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Realismo e o Fim da Guerra Fria

● A trajetória do realismo na disciplina:


a. O surgimento da disciplina no pós IGM, a fim de explicar o problema da guerra,
o realismo surge como uma teoria cética sobre o funcionamento do sistema
internacional anárquico, não há uma teoria intelectual capaz de vencer o
problema da anarquia.
b. O realismo migra para academia estadunidense e se torna uma ciência,
processo positivista marcado pelo behaviorismo, o debate é sobre o agente e a
estrutura, o impacto que a estrutura do sistema anárquico causa,
constrangendo a ação dos Estados.
c. Na década de 70, o realismo estrutural sofre críticas por não conseguir explicar
as mudanças observadas no sistema internacional - surgimento de outros
atores, mudanças econômicas.

● O realismo não estava pronto para explicar mudanças na ordem internacional sem um
conflito, dentro da visão realista, não era possível a URSS apenas deixar de existir sem
confronto. Outros atores, não realistas e não necessariamente teóricos de relações
internacionais, como Fukuyama e Huntington, pretendem preencher as lacunas
deixadas pela teoria realista.

● Para Fukuyama, as comunidades humanas evoluem de sistema político em sistema


político, ou seja, a sociedade é o resultado da trajetória de diferentes ordenamentos
políticos que foram se desenvolvendo, mostrando suas deficiências e sendo superados,
o fim da guerra fria marca o encerramento dessa dialética, a disputa entre duas
organizações sociais termina com a vitória das democracias liberais, qualquer outro
país com qualquer outra modelo de organização não tem relevância o suficiente para
competir com as democracias liberais já que elas organizam os seus recursos e
desenvolvem relações internacionais.
↪ a ideia de paz democrática surge da teoria dele - guerras continuam a existir
mas agora serão entre países democráticos e não democráticos.
↪ Fukuyama, enxergava, assim como Marx, a trajetória da humanidade a partir
de organizações econômicas/ sociais que surgem, se desenvolvem e materializam
competindo entre si. Fukuyama tem uma visão mais hegeliana.

● Para Huntington, o fim da guerra fria marca o fim do conflito dentro da civilização
ocidental, o mundo ocidental tem a hegemonia consolidada, é um momento de
consenso. O confronto agora é entre o mundo ocidental de democracia liberal contra
as civilizações que seguem diferentes estruturas culturais que são incompatíveis (
choque de civilizações - entre Estados existe diplomacia, entre civilizações não)
↪ autor é resgatado no pós 11 de setembro.

● Wohlforth pretende defender a relevância do realismo. Um dos argumentos utilizados


por Wohlforth é a anomalia do evento, já que para entender o sistema internacional é
preciso compreender as regras e leis, esse é o papel do realismo, observar os padrões
de comportamento, não analisar eventos específicos, mesmo que esses eventos
rompam com a organização padrão das leis o sistema, esse rompimento não significa
que as leis não valem mais, a anomalia do evento é corrigida pela continuidade do
evento.

● Outro ponto importante na teoria de Wohlforth é a distinção entre conhecimento “a


priori” e “a posteriori”.

Monitora: Beatris Crespo Rosa


a. A priori: conhecimento anterior ao fato, consegue saber efetivamente sobre o
fato sem que ele esteja ocorrendo naquele exato momento, mais comum entre
as ciências naturais.
b. A posteriori: conhecimento após o fato, teorias que sejam capazes de explicar o
passado, ou seja, a partir de teorias não tão consolidadas e determinantes
assim; o realismo só perderia completamente a credibilidade se não fosse mais
capaz de explicar eventos a posteriori.

● A fim de descartar o realismo como teoria relevante, é preciso compará-lo com as


teorias concorrentes mais recentes e a sua capacidade de explicar a anomalia do
evento e suas consequências, o que não ocorre. Já que todas as teorias são
impactadas pela anormalidade do evento, não há motivo para o realismo ser o único
responsável por não conseguir explicar, o dilema existente não é único do realismo.

● Wohlforth aceita as críticas em relação à incapacidade de explicação do realismo e


antecipação, mas também defende que as críticas erram ao reduzir o realismo apenas
ao realismo estrutural, principalmente à teoria de Waltz. Wohlforth defende que
retomar conceitos do realismo clássico ajuda a desenvolver interpretações para as
transições que ocorrem no mundo.

● Wohlforth retoma dois elementos do trabalho de Morgenthau que foram obscurecidos


com a estruturação da anarquia.
a. O primeiro elemento é a ideia da percepção do poder como fator importante
para a consolidação do equilíbrio de poder. Uma análise da posição relativa de
poder, o cálculo de poder feito pelo estadista que influencia a sua tomada de
decisão, diferente de Waltz que enfatizava um olhar geral sobre a distribuição
das capacidades para explicar o equilíbrio de poder, observando unicamente a
configuração do sistema.
b. O segundo elemento é a ideia de que o poder não é fixo, ele é a combinação de
variáveis materiais e não-materiais. As ideias têm um papel fundamental na
concepção do que o poder significa.

● Wohlforth demonstra que os soviéticos tinham uma percepção do sistema internacional


mais baseada numa visão hegemônica dos estadunidenses do que um olhar voltado
para a bipolaridade, que marcou a teoria realista naquele contexto, presumindo, que
de certa forma, eram potências igualitárias, enquanto a URSS enxergava os EUA como
mais forte.

● O dilema da potência declinante: se uma potência desafiante está perdendo poder em


relação ao poder do hegemon, a tendência é que o desafiante acelere o conflito tão
rápido quanto possível, já que esta pode ser a única oportunidade. A ideologia é um
fator explicativo porque esta não foi a decisão tomada pelos soviéticos, já que, a visão
de mundo do comunismo em relação ao capitalismo é que ele é destinado a crises
cíclicas e por isso, não era válido fazer guerra durante a década de 60, mesmo com a
proximidade de poder entre as nações, porque ainda assim estariam em desvantagem
pois os EUA possuem melhores recursos, o mais prudente seria esperar até que o
próprio sistema estadunidense eclodisse levando a uma crise interna que eles
poderiam usar para se tornar dominantes, sem necessidade de agirem de forma
antecipada.

Monitora: Beatris Crespo Rosa

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