemplifica uma das acepções do termo ritual.
( ) CERTO ( ) ERRADO
Comentários:

Predomina no texto não a descrição, e sim a argumentação. O autor defende a tese de que o ser humano trata o
termo ritual no dia a dia como algo formal, arcaico, sem valor.
Usa, para defender esse ponto de vista, exemplificações de situações do cotidiano.

Resposta: ERRADO

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Principais Gêneros Argumentativos


São vários os gêneros narrativos, cada um com suas peculiaridades. Como dito, as provas focam atenção no
reconhecimento dos tipos, e não dos gêneros. Portanto, apenas registremos as principais características dos
principais gêneros argumentativos:

Artigo de Opinião

O artigo de opinião é um texto argumentativo que manifesta a opinião de um articulista acerca de um


assunto da atualidade numa abordagem crítica e pessoal. Trata-se de um texto tipicamente jornalístico e versa
sobre temas da atualidade de interesse do público-leitor.

Editorial

O editorial é um texto argumentativo que manifesta a opinião de grupo jornalístico acerca de um assunto
da atualidade numa abordagem crítica. O assunto, em geral, é um tema de grande repercussão, principalmente
na imprensa.

Apresenta características muito similares a do artigo de opinião, com uma defesa mais enfática do ponto de
vista, recorrendo, muitas vezes, a conotações, perguntas retóricas, tons apelativos e a uma linguagem persuasiva.

IMPORTANTE
O editorial difere do artigo, pois não é a manifestação de uma opinião individual de um articulista (caso do
artigo), mas sim de um meio de comunicação. Quem assina um editorial é o Editor-Chefe do meio jornalístico.

Crônica-Argumentativa

A crônica-argumentativa é um texto argumentativo que manifesta a opinião de um articulista acerca de um


assunto da atualidade numa abordagem crítica e pessoal. Difere de outros textos argumentativos, na medida em
que usa fatos do cotidiano ou dos noticiários como ponto de partida para a reflexão em torno de um assunto mais
amplo.

A parte narrativa é breve, restrita a uma simples descrição do fato. Nela, o foco narrativo pode ser em 1ª ou
em 3ª pessoa. O texto concentra sua atenção, portanto, na defesa do ponto de vista em torno de um tema. Por
isso, dizemos se tratar de um texto argumentativo, pois a narrativa é reduzida a um simples fato, pretexto para
análise de um tema.

IMPORTANTE
Não se deve confundir a crônica narrativa com a argumentativa. A primeira se concentra na narração e descrição
subjetiva de um fato cotidiano, enquanto que a segunda se concentra na argumentação pessoal, sendo a narração
um simples pretexto para se analisar uma temática.

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Exemplo de Crônica-Argumentativa
Mais um dia a mesma cena: volto do trabalho final da tarde e vejo minha vizinha lavando a calçada com litros e
litros de água jorrando da mangueira. Assim como minha vizinha, outras pessoas devem fazer o mesmo, muito
provavelmente pensando que a água é um recurso infindável.

Este pensamento é muito equivocado. Mal sabem essas pessoas que apenas uma ínfima parte da água disponível
em nosso planeta é potável. Talvez o fato de o Brasil ter uma ampla bacia hidrográfica nos faça acreditar que nosso
país não está comprometido. Mas não é verdade, pois cada vez têm sido mais comum problemas de abastecimento de
água em grandes metrópoles.

O futuro não é otimista. Uma parcela mais significativa da população mundial sofrerá com racionamentos.
Especula-se que haja disputas por tal recurso por vários setores da economia e é possível que o preço da distribuição
de água se eleve consideravelmente.

Para evitar cenários caóticos, é necessário otimizar o uso da água, não se utilizando para fins fúteis como lavar
a calçada ou o carro. Para essas atividades, devemos reaproveitar a água ou, então, reciclá-la através de tratamento
adequado. Utilizar água potável com irracionalidade é a mais pura falta de sensatez.
Vou cobrar da minha vizinha essa consciência. Não podemos nos omitir esperando apenas que alguma
autoridade se pronuncie. Os diretamente afetados pela escassez de água potável somos nós.

Resenha Crítica

A resenha crítica consiste em uma análise de produção artística, em que se emitem juízos de valor acerca de
seu conteúdo e de seus elementos componentes. Difere do resumo (sinopse), pois, diferentemente deste, não tem
como objetivo simplesmente destacar os principais acontecimentos da obra, mas sim avaliar de forma crítica,
apontando qualidades e defeitos.

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Tipo Injuntivo
O texto injuntivo tem por objetivo incitar o leitor a uma ação, impondo regras (texto injuntivo-
prescritivo) ou fornecendo instruções e indicações para a realização de um trabalho ou a utilização
correta de instrumentos (texto injuntivo-instrucional). Por tal finalidade, combina com esse padrão de
texto verbos no modo imperativo. Receitas culinárias, manuais de instruções, leis, códigos de ética, entre
outros, são exemplos de textos injuntivos.

Caiu em prova!

O texto apresentado combina elementos das tipologias expositiva e injuntiva.

( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
O texto esclarece ao público o que seriam as pequenas corrupções do dia a dia, enumerando-as. Esse caráter
informativo é marca do texto de caráter expositivo. Além disso, a presença de construções imperativas, tais como
“Diga não” e “Faça sua parte” sinalizam o caráter injuntivo.
Resposta: CERTO

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IMPORTANTE
Um mesmo texto pode apresentar trechos de diversos tipos textuais. Deve-se, no entanto, verificar qual tipologia
predomina. Veja o exemplo a seguir:

******
O termo groupthinking foi cunhado, na década de cinquenta, pelo sociólogo William H. Whyte, para explicar
como grupos se tornavam reféns de sua própria coesão, tomando decisões temerárias e causando grandes
fracassos.

Os manuais de gestão definem groupthinking como um processo mental coletivo que ocorre quando os
grupos são uniformes, seus indivíduos pensam da mesma forma e o desejo de coesão supera a motivação para
avaliar alternativas diferentes das usuais. Os sintomas são conhecidos: uma ilusão de invulnerabilidade, que gera
otimismo e pode levar a riscos; um esforço coletivo para neutralizar visões contrárias às teses dominantes; uma
crença absoluta na moralidade das ações dos membros do grupo; e uma visão distorcida dos inimigos, comumente
vistos como iludidos, fracos ou simplesmente estúpidos.
Tão antigas como o conceito são as receitas para contrapor a patologia: primeiro, é preciso estimular o
pensamento crítico e as visões alternativas à visão dominante; segundo, é necessário adotar sistemas
transparentes de governança e procedimentos de auditoria; terceiro, é desejável renovar constantemente o grupo,
de forma a oxigenar as discussões e o processo de tomada de decisão.

******
Observemos que a sequência narrativa inicial, relatando a origem do termo "groupthinking", não caracteriza o
texto como narrativo, pois integra a organização do texto predominantemente argumentativo.
Para que diagnostiquemos qual tipologia predomina, devemos questionar qual o objetivo principal do texto: se
este é relatar um fato, então se trata de um texto predominantemente narrativo; se é explicar algo, então se
trata de um texto predominantemente expositivo; se é defender um posicionamento, trata-se de um texto
predominantemente argumentativo, ...

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TEXTO NARRATIVO
O objetivo principal de um texto predominantemente NARRATIVO é
CONTAR UMA HISTÓRIA, RELATAR UM FATO.
Sua principal característica é a SUCESSÃO DE FATOS e seus principais
elementos são: TEMPO, AMBIENTE, NARRADOR, ENREDO e
PERSONAGENS.

TEXTO DESCRITIVO
O objetivo principal de um texto predominantemente DESCRITIVO é
CARACTERIZAR UM SER, UM SENTIMENTO, UM AMBIENTE, UMA
ROTINA, ETC.

Tipos de TEXTO DISSERTATIVO - EXPOSITIVO


Texto O objetivo principal de um texto predominantemente EXPOSITIVO é
EXPLICAR UM ASSUNTO, FALAR SOBRE UM TEMA, apresentando fatos,
dados, informações.

TEXTO DISSERTATIVO - ARGUMENTATIVO


O objetivo principal de um texto predominantemente ARGUMENTATIVO é
EMITIR UM POSICIONAMENTO, DEFENDER UM PONTO DE VISTA.

TEXTO INJUNTIVO
O objetivo principal de um texto predominantemente INJUNTIVO é
EMITIR UM COMANDO. Pode ser INSTRUCIONAL, quando o comando
tem por objetivo INSTRUIR, ORIENTAR. Pode ser PRESCRITIVO, quando
o comando é acompanhado de uma AMEAÇA ou COAÇÃO.

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Semântica – Significação de Palavras


A SEMÂNTICA é a seção que se ocupa do estudo da SIGNIFICAÇÃO em geral, em frases inteiras, palavras e
até em segmentos menores do que as palavras, como os prefixos e os sufixos.

No estudo da significação, é essencial que façamos a distinção entre SIGNIFICADO e SENTIDO. O primeiro
está associado ao sentido “dicionarizado”, ou seja, o sentido inicial, primário; já o segundo está associado a
um sentido ampliado, além do “dicionarizado”.

Como exemplo, podemos citar nosso mascote, o GAVIÃO. Trata-se de ave de rapina famosa por sua
precisão na captura de suas presas. Ao o escolhermos como símbolo do Direção Concursos, quisemos imprimir ao
nosso aluno as características do foco e do resultado, tão caras a essa linda ave. Assim, o aluno gavião é aquele
direcionado, focado, preciso. Isso nos mostra que o sentido leva em consideração aspectos variados, como quem
disse o enunciado, em que circunstâncias, com que objetivo.
Vamos enumerar alguns conceitos fundamentais de Semântica, presentes nos enunciados das questões de
concursos. É interessante que vocês saibam manejar bem esses conceitos, compreendendo a definição de cada
um e, principalmente, sua aplicabilidade. Vejamos:

Sinonímia e Antonímia
A relação de sinonímia ocorre quando palavras possuem significado equivalente, ao passo que a de
antonímia ocorre quando as palavras possuem significados opostos, excludentes.
É muito importante mencionar que mesmo significado não implica necessariamente mesmo sentido.
Como assim, professor?
Observem as seguintes frases:

I - José pagou-me um jantar.

II - José pagou-me uma janta.

Moçada, os vocábulos jantar e janta são sinônimos. Ambos possuem o mesmo significado. A palavra
“janta”, porém, por ser palavra mais popular, contribui para criar um efeito de sentido menos solene, mais vulgar
que jantar - termo mais prestigiado. Chegar para o pai da moça e dizer “Quero convidar sua filha para uma janta”
definitivamente não pega bem!
As provas de concurso estão explorando cada vez mais um repertório vocabular por parte do candidato. São
muitas as questões que exploram sinonímias de palavras de uso bem incomum no cotidiano.
Professor, e como fazer para descobrir o significado de um vocábulo que não conhecemos?

Não é fácil, confesso, mas algumas estratégias podem ajudar.


A primeira delas é analisar a formação da palavra, buscando associá-la a alguma família de cognatos
(palavras que compartilham da mesma raiz). Quer um exemplo?
Vamos supor que sejamos questionados acerca do significado de “celeridade”. Com um certo esforço, é
possível notar que tal palavra guarda proximidade de formação com “acelerar”, “aceleração”, “célere”. Reunidas,

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formam uma família de cognatos, o que nos faz associar o significado de “celeridade” a algo que é acelerado,
rápido. Resumindo: celeridade é sinônimo de rapidez.

O mesmo procedimento pode ser adotado com a palavra “irrisão”. Tal palavra guarda semelhança de
formação como “irrisório”, “riso”. Reunidas, formam uma família de cognatos, o que nos faz associar o significado
de “irrisão” a algo que é irrisório, que gera riso, zombaria. Resumindo: irrisão é sinônimo de desdém, zombaria.

Outra estratégia é identificar o campo semântico que engloba o vocábulo cujo significado se
desconhece.

Professor, e que seria campo semântico?


Há várias definições entre os gramáticos para campo semântico, algumas até conflitantes. Vamos entender
aqui o campo semântico como a reunião de palavras que guardam uma relação de sentido por se associarem a
uma mesma ideia.
Como assim, professor?

Quando falamos em amor, tristeza, ódio, carinho, saudade, estamos falando de quê? De sentimentos,
concordam? Tais palavras pertencem ao campo semântico de sentimentos.
Quando falamos em livros, cadernos, lápis, apontadores, compassos, esquadros, estamos falando de quê?
De materiais escolares, concordam? Tais palavras pertencem ao campo semântico de materiais escolares.

Leia o trecho a seguir:

Contra a maré
A tribo dos que preferem ficar à margem da corrida dos bits e bytes não é minguada. Mas são esses renitentes que
fazem a tecnologia ficar mais fácil.

Pergunta-se qual o significado da palavra “renitentes”? Como descobrir?

O título é uma pista. Note que os renitentes, contextualmente, estão associados à figura do “contra a maré”.
Esta, por sua vez, diz respeito a ir contra uma tendência. Os renitentes, portanto, estão no mesmo campo
semântico de “contra a maré”, o que nos faz entender que se trata de indivíduos teimosos, insistentes.

Mesmo usando essas estratégias, ainda assim é difícil amarrar alguns significados, o que nos força realmente
a adquirir conhecimento e repertório vocabular. Não tem jeito! Minha recomendação é ir ao encontro do “pai dos
burros” – o dicionário - à medida que vocês forem resolvendo exercícios de prova e se depararem com vocábulos
nos textos cujo significado desconhecem.

Fiz uma lista de vocábulos eruditos, presentes nas mais recentes provas. Espero que essa listagem se repita
na sua prova!

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PALAVRA SIGNIFICADO EXEMPLO NUMA FRASE

= destruir, eliminar, A avaliação moral teve como


OBLITERAR
desaparacer consequência obliterar gravemente o juízo.

Quando algo nos desagrada, não há quem consiga,


DEMOVER = provocar renúncia
nos demover deste sentimento.

Nossa alma incapaz e pequenina/Mais complacências


IRRISÃO = zombaria
que irrisão merece. (Mário Quintana)

RESFESTELAR = satisfazer-se Por enquanto, vou me refestelar na boa notícia.

PRÓCERES = chefes, influentes Assasssinaram o prócere da máfia italiana.

O farisaísmo é tão nocivo quanto o populismo para o


FARISAÍSMO = hipocrisia
Brasil.

INVECTIVA = insulto Só se recorre às invectivas quando faltam as provas.

O silêncio em certas circunstâncias das nossas vidas é


LOQUAZ = falador
a voz mais alta e loquaz.

= entrada súbita, A irrupção das mídias sociais como instrumeno de


IRRUPÇÃO
repentina campanha revolucionou as eleições.

ESCRUTÍNIO = exame minucioso O futuro ministro passou pelo escrutínio do Senado.

Mantém-se sob a égide de seus pais o mimado jogador


ÉGIDE = proteção
de futebol.

= característica
IDIOSSINCRASIA A Pátria não é capanga de idiossincrasias pessoais.
peculiar

= trivialidades, Para muitos, existe aquela platitude de que “os


PLATITUDE
obviedades políticos são todos uns corruptos” .

INSIGNE = notório, ilustre O autor é o insigne professor desta Universidade.

Passamos incólumes pela maior crise econômica da


INCÓLUME = intacto
história.

PÉRFIDO = cruel Estávamos cercados por um pérfido grupo de vândalos.

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SISUDO = sério O seu semblante sisudo afasta muitas pessoas.

= triste, que falam Os faladores não nos devem assustar, eles revelam-se:
TACITURNO
pouco os taciturnos incomodam-nos pelo seu silêncio.

Era um homem corajoso diante dos perigos


PUSILÂNIME = covarde
e pusilânime diante dos aborrecimentos.

= angustiante,
PREMENTE A votação de uma reforma é uma questão premente.
urgente

TEMPERANÇA = moderação Agiu com temperança, mesmo sob forte pressão.

Devido ao recrudescimento do conflito, adotamos


RECRUDESCER = intensificar
uma postura de meros observadores.

Polissemia
Consiste na propriedade de uma só palavra assumir mais de um sentido.
Exemplos:
Ele bateu o carro (= colidiu o carro contra algo)

O sino bateu (= soou)


Os dados da pesquisa batem com as previsões (= coincidem)
Note que o verbo bater pode significar colidir, soar, coincidir, etc. O contexto é que definirá qual é o seu
significado.

Significação Contextual
O significado da palavra dentro do contexto em que ela está.

Exemplo:
A partida decisiva contra os dois finalistas tem tudo para ser o jogo do ano, mas as torcidas uniformizadas vão
estar presentes.
Nesse contexto, torcidas uniformizadas tem evidente significação negativa (senão não teria sentido o uso
da conjunção mas).

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Significação literal x não literal


O sentido literal (também denominado denotativo) de uma palavra ou expressão é aquele que é
depreendido apenas a partir das formas explícitas no texto, sem necessidade de recorrer a pressuposições ou
subentendidos. É o significado resultante da interpretação ao pé da letra.
Já o sentido não-literal (também denominado conotativo) é aquele que, além do sentido ao pé da letra,
leva em consideração dados do contexto, da situação e subentendidos do universo cultural.
Exemplos:
A classe média vive com a corda no pescoço.
Suas tentativas de conseguir a aprovação do projeto deram com os burros n’água.

Ele perdeu a cabeça com a lentidão do atendimento.


Observe que as expressões corda no pescoço, burros n’água e perdeu a cabeça não podem ser interpretadas
no sentido literal.

Efeito de Sentido
É a reação provocada por um significado. Para compreender o que é efeito de sentido, basta confrontar duas
expressões que têm o mesmo significado, mas que provocam efeitos de sentido diferentes.

Quando se fala de efeito de sentido, é indispensável salientar o fato de que palavras sinônimas, embora
possuam o mesmo sentido, não produzem o mesmo efeito de sentido.
Exemplos.
I) Ele não era um professor. Era o professor.

Ao determinar “professor” com o artigo definido, está-se dando ao substantivo um efeito de notoriedade,
importância.
II) Não importa o que aquela mulherzinha diga de você.

O emprego do diminutivo –zinha confere tom depreciativo ao substantivo “mulher”.

Pressupostos
São significados implícitos, depreensíveis a partir de indicações dadas por certas palavras ou mecanismos
que aparecem na superfície do texto.
Em outros termos, pressupostos são significados que não vêm expressos diretamente por palavras que
ocorrem no texto, mas são depreendidos indiretamente, por estarem implicados nas que vêm expressas.
Exemplo:

Fechem a porta, por favor. – O pressuposto é que a porta está aberta. Caso contrário, não faria sentido pedir que
a fechassem.
O professor ainda não chegou. – O pressuposto é que ele já deveria ter chegado ou que vai chegar.

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Subentendidos
São informações implícitas depreendidas de acordo com a interpretação do leitor. Quando ocorrem
divergências com o senso comum, produzem-se situações de surpresa ou comicidade.
Exemplo:
Imagine-se chegando a um restaurante com sua família (pai, mãe e irmão). Aí você chama o garçom e lhe
pergunta:
- Há uma mesa para quatro pessoas?
O garçom checa no recinto e retorna dizendo:
- Sim, há uma mesa para quatro pessoas.

Ele, então, dá as costas para você e vai embora atender outros clientes.
Nesse exemplo, foi gerada uma situação atípica, pois, quando você fez a pergunta, esperava não apenas que
o garçom respondesse sim, mas também que ele providenciasse a mesa para acomodar você e seus familiares. De
acordo com o senso comum, essa interpretação deveria estar subentendida.

Compatibilidade e Incompatibilidade Semântica


Nem todas as palavras são semanticamente compatíveis entre si; há aquelas que se combinam e aquelas que
se rejeitam.
Exemplos:

I - O verbo conquistar só é semanticamente compatível com um complemento de valor positivo.

Assim, é adequado dizer:


O time conquistou o título tão cobiçado.
O piloto conquistou o primeiro lugar em prova muito disputada.

Se dermos a esse verbo um complemento de valor semântico negativo, a frase ficará mal formada. Assim, é
inadequado dizer:
O jogador conquistou um cartão vermelho assim que entrou em campo.
Os infratores conquistaram uma pena severa de dez anos de detenção.

II - A expressão Graças a só é compatível com complemento de valor semântico positivo.


Graças à competência dos diretores, a empresa conquistou o primeiro lugar entre as melhores para se
trabalhar.

Se lhe dermos um complemento não positivo, o verbo mudará de sentido:

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Graças ao crime organizado, o Brasil ainda não pode ser considerado uma nação de primeiro mundo.
Nesse caso, ou a expressão “Graças a” assume valor irônico – com sentido de deboche - ou ocorreu por parte
do autor da frase um equívoco semântico. No caso deste último caso, devemos empregar outro conector causal,
como “Devido a”.

Hipônimos e Hiperônimos
Os hiperônimos, como o próprio nome indica, são palavras gerais, nomes genéricos, que englobam um
conjunto de seres e coisas, os chamados hipônimos.
Por exemplo, quando analisamos gato e animal, temos que gato é hipônimo e animal, hiperônimo. Por quê?
Ora, todo gato é um animal. Entre gato e animal, dizemos que há uma relação de hiponímia-hiperonímia.
Dessa forma, podemos reunir os hipônimos Brasil, Cuba, Argentina, Chile, França sob o hiperônimo país;
podemos reunir os hipônimos lápis, borracha, caderno, lapiseira, apontador sob o hiperônimo material escolar; e
assim por diante.
Um dos hiperônimos mais famosos é coisa. Afinal, tudo pode ser reunido sob o nome genérico de “coisa”.
Note nos exemplos a substituição de hipônimos – em azul – por hiperônimos – em laranja:
Graças a Deus eu não experimentei a força e eficiência do air bag, pois nunca fui vítima de um acidente. Mas sou
totalmente a favor do equipamento. Jamais soube de casos em que pessoas que dirigiam um carro com esse
dispositivo tiveram um ferimento mais grave. (...) Na compra de um automóvel, o brasileiro deve levar em conta os
diversos parâmetros de segurança, e não somente a disponibilidade do air bag. Este último item, sozinho, não pode ser
considerado o salvador da pátria.

É mesmo difícil imaginar qualquer ação humana que não seja precedida por algum tipo de investigação. A
simples consulta ao relógio para ver que horas são, ou a espiada para fora da janela para observar o tempo que
está fazendo, ou a batidinha na porta do banheiro para saber se tem gente dentro... Todos esses gestos são
rudimentos de pesquisa

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Questões Comentadas

1. CESPE - Soldado Militar (PM MA)/Combatente/2018


Texto CG2A1CCC

A questão da segurança pública passou a ser considerada problema fundamental e principal desafio ao Estado de
direito no Brasil. A segurança ganhou enorme visibilidade pública e jamais, em nossa história recente, esteve tão
presente nos debates.
A amplitude dos temas e problemas relativos à segurança pública alerta para a necessidade de qualificação do
debate sobre segurança e para a incorporação de novos atores, cenários e paradigmas às políticas públicas.
O problema da segurança, portanto, não pode mais estar adstrito apenas ao repertório tradicional do direito e das
instituições da justiça. Evidentemente, as soluções devem passar pelo fortalecimento da capacidade do Estado
em gerir a violência, pela retomada da capacidade gerencial no âmbito das políticas públicas de segurança, mas
também devem passar pelo alongamento dos pontos de contato das instituições públicas com a sociedade civil e
com a produção acadêmica mais relevante à área.
Em síntese, os novos gestores da segurança pública devem enfrentar esses desafios, além de fazer o amplo debate
nacional sobre o tema transformar-se em real controle sobre as políticas de segurança pública e, mais ainda,
estimular a parceria entre órgãos do poder público e da sociedade civil na luta por segurança e qualidade de vida
dos cidadãos brasileiros.

Internet: <www.observatoriodeseguranca.org> (com adaptações).


Acerca das ideias e de aspectos linguísticos do texto CG2A1CCC, julgue o seguinte item.
No texto, predominam o uso de linguagem denotativa e o tipo textual argumentativo.
( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO:
De fato! O texto defende uma opinião bem clara acerca da temática de Segurança Pública, propondo
intervenções. Praticamente todas as palavras do texto foram empregadas no sentido literal, ou seja, ao pé da letra,
também denominado denotativo.
Resposta: CERTO

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2. CESPE - Analista Judiciário (STM)/Apoio Especializado/Revisão de Texto/2018


Texto 6A3AAA
A liderança é necessária em todos os tipos de organização humana, seja nas empresas, seja em cada um de seus
departamentos. Ela é essencial em todas as funções da administração: o administrador precisa conhecer a
natureza humana e saber conduzir as pessoas, isto é, liderar.
Para os humanistas, a liderança pode ser analisada sob diversos ângulos, entre os quais estão:
Liderança como um fenômeno de influência interpessoal. Liderança é a influência interpessoal exercida em uma
situação e dirigida por meio do processo da comunicação humana para a consecução de um ou mais objetivos
específicos. A liderança ocorre como um fenômeno social e exclusivamente nos grupos sociais. Ela decorre dos
relacionamentos entre as pessoas em determinada estrutura social. Nada tem a ver com os traços pessoais de
personalidade do líder. A influência significa uma força psicológica, uma transação interpessoal na qual uma
pessoa age de modo a modificar o comportamento de outra de modo intencional. A influência envolve conceitos
como poder e autoridade, abrangendo maneiras pelas quais se provocam mudanças no comportamento de
pessoas ou de grupos sociais.

Liderança como um processo de redução da incerteza de um grupo. O grau em que um indivíduo demonstra a
qualidade de liderança depende não somente de suas próprias características pessoais, mas também das
características da situação na qual ele se encontra.Liderança é um processo contínuo de escolha que permite que
a empresa caminhe em direção a sua meta, apesar de todas as perturbações internas e externas. O grupo tende a
escolher como líder a pessoa que lhe pode dar maior assistência e orientação (que defina ou ajude o grupo a
escolher os rumos e as melhores soluções para seus problemas) para que alcance seus objetivos. A liderança éuma
questão de redução da incerteza do grupo, e o comportamento pelo qual se consegue essa redução é a escolha, a
tomada de decisão. Nesse sentido, o líder é um tomador de decisões ou aquele que ajuda o grupo a tomar decisões
adequadas.
Idalberto Chiavenato. Introdução à teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003, p. 122 (com
adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto 6A3AAA, julgue o item.
De cunho predominantemente argumentativo, o texto tem o objetivo geral de convencer o leitor da validade
da perspectiva humanista em relação à noção de liderança.
( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO:
A autora não tem a intenção de convencer o leitor da validade da perspectiva humanista. O texto, na
verdade, explica para o leitor como os humanistas abordam a temática da liderança.
Dessa forma, não emite o texto um juízo de valor, e sim apenas expõe as informações.
Trata-se de um texto predominantemente expositivo.
Resposta: ERRADO

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3. CESPE - Técnico Judiciário (STM)/Administrativa/"Sem Especialidade"/2018 (e mais 1 concurso)


Texto CB4A1AAA
Narração é diferente de narrativa, uma vez que mantém algo da ideia de acompanhar os fatos à medida que eles
acontecem. A narrativa é uma totalidade de acontecimentos encadeados, uma espécie de soma final, e está
presente em tudo: na sequência de entrada, prato principal e sobremesa de um jantar; em mitos, romances,
contos, novelas, peças, poemas; no Curriculum vitae; na história dos nossos corpos; nas notícias; em relatórios
médicos; em conversas, desenhos, sonhos, filmes, fábulas, fotografias. Está nas óperas, nos
videoclipes, videogames e jogos de tabuleiro. A narração, por sua vez, é basicamente aquilo que um narrador
enuncia.
Uma contagem de palavras na base de dados do Google mostra uma mudança nos usos de narrativa. A palavra
vem sendo cada vez mais empregada nas últimas décadas, mas seu sentido vem mudando.
A expressão disputa de narrativas, que teve um boom dos anos 80 do século XX para cá, não costuma dizer respeito
à acepção mais literária do termo, como narrativa de um romance. Fala antes sobre trazer a público diferentes
formas de narrar o mundo, para que narrativas plurais possam ser elaboradas e disputadas. É um uso do termo que
talvez aproxime narrativa de narração, porque sugere que toda narrativa histórica e cultural carrega em si um
processo e um movimento e que dentro dela há sempre sinais deixados pelas escolhas de um narrador.
Sofia Nestrovski. Narrativa. Internet: <www.nexojornal.com.br> (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto CB4A1AAA, julgue o item a seguir.
Dadas a temática apresentada e a presença de referências temporais, como as expressões “nas últimas
décadas” e “dos anos 80 do século XX para cá”, o texto classifica-se como narrativo.
( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO:
A principal característica do texto narrativo é a sucessão de fatos. Não é o que se observa no texto lido. Nele
há um tema: a diferença de sentido entre narrativa e narração.

Trata-se não de uma história, mas sim de uma análise.


O texto, portanto, é predominantemente expositivo.
Resposta: ERRADO

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4. CESPE - Técnico de Enfermagem (IHB DF)/2018


Texto CG2A1AAA
A vida de Florence Nightingale, a criadora da moderna enfermagem, daria um romance. Florence estava destinada
a receber uma boa educação, a casar-se com um cavalheiro de fina estirpe, a ter filhos, a cuidar da casa e da família.
Mas logo ficou claro que a menina não se conformaria a esse modelo. Era diferente; gostava de matemática, e era
o que queria estudar (os pais não deixaram). Aos dezesseis anos, algo aconteceu: Deus falou-me — escreveu depois
— e convocou-me para servi-lo.

Servir a Deus significava, para ela, cuidar dos enfermos, e especialmente dos enfermos hospitalizados. Naquela
época, os hospitais curavam tão pouco e eram tão perigosos (por causa da sujeira, do risco de infecção) que os
ricos preferiam tratar-se em casa. Hospitalizados eram só os pobres, e Florence preparou-se para cuidar deles,
praticando com os indigentes que viviam próximos à sua casa. Viajou por toda a Europa, visitando hospitais. Coisa
que os pais não viam com bons olhos: enfermeiras eram consideradas pessoas de categoria inferior, de vida
desregrada. Mas Florence foi em frente e logo surgiu a oportunidade para colocar em prática o que aprendera.
Sidney Herbert, membro do governo inglês e amigo pessoal, pediu-lhe que chefiasse um grupo de enfermeiras
enviadas para o front turco, uma tarefa a que Florence entregou-se de corpo e alma; providenciava comida,
remédios, agasalhos, além de supervisionar o trabalho das enfermeiras. Mais que isso, fez estudos estatísticos (sua
vocação matemática enfim triunfou) mostrando que a alta mortalidade dos soldados resultava das péssimas
condições de saneamento.
Isso tudo não quer dizer que Florence fosse, pelos padrões habituais, uma mulher feliz. Para começar, não havia,
em sua vida, lugar para ligações amorosas. Cortejou-a o político e poeta Richard Milnes, Barão Houghton, mas ela
rejeitou-o. Ao voltar da guerra, algo estranho lhe aconteceu: recolheu-se ao leito e nunca mais deixou o quarto. É
possível, e até provável, que isso tenha resultado de brucelose, uma infecção crônica contraída durante a guerra;
mas havia aí um óbvio componente emocional, uma forma de fuga da realidade. Contudo — Florence era Florence
—, mesmo acamada, continuou trabalhando intensamente. Colaborou com a comissão governamental sobre
saúde dos militares, fundou uma escola para treinamento de enfermeiras, escreveu um livro sobre esse
treinamento.
Estranha, a Florence Nightingale? Talvez. Mas estranheza pode estar associada a qualidades admiráveis. Grande
e estranho é o mundo; grandes, ainda que estranhas, são muitas pessoas. E se elas têm grandeza, ao mundo pouco
deve importar que sejam estranhas.
Moacyr Scliar. Uma estranha, e admirável, mulher. Internet: <http://moacyrscliar.blogspot.com.br> (com
adaptações).
No que se refere às ideias e à tipologia do texto CG2A1AAA, julgue o item que se segue.

O texto, embora contenha trecho narrativo dedicado a contar a trajetória da precursora da moderna
enfermagem, é essencialmente dissertativo, pois está estruturado em introdução, desenvolvimento e
conclusão.
( ) CERTO ( ) ERRADO

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RESOLUÇÃO:
Não é a mera divisão em introdução, desenvolvimento e conclusão que define o texto como dissertativo. O
que é o define como tal é a abordagem de um tema, por meio da mera exposição de informações (dissertação
expositiva) ou por meio de uma defesa de ponto de vista (dissertação argumentativa).

O trecho final do texto tem características argumentativas, mas, na sua essência, o texto relata a trajetória
de Florence Nightingale. É, portanto, predominantemente narrativo.
Resposta: ERRADO

5. CESPE - Agente de Inteligência/2018


Texto
A atividade de inteligência é o exercício de ações especializadas para a obtenção e análise de dados, produção de
conhecimentos e proteção de conhecimentos para o país. Inteligência e contrainteligência são os dois ramos dessa
atividade. A inteligência compreende ações de obtenção de dados associadas à análise para a compreensão desses
dados. A análise transforma os dados em cenário compreensível para o entendimento do passado, do presente e
para a perspectiva de como tende a se configurar o futuro. Cabe à inteligência tratar fundamentalmente da
produção de conhecimentos com o objetivo específico de auxiliar o usuário a tomar decisões de maneira mais
fundamentada. A contrainteligência tem como atribuições a produção de conhecimentos e a realização de ações
voltadas à proteção de dados, conhecimentos, infraestruturas críticas — comunicações, transportes, tecnologias
de informação — e outros ativos sensíveis e sigilosos de interesse do Estado e da sociedade. O trabalho
desenvolvido pela contrainteligência tem foco na defesa contra ameaças como a espionagem, a sabotagem, o
vazamento de informações e o terrorismo, patrocinadas por instituições, grupos ou governos estrangeiros.
Internet: <www.abin.gov.br> (com adaptações).
Julgue o item seguinte, relativo às ideias e aos aspectos linguísticos do texto.

No texto, predomina a tipologia textual expositiva, dado o seu objetivo comunicativo de transmitir ao leitor
um conjunto de informações relativas às atividades desenvolvidas sob o rótulo de inteligência.
( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO:
Exato!
O texto discorre sobre as atividades de inteligência e contrainteligência, sem emitir juízo de valor acerca
delas. Restringe-se a expor informações acerca das duas atividades. É, portanto, predominantemente expositivo.

Resposta: CERTO

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6. CESPE - Analista Judiciário (STJ)/Administrativa/2018 (e mais 7 concursos)


Texto CB1A1BBB
O conceito de direitos humanos assenta em um bem conhecido conjunto de pressupostos, todos eles tipicamente
ocidentais: existe uma natureza humana universal que pode ser conhecida racionalmente; a natureza humana é
essencialmente diferente e superior à restante realidade; o indivíduo possui uma dignidade absoluta e irredutível
que tem de ser defendida da sociedade ou do Estado; a autonomia do indivíduo exige que a sociedade esteja
organizada de forma não hierárquica, como soma de indivíduos livres. Uma vez que todos esses pressupostos são
claramente ocidentais e facilmente distinguíveis de outras concepções de dignidade humana em outras culturas,
teremos de perguntar por que motivo a questão da universalidade dos direitos humanos se tornou tão acesamente
debatida.

Boaventura de Sousa Santos. Por uma concepção multicultural dos direitos humanos. Internet:
<www.dhnet.org.br> (com adaptações).
Acerca do texto CB1A1BBB e de seus aspectos linguísticos, julgue o item que se segue.
O texto é essencialmente dissertativo-argumentativo e nele o autor expressa sua opinião a respeito do
assunto tratado.
( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO:
O autor expõe informações acerca do tema durante grande parte do texto. Ao final, emite um juízo de valor
acerca do assunto, levantando uma necessidade de questionamento.
Resposta: CERTO

7. CESPE - Assistente de Aluno (IFF)/2018 (e mais 3 concursos)


Texto
O alemão Max Weber, um dos mais renomados pensadores sociais, fundador e expoente da teoria sociológica
clássica, elaborou um conceito de burocracia baseado em elementos jurídicos do século XIX, concebidos por
teóricos do direito.

A divisão e distribuição de funções, a seleção de pessoal especializado, os regulamentos e a disciplina hierárquica


são fatores que fazem da burocracia moderna o modo mais eficiente de administração, tanto na esfera privada
(em uma empresa capitalista) quanto na administração pública.

O leigo, em geral, costuma criticar o aparelho burocrático da administração pública devido à sua rigidez
administrativa, inadequação das normas e grande quantidade de regulamentos. Esses aspectos produzem
resultados contrários aos esperados pelo cidadão, como, por exemplo, a lentidão dos processos.
De fato, a crescente racionalidade do sistema burocrático tende a gerar efeitos negativos, que podem diminuir
drasticamente a eficiência de uma organização ou sociedade. Em contrapartida, novos modelos de estruturas
burocráticas, alternativos ao modelo weberiano, têm sido experimentados.
Burocracia: Max Weber e o significado de ‘burocracia’ Internet: <https://educacao uol com br> (com adaptações)

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O texto tem, predominantemente, a função de


a) divertir o leitor.

b) informar o leitor.
c) dialogar com o leitor.
d) convencer o leitor de algo.
e) narrar um fato ao leitor.

RESOLUÇÃO
O texto tem natureza expositiva, em que o autor enumera uma série de informações relacionadas ao tema da
burocracia. Há também opiniões do autor presentes no texto, mas elas ora são no sentido de elogiar o modelo
weberiano de burocracia, ora são no sentido de endossar críticas feitas por leigos. Devido a essa sutileza, podemos
afirmar que o texto dá mais ênfase à informatividade do que a uma defesa de um dos lados da discussão. Em outras
palavras, ele reconhece validade nos argumentos tanto em prol do modelo weberiano - o modo mais eficiente de
administração – como nos argumentos críticos a este - a crescente racionalidade do sistema burocrático tende a
gerar efeitos negativos.
Não assume, assim, uma defesa de ponto de vista de forma explícita, o que nos faz concluir que predomina o tipo
expositivo.
Resposta: B

8. CESPE - Auxiliar em Administração (IFF)/2018


Texto
Sete anos após receber o título de Patrimônio Cultural do Brasil, o Complexo Cultural Bumba Meu Boi, uma das
manifestações culturais mais marcantes do estado do Maranhão, pode receber reconhecimento internacional.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) entregou ao Ministério das Relações Exteriores o
dossiê de candidatura dessa manifestação cultural ao status de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O
título é conferido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
O Bumba Meu Boi é uma apresentação que mistura brincadeira, música, dança e artes cênicas. Os participantes
dramatizam a história dos personagens Pai Francisco e sua mulher grávida, Mãe Catirina. Pai Francisco rouba a
língua de um dos bois da fazenda onde trabalhava para satisfazer os desejos de Catirina. O dono da fazenda,
porém, perdoa o trabalhador após os participantes do folguedo recuperarem a saúde do boi. A história termina
com uma festa para celebrar o final feliz de todos.
Internet: <www brasil gov br> (com adaptações)
O texto é um(a)

a) conto.
b) crônica.
c) ensaio.

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d) artigo de opinião.
e) notícia informativa.

RESOLUÇÃO:
Trata-se de um relato objetivo e impessoal acerca de um fato, como foco narrativo em 3ª pessoa,
apresentados de forma linear. São marcas, portanto, de uma notícia de jornal.
Resposta: E

9. CESPE - Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (IFF)/Administração/2018 (e mais 19


concursos)

Educar para a transcendência é tentar estabelecer um equilíbrio entre a educação para a sobrevivência e a
educação para a transcendência. Explico melhor: a educação tem sido até hoje, na melhor das hipóteses, uma
transferência cultural que oferece aos jovens a possibilidade de sobreviver dentro da sua cultura, entendida como
modo de vida. Isso ocorre no contexto das formas mais tribais da educação, até nas mais sofisticadas, mas não
menos egoístas.
Com a evolução da espécie humana ― que existe diferenciada dos animais há 4 ou 5 milhões de anos ―, foi se
acentuando a nossa diferença fundamental em relação aos animais: consciência do espaço temporal em que
vivemos — isto é, consciência do começo e do fim da vida — e curiosidade intensa sobre o que éramos antes e o
que iremos ser depois. Ao penetrarmos, conscientemente, nesse campo desconhecido por meio do raciocínio, da
filosofia e, por que não, da ciência, estaremos no caminho da transcendência.
É preciso que a educação nos prepare para esse caminho com o qual poderemos entender melhor de onde viemos
e para onde vamos. Isso nos tornará mais humildes, mais humanos e mais éticos. Estes dois aspectos, ética e
transcendência, andam juntos e só se logram com uma maior abertura e um conteúdo humanístico e filosófico
cada vez maior no processo educativo.
José Aristodemo Pinotti Discurso [sobre o processo de discussão da reforma universitária]
Internet: <www camara gov br> (com adaptações)
O texto é essencialmente
a) descritivo.

b) narrativo.
c) expositivo.
d) argumentativo.
e) injuntivo.

RESOLUÇÃO:
O autor deixa claro, ao longo do texto, seu juízo de valor acerca dos caminhos a serem trilhados pela
educação. É fato que o texto traz várias informações, mas estas servem de suporte para a defesa de um ponto de
vista, objetivo principal do texto. Trata-se, portanto, de um texto argumentativo.

Resposta: D

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10. CESPE - ACP (TCE-PB)/TCE-PB/Demais Áreas/2018


Texto
A história é uma disciplina(e) definida por sua capacidade de lembrar. Poucos se lembram, porém, de como ela é
capaz de esquecer. Há também quem caracterize a história como uma ciência(e) da mudança(a) no tempo, e quase
ninguém aponta sua genuína capacidade de reiteração(a).
A história brasileira não escapa dessas ambiguidades fundamentais: ela é feita do encadeamento de eventos que
se acumulam e evocam alterações substanciais, mas também anda repleta de lacunas, invisibilidades e
esquecimentos. Além disso, se ao longo do tempo(b) se destacam as alterações cumulativas(b) de fatos e
ocorrências, não é difícil notar, também, a presença de problemas estruturais que permanecem como que
inalterados e assim se repetem, vergonhosamente, na nossa história nacional.

Nessa lista seria possível mencionar os racismos, o feminicídio, a corrupção, a homofobia e o patrimonialismo.
Mas destaco aqui um tema que, de alguma maneira, dá conta de todos os demais: a nossa tremenda e contínua
desigualdade social.
Desigualdade(d) não é uma contingência(c) nem um acidente(c) qualquer, tampouco uma decorrência natural e
mutável de um processo que não nos diz respeito. Ela é consequência de nossas escolhas — sociais, educacionais,
políticas, culturais e institucionais —, que têm resultado em uma clara e crescente concentração(d) dos benefícios
públicos nas mãos de poucos. (...) Quando se trata de enfrentar a desigualdade, não há saída fácil ou receita de
bolo. Prefiro apostar nos alertas que nós mesmos somos capazes de identificar.
Lilia Moritz Schwarcz. Desigualdade é teimosia. Internet:
<www.nexojornal .com.br> (com adaptações).
O texto é construído sobre uma série de dicotomias conceituais, isto é, de pares de noções opostas entre si, a
exemplo do formado pelos termos
a) “mudança” e “reiteração”.
b) “ao longo do tempo” e “alterações cumulativas”
c) “contingência” e “acidente”.

d) “Desigualdade” e “concentração”.
e) “disciplina” e “ciência”.
RESOLUÇÃO

ALTERNATIVA A: O texto dá a entender que, ao mesmo tempo em que a história muda, ela também se
repete. Como exemplo disso no texto, podem ser citados o racismo e o feminicídio. Assim, estão em oposição os
termos “mudança” e “reiteração”.
ALTERNATIVA B: “Ao longo do tempo”, expressão adverbial temporal, e “alteração cumulativas”, sujeito
do verbo destacar, não estão em oposição. Há, aqui, possível ideia de complementaridade, pois se trata de algo
que ocorre com o passar do tempo.

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ALTERNATIVA C: “Contingência” é a possibilidade de que algo se realize ou não; trata-se de um acaso, de


uma eventualidade. Nesse caso, pode-se perceber que não há oposição entre “contingência” ou “acidente”, pois
os termos guardam entre si ideias semelhantes.
ALTERNATIVA D: A relação entre “desigualdade” e “concentração” é de causa e consequência. Devido à
concentração de recurso públicos nas mãos de poucos (causa), ocorre a desigualdade (consequência).
ALTERNATIVA E: A relação é mais de sinonímia do que de antonímia. “Disciplina”, em muitos casos, é uma
ciência, como a História, citada no texto em análise.
Resposta: A

11.CESPE - SM (PM MA)/PM MA/Combatente/2018


Texto CG2A1CCC
A questão da segurança pública passou a ser considerada problema fundamental e principal desafio ao
Estado de direito no Brasil. A segurança ganhou enorme visibilidade pública e jamais, em nossa história recente,
esteve tão presente nos debates.
A amplitude dos temas e problemas relativos à segurança pública alerta para a necessidade de qualificação
do debate sobre segurança e para a incorporação de novos atores, cenários e paradigmas às políticas públicas.

O problema da segurança, portanto, não pode mais estar adstrito apenas ao repertório tradicional do direito
e das instituições da justiça. Evidentemente, as soluções devem passar pelo fortalecimento da capacidade do
Estado em gerir a violência, pela retomada da capacidade gerencial no âmbito das políticas públicas de segurança,
mas também devem passar pelo alongamento dos pontos de contato das instituições públicas com a sociedade
civil e com a produção acadêmica mais relevante à área.
Em síntese, os novos gestores da segurança pública devem enfrentar esses desafios, além de fazer o amplo
debate nacional sobre o tema transformar-se em real controle sobre as políticas de segurança pública e, mais
ainda, estimular a parceria entre órgãos do poder público e da sociedade civil na luta por segurança e qualidade de
vida dos cidadãos brasileiros.
Internet: <www.observatoriodeseguranca.org> (com adaptações).
Acerca das ideias e de aspectos linguísticos do texto CG2A1CCC, julgue o seguinte item.

No texto, a palavra “adstrito” tem o mesmo sentido de limitado.


( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO:
Adstrito refere-se a algo que está unido, ligado, junto, atado. A depender do contexto, também pode significar
também contraído, apertado, comprimido. Assim, no contexto em que surge, adstrito assume o significado de
limitado.
Resposta: CERTO

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12. CESPE - Aud (CAGE RS)/SEFAZ RS/2018


Texto 1A9BBB
Sérgio Buarque de Holanda afirma que o processo de integração efetiva dos paulistas no mundo da língua
portuguesa ocorreu, provavelmente, na primeira metade do século XVIII. Até então, a gente paulista, fossem
índios, brancos ou mamelucos, não se comunicava em português, mas em uma língua de origem indígena,
derivada do tupi e chamada língua brasílica, brasiliana ou, mais comumente, geral.
No Brasil colônia, coexistiam duas versões de língua geral: a amazônica, ou nheengatu, ainda hoje empregada por
cerca de oito mil pessoas, e a paulista, que desapareceu, não sem que deixasse marcas na toponímia do país e na
língua portuguesa. São elas que nos possibilitam olhar um caipira jururu à beira de um igarapé socando milho para
preparar mingau — sem os termos que migraram para o português, só veríamos um habitante da área rural,
melancólico, preparando comida às margens de um riacho. Sem caipira, sem jururu, sem igarapé, sem socar e sem
mingau, a cena poderia descrever uma bucólica paisagem inglesa.
O idioma da gente paulista formou-se como resultado de duas práticas: a miscigenação de portugueses e índias e
a escravização dos índios. Os primeiros europeus que aqui aportaram, sem mulheres, uniram-se às nativas e
criaram os filhos juntos e misturados — as crianças usavam o tupi da mãe e o português do pai. Aos poucos, essas
famílias mestiças se afastavam da cultura indígena e casavam entre si, não mais em suas aldeias de origem.
Formava-se assim uma cultura mameluca, nem europeia nem indígena, com uma língua que já não era o tupi,
tampouco era o português. Era o que falavam os primeiros paulistas, os bandeirantes, que a difundiram nas
bandeiras até as terras que hoje constituem o Mato Grosso e o Paraná.
Branca Vianna. O contrário da memória. In: Piauí, ed. 116, maio/2016 (com adaptações).

O vocábulo “toponímia” refere-se, no texto 1A9BBB, ao conjunto de


a) nomes próprios de lugares.

b) gírias e jargões.
c) textos históricos.
d) acidentes geográficos.

e) expressões de uso geral.


RESOLUÇÃO:
ALTERNATIVA A: Esta alternativa define o significado do vocábulo: oriundo do grego, o termo significa
literalmente nome de um lugar e é a parte da onomástica (estudo linguístico dos nomes próprios), que estuda os
nomes próprios dos lugares.

ALTERNATIVA B: Gírias e jargões (tipo de gíria, de linguagem viciada) não têm relação com nomes próprios
de lugares
ALTERNATIVA C: A definição de toponímia no item A já exclui a possibilidade de a letra C ser resposta.
ALTERNATIVA D: “Acidentes geográficos” têm a ver com topos (lugar), mas não significam toponímia
(nome próprio de lugar).

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ALTERNATIVA E: Como vimos anteriormente, toponímia (nome próprio de lugar) é o termo que define
nome próprio de lugar.

Resposta: A

13.CESPE - AJ (STM)/STM/Apoio Especializado/Revisão de Texto/2018


Texto 6A1AAA

Está demonstrado, portanto, que o revisor errou, que se não errou confundiu, que se não confundiu imaginou, mas
venha atirar-lhe a primeira pedra aquele que não tenha errado, confundido ou imaginado nunca. Errar, disse-o
quem sabia, é próprio do homem, o que significa, se não é erro tomar as palavras à letra, que não seria verdadeiro
homem aquele que não errasse. Porém, esta suprema máxima não pode ser utilizada como desculpa universal que
a todos nos absolveria de juízos coxos e opiniões mancas. Quem não sabe deve perguntar, ter essa humildade, e
uma precaução tão elementar deveria tê-la sempre presente o revisor, tanto mais que nem sequer precisaria sair
de sua casa, do escritório onde agora está trabalhando, pois não faltam aqui os livros que o elucidariam se tivesse
tido a sageza e prudência de não acreditar cegamente naquilo que supõe saber, que daí é que vêm os enganos
piores, não da ignorância. Nestas ajoujadas estantes, milhares e milhares de páginas esperam a cintilação duma
curiosidade inicial ou a firme luz que é sempre a dúvida que busca o seu próprio esclarecimento. Lancemos, enfim,
a crédito do revisor ter reunido, ao longo duma vida, tantas e tão diversas fontes de informação, embora um
simples olhar nos revele que estão faltando no seu tombo as tecnologias da informática, mas o dinheiro,
desgraçadamente, não chega a tudo, e este ofício, é altura de dizê-lo, inclui-se entre os mais mal pagos do orbe.
Um dia, mas Alá é maior, qualquer corrector de livros terá ao seu dispor um terminal de computador que o manterá
ligado, noite e dia, umbilicalmente, ao banco central de dados, não tendo ele, e nós, mais que desejar que entre
esses dados do saber total não se tenha insinuado, como o diabo no convento, o erro tentador.
Seja como for, enquanto não chega esse dia, os livros estão aqui, como uma galáxia pulsante, e as palavras, dentro
deles, são outra poeira cósmica flutuando, à espera do olhar que as irá fixar num sentido ou nelas procurará o
sentido novo, porque assim como vão variando as explicações do universo, também a sentença que antes parecera
imutável para todo o sempre oferece subitamente outra interpretação, a possibilidade duma contradição latente,
a evidência do seu erro próprio. Aqui, neste escritório onde a verdade não pode ser mais do que uma cara
sobreposta às infinitas máscaras variantes, estão os costumados dicionários da língua e vocabulários, os Morais e
Aurélios, os Morenos e Torrinhas, algumas gramáticas, o Manual do Perfeito Revisor, vademeco de ofício [...].
José Saramago. História do cerco de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 25-6.

Com relação à variação linguística bem como aos sentidos e aos aspectos linguísticos do texto 6A1AAA, julgue o
item.

Feitas as devidas alterações de gênero para garantir a correção gramatical, as palavras “coxos” e “mancas”
poderiam ser intercambiadas no período em que ocorrem, sem prejuízo dos sentidos do texto.
( ) CERTO ( ) ERRADO

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RESOLUÇÃO:
As palavras coxas e mancas são sinônimas. Ambas se equivalem semanticamente, por isso podem ser
intercambiadas (permutadas) no período em que ocorrem.
Resposta: CERTO

14. CESPE - AJ STJ/STJ/Judiciária/"Sem Especialidade"/2018


Texto CB1A1CCC
As audiências de segunda a sexta-feira muitas vezes revelaram o lado mais sórdido da natureza humana. Eram
relatos de sofrimento, dor, angústia que se transportavam da cadeira das vítimas, testemunhas e réus para minha
cadeira de juíza. A toga não me blindou daqueles relatos sofridos, aflitos. As angústias dos que se sentavam à
minha frente, por diversas vezes, me escoltaram até minha casa e passaram a ser companheiras de noites de
insônia. Não havia outra solução a não ser escrever. Era preciso colocar no papel e compartilhar a dor daquelas
pessoas que, mesmo ao fim do processo e com a sentença prolatada, não me deixavam esquecê-las.

Foram horas, dias, meses, anos de oitivas de mães, filhas, esposas, namoradas, companheiras, todas tendo em
comum a violência no corpo e na alma sofrida dentro de casa. O lar, que deveria ser o lugar mais seguro para essas
mulheres, havia se transformado no pior dos mundos.

Quando finalmente chegavam ao Judiciário e se sentavam à minha frente, os relatos se transformavam em


desabafos de uma vida inteira. Era preciso explicar, justificar e muitas vezes se culpar por terem sido agredidas. A
culpa por ter sido vítima, a culpa por ter permitido, a culpa por não ter sido boa o suficiente, a culpa por não ter
conseguido manter a família. Sempre a culpa.

Aquelas mulheres chegavam à Justiça buscando uma força externa como se somente nós, juízes, promotores e
advogados, pudéssemos não apenas cessar aquele ciclo de violência, mas também lhes dar voz para reagir àquela
violência invisível.

Rejane Jungbluth Suxberger. Invisíveis Marias: histórias além das quatro paredes. Brasília: Trampolim, 2018 (com
adaptações).
Com base no texto CB1A1CCC, escrito por uma juíza acerca de casos de violência doméstica, julgue o item a seguir.
No texto, a palavra “prolatada” foi empregada como sinônimo de deferida.

( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
“Prolatar” é um termo jurídico usado especialmente quando juízes proferem uma sentença. Literalmente, significa
proferir, relatar.

Já "deferir" significa "acatar", "aprovar", "aceitar".


Trata-se, portanto, de vocábulos com sentidos contextuais distintos.
Resposta: ERRADO

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15.CESPE - Ass Port (EMAP)/EMAP/Administrativa/2018


A crescente internacionalização da economia, decorrente, principalmente, da redução de barreiras ao comércio
mundial, da maior velocidade das inovações tecnológicas e dos grandes avanços nas comunicações, tem exigido
mudanças efetivas na atuação do comércio internacional.
A abordagem desse tipo de comércio, inevitavelmente, passa pela concorrência, visto que é por meio da garantia
e da possibilidade de entrar no mercado internacional, de estabelecer permanência ou de engendrar saída, que se
consubstancia a plena expansão das atividades comerciais e se alcança o resultado último dessa interatuação: o
preço eficiente dos bens e serviços.

Defesa da concorrência e defesa comercial são instrumentos à disposição dos Estados para lidar com distintos
cenários que afetem a economia. Destaca-se como a principal diferença o efeito que cada instrumento busca
neutralizar.
A política de defesa da concorrência busca preservar o ambiente competitivo e coibir condutas desleais advindas
do exercício de poder de mercado. A política de defesa comercial busca proteger a indústria nacional de práticas
desleais de comércio internacional.
Elaine Maria Octaviano Martins Curso de direito marítimo Barueri: Manoele, v 1, 2013, p 65 (com adaptações)

Acerca de aspectos linguísticos do texto precedente e das ideias nele contidas, julgue o item a seguir.

Infere-se dos sentidos do texto que o vocábulo “engendrar” foi empregado como sinônimo de imaginar,
fantasiar.
( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO:
“Engendrar” significa arquitetar, originar, gerar, criar, e não imaginar ou fantasiar como sugere o item.
Resposta: ERRADO

16. CESPE - Ass Port (EMAP)/EMAP/Administrativa/2018


É curioso notar que a ideia de porto está presente nas sociedades humanas desde o aparecimento das cidades.
Isso porque uma das características das primeiras estruturas urbanas existentes na região do Oriente Próximo foi
a presença do porto.

As primeiras cidades, no sentido moderno, surgiram no período compreendido entre 3.100 e 2.900 a.C., na
Mesopotâmia, civilização situada às margens dos rios Tigre e Eufrates. A estrutura desses primeiros agrupamentos
urbanos era tripartite: a cidade propriamente dita, cercada por muralhas, onde ficavam os principais locais de culto
e as células dos futuros palácios reais; uma espécie de subúrbio, extramuros, local que agrupava residências e
instalações para criação de animais e plantio; e o porto fluvial, espaço destinado à prática do comércio e que era
utilizado como local de instalação dos estrangeiros, cuja admissão, em regra, era vedada nos muros da cidade.

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Não se trata, portanto, de uma criação aleatória apenas vinculada à atividade comercial. O porto aparece como
mais um elemento de uma forte mudança civilizacional que marcou o contexto do surgimento das cidades e da
escrita. O comportamento fundamental dessa mudança localiza-se no aumento das possibilidades do agir
humano, na diversificação dos papéis sociais e na abertura para o futuro. Houve, em resumo, uma ampliação no
grau de complexidade da sociedade.
Com relação aos sentidos e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o próximo item.

A palavra “tripartite” poderia ser substituída por tripartida, sem prejuízo dos sentidos e da correção
gramatical do texto.
( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:

“Tripartido” pode ser substituído, sem prejuízo ao sentido do texto, por “tripartite”. Ambos os termos se
equivalem semanticamente.
Resposta: CERTO

17.CESPE - TMCI (CGM J Pessoa)/Pref João Pessoa/2018


Texto CB2A1AAA

O jeitinho brasileiro é uma forma de corrupção? Se a regra transgredida não causa prejuízo, temos o “jeitinho”
positivo e, direi eu, ético. Por exemplo: estou na fila; chega uma pessoa precisando pagar sua conta que vence
naquele dia e pede para passar na frente. Não há o que reclamar dessa forma de “jeitinho”.
A questão sociológica que o “jeitinho” apresenta, porém, é outra. Ela mostra uma relação ruim com a lei geral,
com a norma desenhada para todos os cidadãos, com o pressuposto de que essa regra universal produz legalidade
e cidadania. Eu pago meus impostos integralmente e, por isso, posso exigir dos funcionários públicos do meu país.
Agora, se eu dou um jeito nos meus impostos porque o delegado da receita federal é meu amigo ou parente e faz
a tal “vista grossa”, aí temos o “jeitinho” virando corrupção. O “jeitinho” se confunde com corrupção e é
transgressão, porque desiguala o que deveria ser obrigatoriamente tratado com igualdade. O que nos enlouquece
hoje no Brasil não é a existência do jeitinho como ponte negativa entre a lei e a pessoa especial que dela se livra,
mas sim a persistência de um estilo de lidar com a lei, marcadamente aristocrático, que, de certa forma, induz o
chefe, o diretor, o dono, o patrão, o governador, o presidente a passar por cima da lei. A mídia tem um papel básico
na discussão desses casos de amortecimento, esquecimento e “jeitinho”, porque ela ajuda a politizar o velho
hábito que insiste em situar certos cargos e as pessoas que os empossam como acima da lei, do mesmo modo e
pela mesma lógica de hierarquias que colocam certas pessoas (negros, pobres e mulheres) implacavelmente
debaixo da lei.
Roberto da Matta. O jeitinho brasileiro. Internet: <https://maniadehistoria.wordpress.com> (com adaptações).

A respeito dos aspectos linguísticos do texto CB2A1AAA, julgue o seguinte item.


Os sentidos originais do texto seriam alterados caso, na linha 28, a palavra “certas” fosse deslocada para
imediatamente após “pessoas”.
( ) CERTO ( ) ERRADO

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RESOLUÇÃO:

Se a palavra “certas” fosse deslocada para imediatamente após a palavra “pessoas”, o sentido original do
texto seria alterado. Nesse caso, o pronome “certas” deixaria de ser indefinido e exerceria função de adjetivo.

No sentido original, “certas” corresponde a “algumas”. Já na reescrita, “certas” corresponde a “corretas”.

Resposta: CERTO

18. CESPE - TMCI (CGM J Pessoa)/Pref João Pessoa/2018


A corrupção é uma doença da alma. Como todas as doenças, ela não acomete a todos. Muitas pessoas são
suscetíveis a ela, outras não. A corrupção é uma doença que deve ser combatida por meio de uma vacina: a
educação. Uma educação de qualidade para todos os brasileiros deverá exercitar o pensamento e a crítica
argumentada e, principalmente, introduzir e consolidar virtudes como a solidariedade e a ética. Devemos preparar
uma nova geração na qual a corrupção seja um fenômeno do passado. Nesse futuro não tão remoto, teremos
conquistado a utopia de uma verdadeira justiça social.
Isaac Roitman. Corrupção e democracia. Internet: <https://noticias.unb.br> (com adaptações).
Com relação aos sentidos e aos aspectos gramaticais do texto apresentado, julgue o item a seguir.
No texto, a forma verbal “acomete” está empregada com o significado de afetar, contagiar

( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
“Acometer” significa ocasionar uma ação, portanto, tem o significado de afetar, contagiar, como sinaliza a
questão.
Resposta: CERTO

19. CESPE - Enf (IHB DF)/IHB DF/2018

Texto CG1A1AAA
Nasci no Brás, durante a Segunda Guerra. Da rua em que morávamos até a Praça da Sé, são vinte minutos de
caminhada.
Quando estava com sete anos, acordei com os olhos inchados, e meu pai me levou ao pediatra. Ao voltarmos, o
futebol ininterrupto que jogávamos com bola de borracha na porta da fábrica em frente parou e a molecada correu
até nós. Queriam saber se era verdade que os médicos davam injeções enormes na bunda das crianças.
Nenhum daqueles filhos de operários, meus irmãos ou eu havia ido ao pediatra; só os fortes sobreviviam, a morte
de crianças era aceita com resignação. Em várias regiões do país, a mortalidade infantil ultrapassava uma centena
para cada mil nascidos.
Se a assistência médica não chegava efetivamente ao Brás fabril, o primeiro bairro da zona leste, encostado no
centro da cidade que mais crescia na América Latina, que cuidados recebiam aqueles da zona rural, que
constituíam mais de 70% da população?

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Sarampo, caxumba, catapora, difteria e tosse comprida eram doenças da infância, tão inevitáveis quanto a noite
e o dia. Qualquer episódio de febre que deixasse a criança apática enlouquecia as mães, apavoradas pelo fantasma
onipresente da poliomielite. O som metálico das próteses que acompanhava os passos de meninas e meninos era
ouvido em toda parte.
No pronto-socorro de pediatria, os bebês com diarreia e desidratação eram atendidos em uma sala com trinta
berços, ao lado dos quais as mães passavam os dias e as noites em vigília. Morriam quatro ou cinco em cada plantão
de 12 horas.
Em 1988, o SUS passou a fazer parte da Constituição Federal. Nós nos tornamos o único país com mais de 100
milhões de habitantes que ousou oferecer saúde para todos. Apesar de termos nos esquecido de onde sairiam os
recursos para tamanho desafio, dos descasos, das interferências políticas, hoje são raras as crianças sem acesso a
pediatra.
Em contraste com as imagens de unidades de saúde caindo aos pedaços e prontos- socorros com doentes no chão,
as equipes do Saúde da Família atendem, de casa em casa, a maior parte do país continental. Temos o maior
programa gratuito de vacinações e de transplante de órgãos do mundo. A distribuição universal de medicamentos
contra HIV não só impediu que a epidemia se transformasse em catástrofe nacional, como serviu de base para o
combate em países da África e da Ásia.
Se pensarmos que, nos tempos desassistidos de minha infância, o Brasil tinha 50 milhões de habitantes, enquanto
hoje somos 200 milhões, a assistência médica deu um salto quantitativo e de qualidade muito superior ao de outras
áreas sociais, apesar de todas as deficiências gerenciais.
Drauzio Varella. Os visionários do SUS. 14/12/2015. Internet: <https://drauziovarella.com.br> (com adaptações).

A respeito dos sentidos e dos aspectos linguísticos do texto CG1A1AAA, julgue o item a seguir.
No texto, a palavra “resignação” foi empregada com o sentido de apatia.
( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:

“Resignação” significa submissão, conformação. É um termo relacionado a alguém que aceita algo de modo
paciente. Não tem o sentido de “apatia” (insensibilidade, que não se comove, que não demonstra sentimento)
como sugere o item.
Resposta: ERRADO

20. CESPE - Tec Enf (IHB DF)/IHB DF/2018


Texto CG2A1AAA
A vida de Florence Nightingale, a criadora da moderna enfermagem, daria um romance. Florence estava destinada
a receber uma boa educação, a casar-se com um cavalheiro de fina estirpe, a ter filhos, a cuidar da casa e da família.
Mas logo ficou claro que a menina não se conformaria a esse modelo. Era diferente; gostava de matemática, e era
o que queria estudar (os pais não deixaram). Aos dezesseis anos, algo aconteceu: Deus falou-me — escreveu depois
— e convocou-me para servi-lo.

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Servir a Deus significava, para ela, cuidar dos enfermos, e especialmente dos enfermos hospitalizados. Naquela
época, os hospitais curavam tão pouco e eram tão perigosos (por causa da sujeira, do risco de infecção) que os
ricos preferiam tratar-se em casa. Hospitalizados eram só os pobres, e Florence preparou-se para cuidar deles,
praticando com os indigentes que viviam próximos à sua casa. Viajou por toda a Europa, visitando hospitais. Coisa
que os pais não viam com bons olhos: enfermeiras eram consideradas pessoas de categoria inferior, de vida
desregrada. Mas Florence foi em frente e logo surgiu a oportunidade para colocar em prática o que aprendera.
Sidney Herbert, membro do governo inglês e amigo pessoal, pediu-lhe que chefiasse um grupo de enfermeiras
enviadas para o front turco, uma tarefa a que Florence entregou-se de corpo e alma; providenciava comida,
remédios, agasalhos, além de supervisionar o trabalho das enfermeiras. Mais que isso, fez estudos estatísticos (sua
vocação matemática enfim triunfou) mostrando que a alta mortalidade dos soldados resultava das péssimas
condições de saneamento.
Isso tudo não quer dizer que Florence fosse, pelos padrões habituais, uma mulher feliz. Para começar, não havia,
em sua vida, lugar para ligações amorosas. Cortejou-a o político e poeta Richard Milnes, Barão Houghton, mas ela
rejeitou-o. Ao voltar da guerra, algo estranho lhe aconteceu: recolheu-se ao leito e nunca mais deixou o quarto.
É possível, e até provável, que isso tenha resultado de brucelose, uma infecção crônica contraída durante a guerra;
mas havia aí um óbvio componente emocional, uma forma de fuga da realidade. Contudo — Florence era Florence
—, mesmo acamada, continuou trabalhando intensamente. Colaborou com a comissão governamental sobre
saúde dos militares, fundou uma escola para treinamento de enfermeiras, escreveu um livro sobre esse
treinamento.
Estranha, a Florence Nightingale? Talvez. Mas estranheza pode estar associada a qualidades admiráveis. Grande
e estranho é o mundo; grandes, ainda que estranhas, são muitas pessoas. E se elas têm grandeza, ao mundo pouco
deve importar que sejam estranhas.
Moacyr Scliar. Uma estranha, e admirável, mulher. Internet: <http://moacyrscliar.blogspot.com.br> (com
adaptações).

Acerca dos aspectos linguísticos do texto CG2A1AAA, julgue o item.


Mantidos os sentidos do texto, a expressão “se conformaria” poderia ser substituída por se resignaria.
( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:

Considerando que “resignação” significa submissão ou conformação, a forma verbal “se conformaria” poderia
ser substituída por “se resignaria”.
Resposta: CERTO

21. CESPE - TJ STJ/STJ/Administrativa/2018


Texto CB4A1AAA

As discussões em torno de questões como “o que é justiça?” ou “quais são os mecanismos disponíveis para produzir
situações cada vez mais justas ao conjunto da sociedade?” não são novidade. Autores do século XIX já procuravam
construir análises para identificar qual o sentido exato do termo justiça e quais formas de promovê-la eram

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possíveis e desejáveis ao conjunto da sociedade à época. O debate se enquadra em torno de três principais ideias:
bem-estar; liberdade e desenvolvimento; e promoção de formas democráticas de participação. Autores
importantes do campo da ciência política e da filosofia política e moral se debruçaram intensamente em torno
dessa questão ao longo do século XX, e chegaram a conclusões diversas uns dos outros. Embora a perspectiva
analítica de cada um desses autores divirja entre si, eles estão preocupados em desenvolver formas de promoção
de situações de justiça social e têm hipóteses concretas para se chegar a esse estado de coisas.

Para Amartya Sen, por exemplo, a injustiça é percebida e mensurada por meio da distribuição e do alcance social
das liberdades. Para Rawls, ela se manifesta principalmente nas estruturas básicas da sociedade e sua solução
depende de uma nova forma de contrato social e de uma definição de princípios básicos que criem condições de
promoção de justiça. Já para Habermas, a questão gira em torno da manifestação no campo da ação comunicativa,
na qual a fragilidade de uma ação coletiva que tenha pouco debate ou pouca representação pode enfraquecer a
qualidade da democracia e, portanto, interferir no seu pleno funcionamento, tendo, por consequência,
desdobramentos sociais injustos. Em síntese, os autores argumentam a favor de instrumentos variados para a
solução da injustiça, os quais dependem da interpretação de cada um deles acerca do conceito de justiça.
Augusto Leal Rinaldi. Justiça, liberdade e democracia. In: Pensamento Plural. Pelotas [12]: 57-74, jan.-jun./2013
(com adaptações).
Julgue o seguinte item, relativo aos sentidos e às ideias do texto CB4A1AAA.

O verbo enquadrar, no trecho “O debate se enquadra em torno de três principais ideias", foi empregado com
o sentido de circunscrever.
( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO:
“Circunscrever” pode ser entendido como “determinar os limites de” ou “delimitar”, traçando um círculo em
torno de algo. Assim, na frase em que se insere, pode ser substituído corretamente por “enquadrar”.
Resposta: CERTO

22. CESPE - TMCI (CGM J Pessoa)/Pref João Pessoa/2018


Texto CB2A1AAA

O jeitinho brasileiro é uma forma de corrupção? Se a regra transgredida não causa prejuízo, temos o “jeitinho”
positivo e, direi eu, ético. Por exemplo: estou na fila; chega uma pessoa precisando pagar sua conta que vence
naquele dia e pede para passar na frente. Não há o que reclamar dessa forma de “jeitinho”.
A questão sociológica que o “jeitinho” apresenta, porém, é outra. Ela mostra uma relação ruim com a lei geral,
com a norma desenhada para todos os cidadãos, com o pressuposto de que essa regra universal produz legalidade
e cidadania. Eu pago meus impostos integralmente e, por isso, posso exigir dos funcionários públicos do meu país.
Agora, se eu dou um jeito nos meus impostos porque o delegado da receita federal é meu amigo ou parente e faz
a tal “vista grossa”, aí temos o “jeitinho” virando corrupção. O “jeitinho” se confunde com corrupção e é
transgressão, porque desiguala o que deveria ser obrigatoriamente tratado com igualdade. O que nos enlouquece
hoje no Brasil não é a existência do jeitinho como ponte negativa entre a lei e a pessoa especial que dela se livra,

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mas sim a persistência de um estilo de lidar com a lei, marcadamente aristocrático, que, de certa forma, induz o
chefe, o diretor, o dono, o patrão, o governador, o presidente a passar por cima da lei. A mídia tem um papel

básico na discussão desses casos de amortecimento, esquecimento e “jeitinho”, porque ela ajuda a politizar o
velho hábito que insiste em situar certos cargos e as pessoas que os empossam como acima da lei, do mesmo
modo e pela mesma lógica de hierarquias que colocam certas pessoas (negros, pobres e mulheres)
implacavelmente debaixo da lei.

Roberto da Matta. O jeitinho brasileiro. Internet: <https://maniadehistoria.wordpress.com> (com adaptações).


A respeito dos aspectos linguísticos do texto CB2A1AAA, julgue o seguinte item.
A palavra “Agora” exprime uma circunstância temporal.
( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO:
A palavra “agora” é comumente classificada como advérbio de tempo. No texto em que se insere, porém,
não apresenta o sentido de tempo (presente). Considerando a relação entre as frases, ela representa uma ruptura,
uma contrariedade entre o período que inicia e o período anterior.
Resposta: ERRADO

23.CESPE - Aud (CAGE RS)/SEFAZ RS/2018


Texto 1A10AAA
A justiça tributária está em debate. O Brasil possui um sistema tributário altamente regressivo: quem ganha até
dois salários mínimos paga 49% dos seus rendimentos em tributos, enquanto quem ganha acima de trinta salários
mínimos paga apenas 26%. Isso ocorre porque, na comparação internacional, se tributa excessivamente o
consumo, e não o patrimônio e a renda.
A má distribuição tributária e de renda restringe o potencial econômico e social do país. Cabe ao Estado induzir
uma política distributiva conforme a qual quem ganha mais pague proporcionalmente mais do que quem ganha
menos e a maior parcela do orçamento seja destinada para as necessidades básicas da população.
A justiça tributária ocorre com a redução da carga tributária e da regressividade dos tributos e com sua eliminação
da cesta básica. A redução da carga tributária permite maior competitividade para as empresas, geração de
empregos, diminuição da inflação e indução do crescimento econômico.
Com a redução da carga tributária sobre o consumo, todos ganham: a população de baixa e média renda, pela
melhora no seu poder aquisitivo; a de maior renda, pelo desenvolvimento econômico e social, que gera ganhos
econômicos e financeiros, novas oportunidades e expansão da oferta de empregos.

Por outro lado, a substituição dos tributos indiretos, que atingem o fluxo econômico, por tributos que incidam
sobre o estoque da riqueza tem o mérito de criar maior desenvolvimento econômico, pois gera mais consumo,
produção e lucros que compensam a tributação sobre a riqueza.

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O desenvolvimento econômico amplia a arrecadação pública, proporcionando maiores recursos para


investimentos em políticas sociais e em infraestrutura, além de gerar maior atratividade para os investimentos nas
empresas.
Amir Kjair. Le monde diplomatique Brasil. 12.ª ed. Internet: <https://diplomatique.org.br> (com adaptações).

No texto 1A10AAA, no trecho “a população de baixa e média renda, pela melhora no seu poder aquisitivo”, a
preposição por, em “pela”, introduz uma ideia de

a) causa.
b) finalidade.
c) consequência.
d) condição.

e) conclusão.
RESOLUÇÃO
ALTERNATIVA A: A preposição “por”, em “pela”, introduz uma ideia de causa. Nesse caso, poder-se-ia usar
também “por causa da”.

ALTERNATIVA B: A ideia de finalidade poderia ocorrer com os elementos para, para que, a fim de que, por
exemplo.
ALTERNATIVA C: A forma “pela”, como mencionado na alternativa A, expressa causa, e não consequência.

ALTERNATIVA D: A ideia de condição seria possível se o trecho fosse introduzido pelos conectores se, caso,
contanto que, desde que, por exemplo.
ALTERNATIVA E: Um enunciado conclusivo costuma ser introduzido pelos conectivos portanto, então, por
conseguinte, por exemplo, e não pelo termo “pela”, que, no texto, tem valor causal.

Resposta: A

24. CESPE - TJ (STM)/STM/Administrativa/"Sem Especialidade"/2018


Texto CB4A1AAA
Narração é diferente de narrativa, uma vez que mantém algo da ideia de acompanhar os fatos à medida que eles
acontecem. A narrativa é uma totalidade de acontecimentos encadeados, uma espécie de soma final, e está
presente em tudo: na sequência de entrada, prato principal e sobremesa de um jantar; em mitos, romances,
contos, novelas, peças, poemas; no Curriculum vitae; na história dos nossos corpos; nas notícias; em relatórios
médicos; em conversas, desenhos, sonhos, filmes, fábulas, fotografias. Está nas óperas, nos videoclipes,
videogames e jogos de tabuleiro. A narração, por sua vez, é basicamente aquilo que um narrador enuncia.

Uma contagem de palavras na base de dados do Google mostra uma mudança nos usos de narrativa. A palavra
vem sendo cada vez mais empregada nas últimas décadas, mas seu sentido vem mudando.
A expressão disputa de narrativas, que teve um boom dos anos 80 do século XX para cá, não costuma dizer respeito
à acepção mais literária do termo, como narrativa de um romance. Fala antes sobre trazer a público diferentes
formas de narrar o mundo, para que narrativas plurais possam ser elaboradas e disputadas. É um uso do termo que

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Aula 09

talvez aproxime narrativa de narração, porque sugere que toda narrativa histórica e cultural carrega em si um
processo e um movimento e que dentro dela há sempre sinais deixados pelas escolhas de um narrador.
Sofia Nestrovski. Narrativa. Internet: <www.nexojornal.com.br> (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto CB4A1AAA, julgue o item a seguir.
O vocábulo “antes” indica, no contexto em que se insere, circunstância temporal.
RESOLUÇÃO

A palavra “antes”, apesar de ser comumente classificada como advérbio de tempo, no texto em que se insere,
não apresenta esse sentido. Considerando a relação entre as frases, ela representa uma ruptura, uma
contrariedade entre o período de que ela faz parte e o período anterior.
Resposta: ERRADA

25.CESPE - Aud Est (TCM-BA)/TCM-BA/Controle Externo/2018


Ainda existem pessoas para as quais a greve é um “escândalo”: isto é, não só um erro, uma desordem ou um delito,
mas também um crime morala, uma ação intolerável que perturba a própria natureza. “Inadmissível”,
“escandalosa”, “revoltante”, dizem alguns leitores do Figaro, comentando uma greve recente. Para dizer a
verdade, trata-se de uma linguagem do tempo da Restauração, que exprime a sua mentalidade profunda. É a
época em que a burguesia, que assumira o poder havia pouco tempo, executa uma espécie de junção entre a moral
e a natureza, oferecendo a uma a garantia da outra. Temendo-se a naturalização da moral, moraliza-se a natureza;
finge-se confundir a ordem política e a ordem natural, e decreta-se imoral tudo o que conteste as leis estruturais
da sociedade que se quer defender. Para os prefeitos de Carlos X, assim como para os leitores do Figaro de hoje, a
greve constitui, em primeiro lugar, um desafio às prescrições da razão moralizada: “fazer greve é zombar de todos
nós”, isto é, mais do que infringir uma legalidade cívicab, é infringir uma legalidade “natural”, atentar contra o
bom senso, misto de moral e lógica, fundamento filosófico da sociedade burguesa.
Nesse caso, o escândalo provém de uma ausência de lógica: a greve é escandalosa porque incomoda precisamente
aqueles a quem ela não diz respeitoc. É a razão que sofre e se revolta: a causalidade direta, mecânica, essa
causalidade é perturbada; o efeito se dispersa incompreensivelmente longe da causa, escapa-lhe, o que é
intolerável e chocanted. Ao contrário do que se poderia pensar sobre os sonhos da burguesia, essa classe tem uma
concepção tirânica, infinitamente suscetível, da causalidade: o fundamento da moral que professa não é de modo
algum mágico, mas, sim, racional. Simplesmente, trata-se de uma racionalidade linear, estreita, fundada, por
assim dizer, numa correspondência numérica entre as causas e os efeitos. O que falta a essa racionalidade é,
evidentemente, a ideia das funções complexas, a imaginação de um desdobramento longínquo dos
determinismos, de uma solidariedade entre os acontecimentos, que a tradição materialista sistematizou sob o
nome de totalidadee.
Roland Barthes. O usuário da greve. In: R. Barthes. Mitologias. Tradução de Rita Buongermino, Pedro de Souza e Rejane Janowitzer. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007, p. 135-6 (com adaptações).

Assinale a opção que apresenta trecho do texto que expressa uma ideia de comparação.

a) “mas também um crime moral”


b) “mais do que infringir uma legalidade cívica”
c) “a quem ela não diz respeito”

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d) “o que é intolerável e chocante”


e) “que a tradição materialista sistematizou sob o nome de totalidade”

RESOLUÇÃO
ALTERNATIVA A: O termo “mas também” introduz uma adição, uma soma. Sintaticamente, integra uma
oração coordenada sindética aditiva.

ALTERNATIVA B: Há comparação de superioridade entre “mais do que infringir uma legalidade cívica” e
“infringir uma legalidade ‘natural’”.
ALTERNATIVA C: A oração em destaque funciona como adjunto adnominal do pronome demonstrativo
“aqueles”. Nesse caso, ela é uma oração adjetiva restritiva, da qual faz parte o pronome relativo “quem”.

ALTERNATIVA D: Em “o que é intolerável e chocante”, o vocábulo “o” é aposto recapitulativo, e a palavra


“que”, pronome relativo. Assim, temos um aposto e um termo que inicia oração adjetiva nesse trecho (que), e não
ideia de comparação.

ALTERNATIVA E: A oração em destaque é uma explicação, iniciada pelo pronome relativo “que”. Assim,
tem-se uma oração subordinada adjetiva explicativa.
Resposta: B

26. CESPE - AJ STJ/STJ/Administrativa/2018


Texto CB1A1AAA
No pensamento filosófico da Antiguidade, a dignidade (dignitas) da pessoa humana era alcançada pela posição
social ocupada pelo indivíduo, bem como pelo grau de reconhecimento dos demais membros da comunidade. A
partir disso, poder-se-ia falar em uma quantificação (hierarquia.) da dignidade, o que permitia admitir a existência
de pessoas mais dignas ou menos dignas.
Frise-se que foi a partir das formulações de Cícero que a compreensão de dignidade ficou desvinculada da posição
social. O filósofo conferiu à dignidade da pessoa humana um sentido mais amplo ligado à natureza humana: todos
estão sujeitos às mesmas leis da natureza, que proíbem que uns prejudiquem aos outros.
No círculo de pensamento jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, a concepção da dignidade da pessoa humana
passa por um procedimento de racionalização e secularização, mantendo-se, porém, a noção básica da igualdade
de todos os homens em dignidade e liberdade. Nesse período, destaca-se a concepção de Emmanuel Kant de que
a autonomia ética do ser humano é o fundamento da dignidade do homem. Incensurável é a permanência da
concepção kantiana no sentido de que a dignidade da pessoa humana repudia toda e qualquer espécie de
coisificação e instrumentalização do ser humano.
Antonio da Rocha Lourenço Neto. Direito e humanismo: visão filosófica, literária e histórica. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2013, p.148-9 (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto CB1A1AAA, julgue o item.

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Seria mantida a coerência do texto se o trecho “a partir das” fosse substituído ou por com base nas ou por desde
as, embora essas duas expressões tenham sentidos distintos.

( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
A coerência diz respeito ao sentido do enunciado. Assim, o sentido da frase não estaria comprometido com
a substituição de “a partir das” (que indica tempo) por “com base nas” (conformidade) ou “desde as” (tempo).
Embora a ideia de tempo não exista no primeiro substituto, a coerência da frase não fica comprometida.
Resposta: CERTO

27.CESPE - Ana Port I (EMAP)/EMAP/Administrativa/2018


O orgulho é a consciência (certa ou errônea) do nosso valor próprio; a vaidade é a consciência (certa ou errônea)
da evidência do nosso valor aos olhos dos outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso, pode ser a um
tempo vaidoso e orgulhoso, pode ser — pois tal é a natureza humana — vaidoso sem ser orgulhoso. À primeira
vista, é difícil compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso valor no conceito dos outros sem
a consciência do nosso valor em si. Se a natureza humana fosse racional, não haveria qualquer explicação. No
entanto, o homem vive primeiro uma vida exterior, e depois uma vida interior; a noção do efeito precede, na
evolução do espírito, a noção da causa interior desse mesmo efeito. O homem prefere ser tido em alta conta por
aquilo que não é a ser tido em meia conta por aquilo que é. Assim opera a vaidade.
Walmir Ayala (Coord e introd ) Fernando Pessoa Antologia de Estética. Teoria e Crítica Literária Rio de Janeiro: Ediouro, 1988, p 88-9 (com adaptações)

Acerca dos aspectos linguísticos do texto precedente e das ideias nele contidas, julgue o próximo item.

A forma verbal “opera” foi empregada com o sentido de produz.


( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
A forma verbal “opera” tem o sentido de agir, atuar, dando ideia de realização de uma ação. Portanto, não
pode ser substituída pela forma verbal “produz”, visto que o enunciado em que se insere não implica valor
semântico de causar efeito ou reação.
Resposta: ERRADO

28. CESPE - Ag (TCE-PB)/TCE-PB/Documentação/2018


Texto
O medo do esquecimento obcecou as sociedades europeias da primeira fase da modernidade. Para dominar sua
inquietação, elas fixaram, por meio da escrita, os traços do passado, a lembrança dos mortos ou a glória dos vivos
e todos os textos que não deveriam desaparecer. A pedra, a madeira, o tecido, o pergaminho e o papel forneceram
os suportes nos quais podia ser inscrita a memória dos tempos e dos homens.
No espaço aberto da cidade, no refúgio da biblioteca, na magnitude do livro e na humildade dos objetos mais
simples, a escrita teve como missão conjurar contra a fatalidade da perda. Em um mundo no qual as escritas
podiam ser apagadas, os manuscritos podiam ser perdidos e os livros estavam sempre ameaçados de destruição,

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a tarefa não era fácil. Paradoxalmente, seu sucesso poderia criar, talvez, outro perigo: o de uma incontrolável
proliferação textual de um discurso sem ordem nem limites.

O excesso de escrita, que multiplica os textos inúteis e abafa o pensamento sob o acúmulo de discursos, foi
considerado um perigo tão grande quanto seu contrário. Embora fosse temido, o apagamento era necessário,
assim como o esquecimento também o é para a memória. Nem todos os escritos foram destinados a se tornar
arquivos cuja proteção os defenderia da imprevisibilidade da história. Alguns foram traçados sobre suportes que
permitiam escrever, apagar e depois escrever de novo.
Roger Chartier. Inscrever e apagar: cultura escrita e literatura (séculos XI-XVIII). Trad.: Luzmara Curcino Ferreira.
São Paulo: UNESP, 2007, p. 9-10 (com adaptações).
Predomina no texto a tipologia

a) narrativa.
b) prescritiva.
c) argumentativa.

d) descritiva.
e) expositiva.
RESOLUÇÃO
COMENTÁRIOS: Tipologia textual diz respeito às diferentes formas que um texto pode apresentar. Assim,
um conjunto de enunciados é estruturado de acordo com sua intenção comunicativa e com suas características
predominantes.
ALTERNATIVA A: A narração é uma história contada por um narrador, e o texto em análise tem caráter
dissertativo.
ALTERNATIVA B: Texto prescritivo, como uma receita médica, tem a finalidade de orientar ou de instruir
acerca de algo, o que não ocorre no texto em análise.
ALTERNATIVA C: O texto não argumenta, porque não há uma tese sendo defendida. Assim, o autor não
procura convencer o leitor a respeito de um ponto de vista.
ALTERNATIVA D: O texto descritivo, geralmente, serve para enriquecer o texto narrativo. Muitas vezes,
cria-se um “retrato verbal” daquilo que se descreve, a fim de tornar o texto mais visual. Apresenta, pois, de forma
detalhada, detalhes específicos sobre algo.

ALTERNATIVA E: O texto expõe a importância que teve a escrita na sociedade, com ênfase no seu papel de
dominar a inquietação do homem diante do medo do esquecimento que assolou a sociedade europeia em
determinado momento de sua história, que corresponde à sua primeira fase de modernidade.

Resposta: E

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29. CESPE – MPE/PI - 2018


Eis que se inicia então uma das fases mais intensas na vida de Geraldo Viramundo: sua troca de correspondência
com os estudantes, julgando estar a se corresponder com sua amada. E eis que passo pela rama nesta fase de meu
relato, já que me é impossível dar a exata medida do grau de maluquice que inspiraram tais cartas: infelizmente se
perderam e de nenhuma encontrei paradeiro, por maiores que tenham sido os meus esforços em rebuscar
coleções, arquivos e alfarrábios em minha terra. Sou forçado, pois, a limitar-me aos elementos de que disponho,
encerrando em desventuras as aventuras de Viramundo em Ouro Preto, e dando viço às suas peregrinações.

Fernando Sabino. O grande mentecapto. 62.ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.
Com referência aos sentidos do texto precedente e às estruturas linguísticas nele empregadas, julgue os itens
a seguir.

A presença de um narrador é um dos elementos textuais que permitem classificar o texto como narrativo.
( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
De fato! O texto traz um narrador- personagem – foco narrativo em 1ª pessoa.

Além do elemento narrador, é possível identificar personagens (Geraldo Viramundo e o próprio narrador),
tempo (uma das fases mais intensas na vida de Geraldo Viramundo), espaço (Ouro Preto) e enredo (as aventuras
de Viramundo em Ouro Preto).

Resposta: CERTO

30. CESPE – MPE/PI - 2018


Saiu a mais nova lista de coisas que devem ou não ser feitas, moda que parece ter contagiado o planeta. Desta vez,
Arthur Frommer e Holly Hugues elencam os 500 locais que precisamos visitar antes que desapareçam (500
places to see before they disappear). O livro traz lugares naturais e históricos, de antigos centros de culto a
paisagens em vias de extinção, assim como tesouros culturais únicos, como o Fenway Park, de Boston, inaugurado
em 1912: um dos últimos estádios norte-americanos que mantêm sua construção original, diz o Atlanta Journal
Constitution.

Revista da Semana, dez./2008 (com adaptações).


Julgue os itens a seguir, relativos aos sentidos e aos aspectos linguísticos do texto apresentado.
O texto é essencialmente informativo.
( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO:
De fato! O principal objetivo do texto é detalhar o conteúdo da obra 500 locais que precisamos visitar antes
que desapareçam.

Entenda-se “essencialmente” não como “exclusivamente”, mas sim “predominantemente”.


Não se pode afirmar que o texto seja exclusivamente informativo, pois há juízo de valor manifestado por
parte do autor no trecho: “moda que parece ter contagiado o planeta”.

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Mas é correto afirmar que predomina no texto o caráter informativo.


O item, portanto, está CERTO!

Resposta: CERTO

Texto para as questões 31 e 32


— Tinha vinte e cinco anos, era pobre, e acabava de ser nomeado alferes da Guarda Nacional. Não imaginam o
acontecimento que isto foi em nossa casa. Minha mãe ficou tão orgulhosa! Vai então uma das minhas tias, D.
Marcolina, que morava a muitas léguas da vila, num sítio escuso e solitário, desejou ver-me, e pediu que fosse ter
com ela e levasse a farda. Chamava-me também o seu alferes. E sempre alferes; era alferes para cá, alferes para
lá, alferes a toda a hora. Na mesa tinha eu o melhor lugar, e era o primeiro servido. Não imaginam. Se lhes disser
que o entusiasmo da tia Marcolina chegou ao ponto de mandar pôr no meu quarto um grande espelho,
naturalmente muito velho; mas via-se-lhe ainda o ouro.
— Espelho grande?

— Grande. E foi, como digo, uma enorme fineza, porque o espelho estava na sala; era a melhor peça da casa. Mas
não houve forças que a demovessem do propósito; respondia que não fazia falta, que era só por algumas semanas,
e finalmente que o “senhor alferes” merecia muito mais. O certo é que todas essas coisas, carinhos, atenções,
obséquios, fizeram em mim uma transformação, que o natural sentimento da mocidade ajudou e completou.
Imaginam, creio eu?
— Não.
— O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas equilibraram-se; mas não tardou que a
primitiva cedesse à outra; ficou-me uma parte mínima de humanidade. Aconteceu então que a alma exterior, que
era dantes o sol, o ar, o campo, os olhos das moças, mudou de natureza, e passou a ser a cortesia e os rapapés da
casa, tudo o que me falava do posto, nada do que me falava do homem. A única parte do cidadão que ficou comigo
foi aquela que entendia com o exercício da patente; a outra dispersou-se no ar e no passado. Vamos aos fatos.
Vamos ver como, ao tempo em que a consciência do homem se obliterava, a do alferes tornava-se viva e intensa.
No fim de três semanas, era outro, totalmente outro.
(...)

— Convém dizer-lhes que, desde que ficara só, não olhara uma só vez para o espelho. Não era abstenção
deliberada, não tinha motivo; era um impulso inconsciente, um receio de achar-me um e dois, ao mesmo tempo,
naquela casa solitária; e se tal explicação é verdadeira, nada prova melhor a contradição humana, porque no fim
de oito dias, deu-me na veneta olhar para o espelho com o fim justamente de achar-me dois. Olhei e recuei.

(...)
— De quando em quando, olhava furtivamente para o espelho; a imagem era a mesma difusão de linhas, a mesma
decomposição de contornos ... Subitamente, por uma inspiração inexplicável, por um impulso sem cálculo,
lembrou-me... vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como estava defronte do espelho, levantei
os olhos, e... não lhes digo nada; o vidro reproduziu então a figura integral; nenhuma linha de menos, nenhum
contorno diverso; era eu mesmo, o alferes, que achava, enfim, a alma exterior. Daí em diante, fui outro. Cada dia,

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a uma certa hora, vestia-me de alferes, e sentava-me diante do espelho, lendo, olhando, meditando; no fim de
duas, três horas, despia-me outra vez. Com este regime pude atravessar mais seis dias de solidão, sem os sentir...

Machado de Assis. O espelho. In: John Gladson (Org.). 50 contos de Machado de Assis. Cia. das Letras. Edição
eletrônica. Internet: (com adaptações).

31.CESPE – PF/2018
Os termos “difusão” (R.48) e “decomposição” (R.49), apesar de terem significados diferentes, foram empregados,
no texto, para expressar a ideia de indefinição da imagem refletida.

( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
Esse sentido de indefinição da imagem refletida associado aos dois substantivos fica bem claro na oposição
presente no trecho:
— De quando em quando, olhava furtivamente para o espelho; a imagem era a mesma difusão de linhas, a
mesma decomposição de contornos ... Subitamente, por uma inspiração inexplicável, por um impulso sem cálculo,
lembrou-me... vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; ... o vidro reproduziu então a figura integral;
nenhuma linha de menos, nenhum contorno diverso...
Sem a farda, a imagem era indefinida; com a farda, a imagem era nítida.
Resposta: CERTO

32.CESPE – PF/2018
O sentido do texto seria preservado, embora sua correção gramatical fosse prejudicada, caso se suprimisse a
expressão “por uma inspiração inexplicável, por um impulso sem cálculo” (R. 49 e 50), uma vez que esse trecho
apenas reforça a ideia contida em “Subitamente” (R.49).

( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
Analisemos o trecho:
Subitamente, por uma inspiração inexplicável, por um impulso sem cálculo, lembrou-me...

O trecho em destaque não tem como finalidade apenas reforçar a ideia de “Subitamente”. Na verdade, seu
valor semântico é de causa, sendo possível reescrevê-lo da seguinte forma: Subitamente, devido a uma inspiração
inexplicável, devido a um impulso sem cálculo, lembrou-me...
Isso significa que, ao suprimir o trecho em destaque, a correção gramatical até se mantém, mas o
sentido original se altera.
Resposta: ERRADO

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Texto para as questões 33 a 34


A polícia parisiense — disse ele — é extremamente hábil à sua maneira. Seus agentes são perseverantes,
engenhosos, astutos e perfeitamente versados nos conhecimentos que seus deveres parecem exigir de modo
especial. Assim, quando o delegado G... nos contou, pormenorizadamente, a maneira pela qual realizou suas
pesquisas no Hotel D..., não tive dúvida de que efetuara uma investigação satisfatória (...) até o ponto a que chegou
o seu trabalho.

— Até o ponto a que chegou o seu trabalho? — perguntei.


— Sim — respondeu Dupin. — As medidas adotadas não foram apenas as melhores que poderiam ser tomadas,
mas realizadas com absoluta perfeição. Se a carta estivesse depositada dentro do raio de suas investigações, esses
rapazes, sem dúvida, a teriam encontrado.

Ri, simplesmente — mas ele parecia haver dito tudo aquilo com a máxima seriedade.
— As medidas, pois — prosseguiu —, eram boas em seu gênero, e foram bem executadas: seu defeito residia em
serem inaplicáveis ao caso e ao homem em questão. Um certo conjunto de recursos altamente engenhosos é, para
o delegado, uma espécie de leito de Procusto, ao qual procura adaptar à força todos os seus planos. Mas, no caso
em apreço, cometeu uma série de erros, por ser demasiado profundo ou demasiado superficial. (...) E, se o
delegado e toda a sua corte têm cometido tantos enganos, isso se deve (...) a uma apreciação inexata, ou melhor,
a uma não apreciação da inteligência daqueles com quem se metem. Consideram engenhosas apenas as suas
próprias ideias e, ao procurar alguma coisa que se ache escondida, não pensam senão nos meios que eles próprios
teriam empregado para escondê-la. Estão certos apenas num ponto: naquele em que sua engenhosidade
representa fielmente a da massa; mas, quando a astúcia do malfeitor é diferente da deles, o malfeitor,
naturalmente, os engana. Isso sempre acontece quando a astúcia deste último está acima da deles e, muito
frequentemente, quando está abaixo. Não variam seu sistema de investigação; na melhor das hipóteses, quando
são instigados por algum caso insólito, ou por alguma recompensa extraordinária, ampliam ou exageram os seus
modos de agir habituais, sem que se afastem, no entanto, de seus princípios. (...) Você compreenderá, agora, o
que eu queria dizer ao afirmar que, se a carta roubada tivesse sido escondida dentro do raio de investigação do
nosso delegado — ou, em outras palavras, se o princípio inspirador estivesse compreendido nos princípios do
delegado —, sua descoberta seria uma questão inteiramente fora de dúvida. Este funcionário, porém, se enganou
por completo, e a fonte remota de seu fracasso reside na suposição de que o ministro é um idiota, pois adquiriu
renome de poeta. Segundo o delegado, todos os poetas são idiotas — e, neste caso, ele é apenas culpado de uma
non distributio medii, ao inferir que todos os poetas são idiotas.
— Mas ele é realmente poeta? — perguntei. — Sei que são dois irmãos, e que ambos adquiriram renome nas letras.
O ministro, creio eu, escreveu eruditamente sobre o cálculo diferencial. É um matemático, e não um poeta.
— Você está enganado. Conheço-o bem. E ambas as coisas. Como poeta e matemático, raciocinaria bem; como
mero matemático, não raciocinaria de modo algum, e ficaria, assim, à mercê do delegado.
— Você me surpreende — respondi — com essas opiniões, que têm sido desmentidas pela voz do mundo.
Naturalmente, não quererá destruir, de um golpe, ideias amadurecidas durante tantos séculos. A razão
matemática é há muito considerada como a razão par excellence.
Edgar Allan Poe. A carta roubada. In: Histórias extraordinárias. Victor Civita, 1981. Tradução de Brenno Silveira e
outros.

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33.CESPE – PF/2018
No que se refere à tipologia e aos sentidos do texto 12A1AAA, julgue os próximos itens.
O primeiro parágrafo do texto é predominantemente descritivo, pois apresenta as características da “polícia
parisiense”.
( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
Façamos a leitura do 1o parágrafo de forma segmentada:

A polícia parisiense — disse ele — é extremamente hábil à sua maneira. Seus agentes são perseverantes,
engenhosos, astutos e perfeitamente versados nos conhecimentos que seus deveres parecem exigir de modo
especial.

Aqui temos um trecho essencialmente descritivo. Nele predominam adjetivos e verbos de ligação, marcas
registradas dos textos descritivos.
Leiamos a segunda parte:
Assim, quando o delegado G... nos contou, pormenorizadamente, a maneira pela qual realizou suas
pesquisas no Hotel D..., não tive dúvida de que efetuara uma investigação satisfatória (...) até o ponto a que chegou
o seu trabalho.
Aqui temos um trecho essencialmente narrativo. Nele temos uma sequência de fatos, marcas registradas
dos textos narrativos.
O que se nota é que há um equilíbrio entre a narração e a descrição. Em outras palavras, o 1o parágrafo está
dividido meio a meio entre a descrição e a narração.
Sendo assim, é incorreto afirmar que predomina no parágrafo a descrição.

Resposta: ERRADO

34. CESPE – PF/2018


Mantendo-se a correção gramatical e os sentidos originais do texto, o seu sexto parágrafo poderia ser assim
reescrito: Perguntei, entretanto, se ele era realmente poeta. Sabia que são dois irmãos e que ambos adquiriram
renome nas letras. O ministro, acreditava eu, escrevia eruditamente sobre o cálculo diferencial: é um matemático,
não um poeta.
( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO:
Destaquemos o seguinte fragmento de texto:
“— Mas ele é realmente poeta? — perguntei. — Sei que são dois irmãos, e que ambos adquiriram renome nas
letras. O ministro, creio eu, escreveu eruditamente sobre o cálculo diferencial. É um matemático, e não um poeta. ”.
Esse trecho está reproduzido em discurso direto. A proposta de reescrita tenta converter essa fala para um
discurso indireto.

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Lembremo-nos de que, no discurso direto, são reproduzidas fielmente as falas dos personagens e estas são
identificadas no texto por meio de sinais de pontuação, como travessões, aspas, dois pontos e pelos chamados
verbos dicendi (verbos que introduzem falas), como “dizer”, “falar”, etc.
Já no discurso indireto, as falas dos personagens são reproduzidas pelo narrador, que diz com suas palavras
o que os personagens disseram.
Devem-se observar as seguintes alterações na conversão do discurso direto para o indireto:

1) O presente do indicativo "é", “Sei”, “são” e “creio”, presente no discurso direto, converte-se no pretérito
imperfeito do indicativo "era", “Sabia”, “eram” e “cria” ou “acreditava”, no discurso indireto;
2) O pretérito perfeito do indicativo "adquiriram" e “escreveu”, presente no discurso direto, converte-se no
pretérito mais que perfeito "adquiriram" ou "havia/tinha adquirido" e “escrevera” ou “tinha/havia escrito”;

Observemos as transformações ocorridas:


Discurso Direto:
“— Mas ele é realmente poeta? — perguntei. — Sei que são dois irmãos, e que ambos adquiriram renome nas
letras. O ministro, creio eu, escreveu eruditamente sobre o cálculo diferencial. É um matemático, e não um poeta. ”.
Discurso Indireto:
“Perguntei, entretanto, se ele era realmente poeta. Sabia que são eram dois irmãos e que ambos adquiriram
renome nas letras. O ministro, acreditava eu, havia escrito escrevia eruditamente sobre o cálculo diferencial: é era
um matemático, não um poeta.”.
Resposta: ERRADO

35.CESPE – PF/2018
A natureza jamais vai deixar de nos surpreender. As teorias científicas de hoje, das quais somos justamente
orgulhosos, serão consideradas brincadeira de criança por futuras gerações de cientistas. Nossos modelos de hoje
certamente serão pobres aproximações para os modelos do futuro. No entanto, o trabalho dos cientistas do futuro
seria impossível sem o nosso, assim como o nosso teria sido impossível sem o trabalho de Kepler, Galileu ou
Newton. Teorias científicas jamais serão a verdade final: elas irão sempre evoluir e mudar, tornando-se
progressivamente mais corretas e eficientes, sem chegar nunca a um estado final de perfeição. Novos fenômenos
estranhos, inesperados e imprevisíveis irão sempre desafiar nossa imaginação. Assim como nossos antepassados,
estaremos sempre buscando compreender o novo. E, a cada passo dessa busca sem fim, compreenderemos um
pouco mais sobre nós mesmos e sobre o mundo a nossa volta.
Em graus diferentes, todos fazemos parte dessa aventura, todos podemos compartilhar o êxtase que surge a cada
nova descoberta; se não por intermédio de nossas próprias atividades de pesquisa, ao menos ao estudarmos as
ideias daqueles que expandiram e expandem as fronteiras do conhecimento com sua criatividade e coragem
intelectual. Nesse sentido, você, eu, Heráclito, Copérnico e Einstein somos todos parceiros da mesma dança, todos
dançamos com o Universo. É a persistência do mistério que nos inspira a criar.

Marcelo Gleiser. A dança do universo: dos mitos de criação ao Big-Bang. São Paulo: Companhia das Letras, 2006,
p. 384-5 (com adaptações).

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Com relação aos sentidos do texto 14A15AAA, julgue os próximos itens.


A substituição do termo “do futuro”, em “modelos do futuro” (R. 5 e 6), pelo adjetivo futuristas manteria os
sentidos originais do texto.
( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
A locução “do futuro” tem o sentido limitado ao de tempo.

Fazendo a troca pelo adjetivo “futuristas”, além do sentido associado a tempo, é possível somar um sentido
associado a “revolucionário”, “inovador”.
Ocorre, dessa forma, alteração de sentido com a mudança sugerida.
Resposta: ERRADO

Texto para as questões 36 a 40


Como se pode imaginar, não foi o latim clássico, dos grandes escritores romanos e latinos e falado pelas classes
romanas mais abastadas, que penetrou na Península Ibérica e nos demais espaços conquistados pelo Império
Romano. Foi o latim popular, falado pelas tropas invasoras que fez esse papel. Essa variante vulgar sobrepôs-se às
línguas dos povos dominados e com elas caldeou-se, dando origem aos dialetos que viriam a se chamar
genericamente de romanços ou romances (do latim romanice, isto é, à moda dos romanos).
No século V d.C., o Império Romano ruiu e os romanços passaram a diferenciar-se cada vez mais, dando origem às
chamadas línguas neolatinas ou românicas: francês, provençal, espanhol, português, catalão, romeno, rético,
sardo etc.

Séculos mais tarde, Portugal fundou-se como nação, ao mesmo tempo em que o português ganhou seu estatuto
de língua, da seguinte forma: enquanto Portugal estabelecia as suas fronteiras no século XIII, o galego-português
patenteava-se em forma literária.
Cerca de três séculos depois, Portugal lançou-se em uma expansão de conquistas que, à imagem do que Roma
fizera, levou a língua portuguesa a remotas regiões: Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cingapura, Índia e Brasil,
para citar uns poucos exemplos em três continentes.
Muito mais tarde, essas colônias tornaram-se independentes — o Brasil no século XIX, as demais no século XX —,
mas a língua de comunicação foi mantida e é hoje oficial em oito nações independentes: Brasil, Portugal, Angola,
Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Instituto Antônio Houaiss. José Carlos de Azevedo (Coord.). Escrevendo pela nova ortografia: como usar as regras
do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008, p. 16-7 (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue os itens seguintes.

36. CESPE – PF/2018


A forma verbal “caldeou-se” (R.7) relaciona-se, no texto, ao sentido de mistura, fusão ou associação.
( ) CERTO ( ) ERRADO

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RESOLUÇÃO:
Observemos o seguinte trecho:

Essa variante vulgar sobrepôs-se às línguas dos povos dominados e com elas caldeou-se, dando origem aos
dialetos que viriam a se chamar genericamente de romanços ou romances (do latim romanice, isto é, à moda dos
romanos).
Nele, é possível perceber que havia duas línguas: a variante vulgar do latim e a língua do povo dominado.

O resultado foi o surgimento de dialetos (variantes linguísticas), dando a entender que houve uma mistura
de traços do latim vulgar e da língua dos povos dominados.
Dessa forma, é sim possível associar o verbo “caldear” aos sentidos de fusão, mistura, combinação.
O item está CERTO, portanto!

Resposta: CERTO

37.CESPE – PF/2018
A expressão “língua de comunicação” (R.28) constitui, pelo contexto, um sinônimo para o termo “galego-
português” (R.19).

( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
O galego-português é apresentado, no texto, como uma variante do português, falado no século XIII.

O que o texto faz é associar o português a “língua de comunicação”- entendida no contexto como língua de
uso - e a “idioma oficial”.
Isso posto, a expressão “língua de comunicação” retoma o português de uso, e não especificamente a
variante do galego-português.

O item está ERRADO, portanto!


Resposta: ERRADO

38. CESPE – PF/2018


Mantendo-se os sentidos originais do texto, o vocábulo “remotas” (R.23) poderia ser substituído tanto por
longínquas quanto por ignotas.
( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:

Observemos o seguinte trecho:


... Portugal lançou-se 22 em uma expansão de conquistas que, à imagem do que Roma fizera, levou a língua
portuguesa a remotas regiões...
Analisando o contexto, o termo “remotas” está associado a “longínquos”, guardando com estes uma relação
de sinonímia.

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No entanto, o vocábulo “ignotas” significa “ignorados”. É possível chegar a essa conclusão sem recorrer ao
dicionário, analisando a formação da palavra e constatando que se trata de um cognato (vocábulo de mesma raiz)
de “ignorar”, “ignorante”, “ignorância”, etc.
Pois bem, enquanto que “remotas” está associado a distância, “ignotas” está associado a “desconhecido”,
“ignorado”. Há uma diferença de sentido aí. Não necessariamente algo distante é algo ignorado.
O item está ERRADO, portanto!

Resposta: ERRADO

39. CESPE – PF/2018


No contexto em que estão inseridas, as palavras “neolatinas” e “românicas” podem ser consideradas sinônimos.
( ) CERTO ( ) ERRADO

RESOLUÇÃO
Observemos o seguinte trecho:
... dando origem às chamadas línguas neolatinas ou românicas...
A presença da conjunção “ou” deixa bem evidente que as referidas línguas podem ser chamadas tanto de
neolatinas como de românicas, evidenciando entre elas uma relação de sinonímia.
O item está CERTO, portanto!
Resposta: CERTO

40. CESPE – PF/2018


A correção gramatical e o sentido do texto seriam preservados caso se substituísse a palavra “genericamente”
(R.8) por comumente.

( ) CERTO ( ) ERRADO
RESOLUÇÃO:
Observemos o seguinte trecho:
... dando origem aos dialetos que viriam a se chamar genericamente de romanços ou romances...

O termo “genericamente”, no contexto, está associado à ideia de geral, ou seja, sem especificidades. Os
vários dialetos foram reunidos em uma só denominação – romanços -, sem se levar em conta suas peculiaridades.
Já o termo “comumente” estaria associado à ideia de frequência, o que acarretaria mudança de sentido.

O item está ERRADO, portanto!


Resposta: ERRADO

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Lista de Questões
1. CESPE - Soldado Militar (PM MA)/Combatente/2018
Texto CG2A1CCC
A questão da segurança pública passou a ser considerada problema fundamental e principal desafio ao Estado de
direito no Brasil. A segurança ganhou enorme visibilidade pública e jamais, em nossa história recente, esteve tão
presente nos debates.
A amplitude dos temas e problemas relativos à segurança pública alerta para a necessidade de qualificação do
debate sobre segurança e para a incorporação de novos atores, cenários e paradigmas às políticas públicas.

O problema da segurança, portanto, não pode mais estar adstrito apenas ao repertório tradicional do direito e das
instituições da justiça. Evidentemente, as soluções devem passar pelo fortalecimento da capacidade do Estado
em gerir a violência, pela retomada da capacidade gerencial no âmbito das políticas públicas de segurança, mas
também devem passar pelo alongamento dos pontos de contato das instituições públicas com a sociedade civil e
com a produção acadêmica mais relevante à área.
Em síntese, os novos gestores da segurança pública devem enfrentar esses desafios, além de fazer o amplo debate
nacional sobre o tema transformar-se em real controle sobre as políticas de segurança pública e, mais ainda,
estimular a parceria entre órgãos do poder público e da sociedade civil na luta por segurança e qualidade de vida
dos cidadãos brasileiros.
Internet: <www.observatoriodeseguranca.org> (com adaptações).

Acerca das ideias e de aspectos linguísticos do texto CG2A1CCC, julgue o seguinte item.
No texto, predominam o uso de linguagem denotativa e o tipo textual argumentativo.
( ) CERTO ( ) ERRADO

2. CESPE - Analista Judiciário (STM)/Apoio Especializado/Revisão de Texto/2018


Texto 6A3AAA
A liderança é necessária em todos os tipos de organização humana, seja nas empresas, seja em cada um de seus
departamentos. Ela é essencial em todas as funções da administração: o administrador precisa conhecer a
natureza humana e saber conduzir as pessoas, isto é, liderar.
Para os humanistas, a liderança pode ser analisada sob diversos ângulos, entre os quais estão:
Liderança como um fenômeno de influência interpessoal. Liderança é a influência interpessoal exercida em uma
situação e dirigida por meio do processo da comunicação humana para a consecução de um ou mais objetivos
específicos. A liderança ocorre como um fenômeno social e exclusivamente nos grupos sociais. Ela decorre dos
relacionamentos entre as pessoas em determinada estrutura social. Nada tem a ver com os traços pessoais de
personalidade do líder. A influência significa uma força psicológica, uma transação interpessoal na qual uma
pessoa age de modo a modificar o comportamento de outra de modo intencional. A influência envolve conceitos
como poder e autoridade, abrangendo maneiras pelas quais se provocam mudanças no comportamento de
pessoas ou de grupos sociais.

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Liderança como um processo de redução da incerteza de um grupo. O grau em que um indivíduo demonstra a
qualidade de liderança depende não somente de suas próprias características pessoais, mas também das
características da situação na qual ele se encontra.Liderança é um processo contínuo de escolha que permite que
a empresa caminhe em direção a sua meta, apesar de todas as perturbações internas e externas. O grupo tende a
escolher como líder a pessoa que lhe pode dar maior assistência e orientação (que defina ou ajude o grupo a
escolher os rumos e as melhores soluções para seus problemas) para que alcance seus objetivos. A liderança éuma
questão de redução da incerteza do grupo, e o comportamento pelo qual se consegue essa redução é a escolha, a
tomada de decisão. Nesse sentido, o líder é um tomador de decisões ou aquele que ajuda o grupo a tomar decisões
adequadas.
Idalberto Chiavenato. Introdução à teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003, p. 122 (com
adaptações).
Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto 6A3AAA, julgue o item.
De cunho predominantemente argumentativo, o texto tem o objetivo geral de convencer o leitor da validade
da perspectiva humanista em relação à noção de liderança.
( ) CERTO ( ) ERRADO

3. CESPE - Técnico Judiciário (STM)/Administrativa/"Sem Especialidade"/2018 (e mais 1 concurso)


Texto CB4A1AAA
Narração é diferente de narrativa, uma vez que mantém algo da ideia de acompanhar os fatos à medida que eles
acontecem. A narrativa é uma totalidade de acontecimentos encadeados, uma espécie de soma final, e está
presente em tudo: na sequência de entrada, prato principal e sobremesa de um jantar; em mitos, romances,
contos, novelas, peças, poemas; no Curriculum vitae; na história dos nossos corpos; nas notícias; em relatórios
médicos; em conversas, desenhos, sonhos, filmes, fábulas, fotografias. Está nas óperas, nos
videoclipes, videogames e jogos de tabuleiro. A narração, por sua vez, é basicamente aquilo que um narrador
enuncia.
Uma contagem de palavras na base de dados do Google mostra uma mudança nos usos de narrativa. A palavra
vem sendo cada vez mais empregada nas últimas décadas, mas seu sentido vem mudando.

A expressão disputa de narrativas, que teve um boom dos anos 80 do século XX para cá, não costuma dizer respeito
à acepção mais literária do termo, como narrativa de um romance. Fala antes sobre trazer a público diferentes
formas de narrar o mundo, para que narrativas plurais possam ser elaboradas e disputadas. É um uso do termo que
talvez aproxime narrativa de narração, porque sugere que toda narrativa histórica e cultural carrega em si um
processo e um movimento e que dentro dela há sempre sinais deixados pelas escolhas de um narrador.
Sofia Nestrovski. Narrativa. Internet: <www.nexojornal.com.br> (com adaptações).
Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto CB4A1AAA, julgue o item a seguir.
Dadas a temática apresentada e a presença de referências temporais, como as expressões “nas últimas
décadas” e “dos anos 80 do século XX para cá”, o texto classifica-se como narrativo.
( ) CERTO ( ) ERRADO

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4. CESPE - Técnico de Enfermagem (IHB DF)/2018


Texto CG2A1AAA
A vida de Florence Nightingale, a criadora da moderna enfermagem, daria um romance. Florence estava destinada
a receber uma boa educação, a casar-se com um cavalheiro de fina estirpe, a ter filhos, a cuidar da casa e da família.
Mas logo ficou claro que a menina não se conformaria a esse modelo. Era diferente; gostava de matemática, e era
o que queria estudar (os pais não deixaram). Aos dezesseis anos, algo aconteceu: Deus falou-me — escreveu depois
— e convocou-me para servi-lo.

Servir a Deus significava, para ela, cuidar dos enfermos, e especialmente dos enfermos hospitalizados. Naquela
época, os hospitais curavam tão pouco e eram tão perigosos (por causa da sujeira, do risco de infecção) que os
ricos preferiam tratar-se em casa. Hospitalizados eram só os pobres, e Florence preparou-se para cuidar deles,
praticando com os indigentes que viviam próximos à sua casa. Viajou por toda a Europa, visitando hospitais. Coisa
que os pais não viam com bons olhos: enfermeiras eram consideradas pessoas de categoria inferior, de vida
desregrada. Mas Florence foi em frente e logo surgiu a oportunidade para colocar em prática o que aprendera.
Sidney Herbert, membro do governo inglês e amigo pessoal, pediu-lhe que chefiasse um grupo de enfermeiras
enviadas para o front turco, uma tarefa a que Florence entregou-se de corpo e alma; providenciava comida,
remédios, agasalhos, além de supervisionar o trabalho das enfermeiras. Mais que isso, fez estudos estatísticos (sua
vocação matemática enfim triunfou) mostrando que a alta mortalidade dos soldados resultava das péssimas
condições de saneamento.
Isso tudo não quer dizer que Florence fosse, pelos padrões habituais, uma mulher feliz. Para começar, não havia,
em sua vida, lugar para ligações amorosas. Cortejou-a o político e poeta Richard Milnes, Barão Houghton, mas ela
rejeitou-o. Ao voltar da guerra, algo estranho lhe aconteceu: recolheu-se ao leito e nunca mais deixou o quarto. É
possível, e até provável, que isso tenha resultado de brucelose, uma infecção crônica contraída durante a guerra;
mas havia aí um óbvio componente emocional, uma forma de fuga da realidade. Contudo — Florence era Florence
—, mesmo acamada, continuou trabalhando intensamente. Colaborou com a comissão governamental sobre
saúde dos militares, fundou uma escola para treinamento de enfermeiras, escreveu um livro sobre esse
treinamento.
Estranha, a Florence Nightingale? Talvez. Mas estranheza pode estar associada a qualidades admiráveis. Grande
e estranho é o mundo; grandes, ainda que estranhas, são muitas pessoas. E se elas têm grandeza, ao mundo pouco
deve importar que sejam estranhas.
Moacyr Scliar. Uma estranha, e admirável, mulher. Internet: <http://moacyrscliar.blogspot.com.br> (com
adaptações).
No que se refere às ideias e à tipologia do texto CG2A1AAA, julgue o item que se segue.

O texto, embora contenha trecho narrativo dedicado a contar a trajetória da precursora da moderna
enfermagem, é essencialmente dissertativo, pois está estruturado em introdução, desenvolvimento e
conclusão.
( ) CERTO ( ) ERRADO

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5. CESPE - Agente de Inteligência/2018


Texto
A atividade de inteligência é o exercício de ações especializadas para a obtenção e análise de dados, produção de
conhecimentos e proteção de conhecimentos para o país. Inteligência e contrainteligência são os dois ramos dessa
atividade. A inteligência compreende ações de obtenção de dados associadas à análise para a compreensão desses
dados. A análise transforma os dados em cenário compreensível para o entendimento do passado, do presente e
para a perspectiva de como tende a se configurar o futuro. Cabe à inteligência tratar fundamentalmente da
produção de conhecimentos com o objetivo específico de auxiliar o usuário a tomar decisões de maneira mais
fundamentada. A contrainteligência tem como atribuições a produção de conhecimentos e a realização de ações
voltadas à proteção de dados, conhecimentos, infraestruturas críticas — comunicações, transportes, tecnologias
de informação — e outros ativos sensíveis e sigilosos de interesse do Estado e da sociedade. O trabalho
desenvolvido pela contrainteligência tem foco na defesa contra ameaças como a espionagem, a sabotagem, o
vazamento de informações e o terrorismo, patrocinadas por instituições, grupos ou governos estrangeiros.
Internet: <www.abin.gov.br> (com adaptações).

Julgue o item seguinte, relativo às ideias e aos aspectos linguísticos do texto.


No texto, predomina a tipologia textual expositiva, dado o seu objetivo comunicativo de transmitir ao leitor
um conjunto de informações relativas às atividades desenvolvidas sob o rótulo de inteligência.
( ) CERTO ( ) ERRADO

6. CESPE - Analista Judiciário (STJ)/Administrativa/2018 (e mais 7 concursos)


Texto CB1A1BBB

O conceito de direitos humanos assenta em um bem conhecido conjunto de pressupostos, todos eles tipicamente
ocidentais: existe uma natureza humana universal que pode ser conhecida racionalmente; a natureza humana é
essencialmente diferente e superior à restante realidade; o indivíduo possui uma dignidade absoluta e irredutível
que tem de ser defendida da sociedade ou do Estado; a autonomia do indivíduo exige que a sociedade esteja
organizada de forma não hierárquica, como soma de indivíduos livres. Uma vez que todos esses pressupostos são
claramente ocidentais e facilmente distinguíveis de outras concepções de dignidade humana em outras culturas,
teremos de perguntar por que motivo a questão da universalidade dos direitos humanos se tornou tão acesamente
debatida.
Boaventura de Sousa Santos. Por uma concepção multicultural dos direitos humanos. Internet:
<www.dhnet.org.br> (com adaptações).
Acerca do texto CB1A1BBB e de seus aspectos linguísticos, julgue o item que se segue.

O texto é essencialmente dissertativo-argumentativo e nele o autor expressa sua opinião a respeito do


assunto tratado.
( ) CERTO ( ) ERRADO

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7. CESPE - Assistente de Aluno (IFF)/2018 (e mais 3 concursos)


Texto
O alemão Max Weber, um dos mais renomados pensadores sociais, fundador e expoente da teoria sociológica
clássica, elaborou um conceito de burocracia baseado em elementos jurídicos do século XIX, concebidos por
teóricos do direito.
A divisão e distribuição de funções, a seleção de pessoal especializado, os regulamentos e a disciplina hierárquica
são fatores que fazem da burocracia moderna o modo mais eficiente de administração, tanto na esfera privada
(em uma empresa capitalista) quanto na administração pública.
O leigo, em geral, costuma criticar o aparelho burocrático da administração pública devido à sua rigidez
administrativa, inadequação das normas e grande quantidade de regulamentos. Esses aspectos produzem
resultados contrários aos esperados pelo cidadão, como, por exemplo, a lentidão dos processos.
De fato, a crescente racionalidade do sistema burocrático tende a gerar efeitos negativos, que podem diminuir
drasticamente a eficiência de uma organização ou sociedade. Em contrapartida, novos modelos de estruturas
burocráticas, alternativos ao modelo weberiano, têm sido experimentados.

Burocracia: Max Weber e o significado de ‘burocracia’ Internet: <https://educacao uol com br> (com adaptações)
O texto tem, predominantemente, a função de
a) divertir o leitor.

b) informar o leitor.
c) dialogar com o leitor.
d) convencer o leitor de algo.
e) narrar um fato ao leitor.

8. CESPE - Auxiliar em Administração (IFF)/2018


Texto
Sete anos após receber o título de Patrimônio Cultural do Brasil, o Complexo Cultural Bumba Meu Boi, uma das
manifestações culturais mais marcantes do estado do Maranhão, pode receber reconhecimento internacional.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) entregou ao Ministério das Relações Exteriores o
dossiê de candidatura dessa manifestação cultural ao status de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O
título é conferido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
O Bumba Meu Boi é uma apresentação que mistura brincadeira, música, dança e artes cênicas. Os participantes
dramatizam a história dos personagens Pai Francisco e sua mulher grávida, Mãe Catirina. Pai Francisco rouba a
língua de um dos bois da fazenda onde trabalhava para satisfazer os desejos de Catirina. O dono da fazenda,
porém, perdoa o trabalhador após os participantes do folguedo recuperarem a saúde do boi. A história termina
com uma festa para celebrar o final feliz de todos.

Internet: <www brasil gov br> (com adaptações)


O texto é um(a)

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a) conto.
b) crônica.

c) ensaio.
d) artigo de opinião.
e) notícia informativa.

9. CESPE - Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (IFF)/Administração/2018 (e mais 19


concursos)

Educar para a transcendência é tentar estabelecer um equilíbrio entre a educação para a sobrevivência e a
educação para a transcendência. Explico melhor: a educação tem sido até hoje, na melhor das hipóteses, uma
transferência cultural que oferece aos jovens a possibilidade de sobreviver dentro da sua cultura, entendida como
modo de vida. Isso ocorre no contexto das formas mais tribais da educação, até nas mais sofisticadas, mas não
menos egoístas.

Com a evolução da espécie humana ― que existe diferenciada dos animais há 4 ou 5 milhões de anos ―, foi se
acentuando a nossa diferença fundamental em relação aos animais: consciência do espaço temporal em que
vivemos — isto é, consciência do começo e do fim da vida — e curiosidade intensa sobre o que éramos antes e o
que iremos ser depois. Ao penetrarmos, conscientemente, nesse campo desconhecido por meio do raciocínio, da
filosofia e, por que não, da ciência, estaremos no caminho da transcendência.
É preciso que a educação nos prepare para esse caminho com o qual poderemos entender melhor de onde viemos
e para onde vamos. Isso nos tornará mais humildes, mais humanos e mais éticos. Estes dois aspectos, ética e
transcendência, andam juntos e só se logram com uma maior abertura e um conteúdo humanístico e filosófico
cada vez maior no processo educativo.
José Aristodemo Pinotti Discurso [sobre o processo de discussão da reforma universitária]
Internet: <www camara gov br> (com adaptações)

O texto é essencialmente
a) descritivo.
b) narrativo.
c) expositivo.

d) argumentativo.
e) injuntivo.

10. CESPE - ACP (TCE-PB)/TCE-PB/Demais Áreas/2018


Texto

A história é uma disciplina(e) definida por sua capacidade de lembrar. Poucos se lembram, porém, de como ela é
capaz de esquecer. Há também quem caracterize a história como uma ciência(e) da mudança(a) no tempo, e quase
ninguém aponta sua genuína capacidade de reiteração(a).

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A história brasileira não escapa dessas ambiguidades fundamentais: ela é feita do encadeamento de eventos que
se acumulam e evocam alterações substanciais, mas também anda repleta de lacunas, invisibilidades e
esquecimentos. Além disso, se ao longo do tempo(b) se destacam as alterações cumulativas(b) de fatos e
ocorrências, não é difícil notar, também, a presença de problemas estruturais que permanecem como que
inalterados e assim se repetem, vergonhosamente, na nossa história nacional.
Nessa lista seria possível mencionar os racismos, o feminicídio, a corrupção, a homofobia e o patrimonialismo.
Mas destaco aqui um tema que, de alguma maneira, dá conta de todos os demais: a nossa tremenda e contínua
desigualdade social.
Desigualdade(d) não é uma contingência(c) nem um acidente(c) qualquer, tampouco uma decorrência natural e
mutável de um processo que não nos diz respeito. Ela é consequência de nossas escolhas — sociais, educacionais,
políticas, culturais e institucionais —, que têm resultado em uma clara e crescente concentração(d) dos benefícios
públicos nas mãos de poucos. (...) Quando se trata de enfrentar a desigualdade, não há saída fácil ou receita de
bolo. Prefiro apostar nos alertas que nós mesmos somos capazes de identificar.

Lilia Moritz Schwarcz. Desigualdade é teimosia. Internet:


<www.nexojornal .com.br> (com adaptações).
O texto é construído sobre uma série de dicotomias conceituais, isto é, de pares de noções opostas entre si, a
exemplo do formado pelos termos

a) “mudança” e “reiteração”.
b) “ao longo do tempo” e “alterações cumulativas”
c) “contingência” e “acidente”.

d) “Desigualdade” e “concentração”.
e) “disciplina” e “ciência”.

11.CESPE - SM (PM MA)/PM MA/Combatente/2018


Texto CG2A1CCC
A questão da segurança pública passou a ser considerada problema fundamental e principal desafio ao
Estado de direito no Brasil. A segurança ganhou enorme visibilidade pública e jamais, em nossa história recente,
esteve tão presente nos debates.
A amplitude dos temas e problemas relativos à segurança pública alerta para a necessidade de qualificação
do debate sobre segurança e para a incorporação de novos atores, cenários e paradigmas às políticas públicas.
O problema da segurança, portanto, não pode mais estar adstrito apenas ao repertório tradicional do direito
e das instituições da justiça. Evidentemente, as soluções devem passar pelo fortalecimento da capacidade do
Estado em gerir a violência, pela retomada da capacidade gerencial no âmbito das políticas públicas de segurança,
mas também devem passar pelo alongamento dos pontos de contato das instituições públicas com a sociedade
civil e com a produção acadêmica mais relevante à área.
Em síntese, os novos gestores da segurança pública devem enfrentar esses desafios, além de fazer o amplo
debate nacional sobre o tema transformar-se em real controle sobre as políticas de segurança pública e, mais

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ainda, estimular a parceria entre órgãos do poder público e da sociedade civil na luta por segurança e qualidade de
vida dos cidadãos brasileiros.

Internet: <www.observatoriodeseguranca.org> (com adaptações).


Acerca das ideias e de aspectos linguísticos do texto CG2A1CCC, julgue o seguinte item.
No texto, a palavra “adstrito” tem o mesmo sentido de limitado.
( ) CERTO ( ) ERRADO

12. CESPE - Aud (CAGE RS)/SEFAZ RS/2018


Texto 1A9BBB

Sérgio Buarque de Holanda afirma que o processo de integração efetiva dos paulistas no mundo da língua
portuguesa ocorreu, provavelmente, na primeira metade do século XVIII. Até então, a gente paulista, fossem
índios, brancos ou mamelucos, não se comunicava em português, mas em uma língua de origem indígena,
derivada do tupi e chamada língua brasílica, brasiliana ou, mais comumente, geral.

No Brasil colônia, coexistiam duas versões de língua geral: a amazônica, ou nheengatu, ainda hoje empregada por
cerca de oito mil pessoas, e a paulista, que desapareceu, não sem que deixasse marcas na toponímia do país e na
língua portuguesa. São elas que nos possibilitam olhar um caipira jururu à beira de um igarapé socando milho para
preparar mingau — sem os termos que migraram para o português, só veríamos um habitante da área rural,
melancólico, preparando comida às margens de um riacho. Sem caipira, sem jururu, sem igarapé, sem socar e sem
mingau, a cena poderia descrever uma bucólica paisagem inglesa.
O idioma da gente paulista formou-se como resultado de duas práticas: a miscigenação de portugueses e índias e
a escravização dos índios. Os primeiros europeus que aqui aportaram, sem mulheres, uniram-se às nativas e
criaram os filhos juntos e misturados — as crianças usavam o tupi da mãe e o português do pai. Aos poucos, essas
famílias mestiças se afastavam da cultura indígena e casavam entre si, não mais em suas aldeias de origem.
Formava-se assim uma cultura mameluca, nem europeia nem indígena, com uma língua que já não era o tupi,
tampouco era o português. Era o que falavam os primeiros paulistas, os bandeirantes, que a difundiram nas
bandeiras até as terras que hoje constituem o Mato Grosso e o Paraná.
Branca Vianna. O contrário da memória. In: Piauí, ed. 116, maio/2016 (com adaptações).

O vocábulo “toponímia” refere-se, no texto 1A9BBB, ao conjunto de

a) nomes próprios de lugares.


b) gírias e jargões.
c) textos históricos.

d) acidentes geográficos.
e) expressões de uso geral.

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13.CESPE - AJ (STM)/STM/Apoio Especializado/Revisão de Texto/2018


Texto 6A1AAA
Está demonstrado, portanto, que o revisor errou, que se não errou confundiu, que se não confundiu imaginou, mas
venha atirar-lhe a primeira pedra aquele que não tenha errado, confundido ou imaginado nunca. Errar, disse-o
quem sabia, é próprio do homem, o que significa, se não é erro tomar as palavras à letra, que não seria verdadeiro
homem aquele que não errasse. Porém, esta suprema máxima não pode ser utilizada como desculpa universal que
a todos nos absolveria de juízos coxos e opiniões mancas. Quem não sabe deve perguntar, ter essa humildade, e
uma precaução tão elementar deveria tê-la sempre presente o revisor, tanto mais que nem sequer precisaria sair
de sua casa, do escritório onde agora está trabalhando, pois não faltam aqui os livros que o elucidariam se tivesse
tido a sageza e prudência de não acreditar cegamente naquilo que supõe saber, que daí é que vêm os enganos
piores, não da ignorância. Nestas ajoujadas estantes, milhares e milhares de páginas esperam a cintilação duma
curiosidade inicial ou a firme luz que é sempre a dúvida que busca o seu próprio esclarecimento. Lancemos, enfim,
a crédito do revisor ter reunido, ao longo duma vida, tantas e tão diversas fontes de informação, embora um
simples olhar nos revele que estão faltando no seu tombo as tecnologias da informática, mas o dinheiro,
desgraçadamente, não chega a tudo, e este ofício, é altura de dizê-lo, inclui-se entre os mais mal pagos do orbe.
Um dia, mas Alá é maior, qualquer corrector de livros terá ao seu dispor um terminal de computador que o manterá
ligado, noite e dia, umbilicalmente, ao banco central de dados, não tendo ele, e nós, mais que desejar que entre
esses dados do saber total não se tenha insinuado, como o diabo no convento, o erro tentador.
Seja como for, enquanto não chega esse dia, os livros estão aqui, como uma galáxia pulsante, e as palavras, dentro
deles, são outra poeira cósmica flutuando, à espera do olhar que as irá fixar num sentido ou nelas procurará o
sentido novo, porque assim como vão variando as explicações do universo, também a sentença que antes parecera
imutável para todo o sempre oferece subitamente outra interpretação, a possibilidade duma contradição latente,
a evidência do seu erro próprio. Aqui, neste escritório onde a verdade não pode ser mais do que uma cara
sobreposta às infinitas máscaras variantes, estão os costumados dicionários da língua e vocabulários, os Morais e
Aurélios, os Morenos e Torrinhas, algumas gramáticas, o Manual do Perfeito Revisor, vademeco de ofício [...].
José Saramago. História do cerco de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 25-6.

Com relação à variação linguística bem como aos sentidos e aos aspectos linguísticos do texto 6A1AAA, julgue o
item.
Feitas as devidas alterações de gênero para garantir a correção gramatical, as palavras “coxos” e “mancas”
poderiam ser intercambiadas no período em que ocorrem, sem prejuízo dos sentidos do texto.
( ) CERTO ( ) ERRADO

14. CESPE - AJ STJ/STJ/Judiciária/"Sem Especialidade"/2018


Texto CB1A1CCC

As audiências de segunda a sexta-feira muitas vezes revelaram o lado mais sórdido da natureza humana. Eram
relatos de sofrimento, dor, angústia que se transportavam da cadeira das vítimas, testemunhas e réus para minha
cadeira de juíza. A toga não me blindou daqueles relatos sofridos, aflitos. As angústias dos que se sentavam à
minha frente, por diversas vezes, me escoltaram até minha casa e passaram a ser companheiras de noites de
insônia. Não havia outra solução a não ser escrever. Era preciso colocar no papel e compartilhar a dor daquelas
pessoas que, mesmo ao fim do processo e com a sentença prolatada, não me deixavam esquecê-las.

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Foram horas, dias, meses, anos de oitivas de mães, filhas, esposas, namoradas, companheiras, todas tendo em
comum a violência no corpo e na alma sofrida dentro de casa. O lar, que deveria ser o lugar mais seguro para essas
mulheres, havia se transformado no pior dos mundos.
Quando finalmente chegavam ao Judiciário e se sentavam à minha frente, os relatos se transformavam em
desabafos de uma vida inteira. Era preciso explicar, justificar e muitas vezes se culpar por terem sido agredidas. A
culpa por ter sido vítima, a culpa por ter permitido, a culpa por não ter sido boa o suficiente, a culpa por não ter
conseguido manter a família. Sempre a culpa.
Aquelas mulheres chegavam à Justiça buscando uma força externa como se somente nós, juízes, promotores e
advogados, pudéssemos não apenas cessar aquele ciclo de violência, mas também lhes dar voz para reagir àquela
violência invisível.

Rejane Jungbluth Suxberger. Invisíveis Marias: histórias além das quatro paredes. Brasília: Trampolim, 2018 (com
adaptações).
Com base no texto CB1A1CCC, escrito por uma juíza acerca de casos de violência doméstica, julgue o item a seguir.

No texto, a palavra “prolatada” foi empregada como sinônimo de deferida.


( ) CERTO ( ) ERRADO

15.CESPE - Ass Port (EMAP)/EMAP/Administrativa/2018


A crescente internacionalização da economia, decorrente, principalmente, da redução de barreiras ao comércio
mundial, da maior velocidade das inovações tecnológicas e dos grandes avanços nas comunicações, tem exigido
mudanças efetivas na atuação do comércio internacional.
A abordagem desse tipo de comércio, inevitavelmente, passa pela concorrência, visto que é por meio da garantia
e da possibilidade de entrar no mercado internacional, de estabelecer permanência ou de engendrar saída, que se
consubstancia a plena expansão das atividades comerciais e se alcança o resultado último dessa interatuação: o
preço eficiente dos bens e serviços.
Defesa da concorrência e defesa comercial são instrumentos à disposição dos Estados para lidar com distintos
cenários que afetem a economia. Destaca-se como a principal diferença o efeito que cada instrumento busca
neutralizar.
A política de defesa da concorrência busca preservar o ambiente competitivo e coibir condutas desleais advindas
do exercício de poder de mercado. A política de defesa comercial busca proteger a indústria nacional de práticas
desleais de comércio internacional.
Elaine Maria Octaviano Martins Curso de direito marítimo Barueri: Manoele, v 1, 2013, p 65 (com adaptações)

Acerca de aspectos linguísticos do texto precedente e das ideias nele contidas, julgue o item a seguir.
Infere-se dos sentidos do texto que o vocábulo “engendrar” foi empregado como sinônimo de imaginar,
fantasiar.
( ) CERTO ( ) ERRADO

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16. CESPE - Ass Port (EMAP)/EMAP/Administrativa/2018


É curioso notar que a ideia de porto está presente nas sociedades humanas desde o aparecimento das cidades.
Isso porque uma das características das primeiras estruturas urbanas existentes na região do Oriente Próximo foi
a presença do porto.
As primeiras cidades, no sentido moderno, surgiram no período compreendido entre 3.100 e 2.900 a.C., na
Mesopotâmia, civilização situada às margens dos rios Tigre e Eufrates. A estrutura desses primeiros agrupamentos
urbanos era tripartite: a cidade propriamente dita, cercada por muralhas, onde ficavam os principais locais de culto
e as células dos futuros palácios reais; uma espécie de subúrbio, extramuros, local que agrupava residências e
instalações para criação de animais e plantio; e o porto fluvial, espaço destinado à prática do comércio e que era
utilizado como local de instalação dos estrangeiros, cuja admissão, em regra, era vedada nos muros da cidade.

Não se trata, portanto, de uma criação aleatória apenas vinculada à atividade comercial. O porto aparece como
mais um elemento de uma forte mudança civilizacional que marcou o contexto do surgimento das cidades e da
escrita. O comportamento fundamental dessa mudança localiza-se no aumento das possibilidades do agir
humano, na diversificação dos papéis sociais e na abertura para o futuro. Houve, em resumo, uma ampliação no
grau de complexidade da sociedade.
Com relação aos sentidos e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o próximo item.
A palavra “tripartite” poderia ser substituída por tripartida, sem prejuízo dos sentidos e da correção
gramatical do texto.
( ) CERTO ( ) ERRADO

17.CESPE - TMCI (CGM J Pessoa)/Pref João Pessoa/2018


Texto CB2A1AAA
O jeitinho brasileiro é uma forma de corrupção? Se a regra transgredida não causa prejuízo, temos o “jeitinho”
positivo e, direi eu, ético. Por exemplo: estou na fila; chega uma pessoa precisando pagar sua conta que vence
naquele dia e pede para passar na frente. Não há o que reclamar dessa forma de “jeitinho”.
A questão sociológica que o “jeitinho” apresenta, porém, é outra. Ela mostra uma relação ruim com a lei geral,
com a norma desenhada para todos os cidadãos, com o pressuposto de que essa regra universal produz legalidade
e cidadania. Eu pago meus impostos integralmente e, por isso, posso exigir dos funcionários públicos do meu país.
Agora, se eu dou um jeito nos meus impostos porque o delegado da receita federal é meu amigo ou parente e faz
a tal “vista grossa”, aí temos o “jeitinho” virando corrupção. O “jeitinho” se confunde com corrupção e é
transgressão, porque desiguala o que deveria ser obrigatoriamente tratado com igualdade. O que nos enlouquece
hoje no Brasil não é a existência do jeitinho como ponte negativa entre a lei e a pessoa especial que dela se livra,
mas sim a persistência de um estilo de lidar com a lei, marcadamente aristocrático, que, de certa forma, induz o
chefe, o diretor, o dono, o patrão, o governador, o presidente a passar por cima da lei. A mídia tem um papel básico
na discussão desses casos de amortecimento, esquecimento e “jeitinho”, porque ela ajuda a politizar o velho
hábito que insiste em situar certos cargos e as pessoas que os empossam como acima da lei, do mesmo modo e
pela mesma lógica de hierarquias que colocam certas pessoas (negros, pobres e mulheres) implacavelmente
debaixo da lei.
Roberto da Matta. O jeitinho brasileiro. Internet: <https://maniadehistoria.wordpress.com> (com adaptações).

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A respeito dos aspectos linguísticos do texto CB2A1AAA, julgue o seguinte item.


Os sentidos originais do texto seriam alterados caso, na linha 28, a palavra “certas” fosse deslocada para
imediatamente após “pessoas”.
( ) CERTO ( ) ERRADO

18. CESPE - TMCI (CGM J Pessoa)/Pref João Pessoa/2018


A corrupção é uma doença da alma. Como todas as doenças, ela não acomete a todos. Muitas pessoas são
suscetíveis a ela, outras não. A corrupção é uma doença que deve ser combatida por meio de uma vacina: a
educação. Uma educação de qualidade para todos os brasileiros deverá exercitar o pensamento e a crítica
argumentada e, principalmente, introduzir e consolidar virtudes como a solidariedade e a ética. Devemos preparar
uma nova geração na qual a corrupção seja um fenômeno do passado. Nesse futuro não tão remoto, teremos
conquistado a utopia de uma verdadeira justiça social.
Isaac Roitman. Corrupção e democracia. Internet: <https://noticias.unb.br> (com adaptações).
Com relação aos sentidos e aos aspectos gramaticais do texto apresentado, julgue o item a seguir.
No texto, a forma verbal “acomete” está empregada com o significado de afetar, contagiar

( ) CERTO ( ) ERRADO

19. CESPE - Enf (IHB DF)/IHB DF/2018


Texto CG1A1AAA
Nasci no Brás, durante a Segunda Guerra. Da rua em que morávamos até a Praça da Sé, são vinte minutos de
caminhada.
Quando estava com sete anos, acordei com os olhos inchados, e meu pai me levou ao pediatra. Ao voltarmos, o
futebol ininterrupto que jogávamos com bola de borracha na porta da fábrica em frente parou e a molecada correu
até nós. Queriam saber se era verdade que os médicos davam injeções enormes na bunda das crianças.

Nenhum daqueles filhos de operários, meus irmãos ou eu havia ido ao pediatra; só os fortes sobreviviam, a morte
de crianças era aceita com resignação. Em várias regiões do país, a mortalidade infantil ultrapassava uma centena
para cada mil nascidos.

Se a assistência médica não chegava efetivamente ao Brás fabril, o primeiro bairro da zona leste, encostado no
centro da cidade que mais crescia na América Latina, que cuidados recebiam aqueles da zona rural, que
constituíam mais de 70% da população?
Sarampo, caxumba, catapora, difteria e tosse comprida eram doenças da infância, tão inevitáveis quanto a noite
e o dia. Qualquer episódio de febre que deixasse a criança apática enlouquecia as mães, apavoradas pelo fantasma
onipresente da poliomielite. O som metálico das próteses que acompanhava os passos de meninas e meninos era
ouvido em toda parte.
No pronto-socorro de pediatria, os bebês com diarreia e desidratação eram atendidos em uma sala com trinta
berços, ao lado dos quais as mães passavam os dias e as noites em vigília. Morriam quatro ou cinco em cada plantão
de 12 horas.

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Em 1988, o SUS passou a fazer parte da Constituição Federal. Nós nos tornamos o único país com mais de 100
milhões de habitantes que ousou oferecer saúde para todos. Apesar de termos nos esquecido de onde sairiam os
recursos para tamanho desafio, dos descasos, das interferências políticas, hoje são raras as crianças sem acesso a
pediatra.
Em contraste com as imagens de unidades de saúde caindo aos pedaços e prontos- socorros com doentes no chão,
as equipes do Saúde da Família atendem, de casa em casa, a maior parte do país continental. Temos o maior
programa gratuito de vacinações e de transplante de órgãos do mundo. A distribuição universal de medicamentos
contra HIV não só impediu que a epidemia se transformasse em catástrofe nacional, como serviu de base para o
combate em países da África e da Ásia.
Se pensarmos que, nos tempos desassistidos de minha infância, o Brasil tinha 50 milhões de habitantes, enquanto
hoje somos 200 milhões, a assistência médica deu um salto quantitativo e de qualidade muito superior ao de outras
áreas sociais, apesar de todas as deficiências gerenciais.
Drauzio Varella. Os visionários do SUS. 14/12/2015. Internet: <https://drauziovarella.com.br> (com adaptações).

A respeito dos sentidos e dos aspectos linguísticos do texto CG1A1AAA, julgue o item a seguir.
No texto, a palavra “resignação” foi empregada com o sentido de apatia.
( ) CERTO ( ) ERRADO

20. CESPE - Tec Enf (IHB DF)/IHB DF/2018

Texto CG2A1AAA
A vida de Florence Nightingale, a criadora da moderna enfermagem, daria um romance. Florence estava destinada
a receber uma boa educação, a casar-se com um cavalheiro de fina estirpe, a ter filhos, a cuidar da casa e da família.
Mas logo ficou claro que a menina não se conformaria a esse modelo. Era diferente; gostava de matemática, e era
o que queria estudar (os pais não deixaram). Aos dezesseis anos, algo aconteceu: Deus falou-me — escreveu depois
— e convocou-me para servi-lo.
Servir a Deus significava, para ela, cuidar dos enfermos, e especialmente dos enfermos hospitalizados. Naquela
época, os hospitais curavam tão pouco e eram tão perigosos (por causa da sujeira, do risco de infecção) que os
ricos preferiam tratar-se em casa. Hospitalizados eram só os pobres, e Florence preparou-se para cuidar deles,
praticando com os indigentes que viviam próximos à sua casa. Viajou por toda a Europa, visitando hospitais. Coisa
que os pais não viam com bons olhos: enfermeiras eram consideradas pessoas de categoria inferior, de vida
desregrada. Mas Florence foi em frente e logo surgiu a oportunidade para colocar em prática o que aprendera.
Sidney Herbert, membro do governo inglês e amigo pessoal, pediu-lhe que chefiasse um grupo de enfermeiras
enviadas para o front turco, uma tarefa a que Florence entregou-se de corpo e alma; providenciava comida,
remédios, agasalhos, além de supervisionar o trabalho das enfermeiras. Mais que isso, fez estudos estatísticos (sua
vocação matemática enfim triunfou) mostrando que a alta mortalidade dos soldados resultava das péssimas
condições de saneamento.
Isso tudo não quer dizer que Florence fosse, pelos padrões habituais, uma mulher feliz. Para começar, não havia,
em sua vida, lugar para ligações amorosas. Cortejou-a o político e poeta Richard Milnes, Barão Houghton, mas ela
rejeitou-o. Ao voltar da guerra, algo estranho lhe aconteceu: recolheu-se ao leito e nunca mais deixou o quarto.

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É possível, e até provável, que isso tenha resultado de brucelose, uma infecção crônica contraída durante a guerra;
mas havia aí um óbvio componente emocional, uma forma de fuga da realidade. Contudo — Florence era Florence
—, mesmo acamada, continuou trabalhando intensamente. Colaborou com a comissão governamental sobre
saúde dos militares, fundou uma escola para treinamento de enfermeiras, escreveu um livro sobre esse
treinamento.
Estranha, a Florence Nightingale? Talvez. Mas estranheza pode estar associada a qualidades admiráveis. Grande
e estranho é o mundo; grandes, ainda que estranhas, são muitas pessoas. E se elas têm grandeza, ao mundo pouco
deve importar que sejam estranhas.
Moacyr Scliar. Uma estranha, e admirável, mulher. Internet: <http://moacyrscliar.blogspot.com.br> (com
adaptações).

Acerca dos aspectos linguísticos do texto CG2A1AAA, julgue o item.


Mantidos os sentidos do texto, a expressão “se conformaria” poderia ser substituída por se resignaria.
( ) CERTO ( ) ERRADO

21. CESPE - TJ STJ/STJ/Administrativa/2018


Texto CB4A1AAA
As discussões em torno de questões como “o que é justiça?” ou “quais são os mecanismos disponíveis para produzir
situações cada vez mais justas ao conjunto da sociedade?” não são novidade. Autores do século XIX já procuravam
construir análises para identificar qual o sentido exato do termo justiça e quais formas de promovê-la eram
possíveis e desejáveis ao conjunto da sociedade à época. O debate se enquadra em torno de três principais ideias:
bem-estar; liberdade e desenvolvimento; e promoção de formas democráticas de participação. Autores
importantes do campo da ciência política e da filosofia política e moral se debruçaram intensamente em torno

dessa questão ao longo do século XX, e chegaram a conclusões diversas uns dos outros. Embora a perspectiva
analítica de cada um desses autores divirja entre si, eles estão preocupados em desenvolver formas de promoção
de situações de justiça social e têm hipóteses concretas para se chegar a esse estado de coisas.
Para Amartya Sen, por exemplo, a injustiça é percebida e mensurada por meio da distribuição e do alcance social
das liberdades. Para Rawls, ela se manifesta principalmente nas estruturas básicas da sociedade e sua solução
depende de uma nova forma de contrato social e de uma definição de princípios básicos que criem condições de
promoção de justiça. Já para Habermas, a questão gira em torno da manifestação no campo da ação comunicativa,
na qual a fragilidade de uma ação coletiva que tenha pouco debate ou pouca representação pode enfraquecer a
qualidade da democracia e, portanto, interferir no seu pleno funcionamento, tendo, por consequência,
desdobramentos sociais injustos. Em síntese, os autores argumentam a favor de instrumentos variados para a
solução da injustiça, os quais dependem da interpretação de cada um deles acerca do conceito de justiça.

Augusto Leal Rinaldi. Justiça, liberdade e democracia. In: Pensamento Plural. Pelotas [12]: 57-74, jan.-jun./2013
(com adaptações).
Julgue o seguinte item, relativo aos sentidos e às ideias do texto CB4A1AAA.

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O verbo enquadrar, no trecho “O debate se enquadra em torno de três principais ideias", foi empregado com
o sentido de circunscrever.

( ) CERTO ( ) ERRADO

22. CESPE - TMCI (CGM J Pessoa)/Pref João Pessoa/2018


Texto CB2A1AAA
O jeitinho brasileiro é uma forma de corrupção? Se a regra transgredida não causa prejuízo, temos o “jeitinho”
positivo e, direi eu, ético. Por exemplo: estou na fila; chega uma pessoa precisando pagar sua conta que vence
naquele dia e pede para passar na frente. Não há o que reclamar dessa forma de “jeitinho”.
A questão sociológica que o “jeitinho” apresenta, porém, é outra. Ela mostra uma relação ruim com a lei geral,
com a norma desenhada para todos os cidadãos, com o pressuposto de que essa regra universal produz legalidade
e cidadania. Eu pago meus impostos integralmente e, por isso, posso exigir dos funcionários públicos do meu país.
Agora, se eu dou um jeito nos meus impostos porque o delegado da receita federal é meu amigo ou parente e faz
a tal “vista grossa”, aí temos o “jeitinho” virando corrupção. O “jeitinho” se confunde com corrupção e é
transgressão, porque desiguala o que deveria ser obrigatoriamente tratado com igualdade. O que nos enlouquece
hoje no Brasil não é a existência do jeitinho como ponte negativa entre a lei e a pessoa especial que dela se livra,
mas sim a persistência de um estilo de lidar com a lei, marcadamente aristocrático, que, de certa forma, induz o
chefe, o diretor, o dono, o patrão, o governador, o presidente a passar por cima da lei. A mídia tem um papel

básico na discussão desses casos de amortecimento, esquecimento e “jeitinho”, porque ela ajuda a politizar o
velho hábito que insiste em situar certos cargos e as pessoas que os empossam como acima da lei, do mesmo
modo e pela mesma lógica de hierarquias que colocam certas pessoas (negros, pobres e mulheres)
implacavelmente debaixo da lei.

Roberto da Matta. O jeitinho brasileiro. Internet: <https://maniadehistoria.wordpress.com> (com adaptações).


A respeito dos aspectos linguísticos do texto CB2A1AAA, julgue o seguinte item.
A palavra “Agora” exprime uma circunstância temporal.
( ) CERTO ( ) ERRADO

23.CESPE - Aud (CAGE RS)/SEFAZ RS/2018


Texto 1A10AAA
A justiça tributária está em debate. O Brasil possui um sistema tributário altamente regressivo: quem ganha até
dois salários mínimos paga 49% dos seus rendimentos em tributos, enquanto quem ganha acima de trinta salários
mínimos paga apenas 26%. Isso ocorre porque, na comparação internacional, se tributa excessivamente o
consumo, e não o patrimônio e a renda.
A má distribuição tributária e de renda restringe o potencial econômico e social do país. Cabe ao Estado induzir
uma política distributiva conforme a qual quem ganha mais pague proporcionalmente mais do que quem ganha
menos e a maior parcela do orçamento seja destinada para as necessidades básicas da população.

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A justiça tributária ocorre com a redução da carga tributária e da regressividade dos tributos e com sua eliminação
da cesta básica. A redução da carga tributária permite maior competitividade para as empresas, geração de
empregos, diminuição da inflação e indução do crescimento econômico.
Com a redução da carga tributária sobre o consumo, todos ganham: a população de baixa e média renda, pela
melhora no seu poder aquisitivo; a de maior renda, pelo desenvolvimento econômico e social, que gera ganhos
econômicos e financeiros, novas oportunidades e expansão da oferta de empregos.

Por outro lado, a substituição dos tributos indiretos, que atingem o fluxo econômico, por tributos que incidam
sobre o estoque da riqueza tem o mérito de criar maior desenvolvimento econômico, pois gera mais consumo,
produção e lucros que compensam a tributação sobre a riqueza.
O desenvolvimento econômico amplia a arrecadação pública, proporcionando maiores recursos para
investimentos em políticas sociais e em infraestrutura, além de gerar maior atratividade para os investimentos nas
empresas.
Amir Kjair. Le monde diplomatique Brasil. 12.ª ed. Internet: <https://diplomatique.org.br> (com adaptações).

No texto 1A10AAA, no trecho “a população de baixa e média renda, pela melhora no seu poder aquisitivo”, a
preposição por, em “pela”, introduz uma ideia de
a) causa.
b) finalidade.

c) consequência.
d) condição.
e) conclusão.

24. CESPE - TJ (STM)/STM/Administrativa/"Sem Especialidade"/2018


Texto CB4A1AAA

Narração é diferente de narrativa, uma vez que mantém algo da ideia de acompanhar os fatos à medida que eles
acontecem. A narrativa é uma totalidade de acontecimentos encadeados, uma espécie de soma final, e está
presente em tudo: na sequência de entrada, prato principal e sobremesa de um jantar; em mitos, romances,
contos, novelas, peças, poemas; no Curriculum vitae; na história dos nossos corpos; nas notícias; em relatórios
médicos; em conversas, desenhos, sonhos, filmes, fábulas, fotografias. Está nas óperas, nos videoclipes,
videogames e jogos de tabuleiro. A narração, por sua vez, é basicamente aquilo que um narrador enuncia.
Uma contagem de palavras na base de dados do Google mostra uma mudança nos usos de narrativa. A palavra
vem sendo cada vez mais empregada nas últimas décadas, mas seu sentido vem mudando.
A expressão disputa de narrativas, que teve um boom dos anos 80 do século XX para cá, não costuma dizer respeito
à acepção mais literária do termo, como narrativa de um romance. Fala antes sobre trazer a público diferentes
formas de narrar o mundo, para que narrativas plurais possam ser elaboradas e disputadas. É um uso do termo que
talvez aproxime narrativa de narração, porque sugere que toda narrativa histórica e cultural carrega em si um
processo e um movimento e que dentro dela há sempre sinais deixados pelas escolhas de um narrador.
Sofia Nestrovski. Narrativa. Internet: <www.nexojornal.com.br> (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto CB4A1AAA, julgue o item a seguir.

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O vocábulo “antes” indica, no contexto em que se insere, circunstância temporal.

25.CESPE - Aud Est (TCM-BA)/TCM-BA/Controle Externo/2018


Ainda existem pessoas para as quais a greve é um “escândalo”: isto é, não só um erro, uma desordem ou um delito,
mas também um crime morala, uma ação intolerável que perturba a própria natureza. “Inadmissível”,
“escandalosa”, “revoltante”, dizem alguns leitores do Figaro, comentando uma greve recente. Para dizer a
verdade, trata-se de uma linguagem do tempo da Restauração, que exprime a sua mentalidade profunda. É a
época em que a burguesia, que assumira o poder havia pouco tempo, executa uma espécie de junção entre a moral
e a natureza, oferecendo a uma a garantia da outra. Temendo-se a naturalização da moral, moraliza-se a natureza;
finge-se confundir a ordem política e a ordem natural, e decreta-se imoral tudo o que conteste as leis estruturais
da sociedade que se quer defender. Para os prefeitos de Carlos X, assim como para os leitores do Figaro de hoje, a
greve constitui, em primeiro lugar, um desafio às prescrições da razão moralizada: “fazer greve é zombar de todos
nós”, isto é, mais do que infringir uma legalidade cívicab, é infringir uma legalidade “natural”, atentar contra o
bom senso, misto de moral e lógica, fundamento filosófico da sociedade burguesa.
Nesse caso, o escândalo provém de uma ausência de lógica: a greve é escandalosa porque incomoda precisamente
aqueles a quem ela não diz respeitoc. É a razão que sofre e se revolta: a causalidade direta, mecânica, essa
causalidade é perturbada; o efeito se dispersa incompreensivelmente longe da causa, escapa-lhe, o que é
intolerável e chocanted. Ao contrário do que se poderia pensar sobre os sonhos da burguesia, essa classe tem uma
concepção tirânica, infinitamente suscetível, da causalidade: o fundamento da moral que professa não é de modo
algum mágico, mas, sim, racional. Simplesmente, trata-se de uma racionalidade linear, estreita, fundada, por
assim dizer, numa correspondência numérica entre as causas e os efeitos. O que falta a essa racionalidade é,
evidentemente, a ideia das funções complexas, a imaginação de um desdobramento longínquo dos
determinismos, de uma solidariedade entre os acontecimentos, que a tradição materialista sistematizou sob o
nome de totalidadee.
Roland Barthes. O usuário da greve. In: R. Barthes. Mitologias. Tradução de Rita Buongermino, Pedro de Souza e Rejane Janowitzer. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007, p. 135-6 (com adaptações).

Assinale a opção que apresenta trecho do texto que expressa uma ideia de comparação.

a) “mas também um crime moral”


b) “mais do que infringir uma legalidade cívica”
c) “a quem ela não diz respeito”

d) “o que é intolerável e chocante”


e) “que a tradição materialista sistematizou sob o nome de totalidade”

26. CESPE - AJ STJ/STJ/Administrativa/2018


Texto CB1A1AAA
No pensamento filosófico da Antiguidade, a dignidade (dignitas) da pessoa humana era alcançada pela posição
social ocupada pelo indivíduo, bem como pelo grau de reconhecimento dos demais membros da comunidade. A
partir disso, poder-se-ia falar em uma quantificação (hierarquia.) da dignidade, o que permitia admitir a existência
de pessoas mais dignas ou menos dignas.

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Frise-se que foi a partir das formulações de Cícero que a compreensão de dignidade ficou desvinculada da posição
social. O filósofo conferiu à dignidade da pessoa humana um sentido mais amplo ligado à natureza humana: todos
estão sujeitos às mesmas leis da natureza, que proíbem que uns prejudiquem aos outros.
No círculo de pensamento jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII, a concepção da dignidade da pessoa humana
passa por um procedimento de racionalização e secularização, mantendo-se, porém, a noção básica da igualdade
de todos os homens em dignidade e liberdade. Nesse período, destaca-se a concepção de Emmanuel Kant de que
a autonomia ética do ser humano é o fundamento da dignidade do homem. Incensurável é a permanência da
concepção kantiana no sentido de que a dignidade da pessoa humana repudia toda e qualquer espécie de
coisificação e instrumentalização do ser humano.
Antonio da Rocha Lourenço Neto. Direito e humanismo: visão filosófica, literária e histórica. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2013, p.148-9 (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto CB1A1AAA, julgue o item.
Seria mantida a coerência do texto se o trecho “a partir das” fosse substituído ou por com base nas ou por desde
as, embora essas duas expressões tenham sentidos distintos.
( ) CERTO ( ) ERRADO

27.CESPE - Ana Port I (EMAP)/EMAP/Administrativa/2018


O orgulho é a consciência (certa ou errônea) do nosso valor próprio; a vaidade é a consciência (certa ou errônea)
da evidência do nosso valor aos olhos dos outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso, pode ser a um
tempo vaidoso e orgulhoso, pode ser — pois tal é a natureza humana — vaidoso sem ser orgulhoso. À primeira
vista, é difícil compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso valor no conceito dos outros sem
a consciência do nosso valor em si. Se a natureza humana fosse racional, não haveria qualquer explicação. No
entanto, o homem vive primeiro uma vida exterior, e depois uma vida interior; a noção do efeito precede, na
evolução do espírito, a noção da causa interior desse mesmo efeito. O homem prefere ser tido em alta conta por
aquilo que não é a ser tido em meia conta por aquilo que é. Assim opera a vaidade.
Walmir Ayala (Coord e introd ) Fernando Pessoa Antologia de Estética. Teoria e Crítica Literária Rio de Janeiro: Ediouro, 1988, p 88-9 (com adaptações)

Acerca dos aspectos linguísticos do texto precedente e das ideias nele contidas, julgue o próximo item.
A forma verbal “opera” foi empregada com o sentido de produz.
( ) CERTO ( ) ERRADO

28. CESPE - Ag (TCE-PB)/TCE-PB/Documentação/2018


Texto
O medo do esquecimento obcecou as sociedades europeias da primeira fase da modernidade. Para dominar sua
inquietação, elas fixaram, por meio da escrita, os traços do passado, a lembrança dos mortos ou a glória dos vivos
e todos os textos que não deveriam desaparecer. A pedra, a madeira, o tecido, o pergaminho e o papel forneceram
os suportes nos quais podia ser inscrita a memória dos tempos e dos homens.
No espaço aberto da cidade, no refúgio da biblioteca, na magnitude do livro e na humildade dos objetos mais
simples, a escrita teve como missão conjurar contra a fatalidade da perda. Em um mundo no qual as escritas
podiam ser apagadas, os manuscritos podiam ser perdidos e os livros estavam sempre ameaçados de destruição,

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a tarefa não era fácil. Paradoxalmente, seu sucesso poderia criar, talvez, outro perigo: o de uma incontrolável
proliferação textual de um discurso sem ordem nem limites.

O excesso de escrita, que multiplica os textos inúteis e abafa o pensamento sob o acúmulo de discursos, foi
considerado um perigo tão grande quanto seu contrário. Embora fosse temido, o apagamento era necessário,
assim como o esquecimento também o é para a memória. Nem todos os escritos foram destinados a se tornar
arquivos cuja proteção os defenderia da imprevisibilidade da história. Alguns foram traçados sobre suportes que
permitiam escrever, apagar e depois escrever de novo.
Roger Chartier. Inscrever e apagar: cultura escrita e literatura (séculos XI-XVIII). Trad.: Luzmara Curcino Ferreira.
São Paulo: UNESP, 2007, p. 9-10 (com adaptações).
Predomina no texto a tipologia

a) narrativa.
b) prescritiva.
c) argumentativa.

d) descritiva.
e) expositiva.

29. CESPE – MPE/PI - 2018


Eis que se inicia então uma das fases mais intensas na vida de Geraldo Viramundo: sua troca de correspondência
com os estudantes, julgando estar a se corresponder com sua amada. E eis que passo pela rama nesta fase de meu
relato, já que me é impossível dar a exata medida do grau de maluquice que inspiraram tais cartas: infelizmente se
perderam e de nenhuma encontrei paradeiro, por maiores que tenham sido os meus esforços em rebuscar
coleções, arquivos e alfarrábios em minha terra. Sou forçado, pois, a limitar-me aos elementos de que disponho,
encerrando em desventuras as aventuras de Viramundo em Ouro Preto, e dando viço às suas peregrinações.
Fernando Sabino. O grande mentecapto. 62.ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.
Com referência aos sentidos do texto precedente e às estruturas linguísticas nele empregadas, julgue os itens
a seguir.

A presença de um narrador é um dos elementos textuais que permitem classificar o texto como narrativo.
( ) CERTO ( ) ERRADO

30. CESPE – MPE/PI - 2018


Saiu a mais nova lista de coisas que devem ou não ser feitas, moda que parece ter contagiado o planeta. Desta vez,
Arthur Frommer e Holly Hugues elencam os 500 locais que precisamos visitar antes que desapareçam (500
places to see before they disappear). O livro traz lugares naturais e históricos, de antigos centros de culto a
paisagens em vias de extinção, assim como tesouros culturais únicos, como o Fenway Park, de Boston, inaugurado
em 1912: um dos últimos estádios norte-americanos que mantêm sua construção original, diz o Atlanta Journal
Constitution.
Revista da Semana, dez./2008 (com adaptações).

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Julgue os itens a seguir, relativos aos sentidos e aos aspectos linguísticos do texto apresentado.
O texto é essencialmente informativo.

( ) CERTO ( ) ERRADO
Texto para as questões 31 e 32
— Tinha vinte e cinco anos, era pobre, e acabava de ser nomeado alferes da Guarda Nacional. Não imaginam o
acontecimento que isto foi em nossa casa. Minha mãe ficou tão orgulhosa! Vai então uma das minhas tias, D.
Marcolina, que morava a muitas léguas da vila, num sítio escuso e solitário, desejou ver-me, e pediu que fosse ter
com ela e levasse a farda. Chamava-me também o seu alferes. E sempre alferes; era alferes para cá, alferes para
lá, alferes a toda a hora. Na mesa tinha eu o melhor lugar, e era o primeiro servido. Não imaginam. Se lhes disser
que o entusiasmo da tia Marcolina chegou ao ponto de mandar pôr no meu quarto um grande espelho,
naturalmente muito velho; mas via-se-lhe ainda o ouro.
— Espelho grande?
— Grande. E foi, como digo, uma enorme fineza, porque o espelho estava na sala; era a melhor peça da casa. Mas
não houve forças que a demovessem do propósito; respondia que não fazia falta, que era só por algumas semanas,
e finalmente que o “senhor alferes” merecia muito mais. O certo é que todas essas coisas, carinhos, atenções,
obséquios, fizeram em mim uma transformação, que o natural sentimento da mocidade ajudou e completou.
Imaginam, creio eu?

— Não.
— O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas equilibraram-se; mas não tardou que a
primitiva cedesse à outra; ficou-me uma parte mínima de humanidade. Aconteceu então que a alma exterior, que
era dantes o sol, o ar, o campo, os olhos das moças, mudou de natureza, e passou a ser a cortesia e os rapapés da
casa, tudo o que me falava do posto, nada do que me falava do homem. A única parte do cidadão que ficou comigo
foi aquela que entendia com o exercício da patente; a outra dispersou-se no ar e no passado. Vamos aos fatos.
Vamos ver como, ao tempo em que a consciência do homem se obliterava, a do alferes tornava-se viva e intensa.
No fim de três semanas, era outro, totalmente outro.
(...)
— Convém dizer-lhes que, desde que ficara só, não olhara uma só vez para o espelho. Não era abstenção
deliberada, não tinha motivo; era um impulso inconsciente, um receio de achar-me um e dois, ao mesmo tempo,
naquela casa solitária; e se tal explicação é verdadeira, nada prova melhor a contradição humana, porque no fim
de oito dias, deu-me na veneta olhar para o espelho com o fim justamente de achar-me dois. Olhei e recuei.
(...)

— De quando em quando, olhava furtivamente para o espelho; a imagem era a mesma difusão de linhas, a mesma
decomposição de contornos ... Subitamente, por uma inspiração inexplicável, por um impulso sem cálculo,
lembrou-me... vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como estava defronte do espelho, levantei
os olhos, e... não lhes digo nada; o vidro reproduziu então a figura integral; nenhuma linha de menos, nenhum
contorno diverso; era eu mesmo, o alferes, que achava, enfim, a alma exterior. Daí em diante, fui outro. Cada dia,
a uma certa hora, vestia-me de alferes, e sentava-me diante do espelho, lendo, olhando, meditando; no fim de
duas, três horas, despia-me outra vez. Com este regime pude atravessar mais seis dias de solidão, sem os sentir...

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Machado de Assis. O espelho. In: John Gladson (Org.). 50 contos de Machado de Assis. Cia. das Letras. Edição
eletrônica. Internet: (com adaptações).

31.CESPE – PF/2018
Os termos “difusão” (R.48) e “decomposição” (R.49), apesar de terem significados diferentes, foram empregados,
no texto, para expressar a ideia de indefinição da imagem refletida.
( ) CERTO ( ) ERRADO

32.CESPE – PF/2018
O sentido do texto seria preservado, embora sua correção gramatical fosse prejudicada, caso se suprimisse a
expressão “por uma inspiração inexplicável, por um impulso sem cálculo” (R. 49 e 50), uma vez que esse trecho
apenas reforça a ideia contida em “Subitamente” (R.49).
( ) CERTO ( ) ERRADO

Texto para as questões 33 a 34


A polícia parisiense — disse ele — é extremamente hábil à sua maneira. Seus agentes são perseverantes,
engenhosos, astutos e perfeitamente versados nos conhecimentos que seus deveres parecem exigir de modo
especial. Assim, quando o delegado G... nos contou, pormenorizadamente, a maneira pela qual realizou suas
pesquisas no Hotel D..., não tive dúvida de que efetuara uma investigação satisfatória (...) até o ponto a que chegou
o seu trabalho.
— Até o ponto a que chegou o seu trabalho? — perguntei.

— Sim — respondeu Dupin. — As medidas adotadas não foram apenas as melhores que poderiam ser tomadas,
mas realizadas com absoluta perfeição. Se a carta estivesse depositada dentro do raio de suas investigações, esses
rapazes, sem dúvida, a teriam encontrado.
Ri, simplesmente — mas ele parecia haver dito tudo aquilo com a máxima seriedade.

— As medidas, pois — prosseguiu —, eram boas em seu gênero, e foram bem executadas: seu defeito residia em
serem inaplicáveis ao caso e ao homem em questão. Um certo conjunto de recursos altamente engenhosos é, para
o delegado, uma espécie de leito de Procusto, ao qual procura adaptar à força todos os seus planos. Mas, no caso
em apreço, cometeu uma série de erros, por ser demasiado profundo ou demasiado superficial. (...) E, se o
delegado e toda a sua corte têm cometido tantos enganos, isso se deve (...) a uma apreciação inexata, ou melhor,
a uma não apreciação da inteligência daqueles com quem se metem. Consideram engenhosas apenas as suas
próprias ideias e, ao procurar alguma coisa que se ache escondida, não pensam senão nos meios que eles próprios
teriam empregado para escondê-la. Estão certos apenas num ponto: naquele em que sua engenhosidade
representa fielmente a da massa; mas, quando a astúcia do malfeitor é diferente da deles, o malfeitor,
naturalmente, os engana. Isso sempre acontece quando a astúcia deste último está acima da deles e, muito
frequentemente, quando está abaixo. Não variam seu sistema de investigação; na melhor das hipóteses, quando
são instigados por algum caso insólito, ou por alguma recompensa extraordinária, ampliam ou exageram os seus
modos de agir habituais, sem que se afastem, no entanto, de seus princípios. (...) Você compreenderá, agora, o
que eu queria dizer ao afirmar que, se a carta roubada tivesse sido escondida dentro do raio de investigação do
nosso delegado — ou, em outras palavras, se o princípio inspirador estivesse compreendido nos princípios do

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delegado —, sua descoberta seria uma questão inteiramente fora de dúvida. Este funcionário, porém, se enganou
por completo, e a fonte remota de seu fracasso reside na suposição de que o ministro é um idiota, pois adquiriu
renome de poeta. Segundo o delegado, todos os poetas são idiotas — e, neste caso, ele é apenas culpado de uma
non distributio medii, ao inferir que todos os poetas são idiotas.
— Mas ele é realmente poeta? — perguntei. — Sei que são dois irmãos, e que ambos adquiriram renome nas letras.
O ministro, creio eu, escreveu eruditamente sobre o cálculo diferencial. É um matemático, e não um poeta.

— Você está enganado. Conheço-o bem. E ambas as coisas. Como poeta e matemático, raciocinaria bem; como
mero matemático, não raciocinaria de modo algum, e ficaria, assim, à mercê do delegado.
— Você me surpreende — respondi — com essas opiniões, que têm sido desmentidas pela voz do mundo.
Naturalmente, não quererá destruir, de um golpe, ideias amadurecidas durante tantos séculos. A razão
matemática é há muito considerada como a razão par excellence.
Edgar Allan Poe. A carta roubada. In: Histórias extraordinárias. Victor Civita, 1981. Tradução de Brenno Silveira e
outros.

33.CESPE – PF/2018
No que se refere à tipologia e aos sentidos do texto 12A1AAA, julgue os próximos itens.
O primeiro parágrafo do texto é predominantemente descritivo, pois apresenta as características da “polícia
parisiense”.

( ) CERTO ( ) ERRADO

34. CESPE – PF/2018


Mantendo-se a correção gramatical e os sentidos originais do texto, o seu sexto parágrafo poderia ser assim
reescrito: Perguntei, entretanto, se ele era realmente poeta. Sabia que são dois irmãos e que ambos adquiriram
renome nas letras. O ministro, acreditava eu, escrevia eruditamente sobre o cálculo diferencial: é um matemático,
não um poeta.
( ) CERTO ( ) ERRADO

35.CESPE – PF/2018
A natureza jamais vai deixar de nos surpreender. As teorias científicas de hoje, das quais somos justamente
orgulhosos, serão consideradas brincadeira de criança por futuras gerações de cientistas. Nossos modelos de hoje
certamente serão pobres aproximações para os modelos do futuro. No entanto, o trabalho dos cientistas do futuro
seria impossível sem o nosso, assim como o nosso teria sido impossível sem o trabalho de Kepler, Galileu ou
Newton. Teorias científicas jamais serão a verdade final: elas irão sempre evoluir e mudar, tornando-se
progressivamente mais corretas e eficientes, sem chegar nunca a um estado final de perfeição. Novos fenômenos
estranhos, inesperados e imprevisíveis irão sempre desafiar nossa imaginação. Assim como nossos antepassados,
estaremos sempre buscando compreender o novo. E, a cada passo dessa busca sem fim, compreenderemos um
pouco mais sobre nós mesmos e sobre o mundo a nossa volta.
Em graus diferentes, todos fazemos parte dessa aventura, todos podemos compartilhar o êxtase que surge a cada
nova descoberta; se não por intermédio de nossas próprias atividades de pesquisa, ao menos ao estudarmos as

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ideias daqueles que expandiram e expandem as fronteiras do conhecimento com sua criatividade e coragem
intelectual. Nesse sentido, você, eu, Heráclito, Copérnico e Einstein somos todos parceiros da mesma dança, todos
dançamos com o Universo. É a persistência do mistério que nos inspira a criar.
Marcelo Gleiser. A dança do universo: dos mitos de criação ao Big-Bang. São Paulo: Companhia das Letras, 2006,
p. 384-5 (com adaptações).
Com relação aos sentidos do texto 14A15AAA, julgue os próximos itens.

A substituição do termo “do futuro”, em “modelos do futuro” (R. 5 e 6), pelo adjetivo futuristas manteria os
sentidos originais do texto.
( ) CERTO ( ) ERRADO
Texto para as questões 36 a 40

Como se pode imaginar, não foi o latim clássico, dos grandes escritores romanos e latinos e falado pelas classes
romanas mais abastadas, que penetrou na Península Ibérica e nos demais espaços conquistados pelo Império
Romano. Foi o latim popular, falado pelas tropas invasoras que fez esse papel. Essa variante vulgar sobrepôs-se às
línguas dos povos dominados e com elas caldeou-se, dando origem aos dialetos que viriam a se chamar
genericamente de romanços ou romances (do latim romanice, isto é, à moda dos romanos).
No século V d.C., o Império Romano ruiu e os romanços passaram a diferenciar-se cada vez mais, dando origem às
chamadas línguas neolatinas ou românicas: francês, provençal, espanhol, português, catalão, romeno, rético,
sardo etc.
Séculos mais tarde, Portugal fundou-se como nação, ao mesmo tempo em que o português ganhou seu estatuto
de língua, da seguinte forma: enquanto Portugal estabelecia as suas fronteiras no século XIII, o galego-português
patenteava-se em forma literária.
Cerca de três séculos depois, Portugal lançou-se em uma expansão de conquistas que, à imagem do que Roma
fizera, levou a língua portuguesa a remotas regiões: Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cingapura, Índia e Brasil,
para citar uns poucos exemplos em três continentes.

Muito mais tarde, essas colônias tornaram-se independentes — o Brasil no século XIX, as demais no século XX —,
mas a língua de comunicação foi mantida e é hoje oficial em oito nações independentes: Brasil, Portugal, Angola,
Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Instituto Antônio Houaiss. José Carlos de Azevedo (Coord.). Escrevendo pela nova ortografia: como usar as regras
do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008, p. 16-7 (com adaptações).
Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue os itens seguintes.

36. CESPE – PF/2018


A forma verbal “caldeou-se” (R.7) relaciona-se, no texto, ao sentido de mistura, fusão ou associação.

( ) CERTO ( ) ERRADO

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37.CESPE – PF/2018
A expressão “língua de comunicação” (R.28) constitui, pelo contexto, um sinônimo para o termo “galego-
português” (R.19).

( ) CERTO ( ) ERRADO

38. CESPE – PF/2018


Mantendo-se os sentidos originais do texto, o vocábulo “remotas” (R.23) poderia ser substituído tanto por
longínquas quanto por ignotas.

( ) CERTO ( ) ERRADO

39. CESPE – PF/2018


No contexto em que estão inseridas, as palavras “neolatinas” e “românicas” podem ser consideradas sinônimos.
( ) CERTO ( ) ERRADO

40. CESPE – PF/2018

A correção gramatical e o sentido do texto seriam preservados caso se substituísse a palavra “genericamente”
(R.8) por comumente.
( ) CERTO ( ) ERRADO

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Gabarito
01 C 02 E 03 E 04 E 05 C

06 C 07 B 08 E 09 D 10 A

11 C 12 A 13 C 14 E 15 E

16 C 17 C 18 C 19 E 20 C

21 C 22 E 23 A 24 E 25 B

26 C 27 E 28 E 29 C 30 C

31 C 32 E 33 E 34 E 35 E

36 C 37 E 38 E 39 C 40 E

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Resumo Direcionado

DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO


Enunciado em primeira ou em segunda Enunciado em terceira pessoa:
pessoa: O detento disse que (ele) não confiava mais
"Eu não confio mais na Justiça"; "Delegado, na Justiça; Logo depois, perguntou ao
o senhor vai me prender?" delegado se ele ia prendê-lo.

DISCURSO INDIRETO
DISCURSO DIRETO
Verbo no pretérito imperfeito do
Verbo no presente: indicativo:
"Eu não confio mais na Justiça." O detento disse que não confiava mais na
Justiça.

DISCURSO INDIRETO
DISCURSO DIRETO Verbo no pretérito mais-que-perfeito
Verbo no pretérito perfeito: composto ou no pretérito mais-que-
perfeito simples:
"Eu não roubei nada"
O acusado defendeu-se, dizendo que não
tinha roubado (que não roubara) nada

DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO


Verbo no futuro do presente: Verbo no futuro do pretérito:
"Faremos justiça de qualquer maneira" Declararam que fariam justiça de qualquer
maneira.

DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO


Verbo no imperativo: Verbo no pretérito imperfeito do
subjuntivo:
"Saia da delegacia", disse o delegado ao
promotor. O delegado ordenou ao promotor que saísse
da delegacia.

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DISCURSO DIRETO
DISCURSO INDIRETO
Pronomes este, esta, isto, esse, essa,
isso: Pronomes aquele, aquela, aquilo:
"Estou aproveitando este momento", disse o O artilheiro do time disse que estava
artilheiro do time. aproveitando aquele momento.

DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO


Advérbio aqui: Advérbio ali:
"Eu voltei para ficar, pois aqui é o meu lugar", Roberto Carlos disse em sua famosa canção
disse Roberto Carlos em sua famosa canção. que tinha voltado para ficar, pois ali era o seu
lugar.

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TEXTO NARRATIVO
O objetivo principal de um texto predominantemente NARRATIVO é
CONTAR UMA HISTÓRIA, RELATAR UM FATO.
Sua principal característica é a SUCESSÃO DE FATOS e seus principais
elementos são: TEMPO, AMBIENTE, NARRADOR, ENREDO e
PERSONAGENS.

TEXTO DESCRITIVO
O objetivo principal de um texto predominantemente DESCRITIVO é
CARACTERIZAR UM SER, UM SENTIMENTO, UM AMBIENTE, UMA
ROTINA, ETC.

Tipos de TEXTO DISSERTATIVO - EXPOSITIVO


Texto O objetivo principal de um texto predominantemente EXPOSITIVO é
EXPLICAR UM ASSUNTO, FALAR SOBRE UM TEMA, apresentando fatos,
dados, informações.

TEXTO DISSERTATIVO - ARGUMENTATIVO


O objetivo principal de um texto predominantemente ARGUMENTATIVO é
EMITIR UM POSICIONAMENTO, DEFENDER UM PONTO DE VISTA.

TEXTO INJUNTIVO
O objetivo principal de um texto predominantemente INJUNTIVO é
EMITIR UM COMANDO. Pode ser INSTRUCIONAL, quando o comando
tem por objetivo INSTRUIR, ORIENTAR. Pode ser PRESCRITIVO, quando
o comando é acompanhado de uma AMEAÇA ou COAÇÃO.

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PALAVRA SIGNIFICADO EXEMPLO NUMA FRASE

= destruir, eliminar, A avaliação moral teve como


OBLITERAR
desaparacer consequência obliterar gravemente o juízo.

Quando algo nos desagrada, não há quem consiga,


DEMOVER = provocar renúncia
nos demover deste sentimento.

Nossa alma incapaz e pequenina/Mais complacências


IRRISÃO = zombaria
que irrisão merece. (Mário Quintana)

RESFESTELAR = satisfazer-se Por enquanto, vou me refestelar na boa notícia.

PRÓCERES = chefes, influentes Assasssinaram o prócere da máfia italiana.

O farisaísmo é tão nocivo quanto o populismo para o


FARISAÍSMO = hipocrisia
Brasil.

INVECTIVA = insulto Só se recorre às invectivas quando faltam as provas.

O silêncio em certas circunstâncias das nossas vidas é


LOQUAZ = falador
a voz mais alta e loquaz.

= entrada súbita, A irrupção das mídias sociais como instrumeno de


IRRUPÇÃO
repentina campanha revolucionou as eleições.

ESCRUTÍNIO = exame minucioso O futuro ministro passou pelo escrutínio do Senado.

Mantém-se sob a égide de seus pais o mimado jogador


ÉGIDE = proteção
de futebol.

= característica
IDIOSSINCRASIA A Pátria não é capanga de idiossincrasias pessoais.
peculiar

= trivialidades, Para muitos, existe aquela platitude de que “os


PLATITUDE
obviedades políticos são todos uns corruptos” .

INSIGNE = notório, ilustre O autor é o insigne professor desta Universidade.

Passamos incólumes pela maior crise econômica da


INCÓLUME = intacto
história.

PÉRFIDO = cruel Estávamos cercados por um pérfido grupo de vândalos.

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SISUDO = sério O seu semblante sisudo afasta muitas pessoas.

= triste, que falam Os faladores não nos devem assustar, eles revelam-se:
TACITURNO
pouco os taciturnos incomodam-nos pelo seu silêncio.

Era um homem corajoso diante dos perigos


PUSILÂNIME = covarde
e pusilânime diante dos aborrecimentos.

= angustiante,
PREMENTE A votação de uma reforma é uma questão premente.
urgente

TEMPERANÇA = moderação Agiu com temperança, mesmo sob forte pressão.

Devido ao recrudescimento do conflito, adotamos


RECRUDESCER = intensificar
uma postura de meros observadores.

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FIM
NÃO DESISTA!
CONTINUE NA DIREÇÃO CERTA!

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